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Revista Estudos Feministas

versão impressa ISSN 0104-026Xversão On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.30 no.2 Florianópolis maio/ago 2022  Epub 01-Maio-2022

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2022v30n275807 

Artigos

O futuro é feminino (e anticapitalista): A narrativa cli-fi escrita por mulheres

The Future is Female (and Anticapitalist): Cli-Fi Narratives written by Women

Marina Pereira Penteado1 
http://orcid.org/0000-0001-6325-548X

1Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. 24210-201 - secretaria.literatura@gmail.com


Resumo:

Neste trabalho, proponho uma reflexão sobre a ficção climática recente de língua inglesa - também conhecida como cli-fi - escrita por mulheres, articulando questões de crise ambiental, feminismo e literatura. O estudo será focado em como a cli-fi critica a destruição do meio ambiente e as políticas ambientais vigentes, bem como sua contribuição para a tradição literária da qual faz parte. Por meio de uma breve discussão sobre obras que buscam uma integração maior do ser humano com a natureza, busco pensar a crise ambiental atual e o papel que a ficção climática assume nela, além de refletir sobre a relevância dessa literatura no momento histórico em que nos encontramos. Para tanto, o trabalho será realizado a partir de uma discussão sobre a ficção climática em diálogo com teorias sobre feminismo, anticapitalismo, ecofeminismo e Antropoceno.

Palavras-chave: Cli-fi; Ecofeminismo; Antropoceno; Anticapitalismo; Feminismo

Abstract:

This paper aims to analyze the cli-fi written by women in recent years, establishing a dialogue between literature, feminism and environmental crisis. The study will focus on how cli-fi criticizes the environmental destruction of our time as well as its relation to capitalism and its contribution to the literary tradition of which it is a part of. Thus, through a brief discussion about narratives that search a greater connection with nature, this essay aims to discuss our current environmental crisis as well as the importance of the cli-fi in it and its relevance to the historical moment we are living. To do so, I attempt to sketch working definitions for cli-fi narratives while connecting them with theories about feminism, anticapitalism, ecofeminism and the Anthropocene.

Keywords: Cli-fi; Ecofeminism; Anthropocene; Anticapitalism; Feminism

O termo cli-fi - uma mistura de sci-fi com climate change fiction -, cunhado em 2007 por Dan Bloom, começou a se popularizar no universo acadêmico a partir de 2013, quando a NPR publicou um artigo que fazia a pergunta: “Está tão quente: teriam as mudanças climáticas criado um novo gênero literário?”1 (Angela EVANCIE, 2013), no qual obras de escritores como Nathaniel Rich, Ian McEwan e Barbara Kingsolver eram analisadas. Embora alguns pesquisadores considerem a cli-fi2 um gênero novo (Laura WRIGHT, 2019, p. 99) e outros a considerem apenas um tópico encontrado em diversos gêneros - como sci-fi e distopia, por exemplo (Adeline JOHNS-PUTRA, 2016, p. 266) -, acredito que muito ainda precisa ser pensado e esquematizado sobre o assunto para termos uma melhor definição a respeito. De qualquer maneira, as inúmeras reflexões recentes sobre essa literatura indicam a importância que ela tem assumido no âmbito dos estudos literários. Conforme a professora Judith Curry, do Georgia Institute of Technology’s School of Earth and Atmospheric Sciences, afirma para a matéria, “quando escritores começam a abordar as mudanças climáticas em suas obras, eles alcançam as pessoas de uma forma que os cientistas não conseguem”3 (EVANCIE, 2013, tradução livre) - e nunca pareceu tão necessário discussões sobre a temática como nos últimos anos. Neste sentido, a proliferação da ficção climática é bastante sintomática e a atenção que essa literatura tem recebido da mídia e da crítica também. Em um momento histórico marcado por contranarrativas ao aquecimento global, não poderia ser diferente.

Com os números de catástrofes ecológicas em constante crescimento - da atual pandemia às temperaturas recordes na Antártida logo no início de 2020 e às queimadas da floresta Amazônica e na Austrália em 2019 -, ativistas e cientistas ao redor do mundo têm se unido para chamar atenção sobre os perigos das alterações climáticas e da intervenção humana no meio ambiente. No entanto, quando tudo indicava que deveriam ser formadas alianças para pensar estratégias visando desacelerar os danos causados ao meio ambiente, uma onda nacionalista e protecionista tem tomado frente na arena política mundial. Essa política não apenas tem feito questão de ignorar os avisos, como também tem transformado as informações sobre aquecimento global em hoax ou teoria de conspiração. A ficção climática, por sua vez, tem assumido cada vez mais um papel de destaque na resistência contra tais políticas, questionando se há lugar para esse tipo de pensamento quando o mundo parece estar perto de entrar em colapso. A literatura de língua inglesa, e mais especificamente a norte-americana produzida por mulheres, tem marcado uma presença significativa em tais críticas.

