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Educar em Revista

versão impressa ISSN 0104-4060versão On-line ISSN 1984-0411

Educ. Rev. vol.38  Curitiba  2022  Epub 06-Dez-2022

https://doi.org/10.1590/1984-0411.88563 

Editorial

Educar em Revista: 45 Anos! Luta em prol da divulgação científica e da democracia

*Universidade Federal do Paraná. Setor de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil (NEPIE). Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail: gizelesouza@ufpr.br, catarina.moro@ufpr.br


Muitos foram os desafios e emoções que nos atravessaram neste ano. Vamos qualificá-los, para melhor entender os sentidos vivenciados; assim, elegemos 3 Atos. Sendo:

1º. Ato: das incertezas sanitárias aos descalabros políticos, e das esperanças renovadas.

O exaustivo e angustiante ano de 2022 foi marcado pelas incertezas sobre o controle da pandemia, pelos efeitos perversos do empobrecimento social, pela ampliação da disseminação do negacionismo - por dirigentes do país e partícipes da distopia social -, pelo crescimento da intolerância e violência e, como se não bastasse tudo isso, pelos descalabros da gestão federal, que diante de tantos desvarios fez encolher o investimento em ciência e tecnologia nas universidades e nos suportes de divulgação da produção científica - como as revistas, por exemplo.

Com o passar dos meses e com a retomada efetiva das atividades presenciais nas em todas as instituições, incluindo as universidades, fomos ganhando força e ânimo no contato que a vida junto aos pares, estudantes e técnicos nos proporciona, e nos organizamos para participar e promover reuniões, eventos, encontros na Universidade Federal do Paraná e em outros espaços como exercício de troca e atuação acadêmica. Porém, se no âmbito federal tivemos que administrar a penúria dos recursos, as inconstâncias e inseguranças quanto ao resultado do processo de avaliação quadrienal da CAPES, também na esfera local as dificuldades não foram diminutas, pois os serviços relativos ao processo de revisão, normalização, diagramação e gravação em linguagem XML tiveram interrupções, atrasos, e isso produziu prejuízos ao volume de publicações da revista.

Quando nosso fôlego já estava por ruir, atravessamos um processo de eleições presidenciais dos mais difíceis desde a redemocratização política no Brasil, com embates, ataques e descrenças no processo eleitoral e na eficiência das urnas eletrônicas. A Educar em Revista, embalada com os demais democratas brasileiros, posicionou-se contra os cortes de recursos das universidades, lutou pela democracia e engajou-se na defesa da vida e da ciência. Em outros momentos históricos, a revista também acompanhou contextos pouco promissores, vale aqui lembrar o interessante editorial escrito pela Professora Acácia Küenzer, em abril de 1996, à época como diretora do Setor de Educação, no qual explicitava a crise institucional que as universidades brasileiras enfrentavam naquele momento, fruto de crise do Estado nacional, que atingia no campo educacional, “radicalmente a concepção de ‘público’, de sistema educacional e de definição de responsabilidades quanto ao financiamento” (KÜENZER, 1996, p.1). Salientava ainda que:

apesar dos baixos salários, das precárias condições de trabalho, dos 15 meses sem reposição salarial, dos excessivos encargos e efeitos do financiamento sobre a pesquisa e sobre as estratégias de qualificação permanente, os servidores - docentes e técnico-administrativos - e os alunos do mestrado entregaram à comunidade a sua produção como resposta às críticas das quais temos sido objeto pelo próprio Estado, com profundas repercussões no imaginário que se constrói na sociedade civil. (idem, p.1-2).

Como muito bem dito no excerto destacado do editorial acima, a Educar em Revista, em tempos remotos e nos atuais, entrega socialmente o seu compromisso com a divulgação científica na área da educação, apesar da falta de investimentos, de editais permanentes para os periódicos, da ausência de pessoal técnico e de apoio institucional. Vimos mantendo, com a frequência e consistência exigidas, o fluxo de publicação da revista, reiventando formas e modos de fazê-lo. Mas, para dar conta desta empreitada, muitos sujeitos foram acionados e determinantes nesta tarefa. Recebemos dos autores paciência e compreensão com a extensão dos prazos nas devolutivas de seus manuscritos, dos organizadores de dossiês temáticos muita colaboração e parceria com a seleção de bons textos, e dos leitores boa recepção e a manutenção pela intensa procura pelas nossas publicações. Nessa direção, faz-se necessário registrar o decisivo apoio institucional recebido pelo Setor de Educação, aqui nomeado pelos seus diretores Marcos Alexandre dos Santos Ferraz e Odisséa Boaventura de Oliveira, pelas coordenadoras do Programa de Pós-Graduação em Educação, Elisangela Alves da Silva Scaff e Andréa Barbosa Gouveia, pela técnica Lúcia Alves dos Santos, que durante tantos anos dedicou-se ao trabalho da revista e, neste ano, se aposentou, abrindo estrada para uma nova colega, Sandra Lima, assumir a responsabilidade pela secretaria da Revista. Também nos apoiaram as estagiárias Clarisse Sofhia Alejandra di Núbila e Natália Bonadia da Silva Fulgêncio, assim como as e os colegas, professoras e professores da casa Mater, integrantes do Conselho Consultivo.

O ano está por findar, e renovadas perspectivas de regresso à civilidade e aos investimentos em ciência e educação se apresentam. O resultado do processo eleitoral de 2022, longe de nos acomodar, nos provoca sentimentos de esperança e cobrança para outros tempos de estabilidade e possibilidades.

