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Revista Estudos Feministas

versão impressa ISSN 0104-026Xversão On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.29 no.1 Florianópolis jan. 2021  Epub 01-Jan-2021

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n176729 

Seção Temática Heleieth Saffioti - 50 anos d’A mulher na sociedade de classes

A mulher na sociedade de classes: um clássico dos estudos de gênero

A mulher na sociedade de classes: A Classic of Gender Studies

A mulher na sociedade de classes: un clásico de los estudios de género

1Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 20051-070 - ppgsa@ifcs.ufrj.br

2Universidade de São Paulo, Departamento de Sociologia, São Paulo, SP, Brasil. 05508-010 - fsl@usp.br


Resumo:

Este artigo discute a recepção da obra de Heleieth Saffioti, com ênfase no livro A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, nas Ciências Sociais e Humanas brasileiras ao longo das últimas cinco décadas. O objetivo do artigo é mostrar como a circulação dos escritos de Saffioti se manteve irregular e como dialoga com a área de estudos de gênero e feminista no país. Para tal, é realizada uma análise bibliométrica das citações à autora, bem como são investigadas as dinâmicas de formação e consolidação do campo dos estudos de gênero no Brasil.

Palavras-chave: Heleieth Saffioti; feminismo; estudos de gênero; análise bibliométrica

Abstract:

This article discusses the reception of Heleieth Saffioti’s work, with emphasis on the book A mulher na sociedade de classes: mito e realidade [published in English as Women in class society], in the Brazilian Social Sciences and Humanities over the last five decades. The purpose of the article is to show how the circulation of Saffioti’s work remained irregular and how it dialogues with gender and feminist studies in the country. To this end, we analyze the citations to this particular author’s work, as well as investigate the dynamics of formation and consolidation of the field of gender studies in Brazil.

Keywords: Heleieth Saffioti; Feminism; Gender Studies; Citation Analysis

Resumen:

Este artículo analiza la recepción de la obra de Heleieth Saffioti, con énfasis en el libro A mulher na sociedade de classes: mito e realidade [en español: La mujer en la sociedad de clases: mito y realidad], en las Ciencias Sociales y Humanas brasileñas durante las últimas cinco décadas. El propósito del artículo es mostrar cómo la circulación de los escritos de Saffioti se mantuvo irregular y cómo dialoga con el área de estudios de género y feministas en el país. Para ello, se realiza un análisis bibliométrico de las citas a la autora, así como se investiga la dinámica de formación y consolidación del campo de los estudios de género en Brasil.

Palabras clave: Heleieth Saffioti; feminismo; estudios de género; análisis bibliométrico

Introdução

Primeiramente, gostaríamos de ponderar sobre o sentido da afirmação de que o livro A mulher na sociedade de classes: mito e realidade pode ser considerado um clássico dos estudos de gênero e/ou da Sociologia. Evidentemente esta afirmação tem também um sabor de provocação. Como sabemos a Sociologia, ou mais especificamente, os estudos sobre o Pensamento Social Brasileiro definiram o seu cânone a partir de contextos históricos, sistemas valorativos e institucionais. Um dos filtros mais significativos foi o viés de gênero, que colocou à margem a produção de muitas mulheres que ofereceram reflexões originais sobre a formação da sociedade brasileira. Heleieth Saffioti é uma dessas autoras que foram negligenciadas ou que não foram qualificadas para fazer parte do panteão de pensadores nacionais.

Todavia, A mulher na sociedade de classes vive hoje um momento de redescoberta, com a proliferação de novas leituras, artigos, teses, cursos acadêmicos e extra-acadêmicos e até mesmo celebrações, como a que estamos fazendo aqui nesta seção temática. Nesse sentido, podemos dizer que adquiriu o estatuto de um livro clássico, se aceitarmos a definição de Peter Baehr e Mike O’Brian (1994) que consideram que uma obra se torna clássica quando as gerações subsequentes se apropriam dela e, por um complexo processo de transmissão e difusão, indivíduos e instituições se envolvem na sua promoção.

Assim, Saffioti é reconhecida por diferentes intelectuais como uma pensadora importante para os estudos de gênero no Brasil (Renata GONÇALVES, 2013; Céli PINTO, 2014; Maria Aparecida Moraes SILVA, 1995) e como uma pioneira, ao realizar pesquisas acadêmicas problematizando a questão da mulher ainda na década de 1960. Saffioti é autora do livro A mulher na sociedade de classes: mito e realidade (doravante MNSC), escrito entre 1966 e 1967 e publicado em 1969. A obra é fruto de sua tese de livre-docência para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), e foi desenvolvida sob orientação de Florestan Fernandes.

O livro discute a condição da mulher, em especial, da mulher brasileira, na sociedade capitalista e, baseando-se em um referencial marxista, toma a opressão de gênero (embora Saffioti não usasse esse termo na época como será discutido adiante) como intrinsecamente relacionada à opressão de classe, como fica claro neste trecho:

Se esta obra não se dirige apenas às mulheres, não assume, de outra parte, a defesa dos elementos do sexo feminino. Não é, portanto, feminista. Denuncia, ao contrário, as condições precárias de funcionamento da instituição familiar nas sociedades de classe, em decorrência de uma opressão que, tão somente do ponto de vista da aparência, atinge apenas a mulher (SAFFIOTI, 2013, p. 34).

Ao longo dos cinquenta anos que o livro completou em 2019, várias transformações ocorreram nos estudos de gênero no Brasil. Nos anos 1980, esses estudos começam a se consolidar nas Ciências Humanas e Sociais das universidades brasileiras a partir da atuação de feministas pioneiras e com amplo diálogo com o establishment acadêmico. Na década de 1990, surgem dois importantes periódicos especializados, a Revista Estudos Feministas e a Cadernos Pagu, publicações acadêmicas que ajudaram a disseminar os estudos do campo. Além disso, ainda na década de 1990, proliferam os estudos sobre a ‘diferença dentro da diferença’, ou sobre a importância de classe, raça e geração como organizadores da experiência das mulheres (Bila SORJ, 2004). Esses estudos continuam a ganhar importância no campo do gênero, muitas vezes sob a rubrica de termos como ‘interseccionalidade’ ou ‘imbricação’.

Assim, interessa a este artigo compreender como se deu a recepção do MNSC e da obra de Heleieth Saffioti ao longo de várias décadas nas Ciências Sociais brasileiras e interpretar essa recepção a partir da dinâmica da área de estudos de gênero e feminista no país. Nossa hipótese é de que a recepção da obra de Saffioti foi bastante irregular ao longo do tempo e esteve sincronizada com o desenvolvimento do próprio campo de estudos de gênero/estudos feministas no Brasil.