Enquanto aspectos como o da busca por uma pastoral, pela natureza e pela fronteira desde muito cedo fazem parte do imaginário e da literatura norte-americana, principalmente a estadunidense, a ficção especulativa recente tem se empenhado em apontar para o esgotamento de tais questões a partir de discussões sobre crise ambiental, crise da masculinidade e as implicações do progresso (em especial o tecnológico), todos indicados como resultados do capitalismo. E a ficção climática assumiu um papel crítico importante nos últimos anos, colocando em evidência a necessidade de se pensar em alternativas para substituir o sistema atual. Essa literatura, por sua vez, tem sido produzida por um número expressivo de mulheres. Ursula Le Guin, Octavia Butler e Margaret Atwood são, talvez, os nomes mais conhecidos, mas de trilogias para jovens adultos (Jogos Vorazes, de Suzanne COLLINS, 2013) a continuações de filmes famosos do final do século XX (Mad Max: Estrada da Fúria, de 2015) e séries televisivas bem-sucedidas (The Handmaid’s Tale, produção da HULU, de 2017, baseada no romance homônimo de Atwood). A ficção que trata das mudanças climáticas parece um campo fértil para pensar a participação das mulheres na luta pela preservação do meio ambiente e por uma sociedade mais justa e igualitária.

Tendo isso em vista, no presente trabalho, busco fazer uma breve reflexão sobre a produção recente de ficção climática de língua inglesa, a fim compreender a predominância das mulheres nessa literatura4 e a forma como elas trazem as questões climáticas em suas obras. A partir de uma visão mais panorâmica, serão abordadas obras norte-americanas, incluindo a de indígenas, como a de Cherie Dimaline (2017), além de também comentar algumas obras em língua inglesa de outros espaços fora do hemisfério Norte. Com isso, busca-se pensar sobre as relações que as ficções climáticas desses espaços estabelecem umas com as outras e sobre os motivos pelos quais é um assunto que parece interessar esse grupo específico da sociedade.

Embora narrativas que falem da interferência humana na natureza não sejam exclusividade dos nossos tempos, Susanne Leikam e Julia Leyda (2017a), em “Cli-Fi and American Studies: An Introduction”, notam que as narrativas sobre mudanças climáticas estão particularmente ativas na produção cultural norte-americana recente, mais especificamente na estadunidense, mesmo que não sejam uma exclusividade do país. Para elas, até quando essas obras não são estadunidenses, os Estados Unidos seguem em evidência na narrativa de alguma forma:

[a] América do Norte, mais especificamente os Estados Unidos, é um dos exportadores de cultura popular mais prolíficos do globo. [...] com seu papel histórico e atual de liderança no consumo de energia e nas emissões climáticas, eles frequentemente aparecem como agentes-chave em narrativas cli-fi ao redor de todo mundo5 (LEIKAM; LEYDA, 2017a, p. 111, tradução livre).

Desta maneira, é importante também fazer um contraponto, e, nesse sentido, a investigação de obras de mulheres de países emergentes, bem como a literatura de povos originários da América do Norte que tratem do tema, merece atenção, uma vez que são esses lugares que normalmente sofrem os primeiros impactos das crises ambientais. O filme Pumzi (2009), da queniana Wanuri Kahiu, é um exemplo de obra que apresenta uma discussão pertinente para entender a cli-fi. Ao lidar com a destruição econômica a partir de um viés ecofeminista que mostra as mulheres como as mais afetadas pelas guerras na comunidade Maitu, no Leste da África, o filme indica, de certa forma, tanto a colaboração importante destes espaços para a ficção especulativa quanto suas posições críticas frente às possíveis catástrofes ambientais em curso e futuras, encabeçadas por países como os Estados Unidos.