2º. Ato: Mesmo com as agruras, é preciso comemorar! A Educar em Revista se mantém firme e forte.

FONTE: Página web da Educar em Revista.

IMAGEM 1 Capa da 1ª edição (impressa) da Educar em Revista (nomeada como Revista de Educação), 1977. 

FONTE: Página web da Educar em Revista.

IMAGEM 2 Capa do atual volume (digital). 

No primeiro editorial da Educar, de março de 1977, o Professor Lauro Esmanhoto, coordenador do Curso de Mestrado em Educação da UFPR à época, apostava ser a revista um “repositório intelectual trabalhado por professores e alunos” (p.1) do Programa, cujas finalidades se centravam em divulgar

estudos, pesquisas, monografias, ou de quaisquer trabalhos que demandem nível científico, atende a uma tríplice finalidade: estimular o bom desempenho dos que se acham envolvidos pelas tarefas do Mestrado; levar à comunidade as contribuições da instituição para solução da sua problemática educacional; e servir de veículo ao indispensável intercâmbio científico-cultural entre os Setores, Centros, ou Faculdades de Educação, quer nacionais ou estrangeiras. (ESMANHOTO, 1977, p.p.1).

Obviamente que as finalidades, composição e organização da revista se alteraram para os dias atuais, mas elementos comuns permanecem neste extenso arco temporal - a divulgação de estudos e pesquisas de alto nível científico, a tarefa de se constituir em espaço de intercâmbio científico-cultural e a problemática educacional figurar como eixo das publicações da revista.

Pela materialidade das capas da primeira e do último volume, conforme se visualiza nas imagens 1 e 2, é possível caracterizar que a diferença não reside apenas na dimensão estética, mas localiza uma mudança significativa, o lócus da gestão da revista passa a ser o Campus Rebouças, representado na imagem pelas escadarias antigas do Edifício Teixeira Soares, novo endereço que abriga parte das dependências do Setor de Educação, desde 2016, e nele acolhe em sala própria a Educar em Revista.

Muitos esforços e competências de colegas foram mobilizados na editoria da Educar em Revista, na secretaria e no Conselho Consultivo e Editorial, no decorrer dos seus 45 (quarenta e cinco) anos. A todos e todas que participaram, direta ou indiretamente, recebam nosso agradecimento por fazer manter, sem interrupção, o empreendimento de uma revista científica de qualidade aferida, com avaliação Qualis/Capes A1, desde 2012, que inicialmente nasceu ligada ao Curso de Mestrado em Educação da UFPR e hoje se vincula ao Setor de Educação e se abre para compartilhar o conhecimento acadêmico produzido por pesquisadoras e pesquisadores do Brasil e do mundo. Não seria forçoso afirmar que a Educar, como carinhosamente a chamamos, tem uma história de sucesso de público e crítica, pois construiu ao logo dos anos reconhecimento acadêmico e expansão de leitores e autores que qualificam e renovam o sentido próprio da revista.

De 1977 para cá, a revista se profissionalizou, desde os aparatos formais de editoração aos aspectos de submissão e divulgação dos estudos e pesquisas. Também ampliou suas bases de indexação, alargou seu público leitor, diversificou seus colaboradores autores, brasileiros e de países estrangeiros, aprendeu a lidar com ferramentas novas de divulgação científica e de mídias sociais, a enfrentar pressões por modismos e critérios por vezes nem sempre consoantes com os entendimentos da área de humanidades e educação, bem como a manter o rigor acadêmico aliado ao compromisso da democratização do conhecimento, que passa pelo acesso aberto, ou seja, sem cobranças para acesso à revista.

Ao considerar as publicações do ano em que comemoramos 45 de existência (persistência e resistência), em 2022 temos o seguinte balanço: 45 manuscritos derivados de 4 (quatro) dossiês temáticos, com os seguintes temas: “Educação de jovens e adultos, políticas e processos educativos democráticos”; “Educação rural em perspectiva comparada: políticas de escolarização, experiências formativas e trabalho docente”; “Pierre Bourdieu - após 20 anos qual o legado de sua obra para pesquisas em educação” e “Sujeito e conhecimento: articulações em contextos de formação e atuação docente”. Em outras três seções: Demanda Contínua, 21 (vinte e um) artigos, 1 (uma) Entrevista e o Editorial, perfazendo um total de 67 (sessenta e sete) textos. O conjunto é revelador de um esforço coletivo e de uma aposta na potente e consistente produção do campo educacional.

Último Ato: encerrar, mas continuar a existir

Para finalizar, recorremos à poesia de Paulo Leminski (2013) ao dizer que:

na rua

sem resistir

me chamam

torno a existir.

O ciclo do trabalho editorial da Educar em Revista quando concluído não se fecha. Na rua, nas moradas dos nossos leitores, torna a existir, revigora-se a cada leitura, discussão, citação feita. Que nos próximos anos, compreendidos como mais auspiciosos, ela siga firme em seus propósitos vislumbrando os 50 anos, plenos do simbolismo de sua trajetória acadêmica.

REFERÊNCIAS

ESMANHOTO, Lauro. Apresentação. Educar em Revista. Curitiba: UFPR, v.1, n.1, 1977, p.1. [ Links ]

KÜENZER, Acácia Zeneida. Editorial. Educar em Revista. Curitiba: UFPR, v.12, n.12, 1996, p. 1-5. [ Links ]

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 117. [ Links ]

Recebido: 01 de Novembro de 2022; Aceito: 21 de Novembro de 2022

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