Para perseguir essa hipótese, procuraremos analisar as referências à autora feitas por artigos publicados em periódicos selecionados e expressivos da área das Ciências Sociais e Humanas, de modo a poder acompanhar a sua frequência ao longo do tempo. A análise bibliométrica da obra da autora focou revistas classificadas como A1 e A2 em Sociologia e/ou Antropologia na avaliação da CAPES-Sucupira em 2016 (mesmo que fossem de outras áreas) e que atendessem os seguintes critérios: a) ter tido a primeira publicação até 1979, ou seja, até dez anos após a primeira publicação de MNSC; b) ainda estar sendo editada em 2019; c) ter acervo online; d) não ser publicação de um subcampo das Ciências Sociais. Tal seleção favoreceu uma análise longitudinal, considerando cinco décadas de produção acadêmica, como mostraremos a seguir.

Ao todo, oito revistas atenderam esses critérios, as quais são listadas a seguir com o respectivo ano de fundação: Anuário Antropológico (1976), Cadernos de Pesquisa (1971), Dados - Revista de Ciências Sociais (1966), Educação & Realidade (1976), Psicologia: Ciência e Profissão (1979), Revista de Antropologia da USP (1953), Revista de História da USP (1950) e Trans/form/ação (1974).

O acervo dessas revistas, entre 1969 e 2019, foi pesquisado em busca de menções às obras de Heleieth Saffioti em artigos, resenhas, editoriais etc. Além disso, foi pesquisado o acervo das duas principais revistas acadêmicas feministas do Brasil, quais sejam: Revista Estudos Feministas (1992) e Cadernos Pagu (1993). O cotejamento de revistas ‘generalistas’ e revistas ‘feministas’ permitiu analisar se a obra de Saffioti fica restrita ao campo dos estudos especializados ou se penetrou o chamado mainstream da produção acadêmica das Ciências Humanas e Sociais. Como apontam Maria Luiza Heilborn e Bila Sorj (1999), a circulação dos estudos de gênero tendia, até o momento em que escreveram, a ficar concentrada nas revistas feministas, não alcançando as revistas generalistas. Assim, a partir de nossa análise, será possível discutir se o mesmo fenômeno ocorre com a obra de Saffioti.

É relevante mencionar que a própria classificação generalista versus feminista é passível de críticas, uma vez que a produção feminista pode ser tomada como uma crítica à teoria social, com pretensões, portanto, abrangentes. Não obstante, as discussões de gênero e feministas se consolidaram como uma área específica e marginal. É nesse sentido que utilizamos o binômio feminista e generalista. Tal feito nos permite classificar as revistas entre aquelas que tomam o gênero e a teoria feminista como centrais ao seu escopo e aquelas que não o fazem.1

A mulher na sociedade de classes e seus 50 anos

Nesta seção discutiremos como o livro MNSC aparece nas revistas generalistas desde a sua publicação em 1969 e como figura nas revistas feministas brasileiras. Notamos que, ao longo desses cinquenta anos, o livro MNSC foi citado nem uma, uma ou duas vezes nas revistas generalistas analisadas. A exceção é a revista Cadernos de Pesquisa, em que o livro é citado onze vezes. A Tabela 1 apresenta esses dados.

Tabela 1 A mulher na sociedade de classes nas revistas generalistas 

Revista Total de números cotejados Número de citações Anos das citações
Anuário Antropológico 49 0 n/a
Cadernos de Pesquisa 172 11 1975(2); 1978(1); 1980(1); 1981(2); 1984(1); 1988(1); 1992(1); 1993(1); 1999(1)
Dados 155 2 2013(1); 2016(1)
Educação & Realidade 107 2 1982(1); 1989(1)
Psicologia: Ciência e Profissão 134 1 2006
Revista de Antropologia 61 1 1981
Revista de História 100 1 1977
Trans/form/ação 79 0 n/a
Total 857 18 n/a

Obs.: as revistas Psicologia: Ciência e Profissão e Trans/form/ação incluem números regulares e especiais, e alguns números da Revista de Antropologia não estavam disponíveis para consulta online.

Fonte: elaboração própria.

#PraTodoMundoVer: A tabela um mostra o nome das revistas pesquisadas com as seguintes informações: total de números cotejados para a análise, número de citações ao livro A mulher na sociedade de classes e ano em que ocorreram as citações, quando há: Anuário Antropológico: quarenta e nove números cotejados, zero citações. Cadernos de Pesquisa: cento e setenta e dois números cotejados, onze citações. Em 1975 e 1981 o livro teve duas citações na revista. Nos anos de 1978, 1980, 1984, 1988, 1992, 1993 e 1999 a obra teve uma citação. Dados: cento e cinquenta e cinco números cotejados, duas citações, sendo uma em 2013 e outra em 2016. Educação & Realidade: cento e sete números cotejados, duas citações, uma em 1982 e outra 1989. Psicologia: Ciência e Profissão: cento e trinta e quatro números cotejados, uma citação em 2006. Revista de Antropologia: sessenta e um números cotejados, uma citação em 1981. Revista de História: cem números cotejados, uma citação em 1977. Trans/form/ação: setenta e nove números cotejados, zero citações. Ao total, oitocentos e cinquenta e sete números dessas revistas foram consultados e foram totalizadas dezoito citações.

O maior número de citações da obra na Cadernos de Pesquisas certamente se deve à relativamente numerosa presença de estudiosas do gênero entre as pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas, que edita o periódico (SORJ, 2004). Em 1975, por exemplo, o Coletivo de Pesquisa sobre Mulher da Fundação Carlos Chagas organizou o seminário “A contribuição das Ciências Humanas para a compreensão da situação da mulher” na XVII Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o resultado foi publicado no mesmo ano como número da revista Cadernos de Pesquisa. Essa edição da revista conta com duas citações a MNSC. Uma delas aparece em artigo de Glaura Vasques de Miranda (1975) sobre a participação da mulher na força de trabalho, e a outra trata-se de uma resenha do livro escrita por Marta Malta Campos e Martha Kohl de Oliveira (1975). Em 1981, em um número dedicado ao tema da família, novamente o livro de Saffioti é citado duas vezes: em um artigo de Eni de Mesquita Samara (1981) sobre casamentos e papéis familiares no século XIX e em um texto de Mariza Corrêa (1981) sobre a família patriarcal brasileira.

