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Revista Estudos Feministas

versão impressa ISSN 0104-026Xversão On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.29 no.2 Florianópolis maio/ago 2021  Epub 01-Maio-2021

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n268073 

Artigos

A legendagem do discurso da sexualidade em The Magdalene Sisters

The Subtitling of Sexual Discourse in The Magdalene Sisters

Antônia Elizângela de Morais Gehin1 
http://orcid.org/0000-0003-3644-2794

Alinne Balduino Pires Fernandes2 
http://orcid.org/0000-0003-0979-6036

1Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. 88040-900 - ppget@contato.ufsc.br

2Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. 88040-970 - llesec@cce.ufsc.br


Resumo:

Neste artigo, propõe-se analisar a tradução do discurso da sexualidade no âmbito da legendagem, mais especificamente, a transcodificação de referências culturais a partir de noções de tradução cultural e feminismo, utilizando como corpus legendas do filme The Magdalene Sisters (2002). Escrito e dirigido por Peter Mullan, The Magdalene Sisters estreou no Brasil em 2004 sob o título Em Nome de Deus. Baseada em fatos reais, a trama narra a história de quatro mulheres encarceradas, por questões religiosas e morais, em uma instituição denominada Magdalen Asylum (Asilo de Madalenas) nos anos 1960, na Irlanda. O objetivo central deste estudo consiste, portanto, em analisar como a mulher é representada por meio da legendagem do discurso religioso e da sexualidade, investigando de que maneira os procedimentos de tradução - adotados no processo de legendagem do idioma inglês para o português brasileiro - refletem a desigualdade de gênero e a misoginia com base teológica que permeiam a narrativa. A análise qualitativa do corpus demonstrou que as variações de sentido decorrentes de variações gramaticais e das intervenções do/a legendador/a promoveram uma aproximação dos contextos culturais de partida e de chegada.

Palavras-chave: The Magdalene Sisters; Em Nome de Deus; Discurso da sexualidade; legendagem; transferência cultural

Abstract:

This article sets out to analyse the translation of the discourse on sexuality within the scope of subtitling, more specifically, the transcodification of cultural references from a cultural translation point of view. This study adopts as corpus the subtitles of the film The Magdalene Sisters (2002), written and directed by Peter Mullan. In Brazil, the film was released in 2004, under the title Em Nome de Deus. Based on true facts, the plot tells the story of four women imprisoned for religious and moral reasons in institutions called Magdalen Asylums in the nineteen-sixties, in Ireland. The ultimate goal of this study is to unveil how women are represented through the subtitling of the discourse on sexuality. Furthermore, to investigate how the translation procedures - applied in the process of subtitling from English into Portuguese - reflects gender inequality and theologically-based misogyny, as well as the religious and moral ideologies that permeate the discourse on sexuality in the narrative. The corpus’s qualitative analysis of the corpus showed that the grammatical variations and the subtitler's interventions have promoted an approximation of the source and target contexts.

Keywords: The Magdalene Sisters; Em nome de Deus; Discourse on sexuality; Subtitling; Cultural transfer

Introdução

Na Irlanda do século XIX, época em que a ética, a moral e os bons costumes eram atribuições da Igreja Católica (James SMITH, 2014, p. 2), mulheres eram institucionalizadas por ‘crimes’ de natureza sexual. Prostitutas, mães solteiras, vítimas de estupro e incesto, aquelas tidas como excessivamente ‘simples’ ou excessivamente atraentes - e que, portanto, representavam uma ameaça à continência masculina - eram encarceradas em instituições denominadas Magdalen Asylums (Asilos de Madalenas) para serem punidas pelos ‘crimes’ cometidos (SMITH, 2014, p. 136).

O filme The Magdalene Sisters (2002), escrito e dirigido pelo escocês Peter Mullan, estreou no Brasil em 2004, sob o título Em Nome de Deus. Mullan (Gary CROWDUS, 2003) atribuiu sua inspiração para a produção do filme ao documentário Sex in a Cold Climate (1998), produzido e dirigido por Steve Humphries e veiculado pelo canal de televisão britânico Channel 4. Em Sex in a Cold Climate, quatro mulheres irlandesas narram suas experiências de confinamento e de abusos físicos e psicológicos sofridos durante o período em que viveram em Asilos de Madalenas, instituições católicas dirigidas por freiras, na década de 1960.

Partindo do pressuposto de que uma obra cinematográfica, inspirada em testemunho, representa um contexto histórico, político e religioso de determinada sociedade em determinada época, The Magdalene Sisters retrata uma realidade sociocultural específica da Irlanda. Como um texto audiovisual, o filme apresenta elementos que comunicam hábitos e crenças que contribuem para a construção de mitos e representações nacionais da cultura irlandesa, elementos cuja tradução para outra língua possibilita uma abordagem que considera a cultura um componente essencial do processo tradutório.

Para melhor compreender o discurso sexual na narrativa fílmica, é importante salientar que um discurso reflete uma prática social conectada com o uso da linguagem, padrões de ação, hábitos e convenções mais ou menos organizadas por regras. Dentro de um discurso, existe uma certa maneira de falar, escrever, agir, excluir ou incluir, permitir ou proibir, bem como maneiras de persuadir e exercer poder sobre os outros. Teun Van Dijk (2017) esclarece que a linguagem constitui um tipo de prática social por meio da qual os usuários de uma língua adotam um posicionamento ideológico em face do discurso que produzem. O autor define discurso como:

Qualquer forma de língua manifestada como texto (escrito) ou fala-em-interação (falado), num sentido semiótico amplo. Isso inclui as estruturas visuais, como o layout, os tipos de letras e imagens para textos escritos ou impressos, os gestos, a expressão facial e outros signos semióticos para a interação falada. Esse conceito de discurso pode incluir combinações de material sonoro e visual em muitos discursos multimediais híbridos, caso dos filmes, da televisão, dos telefones celulares, da internet e de outros canais e veículos de comunicação (VAN DIJK, 2017, p. 166).

Nesse sentido, a noção de discurso que orienta este estudo inclui estruturas verbais (faladas e escritas) e aspectos semióticos (visuais) que fornecem informações relevantes para a interpretação do episódio comunicativo. Em outras palavras, a análise do discurso da sexualidade em The Magdalene Sisters parte do princípio de que o significado do discurso é determinado pelas condições e consequências que constituem o seu entorno, ou seja, pelo contexto. Mas como isso acontece?

