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Educar em Revista

versão impressa ISSN 0104-4060versão On-line ISSN 1984-0411

Educ. Rev. vol.38  Curitiba  2022  Epub 06-Dez-2022

https://doi.org/10.1590/1984-0411.73006 

Artigos

Percepções de licenciandos sobre a Filosofia, seu ensino e a vivência do Estágio Curricular Supervisionado1

Teaching undergraduate students’ perceptions of Philosophy, its teaching and the experience of Supervised Curricular Internship

Fábio Antonio Gabriel* 
http://orcid.org/0000-0002-4990-4102

Ana Lúcia Pereira** 
http://orcid.org/0000-0003-0970-260X

Ademir Aparecido Pinhelli Mendes*** 
http://orcid.org/0000-0003-4929-9544

*Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP); Secretaria de Educação do Paraná, Jacarezinho, Paraná, Brasil. Email: fabioantoniogabriel@gmail.com

**Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Email: anabaccon@uepg.br

***Secretaria de Educação do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil. E-mail: pinhellimendes@gmail.com


RESUMO

Este artigo aborda as percepções sobre a Filosofia, seu ensino e a vivência do Estágio Curricular Supervisionado na perspectiva de licenciandos de um curso de Filosofia de uma universidade pública do Paraná. Tendo como sujeitos de pesquisa discentes matriculados nos dois últimos anos do curso (3º e 4º), os dados foram coletados por questionário aplicado a 46 participantes, além de entrevista com 37 sujeitos. A metodologia para análise dos dados foi a análise textual discursiva, da qual emergiram os significantes elementares que caracterizaram as respostas dadas, as quais foram codificadas de acordo com a presença ou ausência de cada um dos significantes associados às questões. Em seguida, realizou-se a análise de clusters, em que os sujeitos foram agrupados por similaridade, de acordo com as semelhanças nas respostas ao questionário. Os resultados dos quatros clusters permitem apontar que um ensino de Filosofia como experiência filosófica é de grande importância no contexto do ensino da disciplina e que o Estágio Supervisionado é um momento particular na vida do licenciando, que contribui para o desenvolvimento de sua formação integral.

Palavras-chave: Experiência filosófica; Estágio Supervisionado; Ensino de Filosofia; Licenciatura em Filosofia

ABSTRACT

This paper addresses the perceptions about Philosophy, its teaching and the experience of the Supervised Curricular Internship from the perspective of teaching undergraduate students of a Philosophy course at a public university in Paraná, Brazil. Having as research subjects students enrolled in the last two years of the course (3rd and 4th), data were collected through a questionnaire applied to 46 participants, in addition to interviews with 37 subjects. The methodology for data analysis was the discursive textual analysis, from which emerged the elementary signifiers that characterized the answers given, which were coded according to the presence or absence of each of the signifiers associated with the questions. Then, the cluster analysis was performed, in which the subjects were grouped by similarity, according to the similarities in the responses to the questionnaire. The results of the four clusters allowed us to point out that teaching Philosophy as a philosophical experience is of great importance in the context of teaching the discipline and that the Supervised Internship is a particular moment in the life of the teaching undergraduate students, which contributes to the development of their integral education.

Keywords: Philosophical experience; Supervised Internship; Philosophy teaching; Teaching degree in Philosophy

Introdução

Compreendendo ser de grande relevância o papel da formação inicial na constituição identitária do futuro professor de Filosofia2, defende-se como pressuposto a importância de buscar cultivar um ensino de Filosofia como experiência filosófica, entendida como um modo de compreender a Filosofia que valorize o cotidiano em diálogo com os textos dos filósofos. Em contraposição, tem-se o ensino enciclopédico, que é meramente descritivo dos sistemas filosóficos, sem uma relação com o cotidiano, muitas vezes associado a limitar-se a uma memorização das doutrinas dos filósofos. Nesse contexto, o Estágio Supervisionado Curricular tem grande importância, por ser o momento inicial de experiência didática do futuro professor. Dependendo de como são encaminhadas as orientações na universidade e como ocorre a recepção pelos professores que acolhem estagiários, o estágio pode contribuir muito na configuração identitária do futuro professor de Filosofia.

Assim sendo, ao longo deste artigo, procura-se desvelar as percepções de licenciandos manifestas em questionários e em entrevistas sobre a Filosofia, seu ensino e a vivência do Estágio Supervisionado. Como opção de processo de escrita, apresentam-se, a seguir, os participantes da pesquisa e, metodologicamente, os dados, dialogados com o referencial teórico que fundamenta o texto. Desse modo, os resultados e sua discussão são tratados concomitantemente, sendo sintetizados nas considerações finais.