Entre 1971 e 1991, a Cadernos de Pesquisa dedicou à temática da mulher/gênero 14% de seus artigos publicados, totalizando setenta textos,2 segundo levantamento realizado por Albertina Oliveira Costa e Cristina Bruschini (1992), em comemoração aos vinte anos da revista. Assim, ela pode ser categorizada como revista ‘generalista’, mas, pelo menos nesse período, é mais receptiva à temática de gênero do que as outras revistas do mesmo tipo aqui analisadas.

Em 1978, Bruschini publica artigo sobre mulheres com ensino superior e com trabalho remunerado, em especial enfermeiras, engenheiras e professoras. O ponto de partida - e de crítica - de Bruschini são justamente as teses de Saffioti (2013) e Eva Blay (1973) sobre a marginalização das mulheres no mercado de trabalho brasileiro. Assim, a autora busca desvendar as características sociodemográficas de mulheres que conseguiram romper essas barreiras e se engajar no mercado de trabalho. A autora afirma que se observava uma expansão da participação das mulheres no mercado de trabalho, ainda que estas estivessem sobrerrepresentadas em ocupações tipicamente femininas.

O que chama a atenção é que, nesse primeiro momento, mesmo entre as pesquisadoras que citam o livro de Saffioti, a maioria das menções são citações indiretas. Além do texto de Bruschini (1978), a única exceção é a resenha de Campos e Oliveira (1975) que nos dá boas pistas para entendermos por que, nesse momento inicial de formação do campo de estudos de gênero dos anos 1970 e 1980, a recepção do livro de Saffioti foi muito moderada. A resenha identifica como falha no esquema de interpretação global da autora o fato de que ela “não se detém na análise dos aspectos culturais da desigualdade entre os sexos. Análise que poderia, talvez, lançar luzes sobre a especificidade da categoria mulher” (CAMPOS; OLIVEIRA, 1975, p. 152).

Elaborar sobre a “especificidade da categoria mulher” é justamente o investimento intelectual que as pesquisadoras feministas se dedicavam no final da década de 1970 e durante os anos 1980, período inicial da formação de um campo de estudos da mulher/gênero/feminista.3 Ao contrário do que defende Saffioti no livro, tratava-se de demonstrar a autossuficiência do conceito de gênero em contraposição às explicações concorrentes fornecidas, sobretudo, pelos conceitos de classe social (marxismo) ou de papel/função social (funcionalismo). Muitos temas das Ciências Sociais, como trabalho, educação, política, violência, são reinterpretados por essas pesquisadoras que procuram mostrar o valor analítico do conceito de gênero. Esse grupo de pesquisadoras, sobretudo da Fundação Carlos Chagas, também estão no final dos anos 1970 e 1980 participando de grupos de reflexão e de militância feministas que procuram incidir na política e nas políticas públicas para avançar na igualdade de gênero. De acordo com as resenhistas, o livro de Saffioti é muito cético sobre essa possibilidade. De fato, Saffioti escreve:

Isto é, os problemas que as mulheres enfrentam nas sociedades competitivas, na medida em que sejam realmente insolúveis neste tipo estrutural, são problemas de classes sociais manifestando-se diferentemente nas categorias de sexo e que, portanto, devem ser atacados conjuntamente por homens e mulheres (SAFFIOTI, 2013, p. 106-107).

Campos e Oliveira (1975) também indicam as dificuldades que a interpretação marxista da condição da mulher acarreta para os projetos feministas de avançar em termos de uma melhoria da condição das mulheres ou da igualdade de gênero, já que isso entraria em contradição com a lógica do capitalismo que necessita da submissão absoluta das mulheres para a sua reprodução.

Na conclusão de MNSC, Saffioti argumenta, por exemplo, que estratégias para garantir a permanência das mulheres no mercado de trabalho, como infantários e outros serviços de utilidade pública seriam respostas ilusórias ao problema da mulher, dada a manutenção da estrutura de classes.4 Assim, o argumento de Saffioti vai na direção contrária aos anseios de feministas interessadas na socialização do cuidado infantil e que vinham discutindo a importância da ampliação do acesso a creches no país. O artigo de Fúlvia Rosemberg (1984) publicado na Cadernos de Pesquisa, por exemplo, discute a luta por creches nos anos 1970 e 1980 em São Paulo, uma pauta presente tanto no movimento de mulheres quanto no movimento feminista da época. A autora inclui quatro obras de Saffioti na bibliografia, inclusive MNSC, mas não as discute. Isso ocorre com outros artigos publicados na Cadernos de Pesquisa (Zeila de Brito Fabri DEMARTINI; Fátima Ferreira ANTUNES, 1993; Helena LEWIN, 1980).

Já na Revista de História e na Revista de Antropologia, tradicionais publicações da Universidade de São Paulo (USP), as citações são mais antigas e, nas revistas generalistas, são as únicas presentes em artigos escritos por homens.5 No caso da primeira, há um artigo sobre a mulher operária escrito por Afonso Imhof (1977) e, no caso da última, um artigo sobre a mulher como dona de casa, de autoria de José Reginaldo Prandi (1981). Enquanto o primeiro texto é um projeto de pesquisa, ainda sem dados empíricos consolidados, o segundo é resultado de um trabalho de treinamento em metodologia qualitativa realizado pelo autor com seus alunos de Ciências Sociais da USP. Ou seja, não se trata de artigos produzidos por especialistas em estudos de mulher/gênero/feministas. A baixa presença de homens nessa área de estudos é um fenômeno que se observa no Brasil e no exterior. Mais recentemente, os homens passaram a estar mais presentes no campo, se interessando especialmente pela temática das masculinidades e da sexualidade, mas são minoria. Embora o livro não se dirija exclusivamente às mulheres, como mencionado no trecho da página 14 citado anteriormente, é notável que tenha reverberado muito mais entre elas e, em artigos que se ocupam de temáticas comumente associadas às mulheres, mesmo quando publicados em revistas classificadas como ‘generalistas’.

Os estudos sobre a mulher se consolidaram na academia brasileira ainda na década de 1970. Nesse período, pesquisas, seminários e artigos científicos se dedicaram ao estudo da situação da mulher nas mais diferentes esferas da vida, buscando explicar a opressão/subordinação derivadas da condição feminina. Já nos anos 1980, o termo gênero vai ser mais utilizado para denominar essa área de estudos no país (HEILBORN; SORJ, 1999). No livro MNSC, o termo gênero não é utilizado enquanto categoria analítica, como era comum em seu tempo, mas em outras publicações Saffioti vai incorporar o conceito, como discutiremos mais adiante.