Como linguagem organizada, o significado do discurso muda conforme o contexto, de acordo com Van Dijk (2017, p. 248). Dentre os aspectos do significado do discurso que mudam com o contexto, a perspectiva ou ponto de vista pelo qual um evento é descrito varia de acordo com a opinião pessoal, as atitudes ou ideologias do falante. Uma das variações de perspectiva discutidas por Van Dijk (2017) se refere à variação em ‘agentividade’. Esse tipo de variação é caracterizado pela alternância da voz ativa ou da voz passiva, expressando diferentes graus de ênfase de agentividade no discurso. Segundo o autor, “podemos descrever um ato como algo em que alguém se engaja (agente) ou como algo por que esse alguém passa (paciente), dependendo de quem o descreve e para quem” (VAN DIJK, 2017, p. 250).

Com base nessas considerações, a linguagem constitui uma atividade discursiva-interacional, por meio da qual o sentido daquilo que o falante quer dizer, das suas opiniões e ideologias, é produzido a partir de um determinado contexto.

Visto que este artigo propõe-se a analisar a tradução do discurso da sexualidade no âmbito da legendagem, e mais especificamente a tradução das referências culturais que compõem esse discurso na obra fílmica, torna-se relevante salientar o fato de não ter sido possível estabelecer contato com os envolvidos no processo de legendagem, tampouco acesso às informações relacionadas com o material utilizado ou às diretrizes que foram seguidas, de modo que não foi possível presumir as razões que influenciaram as decisões do/a legendador/a.

1 Discurso da sexualidade na tradução

Michel Foucault (1988), em sua análise sobre a relação entre sexo, poder e repressão sexual que teve início no século XVII e se estendeu até o século XIX, mostra como instituições dominantes ganharam controle sobre as pessoas por meio da repressão de sua habilidade de comunicar a sexualidade:

Diz-se que no início do século XVII ainda vigorava uma certa franqueza. As práticas não procuravam o segredo; as palavras eram ditas sem reticência excessiva e, as coisas, sem demasiado disfarce; tinha-se com o ilícito uma tolerante familiaridade. Eram frouxos os códigos da grosseria, da obscenidade, da decência, se comparados com os do século XIX. Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças astutas vagando, sem incômodo nem escândalo, entre os risos dos adultos: os corpos “pavoneavam” (FOUCAULT, 1988, p. 9).

A manipulação da linguagem desempenha importante papel na organização do discurso da sexualidade, pois é por meio da linguagem que identidades, desejos e práticas sexuais são organizadas no discurso (Deborah CAMERON; Don KULICK, 2003). Partindo desse princípio, pensa-se aqui a tradução feminista como uma abordagem que procura reverter a condição de subordinação da mulher predominante no discurso e na produção textual, assim como identificar e criticar concepções que conferem à tradução um lugar secundário no sistema literário por meio da associação da tradução com a representação sexista da mulher.

A partir dessa perspectiva, a linguagem é concebida como um sistema que produz significado, uma ferramenta de manipulação pela qual ideologias patriarcais transmitem à mulher sua condição social de subordinação. Nesse sentido, o sexismo no discurso da sexualidade é visto como um sustentáculo moral das estruturas criadas para refletir o universo masculino e excluir a realidade feminina, perpetuando a crença de que a mulher é essencialmente inferior ao homem.

A perspectiva feminista da linguagem que descreve o corpo da mulher é apresentada por Luise von Flotow (1997, p. 17) como um dos principais aspectos que compõem o estilo feminista de escrita, ou seja, um estilo de escrita que procura resgatar, em todas as formas de comunicação social, o corpo da mulher, reificado por um sistema que o silencia e subjuga. Para Sherry Simon (1996, p. 2), do ponto de vista tradutório, o estilo de escrita feminista é adotado quando o/a tradutor/a, apoiado em noções de tradução cultural, questiona o modo como desigualdades de gênero são expressadas no discurso e transferidas para outras culturas; quando o/a tradutor/a reconhece e resiste à dominação, enquanto enfatiza a importância do contexto cultural para a tradução, quando o foco está no projeto de escrita, onde ambos/as autor/a e tradutor/a desempenham um papel significante. Com isso, nosso intuito é sinalizar o estudo de representações da mulher nos Estudos da Tradução, que têm o seu marco teórico na década de 1990 (SIMON, 1996; FLOTOW, 1997). Para os propósitos deste artigo, volta-se essa discussão para o contexto do estudo da legendagem.

Com base nessas concepções, é possível refletir o discurso da sexualidade no âmbito da tradução audiovisual como uma linguagem enraizada na cultura e que pode, portanto, ser tratada como culturalmente específica.

1.1 Especificidades culturais em legendagem

Como tradução escrita de um texto falado, a legendagem constitui um tipo de transferência linguística que apresenta problemas e desafios de tradução determinados pela mídia à qual se destina, em outras palavras, o meio de comunicação para o qual a tradução é realizada impõe determinadas restrições que dificultam a transferência de um código linguístico para outro. Em se tratando de legendagem fílmica, como no caso deste estudo, Birgit Nedergaard-Larsen (1993) aponta fatores específicos desta mídia audiovisual que influenciam as decisões do/a legendador/a, isto é, influenciam a seleção das estratégias de tradução a serem empregadas no processo tradutório.

A legendagem, como um dos principais métodos de tradução audiovisual, aparece como o procedimento que menos interfere no original, promovendo assim um encontro do público estrangeiro com a alteridade. Aqui se compreende legendagem como:

Uma prática de tradução que consiste na apresentação de um texto escrito, geralmente na parte inferior da tela, que se empenha em narrar o diálogo original dos personagens, assim como os elementos discursivos que aparecem na imagem (letras, encartes, rótulos, cartazes, e outros itens semelhantes), bem como a informação contida na trilha sonora (música, voice-over) (Jorge Díaz CINTAS; Aline REMAEL, 2014, p. 8, tradução nossa).

Em vista de restrições técnicas de espaço e tempo, a redução do texto original torna-se inevitável, de modo que a adequação da legenda às limitações de espaço e tempo, assim como a necessidade de sincronizar o texto com o áudio e a imagem, cria problemas de tradução que podem ser solucionados com o auxílio de procedimentos de tradução teorizados por alguns autores como estratégias de tradução de especificidades culturais.

Segundo Peter Newmark (1988), dado que o discurso constitui um fenômeno enraizado na cultura, uma manifestação cultural local da qual é símbolo, palavras ou objetos culturais não podem ser traduzidos literalmente. Concordando com o autor, Ritva Leppihalme (2011) esclarece que esse problema é geralmente descrito como extralinguístico, por envolver uma realidade física e sociocultural alheia à linguagem. Devido à associação com a realidade, palavras ou frases intimamente enraizadas na cultura de partida são frequentemente intituladas realia (termo em latim para ‘coisas reais’).

