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Revista Estudos Feministas

versão impressa ISSN 0104-026Xversão On-line ISSN 1806-9584

Rev. Estud. Fem. vol.30 no.3 Florianópolis  2022  Epub 28-Out-2022

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2022v30n391529 

Editorial

Distopias, atopias e utopias nos debates de gênero

Dystopias, Atopies and Utopias in Gender Debates

Distopías, atopias y utopías en los debates de género

Cristina Scheibe Wolff1 
http://orcid.org/0000-0002-7315-1112

Luzinete Simões Minella1 
http://orcid.org/0000-0001-7953-7385

Mara Coelho de Souza Lago1 
http://orcid.org/0000-0001-5111-8699

Tânia Regina Oliveira Ramos1 
http://orcid.org/0000-0002-2477-0419

1Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. 88040-900


A Revista Estudos Feministas completa 30 anos de publicação ininterrupta em um momento crucial do Brasil. Um momento em que o feminismo enfrenta, por um lado, uma oposição aberta e ferrenha, baseada em uma articulação política de direita, que retoma valores fascistas com discursos inspirados na consigna “Deus, Pátria e Família” (família patriarcal e cisheteronormativa, é claro). Ao mesmo tempo, o feminismo ganhou novo impulso com o engajamento de mulheres jovens, e de articulações anticapitalistas e antirracistas (Heloísa Buarque de HOLLANDA, 2018). As mulheres negras, mulheres indígenas e camponesas se apropriam dessa palavra tão destratada pela direita, e fazem sua a bandeira do Espelho de Vênus (Branca M. ALVES; Jacqueline PITANGUY; Leila L. BARSTED; Mariska RIBEIRO; Sandra BOSCHI, 1981), que antes era identificada pela esquerda como algo um tanto pequeno burguês (Joana PEDRO; Cristina WOLFF; Janine SILVA, 2022). A campanha contra as violências de gênero, que passam a incluir as homofóbicas e transfóbicas, os assédios, os feminicídios e a violência doméstica, sem falar em violências no ambiente virtual, adquire, nesse contexto, um destaque político mais expressivo, ocupando o centro do debate eleitoral.

Nesse momento, no contexto do processo eleitoral para governadores e presidente da República, que já se anuncia intensamente polarizado, consideramos muito importante o papel da Revista Estudos Feministas, que há 30 anos tem publicado os resultados de pesquisas acadêmicas no campo dos estudos de gênero, mulheres, feminismos e sexualidades, bem como artigos metodológicos e teóricos neste campo, e dossiês temáticos que estabelecem relações entre a produção acadêmica e os movimentos sociais. Além desse papel no Brasil, a REF tem cada vez mais se internacionalizado, publicando artigos provenientes de vários países, em espanhol, inglês e português, criando um diálogo transnacional, que permite comparações, solidariedades e debates.

Ao longo destes 30 anos, de acordo com os avanços e retrocessos dos contextos nacional e internacional, temos oscilado entre distopias, atopias e utopias. Ou seja, entre opressões, desterritorializações e sonhos de uma sociedade mais justa e humana. Tais oscilações transparecem, de alguma forma, nos artigos que têm sido publicados pela Revista. Uma das marcas da REF foi sua abertura para as discussões mais recentes e críticas no feminismo. Suas páginas foram marcadas por debates interseccionais, que mesclaram as questões de gênero às de classe social, raça/etnia, sexualidades, gerações e deficiência. Debates que envolveram temas como o corpo, o meio ambiente, as violências, saúde, economia, história, literatura, artes, cinema, mídia, além de tantos outros. As autoras e autores provêm de todas as regiões do Brasil, assim como de países latino-americanos, em sua maioria, mas com espaços ocupados também por países do norte global. Debates interdisciplinares, pontos de vista plurais.

Produção coletiva, a REF é resultado de muito trabalho voluntário, das editoras, pareceristas e autoras. De muita busca por recursos, junto a instituições como a CAPES, o CNPq, a FAPESC, e a própria UFSC. Do trabalho cotidiano de bolsistas e estagiárias de vários cursos, de nossas revisoras e diagramadora, da colaboração dos portais de Periódicos da UFSC, do SciELO Redalyc, entre outros. Em 2021, tivemos mais de um milhão e oitocentas mil visualizações e mais de quinhentos mil downloads de artigos. Uma visibilidade incrível e muito significativa, para uma publicação acadêmica. Temos assegurado também uma presença cada vez maior em redes sociais e convidamos todas, todos e todes para acompanhá-la.