Participantes da pesquisa

Os participantes da pesquisa foram licenciandos do curso de Filosofia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Essa escolha deu-se pelo contato estabelecido por e-mail com o coordenador do curso, que demonstrou receptividade pela proposta da pesquisa. Além disso, trata-se de um curso com poucos anos de existência, de modo que esta pesquisa pode contribuir para seu aprimoramento. O critério de escolha dos participantes foi serem acadêmicos dos anos finais do curso (3º e 4º anos) em 2016 e 2017. Os dados foram coletados por meio de questionário (N = 46) e entrevista (N = 37), realizados presencialmente por um dos pesquisadores.

Em 2016, 60 discentes cursavam os referidos anos do curso, dos quais 46 se dispuseram a responder ao questionário. Em 2017, dos 54 estudantes matriculados, 37 participaram da entrevista. A seguir, apresentam-se as características dos sujeitos de pesquisa em 2016 e 2017, respectivamente. Vale ressaltar que os procedimentos éticos foram todos observados na coleta de dados, análise e discussão dos resultados, não expondo nenhum participante, conforme os protocolos de pesquisa realizados pelos pesquisadores.

Dos licenciandos do curso de Filosofia da UENP do ano de 2016, 25 participantes da pesquisa (54,3%) eram do sexo masculino e 21 (45,7%), do sexo feminino. Em relação à idade dos participantes, 31 (67,4%) estavam na faixa etária entre 18 e 25 anos, nove participantes (19,6%) estavam na faixa etária entre 25 e 35 anos, e seis (13,0%) estavam com mais de 35 anos de idade. Além disso, 28 (60,9%) cursavam a 3ª série do curso de Filosofia, e 18 (39,1%) cursavam a 4ª série do curso.

Já os licenciandos do curso de Filosofia da UENP do ano de 2017, 21 participantes da pesquisa (56,8%) eram do sexo masculino e 16 (43,2%), do sexo feminino. Desses estudantes, 22 (59,5%) estavam com menos de 25 anos de idade, oito (21,6%) tinham entre 25 e 30 anos, e sete (19,9%) encontravam-se na faixa etária entre 30 e 40 anos. Dos licenciandos, 20 (54,1%) estavam na 3ª série do curso, e 17 (45,9%) cursavam a 4ª série. Três estudantes (8,1%) já possuíam outra graduação.

A seguir, são apresentadas as perguntas que compuseram o questionário:

  • 1) Faixa etária.

  • 2) Sexo.

  • 3) Série.

  • 4) Para você, o que é ser um bom professor de Filosofia?

  • 5) Existe um ensino de Filosofia que é enciclopédico, cujo enfoque é a memorização dos sistemas filosóficos; outra perspectiva é a experiência filosófica, que enfoca a importância de o estudante realizar uma experiência de criação conceitual. Você acredita que é importante a experiência filosófica?

  • 6) Para você, o que é ensinar Filosofia?

  • 7) Para você, qual é a importância do Estágio Supervisionado na formação do futuro professor de Filosofia?

  • 8) Quais são suas expectativas em relação à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo durante o estágio?

  • 9) O que motivou sua escolha em cursar Licenciatura em Filosofia?

  • 10) Em sua opinião, qual é a função do Ensino Superior na sociedade brasileira?

Para organização e análise dos dados, utilizou-se, inicialmente, a Análise Textual Discursiva (ATD) (MORAES; GALIAZZI, 2011), por meio da qual emergiram significantes elementares. No processo de ATD, procedeu-se à desconstrução e à unitarização; desse modo, em primeiro lugar, dividiram-se os dados em tantas partes quanto necessárias para observar melhor os dados e, em seguida, eles foram categorizados, para serem programados e processados no software Mathematica® (Wolfram Language), para, então, realizar a análise de clusters (BATTAGLIA; DI PAOLA; FAZIO, 2016; PEREIRA; COSTA; LUNARDI, 2017), processo final de análise dos dados.

O termo “clusters”, em inglês, significa aglomerados, agrupamentos, e a clusterização está relacionada a técnicas exploratórias de organização e de análise de dados, cujo objetivo é agrupar um conjunto de objetos em subconjuntos ou subgrupos denominados de clusters. Essa organização, ou agrupamento, dá-se a partir de critérios de similaridade ou dissimilaridade entre si (PEREIRA; COSTA; LUNARDI, 2017). Sujeitos e/ou objetos que compõem um mesmo cluster são, portanto, agrupados por possuírem aspectos similares ou dissimilares entre si do que objetos agrupados em clusters diferentes. No Quadro 1 a seguir, apresenta-se um exemplo de como foi realizada a organização dos significantes elementares para a construção da análise de clusters:

Da configuração dos significantes elementares de todas as questões, surgiu uma tabela binária. Na linha vertical, estão os sujeitos participantes e, na horizontal, os significantes elementares. A Figura 1 apresenta um recorte dessa tabela, em que foi atribuído valor 0 para “não se aplica” e 1 para “se aplica determinado significante elementar”.

