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Revista Estudos Feministas

versión impresa ISSN 0104-026Xversión On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.30 no.2 Florianópolis mayo/aug 2022  Epub 01-Jun-2022

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2022v30n286996 

Seção Temática Fazendo Gênero em tempos de pandemia

Refletindo maternidades e redes sociais digitais a partir do feminismo matricêntrico

Reflecting maternity and digital social networks from matricentric feminism

Reflejando la maternidad y las redes sociales digitales desde el feminismo matricéntrico

Milena Freire de Oliveira-Cruz1 
http://orcid.org/0000-0001-5513-3837

Kalliandra Quevedo Conrad2 
http://orcid.org/0000-0002-1912-7912

1Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. 97105-900 - poscom@ufsm.br

2Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 05508-020 - cpq@usp.br


Resumo:

A partir de resultados de pesquisa quantitativa aplicada com mais de duas mil mães em todo o Brasil, neste artigo, visamos discutir de que maneira a escrita de narrativas pessoais sobre a maternidade e suas respectivas interações nas redes sociais digitais incidem nos processos de subjetivação do papel social das mães que constroem e ressignificam esses discursos. Os objetivos compreendem apresentar o feminismo matricêntrico como base teórica e conceitual; refletir sobre a maternidade e as redes sociais digitais; e analisar os sentidos de maternidade produzidos pelas e nas trocas e interações nas redes sociais digitais. Assim, do tensionamento entre as bases teóricas do feminismo matricêntrico com o material empírico foi possível observar que as práticas discursivas sobre a maternidade nas redes sociais possibilitam a estas mulheres reconhecer e falar sobre desigualdades que experimentam e que conformam seus papéis e identidades.

Palavras-chave: maternidades; redes sociais digitais; feminismo matricêntrico

Abstract:

Based on the results of quantitative research applied to more than two thousand mothers throughout Brazil, this text aims to discuss how the writing of personal narratives about motherhood and their respective interactions in digital social networks affect the processes of subjectivation of the social role of the mothers who construct and re-signify these discourses. The objectives include presenting matricentric feminism as a theoretical and conceptual basis; reflect on motherhood and digital social networks; and to analyze the meanings of motherhood produced by and in the exchanges and interactions in digital social networks. Thus, from the tension between the theoretical bases of matricentric feminism and the empirical material, it was possible to observe that the discursive practices about motherhood in social networks allow these women to recognize and talk about the inequalities they experience and that shape their roles and identities.

Keywords: Motherhood; Digital Social Networks; Matricentric Feminism

Resumen:

Con base en los resultados de una investigación cuantitativa aplicada a más de dos mil madres en todo Brasil, este texto tiene como objetivo discutir cómo la escritura de narrativas personales sobre la maternidad y sus respectivas interacciones en las redes sociales digitales afectan los procesos de subjetivación del rol social de la madres que construyen y resignifican estos discursos. Los objetivos incluyen presentar el feminismo matricéntrico como base teórica y conceptual; reflexionar sobre la maternidad y las redes sociales digitales; y analizar los significados de la maternidad producidos por y en los intercambios e interacciones en las redes sociales digitales. Así, a partir de la tensión entre las bases teóricas del feminismo matricéntrico y el material empírico, fue posible observar que las prácticas discursivas sobre la maternidad en las redes sociales permiten a estas mujeres reconocer y hablar sobre las desigualdades que viven y que configuran sus roles e identidades.

Palabras clave: maternidad; redes sociales digitales; feminismo matricéntrico

Introdução

Em estudo realizado com mães trabalhadoras de diferentes contextos sociais, Lisandra Moreira e Henrique Nardi (2009) refletem sobre como a maternidade atravessa os processos de subjetivação das mulheres a partir dos enunciados que sugerem padrões sobre quais as formas mais adequadas/legítimas de ser mãe. Para os autores, é fundamental articular a compreensão de suas trajetórias com o contexto social, cultural e histórico. Seguindo esse raciocínio, e, considerando os vários enunciados que circulam sobre o tema na Internet na atualidade, nos debruçamos, neste artigo, sobre a seguinte questão: “De que maneira a escrita de narrativas pessoais sobre a maternidade e suas respectivas interações nas redes sociais digitais incidem nos processos de subjetivação do papel social das mães que constroem e ressignificam esses discursos?”.

A partir de um questionário on-line, respondido por mais de duas mil mães de todos os estados brasileiros, analisamos uma parte dos dados coletados tendo em vista os objetivos deste artigo. Sendo assim, selecionamos as questões correspondentes às etapas 1 e 3 do referido instrumento, com foco no perfil sociodemográfico, percepções das respondentes sobre a maternidade e os diferentes usos das redes.

Para analisar os depoimentos das mães participantes da pesquisa e relacioná-los com o contexto social e histórico em que se constituem, acionamos os pressupostos que embasam a cultura da maternidade patriarcal (Andrea O’REILLY, 2016; 2019) para refletir sobre como estas mulheres compreendem e experienciam a maternidade e como observam qual o papel das redes no processo de troca, compartilhamento e conformação de sentidos e padrões sobre a experiência materna.

O texto está dividido em três etapas principais. Na primeira, apresentamos os princípios do feminismo matricêntrico, desenvolvido por O’Reilly (2016), bem como os dez pressupostos ideológicos da maternidade matriarcal. Na segunda etapa, refletimos sobre maternidade e redes sociais digitais, por meio de uma contextualização sobre as dinâmicas de performatividade (Beatriz POLIVANOV, 2019) bem como pela lógica de sociabilidade que sugere a exposição de um recorte idealizado na experiência materna. Por fim, apresentamos os delineamentos metodológicos do estudo e refletimos sobre os dados quantitativos e qualitativos à luz de pesquisadoras feministas que refletem sobre a maternidade e a maternagem nos contextos acadêmicos brasileiros e estrangeiros.

Feminismo Matricêntrico

A maioria das mulheres dedica uma parte significativa de suas vidas ao cuidado com terceiros, em especial, com seus filhos. A experiência da maternidade reverbera como parte importante da subjetividade e da compreensão que estas mulheres têm de si, das relações e papéis que estabelecem, bem como das perspectivas que elas têm sobre suas próprias vidas.

Como parte da experiência que colabora para a manutenção das mulheres no espaço privado, que reforça a construção social do feminino a partir das lógicas do afeto e do cuidado e, ainda, como pauta bastante expressiva para refletir sobre a divisão sexual do trabalho e o controle sobre os corpos femininos, a maternidade sempre tangenciou os debates feministas, estando constantemente em questão o significado social.