Dando continuidade a um formato que tem prevalecido nas últimas décadas, conforme pode ser visto a seguir, este número da revista traz uma grande diversidade de artigos, com temas muito variados, uma seção de artigos temáticos sob o título “Mulheres em Pesquisa”, além das costumeiras resenhas, cujo número demonstra a significativa produção desta área de estudos e interesse.

Tomando um dos ensaios mais conhecidos de Lélia Gonzalez, aquele que enfatiza o racismo como sintoma da neurose brasileira, a autora de “A mãe preta e o Nome-do-pai: questões com Lélia Gonzalez” contextualiza esta e outras concepções de Lélia na teoria psicanalítica como marcada pela leitura de Lacan, que se revela na forma como a autora trabalhou com o Nome-do-pai como operador central do complexo de Édipo freudiano.

Analisando o papel do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) como principal lócus da divulgação da ideologia familista neste governo de feições fascistas do país, as autoras de “Ideologia de gênero e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos” apresentam pesquisa realizada em documentos do início do atual governo que evidenciam o fortalecimento de políticas em defesa da família patriarcal e contra os movimentos LGBTI+ e feministas.

As autoras e autor de “‘Ideologia de gênero’ como instrumento político nos jornais do Brasil e de Portugal” realizam análise comparando o uso do conceito sociológico ideologia de gênero pelos jornais de grande circulação digital nos dois países (Folha de São Paulo no Brasil e Expresso em Portugal) nas duas primeiras décadas do século XXI. Enfatizando a politização da expressão como instrumento de retrocesso de políticas públicas referentes a mulheres, gênero e diversidade sexual, ressaltam a consolidação do seu uso no viés conservador especialmente ligado à educação e às eleições.

Com o objetivo de trazer uma visão ampliada sobre o fenômeno da violência letal contra as mulheres com origem nas estruturas desiguais de poder, capazes de causar, como consequência máxima, a morte, as autoras e autor de “Femicídio e Feminicídio: discutindo e ampliando os conceitos” analisam esses tipos de crime em seus aspectos mais cruéis. Dando destaque à violência contra a mulher no crime de feminicídio íntimo, buscam explorar as principais classificações propostas para delimitar e entender os feminicídios, tanto em suas formas individuais quanto coletivas.

A autora de “Um laboratorio de varones para la nación” argumenta que as violações dos direitos humanos na guerra das Malvinas devem ser consideradas no âmbito da continuidade das políticas repressivas da ditadura civil-militar argentina. Analisando testemunhos de ex-combatentes contidos no Arquivo Oral de Memória Aberta da Argentina, a autora esteve atenta ao relato das práticas disciplinares e formas de comando das tropas, fundadas em uma educação valorizadora da masculinidade hegemônica no país.

O artigo “Masculinidades indígenas nas Missões do Paraguai colonial (sécs. XVII-XVIII)” analisa as Missões Indígenas Jesuíticas no Paraguai, centrando-se nos conflitos entre categorias indígenas de masculinidades no período colonial e problematizando os limites da masculinidade missional. Os autores e autora acompanham o arco narrativo de um chefe-mestre a se redimensionar durante a fundação de uma missão paraguaia, cacique Guiraverá, focando na maestria da categoria indígena e questionando os limites e interpretações possíveis na ação de pesquisar.

De acordo com a autora e o autor de “O lugar do corpo. Masculinidades Trans e a materialidade corporal do género”, as masculinidades devem ser entendidas na consideração dos efeitos materiais produzidos pelo corpo e no corpo, também se tratando de pessoas trans masculinas em suas singularidades. Em face da centralidade atribuída ao corpo por indivíduos trans-masculinos em Portugal e no Reino Unido, pesquisador e pesquisadora buscaram explorar as ligações entre masculinidade, incorporação e materialidade corporal do gênero, afirmando que a masculinidade é um efeito de práticas corporais reflexivas.