No entanto, Jan Pedersen (2011) defende que ‘extralinguístico’ não deve ser considerado sinônimo de ‘não verbal’. Para o autor, referências culturais extralinguísticas são expressadas verbalmente, de modo que a referência é sempre linguística, portanto, intralinguística. Dizer que uma expressão é, em si mesma, extralinguística apenas por se referir a aspectos extrínsecos à linguagem não faria sentido. Embora referências culturais consideradas extralinguísticas façam alusão a aspectos alheios à linguagem, a partir do momento em que são comunicadas verbalmente, constituem um sinal linguístico que se relaciona com outros sinais linguísticos. “Extralinguístico é o processo ao qual a referência cultural se refere”, explana Pedersen (2011, p. 45).

De acordo com Nedergaard-Larsen (1993), quando elementos culturalmente específicos são discutidos no âmbito da tradução, o termo ‘especificidade cultural’ frequentemente faz referência à esfera não linguística, a diferentes fenômenos ou a eventos que ocorrem na cultura de partida. No entanto, a autora defende que a própria linguagem constitui uma especificidade cultural, visto que elementos especificamente culturais são encontrados tanto nos sistemas de linguagem como no uso efetivo, de modo que o elemento extralinguístico está presente no discurso, do contrário, não representaria um problema de tradução. Para melhor identificar elementos culturalmente específicos no discurso, a autora sugere uma classificação semântica que inclui elementos geográficos, históricos e socioculturais.

Visto que a distinção entre questões de ordem cultural e puramente “linguística” é passível de controvérsia, torna-se imprescindível elucidar que, neste artigo, o discurso é concebido como um fenômeno enraizado na cultura, uma manifestação cultural. Assim sendo, a tradução do discurso é vista como algo, há muito debatido nos Estudos da Tradução, que, numa espécie de continuum, ora se aproxima da cultura de partida, ora se aproxima da cultura de chegada (Friedrich SCHLEIERMACHER, 2007). Com o intuito de elucidar procedimentos usados em tradução de maneira consciente ou inconsciente, Jean-Paul Vinay e Jean Dalbernet (2004) elaboraram um conjunto de ‘estratégias de tradução’ empregadas no processo da tradução. Aqui, adotam-se algumas dessas estratégias propostas pelos autores como ferramentas de análise da tradução do discurso sexual nas legendas, no âmbito comparativo entre a língua de partida, falada no filme, e a língua da chegada, escrita na legendagem. Por conta da gama de variáveis culturais, há diversas tipologias de estratégias para lidar com problemas de tradução decorrentes de elementos culturalmente específicos no discurso no âmbito da legendagem.

1.2 Estratégias de tradução

Apresentam-se, aqui, alguns dos procedimentos de tradução usados como ferramentas na análise de aspectos linguísticos e culturais do discurso da sexualidade em The Magdalene Sisters/Em nome de Deus.

No que concerne à perspectiva feminista que orienta este estudo, Flotow (1991) sugere algumas estratégias feministas para lidar com questões sexistas na tradução, dentre elas, a estratégia suplementação. Essa estratégia pode ser entendida como uma tradução ‘excessiva’ que compensa as diferenças entre as línguas, ou seja, uma ‘ação voluntária’ ou ‘intervenção consciente’ do/a tradutor/a feminista no texto. Por meio da suplementação, o texto de partida pode ser complementado, ampliado ou maturado pela tradução. Embora a estratégia suplementação não tenha sido elaborada para lidar com referências culturais em legendagem especificamente, ao desconstruir ou neutralizar a linguagem patriarcal e sexista presente no texto, esse procedimento pode auxiliar na solução de problemas de tradução em legendagem.

Além de Flotow (1991; 1997), Vinay e Darbelnet (2004, p. 89) propuseram, já na década de 1950, o conceito de modulação como um método de tradução que envolve variação na forma da mensagem, obtida por mudanças de perspectiva. Teorizando acerca da tradução literária, os autores defendem que variações de perspectiva podem ser justificadas quando, do ponto de vista gramatical, a tradução literal, isto é, palavra por palavra, é considerada inapropriada ou soa disforme na língua de chegada. Em decorrência de restrições técnicas, mudanças de perspectiva ocorrem com frequência no processo de legendagem, tornando a modulação um procedimento que auxilia na solução de problemas de legendagem de referências culturais. Em se tratando especificamente de estratégias elaboradas para solucionar problemas de tradução relacionados à transcodificação de referências culturais em legendagem, tipologias de estratégias propostas por Pedersen (2011) e Cintas e Remael (2014) embasam este estudo.

Pedersen (2011, p. 76-77) propõe uma classificação que inclui sete estratégias de tradução elaboradas para auxiliar na transferência intercultural e interlinguística de termos culturalmente específicos: a) retenção; b) especificação; c) tradução direta; d) generalização; e) substituição; f) omissão; g) equivalente oficial.

A estratégia retenção ocorre quando a referência cultural é mantida inalterada na legenda ou é levemente adaptada para cumprir as demandas da cultura de chegada, por exemplo, o uso de itálicos. Para Cintas e Remael (2014), a incorporação inalterada de um termo do texto de partida ao texto de chegada pode ser entendida como estratégia empréstimo.

A estratégia especificação ocorre quando informações adicionais são acrescentadas à legenda, tornando a referência cultural mais específica na legenda do que no diálogo de partida. Segundo o autor, a estratégia especificação é feita por meio da inclusão de detalhes que descrevem ou explicam um nome ou um acrônimo ou, ainda, por meio da adição de conteúdo semântico que explica o sentido do elemento cultural.

Já a estratégia tradução direta ocorre quando a única coisa que é convertida é a linguagem, não sendo necessário realizar alterações semânticas. Cintas e Remael (2014) denominam esse procedimento calque, isto é, tradução literal.

A estratégia generalização torna a referência cultural menos específica na legenda do que no diálogo falado. Essa estratégia pode ser empregada por meio do uso de um termo superordenado ou paráfrase.

No caso da estratégia substituição, a referência da cultura de partida é substituída por outra referência cultural, tanto da cultura de partida quanto da cultura de chegada. Concordando com Pedersen (2011), Cintas e Remael (2014, p. 204) recomendam o emprego dessa estratégia em situações nas quais restrições de espaço não permitem, na legenda, o uso de um termo da cultura de chegada cujo número de caracteres excede o do termo da cultura de partida. Além disso, os autores recomendam esse procedimento para os casos em que o uso de hipônimo ou hiperônimo não é necessário.

A estratégia omissão acontece quando a referência cultural do texto de partida não é reproduzida na legenda. Este procedimento é mais frequentemente empregado em legendagem do que em outros modos de tradução em função de restrições técnicas de tempo e espaço. Na opinião de Cintas e Remael (2014), a estratégia omissão constitui uma alternativa para os casos em que a língua de chegada não possui um termo ‘aproximado’.