Na literatura, por sua vez, a sul-africana Bessie Head (2010[1968]) já trabalhava questões típicas à ficção climática ao discutir problemas relativos à agricultura em When Rain Clouds Gather and Maru (1968). Em uma África do Sul na qual uma comunidade rural luta para se atualizar em suas plantações, o livro de Head narra uma ameaça climática iminente, que põe em xeque a sobrevivência dos personagens. Mais recentemente, a indiana Vandana Singh (2017), em Entanglement, lida com o capitalismo tardio e as políticas econômicas desastrosas inerentes ao sistema através de cinco histórias que se passam em um futuro próximo. No romance, Singh aborda as mudanças climáticas em lugares como o Ártico, a Índia e as Américas. Outro exemplo vem da literatura da Nação Métis, da região de Georgian Bay. The Marrow Thieves, da escritora Dimaline (2017), narra um futuro devastado pelo aquecimento global, no qual o mundo perdeu a capacidade de sonhar. As únicas pessoas que ainda possuem tal capacidade, por sua vez, são os indígenas da América do Norte, que guardam a cura para a “doença” em suas medulas e viram alvos de extermínio - novamente - dos homens brancos. Tal recorrência temática evidencia a importância dessas escritoras no que tange à ficção climática e à necessidade de fazer um levantamento a fim de descobrir outras possíveis contribuições para essa literatura que venham de países que, na sua maioria, desde pelo menos o início da década de 1980, sofrem com os desastres ambientais resultantes da mercantilização de terras promovida pelo Banco Mundial, sob pretexto de ajuste estrutural e da “globalização”.6 Ou mesmo de povos que sofrem com a destruição ambiental e de suas terras desde o início da colonização da América do Norte.

Lançando mão de discussões que instigam a necessidade de resgatar ecossistemas e práticas mais sustentáveis, as ficções climáticas - tanto as produzidas na América do Norte como as produzidas em países periféricos de língua inglesa ou, mesmo, as de povos originários da América do Norte - colocam em evidência a urgência de se pensar em sistemas que não apenas privilegiem uma parcela pequena da sociedade, mas que sejam justos em termos sociais, raciais, de gênero, de espécie, além de anticapitalistas. Dois romances representativos da cli-fi estadunidense escritos por mulheres e publicados nos últimos anos que suscitam essas questões são Flight Behavior, de Kingsolver (2012), e Gold Fame Citrus, de Claire Vaye Watkins (2015).

Ambas as narrativas apresentam críticas às políticas climáticas atuais desastrosas, discutidas por meio de histórias nas quais uma grande catástrofe ambiental aconteceu ou está em curso. Em Flight Behavior, temos a história de Dellarobia Turnbow, que encontra borboletas monarcas que sofreram alterações no curso de suas migrações. Com a ajuda de entomologistas, ela descobre que o evento não é “uma mensagem de Deus”, como alguns habitantes da cidade acreditam, mas culpa das alterações ambientais causadas pelo aquecimento global. Gold Fame Citrus, por sua vez, trata de uma Califórnia do futuro, na qual a desertificação e a seca transformaram drasticamente o oeste norte-americano. Enquanto, no passado, os exploradores rumavam para lá, no futuro pós-apocalíptico da narrativa, os sobreviventes tentam desesperadamente voltar para o leste - ou ir para qualquer outra direção que não seja o oeste. Em tais obras, é perceptível que o pesadelo no qual a sociedade se encontra é consequência de mudanças no clima e nos ecossistemas, causadas por ações inconsequentes incitadas pelo sistema capitalista e suas práticas de opressão, dominação e exploração.

Se a ficção produzida na América do Norte, e mais especificamente nos Estados Unidos, como observam Leikam e Leyda, predomina nas listas e estudos sobre cli-fi,7 esse fato também é resultado do elitismo acadêmico que privilegia a literatura de alguns espaços/grupos mais do que a de outros. Enquanto obras como Water Knife, de Paolo Bacigalupi (2015), Odds Against Tomorrow, de Nathaniel Rich (2013), e a trilogia MaddAddam, de Atwood (2003-2013), para citar algumas, figuram em matérias jornalísticas e publicações sobre o assunto, a literatura de Head, Singh e Dimaline, por outro lado, raramente aparecem nessas reportagens ou estudos. Quando recebem atenção, normalmente são restringidas a uma classificação mais ampla, como a de “ficção especulativa” ou “ficção científica”, e não de ficção climática, embora elas também lidem com a ameaça que as políticas antiambientais podem trazer para o planeta como um todo. Além de, muitas vezes, evidenciarem o papel de países como os Estados Unidos na própria crise. Por esse motivo, o levantamento de obras cli-fi produzidas por mulheres desses outros espaços também merece ser feito, a fim de analisar a contribuição que essas escritoras podem trazer tanto para os estudos sobre ficção climática quanto para pensarmos as crises do nosso tempo. Da indiana Singh à métis Dimaline, existe um grande número de escritoras que dedicam espaços em suas obras para tratar dos problemas enfrentados por esses lugares/povos por meio da ficção especulativa e, mais especificamente ainda, através da cli-fi.