Nesse significativo conjunto de pesquisas, as mulheres na caserna também são objeto de atenção. Por meio de uma etnografia multissituada, realizada em instituições de segurança pública estaduais, o texto “Uma paisana feminista na caserna: entre metodologias e militares” reflete sobre as trajetórias de militares transexuais, visando, por um lado, problematizar o próprio corpo da pesquisadora, além de sinalizar os diferentes modos como corporalidades, gêneros e sexualidades afetam os delineamentos de pesquisa. Sem descuidar da observação da rigidez das normas que regem os quartéis, a autora indica que estes não são impermeáveis às subjetividades que também os constituem.

O artigo “Parentalidad desde la diversidad en Chile” tenta identificar as dificuldades relativas ao exercício da maternidade e da paternidade no âmbito da diversidade sexo-afetiva. O estudo adotou o método biográfico e um enfoque interseccional, realizando entrevistas em profundidade com pessoas que não se identificam com o modelo heteronormativo e atuam em diferentes áreas: academia, psicoterapia, política e ativismo. Os resultados apontam para a existência de obstáculos em vários âmbitos, os quais, segundo as pessoas entrevistadas, resultam das barreiras hostis que enfrentam e que dificultam a expressão das suas relações e dos seus sentimentos em relação às famílias que constituíram.

O autor de “Fanzines e protagonismo LGBTI+ na formação da política penitenciária do Ceará” realiza pesquisa etnográfica em instituição prisional abordando a presença de “facções” que disputam com o Estado a (co)gestão das prisões e estabelecem relações de poder e hierarquia entre presos, mobilizadas pelas noções correntes de virilidade, heterossexualidade e violência. O autor observou que, em cenários de tensão, a produção da figura de fanzine se tornou uma importante materialidade histórica e política na prisão, capaz de marcar a emergência de um organismo de coalizão entre os LGBTI+, configurando-se como um instrumento de reivindicação do lugar de sujeito de direitos.

No artigo “De abjeta à anômala: masculinidade feminina e devir-sapatão em Godless”, a autora discute a masculinidade em mulheres por meio da análise da personagem Maggie, oriunda de uma série de Video On Demand, a partir do exercício analítico voltado para a relação entre abjeção e anomalia e da desterritorialização de Maggie enquanto fenômeno de borda.

As especificidades da situação das mulheres que migram para os países da Península Ibérica são contempladas no artigo “Latinomericanas en el Sur de Europa: un análisis interseccional de las migraciones” que, numa perspectiva interseccional, analisa comparativamente as trajetórias de mulheres brasileiras e colombianas que migraram para Espanha e Portugal, explorando as interferências de gênero, raça e classe na organização dos seus processos migratórios.

Com enfoque na área da Educação, os autores e autora do artigo “Maquinações generificadas no currículo das narrativas seriadas” estudam o modo particular de produção de masculinidades a partir da categorização dos “homens difíceis” das narrativas seriadas e da forma como o feminino também é enunciado no que chamam de “currículo-máquina”, produtor de fabulações generificadas.

“La violencia de género en Canción de cuna para un anarquista de Jorge Díaz” investiga o conceito de violência e desigualdade de gênero nas letras da canção destacada no título. Algumas questões importantes para o feminismo aparecem nessas letras, como a violência doméstica, a violência cultural, a sociedade repressiva, tornando possível, de acordo com a autora, aproximar essa poesia cantada à estética dramática de Pirandello.

As três autoras de “Análisis de la presencia de las mujeres mayores en las series de televisión españolas” apresentam, em seu estudo sob uma perspectiva crítica, a não representatividade das mulheres idosas nas séries televisivas espanholas. As autoras defendem a necessidade de uma educação midiática no sentido de provocar um outro olhar para o protagonismo possível destas personagens, que a língua espanhola denomina como “mayores”.

O artigo “El activismo feminista de la revista L´Egyptienne (1925-1940): el periodismo de Siza Nabarawi” se volta para a pesquisa da dirigente da revista L’Egyptienne (1925-1940), cujo perfil pessoal e intelectual de ativista a autora apresenta histórica e criticamente, ressaltando o papel de Siza Nabarawi na transformação da revista em importante veículo para a história das mulheres egípcias nos âmbitos cultural, artístico, político e jurídico.

“Hubertine Auclert e o seu feminismo avant la lettre” busca compreender a construção do feminismo no interior do jornal La Citoyenne, cuja diretora, Hubertine Auclert, foi a primeira mulher a se autoproclamar feminista na França do século XIX. O olhar da autora do artigo se volta para o estudo do que foi esse jornal que hoje podemos considerar como feminista avant la lettre, destacando seus ecos no movimento feminista contemporâneo.