Com relação às outras revistas, observa-se que na Psicologia: Ciência e Profissão e na Dados as citações são mais recentes, posteriores ao ano 2000. Na primeira, Vanessa Ponstinnicoff de Almeida (2006) escreve sobre a identidade da mulher presa. Na última, figura um texto sobre mulheres rurais escrito por Maria Ignez Paulilo (2013) e um artigo de autoria de Flávia Biroli (2016) sobre divisão sexual do trabalho e democracia. Ambos os artigos da Dados destacam o papel de Saffioti como pioneira dos estudos de gênero no país, mas é o de Biroli que vai ressaltar justamente como figura na obra uma preocupação em destacar os padrões hierárquicos existente entre as mulheres. Esses padrões, segundo Biroli, se tornam visíveis especialmente quando se pensa o tema do trabalho. Assim, Biroli destaca que no livro MNSC há um entendimento de que as mulheres da classe dominante dispõem livremente da força de trabalho das mulheres (e dos homens) da classe dominada (SAFFIOTI, 2013 p. 133). Biroli afirma então que:

Como afirmou Heleieth Saffioti (2013, p. 133), “se as mulheres da classe dominante nunca puderam dominar os homens de sua classe, puderam, por outro lado, dispor concreta e livremente da força de trabalho de homens e mulheres da classe dominada”, o que tem expressão clara no recurso das mulheres mais ricas ao trabalho doméstico mal remunerado e precarizado das mais pobres. Nesse caso, a concentração de renda é um componente incontornável das hierarquias, embora não suspenda os padrões de gênero na responsabilização pelo trabalho doméstico e no acesso a ocupações. O ponto aqui é que as desvantagens que atingem as mulheres não são suficientes para que se faça delas um grupo minimamente homogêneo. Nessa dinâmica, gênero, raça e classe organizam conjuntamente sua vivência. Em outras palavras, o gênero não se configura de maneira independente em relação à raça e à classe social, nem é acessório relativamente a essas variáveis (BIROLI, 2016, p. 720).

É relevante considerar que nas revistas generalistas de maior circulação no país, o gênero continua sendo uma questão marginal, como atesta análise de Heilborn e Sorj (1999), estando presente em menos de 4% dos artigos de revistas como Dados, Revista Brasileira de Ciências Sociais e Novos Estudos CEBRAP. Isto é, a baixa recepção de Saffioti é significativa de uma baixa recepção dos estudos de gênero como um todo nas revistas de Ciências Sociais.

Quando se olha a produção das revistas feministas,6 percebe-se que as citações ao livro superam as das revistas generalistas, mesmo com a criação das revistas feministas apenas na década de 1990, como pode ser visto na Tabela 2. Ou seja, o livro de Saffioti reverbera mais entre as feministas e nos debates feministas do que nas Ciências Sociais de forma mais ampla. Isto ocorre ainda que o livro de Saffioti ofereça uma contribuição à teoria social, dialogando com autores como Karl Marx, Max Weber, Talcott Parsons, Gilberto Freyre e Florestan Fernandes, especialmente na primeira seção da obra, como destaca Barbara Celarent (2014).

Tabela 2 A mulher na sociedade de classes nas revistas feministas 

Revista Total de números cotejados Número de citações Anos das citações
Revista Estudos Feministas 69 22 1994(2); 1995(3); 1999(1); 2004(3); 2007(1); 2008(1); 2010(1); 2011(1); 2012(2); 2013(1); 2014(1); 2015(1); 2016(1); 2017(1); 2018(1); 2019(1)
Cadernos Pagu 56 9 2000(1); 2001(2); 2004(1); 2006(1); 2011(1); 2014(2); 2017(1)
Total 125 31 n/a

Obs.: a Revista Estudos Feministas inclui números regulares e especiais.

Fonte: elaboração própria.

#PraTodoMundoVer: A tabela dois mostra as revistas feministas e as respectivas citações do livro A mulher na sociedade de classes, com a seguinte sequência: nome da revista, total de números cotejados, número de citações e anos das citações. Revista Estudos Feministas: sessenta e nove números cotejados e vinte e duas citações. Em 1994 e 2012 foram duas citações, em 1995 e 2004 foram três citações ao livro. Em 1999, 2007, 2008, 2010, 2011, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019 ocorreu uma citação. Cadernos Pagu: cinquenta e seis números cotejados e nove citações. Em 2001 e 2014 foram duas citações, em 2000, 2004, 2006, 2011 e 2017 houve uma citação. Ao todo, cento e vinte e cinco números dessas revistas foram consultados e foram totalizadas trinta e uma citações.

Na Revista Estudos Feministas, a obra é citada pela primeira vez em artigo sobre a institucionalização do feminismo na academia brasileira, de autoria de Ana Alice Costa e Cecília Sardenberg (1994). Nesse artigo, as autoras argumentam que o trabalho de Saffioti inaugura os estudos da mulher no Brasil, mas que estes só ganhariam força na década de 1970, após o Ano Internacional da Mulher. Ainda em 1994, Bruschini publica artigo com o título “Trabalho feminino: trajetória de um tema, perspectivas para o futuro”,7 em que destaca a superação das teses esposadas por Saffioti (2013) e por Eva Blay (1973) sobre a marginalização do trabalho feminino. A autora escreve:

Nos anos posteriores os estudos sobre o trabalho feminino tendo como pano de fundo o notável crescimento da força de trabalho feminina constatado nos dados do Censo de 80 questionam as primeiras pesquisas sobre o tema segundo as quais o desenvolvimento industrial e o crescimento econômico não ampliavam necessariamente participação laboral feminina (BRUSCHINI, 1994, p. 21).

Vale ressaltar que, a despeito da crescente participação das mulheres no mercado de trabalho remunerado, Saffioti mantém sua posição de que o modo de produção capitalista (MPC), alija a força de trabalho do mercado, especialmente a feminina. Paulilo subscreve a esse argumento em artigo publicado em 2004 sobre trabalho familiar (PAULILO, 2004). Em Saffioti, esse argumento aparece, por exemplo, em entrevista publicada na Revista Estudos Feministas após o falecimento da autora e realizada em 2004 por Juliana Cavilha Mendes e Simone Becker. O falecimento de Saffioti é mencionado tanto pela Revista Estudos Feministas (2010) em Nota de Falecimento, quanto pela Cadernos Pagu, em editorial de Mariza Corrêa (2011). Ambos os textos citam MNSC. Na entrevista, Saffioti diz:

Algumas feministas, munidas das tabelas tão bem construídas por Bruschini, argumentam contra minha tese. Nunca se perguntam em que atividades trabalham mulheres. Mais de metade das trabalhadoras, no Brasil, estão em atividades pelas quais o MPC não tem o menor interesse. Como é público e notório, o MPC procura, sempre, os setores mais rentáveis da economia. As atividades que mais empregam mulheres não se encaixam nesses setores. Embora não se possa afirmar que estes últimos não tenham nenhuma ligação com o capitalismo, pode-se, sim, asseverar que tais atividades, cuja absorção da força de trabalho feminina é expressiva, não foram organizadas em moldes capitalistas, ou seja, segundo os requisitos do MPC (SAFFIOTI, 2011, p. 153).