Por fim, a estratégia equivalente oficial pode auxiliar nos casos em que a referência cultural da língua de partida possui um termo ‘aproximado’ na língua de chegada.

A partir dessas considerações, a seção seguinte apresenta um estudo empírico baseado nas noções supracitadas.

2 A tradução do discurso da sexualidade em The Magdalene Sisters

No filme The Magdalene Sisters, referências culturais de diversos tipos podem ser identificadas em diversos diálogos entre os personagens. Para fazer um levantamento inicial das referências culturais que compõem o texto audiovisual, os dados a serem analisados, isto é, os diálogos e suas respectivas legendas, foram coletados da versão DVD do filme The Magdalene Sisters/Em Nome de Deus. Em seguida, esses dados foram divididos em duas categorias de análise que integram a cultura do patriarcado no filme, a saber: discurso religioso e discurso da sexualidade. Neste artigo, entretanto, devido a restrições de espaço, apenas dados que compõem a categoria discurso da sexualidade são discutidos. A partir disso, com o objetivo de analisar sistematicamente os dados e metodizar a análise com base nas teorias de tradução de legendas supracitadas, propõem-se as seguintes estratégias de tradução como ferramentas para analisar as legendas: a) tradução literal; b) modulação; c) generalização; d) substituição cultural; e) suplementação; e f) omissão.

Neste estudo, entende-se como estratégia tradução literal os casos em que a transferência linguística é feita palavra por palavra, não incorrendo em alteração semântica. Entende-se também como tradução literal as situações em que alterações gramaticais resultantes da redução do diálogo falado não representam variação significativa de sentido no texto de chegada.

Diferentemente da estratégia tradução literal, entende-se como estratégia modulação as situações em que a versão legendada apresenta alterações gramaticais que resultam em variação de perspectiva ou agentividade que alteram o significado do diálogo falado. Embora Vinay e Darbelnet (2004), teorizando acerca da modulação no âmbito da tradução literária, defendam que mudanças de perspectiva são justificáveis quando a tradução literal (palavra por palavra) soar disforme, nota-se que, no âmbito da legendagem, mudanças de perspectiva tendem a alterar o significado do texto de partida. Desse modo, aqui se compreende como modulação as situações em que uma legenda apresenta alteração de significado do diálogo falado, seja decorrente de variação de perspectiva, agentividade ou outros condicionamentos contextuais.

Nos casos em que um termo ou expressão de sentido mais específico na cultura de partida é substituído por um termo ou expressão de sentido mais genérico na cultura de chegada, o procedimento é entendido como generalização, porque torna a ideia central do discurso ou a referência cultural mais geral na legenda do que no diálogo falado.

Já nos casos em que uma referência cultural do texto de partida é substituída por uma referência cultural do texto de chegada, entende-se aqui como estratégia substituição cultural.

Quanto às situações em que a legenda sugere uma intervenção voluntária do/a legendador/a, seja a neutralização de linguagem patriarcal ou sexista, ou a explicitação de ideologias morais e religiosas que justificam a violência contra a mulher, a intervenção é compreendida nesta análise como suplementação do discurso falado.

Por último, assim como proposto por Pedersen (2011) e Cintas e Remael (2014), as situações em que parte do diálogo não é reproduzida na legenda, resultando ou não em alteração do significado do texto de partida, são entendidas neste artigo como estratégia omissão.

É importante ressaltar que, em alguns casos, mais de um procedimento pode ser identificado em uma mesma legenda, fenômeno que geralmente ocorre como resultado de alterações gramaticais ou variações de perspectiva, concebidas aqui como modulação.

Em The Magdalene Sisters, o discurso da sexualidade reflete a estreita relação entre corpo, sexualidade e pecado no contexto da narrativa, como demonstram os exemplos a seguir.

#PraTodoMundoVer: Quadro identificado como exemplo um. Este quadro contém duas colunas e quatro linhas. Apresenta o conteúdo textual analisado a seguir. O conteúdo textual do quadro é composto pela fala em inglês de uma personagem do filme The Magdalene Sisters, estreado em 2002 e dirigido por Peter Mullan, e sua respectiva legenda em português. A primeira coluna traz a seguinte fala em inglês da personagem Irmã Bridget: Don’t ever interrupt me, girl. Did no one ever tell you that it’s bad manners to interrupt? Or, were you too busy whoring with the boys to listen? A segunda coluna traz a seguinte legenda em português: “Nunca me interrompa, garota. Não aprendeu que é rude? Estava ocupada aprendendo a ser meretriz?”. A terceira linha do quadro indica a marcação do tempo em que este texto é mostrado no filme, que é o seguinte: início, dezessete minutos e cinquenta e três segundos; final, dezoito minutos e seis segundos. A quarta linha do quadro indica as estratégias de tradução identificadas na análise da tradução da fala em inglês para o português na forma de legenda, a saber: modulação e suplementação.

Exemplo 1 

Com a sentença Were you too busy whoring with the boys to listen? (Estava muito ocupada se prostituindo com os garotos, para ouvir?), a personagem Irmã Bridget, madre superiora da instituição, se refere à penitente novata Margaret, vítima de estupro, como prostituta. Na tradução desta sentença para o português “Estava ocupada aprendendo a ser meretriz?” (Were you too busy learning to become a whore?), nota-se que o termo whoring (se prostituindo) foi traduzido como ‘aprendendo a se prostituir’. O emprego deste procedimento de tradução indica uma variação de perspectiva que resultou na atenuação da conotação sexual do termo tabu1whoring.

Assim, o tratamento dado ao discurso sexual, neste caso, parece enfraquecer o sexismo e a objetivação de Margaret no discurso da freira. Tal procedimento de tradução caracteriza, simultaneamente, modulação e suplementação do discurso, isto é, uma intervenção voluntária no texto com o propósito de atenuar ou enfraquecer o sexismo no discurso. Neste caso, a variação de perspectiva observada na atenuação da conotação sexual contida no termo whoring, traduzido como ‘aprendendo a ser meretriz’, também constitui suplementação do texto de partida pelo fato de o encarceramento de Margaret ser consequência de estupro, não de prostituição, como infere a madre. No contexto do filme, a causa do confinamento de Margaret é o estupro sofrido por ela. Margaret não era prostituta, como a acusa madre. No entanto, no contexto sociocultural e histórico do confinamento de Margaret no asilo, a mulher é culpada pelo estupro sofrido; é culpada porque ‘tentou’ o estuprador, levando-o a cometer o ato. Consideramos, portanto, que, na legendagem, houve uma atenuação porque Margaret é tida como ‘aprendiz’ de prostituição e não ‘uma prostituta de fato’, mas uma jovem mulher ‘propensa’ à prostituição. Do ponto de vista da análise do discurso, seguindo Van Dijk (2017), ocorreu aqui, desse modo, uma variação de perspectiva.

