INTRODUÇÃO

O objeto de pesquisa deste estudo é a avaliação da aprendizagem na Educação Física (EF) escolar, com interface nos princípios de ensino da teoria desenvolvimental de Davydov. A pesquisa caracteriza-se como um estudo qualitativo.

O psicólogo e pedagogo russo Vasily Davydov¹ dedicou-se a investigar os processos de ensino e aprendizagem no contexto escolar, tratando-se de uma divisão e desenvolvimento pedagógico.

Indica-se que

Para o ensino desenvolvimental a apropriação (domínio da prática) é uma condição necessária para a atividade prática pensante. A nossa consciên- cia reproduz o movimento das coisas na situação real. A nossa cons- ciência capta e reproduz. Logo, é essencial a atividade prática. Assim, para a consciência se formar, o real deve ser recriado. (MIRANDA, 2010, p. 12).

Nesse sentido, a teoria desenvolvimental de Davydov possibilita o desenvolvimento do ensino para que os alunos possam, a partir da apreensão cognitiva, desenvolver melhores compreensões da realidade, assim como a realização das ações propostas.

Com base nos pressupostos dessa teoria, ^{Silva (2018)} entende que o papel do ensino é contribuir para desenvolver os meios cognitivos para a realização das ações propostas em um conjunto de aulas, a fim de possibilitar um ensino capaz de proporcionar avanços nos processos de aprendizagem dos escolares, por meio do desen- volvimento mental.

A respeito da reflexão sobre a avaliação baseada na teoria de Davydov, ^{Ferreira (2016}, p. 1638) comenta que

Com vários instrumentos - tarefas que materializam ações de aprendizagem -, ele coloca os alunos em situação de descoberta, pensamento dedutivo, análise, síntese, planejamento, autocontrole de ações. O resultado esperado é um indivíduo mais capaz de transformar suas condições de existência, portanto agente, devido ao pensamento teórico desenvolvido nessa atividade de aprendizagem. Essa forma de pensar lhe permite uma compreensão mais ampla do objeto em estudo, de suas relações e criatividade. Portanto, o ensino foca no desenvolvimento da pessoa e de coletividades e não simplesmente em transmissão passiva e de modo verbalista de conteúdos disciplinares que reforçam um pensamento empírico limitador e revela uma realidade compartimentalizada e desconexa.

Perante o exposto, a problemática de pesquisa foi responder: como ocorre a avaliação da aprendizagem na EF escolar, com interface nos princípios de ensino da teoria desenvolvimental de Davydov?

Considerando-se a problemática da pesquisa e a questão norteadora, os objetivos da pesquisa foram os seguintes: analisar a avaliação da aprendizagem no contexto da EF escolar pautada na teoria desenvolvimental de Davydov; e desenvolver um experimento didático formativo a fim de estruturar uma proposta de avaliação para a EF escolar.

METODOLOGIA DA PESQUISA

Este estudo teve um caráter de pesquisa qualitativa. Utilizou-se como proposta metodológica da presente dissertação o experimento didático formativo² (^{DAVYDOV, 1988}), que ocorreu por meio de uma intervenção pedagógica a partir de um plano de ensino intencional, visando a analisar a avaliação da aprendizagem no contexto da EF escolar, pautada na teoria de Davydov, por meio do desenvolvimento de um experimento didático formativo a fim de estruturar uma proposta de avaliação para a EF escolar.

Destaca-se que

O experimento formativo examina o objeto em foco, enquanto ele transcorre, ou seja, ele cria condições cabíveis e propícias em que, ao mesmo tempo que se ensina, também se observa sistematicamente as mudanças conforme elas vão surgindo e se apresentando nas condições que estão postas na prática pedagógica. (^{MIRANDA, 2013}, p.112).

Nesse sentido, buscou-se realizar o experimento didático formativo desta pesquisa, a organização do ensino, a fim de acompanhar seu impacto na aprendizagem dos estudantes.