No primeiro número da Revista Estudos Feministas de 1995 foram publicados textos de Bila Sorj (1995) e Maria Aparecida Moraes Silva (1995) apresentados em mesa redonda da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) em comemoração aos 25 anos da publicação do MNSC. No mesmo ano, Sueli Carneiro (1995) publica texto sobre a sexualidade das mulheres negras e cita brevemente a análise de Saffioti sobre as relações entre senhores e escravas, discordando de sua análise sobre a precedência da dimensão econômica em detrimento da racial no período da colonização.

A partir dos anos 2000, o pioneirismo do trabalho de Saffioti é assinalado pelos artigos de Ciro Biderman e Nadya Guimarães (2004) sobre discriminação no mercado de trabalho brasileiro; de Miriam Pillar Grossi (2004) sobre feminismo no Brasil; de Ethel Kominsky (2004, 2007) sobre gênero e migração; de Joana Maria Pedro (2008) sobre as interseções entre academia e militância na Revista Estudos Feministas; de Marinês Ribeiro dos Santos, Joana Maria Pedro e Carmem Rial (2012) sobre modelos de domesticidade veiculados pela revista Casa & Jardim nos anos 1970; em resenha publicada por Adélia de Souza Procópio (2016) sobre livro de Raewyn Connell e Rebecca Pearse (2015) e, finalmente, em artigo de Soraia Carolina de Mello (2019) sobre feminismo e antifeminismo na revista Claudia.

Em 2014, Céli Pinto publica artigo sobre o feminismo de Saffioti. Esse artigo vai justamente discutir a tensão entre gênero e classe na obra de Saffioti. Para Céli Pinto, o contexto de emergência do livro, marcado pela grande influência que exercia o marxismo e a ideia de revolução socialista no meio intelectual e político brasileiro, explica o casamento operado por Saffioti entre gênero e marxismo:

Antes de ser uma obra feminista, Mulher na sociedade de classes... é um estudo marxista sobre o capitalismo subdesenvolvido, em que a mulher é vista como uma prova da distância entre a aparência e a essência na relação de dominação. (PINTO, 2014, p. 323).

Análise semelhante sobre a obra de Saffioti é realizada por Luis Felipe Miguel (2017), em artigo sobre a relação entre capitalismo e patriarcado na teoria feminista. O autor argumenta que Saffioti, no momento de publicação de MNSC, ainda defendia a superioridade da capacidade explicativa da classe em detrimento do sexo:

[O marxismo] No entanto, ao estabelecer a centralidade absoluta da diferença de classes como fonte última de todas as formas de opressão social, permitia que se negasse relevância às demandas feministas ou mesmo, na pior das hipóteses, que elas fossem consideradas um tipo de diversionismo nefasto. Ainda que a contribuição do marxismo clássico à discussão da submissão feminina não possa ser negligenciada […], pensadoras e ativistas que depois se tornaram ícones feministas, como Clara Zetkin ou Alexandra Kollontai, recusavam o rótulo, julgando-o burguês. No Brasil, no final dos anos 1960, uma autora marxista como Heleieth Saffioti ainda externava tal posição (MIGUEL, 2017, p. 1.220).

A análise elaborada por Saffioti sobre o impacto da ditadura militar nas organizações feministas é mencionada em artigo da ativista Maria Amélia de Almeida Teles (2015), sobre as violações dos direitos humanos das mulheres na ditadura. Três anos mais tarde, Veralúcia Pinheiro (2018) discute amplamente as reflexões elaboradas por Saffioti sobre o patriarcado no Brasil na época da escravidão em artigo sobre infanticídio e a construção sócio-histórica da maternidade.

Na Cadernos Pagu, o livro é citado pela primeira vez em 2000, em artigo de Elisabeth Juliska Rago (2000) sobre as médicas brasileiras do século XIX. Rago recupera a análise realizada por Saffioti sobre educação no Brasil, além de citar outras obras da autora. No ano seguinte, a obra aparece em artigo escrito por Mariza Corrêa (2001) no dossiê intitulado “Feminismo em questão, questões do feminismo”. Nesse artigo, Corrêa discorre sobre o movimento feminista brasileiro contemporâneo a partir dos anos 1970 e destaca a relevância de outras pautas que se somavam ao feminismo em um contexto de ditadura militar. A menção à obra de Saffioti é discreta, aparece na primeira nota de rodapé, em que a autora aponta que MNSC trata de outros movimentos de mulheres (anteriores) que não serão por ela abordados. No mesmo ano, o artigo de Maria Lúcia Mott (2001) sobre entidades filantrópicas organizadas e administradas por mulheres nas primeiras décadas do século XX vai destacar justamente a análise feita por Saffioti em MNSC sobre a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922 no Rio de Janeiro em prol dos direitos civis e políticos das mulheres. Cinco anos depois, o texto de Yumi Garcia dos Santos (2006), sobre a relação entre movimento feminista e a criação de políticas sociais de igualdade de gênero em São Paulo, também vai retomar a análise realizada por Saffioti sobre os movimentos brasileiros de mulheres na primeira metade do século XX. Assim, cabe ressaltar que MNSC também é citado por conta de sua reconstrução historiográfica sobre o movimento feminista/de mulheres brasileiro, que é abordado na Parte II do livro, intitulada “A evolução da condição da mulher no Brasil”.

A menção de MNSC como obra pioneira aparece no artigo de Ethel Kominsky (2004) sobre mulheres migrantes judias. Em 2014, a obra aparece duas vezes, no dossiê “O gênero da política: feminismos, Estado e eleições”, em textos de autoria de Marlise Matos e Clarisse Goulart Paradis (2014)8 e Maria Luzia Miranda Álvares (2014). Ambos os artigos recuperam as elaborações de Saffioti sobre patriarcado e patrimonialismo, realizadas na primeira parte do MNSC em diálogo com Weber e autores do Pensamento Social Brasileiro. Assim como na Revista Estudos Feministas (PROCÓPIO, 2016), na Cadernos Pagu o livro de Connel e Pearse (2015) é resenhado e MNSC é citado (Marília MOSCHKOVICH, 2017).

