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Revista Estudos Feministas

versão impressa ISSN 0104-026Xversão On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.29 no.2 Florianópolis maio/ago 2021  Epub 20-Maio-2021

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n279453 

Seção Temática Gênero, tecnologias e (novas) formas de subjetivação nas práticas esportivas

Maria Esther Bueno: eficiência e competitividade no tênis

Maria Esther Bueno: Efficiency and Competitiveness in Tennis

Maria Esther Bueno: eficiencia y competitividad en el tenis

Giovanna Garcia Ticianelli1 
http://orcid.org/0000-0001-9576-4086

Helena Altmann2 
http://orcid.org/0000-0002-9617-339X

1Pesquisadora independente, Campinas, SP, Brasil.

2Universidade Estadual de São Paulo, Campinas, SP, Brasil. 13083-970 - defh@fef.unicamp.br


Resumo:

Maria Esther Bueno foi uma importante tenista brasileira que venceu os maiores e mais reconhecidos torneios de tênis do mundo. O objetivo desta pesquisa foi compreender os processos que possibilitaram a Maria Esther Bueno tornar-se uma grande atleta em uma época de baixa inserção das mulheres no esporte competitivo. Foram analisadas as incidências da tenista em matérias do jornal O Estado de São Paulo, publicadas entre 1950 e 1970. Patrocinador da tenista na época, o jornal ressaltava aspectos conservadores e inovadores na representação de uma mulher em um ambiente competitivo. A pesquisa identificou elementos de rupturas de gênero na inserção da mulher no esporte, propagados pelas conquistas da atleta e pelas inovações de um estilo de jogo marcado por competitividade, potência, eficiência e uso de roupas especializadas.

Palavras-chave: Maria Esther Bueno; mulheres atletas; gênero; tênis; esporte

Abstract:

Maria Esther Bueno was an important Brazilian tennis player, who won the biggest and most recognized tennis tournaments in the world. The objective of this research was to understand the process that enabled Maria Esther Bueno to become a great athlete at a time of low insertion of women in competitive sport. Articles from the Brazilian newspaper O Estado de São Paulo, referring to the tennis player’s performances and published between 1950 and 1970, were analyzed. Sponsor of the tennis player at the time, the newspaper highlighted conservative and innovative aspects in the representation of a woman in a competitive environment. The research identified elements of gender disruptions in the insertion of women in sport, propagated by the athlete’s achievements and innovations in a style of play marked by competitiveness, power, efficiency and use of specialized clothing.

Keywords: Maria Esther Bueno; Women Athletes; Gender; Tennis; Sport

Resumen:

Maria Esther Bueno fue una importante tenista brasileña que ganó los torneos de tenis más grandes y reconocidos del mundo. El objetivo de esta investigación fue comprender los procesos que permitieron a Maria Esther Bueno convertirse en una gran deportista en un momento de baja inserción de mujeres en el deporte competitivo. Las incidencias de la tenista fueron analizadas en artículos del diario brasileño O Estado de São Paulo, publicados entre 1950 y 1970. Patrocinador de la tenista en ese momento, el diario destacó aspectos conservadores e innovadores en la representación de una mujer en un entorno competitivo. La investigación identificó elementos de disrupción de género en la inserción de la mujer en el deporte, propagados por los logros de la deportista y por las innovaciones de un estilo de juego marcado por la competitividad, el poder, la eficiencia y el uso de ropa especializada.

Palabras clave: Maria Esther Bueno; atletas mujeres; género; tenis; deporte

Introdução

Maria Esther Bueno (1939-2018) foi uma jogadora de tênis brasileira que conquistou diversos títulos mundiais em um momento em que o esporte no Brasil ainda era mais recomendado como prática de lazer às mulheres brancas e de classe alta do que como espaço competitivo. Ela foi campeã dos maiores campeonatos de tênis existentes - Grand Slams Australian Open, Roland Garros, U. S. Open e Wimbledon -, em dezenove ocasiões, jogando nas modalidades simples, duplas e duplas mistas. Em 1960, de forma inédita no cenário mundial, foi campeã dos quatro torneios.

Este artigo traz os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo compreender os processos que possibilitaram a Maria Esther Bueno tornar-se uma grande atleta em uma época de baixa inserção das mulheres no esporte competitivo no Brasil. Assim, o artigo analisa como ela se constitui tenista aprimorando tecnologias de jogo e de vestuário e construindo uma carreira conciliadora, com elementos de diálogos, sem, no entanto, estabelecer rupturas de gênero.

A pesquisa tem como fonte o jornal O Estado de São Paulo, o qual patrocinou a tenista e publicou um número expressivo de reportagens sobre a atleta. Foram analisadas todas as publicações sobre Maria Esther Bueno entre 1950 e 1970, por meio do acervo digital do jornal. Esse é apenas o recorte selecionado para o presente artigo, pois também foram realizados levantamentos em acervos na cidade de São Paulo, Clube Regatas Tietê e no Parque Ecológico do Tietê, bem como uma tentativa de entrevista com a tenista, sem sucesso, além de pesquisas no jornal O Globo, as quais não fazem parte do escopo desse artigo (Giovanna G. TICIANELLI, 2019). As informações obtidas foram lidas a partir de um olhar crítico, orientado pelo problema de pesquisa e seu referencial teórico. Como nos alerta Rafael Lapuente (2016, p. 18):

O pesquisador deve ter ciência de que um periódico, independente de seu perfil, está envolvido em um jogo de interesses, ora convergente, ora conflitante, buscando evidenciar - e cativar - o seu público-leitor. O que está escrito nele nem sempre é um relato fidedigno, pois há, nos bastidores de sua reportagem, muitas vezes, a defesa de um posicionamento político, de um poder econômico, de uma causa social, de um alcance a um público alvo etc., advindos das pressões de governantes, grupos financeiros, anunciantes, leitores, grupos políticos e sociais, muitas vezes de modo dissimulado, disfarçado (por isso também o cuidado com análises que focam exclusivamente nos editoriais para conhecer o posicionamento do periódico).