Este significado revela que, apesar de inúmeras mudanças ocorridas na situação social das mulheres, a realização da maternidade ainda compromete consideravelmente as mulheres e revela uma face importante da lógica da razão androcêntrica. Com toda certeza, a maternidade ainda separa as mulheres socialmente dos homens e pode até legitimar, em determinados contextos, a dominação masculina (Lucila SCAVONE, 2001, p. 149-150).

Em 2006, O’Reilly (2016, p. 10) instituiu o termo “estudos maternos” para apresentar e demarcar o conhecimento desenvolvido sobre o tema como um campo legítimo e autônomo, fundamentado em tradições teóricas sobre maternidade propostas por Patricia Hill Collins, Adrienne Rich e Sara Ruddick.

Para a autora, a maternidade é um tema pendente no feminismo, uma vez que existem questões específicas das mulheres-mães que permanecem sendo negligenciadas pelo movimento. A perspectiva dos estudos maternos está em colocar a maternidade no centro do debate, como uma opressão adicional sustentada pela lógica patriarcal. Para tanto, vê-se a necessidade de ultrapassar a abordagem do significado social da maternidade para compreendê-la em três dimensões: como experiência e como papel; como instituição e como ideologia; como identidade e subjetividade.

A inquietação proposta por O’Reilly (2019) vem da observação de que existem problemas e necessidades - sociais, econômicas, políticas, culturais e psicológicas - que demandam de maneiras específicas as mulheres que são mães, repercutindo em suas atividades e papéis sociais, bem como na conformação de suas identidades e subjetividades, o que leva à compreensão de que o patriarcado as oprime duplamente: como mulheres e como mães (O’REILLY, 2019).

É com base neste argumento que a autora propõe a sustentação do feminismo matricêntrico, que enfatiza as diferenças das categorias mãe e mulher, para que se possa refletir os modos a partir dos quais a maternidade patriarcal é opressiva para mulheres e desenvolver estratégias de resistência. Um passo conceitual importante para desvelar as opressões vividas pelas mulheres-mães está na distinção dos termos maternidade e maternagem. Para a autora, a maternidade é vista como instituição construída social e historicamente e a maternagem tida como prática que engloba os trabalhos que envolvem o cuidado, sendo estes também aprendidos e tornados hábitos. Assim, ao considerar a desnaturalização das noções de instinto e as habilidades do cuidado como inerentes às mães, compreende-se que as práticas da maternagem podem ser exercidas por qualquer pessoa e não apenas pela mãe da criança. Dessa forma, importa situar que a concepção de mãe, para o feminismo matricêntrico, não se trata de limitar as questões às mães biológicas, mas a todas pessoas que desenvolvem o trabalho materno como parte central de suas vidas (O’REILLY, 2016; 2019).

Em referência à obra de Adrienne Rich Of Woman Born: Motherhood as Experience and Institution, O’Reilly (2016) reflete que a maternidade não é uma condição humana, mas, sim, tem uma história e uma ideologia. Não é uma função natural, nem inevitável. É uma prática cultural, sendo redesenhada a partir de mudanças sociais e econômicas conforme diferentes contextos. “Como uma instituição patriarcal é socialmente construída, pode ser desafiada e mudada” (O’REILLY, 2016, p. 16).

Interessante perceber, neste contexto, que, embora as possibilidades e experiências da maternidade sejam bastante heterogêneas, existe um sentido hegemônico, normativo, que define parâmetros sobre o que se entende ser uma “boa mãe”, bem como o que é normal e natural em termos de vivência materna. Para refletir sobre como opera o discurso normativo sobre a maternidade, O’Reilly (2016) sistematizou o que ela denomina como “dez pressupostos da maternidade patriarcal”, descritos na figura abaixo.

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base em O’Reilly (2016).

#PraTodoMundoVer A imagem representa uma síntese dos pressupostos ideológicos da maternidade patriarcal, com base em O’Reilly, organizados em dez quadrados de cor azul e laranja, alternadamente. No primeiro quadrado, de cor azul, tem-se o seguinte texto: Essencialização - Posiciona maternidade como fundamento da identidade feminina; no segundo, de cor laranja, Privatização - Situa o trabalho materno exclusivamente nas esferas reprodutiva e doméstica; no terceiro, de cor azul, a Individualização - Transforma a maternagem em um trabalho de responsabilidade individual, centrado unicamente na figura da mãe; no quarto, de cor laranja, a Biologização - Enfatiza laços sanguíneos, posicionando a mãe biológica como a mãe autêntica e “real”; no quinto, de cor laranja, a Naturalização - Pressupõe que a maternidade seja natural para as mulheres, inferindo que todas já nascem sabendo como maternar “naturalmente”; no sexto, de cor azul, a Idealização - Estabelece modelos maternos inatingíveis, os quais reforçam as expectativas das mães sobre si mesmas e da sociedade sobre as mães; no sétimo, de cor laranja, a Especialização - Defende a criação dos filhos orientada por especialistas, demandando as práticas de maternagem em energia, dinheiro e esforços maternos; no oitavo, de cor azul, a Normalização - Restringe as identidades e práticas maternas ao modelo específico da família nuclear, sendo a mãe a principal cuidadora dos filhos e seu marido provedor econômico; no nono, a Intensificação - Defende a criação por métodos centrados nas crianças, intensamente trabalhosos, emocionalmente desgastantes; e, por fim, no último quadrado, de cor azul, a Despolitização - Caracteriza a criação e a educação dos filhos como atividades privadas, sem relações nem implicações sociopolíticas

Figura 1 Pressupostos da maternidade patriarcal 

Estes dez pressupostos ideológicos funcionam de modo articulado e podem ser observados tanto nas representações sociais que circulam sobre a maternidade no plano social e histórico, quanto nos sentidos presentes na cultura e nos meios de comunicação. Além de estruturar e manter a maternidade como instituição patriarcal, fragilizam a importância da maternagem e estimulam modelos maternos inatingíveis (Maria Collier de MENDONÇA, 2018), que facilmente contribuem para os sentimentos contraditórios que oscilam da romantização/idealização à frustração.

Maternidades e redes sociais digitais

Embora o trabalho materno seja essencializado e privatizado, logo, atribuído especialmente à mãe e, situado, principalmente, na esfera reprodutiva/doméstica, o seu reconhecimento e sua legitimação passam pelo crivo público/social. Ou seja, implica considerar que a maternidade patriarcal é um discurso normativo que policia, que restringe o poder de transformar e mudar a experiência opressiva da maternidade e patologiza as mães que não podem performar uma maternidade normativa (O’REILLY, 2016, p. 19).