Dentre as autoras que mais citam o livro de Saffioti nos dois tipos de revista, podemos destacar Cristina Bruschini, com cinco citações9 (BRUSCHINI, 1978, 1994, 1999; BRUSCHINI; AMADO, 1988; COSTA; BRUSCHINI, 1992) e Marisa Corrêa, com três citações (CORRÊA, 1981, 2001, 2011).

O Gráfico 1 apresenta os temas mais correntes dos artigos que citam MNSC nos dois tipos de revista: trabalho (dezesseis citações); estudos de gênero10 (oito citações); a própria autora (sete citações); e casa/família11 (cinco citações).

Fonte: elaboração própria.

#PraTodoMundoVer: O gráfico um mostra a temática e a respectiva quantidade de artigos que citam o livro A mulher na sociedade de classes. Raça: um artigo. Migração: dois artigos. Políticas públicas: dois artigos. Educação: dois artigos. Política/Estado: dois artigos. Violência: três artigos. Casa/família: cinco artigos. A autora: sete artigos. Estudos de gênero: oito artigos. Trabalho: dezesseis artigos.

Gráfico 1 Número de artigos que citam o livro MNSC nas revistas generalistas e feministas por temática abordada 

A classificação de temas foi feita pelas autoras a partir de análise sobre os resumos dos artigos. Isto é, o livro reverbera com bastante ênfase na produção de artigos sobre trabalho, em especial, sobre os trabalhos ocupados pelas mulheres e sobre a posição das mulheres no mercado de trabalho remunerado, um tema clássico nos debates feministas acadêmicos brasileiros. Os artigos relacionados à temática da casa/família também refletem a preocupação das autoras feministas com a dimensão do trabalho (em especial o não remunerado). Como se sabe, a temática do trabalho conferiu, ainda nos anos 1970, grande fôlego aos estudos de mulher/feministas/de gênero brasileiros, estando em diálogo com a sociologia do trabalho, campo legitimado e consolidado das Ciências Sociais (HEILBORN; SORJ, 1999). Naquele momento, muitas análises - entre as quais a de Saffioti (2013) e de Eva Blay (1973) - se dedicaram a discutir a (não) incorporação da mulher na força de trabalho industrial, como revela a minuciosa análise de Neuma Aguiar (1983). A análise de Saffioti (2013), em particular, incorpora de modo inovador as contribuições teóricas marxistas, para quem o trabalho desponta como uma temática central para a organização das sociedades. Nesse sentido, a mobilização de MNSC em estudos sobre trabalho nos parece compreensível e justificada.

Curiosamente, apenas dois artigos publicados nas revistas feministas após 2010 apresentam a temática do trabalho como central: um artigo de Laila Priscila Graf e Maria Chalfin Coutinho (2012) sobre a divisão sexual do trabalho em um abatedouro agrícola e o artigo da socióloga Michele Asmar Fanini (2013) sobre o trabalho da teatróloga brasileira Júlia Lopes de Almeida. Seria a perda de centralidade dos estudos sobre trabalho no âmbito dos estudos de gênero uma tendência recente do campo? A recente proliferação de estudos sobre movimentos sociais (incluindo movimentos LGBTQIA+) e representação política sugerem que sim (Isadora Lins FRANÇA; Regina FACCHINI, 2017). Miguel (2017) faz análise semelhante ao destacar a baixa utilização do termo classe social em artigos publicados na Revista Estudos Feministas e na Cadernos Pagu em 2014, o que seria ilustrativo da marginalização dos debates sobre desigualdade de classe e capitalismo no pensamento feminista contemporâneo, a despeito da maior sensibilidade ao tema das múltiplas opressões e da diferença dentro da diferença.

Como pode ser observado na Tabela 3, nas revistas generalistas o número de citações à obra clássica de Saffioti se manteve regular, exceto por um aumento significativo na década de 1980. Dos oito artigos produzidos na década de 1980 que citam MNSC, sete são oriundos ou da Cadernos de Pesquisa ou da Educação & Realidade. Esta última conta com dois artigos, ambos assinados por Guacira Lopes Louro. Um deles faz um apanhado histórico sobre a educação brasileira (LOURO, 1982) e o outro discute a feminização do magistério, que evoca com destaque as próprias reflexões de Saffioti sobre a temática (LOURO, 1989). Vale lembrar que Saffioti dedica dois capítulos do MNSC para discutir a escolarização das mulheres, valendo-se especialmente de dados estatísticos e marcos jurídicos diversos. Artigos publicados por Cristina Bruschini e Tina Amado (1988), Fúlvia Rosemberg e Tina Amado (1992) e Maria Lúcia Mott (1999) na Cadernos de Pesquisa também recuperam brevemente essa parte da obra de Saffioti.

Tabela 3 Número absoluto de citações ao livro MNSC por década e por tipo de revista 

Década Revistas generalistas Revistas feministas
1970-1979 4 n/a
1980-1989 8 n/a
1990-1999 3 7
2000-2009 1 9
2010-2019 2 15
Total 18 31

Fonte: elaboração própria.

#PraTodoMundoVer: A tabela três mostra a década de referência e o total de citações ao livro A mulher na sociedade de classes, já divididas entre revistas generalistas e revistas feministas. 1970 a 1979: quatro citações em revistas generalistas, não haviam surgido ainda as revistas feministas aqui analisadas. 1980 a 1989: oito citações em revistas generalistas, não haviam surgido ainda as revistas feministas aqui analisadas. 1990 a 1999: três citações em revistas generalistas e sete citações em revistas feministas. 2000 a 2009: uma citação em revista generalista e nove citações em revistas feministas. 2010 a 2019: duas citações em revistas generalistas e quinze citações em revistas feministas.

É possível que um dos motivos para o baixo número de citações ao MNSC seja o fato de que o livro ficou durante bastante tempo esgotado, sendo reeditado apenas em 2013, ganhando inclusive uma nova introdução (GONÇALVES, 2013). Não obstante, não poderemos explorar esse ponto aqui. Uma outra possibilidade é a de que, ao se colocar como um livro que confere primazia às questões de classe, o livro tenha perdido fôlego entre as feministas, que tentavam, justamente, num primeiro momento, chancelar o estatuto analítico do gênero e dos debates sobre a condição da mulher/feminina.