PROCEDIMENTOS ÉTICOS

O presente estudo ocorreu mediante a liberação do Comitê de Ética, anexado à Plataforma Brasil, e avaliado pelo Comitê de Ética da instituição proponente Uni- versidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) - Campus de Irati, o qual pode ser consultado pelo Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) com o número 12551319.0.0000.8967.

Alguns procedimentos foram adotados antes de iniciar o trabalho de campo com a coleta dos dados. Foi entregue uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do termo de assentimento entregue aos pais ou responsáveis pelo educando, por se tratar de participantes menores de idade.

No decorrer da apresentação dos dados encontrados, com a intenção de seguir os preceitos éticos da pesquisa, foi preservado o sigilo da identidade dos participantes, denominados por dois gêneros, chamando-os de alunas(os).

O CAMPO E OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

O universo da investigação abrangeu uma escola pública estadual da área central da cidade de Irati, no Paraná.

Participaram da pesquisa alunas(os) da turma de Formação Docente Integrado (FDI) do primeiro ano do ensino médio, também denominado magistério. A turma em que ocorreu o experimento didático formativo é composta por 39 discentes, sendo 37 meninas e dois meninos na faixa etária de 15 e 16 anos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A aproximação do universo investigado desse experimento didático formativo foi realizada por meio da observação não participante, a qual ocorreu um mês antes do início do desenvolvimento do experimento didático formativo.

No decorrer da observação inicial, foram analisados alguns pontos, como: organização da aula, exposição dos conteúdos, estímulos no desenvolvimento das atividades, questões pertinentes à participação, comunicação, etc. Pondera-se também a respeito da avaliação, observando-se como se dá o processo avaliativo.

Nessa perspectiva, a observação realizada teve como objetivo levantar informações acerca do contexto educacional no qual seria realizada a pesquisa, bem como a aproximação e reconhecimento do cotidiano das(os) alunas(os) participantes presentes na turma de FDI.

Nesse sentido, elencam-se as seguintes categorias: 1) organização do experi- mento didático formativo (análise das ações desenvolvidas nas aulas de EF); 2) aproximação do conhecimento prático com o conhecimento teórico-científico; 3) ava- liação do ensino e aprendizagem dos alunos pautadas na teoria desenvolvimental de ^{Davydov (1988)}.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: O EXPERIMENTO DIDÁTICO FORMATIVO NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Neste item apresenta-se a análise de dois tópicos dos resultados encontrados nesse recorte da dissertação do mestrado, os quais decorreram do desenvolvimento do experimento didático formativo realizado nas aulas de EF com a turma de FDI.

No decorrer do desenvolvimento das observações, a turma de FDI mostrou as rivalidades, notadas tipicamente em adolescentes, como aponta ^{Gonçalves (2018}, p. 22):

[...] esse período da adolescência da força motriz dessas tensões, eclodem conflitos, que não são simplesmente o reflexo de condições que existem fora da escola, mas trazem consigo marcas dos que transitam neste espaço: da identidade pessoal e social de cada um, da tradição cultural viva nas práticas escolares e dos valores e normas da comunidade em sua relação com a sociedade mais ampla.

Entre alguns dos aspectos a serem explorados, observou-se também que alguns educandos tinham dificuldades no entendimento rápido das ações, havendo a necessidade de explicar de duas a três vezes. Por fim, observaram-se as ações/tarefas realizadas em grupos. As divisões já eram pré-estabelecidas por eles, por critérios de aproximação, o que acarretava diferença na composição das equipes.

Em continuidade, por meio das anotações feitas no diário de campo, buscou-se adentrar os meios avaliativos que eram utilizados pelo professor e entender como os alunos viam a avaliação nas aulas de EF. As(os) educandas(os) da turma de FDI mostraram-se mais atentas(os) à obtenção de nota; parte das(os) educandas(os) que só se preocupavam com a obtenção de nota apenas realizava as práticas das atividades, pois o professor anotava os nomes dos que participavam durante a aula, mostrando-se não preocupadas(os) com o processo de aprendizagem.