Neste contexto, é interessante refletir sobre o conceito de maternidade intensiva, proposto por Sharon Hays (1998), cuja abordagem não se limita aos cuidados diretos das mães com as crianças. Para a autora, a noção difundida pela maternidade intensiva requer que a vida social, o tempo livre e as necessidades das mães estejam sempre, ou prioritariamente, voltadas às demandas dos filhos. Para O’Reilly (2016), o conceito elaborado por Hays nos ajuda a perceber o desenvolvimento de demandas maternas que, associadas à lógica capitalista, são supridas a partir de atividades públicas, orientadas por especialistas, que exigem investimento financeiro, emocional e de tempo das mães. O trabalho materno, nesse contexto, é passível de uma regulação produtivista que tanto sugere o “tempo de qualidade” da relação entre mães e filhos, como projeta os investimentos maternos a partir de uma dinâmica de performance (voltada para avaliação externa) e com uma perspectiva de retorno futuro - construção neoliberal bem assimilada pelas classes médias. Assim,

nos modelos maternos e de maternagem hegemônicos, nota-se a influência de concepções tradicionais (amor incondicional, vocação materna, afazeres da mãe ligados ao ambiente doméstico entre outras), aliada a exigências de otimização, respondendo a novas cobranças e definições femininas que, em boa parte, derivam do mercado (pressão estética, carisma dócil, investimento na carreira, assim por diante). [...] Nessa lógica de estimulação intensificada, mães são cobradas (e se cobram) e exercem suas funções maternais de forma cada vez melhor, sob os imperativos do sucesso e da felicidade (Ana Luiza FIGUEIREDO SOUZA; POLIVANOV, 2021, p. 139).

É a partir desse cenário que voltamos nossa análise para a circulação e o consumo de narrativas sobre a maternidade nas redes sociais digitais, tendo em vista a importância que estes espaços assumiram na contemporaneidade para a troca intersubjetiva e os processos de formação identitária (Bruno CAMPANELLA, 2019). Por um lado, importa ponderar o quanto as imagens, mensagens e associações construídas e postas em circulação pelos atores sociais nas redes se sustentam a partir de um princípio do que Campanella (2019) vai denominar reconhecimento midiático - que passa pela visibilidade e aprovação do “outro”. Desta forma, partimos do princípio de que, em grande medida, a lógica estabelecida nas redes sociais digitais sugere a construção de narrativas autobiográficas maternas que performam segundo um modo idealizado de vida (e da rotina materna), em que o cotidiano/ordinário é convertido como excepcional.

Ou seja, existe, entre os sujeitos que constituem as redes sociais digitais, um reconhecimento mútuo e um acordo do que é “socialmente significante, no qual admitem-se imagens identitárias construídas a partir de valores culturais previamente apreendidos” (Fernanda CARRERA, 2012, p. 156). Constrói-se, na rede, uma espécie de “contrato simbólico identitário” em que a intensidade dos vínculos e do pertencimento pode ser compreendida pelo grau de adesão a projetos coletivos estabelecidos virtualmente, que, por sua vez, estão relacionados com o reforço ou resistência a padrões normativos/hegemônicos (Clarisse CAVALCANTE, 2017). No caso das mães e das narrativas que fazem circular sobre maternidade, há a predominância da necessidade de demonstrar situações e sentimentos felizes, em uma perspectiva que articula satisfação e eficácia na experiência materna de um modo geral (FIGUEIREDO SOUZA; POLIVANOV, 2019).

Por outro lado, no escopo do nosso estudo, é interessante perceber que a vivência da maternidade, cuja experiência em boa parte de sua complexidade se dá em âmbito privado, passa a ser compartilhada e problematizada no espaço coletivo de forma ainda mais intensa a partir das redes sociais digitais, tornando os limites desse debate embaraçados. Nesse sentido, “[...] as redes emergem novas esferas públicas e privadas de onde é difícil discriminar que assuntos, de tudo o que se publica e se troca nas mesmas, correspondem ao interesse comum ou ao interesse particular” (Liliane BRIGNOL; Denise COGO; Silvia MARTINEZ, 2019, p. 197).

Nesta articulação entre público e privado, a noção de performance das mães nas redes também se manifesta a partir de uma outra perspectiva. Polivanov (2019, p. 114-115) reflete que existe uma cobrança coletiva para que as narrativas autobiográficas nas redes apresentem uma “coerência expressiva” (ou uma “consistência confirmada”) entre a aparência do sujeito, seu comportamento e o cenário da performance. Ocorre que esta coerência é, sabidamente, uma construção social, inatingível plenamente na prática. Assim, “nos sites de redes sociais há uma alta cobrança para sermos nós mesmos, para mostrarmos nossos selves reais, autênticos. [...] Mas que verdade seria essa?” (POLIVANOV, 2019, p. 115, grifos da autora).

Seguindo uma tendência de maior complexidade dos debates e a emergência de perspectivas mais politizadas sobre as questões de gênero nas redes sociais digitais nos últimos anos, a maternidade também tem sido problematizada em comunidades e fóruns virtuais. Assim, a evidente contradição entre o recorte idealizado da maternidade propagado nas redes sociais digitais e as tantas dificuldades, dúvidas e pressões que são experimentadas pelas mães em seu cotidiano, têm sido alvo de diversas críticas e testemunhos que vêm circulando na rede sob a reivindicação de expressar/debater a “maternidade real”.

Na perspectiva de Adriana Braga (2021), a dinâmica das mídias digitais possibilitou a existência e a segmentação midiática de uma variedade de perspectivas relacionadas à mulher e à maternidade:

A atividade comunicacional online motivou muitas mulheres a criarem seus próprios perfis, páginas e canais nos sites de redes sociais tematizando a experiência pessoal com a maternidade e assuntos relacionados. Nas duas últimas décadas surgiu uma infinidade de páginas dedicadas a este tópico. Assim, o ambiente digital midiático é socialmente apropriado por mulheres, resgatando uma prática social feminina que havia se tornado envelhecida, articulada a uma definição de conversa entre mulheres como assunto essencialmente fútil e desnecessário, enquadrado por uma ordem masculina. Do ambiente de trabalho ou doméstico, a partir do acesso às mídias digitais, a interação feminina encontra na Internet um lugar renovado de expressão (BRAGA, 2021, p. 27).

Para além das disputas e dos variados sentidos que a maternidade assume nas redes sociais digitais, nos interessa observar, nesse cenário, as diferentes formas pelas quais a presença e a manifestação das vivências maternas no espaço virtual possibilitam às mulheres/mães refletir sobre sua experiência e como/se estas trocas podem incidir nos processos de subjetivação dos papéis sociais e das suas identidades enquanto mães. Com este intuito, analisamos, neste trabalho, os dados coletados em questionário online sobre essa temática, respondido por mães de todo o Brasil, cujo percurso metodológico apresentamos a seguir.