QUADRO 1 Exemplo de organização dos dados da pergunta 4 para análise de clusters. 

Pergunta originária Significantes elementares Licenciandos
4. Para você, o que é ser um bom professor de Filosofia? A4 - Auxiliar na capacidade crítica dos alunos 2, 5, 8, 9, 11, 15, 17, 18, 19, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 33
B4 - Incentivar a reflexão 6, 21, 22, 31
C4 - Instigar os alunos a pensar 20, 30, 36, 38, 39, 40, 42, 46
D4 - Respeitar a opinião e o posicionamento dos alunos 16, 34
E4 - Ser capaz de aprender e ensinar Filosofia 1, 4, 7, 10, 12, 14, 35, 37, 41, 43, 45
F4 - Vivenciar a Filosofia 3, 13, 29, 32

FONTE: Os autores, 2020.

FONTE: Os autores, 2020.

FIGURA 1 Recorte da tabela binária - sujeitos e códigos. 

Pronta a tabela binária, ela foi processada pelo software Mathematica®, resultando em quatro clusters, indicando as similaridades entre as respostas dos licenciandos (Quadro 2).

Passa-se a apresentar a análise de cada cluster e, em seguida, uma síntese com as principais características evidenciadas em cada um deles.

QUADRO 2 Organização dos clusters por licenciandos. 

Cluster Número de participantes - questionário Participantes -questionário Número de participantes -entrevista Participantes - entrevista
1 13 L1, L3, L16, L17, L18, L19, L23, L24, L25, L28, L34, L44, L45 9 L1, L2, L5, L11, L12, L13, L24, L25, L37
2 15 L2, L5, L8, L9, L12, L15, L27, L29, L30, L32, L33, L36, L39, L40, L46 7 L9, L17, L18, L19, L27, L28, L30
3 12 L6, L7, L10, L11, L13, L20, L21, L22, L26, L31, L38, L42 14 L8, L14, L15, L16, L20, L21, L22, L23, L26, L29, L31, L34, L35, L36
4 6 L4, L14, L35, L37, L41, L43 5 L3, L4, L7, L10, L13

FONTE: Os autores, 2020.

Cluster 1

O Quadro 3 traz uma síntese dos significantes elementares mais evidenciados com suas respectivas percentagens.

Ao observar-se o Cluster 1, pode-se destacar que, para esse grupo de licenciandos, o significado de ser um “bom professor de Filosofia” é “ser capaz de aprender e ensinar Filosofia”; que a experiência filosófica é importante, “porque não se pode apenas memorizar conteúdos filosóficos”, de forma enciclopédica para a vivência da experiência filosófica. Para os licenciandos desse cluster, o significado de ensinar Filosofia é “ajudar a construir o pensamento crítico” e ajudar o aluno a refletir.

A importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia para os licenciandos desse cluster pode ser negativa, se não for bem trabalhada, pois, geralmente, trata-se da primeira experiência com a sala de aula e é determinante para a vivência da futura condição de professor. Em relação às expectativas sobre a regência, os alunos, o professor, a escola e o conteúdo, durante o estágio, os licenciandos destacaram o ato de ensinar como algo agradável. A motivação para cursar licenciatura em Filosofia centra-se na paixão pela Filosofia e pela vontade de lecionar. Ainda, para esse cluster, a função do Ensino Superior na educação brasileira é “auxiliar no aperfeiçoamento profissional” e “formar a massa trabalhadora”.

QUADRO 3 Síntese dos significantes elementares do Cluster 1. 

Variável Significantes elementares Frequência
1. Significado de ser um bom professor de Filosofia E1 - Ser capaz de aprender e ensinar Filosofia. 66,6
2. Se a experiência filosófica é importante A2 - Enciclopedismo como pressuposto para a experiência filosófica. 33,3
D2 - Sim, é importante, porque não se pode apenas memorizar conteúdos filosóficos. 44,4
3. Significado de ensinar Filosofia B3 - Pensamento crítico - ajudar a construir. 55,5
C3 - Ajudar o aluno a refletir. 55,5
4. Importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia B4 - Experiência com a sala de aula. 22,2
C4 - Pode ser negativa. 44,4
D4 - Vivência da futura condição de professor. 22,2
5. Expectativas em relação à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo, durante o estágio. A5 - Ensinar é agradável. 22,2
6. Motivação para cursar licenciatura em Filosofia. F6 - Paixão pela Filosofia. 55,5
H6 - Vontade de lecionar. 22,2
7. Função do Ensino Superior na educação brasileira A7 - Auxiliar no aperfeiçoamento profissional. 66,6
D7 - Formar massa trabalhadora. 22,2

Fonte: Os autores, 2020.