A história de uma personagem do feminismo chileno e do contexto em que as mulheres começaram a se organizar nos espaços públicos é apresentada pelos autores de “Amanda Labarca and the first feminist institutions in Chile (1910-1922)”, que dão destaque à criação do Clube da Leitura e as organizações acadêmicas, culturais e políticas que se consolidaram entre 1930-1950, influenciadas por este movimento das primeiras décadas do século passado.

O ensaio “Os quatro erros de Santa Teresa: reflexões para uma escrita mística feminista” propõe refletir, a partir da experiência dos erros e da errância, acerca da escrita mística de Santa Teresa d’Ávila. Em articulação com a proposta da Teologia Feminista e com as compreensões do divino resultantes dessa reflexão, o autor defende que, nos escritos da Santa, se pode ler uma imagem de Deus para além do masculino e do feminino.

As relações entre o desenvolvimento e as desigualdades de gênero são analisadas no artigo “Desarrollo humano e igualdad de género. Un análisis de datos panel a la luz del ODS5”. Seus resultados se fundamentam num levantamento de dados que levou em consideração 132 países no período de 2010 a 2017, concluindo-se que mudanças nos índices de desenvolvimento humano interferem nas desigualdades de gênero e vice-versa.

O artigo “Protagonismo feminino frente à pandemia de Coronavírus no Rio de Janeiro” analisa dados referentes à produção legislativa e entrevistas com lideranças de favelas para mostrar como as mulheres, tanto na sociedade civil como no parlamento, foram sujeitos das principais iniciativas de combate à pandemia de Covid 19 e de seus efeitos, como a fome, problemas educacionais e familiares, entre outros. Uma análise contemporânea, trazendo dados importantes sobre a pandemia, e a diferença de seus efeitos em lugares da cidade do Rio de Janeiro, as favelas, por exemplo.

As relações entre mulheres, feminismo e práticas de cuidado na África Subsaariana são discutidas no artigo “Caring through the lens of African Feminisms: a systematic review”, por meio de um levantamento das pesquisas realizadas por autoras(es) africanas(os) sobre o tema. Entre os artigos selecionados, 20 atenderam aos critérios de inclusão, sendo divididos em três categorias: epidemia de HIV; crise de reprodução social e cuidados afro-comunitários. O estudo identifica os principais aspectos neles abordados, proporcionando uma visão geral do tratamento que vem sendo dado ao tema.

Na sequência, os cuidados das demências ligadas ao envelhecimento são analisados no artigo “Hiperprivatização do cuidado: projetos de cuidado das demências e seus efeitos”. A metodologia da pesquisa se baseou na análise documental das políticas do cuidado no período pós-democratização no Brasil e numa etnografia que focaliza a perspectiva da hiperprivatização nos termos da extrema-direita no contexto atual. Aderindo a essa perspectiva desenvolvida por Guita Debert, a autora entende que tais termos envolvem a “restrição dos serviços públicos; precarização do trabalho de cuidadoras e reforma das relações raciais; moralização do cuidado e reforma de gênero”.

No ano de 2018, em uma cidade da Colômbia, as autoras de “Autosacrificio femenino durante el padecimento del cáncer de mama” realizaram um estudo qualitativo com 15 mulheres com idades por volta dos 45 anos, diagnosticadas com esta doença. Destacando a emergência de três temas recorrentes: “continuar com os cuidados dos filhos e família”; “ocultar as dores físicas e emocionais”; “não se tornar uma carga para a família”, puderam constatar que, mesmo diante da enfermidade, as mulheres continuaram presas às atribuições sociais femininas, carregando suas dores e priorizando as necessidades dos demais.

O Artigo “Objetificação da mulher: implicações de gênero na iminência da cirurgia bariátrica” detém-se no estudo dessa cirurgia, realizada predominantemente em mulheres, que representa, além da prevenção de riscos aos agravos de saúde, uma promessa de bem-estar subjetivo. A pesquisa deteve-se nas narrativas e expressões não verbais de um grupo de mulheres que se submeteriam à cirurgia, em busca de alcançar o padrão feminino de magreza idealizado, que reconhecia uma condição não humana no corpo gordo, simbolizando a cirurgia bariátrica como libertação e resgate da sexualidade. São testemunhos que apontam para a consideração das questões de gênero por equipes de saúde, no sentido de mitigar expectativas irreais e apoiar o tratamento da obesidade grave.