Análise dos dados coletados

O artigo que desenvolvemos é parte de uma pesquisa mais ampla, realizada desde 2019 pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Gênero e Desigualdades (UFSM/CNPq),1 que tem como objetivo principal compreender de que forma os sentidos sobre maternidade circulantes nas redes sociais são interpretados pelas mães que narram suas histórias e como (ou se) a escrita de si incide na subjetivação de identidade materna.

A investigação estava na fase de mapeamento de sentidos da maternidade a partir das práticas da maternagem presentes no Instagram quando, em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou o estado de pandemia pela Covid-19 no mundo. Considerando a necessidade premente de compreender as consequências vividas pelas mães brasileiras em um contexto que apresentava dificuldades e desafios de toda ordem, a pesquisa foi reconduzida para observar a relação entre maternidade, trabalho do cuidado e redes sociais no contexto pandêmico. Assim, foi realizada uma pesquisa quantitativa por meio de um formulário on-line na plataforma Google Forms, disponibilizado entre os dias 16 de junho e 01 de julho de 2020. Ao todo, foram obtidas 2.194 respostas de mães de todos os estados brasileiros. O instrumento foi dividido em três etapas: 1) perfil sociodemográfico e percepções sobre a maternidade; 2) maternidade e pandemia; e 3) maternidade e uso das redes.

Tendo em vista os objetivos deste artigo, nos concentramos em analisar questões fechadas e abertas presentes nas etapas 1 e 3.

Como parte na análise qualitativa, foram selecionadas as respostas da questão aberta do questionário, que coletou comentários ou aspectos sobre o tema que as respondentes gostariam de expor livremente. Para isso, foi aplicado um recorte a fim de construir um corpus que atendesse ao objetivo de analisar os sentidos de maternidade produzidos pelas e nas trocas e interações nas redes sociais digitais. Como critério, selecionamos as respostas que relacionavam a maternidade com as redes sociais digitais, especialmente pelo uso de palavras como “expor”, “exposição”, “postar”, “postagem”, “compartilhar”. Foi realizada uma leitura flutuante do material coletado e, em um segundo momento, as respostas foram categorizadas de modo a evidenciar os sentidos predominantes sobre a experiência de maternidade e sua relação com as redes sociais digitais. Após a codificação, realizamos uma articulação teórica dos dados empíricos com os pressupostos ideológicos que mantêm a maternidade como instituição patriarcal a partir da proposta do feminismo matricêntrico desenvolvida por O’Reilly (2016). Neste percurso, espera-se apresentar, a partir das interpretações das mães participantes na pesquisa, de que forma a interação nas redes sociais colabora para acentuar e/ou resistir à dominação de gênero experimentada a partir da maternidade.

Os dados quantitativos coletados no questionário, especialmente pelo amplo número de respondentes, possibilitaram observar um panorama bastante interessante para compreender como se dão as trocas e interações nas redes sociais sobre maternidade e como esta partilha repercute na experiência de mães que constroem suas narrativas virtuais. Para melhor sistematizar nossa reflexão, iniciamos o debate a partir de três questões fechadas do instrumento, cujos dados quantitativos nos permitem compreender de forma contextual as percepções das mulheres sobre as redes como espaço de informação, troca de experiência e compartilhamento de suas vivências maternas.

Conforme os depoimentos das mães são convergentes à reflexão do contexto, vamos articulando suas falas no encadeamento da argumentação já nesta primeira etapa da análise. Na sequência, partimos para a observação de algumas temáticas adicionais levantadas na questão aberta, em que as mães expuseram suas percepções, expectativas e críticas no que diz respeito à exposição e aos debates sobre a maternidade nas redes sociais digitais.

Em um primeiro momento do instrumento, procuramos compreender se as mães publicavam posts sobre maternidade ou sobre seus filhos nas redes sociais. Segundo pode ser visto na Figura 2, a maior parte das mães (56,9%) afirmou que publica imagens e situações engraçadas ou bonitas do seu cotidiano, seguido de 29%, que fazem postagens sobre situações de aprendizagem de seus filhos - que, na perspectiva do desenvolvimento infantil, também podem ser consideradas como momentos positivos.

Fonte: Elaborado pelas autoras

#PraTodoMundoVer Na imagem, há um fundo azul, com uma figura colorida na parte superior esquerda e, ao lado, a pergunta: Compartilha sua experiência materna nas redes? Logo abaixo, tem-se as seguintes respostas, dispostas em um gráfico de barras: 56,9% - posto fotos e imagens engraçadas/bonitas do nosso cotidiano; 34,6% - não compartilho situações sobre maternidade/meu filho nas redes; 29% - compartilho situações de aprendizagem da criança; 22,8% - compartilho conteúdos de perfis sobre maternidade que sigo nas redes; 19,7% - compartilho desabafos sobre desafios e dificuldades da maternidade; e 13,4% - compartilho informações sobre cuidado com a criança

Figura 2 Publicações sobre maternidade nas redes 

De modo predominante, as postagens que performam um cotidiano familiar idealizado e uma vivência materna satisfatória e feliz reverberam aceitação, aprovação e reconhecimento das mães autoras dos posts. Esse reconhecimento envolve uma dimensão social mais ampla, uma vez que reforça um padrão normativo da maternidade e, por isso, não sugere debate, contestação ou crítica. Em uma perspectiva mais próxima, sustentar uma experiência idealizada da maternidade no ambiente digital suscita também um reconhecimento intersubjetivo, que estimula estima, respeito e sentimentos positivos passíveis de mensuração a partir do princípio de popularidade das redes - contabilizados em curtidas, comentários e número de seguidores (CAMPANELLA, 2019). Essa noção ajuda a compreender os motivos pelos quais as postagens com temáticas negativas (desafios e dificuldades) sobre a maternidade assumem uma posição inversamente proporcional, com 19,7% das respostas. A postura crítica ou que reflete sobre as dificuldades impostas pelo padrão normativo (que condiciona as práticas e os sentimentos ideais de uma “boa mãe”) pode ser tida como algo controverso já no cotidiano dessas mulheres. Reivindicar este debate na rede social, com uma potência de exposição pessoal ainda mais ampla, pode provocar um incômodo que a maior parte das respondentes não se dispõe a experimentar.

É interessante observar, em outra perspectiva, que uma parte expressiva da amostra (34,6%) afirmou que não costuma compartilhar situações sobre maternidade ou sobre seus filhos nas redes sociais. Em um cruzamento dos dados, foi possível mensurar que a maioria (72%) das mães que não costuma fazer postagens sobre maternidade tem filhos acima dos 5 anos. Por uma via, este dado nos permite inferir que há uma tendência em publicar e compartilhar a experiência da maternidade no período que compreende a primeira infância, quando a prática da maternagem intensiva (HAYS, 1998) tende a ser mais exigente para as mães, uma vez que os cuidados, as cobranças e descobertas são mais recorrentes.