Cabe ponderar que um marco para o aumento da inserção de mulheres no esporte no Brasil foi o processo de modernização. O tênis foi um esporte a elas recomendado pela harmonia dos gestos, pelo não contato com a adversária e ausência de prejuízos à feminilidade das praticantes. Foi uma modalidade praticada por mulheres ricas dentro de clubes privados nas primeiras décadas do século XX (Mônica Raisa SCHPUN, 1997).

Essa modalidade era praticada em espaços elitizados, promovendo relações sociais entre pessoas do mesmo segmento social. Além disso, apresentava caráter amador, uma vez que era praticado por pessoas que possuíam tempo livre e condições financeiras para a prática, sem objetivos financeiros decorrentes disso.

Assim, Maria Esther Bueno, mulher branca, praticou uma modalidade esportiva recomendada às mulheres do tempo em que atuou como atleta, dentro de um clube elitizado da cidade de São Paulo. Os dados pesquisados não apresentam outras informações sobre suas condições econômicas e origens de classe, no entanto, alguns de seus depoimentos evidenciavam preocupações relacionadas à necessidade de parcerias financeiras para que pudesse viajar para os campeonatos. O patrocínio obtido por um jornal de grande circulação e ligado às elites paulistanas se mostrou fundamental na viabilização de sua carreira internacional.

Maria Esther Bueno jogou numa época em que o direito à prática esportiva era uma conquista em curso para as mulheres, cujo corpo era percebido como frágil e incompatível com práticas de maior impacto, de enfrentamento ou que exigiam maior potência, força e resistência. A inserção das mulheres no esporte exigiu e possibilitou rupturas na normatividade dos corpos de mulheres e no próprio esporte institucionalizado. Transformações de gênero, técnicas, táticas e tecnológicas foram fundamentais para que as mulheres, e, no caso desta pesquisa, para que Maria Esther Bueno pudesse ter êxito no esporte. Conforme será analisado, ela construiu um jogo potente, ofensivo e eficiente em um momento em que o jogo defensivo conservador prevalecia entre as mulheres. Jogou de forma competitiva, dando centralidade ao esporte na sua vida.

Segundo Georges Vigarello (2013), normatividades foram instauradas nos esportes desde a sua formação, uma vez que foram criados como prática aos homens, associados à força, à coragem e à dominação. Um processo se constituiu padronizando os símbolos esportivos como masculinos, ao passo que práticas relacionadas à docilidade, ritmo e expressão eram relacionadas às mulheres, estabelecendo o binarismo feminino/masculino, homem/mulher.

O esporte é um espaço no qual também é possível encontrar a ideia do sexo como uma base invisível sustentando efeitos visíveis como a delimitação de possibilidades esportivas distintas e vivenciadas separadamente. Concepções binárias de corpo são cientificamente fundamentadas e explicitadas por discursos de verdade (Michel FOUCAULT, 1985; Johanna OKSALA, 2011), que normatizaram o esporte e, no caso das mulheres, lhes infligiram severas restrições. Uma suposta fragilidade feminina, justificada pela sua natureza e pelas responsabilidades ligadas à maternidade, impuseram limitações em relação às modalidades e à forma de jogar. Assim, a ruptura de Maria Esther Bueno com o estilo normalizado de jogar tênis da época pode também ser vista como uma desnaturalização de diferenças, trilhando um caminho percorrido também por outras mulheres de ampliação de suas possibilidades esportivas.

Esses binarismos se inserem no corpo e na performance esportiva. De acordo com Paul Preciado (2018, p. 47) “o corpo individual funciona como uma extensão das tecnologias globais de comunicação”. Assim, nesta pesquisa, interessa-nos olhar para como um meio de comunicação disseminou a imagem de uma mulher exitosa no esporte competitivo, ressaltando seu jogo performático.

Judith Butler (2014, p. 254) expõe a necessidade de o conceito de gênero não ser mais um elemento de restrição:

Um discurso que insiste no binarismo homem e mulher como a maneira exclusiva de entender o campo do gênero atua no sentido de efetuar uma operação reguladora de poder que naturaliza a instância hegemônica e exclui a possibilidade de pensar a disrupção.

A trajetória de Maria Esther Bueno é atravessada por processos de disrupção, que contribuíram para desnaturalizar o corpo, o esporte e o gênero. No material jornalístico analisado, encontramos evidências das rupturas exercidas pela tenista, muitas vezes combinadas com práticas conciliadoras, que, na sua relação, possibilitaram sua inserção bem sucedida no esporte competitivo.

Maria Esther Bueno jogou tênis e esteve presente na imprensa nacional e internacional dos 13 aos 31 anos. Iniciou sua carreira participando de torneios nacionais, mas, com o patrocínio do jornal O Estado de São Paulo, inseriu-se em campeonatos internacionais, executando uma inovadora forma de jogar, para as mulheres no período. A apropriação de gestos técnicos e eficientes caracterizaram sua performance esportiva diferenciada. Foi a partir desse estilo de jogo que venceu os maiores e mais reconhecidos torneios de tênis do mundo. Desse modo, este artigo apresenta elementos-chave para que Maria Esther Bueno se consolidasse como atleta internacional.

Patrocínio e apoios para competir

Após o primeiro convite para jogar nos Estados Unidos, o jornal O Estado de São Paulo tornou-se patrocinador da tenista, demonstrando uma aposta certeira na brasileira ainda em começo de carreira e acompanhando-a até a conquista dos maiores campeonatos do mundo.

O Estado de S. Paulo patrocinou as temporadas de Maria Esther Bueno no exterior, que, em Wimbledon, deu ao Brasil o seu primeiro título mundial de tênis. Todas as partidas de Estherzinha foram amplamente noticiadas por “O Estado”. E o foram exclusivamente porque a tenista brasileira se revelara uma das maiores expressões do esporte, para cujos diferentes gêneros “O Estado” dá uma cobertura de caráter excepcional (O ESTADO DE SÃO PAULO, 11/10/1960, p. 3).

O jornal se restringia a divulgar que a patrocinava, sem fornecer detalhes de como era esse auxílio, se havia um pagamento em dinheiro, passagens aéreas, estadias. Concomitantemente, eram divulgadas notícias em relação às suas temporadas nacionais e internacionais, os resultados dos jogos e as informações das viagens. O patrocínio era justificado pelos seus resultados nos campeonatos, e publicados recorrentemente:

Em homenagem aos méritos esportivos de Maria Esther Bueno, o “Estado” resolveu patrocinar sua viagem, devendo a tenista patrícia embarcar amanhã as 16 horas, no “Super-Constellation” da VARIG com destino a Nova York, de onde rumará para Miami (O ESTADO DE SÃO PAULO, 20/12/1957, p. 20).