Acredita-se que a observação inicial, com o conhecimento prévio dos escolares e da realidade do cotidiano escolar, proporcionou o estreitamento no convívio com as(os) alunas(os) e o docente responsável e o reconhecimento de questões como a participação dos educandos nas atividades propostas.

Para explorar melhor os dados obtidos, foi feita a divisão em seções específicas para detalhar duas das categorias analisadas da dissertação em questão.

A ORGANIZAÇÃO DO EXPERIMENTO DIDÁTICO FORMATIVO: ANÁLISE DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao desenvolver o experimento didático formativo nas aulas de EF, direcionou-se ao interesse de realizar uma proposta de ensino significativo para o desenvolvimento da aprendizagem das(os) alunas(os) participantes do estudo. Nesse sentido, a escolha das ações realizadas teve como intencionalidade promover um processo adequado aos fundamentos baseados na teoria desenvolvimental de Davydov.

A intervenção pedagógica foi iniciada com o desenvolvimento das ações referentes ao conteúdo do handebol, sendo realizadas nove aulas com essa temática; logo em seguida, propõe-se o segundo conteúdo a ser desenvolvido, sendo ministradas dez aulas com o tema dança, contabilizando ao todo cinco meses de intervenção, com início em agosto de 2019 e encerramento em dezembro do mesmo ano.

Apresentam-se os resultados e as discussões sobre o desenvolvimento do experimento didático formativo nas aulas de EF, atrelados à teoria desenvolvimental de Davydov e aos princípios avaliativos utilizados.

Ao referir-se às ações do experimento didático formativo realizadas, retoma-se que na teoria de ^{Davydov (1988)} a expressão também é utilizada como tarefas. ^{Assumpção (2016}, p. 18) afirma que:

Nas tarefas de estudo do ensino experimental, há três componentes importantes, classificados por Davydov, que devem ser seguidos pelo professor para se chegar ao pensamento teórico que são: as tarefas de estudo, ações de estudo e a autoavaliação e regulação. As tarefas de aprendizagens são fundamentais, pois por meio delas há a transformação do próprio sujeito.

A primeira ação desenvolvida no experimento didático formativo e que se acredita que agrega nos dados obtidos foi a realização da ação diagnóstica na qual se encontram os questionamentos elaborados para a tarefa realizada.

As questões elaboradas tratavam especificamente de handebol e dança. Essa ação foi idealizada para que fosse possível compreender inicialmente o que os participantes conheciam sobre os conteúdos propostos, como: os fundamentos do handebol e os elementos da dança; se haviam praticado, vivenciado e assistido algum jogo ou apresentação artística da dança.

Ao realizar essa ação diagnóstica, considerou-se a importância da aproximação que os escolares da turma de FDI têm com handebol e dança.

A respeito dos princípios para o desenvolvimento do experimento didático formativo, Assumpção aponta que “[...] é necessário considerar alguns aspectos, tais como: o conteúdo relacionado às suas experiências; o conteúdo de ensino claramente relacionado a totalidade dos temas gerais de estudo; a motivação e o interesse dos alunos desenvolvidos no conteúdo de ensino” (2016, p. 111).

Ao buscar considerar tais aspectos que ^{Assumpção (2016)} aponta, em relação a esse experimento didático formativo, por meio das falas apresentadas pelos participantes, pode-se entender que a maioria dos escolares não tinha contato ou conhecimentos mais específicos, como os teórico-científicos, sobre handebol e dança.

Perante o exposto, percebeu-se que as(os) alunas(os) tiveram mais vivências superficiais do esporte, advindas de outras aulas de EF ou da relação com o esporte, não especificamente ao handebol. Ao ponderar a aproximação ou a não prática do conteúdo da dança, foram apresentadas respostas amplas, em que foi possível compreender que as(os) alunas(os) teriam mais contato com a temática fora do contexto escolar.