Na introdução de Utopian and Science Fiction by Women: Worlds of Difference, Susan Gubar (1994) observa que “a crítica feminista é por si só inevitavelmente um projeto utópico” 8 (p. xii, tradução livre). Não obstante, algo importante a ser feito. O fato de a ficção climática ter tantas obras escritas por mulheres parece compreensível. Além desse tipo de literatura normalmente ser considerada um nicho, são justamente as mulheres as mais excluídas das decisões políticas e ambientais, ao mesmo tempo que são as mais afetadas. Como Greta Gaard (2016) aponta em uma pesquisa recente sobre a ficção climática e o ecofeminismo, é comprovado que “as mulheres são as mais severamente afetadas por mudanças climáticas e desastres naturais devido aos seus papéis sociais, à discriminação e à pobreza” 9 (p. 180, tradução livre). Com as discussões atuais sobre como o sistema capitalista, desde seus primórdios, submete as mulheres a posições de dominação e controle, retirando-as sempre que possível do poder, o grande número de obras escritas e protagonizadas por mulheres é sintomático, e o impacto provocado nas últimas décadas por romances como as Parábolas (1993; 1998), de Butler, e a Trilogia MaddAddam (2003; 2009; 2013), de Atwood, evidenciam a necessidade de uma crítica dessa literatura sob um viés ecofeminista.

Seguindo a tradição de Butler e Atwood, a ficção climática mais recente segue colocando os papéis das mulheres, a crise da masculinidade e os desdobramentos do sistema capitalista em pauta, relacionando-os com a destruição ambiental. E as produções literárias de escritoras como Head, Singh e Dimaline dialogam, em certa medida, com tal tradição, uma vez que são estas mulheres que, geralmente, estão na vanguarda da luta por um uso não capitalista dos recursos naturais. Silvia Federici (2019), em O ponto zero da revolução, observa que a relação das mulheres de países da África com a própria alimentação já é um ato de resistência, uma vez que, em alguns países, por exemplo, elas chegam a produzir 80% de todos os alimentos básicos para o consumo doméstico e para o comércio - problemática que fica implícita em When Rain Clouds Gather and Maru, de Head, e que também está na base das obras cli-fi em geral, como é possível observar já nos romances de Atwood e Butler citados acima. Ainda segundo Federici (2019):

[o] poder da agricultura de subsistência das mulheres pode ser visto, do ponto de vista da sobrevivência das comunidades colonizadas, como a sua contribuição à luta anticolonial, em particular para a sobrevivência dos que lutam pela libertação em áreas de mata (p. 284).

No manifesto Feminismo para os 99%, Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser (2019) também apontam as mulheres como a base do movimento anticapitalista. Para elas, o capitalismo desestabiliza periodicamente a própria condição ecológica que o viabiliza e “a mudança climática que agora ameaça o planeta é resultado direto da ação histórica do capital de recorrer à energia fossilizada a fim de abastecer as fábricas de produção industrial em massa, que são sua marca” (ARRUZZA; BHATTACHARYA; FRASER, 2019, p. 83). Neste sentido, os estudos sobre ecossocialismo se tornam importantes para compreender a cli-fi. Tendo seu início nos anos de 1970 com teóricos como Raymond Williams, o ecossocialismo ganha força com a publicação do Manifesto Ecossocialista Internacional (LOWY, 2014) e com a fundação da Rede Ecossocialista Internacional (LOWY, 2014). É quando a crítica cultural do consumo não parece mais suficiente para lidar com os problemas atuais que tal abordagem se torna necessária. Para Michael Lowy (2014), neste momento, é preciso atacar o próprio modo de produção, uma vez que “se o problema é sistêmico, a solução tem de ser antissistêmica, isto é, anticapitalista” (p. 9). Segundo Lowy (2014), o anticapitalismo:

[...] trata-se de uma proposta radical que se distingue tanto das variantes produtivistas do socialismo no século XX quanto das correntes ecológicas que se acomodam ao sistema capitalista. Uma proposta que almeja não só a transformação das relações de produção, do aparelho produtivo e do padrão de consumo dominante, mas sobretudo construir um novo tipo de civilização, em ruptura com os fundamentos da civilização capitalista/industrial ocidental moderna (p. 9-10).