No contexto desse cluster, apresentam-se alguns exemplos de falas dos licenciandos para evidenciar seus principais aspectos. Os dizeres de L1 exemplificam o primeiro significante: “Ser um bom professor não é somente aquele que domina o conteúdo, mas, sim, aquele que é capaz de ir além de ensinar e aprender com seus alunos”. Nesse sentido, Benetti (2006) contribui com tais reflexões quando aborda o pensar por si próprio e o desenvolvimento do senso crítico do estudante de Filosofia:

Para pensar por si próprio é necessário ir além do ensino de habilidades e ou de temas. É importante que o professor possa compreender e abrir espaço para que os alunos façam experiências com os conceitos da filosofia e encontrem um espaço para produzir a partir das inquietações e conflitos que vivenciaram. O ato de filosofar tem por característica desacomodar, gerar conflito, entretanto é preciso atentar para não só gerar o conflito sem possibilitar que o aluno construa saídas para os mesmos. Dito de outra forma, é importante se deixar desacomodar e fazer algo a partir do que desacomoda. Nesse sentido, o ato de filosofar, ou o ato de ensinar e aprender de forma geral, não se constrói de maneira desvinculada do desejo e dos afetos produzidos nessa relação. (BENETTI, 2006, p. 35).

O significante elementar “significado de ser um bom professor de Filosofia” pode ser observado nas seguintes respostas: “Ser um bom professor de Filosofia é quando você incentiva os alunos a raciocinar, ser um professor que aguça a reflexão de um aluno, esse professor está no caminho certo” (L3); “Um bom professor de Filosofia é aquele que suscita nos alunos o gosto pelo aprendizado, pelo conhecimento, ser crítico perante a alienação política de toda forma” (L24).

Essas falas demonstram o quanto é importante uma visão crítica da própria Filosofia, considerando-a uma disciplina que pode somar esforços com outras no sentido de ajudar a construir o pensamento crítico dos alunos e a refletir. Gabriel (2015) apresenta a importância de uma Filosofia que possibilite aos estudantes do Ensino Médio uma experiência filosófica e criação conceitual. Para tanto, o autor utiliza os pressupostos da filosofia de Deleuze e Guattari, para propor um ensino que oportunize criar conceitos e pensar no valor dos valores - pensar na própria vida e reformular o sentido dela, a partir dos pensamentos dos filósofos.

Com relação ao Estágio Supervisionado, a fala de L5 demonstra a dificuldade que há de superar a perspectiva burocrática:

Eu gosto. Na minha concepção está sendo ótimo. Eu tive uma experiência não tão boa, posso dizer. Desde que saí do Ensino Médio até agora, as coisas mudaram bastante, mas, assim... mesmo assim, é algo que é necessário. Depois, quando eu me deparar com uma sala de aula, eu vou ter uma noção de como que é de fato, como o Ensino Médio é. Não é algo fácil. E o estágio mostra isso para nós; então, eu acho que é algo necessário e está sendo... é difícil, é complicado, a gente não tem muito tempo. Acho que as pessoas têm que entender também que tem uns que trabalham período inteiro, mas é algo necessário; tem que pedir sim para fazer. As disciplinas pedagógicas muitas vezes não dialogam com o estágio, cada professor leciona sua disciplina e fica algo separado, poderia haver uma preparação mais intensa se todas as disciplinas pedagógicas dialogassem entre si. (L5).

Cluster 2

No Quadro 4, apresenta-se uma síntese dos significantes mais elementares que deram origem ao Cluster 2.

QUADRO 4 Síntese dos significantes mais elementares do Cluster 2. 

Variável Significantes elementares Frequência
1. Significado de ser um bom professor de Filosofia A1 - Auxiliar na capacidade crítica dos alunos. 40,0
C1 - Instigar os alunos a pensar. 33,3
2. Se a experiência filosófica é importante A2 - Experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo. 53,3
E2 - Sim, Filosofia é criação de conceitos. 33,3
3. Significado de ensinar Filosofia A3 - Criação de conceitos. 20,0
B3 - Pensamento crítico - ajudar a construir. 40,0
D3 - Superação do senso comum. 20,0
4. Importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia B4 - Experiência com a sala de aula. 60,0
D4 - Vivência da futura condição de professor. 33,3
5. Expectativas em relação à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo, durante o estágio E5 - Não respondeu à questão. 33,3
G5 - Percebo desafios. 53,3
6. Motivação para cursar Licenciatura em Filosofia A6 - Conhecer mais a Filosofia. 40,0
F6 - Paixão pela Filosofia. 20,0
7. Função do Ensino Superior na educação brasileira A7 - Auxiliar no aperfeiçoamento profissional. 26,6
B7 - Formação do cidadão. 20,0
G7 - Respostas diversas. 20,0

Fonte: Os autores (2020).