A jovem de 18 anos de idade, cuja viagem foi patrocinada pelo “Estado”, venceu a norte-americana Lou Kunnen, na rodada do Torneio Anual do Sul, por 6/4 e 6/1 (O ESTADO DE SÃO PAULO, 07/01/1958, p. 18).

A extraordinária raquetista brasileira Maria Esther Bueno, cuja excursão aos Estados Unidos foi patrocinada pelo “O Estado”, acaba de obter mais um expressivo triunfo (O ESTADO DE SÃO PAULO, 02/02/1958, p. 28).

O jornal também trazia homenagens de clubes, associações e do próprio jornal à tenista. Em uma delas, o diretor do jornal fez uma fala expressando a importância do esporte e a satisfação de ‘dever cumprido’ por ter auxiliado nas vitórias da tenista, vista como um incentivo à formação de novos campeões no país:

Homenagem do Tietê ao diretor do “Estado”

Em sua oração de agradecimento o diretor dessa folha falou sobre a atividade do jornal na vida do país e salientou os sacrifícios da imprensa, na sua tarefa de criar uma nação com foros de genuína nacionalidade. Disse ele: “o esporte é uma das principais características da civilização. Nele, um povo e uma raça se revelam. Agora - acrescentou - podemos com a consciência de dever cumprido e respirando um ar de sadia liberdade projetar e fazer campeões no esporte, pois vemos, em Esther Bueno e Abílio Couto, esse esforço tão admiravelmente bem sucedido”, recebeu uma miniatura que representava a estátua de Esther Bueno, que se erguia à entrada do clube (O ESTADO DE SÃO PAULO, 13/01/1961, p. 14).

Nas matérias publicadas no jornal, é recorrente a menção ao pai; a mãe, porém, foi mencionada apenas uma vez, em um relato dela assistindo ao jogo da filha na companhia do marido (O ESTADO DE SÃO PAULO, 05/07/1959). O relato dessa participação como espectadora contrastava com a atuação ativa do pai. Ele aparece como uma pessoa presente e influente na sua trajetória como tenista, na sua introdução ao esporte, na busca de apoio institucional do jornal e do clube, nos momentos de destaque e de reconhecimento público de suas conquistas.

Estiveram em visita a esta redação a eximia raquetista brasileira, senhorita Maria Esther Bueno e os srs. Pedro Bueno, seu pai; José Vicente e José Conceição Esteves, diretores da Secção de Tênis do Clube de Regatas Tietê.

O sr. Pedro Bueno e sua filha, uma das grandes esperanças do nosso tênis, vieram agradecer a colaboração deste jornal para o maior êxito da recente excursão da jovem campeã ao Exterior, onde fez figura de muito relevo (O ESTADO DE SÃO PAULO, 19/04/1957, p. 13).

Enquanto em suas viagens internacionais ela estava só, no Brasil, as visitas ao jornal para entrevistas e agradecimentos ocorriam na companhia do pai. Esse aparecimento público como atleta no Brasil se dava na presença de um homem, evidenciando tanto um marcador de gênero nas relações sociais e esportivas, quanto certa infantilização da atleta. Tais fatos indicam um processo de transição na inserção das mulheres na vida pública, de busca de autonomia e independência e de inserção nos esportes.

Naquele período, o esporte era prática ainda mundialmente amadora e os campeonatos não possuíam premiação em dinheiro (Raul MELLO, 2015). As competições eram entre pessoas com condições financeiras e temporais para o deslocamento por diferentes países tendo como objetivo jogar, e sem fins lucrativos. O jornal, no entanto, traz notícias de homenagens à tenista envolvendo presentes, objetos e prêmios em dinheiro, sem informações sobre seu valor.

Maria Esther Bueno, campeã de Wimbledon, recebeu ontem à noite, no salão nobre desta folha, o Saci de ouro, que lhe ofereceu a direção do “Estado” […] A estatueta foi entregue a Maria Esther por dona Alice Vieira de Carvalho Mesquita e, das mãos de d. Marina Vieira de Carvalho Mesquita a campeã recebeu uma placa de ouro, que lhe ofereceu a Radio Eldorado de S. Paulo.

Pessoas da família da campeã declararam, ao encerrar-se a solenidade, que o Saci de ouro seria ainda ontem depositado no cofre de um banco desta Capital, por seu alto valor (O ESTADO DE SÃO PAULO, 13/05/1960, p. 13).

Ainda que não estejam disponíveis informações precisas sobre o montante de recursos e formas de apoio, os benefícios recebidos pela atleta auxiliaram na construção da sua trajetória e proporcionaram sua circulação internacional e intensa dedicação ao esporte. Essa forma de patrocínio foi inovadora num período de ascensão das mulheres nos esportes no Brasil, em que barreiras ainda precisavam ser rompidas para a prática e, mais ainda, para a participação de mulheres em campeonatos. Com auxílio financeiro de uma empresa privada para participar de campeonatos internacionais, Maria Esther conseguiu praticar e competir, trilhando uma carreira de sucesso.

Dentro de um veículo de informação elitista do estado de São Paulo, Maria Esther Bueno produziu deslocamentos de gênero e esportivos possíveis naquele contexto. Não rompeu com padrões relacionados à raça, classe e sexualidade, por exemplo. No entanto, os apoios recebidos, seu jogo ofensivo e eficiente, romperam com o estilo de prática esportiva esperado de mulheres, abrindo novas possibilidades de ocupação do espaço público.

‘O jogo moderno de Esther’: potente e eficiente

Foi somente depois de se reconhecer e admitir a evolução do tênis que o Brasil conseguiu produzir algo de projeção internacional. Foi somente com o jogo moderno de Esther que chegamos a um título mundial. E esse título, além da importância puramente afetiva que tem para nós, constitui efeito benéfico para difusão do esporte aqui. As vitórias de Esther provavelmente estimularam o cultivo do tênis como nenhum outro fato anterior. E se despertou em outras pessoas o interesse pelo jogo, foi justamente em decorrência de suas características espetaculares. Contra a opinião de que a técnica de violência de agora afugenta o público, há a resposta do próprio público, que lotava a quadra coberta do Pacaembu durante a última temporada internacional. E isso é um fato, não uma opinião” (O ESTADO DE SÃO PAULO, 13/11/1960, p. 31).