As obras de ficção climática, na sua grande maioria, se empenham em construir novas comunidades, sendo as mais emblemáticas a “bolota” - da Parábola dos Talentos e da Parábola do Semeador, de Octavia Butler (1993; 1998), e os “jardineiros de Deus”, da trilogia MaddAddam (2003-2013), de Atwood -, nas quais a consciência ecológica é um tema recorrente e a agricultura tem um papel de destaque. Na narrativa de Butler, Lauren Oya Olamina, uma hiperempata, lida com o colapso da sociedade estadunidense causado, em grande parte, pela ganância corporativa, pelas desigualdades e pelas mudanças climáticas drásticas. A série acompanha Olamina e alguns sobreviventes de sua antiga comunidade enquanto ela desenvolve um novo sistema de crença chamado Earthseed e estrutura a comunidade “bolota”. Na trilogia MaddAddam, por sua vez, somos apresentados aos “jardineiros de Deus”, um culto composto por pessoas que desafiam o status quo e plantam seus próprios alimentos em uma espécie de utopia ecológica. Interessantemente, a descrição da comunidade é apenas explorada quando temos duas mulheres como narradoras: Toby e Ren, no segundo livro, chamado O ano do dilúvio (ATWOOD, 2011b). Na descrição, somos apresentados ao lugar onde os jardineiros moravam da seguinte maneira:

[...] era tudo tão bonito, tão cheio de flores e plantas que nunca tinha visto. Muitas borboletas coloridas, e de algum lugar próximo vinha um zumbido de abelhas. A vida estava presente em cada pétala e em cada folha que despertavam com brilho para os olhos dela. Até o ar do jardim era diferente. Toby se deu conta de que estava chorando de alívio e gratidão. Era como se uma grande mão benevolente a tivesse tirado de um buraco e a salvado (ATWOOD, 2011a, p. 57).

As investidas utópicas dentro desses universos devastados por pandemias (MaddAddam) e pela ganância corporativa (Parábolas) são retomadas em romances mais recentes norte-americanos, como o de Watkins e o de Kingsolver, que também trazem outras mulheres como narradoras e protagonistas. Em Gold Fame Citrus, de Watkins, a protagonista Luz encontra uma comunidade formada por pessoas que vivem no deserto como se fossem uma espécie de “escolhidos” e, de certa forma, essa ideia retorna em Flight Behavior, de Kingsolver, com a comunidade de cientistas que chega na cidade de Dellarobia Turnbow e da qual ela anseia por fazer parte. Ambas as protagonistas também em busca de uma espécie de utopia ecológica que poderia reverter os danos causados ao longo dos últimos tempos ao meio ambiente.

O empenho dessas obras em buscar alternativas à crise ambiental é sintomático no nosso momento histórico. Como Atwood (2015) observa, o aumento desse tipo de ficção nos últimos anos “é, em parte, uma resposta para as transições que estão acontecendo”10 (ATWOOD, 2015, tradução livre). E de publicações como The End Of Nature and Post-Naturalism: Fiction and the Anthropocene, de James Bradley (2015), passando por Ecocriticism on the Edge: The Anthropocene as a Threshold Concept, de Timothy Clark (2015), a Anthropocene Fictions: The Novel in a Time of Climate Change, de Adam Trexler (2015), um grande número de estudos têm analisado obras sob a ótica ambiental, evidenciando a importância crítica e a popularidade que essa literatura atingiu nos últimos anos.

No entanto, é importante frisar que a crítica ambiental e ecológica no âmbito da literatura não surge com a discussão da ficção climática, evidentemente. A ecocrítica já estava estabelecida como uma disciplina desde a década de 1990, segundo Cheryll Glotfelty e Harold Fromm (1996, p. XVIII), e, pelo menos desde a publicação de The Machine in the Garden, de Leo Marx (1964), a discussão sobre a intromissão tecnológica na pastoral americana era tema de investigação da crítica literária. Mesma época, inclusive, do lançamento de outro livro importante para os estudos do meio ambiente: Primavera silenciosa, de Rachel Carson (2002[1962]). Nele, Carson levantava a discussão sobre os impactos dos pesticidas na natureza e nos seres humanos. A publicação acabou contribuindo para a organização do movimento ambientalista naquela década, evidenciando não apenas o interesse já crescente das mulheres nas questões ambientais11 e climáticas, mas também suas posturas ativas em uma luta que coloca todos os grupos minoritários na linha de frente.