#PraTodoMundoVer: Quadro identificado como exemplo dois. Este quadro contém duas colunas e quatro linhas. Apresenta o conteúdo textual analisado a seguir. O conteúdo textual do quadro é composto pela fala em inglês de uma personagem do filme The Magdalene Sisters, estreado em 2002 e dirigido por Peter Mullan, e sua respectiva legenda em português. A primeira coluna traz a seguinte fala em inglês da personagem Brendan: And they’ve told me you loved the wee and the fellows. Well, ain’t that right? That you lot are in here because you liked to give it to the lads? Liked to get the old knickers off, and that? A segunda coluna traz a seguinte legenda em português: “Ouvi dizer que vocês gostam de homem. Não é isso? Não estão todas aí porque gostam de dar pros rapazes? Vai tirar essa calcinha, ou não?”. A terceira linha do quadro indica a marcação do tempo em que este texto é mostrado no filme, que é o seguinte: início, trinta e seis minutos e vinte e dois segundos; final, trinta e seis minutos e quarenta e seis segundos. A quarta linha do quadro indica as estratégias de tradução identificadas na análise da tradução da fala em inglês para o português na forma de legenda, a saber: substituição cultural; omissão; modulação e suplementação.

Exemplo 2 

Nas cenas que compõem este exemplo, observa-se que, apesar do desinteresse da penitente Bernadette, Brendan - personagem encarregado de coletar roupas na lavanderia do asilo - insulta as penitentes com o uso de expressões idiomáticas de conotação sexual como you loved the wee and the fellows (vocês amavam pênis e os rapazes). Na tradução dessa sentença para o português “vocês gostam de homem” (I’ve heard you like man), o termo tabu wee (pênis) foi omitido, atenuando a conotação sexual da frase na legenda.

Quanto à tradução de you liked to give it to the lads? para o português “gostam de dar para os rapazes?”, observa-se a substituição de uma expressão da cultura de partida por outra da cultura de chegada com conotação sexual semelhante. Ocorre que, no texto de partida, Brendan entende que as mulheres estejam encarceradas como consequência de comportamentos imorais recorrentes no passado e isso lhe confere o direito de insultá-las. A mudança de perspectiva identificada na tradução de Liked to get the old knickers off (gostavam de tirar a calcinha) para o português “Vai tirar essa calcinha, ou não?” implica alteração do significado do texto de partida porque o tempo verbal em português dá a entender que Brendan está pedindo ou sugerindo que Bernadette tire a calcinha para ele naquele momento, o que não acontece no diálogo falado em inglês. Essa alteração pode ser entendida como suplementação, ou seja, explicitação da objetivação de Bernadette por Brendan. No entanto, do ponto de vista da transcodificação cultural, neste caso, no texto de partida, Brendan se refere às causas de confinamento das madalenas nos asilos, inferindo que foram confinadas por comportamento considerado imoral naquele contexto social. Em português, a estigmatização de Bernadette é acentuada por ser retratada não somente como uma prática recorrente de sua parte, mas também como um convite, uma possibilidade para aquele momento.

#PraTodoMundoVer: Quadro identificado como exemplo três. Este quadro contém duas colunas e quatro linhas. Apresenta o conteúdo textual analisado a seguir. O conteúdo textual do quadro é composto pela fala em inglês de uma personagem do filme The Magdalene Sisters, estreado em 2002 e dirigido por Peter Mullan, e sua respectiva legenda em português. A primeira coluna traz a seguinte fala em inglês da personagem Irmã Bridget: No, you’re arrogant, ill mannered, stupid, and that might be why the boys liked you. So much low intelligence makes it easier for them to get their fingers inside you. A segunda coluna traz a seguinte legenda em português: “Não. É arrogante, grosseira e burra. Por isso os rapazes gostam de você. Tão pouca inteligência facilita que enfiem os dedos em você”. A terceira linha do quadro indica a marcação do tempo em que este texto é mostrado no filme, que é o seguinte: início, quarenta minutos e trinta e dois segundos; final, quarenta minutos e quarenta e dois segundos. A quarta linha do quadro indica as estratégias de tradução identificadas na análise da tradução da fala em inglês para o português na forma de legenda, a saber: modulação e suplementação; tradução literal.

Exemplo 3 

No contexto sociocultural e histórico dos Asilos de Madalenas irlandeses, uma das causas de encarceramento de jovens mulheres nos asilos era o simples fato de serem consideradas “bonitas demais” e, por isso, representarem uma ameaça à castidade masculina (Hannah BRITT, 2015). Na trama, a personagem Bernadette é uma adolescente interna em um orfanato pertencente a uma Ordem Religiosa. Ela é transferida do orfanato para o asilo depois de ter sido surpreendida por uma freira sendo cortejada por um grupo de garotos que passava pela propriedade da instituição. O período que compõe este exemplo constitui a resposta de Irmã Bridget ao questionamento de Bernadette acerca das razões de sua transferência para o asilo. Assim, quando a madre diz that might be why the boys liked you, ela está se referindo ao ocorrido com o grupo de garotos quando Bernadette vivia no orfanato, fato que foi determinante para a sua transferência para o asilo.

Na tradução de You’re arrogant, ill mannered, stupid, and that might be why the boys liked you para o português “é arrogante, grosseira e burra”, a suposição contida em might be why the boys liked you (por isso os garotos gostavam de você) foi legendada como “por isso os rapazes gostam de você” (that is why the boys like you), sugerindo que a perspectiva da sentença foi alterada na legenda. Argumenta-se que, neste caso, verifica-se que o termo liked (no passado) se refere a um acontecimento específico determinante para a transferência de Bernadette para o asilo, ao passo que na sua transferência linguística para o português essa referência a um acontecimento específico significativo não fica evidente, mas denota que Bernadette, apesar de confinada no asilo, ainda constitui um risco à moralidade social. Como consequência, a versão legendada enfatiza a sexualização de Bernadette pela madre.