O jogo moderno de Esther Bueno, além de inovador, provocou a renovação do tênis brasileiro e possibilitou a obtenção dos maiores títulos do tênis amador do período.

Todos sabem que uma das principais características de Maria Esther Bueno é o seu jogo violento, agressivo mesmo e isso a coloca entre as maiores do mundo. Sobre esse sistema de jogo a tenista Patrícia disse que nos Estados Unidos e na Austrália isso já vem sendo empregado desde alguns anos. Apenas na Europa as tenistas teimam em manter aquele sistema de jogo defensivo. Desde os tempos remotos estabeleceu-se que a mulher sendo mais frágil deveria adaptar-se melhor ao método defensivo. Tendo por companheiro, quando treinava aqui no Brasil, seu irmão Pedro Bueno, Maria Esther adquiriu um saque violentíssimo, causando admiração nos principais centros do mundo. Esse método, chamado “Big-Game”, talvez não produza jogadas vistosas, mas é o mais positivo e pode resolver rapidamente qualquer partida (O ESTADO DE SÃO PAULO, 08/10/1958, p. 17).

O estilo de jogo adotado pela brasileira rompia com o tradicionalismo ainda jogado no Brasil e na Europa. Para justificar seu estilo de jogo dito ‘violento’ e ‘agressivo’, o irmão de Maria Esther Bueno entrava em cena, sendo considerado a principal influência para a aquisição dessa habilidade.

Dotada de uma fibra extraordinária e de personalidade marcante, Maria Esther Bueno adotou um sistema quase masculino de jogo. Desde o aparecimento do famoso “Big-Game”, jogo excessivamente violento, praticado atualmente pelos maiores jogadores de tênis, especialmente pelos profissionais, como Pancho Gonzalez e Lew Hoad. Esther Bueno vislumbrou a possibilidade de um dia transformar-se na maior raquetista no mundo. Pacientemente foi assimilando conhecimentos nesse sentido. Acontece que esse sistema de jogo, ou seja, o de atuar sempre na ofensiva, produz grande efeito em quadras de grama, onde o jogo é muito rápido. Em quadras de terra batida, saibro etc., não produz o mesmo efeito. Nem por isso Esther Bueno desanimou. Continuou treinando para aprimorar e dar a maior violência possível ao seu saque. Aliás, desde o ano passado ela vinha sendo conhecida como a possuidora do mais violento serviço feminino do mundo (O ESTADO DE SÃO PAULO, 05/05/1959, p. 3).

A respeito de sua maneira de atuar, com jogadas violentas, quase masculinas, o que tem sido largamente comentado pela crônica especializada da Europa, Esther Bueno declarou que esse estilo ela o adquirira, possivelmente, pelo treinamento contínuo que praticava com seu irmão, Pedro Bueno, que aliás já representou o Brasil na Taça “Davis”, devendo em grande parte tais qualidades também a Armando Vieira, com quem treinava diariamente, antes da presente excursão (O ESTADO DE SÃO PAULO, 06/07/1958, p. 27).

O estilo denominado “Big-Game”, também conhecido como saque-e-voleio, consiste em realizar um saque potente e correr até a rede para tentar finalizar o ponto no voleio. Como a intenção é definir rapidamente o ponto, é preciso ter um saque eficiente e forte para que a adversária o responda com dificuldade, devolvendo uma bola fácil e possibilitando a finalização do ponto no voleio.

Mesmo que naquela época as técnicas de treinamento ainda estivessem em processo de construção e sistematização, Maria Esther Bueno utilizou-as para aprimorar seu saque-e-voleio. Com essas habilidades, conseguia vencer as partidas rapidamente, evidenciando a eficiência do seu jogo e consagrando-se como uma das melhores tenistas do período em que competiu.

Suas jogadas eram divulgadas com entusiasmo, ressaltando sua perfeição e potência. Até mesmo os aplausos do público eram retratados no jornal para valorizá-las. A variedade que a tenista conseguia impor no jogo, com bolas curtas e longas, com quebras de ritmos, com saques e voleios fortes eram elementos evidenciados, constituindo seu jogo em um espetáculo para o leitor.

No entanto, essa potência e eficiência não eram aspectos esperados para uma mulher, fazendo com que essas características fossem constantemente relacionadas aos homens, justificando sua aquisição pelo treinamento com eles.

Maria Esther Bueno, que amanhã definirá a final de simples com a norte-americana Darlene Hard, foi a figura destacada do encontro, com os serviços e os “smashes” de potência quase masculina. Ademais, seus voleios foram devastadores (O ESTADO DE SÃO PAULO, 04/07/1959, p. 11).

Suzanne Lenglen foi uma tenista francesa que jogou nas décadas de 1910 e 1920, também reconhecida pelo estilo de jogo potente, não raro associado ao fato de treinar com homens. Seus golpes eram tidos como masculinos, dada a sua potência. Assim, não apenas seu jogo despertava interesse, mas suas características físicas eram colocadas em evidência ressaltando sua distância do padrão de feminilidade da época e sua sexualidade era contestada (Phillippe TÉTART, 2005).

Questionamentos em relação à sexualidade não foram encontrados de maneira direta nas notícias sobre a brasileira, mas, em entrevistas, a tenista era questionada sobre possíveis namoros. Isso demonstra a fragilidade em lidar com a possibilidade de uma mulher ter bons resultados no esporte, com um jogo ofensivo e de maneira independente. A tenista brasileira costumava não responder a essas questões e dizia preferir falar sobre o tênis e seus jogos, como em uma entrevista após se classificar para a final de Wimbledon em 1959:

Pergunta inoportuna. A jovem brasileira mostrou desagrado quando jornalista lhe perguntou se tinha namorado. “Este não é o momento de falar dessas coisas”, respondeu (O ESTADO DE SÃO PAULO, 03/07/1959, p. 16).