Nos últimos anos, a interferência humana na natureza, documentada por Marx e Carson na década de 1960, foi claramente intensificada e as discussões sobre Antropoceno têm ganhado cada vez mais espaço na crítica literária. O termo, popularizado em 2002 pelo químico Paul Crutzen, marca o fato de a influência humana na atmosfera da Terra ter sido tão intensa nos últimos tempos que, para alguns, seria mesmo adequado dizer que o planeta havia entrado em uma nova época geológica. No entanto, o termo ainda traz um pouco de discórdia e é visto por pesquisadores como Gilbert Scott mais como um evento do que uma época (Donna HARAWAY et al., 2015, p. 540-541); por pesquisadores como Anna L. Tsing como problemático (HARAWAY et al., 2015, p. 541), embora necessário de ser utilizado, e por Haraway como equivocado, uma vez que nenhuma espécie sozinha produz nada para utilizarmos o termo com o intuito de evidenciar apenas os humanos (HARAWAY et al., 2015, p. 539). Haraway, inclusive, traz a ideia de Chthuluceno para chamar atenção para os outros seres, os ctônicos, e suas potencialidades tentaculares (HARAWAY, 2016).

Mesmo a data exata para a nova era não sendo clara, como afirma Trexler (2015); e mesmo ainda não havendo um consenso sobre seu início, um grande número de cientistas e pesquisadores vem usando o termo para discutir as alterações que o planeta sofreu por causa da interferência humana nos últimos anos. Independentemente de concordarmos em uma data específica ou de termos ressalvas com o termo Antropoceno, a pesquisadora Sonia Torres (2017), ao analisar a literatura produzida nesse período, chama atenção para o fato de que a humanidade está mudando o planeta, e salienta que:

O impacto previsto implicará esforços de adaptação por parte da humanidade, por conta de emissões de gases e hiperaquecimento global e forças geofísicas e biológicas que fugirão ao controle humano. Secas, ciclones tropicais, ondas de calor, colheitas perdidas, enchentes, incêndios florestais e erosões são alguns exemplos extremos, com consequências extremas, como fornecimento insuficiente de água, má-nutrição e doenças infecciosas. Esses fenômenos levarão, por sua vez, à migração massiva e conflitos regionais cada vez mais intensos (p. 94).

E como viver nas ruínas do capitalismo é uma questão que permeia a cli-fi, uma vez que ela se caracteriza por englobar obras que lidam com desastres ambientais, sejam em narrativas que utilizam o nosso presente como cenário, como a de Kingsolver, quanto em narrativas que se passam em um futuro pós-apocalíptico, como a de Watkins, por exemplo. Boa parte da crítica feminista sobre o Antropoceno, da mesma forma, faz a mesma pergunta, como Danya Glabau (2017) observa em “Feminists write the Anthropocene: three tales of possibility in Late Capitalism”. Ao analisar três obras feministas seminais: Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene, de Haraway (2016), The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in Capitalist Ruins, de Anna L. Tsing (2015), e Against Purity: Living Ethically in Compromised Times, de Alexis Shotwell (2016), Glabau sugere (2017) que:

Haraway, Tsing, and Shotwell têm muito a dizer sobre o capitalismo no Antropoceno, mas elas não oferecem diretamente histórias de decadência, destruição e declínio. Ao invés disso, de uma maneira que lembra J.K. Gibson-Graham (2006), elas estão preocupadas em identificar espaços nos quais a vida possa ser suportável e fazem análises refinadas de práticas específicas e situadas12 (p. 545, tradução livre).