Considera-se que essas informações foram pertinentes para a pesquisa, a fim de repensar e traçar as estratégias ao propor as práxis de ensino, com intenção de organizar ações orientadas, para que essas influenciassem o processo de aprendizagem dos escolares.

Como afirma Vygotsky:

Ao diagnosticar os estudantes, o professor identifica os elementos necessários que possibilitam organizar o ensino de forma a promover prospectivamente o desenvolvimento, para além daqueles conhecimentos já existentes. (²⁰⁰⁸, p. 128).

Por fim, a ação diagnóstica permitiu que o experimento didático atrelasse o que as(os) alunas(os) relataram, de forma a complementar e ampliar as ações baseadas na teoria desenvolvimental de ^{Davydov (1988)}, a fim de realizar a compreensão e o andamento dos processos, para que os discentes pudessem sair do conhecimento abstrato para o concreto das ações realizadas referentes ao handebol e dança. Como afirma Sforni, “No movimento abstrato/concreto e concreto/abstrato, a mediação da linguagem verbal (oral e escrita) é fundamental, já que pode tornar os processos conscientes, destacar o que é essencial da atividade realizada e focar o(s) conceito(s) nela contidos” (²⁰¹⁵, p. 18).

^{Miranda (2013)} afirma que um dos objetivos de ensinar na perspectiva da teoria de Davydov é que as ações propostas possam possibilitar condições para que os participantes dominem os processos mentais para a interiorização dos conteúdos.

AVALIAÇÃO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS PAUTADA NA TEORIA DESENVOLVIMENTAL

A avaliação escolar na EF trata de questões referentes à linguagem corporal, à linguagem verbal e à escrita, além de incluir o nível cognitivo, intelectual; faz parte desse processo a dimensão afetiva social. No que diz respeito a aspectos relacionados aos meios avaliativos na EF, Silva afirma que

As práticas avaliativas na área advertem para a necessidade de se dis- cutir conceitos de avaliação, a fim de promover conhecimentos a respeito do conjunto de interrogações que esse tema origina, o que remete a diversos níveis de inscrição teórica: questões como o quê, quando e como avaliar estão atreladas às ideias técnicas sobre como proceder para avaliar a aprendizagem escolar; já as questões para o que se avalia ou por que é necessário avaliar remetem a teorias educativas. (2018, p. 14).

Acredita-se que ao estruturar os processos avaliativos a serem utilizados no contexto escolar, tal ação torna-se uma grande aliada do professor e da equipe pedagógica para auxiliar no acompanhamento da aprendizagem dos educandos, pois essa está em constante processo.

Relacionando a avaliação escolar e o desenvolvimento dos princípios da teoria desenvolvimental de ^{Davydov (1988)} nas aulas de EF é possível retomar Baptista e Miranda:

Para o ensino desenvolvimental, a apropriação de conhecimentos é uma condição necessária para a atividade prática pensante. A nossa cons- ciência reproduz o movimento das coisas na situação real. A nossa consciência capta e reproduz mentalmente o movimento da realidade e, para isso, é essencial a atividade prática. (^{BAPTISTA; MIRANDA, 2012}, p. 106).

Ao promover as ações no contexto educacional baseando-se no ensino desenvolvimental, acredita-se que esse possibilitaria e ampliaria o desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos.

Assim, confia-se que as ações desenvolvidas permitiram o acompanhamento durante o processo de ensino e aprendizagem, bem como a avaliação criteriosa da aprendizagem das(os) alunas(os) da turma de FDI.

Como pondera Libâneo,

A unidade ensino-aprendizagem se concretiza na interligação de dois momentos indissociáveis - transmissão/assimilação ativa de conhecimentos e habilidades, dentro de condições específicas de cada situação didática. As relações entre professor, aluno e matéria não são estáticas, mas dinâmicas; por isso, falamos da atividade de ensino como um processo coordenado de ações docentes. A condução deste processo, como qualquer atividade humana, requer uma estruturação dos vários momentos do desenvolvimento da aula ou unidade didática. (¹⁹⁹⁴, p. 82).