Nesse número da REF, a violência obstétrica também é tratada como questão de saúde das mulheres. O artigo “‘Na hora de fazer não chorou’: a violência obstétrica e suas expressões” aborda, por meio de entrevistas semiestruturadas, as diversas expressões desse tema, segundo os pontos de vista das puérperas. Conclui-se que esse tipo de violência ocorre com frequência nas unidades hospitalares, refletindo as desigualdades e opressões de gênero entre profissionais e usuárias. Demandando, por isso mesmo, que o debate sobre o tema seja incluído tanto na formação e espaços de trabalho das/os profissionais, quanto entre as mulheres de modo geral.

O artigo “Contribución de la danza contemporánea al bienestar de mujeres maltratadas” reflete sobre o potencial da dança contemporânea como recurso de apoio para mulheres oriundas de países da América Latina, do leste europeu e de países africanos, que foram vítimas das violências machistas. O estudo avalia as mudanças ocorridas após a implementação desse recurso sobre o estado psicológico afetivo-emocional das mulheres migrantes pesquisadas.

Através dos depoimentos de seis cientistas, o artigo “Feminist scientists: transformative ways of inhabiting scientific systems” (“Cientistas feministas: formas transformativas de habitar mundos científicos”) sintetiza aspectos relevantes do debate sobre gênero e poder no mundo científico, e as formas encontradas por cientistas feministas para confrontar e impactar este mundo. Um dos aspectos destacados referiu-se à localização social e histórica da ciência e dos sistemas de gênero, bem como aos processos pelos quais eles se constroem mutuamente.

A leitura crítica e quantitativa de “Conducta y opinión política de jóvenes mujeres universitarias en La Araucanía, Chile” teve por objetivo, de acordo com suas autoras, determinar e descrever as preferências políticas de jovens mulheres universitárias, estudantes de quatro universidades chilenas, buscando entender, entre outras questões, a relação das mesmas com partidos de direita e a sua escassa participação política em grupos universitários de militância ativa, no período estudado.

Fechando esta seção de Artigos Temáticos, “Pesquisa feminista e prostituição: tecendo redes de solidariedade e luta” retoma os temas do trabalho e dos cuidados. Em meio a reflexões sobre o pesquisar, a autora discorre sobre as escolhas epistemológicas e metodológicas desenvolvidas ao longo da sua trajetória como uma pesquisadora do tema que reivindica a intervenção enquanto parte das estratégias de conhecimento e da construção de “redes de solidariedade e de luta”. Ou seja, paralelamente à definição das bases éticas e políticas da pesquisa, defende o comprometimento com os movimentos das prostitutas, suas demandas e posicionamentos.

A seção de resenhas mais uma vez se faz presente com temas sempre importantes da crítica feminista, sobre interseccionalidades, diversidades, decolonialidades, sexualidades, recorrendo a diferentes conceitos, teorias e teóricas contemporâneas, na perspectiva de gênero, proporcionando diálogos interdisciplinares entre pares, como possibilidade de oferecer às leitoras da REF uma orientação para o que Roland Barthes (1984, p. 43) tão bem destaca em seu ensaio “Da leitura”: “O que é ler? Como ler? Por que ler”. Quem sabe, para não perdermos a capacidade de sonhar, apesar de tudo...

Referências

ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline; BARSTED, Leila Linhares; RIBEIRO, Mariska; BOSCHI, Sandra. Espelho de Vênus: identidade social e sexual da mulher. São Paulo: Brasiliense, 1981. [ Links ]

BARTHES, Roland. “Da leitura”. In: BARTHES, Roland. Rumor da Língua. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 42-52. [ Links ]

PEDRO, Joana Maria; WOLFF, Cristina Scheibe; SILVA, Janine Gomes da. “Desafios dos feminismos na História do Brasil Contemporâneo”. História, v. 41, 2022. e2022016. DOI: 10.1590/1980-4369e2022016. Acesso em 19/10/2022. [ Links ]

HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Explosão feminista: arte, cultura, política e diversidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018 [ Links ]

Como citar este artigo de acordo com as normas da revista: WOLFF, Cristina Scheibe; MINELLA, Luzinete Simões; LAGO, Mara Coelho de Souza; RAMOS, Tânia Regina Oliveira. “Distopias, atopias e utopias nos debates de gênero”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 30, n. 3, e91529, 2022.