Esses elementos indicam padrões de feminilidade sendo reconfigurados pelo esporte. Assim como a indisposição que a inserção das mulheres nesse ambiente gerava. Os esportes, o treinamento corporal, as competições, o tornar-se um campeão, ainda eram territórios considerados masculinos e as mulheres que os habitavam, como Maria Esther, contribuíam para as mudanças dos padrões estereotipados de feminilidade e masculinidade, como explicita Philippe Liotard e Thierry Terret (2005, p. 11):

Além do mais, a excelência esportiva feminina resulta de uma conquista simbólica: a dos limites do corpo que deve lidar ao mesmo tempo com as convenções sociais e com os valores da performance esportiva. Já que a figura da campeã se constrói na referência constante do garanhão dos estádios: macho e adulto. Construir uma nova excelência corporal equivale a investir em um território e a reconfigurar as hierarquias estabelecidas nele. O “tornar-se campeã” tenciona o masculino e o feminino e elabora uma nova figura de excelência, associada a novos modelos de feminilidade. Sendo o resultado, uma renovação nas representações sobre as mulheres que questionam suas fraquezas e geram reconhecimento através de competências inesperadas. (tradução nossa).1

Suzanne Lenglen e posteriormente Maria Esther Bueno têm em comum a eficiência do seu jogo. Os jornais demonstravam seus elementos técnicos, mas ainda relacionando-os ao jogo dos homens, a algo viril. Por outro lado, também abordavam assuntos como as roupas, o nervosismo, os namoros e a delicadeza, os quais eram relacionados ao universo das mulheres. Assim caminhava a conquista do espaço esportivo pelas mulheres, contrabalanceando eficiência, potência, com toques de delicadeza e proximidade com a feminilidade, tentando gerar um “equilíbrio entre os gêneros” (TÉTART, 2005, p. 87), tornando possível a permanência das mulheres nesse espaço.

Esses elementos técnicos caracterizados como pertencentes ao mundo dos homens eram também enfatizados na mídia internacional:

“A potência de seu golpe é comparável a de um homem” escreveu Lance Tingy no “Daily Telegraph” e Frank Roston “um tipo de tênis de potência inigualável desde a época em que Louise Brough estava no apogeu” (O ESTADO DE SÃO PAULO, 07/05/1958, p. 18).

Essa forma de adjetivar seu jogo pela imprensa internacional demonstra que não só no Brasil, mas nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra, mesmo sendo países com maior participação e êxito de jogadoras de tênis, o saque e o voleio potentes, os golpes firmes, a variação entre bolas curtas e longas, eram elementos ainda pertencentes ao jogo dos homens. As mulheres estavam inseridas nas competições, mas adquirir gestos eficientes do jogo era um elemento novo para o período, que colocava em prova as características de cada gênero. Dualizar homem como forte e mulher como frágil começava a não ser mais possível e essas mulheres pioneiras colocavam à prova esse binarismo.

As descrições dos movimentos, dos gestos, caracterizando-os como violentos, eficientes, fortes e relacionando-os ao sucesso do jogo, ao predomínio de vitórias da tenista brasileira, associam-se ao que Vigarello (2011) expôs em relação ao fascínio de escrever, noticiar, o esporte a partir da “tecnicidade dos gestos”:

O fascínio vai também se voltar para a própria tecnicidade dos gestos, os textos de esporte acumulam, no começo do século XX, os inventários minuciosos, os dispositivos calculados. As descrições das “pegadas e golpes” em luta, por exemplo, no primeiro Larousse consagrado ao esporte em 1905, demoram-se sobre uma variedade infinita de “giros de quadris”, de “braços enrolados”, de “pegadas simples” e “duplas”, de “cinturas para frente”, “atrás”, “de lado”, “com flexibilidade”, “para trás” (VIGARELLO, 2011, p. 208).

Por outro lado, as reportagens do jornal também destacavam questões emocionais da tenista brasileira. Em alguns jogos, a justificativa para suas derrotas era noticiada como perda de controle e nervosismo, ou uma instabilidade entre pontos ganhos e perdidos. Quando ela conseguia controlá-los ou revertê-los durante a partida também era comentado:

O nervosismo e impaciência de Esther, contudo, foram-lhe adversos […] A brasileira acalmou-se e anulou, por sua vez, o serviço da adversária com facilidade […] No oitavo jogo, a impaciência de Esther Bueno quase lhe foi fatal novamente […] A um ponto da vitória, a brasileira serviu com tremenda potência. A devolução de sua adversária deu na rede, e tudo terminou (O ESTADO DE SÃO PAULO, 13/09/1959, p. 22).

A questão emocional estava presente nas descrições dos jogos e, diferentemente da eficiência técnica e tática, ela não foi relacionada ao universo dos homens, isto é, não foi comparada ao nervosismo presente nos jogos dos homens ou à influência de alguém em específico. Os elementos emocionais presentes nos jogos foram considerados femininos, ao passo que os técnicos e tácitos, masculinos.

Roupas esportivas: beleza e eficiência

As roupas esportivas utilizadas por Maria Esther Bueno também evidenciam transformações de gênero e na tecnologia do jogo. Segundo Carmen Lucia Soares (2011, p. 65):

No que diz respeito às roupas em geral e às roupas esportivas em particular, os anos de 1920 introduzem, também, o item conforto. Assim, por exemplo, se pensarmos na prática do tênis, veremos que esse esporte acompanhou uma certa moda das roupas em geral, e se as saias eram longas na vida cotidiana, assim permaneciam nos uniformes. Contudo, a partir do momento em que elas são encurtadas especificamente para a prática do tênis, ou seja, exatamente nos anos de 1920, elas nunca mais voltaram a ser compridas, permanecendo conforme outra lógica de movimentos. Mesmo mais longas na vida cotidiana, nas quadras elas permanecem curtas.

As roupas não são mais transpostas do cotidiano para a prática esportiva e sim formuladas especificamente para o exercício, “atestando, assim, a especialização de funções, mas sublinhando sempre, para as mulheres, aspectos relativos à beleza e elegância” (SOARES, 2011, p. 65). Concomitantemente à beleza e à elegância, o vestuário adquire uma funcionalidade relacionada à eficiência do jogo, buscando favorecer a execução dos gestos e o melhor desempenho. Assim, o uso das roupas demonstrava uma ‘moda esportiva’ que resultou de uma educação corporal especializada no esporte, conforme afirma Soares (2011, p. 69):

Vestir-se para exercitar o corpo em práticas distintas, portanto, é parte de uma nova sensibilidade, de um novo modo de vida, resultado de uma educação especializada e dirigida ao corpo, da inserção num mundo regido por padrões, comportamentos, atitudes, hábitos novos.