Escolher os fundamentos do handebol e a realização dos elementos nas aulas de dança teve como intenção explicar os movimentos que estavam sendo desenvolvidos no decorrer da execução das ações e que a partir deles, influenciassem os escolares a conseguirem apropriar-se mentalmente das atividades práticas realizadas. Acredita-se que nesses momentos estariam sendo proporcionados aos participantes a transmissão e a assimilação das ações propostas.

Sousa e Longarezi afirmam que o uso da avaliação no momento da realização das ações fará sentido desde que

[...] o ensino esteja adequado aos conteúdos a serem apreendidos e aos objetivos a serem alcançados com a aprendizagem, ou seja, tem valor e significado no conjunto do sistema de planificação do ensino, enquanto planejamento que articula internamente seus diferentes elementos. (²⁰¹⁶. p. 121).

A partir do entendimento dos princípios relacionados ao desenvolvimento de ensino e aprendizagem baseados na teoria desenvolvimental de Davydov, ao analisar a avaliação da aprendizagem no contexto escolar, utilizando-se o componente curricular EF, estruturou-se por meio das duas últimas ações propostas por Davydov.

Conforme afirma Milak,

As ações de aprendizagem de controle e avaliação exercem um grande papel na assimilação, pelos alunos, dos conhecimentos. Essa ação consiste em determinar a correspondência entre outras ações de aprendizagem e as condições e exigências da tarefa de aprendizagem. O monitoramento assegura a plenitude na composição operacional das ações e a forma correta de sua execução. (²⁰¹⁸, p. 38).

De fato, procurou-se que os participantes fossem constantemente avaliados, ampliando a condição de praticar o pensamento lógico das ações desenvolvidas envolvendo handebol e dança. Nesse sentido, Miranda comenta que avaliar a EF, com base nos princípios da teoria desenvolvimental, deve proporcionar “[...] métodos de avaliação que propiciem uma transformação contínua do educando um autoconhecimento cognitivo, afetivo, social e motor, que configure a sua personalidade a partir das situações as quais ele será inserido” (2013, p. 55).

Destaca-se que ao propor a avaliação processual, por meio dos elementos observados e praticados no decorrer do experimento didático formativo, em certos momentos os educandos foram incentivados a tomar decisões, como as variações e repetições das atividades, com o desenvolvimento das ações de forma individual ou em grupo e a aplicabilidade dos conteúdos de maneira autônoma e crítica.

Inicialmente, destaca-se que não se constatou a existência de um instrumento avaliativo pronto, como um material elaborado com questões a serem feitas, indicações de avaliações que possam ser aplicadas nas aulas de EF, baseando-se na teoria de Davydov.

Nesse sentido, a avaliação ocorreu especificamente por meio do planejamento do ensino desta pesquisa, a qual constituiu-se de maneira que fosse possível acompanhar o processo contínuo da aprendizagem das(os) alunas(os) da turma de FDI referente às ações dos conteúdos de handebol e dança nas aulas de EF.

Como enfatiza Coral, “[...] a ação de avaliação indicada por ^{Davydov (1988)}, deve acontecer em todas as etapas do processo da tarefa de estudo, permitindo aos alunos expressarem se assimilaram ou não as formas de solução das tarefas, e em que grau se deu essa assimilação” (²⁰¹⁵, p. 123).

Portanto, para avaliar o ensino-aprendizagem por meio das ações/tarefas dos conteúdos praticados, esforçou-se para que os participantes conseguissem atingir um ápice no desenvolvimento mental dos conceitos apresentados, relacionando-os a todas as etapas do processo didático formativo.

Destaca-se que durante o desenvolvimento das ações realizadas no decorrer dessa intervenção foram realizados questionamentos sobre o que havia sido apresentado para as(os) alunas(os) em cada aula, o resgate do conteúdo anterior, com apresentação dos objetivos da aula seguinte, buscando assim uma maneira de relacionar os níveis de complexidade de todas as ações.