Talvez essa seja uma abordagem interessante para se analisar a cli-fi recente escrita por mulheres também. Identificar espaços nos quais a vida possa ser suportável é palpável nessa literatura, e é possível ver isso tanto na integração dos personagens de Gold Fame Citrus com a duna gigante que toma conta da Califórnia, quanto nas experiências que as borboletas monarcas que surgem na comunidade de Dellarobia proporcionam aos personagens de Flight Behavior. Essas narrativas não costumam inspirar uma salvação ou um mundo melhor imediato, mas prestar atenção nas possiblidades de mudança que elas indicam pode ser uma forma de as entendermos. Talvez focar nas possiblidades apresentadas seja uma boa maneira para também começarmos a sistematizar a ficção climática e pensarmos ela dentro dos gêneros literários. Focar nessas escritoras e darmos um pouco de atenção para uma visão que não seja apenas a do homem (Antropo) sobre o momento pode nos ajudar a desmanchar cânones, além de escutar novas sugestões sobre como lidar com o nosso momento, que por si só já é bastante distópico. A própria Haraway sugere que, em vez de focarmos no Antropoceno, talvez seja o momento de nós criarmos termos mais inclusivos para as outras espécies. Como Glabau (2017) reitera:

É através da atividade de atores esquecidos [...] que possibilidades para o futuro parecem emergir. E é identificando e problematizando o trabalho que acontece nas articulações do capitalismo global no Antropoceno que esses atores oferecem intervenções úteis para refazermos as categorias de política, parentesco e tecnociência para que nosso mundo possa se tornar mais habitável13 (p. 548, tradução livre).

Da mesma forma, olhando para a ficção climática recente, principalmente o que está sendo produzido pelas mulheres, temos uma possibilidade de refletir a crise ambiental por meio de outros olhares e pensarmos novas formas de sairmos dela. Tirando o foco do pensamento dominante, permeado por ideais excepcionalistas que estão imbuídos na literatura norte-americana por conta de todo o ethos estadunidense que a ideia de Sonho Americano carrega, a visão dessas escritoras pode trazer algo novo para os estudos literários. Afinal, elas nunca fizeram parte desse sonho - para começar. Prestando atenção no que autoras de outros espaços que não o norte-americano têm a dizer, também. Nosso mundo e a pandemia atual exigem novas formas de interagir com o meio ambiente, assim como mostram a necessidade de pensarmos outros sistemas que não o capitalista. Olhar para o que os grupos que continuamente são silenciados e ignorados têm a dizer é uma forma de aprendermos algo, e a ficção climática parece estar abrindo um espaço interessante para essas reflexões.

Com todas as mudanças pelas quais o planeta tem passado e com a quantidade de discussões na literatura sobre elas, é sintomática e bastante significativa a proliferação da cli-fi e o grande número de escritoras, principalmente na América do Norte. Como Leikam e Leyda (2017b) notam, desde a agenda antiambiental de Trump, com a sua decisão de sair do acordo de Paris, em 2017, a crítica dessa literatura parece estar cada vez maior e o país acaba surgindo “proeminentemente nas narrativas cli-fi14 (LEIKAM; LEYDA, 2017b, tradução livre). Não coincidentemente, 2017 foi o ano em que ocorreu a Women’s March (que ganhou novos atos em 2018 e 2019) e não é de se estranhar que o maior nome do ano passado no assunto meio ambiente, inclusive, seja o de uma adolescente, Greta Thunberg. As mulheres parecem estar atentas às mudanças climáticas, além de ativas na tentativa de revertê-las. A necessidade de repensar mitos nacionais, masculinidades, capitalismo e como isso tudo que afeta o meio ambiente está intrínseco à ficção climática e merece ser explorado. Da mesma forma, mapear e trazer para um debate comparativista escritoras de outros espaços que não o norte-americano é de extrema relevância, uma vez que são elas e esses lugares que estão sofrendo as primeiras consequências da crise ambiental. Como Gaard (2016) nota, “desigualdade de gênero significa que mulheres e crianças são quatorze vezes mais propensas a morrer em desastres ecológicos (Aguilar 2007; Aguilar et al. 2007)”15 (GAARD, 2016, p. 180, tradução livre) e pensar a crise atual através do olhar delas pode trazer soluções interessantes para o momento.

Referências

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1Do original: “So Hot Right Now: Has Climate Change Created A New Literary Genre?”.

2A autora optou por chamar “a” cli-fi para deixar marcado seu posicionamento de não entender essa literatura como um novo gênero literário - “o” cli-fi -, mas como uma temática que perpassa vários outros gêneros e que tem sido identificada como a “ficção de mudanças climáticas”, ou simplesmente como “ficção climática”.

3“[…] when novelists tackle climate change in their writing, they reach people in a way that scientists can’t”.