Por outro lado, existe a maior dependência dos bebês e os tantos momentos de aprendizagem (para ambos) nesta fase inicial da maternidade, os quais reforçam as premissas da individualização, privatização e naturalização da maternagem patriarcal (O’REILLY, 2016). Além de ser considerada a principal responsável pelo bebê, a mãe é reconhecida como alguém naturalmente capaz de estabelecer vínculos afetivos e seguros para o desenvolvimento ideal do seu filho em um momento tão frágil e sensível como os primeiros anos de vida. Também é da mãe que se espera a construção e o registro de uma narrativa sobre a vida e os aprendizados de seu filho nesta fase, seja nas redes digitais ou fora delas - como pode ser observado nos depoimentos a seguir:

Infelizmente, existe uma cobrança de familiares para vc expor seus filhos nas redes sociais. Algo que eu não faço com frequência. Também me sinto incomodada com fotos que envio para familiares, sem intenção de ir para as redes, que os familiares postam sem minha permissão [mãe de 2 filhos, casada, acima de 45 anos, residente no RN].

Creio que exista sim uma expectativa nas redes sociais de uma maternidade perfeita. E ao mesmo tempo muitas páginas ensinando como você deve cuidar do seu filho, eu não concordo com nada disto. Prefiro seguir meu instinto de mãe e quando preciso peço ajuda para minha mãe, irmã e amigas [mãe de 1 filho, casada, 41 a 45 anos, residente em SP].

Os relatos acima permitem compreender a existência de uma pressão externa (ou, mesmo, da própria família) de manter-se presente nas redes e de performar a maternidade de maneira idealizada, conforme lógicas de sociabilidade e exposição bastante contemporâneas no ambiente digital. O segundo depoimento, em especial, revela um outro aspecto interessante - a resistência a esta pressão de performance, bem como a uma pedagogia da maternidade presente nas redes, a partir da valorização do “instinto materno” - uma compreensão que se sustenta pela premissa na naturalização (O’REILLY, 2016), sendo as mães (e outras mulheres da rede de apoio) naturalmente aptas ao exercício da maternagem.

A criação de vínculos e o uso das redes para interação e troca de informações sobre a maternidade foi outro aspecto observado em nossa investigação (Figura 3). De acordo com os dados, as redes sociais são compreendidas como fonte de informação sobre maternidade com pessoas próximas por 45,4% das respondentes e, a partir de fontes especializadas (produtores de conteúdo, influenciadores digitais), por 36,5% das mães.

Fonte: Elaborado pelas autoras

#PraTodoMundoVer A imagem representa um gráfico de barras de cor laranja, com uma imagem ilustrativa no canto superior esquerdo e, do lado direito, o título As redes sociais são espaço para informação e interação sobre maternidade? Abaixo, constam as porcentagens para cada resposta, sendo: 45,4% me informo nas redes com pessoas próximas; 36,4% me informo em contas de produtoras de conteúdo (influencers/pessoas públicas); 33,7% participo de grupos de interação sobre maternidade nas redes (Wapp/Inst/Twi); 23% não me informo, não troco informações sobre maternidade nas redes; 22% interajo (comento/compartilho) nas redes incluindo minha experiência; 18,9% participo de grupo no Facebook sobre maternidade

Figura 3 Informação e interação nas redes sociais 

A reflexão sobre a maternidade partir das representações circulantes nos espaços midiáticos nos remete à reflexão feita por Renata Tomaz (2015) sobre a potência de pensar, desde produtos midiáticos temáticos (revistas, guias, livros e séries) que introduzem de forma pedagógica as boas práticas da maternagem, até a reconfiguração destas pautas nas redes sociais digitais, como um arranjo entre mães, mídia e especialistas, que repercute na construção de identidades maternas. Os depoimentos a seguir são interessantes para pensar essa dimensão:

A sociedade impõe às mulheres que sejam casadas e mães. Assisti [a] uma série e li alguns artigos que me fizeram refletir sobre o que é ser mãe. Várias mulheres engravidam sem querer, ou por imposição do marido. A maternidade é cansativa, dependendo da situação econômica é mais complicado ainda. [...] A sociedade não compreende de verdade que, antes de ser mãe, a mulher é um ser humano, que também tem suas necessidades pessoais [mãe de um filho, solteira, 18 a 25 anos, residente no RS].

Não me sinto pressionada a falar apenas de coisas positivas em relação à maternidade. Pelo contrário, acho que hoje em dia se fala muito dos desafios e dificuldades da maternidade. Eu só posto fotos do meu filho, mas não é do meu perfil expor problemas nas redes sociais. Mas me ajudou muito ler e ver postagens, blogs e outras coisas sobre as dificuldades da maternidade para me sentir mais “normal”. Tive depressão pós-parto e foi muito importante pra mim ver que outras mães passavam pelas mesmas dificuldades [mãe de 1 filho, casada, 36 a 40 anos, residente no RJ].

Pelo que demonstram os relatos acima, a rede social digital pode ser um espaço de troca e de identificação mútua com outras mães que passam por situações e sentimentos semelhantes. Da mesma forma, o consumo de determinados produtos midiáticos pode se tornar uma oportunidade de reflexão sobre as contradições das experiências maternas.

Os espaços coletivos de conversa sobre maternidade se mostraram um subsídio importante para as respondentes, sendo os grupos no WhatsApp, Instagram e Twitter citados por 33,7% das mães e, as comunidades do Facebook, por 18,9% delas. Este aspecto remete ao potencial das redes para a formação de vínculos, processos de identificação, “comunicação, conhecimento, assim como as trocas de sensibilidade, relações sociais, as narrativas culturais, as instituições políticas e de mobilização social” (BRIGNOL; COGO; MARTINEZ, 2019, p. 193). Temos, assim, o conceito de comunicação como partilha - as redes sociais digitais como um espaço comum onde as mães interagem, trocam e compartilham situações e sentimentos comuns à maternidade, especialmente os relacionados às “dificuldades”, “desafios”, “angústias”, “medos”, “cansaço”. Os depoimentos coletados ajudam a observar essa dimensão da rede social como rede de apoio:

​​As redes sociais muitas vezes funcionam como uma rede de apoio secundária, pois, como lá tem todo o tipo de maternagem, acabo encontrando pessoas que entendem a maternidade da mesma forma que eu, o que acolhe e incentiva nos momentos de mais cansaço/desafios [mãe de 3 filhos, casada, 31 a 35 anos, residente no RS].