Também foram analisados os pontos positivos e negativos encontrados pelos educandos, bem como seu entendimento e acompanhamento da aprendizagem e as dificuldades apresentadas para a execução dos movimentos práticos e assimilação dos conceitos teóricos científicos de handebol e dança.

No decorrer do processo, as avaliações foram realizadas por meio de conversas, observações durante e depois das ações/tarefas realizadas. Destaca-se também que houve a realização de uma autoavaliação.

De maneira geral, foi possível relacionar que as respostas dadas pelas(os) alunas(os) correspondem à realidade observada e vivenciada a partir das análises do desenvolvimento do experimento didático formativo.

Como salienta Sforni:

Na avaliação, é preciso verificar se o aluno adquiriu formas de ações gerais ou procedimentos que o tornam capaz de resolver uma categoria de problemas que, para além das diferenças e semelhanças empíricas, são vinculados à mesma base conceitual. (²⁰¹⁵, p. 21).

Compreendendo-se além da importância da avaliação baseada nos princípios da teoria desenvolvimental de Davydov, não se deixa de considerar a ênfase na importância em como o ensino pode proporcionar aos alunos situações que resultem no processo de aprendizagem satisfatório. Ou seja, que eles consigam internalizar os conceitos das ações desenvolvidas, a fim de possibilitar as transformações do objeto desde sua forma abstrata até sua manifestação concreta.

Considerando-se a importância em valorizar a estruturação do ensino por meio de conteúdos sistematizados, no decorrer do experimento didático formativo foram apresentados os significados da preocupação e desenvolvimento da avaliação na EF no contexto educacional, abordando-se aspectos como a avaliação atrelada ao ensino e aprendizagem e os meios de inserção das ferramentas avaliativas no acompanhamento da construção do conhecimento dos educandos.

Em decorrência de análises e reflexões feitas até então, concorda-se que muitas vezes os meios avaliativos consideram um ensino que valoriza esse sistema de notas. Martins e Guisso comentam que

Diante desse cenário, vale destacar a importância de romper com conceitos e práticas que ao longo dos anos fizeram da avaliação um processo sistematizado e classificatório, e se assumir novas apreciações sim, mas que sejam fundamentadas no agir das práticas avaliativas do cotidiano escolar. (²⁰¹⁹, p. 4).

Entende-se que ao assumir os significados da avaliação de maneira ampliada, essa torna-se uma ferramenta qualificada no cotidiano escolar. Conforme salientam Sousa e Longarezi

Na perspectiva desenvolvimental a avaliação deve ser uma prática a ser exercida pelo próprio estudante, num processo de construção da sua autonomia e independência intelectual. Assim, como parte do processo educativo ele deve ter condições e ferramentas para avaliar se conseguiu chegar ao resultado esperado ou à solução do problema apresentado inicialmente para prosseguir no seu processo de desenvolvimento. (2016, p. 206).

Corroborando a ideia, Miranda comenta a respeito da necessidade de propor “[...] o papel ativo dos sujeitos na interação social e da necessidade de desenvolvimento de habilidades de pensamento e competências cognitivas, na busca do processo de aprendizagem” (2013, p. 196).

Diante do exposto, crê-se na necessidade de proporcionar o diálogo entre os educandos e o docente responsável, a fim de possibilitar a criação de vieses relacionados a ensino e aprendizagem.

Verificou-se que a avaliação baseada na teoria desenvolvimental de Davydov proposta nas aulas de EF tornou-se um processo ininterrupto, o qual se promoveu por meio da realização das ações do experimento didático formativo. A ação de acompanhar a aprendizagem dos participantes por meio das ações avaliativas possibilitou determinar se estavam ou não assimilando os conteúdos propostos.