Outra causa comum de encarceramento de mulheres em Asilos de Madalenas irlandeses era a demasiada “simplicidade” ou “inteligência insuficiente”, eufemismos comumente usados para se referir a retardamento mental (Hilary BROWN; Matt McGARRY, 2006). No contexto sociocultural que o filme The Magdalene Sisters representa, essa condição intelectual representava um risco para a moral social pelo fato de jovens desprovidas de inteligência serem consideradas mais vulneráveis moralmente, o que justificava o confinamento delas em asilos. Isso posto, a sentença so much low intelligence makes it easier for them to get their fingers inside you constitui uma referência cultural relevante para a análise proposta. No entanto, neste caso, de um ponto de vista linguístico, o texto de partida so much low intelligence makes it easier for them to get their fingers inside you foi traduzido literalmente para “tão pouca inteligência facilita que enfiem os dedos em você”, mantendo a conotação sexual. A relação entre retardamento mental e vulnerabilidade moral também foi mantida na legenda e, portanto, nesse caso, não houve transcodificação cultural.

Pode-se afirmar que as cenas que compõem os exemplos 4 a 6 retratam de forma ficcional o sadismo praticado por freiras e denunciado pela vítima sobrevivente Brighid Young no documentário Sex in a Cold Climate (1998). Estes exemplos ilustram como o corpo da mulher era sujeito a disciplina, objetivação e punição no contexto dos Asilos de Madalenas.

#PraTodoMundoVer: Quadro identificado como exemplo quatro. Este quadro contém duas colunas e quatro linhas. Apresenta o conteúdo textual analisado a seguir. O conteúdo textual do quadro é composto pela fala em inglês de uma personagem do filme The Magdalene Sisters, estreado em 2002 e dirigido por Peter Mullan, e sua respectiva legenda em português. A primeira coluna traz a seguinte fala em inglês da personagem Irmã Clementine: Frances, you know, I’ve never noticed before, but not only you have the tiniest little breasts I’d ever seen, but you got no nipples! Did you see that? That can’t be natural, can it? So, all agreed Frances has the littlest breasts. But who’s got the biggest? A segunda coluna traz a seguinte legenda em português: “Frances, nunca notei que além de ter os menores seios que já vi, você não tem mamilos. Viu isso? Não pode ser natural. Então todas concordamos que Frances tem os menores seios. Mas quem tem os maiores?”. A terceira linha do quadro indica a marcação do tempo em que este texto é mostrado no filme, que é o seguinte: início, cinquenta e três minutos e cinquenta e seis segundos; final, cinquenta e quatro minutos e dezenove segundos. A quarta linha do quadro indica a estratégia de tradução identificada na análise da tradução da fala em inglês para o português na forma de legenda, a saber: tradução literal.

Exemplo 4 

Nos Asilos de Madalenas retratados em The Magdalene Sisters, assim como na tradição cristã, a sexualidade é tratada como o pecado por excelência. Nesse cenário, o corpo é visto como um instrumento de pecado que deve ser subjugado em todas as esferas por meio da disciplina. Neste exemplo, o sadismo perturbador das personagens Irmã Clementine (com atuação de Eithne McGuinness) e Irmã Jude (com atuação Frances Healy) se manifesta por meio de um discurso coercitivo que manipula a filosofia ascética como mecanismo de poder (FOUCAULT, 1995) usado para subjugar a subjetividade da mulher interna no asilo e objetivar seu corpo.

No documentário Sex in a Cold Climate (1998), a sobrevivente Brighid Young denuncia o regime disciplinar e punitivo adotado tanto nos orfanatos quanto nos Asilos de Madalenas dirigidos por freiras no período retratado no filme The Magdalene Sisters. No documentário, Brighid Young conta que as freiras costumavam tocar frequentemente as crianças e as adolescentes do orfanato. Segundo ela, todo sábado à noite as freiras costumavam alinhar as meninas despidas ao fundo da lavanderia para criticar a aparência delas. Se fossem pesadas, ou gordas, por exemplo, as freiras gritavam insultos contra elas. Tais declarações são ficcionalizadas no filme The Magdalene Sisters e caracterizam os exemplos 4, 5 e 6.

De um ponto de vista tradutório, o discurso que compõe os exemplos 4 a 6 pode ser analisado a partir de noções desenvolvidas por Keith Allan e Kate Burridge (2006, p. 145). Os autores argumentam que insultos podem ser motivados pelas supostas características da vítima. Por exemplo, sua feiura, cor de pele, altura, peso; defeitos físicos como nariz grande, seios pequenos ou membros deformados; ou características relacionadas com a sexualidade, por exemplo, “pervertida”, “depravada”, “tentadora”.

Outro aspecto relevante para a análise do discurso da sexualidade, no exemplo 4, diz respeito ao papel fundamental que o contexto desempenha na decodificação de uma mensagem audiovisual. Segundo Van Dijk (2017), nas relações texto-contexto as estruturas visuais, isto é, a sequência de imagens, constituem parte da expressão do discurso multimedial. Para o autor, as dimensões visuais do discurso são propriedades convencionais dos gêneros discursivos e variam conforme o contexto. No caso de discursos fílmicos, as estruturas visuais podem variar conforme o foco narrativo, quer dizer, conforme o ponto de vista do narrador.

Assim, a tradução literal do enunciado not only you have the tiniest little breasts I’ve ever seen, but you got no nipples. That can’t be natural para o português “além de ter os menores seios que já vi, você também não tem mamilos. Não pode ser natural” sugere que a legenda, amparada nos elementos não verbais que compõem o contexto da cena - a representação das penitentes em uma lavanderia industrial parcialmente iluminada, posicionadas de pé uma ao lado da outra e despidas de frente para a freira -, preserva a conotação de insulto do texto de partida. Neste caso, a partir dos elementos contextuais, é possível observar as relações que se estabelecem entre as participantes do discurso (freiras e penitentes), assim como a posição social que as personagens ocupam. Nesse contexto, enquanto o discurso de Irmã Clementine demonstra um sadismo perturbador, a atitude das vítimas revela seu estado de espírito, suas emoções e sua condição social de subordinação. O mesmo ocorreu com a tradução literal do enunciado So all agreed Frances has the littlest breasts. But who’s got the biggest? para o português “então todas concordamos que Frances tem os menores seios. Mas quem tem os maiores?”.

#PraTodoMundoVer: Quadro identificado como exemplo cinco. Este quadro contém duas colunas e quatro linhas. Apresenta o conteúdo textual analisado a seguir. O conteúdo textual do quadro é composto pela fala em inglês de uma personagem do filme The Magdalene Sisters, estreado em 2002 e dirigido por Peter Mullan, e sua respectiva legenda em português. A primeira coluna traz a seguinte fala em inglês da personagem Irmã Clementine: No, she’s just broad in the back. Turn around, Patricia. You see? She’s just big in the back. Patricia, you have a brickie’s back. A segunda coluna traz a seguinte legenda em português: “Não, ela só tem o traseiro grande. Vire, Patricia. Viu que traseiro? Patricia, você tem traseiro de pedreiro”. A terceira linha do quadro indica a marcação do tempo em que este texto é mostrado no filme, que é o seguinte: início, cinquenta e quatro minutos e vinte segundos; final, cinquenta e quatro minutos e trinta e sete segundos. A quarta linha do quadro indica as estratégias de tradução identificadas na análise da tradução da fala em inglês para o português na forma de legenda, a saber: substituição cultural; suplementação.