Os grupos de mães e as trocas de informação e desabafos nos auxiliam a entender e superar os aspectos difíceis da maternidade e perceber que é comum o sentimento de cansaço, os sentimentos conflitantes. Mas também percebo que o excesso de informação deixa a maternidade mais pesada (apesar de ver muitos progressos no autodesenvolvimento e autoconsciência após a chegada dos filhos) [mãe de 3 filhos, casada, 31 a 35 anos, residente em MG].

No que diz respeito às trocas nas redes, é importante pontuar uma diferenciação feita por uma parte das respondentes entre o que se publica nas redes sociais de conteúdo mais público (como Facebook e Instagram) e o que se compartilha nas redes sociais de troca de mensagens, de cunho mais privado, como o WhatsApp.

De acordo com os relatos, percebe-se um espaço de negociação sobre os papéis que as mães assumem nas redes sociais digitais que interfere nas relações entre o público e o privado - o que remete ao pressuposto da privatização (O’REILLY, 2016). Segundo os depoimentos, as mães definem o que, em relação à vida de seus filhos, fica no âmbito privado e o que circula no âmbito público do Instagram, de acordo com as prerrogativas de aceitação social. Talvez por isso o WhatsApp assuma o lugar do privado, em que é possível obter mais controle sobre as informações e trocas sobre a maternidade e a vida dos filhos. Assim, são as mães que “decidem” o que e se será postado nas redes; elas se responsabilizam pelo conteúdo, a partir de uma lógica de uso das redes sociais digitais que já está posta.

No Instagram eu evito postar sobre a minha filha, mas utilizo bastante o WhatsApp para enviar fotos e informações a amigos e familiares [mãe de 1 filho, casada, 31 a 35 anos, residente no ES].

Busco não expor algumas coisas nas redes mais abertas (como Instagram) por respeito à privacidade dos meus filhos, faço mais com comentários genéricos do que com coisas muito pessoais, pois não gostaria de ver meus problemas e dificuldades expostos assim. Costumo usar grupos de Whats para tratar assuntos mais pontuais [mãe de 2 filhos, casada, 31 a 35 anos, residente em SC].

Acho muito diferente a relação com o Facebook e Instagram e com o WhatsApp por exemplo. Nos dois primeiros praticamente não compartilho nada, mas no WhatsApp em conversas mais privadas com amigas íntimas e com familiares compartilho o lado A e o lado B da maternidade! [mãe de 1 filho, casada, 36 a 40 anos, residente em SP].

Entendemos que a opção por não tornar as questões relacionadas à maternagem públicas pode ser uma forma de sustentar a privatização da maternidade, tornando-a, como tem sido historicamente, restrita à esfera doméstica. Por outro lado, é interessante observar a relevância da presença e da validação do Outro (neste caso, de outras mães) para os processos de subjetivação das práticas do trabalho materno, bem como o envolvimento emocional e intelectual que constituem o “maternal thinking” (Sara RUDDICK, 1995). Para Ruddick (1995), as práticas maternas se conformam pelas demandas de preservação da vida da criança, seu desenvolvimento emocional, cognitivo, sexual e intelectual que, por sua vez, orientam e ajustam os processos de adaptação e aceitação social dos seus filhos. Essas demandas, segundo a autora, dizem menos das necessidades da criança e mais dos grupos sociais em que as mães estão inseridas (RUDDICK, 1995).

A criação dos filhos, portanto, se configura como um processo carregado de dúvidas, que remete a uma aprendizagem constante que se dá de forma individual e coletiva. Manter-se exercitando e elaborando práticas de maternagem dentro de um parâmetro que configura o que vem a ser uma “boa mãe” requer disciplina e vigilância. As trocas com outras mães nos grupos virtuais, neste sentido, tanto podem ajudar a expor dúvidas e dilemas do processo de criação e educação das crianças, quanto podem endossar as opressões do padrão normativo de maternagem (uma vez que são majoritariamente apoiadas e referendadas coletivamente). Para Ruddick (1995), este treinamento é complexo e exaustivo para as mães, uma vez que empreende uma dupla disposição para negociar com a validação social.

É neste movimento, entre adaptar-se ao padrão normativo e tentar blindar-se da opinião alheia, que se desenvolve a noção de inautenticidade materna, quando a mãe repudia suas próprias percepções e valoriza/autoriza as dos outros, culminando no sentimento de que nunca se consegue ser boa o suficiente como mãe (RUDDICK, 1995), como pode ser observado nos depoimentos a seguir:

Ver outras mães no Instagram me faz sentir às vezes uma mãe ruim. Parece que para A ou B é tudo fácil e perfeito. Luto contra esses pensamentos e tem horas que dá vontade de excluir meu perfil [mãe de 2 filhos, casada, 36 a 40 anos, residente no ES].

As mães são muito julgadas ao questionar aspectos negativos da maternidade, em especial por outras mães. Tornar-se mãe é acompanhado de um complexo de virar alguém que consiga dar conta de tudo e, consequentemente, uma eterna angústia por não conseguir fazer o que se precisa com a qualidade que antes conseguia (seja em relação a casa, trabalho, estudo) e ser a mãe que gostaria de ser. O lado da maternidade que é sempre exposto é o da mãe que parece ter horas a mais no seu dia, a “mulher maravilha”, a famosa Maria que “não vive, apenas aguenta”. Apesar de ser consolador ver outras mães expondo suas experiências reais [...] ainda existe muita dificuldade em fazer isso tanto pela dificuldade em livrar-se do ideal de ser mãe [a]o qual me referi antes, quanto pela recriminação, em especial por mulheres mais velhas ou mais conservadoras [mãe de 1 filho, casada, 18 a 25 anos, residente no RS].

A maternidade real choca a sociedade que se acostumou com a imagem da mãe perfeita, que tudo suporta, que é só paciência e entrega. Romantizam rotinas maternas que são absurdamente exaustivas. A ideia da “Super Mãe” é cruel, é irreal e injusta. As mães que não conseguem seguir esse ideal de perfeição se sentem diminuídas, incapazes em seus “papéis” [mãe de 3 filhos, casada, 31 a 35 anos, residente no DF].

As percepções das respondentes sobre as redes sociais digitais e os usos que fazem delas são reflexos dos conflitos e contradições que discutimos até aqui. As respostas da Figura 4 tornam explícito o reconhecimento dos usos destes espaços para a experiência materna pela maior parte da amostra. Para 22,5% das respondentes, as trocas de informação nas redes sociais ajudam a reconhecer a importância sobre as dificuldades e desigualdades pelas quais passam as mães. Neste mesmo sentido, 19,7% delas afirmaram que leem e “curtem” publicações que falam sobre as dificuldades ou repercutem situações da maternidade real. Entretanto, o consumo deste tipo de conteúdo se restringe a uma interação mais discreta, uma vez que optam por não compartilhar em seus perfis posts que problematizam a maternidade.