Nessa perspectiva, no decorrer de todas as aulas buscou-se observar os procedimentos gerais utilizados nas resoluções das ações/tarefas de aprendizagem, as quais corresponderiam aos objetivos a serem alcançados. Como afirma Davydov,

Desta forma, a avaliação não consiste na simples constatação destes momentos, mas no exame qualitativo substantivo do resultado da assimilação (do procedimento geral da ação e do conceito correspondente), em sua confrontação com a finalidade. É justamente a avaliação que “informa” aos escolares se resolveram ou não determinada tarefa de aprendizagem. Para executar as ações de monitoramento e avaliação, a atenção das crianças deve ser dirigida ao conteúdo das próprias ações e ao exame dos seus fundamentos, do ponto de vista da correspondência com o resultado exigido pela tarefa. Semelhante exame, pelos escolares, dos fundamentos de suas próprias ações, que é chamado de reflexão, é a condição essencial para que estas ações se estruturem e se modifiquem corretamente. (1988, p. 100).

Entendeu-se que para o acompanhamento da aprendizagem das(os) alunas(os) foi necessário estabelecer alguns critérios: considerar o envolvimento e as capacidades de os educandos agirem individualmente e em grupo, os conceitos teóricos científicos influenciadores no desenvolvimento mental dos participantes, bem como a realização, a participação efetiva e os princípios motivacionais das ações/tarefas proporcionados por meio dos conteúdos a respeito de handebol e dança.

Por fim, conforme as perspectivas apresentadas por Davydov, após as análises dos resultados encontrados nesta pesquisa, conclui-se que, em torno de todas as categorias analisadas ao longo do processo de intervenção nas aulas de EF, o experimento didático formativo pode promover e influenciar a aquisição e a assimilação de conhecimentos pretendidos nas ações de aprendizagem das(os) alunas(os) da turma de FDI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo em questão teve como objeto de pesquisa a avaliação da aprendizagem na EF escolar, com interface nos princípios de ensino da teoria desenvolvimental de Davydov. As discussões iniciais emergiram a partir da busca em responder a questões referentes a como ocorre a avaliação da aprendizagem na EF escolar, por meio do desenvolvimento de um experimento didático formativo com interface nos princípios da teoria de ^{Davydov (1988)}.

Pelas análises realizadas deduziu-se que o experimento didático formativo desta pesquisa pode ter influenciado as(os) alunas(os) a se apropriarem dos conceitos científicos, já que a teoria desenvolvimental de Davydov contribui para uma perspectiva radical de mudanças de organização do ensino.

Sugere-se que seu uso em tempo mais prolongado de intervenção seja o início de estruturação de uma didática a ser usada em todos os níveis de escolarização, para que ela contribua constantemente e de maneira eficaz para a aprendizagem dos escolares.

No cenário investigado, acredita-se que houve a contribuição para a realização do experimento e aspectos que proporcionassem subsídios para formação integral dos participantes, ao propor a estruturação de uma ferramenta avaliativa que pudesse auxiliar na prática docente e no acompanhamento do ensino e aprendizagem das(os) alunas(os) da turma de FDI e a ação de avaliar o processo qualitativamente e de maneira contínua.

Acredita-se que a partir das reflexões acerca da temática e de sugestões de aplicabilidade das ações intencionadas em desenvolver o ensino aprendizagem dos alunos, por meio do acompanhamento dos processos avaliativos, possibilidades tornam-se ampliadas, com o entendimento de ser uma proposta possível, desafiadora e inovadora a ser utilizada nas aulas de EF e demais disciplinas.

Por fim, espera-se que este estudo possa contribuir para a qualificação de instrumentos avaliativos baseados na teoria desenvolvimental, com aplicabilidade nas aulas de EF, colaborando com as reflexões e as discussões que permeiam a visão de um ensino progressista, na busca de uma aprendizagem significativa e de qualidade.

NOTA: Bruna Gisele Barbosa foi mestranda e autora da dissertação do mestrado em Educação que deu origem a este artigo. O professor Khaled Omar Mohamad El Tassa contribuiu na orientação do estudo como o orientador da pesquisa. Os professores Gilmar de Carvalho Cruz e Silvia Christina de Oliveira Madrid foram componentes das bancas de qualificação e defesa da dissertação de Mestrado, enriquecendo a discussão.