Heleieth Saffioti para além d’A mulher na sociedade de classes

A pesquisa também buscou identificar como outras obras de Saffioti apareceram nos periódicos generalistas e feministas. Para tal, foram considerados apenas textos que citavam especificamente alguma produção de Saffioti, desconsiderando, portanto, aqueles que mencionam apenas a autora. A Tabela 4 apresenta os textos que citam qualquer obra de Saffioti, com exceção de MNSC. As citações a outras obras são superiores às do livro, exceto nas décadas de 1970 e 1980. Ressalta-se que Saffioti seguiu publicando até seu falecimento, portanto, o número de textos da autora cresceu ao longo das décadas.

Tabela 4 Número de artigos que citam outras obras de Saffioti por década e por tipo de revista 

Década Revistas generalistas Revistas feministas
1970-1979 2 n/a
1980-1989 2 n/a
1990-1999 8 15
2000-2009 9 11
2010-2019 12 21
Total 33 47

Obs.: trata-se de artigos que citam outras obras de Saffioti e não citam MNSC.

Fonte: elaboração própria.

#PraTodoMundoVer: A tabela quatro mostra a década de referência e o número de artigos que citam outras obras de Heleieth Saffioti, já divididas entre revistas generalistas e revistas feministas. 1970 a 1979: duas citações em revistas generalistas, não haviam surgido ainda as revistas feministas aqui analisadas. 1980 a 1989: duas citações em revistas generalistas, não haviam surgido ainda as revistas feministas aqui analisadas. 1990 a 1999: oito citações em revistas generalistas e quinze citações em revistas feministas. 2000 a 2009: nove citações em revistas generalistas e onze citações em revistas feministas. 2010 a 2019: doze citações em revistas generalistas e vinte e uma citações em revistas feministas. Ao todo, são trinta e três citações em revistas generalistas e quarenta e sete em revistas feministas.

Convém destacar, no entanto, que as citações de outras obras nas revistas generalistas não são equânimes. Enquanto na Dados e na Revista de Antropologia se resume a dois (Jerônimo Oliveira MUNIZ; Carmelita VENEROSO, 2019; Joana VARGAS, 2007) ou até um artigo (Maria Filomena GREGORI, 2008), na Cadernos de Pesquisa e na Psicologia: Ciência e Profissão, encontramos, em cada uma, mais de dez citações. Ou seja, a alta de citações é alavancada pelas publicações de áreas acadêmicas tradicionalmente mais feminizadas, a saber, Educação e Psicologia.

Como grupo de controle, analisamos as citações à Saffioti na Tempo Social, revista de sociologia da USP criada em 1989. Ao longo de trinta anos, a obra de Saffioti é citada quatro vezes na revista, sendo uma a MNSC (FANINI, 2010) e três a outras obras (Helena HIRATA; John HUMPHREY, 1992; Graziela PEROSA, 2008; Ian PRATES; Márcia LIMA, 2019). Ou seja, há uma significativa diversidade no número de citações a Saffioti nas revistas generalistas e aquelas que seriam mais ‘representativas’ da produção das Ciências Sociais (Dados e Tempo Social) apresentam número mais baixo de citação às obras de Saffioti. Isto é, a obra da autora continua sendo marginal no mainstream das Ciências Sociais.

A título de comparação - feita a ressalva de que o caráter pioneiro da obra de Saffioti nos estudos de gênero/feministas dificulta comparações, ao limitar o escopo do que é comparável - vale ressaltar que, na Tempo Social, eleito nosso grupo de controle, Florestan Fernandes, orientador de Saffioti e reconhecido com um dos mais importantes sociólogos brasileiros, acumula citações de suas obras em 48 artigos. Destes, doze mencionam o livro A integração do negro na sociedade de classes (FERNANDES, 1965), publicado originalmente apenas quatro anos antes de MNSC.

O Gráfico 2 divide os artigos que citam a obra de Saffioti em dois conjuntos: aqueles que citam MNSC e aqueles que citam quaisquer outras obras da autora, com exceção da MNSC. Nas revistas generalistas, pode-se observar o aumento gradativo dos artigos que fazem citações a outras obras. Nas revistas feministas, houve um aumento considerável de artigos após 2010.

Fonte: elaboração própria.

#PraTodoMundoVer: O gráfico dois mostra o número de artigos que citam o livro A mulher na sociedade de classes e outras obras de Heleieth Saffioti por tipo de revista (generalista e feminista) e por década. De acordo com o gráfico, houve uma queda nas citações do livro A mulher na sociedade de classes a partir de 1990, em revistas generalistas, com leve aumento a partir de 2010. O número de artigos que citam outras obras da autora aumenta nas revistas generalistas a partir de 1980. Nas revistas feministas, há aumento no número de artigos que citam tanto o livro quanto outras obras a partir dos anos 2000.

Gráfico 2 Comparação entre artigos que citam a MNSC e artigos que citam outras obras nas revistas generalistas e feministas 

Entre as obras mais citadas de Saffioti, além dos textos sobre violência de gênero, que congregam muitas citações, pode-se destacar o texto “Rearticulando gênero e classe social” (SAFFIOTI, 1992), com quatorze citações, e o livro “O poder do macho” (SAFFIOTI, 1987), com oito citações. Trata-se de textos que buscam encadear as dimensões de gênero, raça e classe para a compreensão da vida social, isto é, que buscam desvendar as diferenças e mesmo as desigualdades entre as mulheres e oferecer um modelo teórico-analítico para a compreensão desse encadeamento.

A maior aceitação dos escritos posteriores de Heleieth Saffioti se deve a dois movimentos simultâneos. O primeiro é que a proeminência da classe sobre o sexo, tão central ao argumento de MNSC, aparece mais matizada nas obras mais recentes da autora. Isso permite que sua obra ganhe terreno entre as feministas (publicando em revistas generalistas e feministas), que se esforçavam, ainda na década de 1960 em mostrar que a questão da mulher na sociedade capitalista não era mera decorrência da estrutura de classes (PINTO, 2014). Em, 1987, por exemplo, Saffioti afirma que os sistemas de dominação e exploração se organizam de modo a formar um sistema único, que atua em simbiose, e é denominado “patriarcado-racismo-capitalismo”. Essa formulação teórica gerou críticas. Mary Garcia Castro (1992), por exemplo, argumenta que ao falar em simbiose “patriarcado-racismo-capitalismo”, Saffioti corre o risco de sugerir uma fusão entre categorias ou mesmo a anulação de uma categoria pela outra. Em outro texto, Castro (2001) analisa a fundo como Saffioti desenvolve o conceito de gênero inspirada no materialismo histórico.