Fonte: Elaborado pelas autoras

#PraTodoMundoVer A imagem representa as respostas sobre as percepções e uso das redes. Sob um fundo azul, o título encontra-se na parte superior esquerda, em cor amarela. Abaixo, há uma figura ilustrativa e, abaixo dela, em um quadrado de cor roxa, há o seguinte texto: 22,5% Importância das redes - as trocas de informações nas redes me ajudaram a reconhecer a importância do debate sobre as dificuldades/desigualdades que passam as mães. Do lado direito da imagem, apresenta-se a continuação das respostas, cada uma delas representada por quadrados de cores diferentes, com um texto descrito em seu interior e suas respectivas porcentagens. O texto de cada quadrado é o seguinte: 7% Espaço inapropriado - eu concordo que as redes sociais não são espaço adequado para falar de questões pessoais/dificuldades da maternidade; 9,4% Posts positivos - procuro não me sentir pressionada, mas acabo postando principalmente situações positivas da maternidade; 12% Uso do humor - compartilho conteúdos sobre as dificuldades da maternidade que têm tom de brincadeira; 12,7% Não se sente à vontade - não me sinto à vontade para postar alguma situação ruim/desconfortável sobre maternidade; 16,7% Positivos e dificuldades - costumo usar as redes para falar de situações positivas, mas também para compartilhar textos sobre situações difíceis e enfrentamentos da maternidade; e 19,7% Curte, não compartilha - eu leio/curto mensagens que falam sobre dificuldades ou cenas da maternidade real, mas não compartilho

Figura 4 Percepções e usos das redes 

Uma parte do conjunto de mães participantes da pesquisa (12,7%) afirmou que não se sente à vontade para publicar em seus perfis pessoais alguma situação ruim/desconfortável sobre a maternidade, enquanto um outro grupo de igual proporção (12%) mencionou que, quando usa as redes sociais para repercutir algum conteúdo que explicita dificuldades da maternidade, o faz através do recurso do humor - o que pode ser entendido como uma forma de suavizar a crítica.

Nos últimos tempos tenho percebido o aumento de postagens que mostram a “maternidade real”. Reforçando o conceito de que a maternidade não é composta apenas por momentos bonitos e emocionantes. Consumo esse tipo de conteúdo e acho extremamente válido, mas não costumo utilizar minhas redes sociais para mostrar muitos detalhes da minha vida pessoal, por isso acabo resumindo as postagens a momentos engraçados ou que valham uma lembrança no futuro. Já recebi mensagens falando sobre como minha família parece de “comercial de margarina”, mas nesses casos sempre respondo dizendo que a realidade não é assim, que temos momentos incríveis assim como momentos difíceis [mãe de 1 filho, casada, 26 a 30 anos, residente no PR].

Esta ponderação das respondentes entre os conteúdos que consomem e aqueles que publicam sobre maternidade pode demonstrar a eficiência da construção normativa da maternidade patriarcal, em consonância com a predominância nas redes de narrativas idealizadas de vida, que sugerem a exposição de momentos felizes e de realização.

Em uma outra perspectiva, é interessante refletir que a elaboração de sentidos sobre a maternidade a partir dos usos das redes sociais digitais não se restringe àquilo que cada uma escreve ou escolhe para constituir sua persona online (POLIVANOV, 2019). Ler e consumir conteúdos sobre a temática é parte significativa desta elaboração. Sobre este aspecto, Lorin Arnold e BettyAnn Martin (2016) refletem que

À medida que as mães encontram ou participam de várias formas de mídia, sociais e outras, elas interagem e criam representações das mães e da maternidade. Como parte do tecido da realidade social, essas representações afetam as compreensões não apenas das mães, mas de si mesmas [...] Embora a mídia social seja vista principalmente em termos de participação ativa (ou seja, escrita), o ato de ler em si é uma forma de interação e participação que pode afetar o pensamento de alguém (p. 20-21).

Pela análise das respostas, é possível identificar que as dinâmicas que envolvem as redes sociais digitais são atravessadas, especialmente, pelo pressuposto ideológico da maternidade patriarcal de idealização (O’REILLY, 2016). De modo geral, tanto para as mães que postam quanto para as que não o fazem, o ideal de maternidade funciona como um parâmetro que, pode-se dizer, determina o uso das redes sociais digitais.

Apesar da pressão pelo politicamente correto quanto à maternidade, aos amigos da rede social, posto sempre a real e todas as dificuldades da maternidade. Fiquei surpresa [com] o quanto ser mãe é mais difícil do que qualquer coisa que ouvi em toda minha vida. As mães têm vergonha de expor a parte difícil de ser mãe por medo de ser julgada (sic) [mãe de 3 filhos, casada, mais de 45 anos, residente no DF].

Pode-se perceber um deslocamento das práticas de maternagem do espaço privado para o espaço público das redes sociais digitais; o que vai ao encontro do pressuposto da privatização (O’REILLY, 2016). Daí decorrem os sentidos de “vergonha” e “medo de ser julgada” mencionados pelas mães que, agora, passam a produzir significados que desromantizam a maternidade, promovendo rupturas com os padrões normativos vigentes.

Os modos de significar as maternidades se acomodam às dinâmicas e às lógicas das redes sociais digitais, com a finalidade de obter “reconhecimento midiático” (CAMPANELLA, 2019). “Os sites de redes sociais constituem, portanto, espaços que possuem recursos por meio dos quais os usuários articulam a maneira como desejam se apresentar aos demais [...] empreendendo performances de si nesses espaços” (SOUZA; POLIVANOV, 2019, p. 44). Observamos, a partir disso, que, para as mães, as redes têm oportunizado mais espaço para outras camadas de significado sobre a maternidade, como a “real”. Por outro lado, elas mencionam uma preocupação com a exposição dos filhos e com a camada de significado sobre a maternidade que será visibilizada.