Maria Esther utilizou as roupas como artifício de melhora de performance, com modelos pensados especificamente de acordo com os movimentos da modalidade:

Maria Esther usava um belo costume, desenhado por Teddie Tingling, cognominado “o deus das quadras de tênis”. O próprio criador disse ter admirado a forma como o vestido acompanhava as linhas do corpo sem dificultar os movimentos, apesar de sua gola redonda e de 200 botõezinhos dourados (O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/06/1965, p. 17).

Eram roupas específicas para a modalidade e para a tenista, acompanhavam as mudanças no corpo dela, sendo necessárias mensurações de peso, altura, composição corporal de maneira geral. Assim como o treinamento começou a ser pautado em parâmetros mensuráveis, as roupas também utilizavam métodos sistematizados para produzir conforto e eficiência.

Contudo não esconde sua preocupação com o excesso de peso, pois seu costureiro, Teddy Tingling, ficou surpreendido ao retomar as medidas para confeccionar seu guarda-roupa para o torneio de Wimbledon. Afirmou Tingling que Maria Esther aumentou quatro quilos a mais nos últimos doze meses. E, na verdade, a tenista parecia mais gorda durante a exibição de hoje, embora esse fato não lhe tenha prejudicado os movimentos (O ESTADO DE SÃO PAULO, 24/06/1964, p. 18).

Além da eficiência, as questões estéticas, reforçando uma questão de gênero, também estavam presentes. Os detalhes costurados, as cores, o modelo, chamavam a atenção, evidenciando beleza e elegância, garantindo a especificidade de movimentos, bem como atendendo às normativas da modalidade.

Usando um traje esportivo tipo “saco”, enfeitado com palmeiras, a tenista brasileira Maria Esther Bueno aparece na foto tirada quando venceu a australiana Thelma Long, no dia 30 último, pelo Torneio de Wimbledon (O ESTADO DE SÃO PAULO, 03/07/1958, p. 17).

Decepcionada com a proibição de usar roupas coloridas, Esther apresentou-se com indumentária branca. Pelo fato de a tenista brasileira apresentar-se com trajes coloridos em 1962, foi determinada a atual proibição (O ESTADO DE SÃO PAULO, 24/06/1964, p. 18).

A moda esportiva extravasava o entorno das quadras de tênis e a própria tenista brasileira participou de um desfile de moda com traje esportivo:

Maria Esther desfila moda

A campeã brasileira Maria Esther Bueno apresentou anteontem em Londres, durante um desfile de modelos, um traje revolucionário de prática de tênis: parcialmente transparente e ultracurto.

As partes não transparentes são o talhe e o regaço. O conjunto é tão curto que as minissaias, a seu lado, parecem de pudor extremo.

Maria Esther Bueno esclareceu que talvez não apareça nas quadras com o modelo. Com efeito, as partes transparentes são de plástico, “material quente, como todo mundo sabe”, explicou a esportista.

Há quatro anos, a própria Maria Esther Bueno exibiu nas quadras de Wimbledon uma roupa interior de cor e formato tão audaz que os espectadores se inclinaram a seu favor. Consequência: no ano seguinte, exigiu-se que as participantes usassem a côr branca em sua roupa fina (O ESTADO DE SÃO PAULO, 19/06/1966, p. 30).

Essa dualidade entre a roupa especializada e a elegância, como um marcador de gênero, foi explorada por Sandrine Jamain (2005). Segundo a autora, devido à sua relação com a performance, os modelos de roupa esportiva aproximam-se e distanciam-se de estereótipos de gênero, indicando um malabarismo entre prescrições de gênero e, por outro lado, da lógica esportiva. Tais aspectos foram observados nas roupas de Maria Esther Bueno, as quais favoreciam seus movimentos durante o jogo, ao mesmo tempo que traziam elementos da moda.

A autora expõe uma aproximação a partir do fim dos anos 1950 entre as roupas esportivas dos homens e das mulheres, indicando o tênis como uma das modalidades em que as vestimentas não sofreram tantas alterações e continuaram marcadas por aspectos da feminilidade. Jamain (2005) concluiu com isso que essas mudanças nas roupas poderiam ter aproximado os gêneros de um neutro, uma vez que não mais se distinguem por elementos da masculinidade ou feminilidade:

Uma nova era se aproxima para os esportistas e seus vestuários no final dos anos 1950 […] O interesse centra-se agora na performance das atletas femininas, assemelhando-as dos seus homólogos masculinos. Tudo parece indicar que a busca do rendimento e a lei esportiva prevalece sobre as prescrições de gênero. No plano vestuário, os signos característicos de pertencer ao gênero feminino desaparecem em proveito da indiferenciação sexual. Aos imperativos da estética sucedem as preocupações de prática e conforto, indispensáveis ao rendimento. Difícil indicar a diferença entre um vestuário de homem ou de mulher. Somente algumas atividades parecem resistir a essa evolução do vestuário e se mantiveram nos “padrões de feminilidade”. Foi o caso do hóquei na grama e do tênis […] Assim, o vestuário esportivo da origem a um novo gênero: nem masculino, nem feminino, um “neutro” (JAMAIN, 2005, p. 47, tradução nossa).2

De modo semelhante, Maria Esther Bueno manteve diferenciações de gênero nas suas vestimentas, visando elegância e beleza, ao mesmo tempo que prezou pelo conforto e pelo rendimento esportivo.

Assim, seu estilo de jogo performático e eficiente, o apoio recebido pelo jornal e o uso de roupas adaptadas à prática esportiva compõem a carreira de Maria Esther Bueno, contribuindo para que se tornasse a melhor jogadora de tênis do período, executando movimentos ofensivos no jogo, sem deixar de expressar elegância e beleza.