4Essa predominância é possível de ser observada quando analisamos listas de romances de ficção climáticas, onde, geralmente, o número de autoras ultrapassa o número de escritores homens. Como fica evidente nas listas da Five Books (Disponível em https://fivebooks.com/best-books/cli-fi-dan-bloom/), Penguin Random House (Disponível em https://www.penguinrandomhouse.com/the-read-down/want-read-cli-fi-heres-start/), Book Marks (Disponível em https://bookmarks.reviews/10-cli-fi-novels-for-the-dark-days-ahead/) e Book Riot (Disponível em https://bookriot.com/climate-fiction/), para citar algumas.

5“[...] North America, particularly the United States, is one of the most prolific global exporters of popular culture [...] with its leading role in historic and contemporary energy consumption and climate emissions, the United States frequently feature as a key agent in cli-fi narratives from all around the globe”.

6Para mais discussões sobre o assunto, recomendo a leitura de DALLA COSTA, Mariarosa; DALLA COSTA, Giovanna Franca (Orgs.). Paying the Price: Women and the Politics of International Economic Strategy. Londres: Zed Books, 1955, e TURNER, Terisa E.; BRONWHILL, Leigh S. (Orgs.). “Gender, Feminism and the Civil Commons. Canadian Journal of Development Studies, edição especial, n. 22, fev. 2001.

7Aqui, falo de listas como a que o site GoodReads.com oferece de literatura cli-fi (Disponível em https://www.goodreads.com/list/show/36205.Cli_Fi_Climate_Change_Fiction. Acesso em 05/07/2020), além de matérias que fazem listas de obras típicas dessa literatura, como as dos seguintes sites: NPR (Disponível em https://www.npr.org/2019/07/26/745379270/these-cli-fi-classics-are-cautionary-tales-for-today. Acesso em 05/07/2020), Penguin (Disponível em https://www.penguinrandomhouse.com/the-read-down/want-read-cli-fi-heres-start. Acesso em 05/07/2020), Sierra Club (Disponível em https://www.sierraclub.org/sierra/13-female-cli-fi-writers-who-are-inspiring-better-future-science-fiction-climate-change. Acesso em 05/07/2020), Book Marks (Disponível em https://bookmarks.reviews/10-cli-fi-novels-for-the-dark-days-ahead/. Acesso em 05/07/2020), Book Riot (Disponível em https://bookriot.com/2018/05/03/climate-fiction/. Acesso em 05/07/2020) e Five Books (Disponível em https://fivebooks.com/best-books/cli-fi-dan-bloom/. Acesso em 05/07/2020), para citar alguns.

8“[…] feminist criticism is itself inevitably a utopian project”.

9“women are the ones most severely affected by climate change and natural disasters due to social roles, discrimination and poverty”.

10“[…] the outbreak of such fictions is in part a response to the transition now taking place”.

11Como Atwood (2015) vai observar: “[...] thanks to Rachel Carson’s groundbreaking book on pesticides, Silent Spring, not all the birds were killed by DDT in the ’50s and ’60s”.

12“Haraway, Tsing, and Shotwell all have much to say about capitalism in the Anthropocene, but they do not offer straightforward stories of decadence, destruction, and decline. Instead, in a manner reminiscent of J.K. Gibson-Graham (2006), they are concerned with identifying spaces in which life can be made bearable through fine-grained analysis of specific, situated practices”.

13“It is through the activity of overlooked actors [...] that possibilities for the future are understood to emerge. And it is in identifying and problematizing the work going on in the joints of global capitalism in the Anthropocene that these authors offer useful interventions for remaking the categories of politics, kinship, and technoscience so that our world might be made more livable”.

14“[…] features prominently in cli-fi narratives”.

15“Gender inequalities mean that women and children are 14 times more likely than men to die in ecological disasters (Aguilar 2007; Aguilar et al. 2007)”.

16Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista: PEREIRA PENTEADO, Marina. “O futuro é feminista (e anticapitalista): a narrativa cli-fi escrita por mulheres”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 30, n. 2, e75807, 2022.

17Financiamento: Não se aplica

18Consentimento de uso de imagem: Não se aplica

19Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Recebido: 19 de Julho de 2020; Revisado: 15 de Dezembro de 2021; Aceito: 07 de Fevereiro de 2022

mahhhp@gmail.com

Marina Pereira Penteado (mahhhp@gmail.com) é doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde desenvolve atualmente estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Comparada, Literaturas Estrangeiras Modernas e Teoria Literária, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos de cultura, crise utópica, cli-fi e feminismo.

Contribuição de autoria: Não se aplica

Conflito de interesses: Não se aplica

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