Além disso, a autora (SAFFIOTI, 1992, p. 195) vai afirmar que “gênero e relações sociais de gênero são integrantes da organização social de classe e, similarmente, a classe é constitutiva do gênero”. No posfácio ao livro Mulher brasileira é assim, a autora afirma que quando o analista social considera os três eixos da estruturação de poder (gênero, raça e classe), não se pode conferir primazia a um deles em abstrato (SAFFIOTI, 1994). É a análise da conjuntura que determinará qual dos eixos terá preeminência.

O segundo movimento diz respeito à virada nos estudos feministas a partir dos anos 1990 e 2000, que passaram a contestar a visão unitária, homogênea e universal contida no conceito de gênero. Isto ocorre sobretudo pela contribuição das feministas negras que evocam o reconhecimento das diferenças entre mulheres: classe, raça e gênero. Nesse novo entendimento das relações de poder, os textos de Heleieth Saffioti ganharam relevância e se tornaram referência nos estudos de gênero atualmente, o que se denota pelo aumento do número de artigos que citam outras obras da autora na última década, como referido no Gráfico 2. Também é relevante mencionar que as obras de Heleieth Saffioti estão presentes em programas de diversos cursos acadêmicos sobre gênero no Brasil.12

A ideia de nó ou imbricação entre gênero, raça e classe vai inspirar trabalhos interessados em compreender as experiências de populações delimitadas a partir desses eixos de dominação e exploração nas revistas feministas, que mencionam diretamente a obra de Saffioti. Assim, por exemplo, Nara Maria Bernardes (1992) analisa o cotidiano de crianças, negras e não negras, de classes populares e Alda Brito da Motta (1999) mostra como os processos de envelhecimento variam entre os gêneros e as classes sociais.

Considerações finais

Neste texto, o objetivo foi mostrar que a análise da recepção da obra de Heleieth Saffioti é um exercício muito profícuo e que revela muito da trajetória da área de estudos de gênero no país. Assim, ao investigar como se dão, na obra de Saffioti, os deslocamentos teórico-analíticos e as mudanças nos temas de pesquisa, bem como ao analisar como sua obra está sendo recuperada nos últimos anos, buscamos avançar na compreensão do campo de estudos de gênero/feministas no Brasil.

Essa análise sugere que tanto o livro MNSC quanto outras obras de Heleieth Saffioti vêm ganhando importância nas revistas feministas, apesar de a circulação das ideias de Saffioti em revistas classificadas como generalistas ser limitada e irregular. Ou seja, Saffioti permanece como uma autora marginal no mainstream das Ciências Sociais brasileiras, muito embora tenha um papel de destaque nos estudos de gênero.

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1 Essa classificação está subjacente às autodefinições das revistas. Enquanto a Dados, por exemplo, se apresenta como uma “revista de Ciências Sociais”, a Revista Estudos Feministas e a Cadernos Pagu se definem, respectivamente, como revistas que “tem como foco as questões de gênero e feminismos” e que “tem o objetivo de divulgar a vasta produção de conhecimento no campo dos estudos feministas e de gênero, buscando dar subsídios aos debates teóricos nessa área”, conforme está disponível nos sites das revistas no SciELO.

2Dos quais, doze citam Saffioti.

3Em artigo publicado sobre a consolidação dos estudos de gênero na Cadernos de Pesquisa, Costa e Bruschini (1992) argumentam que a resenha crítica publicada sobre o MNSC em 1975 refletia um anseio em não reduzir a posição da mulher a explicações econômicas/infraestruturais.

4Assim, Saffioti escreve: “Seria ilusório pensar-se, pois, que a solução para o problema da mulher consiste em criar as condições necessárias e, muitas vezes, indispensáveis para que ela desempenhe suas funções ocupacionais, quais sejam infantários, restaurantes e outros serviços de utilidade pública. […] Com efeito, oferecer à mulher as condições ideais ou quase ideais para que ela concilie suas atividades de reprodutora e de socializadora da geração imatura com suas atividades ocupacionais significa, para a sociedade de classes, operar contra si mesma, lançar mão de um mecanismo autodestruidor” (SAFFIOTI, 2013, p. 509-510).

5Nas revistas feministas, o único homem que cita MNSC é Luis Felipe Miguel, em artigo publicado na Revista Estudos Feministas em 2017.

6Não foram incluídos na análise os textos escritos pela própria Saffioti e publicados na Cadernos Pagu e na Revista Estudos Feministas.

7O texto é republicado em inglês na revista em 1999.

8O artigo é dedicado a Neuma Aguiar e à memória de Heleieth Saffioti.

9Incluindo a tradução para o inglês de um artigo já publicado em português.

10Por exemplo, estudos sobre o campo de gênero e feminista.

11Por exemplo, estudos sobre papéis familiares e sexuais, em especial no espaço doméstico.

12Extrapola o âmbito deste artigo a mensuração da presença de Heleieth Saffioti em programas de cursos voltados aos estudos de gênero. Não obstante, uma análise não exaustiva realizada pelas autoras permite inferir tal importância. Também é relevante a presença de citações a Saffioti em revistas acadêmicas marxistas e em teses e dissertações da área de Ciências Humanas e Sociais, embora esse ponto não seja explorado no artigo.

Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista: SORJ, Bila; ARAUJO, Anna Bárbara. “A mulher na sociedade de classes: um clássico dos estudos de gênero”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 1, e76729, 2021.

Financiamento: Não se aplica

Consentimento de uso de imagem: Não se aplica

Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Recebido: 26 de Agosto de 2020; Revisado: 16 de Outubro de 2020; Aceito: 10 de Novembro de 2020

sorjbila@gmail.com

annabarbaraaraujo@gmail.com

Bila Sorj (sorjbila@gmail.com) é Coordenadora do Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero (NESEG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora titular do Departamento de Sociologia do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da mesma universidade. Suas áreas de interesse são trabalho e família, políticas públicas e gênero e movimentos feministas.

Anna Bárbara Araujo (annabarbaraaraujo@gmail.com) é doutora (2019) e mestra (2015) pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é bolsista de pós-doutorado no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). É pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero (NESEG/UFRJ) e ao Laboratório de Estudos de Gênero e Interseccionalidade (LABGEN/UFF). Tem interesse nos seguintes temas: cuidado, trabalho doméstico, interseccionalidades, políticas públicas, emoções e teoria feminista.

Contribuição de autoria: As autoras contribuíram igualmente

Conflito de interesses: Não se aplica

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