Exemplo 5 

Neste exemplo, a expressão eufemística she’s just broad in the back (ela só tem a bunda grande) é usada pela Irmã Clementine para insultar e dessexualizar a aparência de Rose/Patricia (com atuação de Dorothy Duffy), dado que “bunda grande” não atende a padrões de beleza físicos na cultura de partida. Ao ser traduzido para o português como “ela só tem o traseiro grande” (she’s just got big bottoms), observa-se, a princípio, que a conotação sexual do texto de partida foi suplementada na legenda porque o uso da expressão tabu ‘traseiro grande’, aqui, pode ser interpretado como explicitação do sentido de broad in the back na legenda. Esta escolha de tradução também pode ser interpretada como uma substituição cultural porque broad in the back constitui uma expressão cultural eufemística de insulto com conotação sexual que foi substituída por ‘traseiro grande’, uma expressão cultural disfemística de insulto com conotação sexual. Isso demonstra que o provável emprego da estratégia substituição cultural na tradução da expressão broad in the back pela expressão tabu “traseiro grande” pode ter sido influenciada por fatores contextuais do discurso. Isto é, considerando a sincronicidade necessária entre texto e imagem em filmes, a opção do/a legendador/a pela expressão “traseiro grande” pode ter sido influenciada pelo fato de, no momento em que a legenda “ela só tem o traseiro grande” é exibida na tela, a câmera focaliza o rosto de Rose/Patricia, não as suas nádegas. Uma vez que a câmera focaliza os rostos das personagens no momento em que a legenda é exibida na tela, se o/a legendador/a tivesse optado por uma tradução mais literal de broad in the back como, por exemplo, ‘ela é grande na parte traseira’, não teria ficado evidente para a audiência que a freira se refere especificamente às nádegas de Rose/Patricia, já que “ela é grande na parte traseira” pode ser entendido como “grande como um todo”, não apenas as nádegas, mas todo o corpo.

O mesmo pode ser observado na tradução da sentença she’s just big in the back (ela só é bunduda) pela expressão disfemística “Viu que traseiro?” (look at her big bottoms!). Neste caso, repara-se que a mudança de perspectiva, somada à conotação tabu do termo “traseiro”, resultou na suplementação do texto de partida.

Com a sentença Patricia, you have a brickie’s back (Patricia, você tem bunda de pedreiro), Irmã Clementine infere que as nádegas de Rose/Patricia se assemelham às de pedreiro, como uma forma de intensificar o insulto e desvalorizar a aparência da interna.

Com relação à última sentença analisada neste exemplo, é interessante observar que, no universo homossexual, mais especificamente transsexual da cultura de partida, a expressão cultural to look bricky (parecer um pedreiro) com roupas de drag queen significa ainda possuir características físicas masculinas. No contexto do filme, a freira faz uso da expressão para zombar do formato das nádegas de Rose/Patricia, inferindo que possuem aspecto masculino, com o objetivo de destruir a imagem corporal dela, uma vez que desconstruir a identidade pessoal e neutralizar qualquer nuance de vaidade integra o sistema punitivo dos Asilos de Madalenas. Na cultura de chegada, a expressão “traseiro de pedreiro” também remete a características físicas masculinas, dado que na cultura brasileira a expressão “traseiro de pedreiro” pode ser usada para insultar ou dessexualizar o outro, uma vez que “traseiro de pedreiro” tampouco atende a padrões estéticos de beleza corporal estabelecidos pela mídia brasileira. Assim, quando a sentença you have a brickie’s back (você tem bunda/traseiro de pedreiro) é traduzida para o português como “você tem traseiro de pedreiro”, comunica a mesma conotação de insulto do texto de partida. Desse modo, observa-se o emprego das estratégias substituição cultural porque uma expressão do texto de partida foi substituída por outra no texto de chegada. Ainda, a escolha sugere o emprego da estratégia suplementação pelo fato de a expressão brickie’s back poder ser considerada como um eufemismo de brickie’s bottoms ou brickie’s buttocks, termos tabuizados.

#PraTodoMundoVer: Quadro identificado como exemplo seis. Este quadro contém duas colunas e quatro linhas. Apresenta o conteúdo textual analisado a seguir. O conteúdo textual do quadro é composto pela fala em inglês de uma personagem do filme The Magdalene Sisters, estreado em 2002 e dirigido por Peter Mullan, e sua respectiva legenda em português. A primeira coluna traz a seguinte fala em inglês da personagem Irmã Clementine: So, we covered biggest breasts, littlest breasts, biggest bottoms. So now we only need to sift the hairiest. Bernadette, you have more hair down there than you have on your head. But the winner is… Crispina. A segunda coluna traz a seguinte legenda em português: “Bem, já falamos dos maiores seios, dos menores seios, do maior traseiro. Só falta ver quem é mais peluda. Bernadette, você tem mais cabelo lá embaixo do que na cabeça... Mas a vencedora é Crispina”. A terceira linha do quadro indica a marcação do tempo em que este texto é mostrado no filme, que é o seguinte: início, cinquenta e quatro minutos e cinquenta e um segundos; final, cinquenta e cinco minutos e trinta e dois segundos. A quarta linha do quadro indica as estratégias de tradução identificadas na análise da tradução da fala em inglês para o português na forma de legenda, a saber: tradução literal.

Exemplo 6 

Neste exemplo, o enunciado So we covered biggest breasts, littlest breasts, biggest bottoms. So now we only need to sift the hairiest foi traduzido literalmente para o português como “Bem, já falamos dos maiores seios, dos menores seios, do maior traseiro. Só falta ver quem é mais peluda”, preservando a conotação sexual do texto de partida. Na tradução do termo hairiest para “mais peluda”, bem como da expressão eufemística more hair down there than on your head para o português “mais cabelo lá embaixo do que na cabeça”, repara-se que, amparada nos elementos não verbais da cena - a representação das penitentes em uma lavanderia industrial parcialmente iluminada, posicionadas de pé uma ao lado da outra e despidas de frente para a freira - que compõem o contexto do enunciado, a conotação sexual e de insulto do texto de partida foi reproduzida na legenda com a mesma intensidade do diálogo falado.