Eficiência esportiva e treinamento corporal

O aumento da prática esportiva foi aos poucos sendo acompanhado de treinamento corporal sistematizado, o qual está relacionado ao desenvolvimento metódico de capacidades físicas, tornando-se uma ferramenta para transformações corporais e de conhecimento de si. O corpo tornou-se maleável, disposto a mudanças a partir do seu domínio, incorrendo, por outro lado, em riscos pelas aproximações com os limites. O treinamento passa a ter como objetivo levar o corpo ao extremo e transformá-lo, privilegiando as técnicas dos esportes e das competições para promover uma ‘perfeição corporal’, técnicas estas que

revelam um triunfo definitivo do exercício “construído”, o de movimentos sistematizados, mecânicos e preciosos, controlados com o único objetivo de aumentar os recursos físicos: neles, o corpo seria educado de acordo com um código analítico de progressão, músculo após músculo, parte após parte (VIGARELLO, 2011, p. 199).”

Poucas informações foram divulgadas pelo jornal sobre as características dos treinamentos de Maria Esther Bueno. Sabe-se que, enquanto estava no Brasil, treinava com o seu irmão e que, a partir de 1959, começou a treinar com um técnico australiano. Porém, não há divulgação sobre como se constituíam esses treinamentos, quais elementos, nem a periodicidade.

Comentando-se o fato em carta a seus pais, Maria Esther explica os pormenores dos treinos especiais. Hauptman exigia da campeã treinos de corrida, e posteriormente, Esther exercitava-se contra uma dupla masculina, composta na maioria das vezes, por Frazer e pelo próprio treinador. Esse duro exercício, no qual Maria Esther enfrentava dois grandes tenistas masculinos, simultaneamente, de acordo com o relato da campeã, aprimorou muito seu estado físico e técnico (O ESTADO DE SÃO PAULO, 05/07/1959, p. 23).

Desde o início do século XX, o treinamento passava por mudanças, relacionando-se mais aos gestos e seus efeitos e sendo conduzido por métodos científicos. Técnicas de treinamento e estilos de jogo variavam de um país a outro: as tenistas da Europa adotavam uma estratégia mais defensiva, ao passo que as norte-americanas e as australianas adotavam um jogo mais ofensivo.

Suas viagens eram feitas sozinha, sem comissão técnica, sem profissionais como treinadores, médicos ou fisioterapeutas. Além disso, lesões eram destaque nos jornais, enfatizando também o esforço da atleta em superá-las e continuar competindo.

Já na capital, disse Maria Esther que sua maior preocupação no momento são as dores provocadas pelas cãibras e o joelho esquerdo que está ligeiramente inchado. Deverá seguir tratamento com seu médico particular. Acredita a tenista que se recuperará em pouco tempo, podendo logo reiniciar os treinos para, dentro de aproximadamente dois meses, seguir novamente para a Europa (O ESTADO DE SÃO PAULO, 25/02/1965, p. 22).

O treinamento e a forma sistematizada de praticar um esporte foram determinantes para o jogo de Maria Esther Bueno.

Treinar é dar a si mesmo os meios que “naturalmente” não se impõem; ter sucesso é inventar instrumentos, aplicar astúcias, desenvolver procedimentos, tanto uns como os outros pacientemente construídos e calculados (VIGARELLO, 2011, p. 249).

A partir das palavras de Vigarello (2011) supracitadas, pode-se dizer que a tenista brasileira teve astúcia na construção de uma carreira de sucesso.

Considerações finais

Essa pesquisa explorou elementos da carreira da tenista Maria Esther Bueno que favoreceram sua trajetória bem-sucedida de inserção competitiva no esporte, em um período em que a competitividade não era tão comum às mulheres no Brasil.

Maria Esther Bueno venceu os maiores e mais reconhecidos torneios de tênis. Considerada a melhor jogadora do mundo no período, foi vitoriosa com seu jogo ofensivo e inovador, ousou no vestuário elegante, utilizando roupas esportivas eficientes para os movimentos e para a modalidade.

O jornal O Estado de São Paulo foi essencial para o seu êxito. O patrocínio oferecido possibilitou-lhe dedicar-se exclusivamente ao tênis, podendo treinar e participar de campeonatos internacionais. Foi um meio de comunicação importante para a divulgação da sua carreira no país. Nos vinte anos aqui pesquisados, encontramos aproximadamente mil incidências sobre a tenista no jornal, com matérias sobre as conquistas decorrentes do patrocínio, mas também evidenciando a escolha inovadora do próprio jornal para o período: patrocinar uma atleta mulher.

Com suas participações em competições, com seu jogo ofensivo, com sua independência para viajar ao exterior, com a obtenção de patrocínio, com sua apropriação de roupas esportivas especializadas para a modalidade, Maria Esther rompeu com padrões estabelecidos e esperados das mulheres entre os anos de 1950 e 1960.

Assim como nos campeonatos brasileiros, nos internacionais já havia a presença de mulheres tenistas. Maria Esther não foi pioneira na sua participação, mas foi em sair sozinha do país para jogar, sem uma comissão técnica especializada, organizando suas próprias viagens e apresentando um jogo ofensivo inovador. Partiu de um país com pouco estímulo à prática esportiva para mulheres, a qual estava restrita a quem pudesse frequentar os clubes privados, vencendo de forma inédita, dando destaque ao Brasil e à América do Sul no circuito de tênis internacional.

Seu jogo potente, seus saques e voleios certeiros, colocaram-na entre as melhores jogadoras do mundo no período. Começou a jogar tênis com seu irmão e depois treinou com o australiano Harry Hauptman. Constituiu-se como tenista na companhia de homens, adquirindo força, potência e eficiência nos gestos. Por outro lado, o tênis também era relacionado à leveza e à sutileza de movimentos, indicando uma dualidade ao narrar o seu jogo, de modo que fosse aceito mesmo sendo executado por uma mulher.

Os princípios do treinamento estavam sendo formulados, sem ser possível indicar particularidades do treinamento dessa atleta. Quando ia para temporadas no exterior, participava de uma extensa sequência de jogos, com exigências corporais possivelmente maiores do que o treinamento, em especial de força, possibilitara suportar. Tais fatos, ao lado da falta de especificidade e adequação do treinamento à modalidade parecem estar relacionados às muitas lesões ao longo da sua carreira.