Um conjunto significativo das respostas indica determinadas classificações sobre a maternidade nas redes sociais digitais. As mães mencionam a “maternidade real” e a “romantização da maternidade” como polos complexos que se inter-relacionam para construir modos de significação das práticas de maternagem. Neste sentido, elaboramos o seguinte esquema-síntese (Figura 5) como forma de refletir as relações entre redes sociais digitais e as experiências de maternidade a partir dos depoimentos.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

#PraTodoMundoVer A imagem representa um esquema-síntese de análise sobre os sentidos dos depoimentos acerca das experiências de maternidade. Sob um fundo branco e com o título Tensões entre público e privado, o esquema possui uma esfera de cor azul no seu centro, com o texto idealização da maternidade - pressuposto ideológico da maternidade patriarcal. Dessa esfera saem quatro flechas, as quais remetem aos textos das partes esquerda e direita. Na parte lateral esquerda, tem-se os seguintes textos: as redes são um espaço de troca e partilha dos momentos negativos da maternidade. Há um traço vertical em preto ligando esse texto a outro, a (des) privatização da maternidade, e outro traço vertical preto, relacionando o texto maternidade real. Na parte lateral direita, no canto superior, há o texto as redes são um espaço inadequado para a exposição dos filhos e, abaixo, há um traço vertical de cor preta que se liga ao texto maternidade romântica. Há, ainda, traços de cor preta, na horizontal, que relacionam os textos da parte superior e inferior

Figura 5 Esquema-síntese na análise de sentidos dos depoimentos 

A maternidade dita real está associada a conteúdos negativos, enquanto a romantização diz respeito a um ideal de maternidade, produzido e reproduzido pela ideologia da sociedade patriarcal, como já mencionado. Quando a maternidade é significada como real, múltiplos sentidos se apresentam. A maioria das mães encara a maternidade real como um suporte para os momentos difíceis, relatando o quanto o consumo de conteúdos desse tipo foi importante para criar um senso de pertencimento e solidariedade com outras mães que passavam pelas mesmas questões.

Outras entendem que as redes sociais digitais não são um lugar para expor problemas, dificuldades e sentimentos conflitantes, remetendo ao que O’Reilly (2016) denomina, no espectro dos pressupostos ideológicos da maternidade patriarcal, de privatização. Nesse sentido, as redes sociais digitais são vistas como um lugar capaz de abrir a possibilidade de desromantizar a maternidade. No entanto, essa possibilidade, por vezes, é minada pelo medo das mães de serem julgadas por questionar o padrão idealizado de maternidade. Entre um polo e outro, contudo, o centro do conflito é o mesmo, reconhecendo ou não, resistindo ou não, é a existência da maternidade patriarcal, enquanto um discurso normativo que regula e oprime as mulheres/mães, que se revela como fruto dos dois sentidos ali expostos.

Considerações finais

Para Braga (2021), os espaços construídos nas redes digitais que repercutem e fazem circular sentidos que problematizam a maternidade têm operado mais como um lugar de apoio, encontro, do que como organização coletiva, o que “orienta suas ações no cotidiano para fins práticos, mas não políticos, pois discutem, experimentam e teorizam a maternidade como questão pessoal” (BRAGA, 2021, p. 37). Embora esta seja uma leitura coerente, entendemos que o processo de individualização, de privatização das questões (e dos problemas, dilemas) que envolvem a maternidade são parte do funcionamento das premissas da maternidade patriarcal, fortalecidas também pela lógica neoliberal - que estimula a compreensão da família como um “projeto de vida” coletivo e a maternidade como uma “escolha” pessoal, cuja responsabilidade e demanda recaem especialmente sobre a mulher/mãe.

Por outro lado, não podemos deixar de pontuar o quanto o exercício da reflexão, da troca, potencializado pelas redes, pode criar novas perspectivas e novas práticas. Neste contexto, “a comunicação sobre e entre mães nas mídias sociais representa um fórum diferente para a criação de novos entendimentos sobre a maternidade e encenações da maternidade por meio da conversa” (ARNOLD; MARTIN, 2016, p. 21). E, neste sentido, cabe apontar também a existência e fortalecimento, no Brasil, especialmente nos últimos anos, de coletivos maternos que se articulam principalmente no ambiente virtual para dar visibilidade a pautas e organizar ações políticas que reivindicam direitos das mães e das crianças.

Partindo do entendimento de que existe uma dinâmica em movimento, um debate crescente sobre a maternidade, estimulado pela participação (organizada ou não) de mães nas redes sociais digitais, colocamos em perspectiva o pensamento de Sonia Alvarez (2014) quando reflete sobre os fluxos horizontais (que ela denomina sidestreaming) dos discursos e práticas dos feminismos plurais na atualidade potencializados pela Internet. Para Alvarez (2014), os “espaços discursivos, em si mesmos, constituem formações nitidamente políticas nas quais a cidadania é construída e exercida [...] as necessidades e identidades são forjadas e os poderes e princípios são negociados e disputados” (p. 19, grifos da autora).

Neste sentido, queremos entender que as práticas discursivas sobre a maternidade nas redes sociais (em que pese suas limitações, contradições e avanços), possibilitam a estas mulheres reconhecer e falar sobre desigualdades que experimentam e que conformam seus papéis e identidades. Esta desacomodação, em si, pode estimular (em diferentes proporções) processos de resistência, agência, autoridade e autonomia materna: princípios apontados por O’Reilly (2016) como caminhos necessários para a articulação e manutenção de uma maternidade empoderada.

Referências

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1Agradecemos às demais componentes do grupo, que colaboraram com a coleta e com quem tivemos a oportunidade de debater sobre os dados aqui apresentados: Antônia Haag, Ana Clara Ribeiro, Carolina Farneze, Nathalia Brum e Júlia Perez.

2Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista: OLIVEIRA-CRUZ, Milena Freire de; CONRAD, Kalliandra. “Refletindo maternidades e redes sociais digitais a partir do feminismo matricêntrico”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 30, n. 2, e86996, 2022

3Financiamento: Não se aplica

4Consentimento de uso de imagem: Não se aplica

5Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Recebido: 12 de Abril de 2022; Revisado: 20 de Maio de 2022; Aceito: 27 de Maio de 2022

milena.freire@ufsm.br

kalliandraconrad@gmail.com

Milena Freire de Oliveira-Cruz (milena.freire@ufsm.br) é doutora em Comunicação, professora do Departamento de Ciências da Comunicação e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Maria. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Comunicação, Gênero e Desigualdades da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/CNPq), mãe de dois filhos, embaixadora do Movimento Parent In Science, Membro do Comitê de Igualdade de Gênero da Universidade Federal de Santa Maria

Kalliandra Quevedo Conrad (kalliandraconrad@gmail.com) é doutora em Comunicação, pesquisadora de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Vice-coordenadora do Grupo de Pesquisa Comunicação, Gênero e Desigualdades da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/CNPq)

Contribuição de autoria: Milena Freire de Oliveira-Cruz: Participou da concepção e desenho do estudo; construção teórica e da problemática; redação do manuscrito; revisão crítica do conteúdo. Kalliandra Conrad: participou da concepção e desenho do estudo; construção teórica e da problemática; redação do manuscrito

Conflito de interesses: Não se aplica

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