De modo geral, este exemplo destaca o papel dos elementos contextuais, sobretudo visuais, do discurso. O silêncio, bem como as emoções das personagens penitentes, demonstra de que maneira a indissociabilidade entre legenda e imagem transmite o significado da mensagem audiovisual.

Considerações finais

Este estudo foi desenvolvido para explorar, no âmbito da legendagem, como as referências culturais presentes no discurso da sexualidade foram tratadas no processo de legendagem do filme The Magdalene Sisters/Em Nome de Deus, isto é, como a cultura de confinamento de mulheres na Irlanda dos séculos XIX e XX, trazida a público por meio da representação cultural dos Asilos de Madalenas, sobretudo por meio do filme The Magdalene Sisters, foi traduzida para a cultura brasileira por meio da legendagem.

Mediante a adoção de uma abordagem interdisciplinar, foi possível desenvolver uma reflexão mais aprofundada do papel que a cultura, bem como as relações texto-contexto, desempenha na legendagem de discursos culturalmente marcados. A abordagem interdisciplinar possibilitou ainda observar, sob o olhar feminista da tradução, como o/a legendador/a direcionou sua atenção para o vocabulário, em alguns momentos intervindo no texto para transcodificar uma mensagem audiovisual que busca expor um sistema de abuso institucional contra as mulheres.

Para identificar e sistematizar os procedimentos que o/a legendador/a adotou no processo de tradução dos diálogos culturalmente marcados, aqui analisados, foram propostas seis tipologias de estratégias de tradução de especificidades culturais a partir de estudos desenvolvidos por diferentes pesquisadores da área de Estudos da Tradução, mais especificamente, da legendagem. A análise teve como objetivo não somente investigar se as legendas preservaram ou não o sentido dos diálogos falados, mas também identificar como se deu o processo tradutório. A identificação do emprego hipotético das estratégias possibilitou verificar e categorizar as escolhas ou intervenções que o/a legendador/a fez no texto e quais implicações acarretaram para o sentido da mensagem; de quais recursos, hipoteticamente, o/a legendador/a lançou mão para transmitir o sentido da mensagem em meio às restrições de tempo e espaço que a legendagem impõe.

Em alguns casos, observou-se a opção por traduzir literalmente; noutros casos, a opção por substituir uma expressão cultural por outra; e até mesmo a opção por intervir deliberadamente no texto. Como resultado, a análise do corpus demonstrou que as diferenças identificadas sugerem, por exemplo, que o/a legendador/a se empenhou em mostrar que as madalenas eram objetificadas no contexto dos asilos tanto pelas personagens masculinas como pelas freiras, como observado no exemplo 2. Neste exemplo, quando Brendan pede à Bernadette a confirmação dos rumores que ouviu acerca das madalenas, dizendo: And they’ve told me you loved the wee and the fellows. Well, ain’t that right? That you lot are in here because you liked to give it to the lads? Liked to get the old knickers off, and that?, ele representa o olhar da sociedade, sobretudo o olhar masculino que concebe as madalenas, independentemente das razões do confinamento, como prostitutas. Nesse caso, embora a legendagem explicite a objetivação de Bernadette no contexto “Ouvi dizer que vocês gostam de homem. Não é isso? Não estão todas aí porque gostam de dar pros rapazes? Vai tirar essa calcinha, ou não?”, o sentido do texto de partida foi alterado.

Além disso, apesar de haver diferenças entre o texto de partida e o de chegada, a análise qualitativa demonstra que houve preservação do teor sexual e de insulto e de objetivação da mulher interna em um Asilo de Madalenas na legendagem. As legendas sugerem ainda que, em alguns momentos, determinadas adequações para o contexto de chegada resultaram em variação de sentido da mensagem. Entretanto, é possível argumentar que, apesar das variações encontradas, as legendas, de modo geral, preservaram os aspectos ideológicos que tornam os Asilos de Madalenas um fenômeno cultural que reflete as estruturas patriarcais de uma sociedade determinada a assegurar a condição subalterna da mulher. Nesse sentido, argumenta-se ainda que a legendagem do filme foi bem-sucedida. Amparada em elementos não verbais do contexto, sobretudo na imagem, a legendagem do discurso da sexualidade em The Magdalene Sisters expôs a violência física e psicológica praticada contra mulheres em situação vulnerável, dentro dos Asilos de Madalenas, transcodificando elementos culturais que ilustram como o poder repressivo era exercido na forma de medida corretiva para reverter a insubordinação da mulher ao sistema punitivo operante nos asilos. Essa transcodificação promoveu uma aproximação do contexto de partida ao de chegada.

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1Apesar de sua diversidade de formas, tabu significa principalmente ‘proibido’ e ‘sagrado’. O termo pode ser definido como: a) característica atribuída a um objeto, pessoa ou comportamento que os torna perigosos aos membros de uma sociedade; b) proibição convencional determinada pelos costumes de uma comunidade, como tabus sexuais, por exemplo; c) qualquer coisa inviolável, proibida ou interdita, por exemplo, tabus religiosos; d) escrúpulo injustificado, crença supersticiosa; e) restrição ou proibição ao emprego de uma palavra em razão de coerções religiosas, morais e culturais, por exemplo, tabus linguísticos; f) que tem caráter sagrado e proibido.

Como citar este artigo de acordo com as normas da revista: GEHIN, Antônia Elizângela de Morais; FERNANDES, Alinne Balduino Pires. “A legendagem do discurso da sexualidade em The Magdalene Sisters”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 2, e68073, 2021.

Financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 (bolsa de Mestrado de Antonia Elizangela de Morais Gehin)

Consentimento de uso de imagem: Não se aplica

Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Recebido: 31 de Outubro de 2019; Revisado: 09 de Julho de 2020; Aceito: 27 de Julho de 2020

antonia.gehin@gmail.com

alinne.fernandes@ufsc.br

Antônia Elizângela de Morais Gehin (antonia.gehin@gmail.com) é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC e mestra pelo mesmo Programa. Graduada em Comunicação Social pelo Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa - IPEP. É membro do Grupo de Estudos Irlandeses da UFSC.

Alinne Balduino Pires Fernandes (alinne.fernandes@ufsc.br) é professora de literatura e tradução no Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras, credenciada na Pós-Graduação em Inglês e na Pós-Graduação em Estudos da Tradução. É líder do Grupo de Estudos Irlandeses e Grupo de Estudos Feministas na Literatura e na Tradução, ambos da UFSC.

Contribuição de autoria: Antônia Elizângela de Morais Gehin: concepção, coleta de dados e análise de dados, elaboração do manuscrito, discussão de resultados. Alinne Balduino Pires Fernandes: concepção, elaboração do manuscrito, redação.

Conflito de interesses: Não se aplica

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