Sua inserção no ambiente esportivo aponta rupturas, como em relação a dimensões conservadoras do lugar social das mulheres, como pertencentes ao ambiente doméstico, às atividades ligadas à família e à maternidade. O esporte proporcionou uma inserção no ambiente social, permitindo a circulação por diferentes países, de forma independente, sem uma tutela masculina.

A partir de Vigarello (2011), Tetart (2005) e Jamain (2005), podemos afirmar que os esportes são palco de mistura entre elementos de feminilidade e masculinidade e Maria Esther Bueno estabeleceu bem o diálogo e a interseção entre campos, naquela época bastante dualizados. Suas roupas primavam pelo conforto e pela eficiência esportiva, indispensáveis para a performance, ao mesmo tempo que traziam marcas de beleza e elegância. Seu modo de vestir, especialmente projetado por um estilista, permitia agilidade e garantiam certo ar de leveza aos seus gestos potentes, favorecendo sua eficiência, mas sem ter aspectos de sua feminilidade questionados. Podemos pensar no surgimento de um gênero esportivo que intersecciona aspectos considerados masculinos e femininos, com fronteiras menos rígidas e mais intercambiáveis. Além da eficiência esportiva, a conciliação entre esses diversos elementos parece ter sido indispensável para a consagração da atleta, obtenção de patrocínio e grande visibilidade na imprensa.

Esse gênero esportivo pode ser encontrado nas notícias sobre os jogos de Maria Esther Bueno e de outras tenistas. A mudança de uma prática esportiva descompromissada para uma competitiva, bem como a adoção das mesmas regras e objetivos permitiram que as mulheres conquistassem esse espaço. O destaque era dado à eficiência dos seus jogos e às suas capacidades físicas. Simultaneamente, a ênfase na delicadeza e beleza dos gestos aparecia como elemento para balancear os anteriores, abrindo espaço e legitimando a presença de mulheres no esporte.

Esse gênero esportivo e essa maneira de retratar mulheres atletas foram relevantes para a transição de uma prática não institucionalizada para uma prática esportiva competitiva no tênis, despertando interesse da mídia impressa pelas partidas de mulheres. Às mulheres com acesso a clubes privados começava a ser oportunizado um novo jeito de jogar, uma nova inserção na vida pública. A experiência no esporte possibilitava ocupar esse lugar de confronto e balanceamento entre preceitos tradicionais e inovadores, gestando novas possibilidades de constituir-se mulher na sociedade brasileira.

Ao contrário do que a imprensa por vezes noticiou sobre ser levada pela emoção em jogos decisivos, Maria Esther Bueno tomou decisões assertivas sobre sua carreira e sobre a construção da sua imagem como mulher atleta. Ao invés de desequilíbrio, havia um equilíbrio potente entre elementos de feminilidade e atributos e qualidades necessárias ao bom desempenho esportivo.

A inserção de Maria Esther Bueno no esporte não foi uma prática totalmente transgressora, ao contrário, esteve carregada de elementos conciliadores, os quais não impediram rupturas importantes. Havia uma fluidez entre elementos femininos e masculinos na transmissão das informações sobre seu jogo. Se sua potência e eficiência esportiva eram destaque, elementos femininos também se faziam presentes, fornecendo equilíbrio para sua legitimação como atleta naquele momento.

Referências

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1No original: “Par ailleurs, l’excellence sportive féminine résulte d’une conquête symbolique: celle des limites du corps qui doit composer à la fois avec les conventions sociales et avec les valeurs de la performance sportive. Car la figure de la championne se construit dans la réference constante à l’étalon des stades: mâle et adulte. Construire une nouvelle excellence corporelle revient à investir un territoire et à y reconfigurer les hiérarchies établies. Le ‘devenir championne’ met en tension le masculin et le féminin et élabore une nouvelle figure de l’excellence, associée à de nouveaux modèles de féminité. Il en résulte un renouvellement des représentations portant sur les femmes qui met en question leus faiblesses supposées, et engendre la reconnaissance de compétences insoupçonnées.” (LIOTARD; TÉTART, 2005, p. 11).

2No original : “Une ère nouvelle se profile pour les sportives et leurs vêtements à la fin de années 1950 […] L’intperêt se porte désormais sur les performances de athlètes féminines, au même titre que leurs homologues masculins. Tout semble indiquer que la recherce de performance et la loi sportive prennent le dessus sur les prescriptions du genre. Sur le plan vestimentaire, les signes d’appartenance au genre féminin s’estompent au profit de indifférenciation sexuelle. Aux impératifs d’esthétisme succèdent des soucis de rationalité pratique et de confort, indispensables à la performance. Difficile de faire la différence entre un vestiaire d’hommes ou de femmes. Seules quelquer activités semblent résister à cette évolution vestimentaire et se maintiennent dans des ‘bastions de féminité’. C’est le cas du hockey sur gazon ou du tennis […] Ainsi, le vêtement sportif est à l’origine d’un nouveau genre: ni masculin, ni féminin, un ‘neutre sportif”” (JAMAIN, 2005, p. 47).

Como citar este artigo de acordo com as normas da revista: TICIANELLI, Giovanna Garcia; ALTMANN, Helena. “Maria Esther Bueno: eficiência e competitividade no tênis”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 2, e79453, 2021

Financiamento: Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo nº 2017/05146-4

Consentimento de uso de imagem: Não se aplica

Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Recebido: 10 de Fevereiro de 2021; Aceito: 12 de Maio de 2021

gi_ticianelli@yahoo.com.br

altmann@unicamp.br

Giovanna Garcia Ticianelli (gi_ticianelli@yahoo.com.br) é mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Bacharela e licenciada em Educação Física pela Unicamp. Pesquisadora da área de gênero e Educação Física

Helena Altmann (altmann@unicamp.br) é Professora Associada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestra em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFM) e graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi coordenadora do Grupo de Trabalho Temático Gênero do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (2015-2017). Tem experiência de pesquisa e ensino em Educação, Educação Física e Esportes, com ênfase em gênero e sexualidade. Integra o Grupo de Pesquisa Corpo e Educação e o Grupo de Pesquisa Focus, ambos da Unicamp

Contribuição de autoria: as autoras contribuíram igualmente

Conflito de interesses: Não se aplica

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