Financiamento: Não se aplica.

Consentimento de uso de imagem: Não se aplica.

Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica.

Recebido: 25 de Outubro de 2022; Aceito: 26 de Outubro de 2022

Cristina Scheibe Wolff (cristiwolff@gmail.com) é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (1998). Possui Graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1988), Mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991). Em 2004/2005 realizou Pós-Doutorado na Université Rennes 2, na França, e entre 2010 e 2011, no Latin American Studies Center da University of Maryland, em College Park, Estados Unidos da América. Ocupou a Cátedra Fulbright de Estudos Brasileiros na University of Massachusetts em Amherst (set.-dez. 2017) e foi pesquisadora convidada no Laboratoire Arenes - Université Rennes 2 (jan.-jul. 2018). Atualmente, é Professora Titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina. É integrante do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH) e do Instituto de Estudos de Gênero da UFSC e uma das coordenadoras editoriais da Revista Estudos Feministas (2006-2009 e 2011-atual). Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua ainda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e no Mestrado Profissional de Ensino de História. Foi a coordenadora geral do Fazendo Gênero 11 e 13º Women’s Worlds Congress, realizado na UFSC em 2017. Tem experiência na área de História, com ênfase em História das Mulheres e do Gênero, atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, memória, guerrilha, resistência às ditaduras no Cone Sul

Luzinete Simões Minella (simoesluzinete@gmail.com) é graduada (1972) e mestre em Ciências Sociais pela UFBA (1977), doutora em Sociologia pela Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM,1989). Realizou estágio de pós-doutorado no Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (NEPO/Unicamp,1998). Fez parte do quadro de docentes do Departamento de Sociologia da UFBA entre 1975 e 1991. Vinculou-se ao Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC, de 1991 até 2002, e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política entre 1991 e 2005. É Professora Adjunta iv aposentada da UFSC, atuou como professora voluntária no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas entre 2003 e 2020, tendo coordenado por vários anos a Área de Concentração em Estudos de Gênero. Integra a equipe do Instituto de Estudos de Gênero (IEG), participou de vários dos seus projetos (eventos, publicações, cursos etc.). Entre os projetos destaca a coordenação editorial da Revista Estudos Feministas entre 2001 e 2004 e entre 2007 e 2008, quando passou a fazer parte da editoria de artigos. Voltou a fazer parte desta coordenação a partir de dezembro de 2016. É membro da Rede Brasileira de Ciência, Tecnologia e Gênero. Tem realizado pesquisas principalmente nas seguintes áreas: participação das mulheres nas ciências (na interface com a crítica feminista à ciência, os estudos sociais da ciência e a história da ciência); gênero e saúde reprodutiva; gênero e infância; saúde mental. Orientou inúmeros trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, principalmente nessas áreas. Publicou vários artigos em periódicos de ampla circulação e livros, além de trabalhos completos em anais de eventos etc

Mara Coelho de Souza Lago (maralago07@gmail.com) é doutora em Psicologia da Educação pela Universidade Estadual de Campinas e Professora Emérita da Universidade Federal de Santa Catarina. Possui Graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1967) e Mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (1983). Atualmente, é Professora Titular aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, atuando como docente voluntária no Programa de Pós-Graduação em Psicologia/PPGP e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas/PPGICH. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, atuando principalmente nos temas gênero, gerações, subjetividades, modos de vida, com enfoque interdisciplinar. Participa do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC) e da coordenação editorial da Revista Estudos Feministas

Tânia Regina Oliveira Ramos (taniareginaoliveiraramos@gmail.com) é doutora em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Possui Graduação em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestrado e Doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Atualmente, é Professora Titular e coordena o núcleo Literatura e Memória da UFSC, núcleo com projetos aprovados pela FAPESC e CNPq. Faz parte da Coordenação Geral da Revista Estudos Feministas e do Conselho Editorial das revistas UniLetras, Mafuá Ciências e Letras, Literatura Hoje, Signótica e Anuário de Literatura. É professora de Literatura Brasileira e Estudos Literários nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Letras e Literatura na UFSC. Atua, pesquisa e publica nas linhas de pesquisa História e Memória, escritas de si e gênero

Contribuição de autoria: Elaboração e redação coletiva

Conflito de interesses: Não se aplica

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