Esse depoimento mostra o contraste entre o ideal e o real encontrado na realidade escolar e na vida acadêmica, com muitos estudantes trabalhando, além de cursar Filosofia. Todavia, esse diagnóstico não deve desmotivar a lutar pela transformação das condições do Estágio Supervisionado. A sugestão da licencianda de integrar as disciplinas pedagógicas com o estágio pode levar os coordenadores de curso a pensar nas grades curriculares dos cursos de Filosofia.

Ao observar-se o Cluster 2, pode-se destacar que, para esse grupo de licenciandos, o significado de ser um “bom professor de Filosofia” é “auxiliar na capacidade crítica dos alunos” e “instigar os alunos a pensar”; que a experiência filosófica é importante, aparece como “enciclopedismo” e como “criação de conceitos”. Para os licenciandos desse cluster, o significado de ensinar Filosofia é “ajudar a construir o pensamento crítico”, “criação de conceitos” e “superação do senso comum”.

A importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia para os licenciandos desse cluster é vista como uma experiência com a sala de aula e é determinante para a vivência da futura condição de professor. Em relação às expectativas sobre a regência, os alunos, o professor, a escola e o conteúdo, durante o estágio, os licenciandos as veem como um grande desafio. A motivação para cursar licenciatura em Filosofia centra-se na busca pelo conhecimento da Filosofia e pela paixão por ela. Ainda, para esse cluster, a função do Ensino Superior na educação brasileira é “auxiliar no aperfeiçoamento profissional” e a “formação do cidadão”.

Pode-se exemplificar o primeiro significante elementar com a fala de L2: “Um bom professor é aquele capaz de ensinar a teoria e a prática, fazendo com que o aluno conheça a história da Filosofia e dos filósofos, e que ative seu senso crítico e reflexivo”; e de L27: “É passar para o aluno várias visões de mundo, pensando como os filósofos, é atribuir uma visão crítica aos jovens, fazer aguçar a curiosidade sobre a realidade em que vivemos, passar para os alunos o lado humano e reflexivo que todos devem ter”.

L27, na entrevista, relatou o seu entendimento de Filosofia como participante da vida do estudante dessa licenciatura, o que vai ao encontro da contribuição de Heller (1983) para a área, como possibilidade de uma harmonia entre pensar, viver e agir. Nos dizeres de L27:

Não, a Filosofia tem que ser unida à vida sim, porque isso faz parte até do que é a Filosofia. Eu mesmo disse que vi a Filosofia como resistência, eu acredito nisso também, até porque é uma resistência, porque, no meio do Ensino Médio ali, a gente percebe que vem a Matemática com as fórmulas, depois vem a Física, depois vem a Química, depois vem a Gramática, daí na aula de Filosofia eles querem falar, eles sentem que é uma aula... Lógico que tem uns que não vão ligar, mas tem uns que veem uma oportunidade de falar naquela aula e tudo mais. Hoje, eu tive estágio de manhã; eu fui lá, daí a gente estava falando de filme, porque chegou ao assunto de tirano. Eu indiquei filmes para eles, fiz ponte com Games of Thrones, porque eles gostam dessas coisas. Eles entenderam, porque estava difícil eles entenderem a palavra ‘tirano’, nunca tinham tido contato com ela. Depois eu vejo até eles conversando; eles aprendem mais português na aula de Filosofia do que na aula de Português, porque a Filosofia faz eles pensarem até sobre os conceitos das palavras. Eu acho que a Filosofia [...], a prática e a teoria têm que estar juntas sim. É necessário, mas, sei lá, alguns professores não acreditam, não acreditam nisso. (L27).

Nesse sentido, os dizeres de L27 complementam a visão de um ensino de Filosofia como experiência filosófica e de uma proposta de recepção completa dela, em busca de articular os conhecimentos teóricos com a própria existência (GABRIEL, 2015).

Sobre a importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia, com 60,0 de frequência, apareceu a resposta “experiência com a sala de aula”; outra resposta foi “vivência da futura condição de professor”. Citam-se algumas respostas dos licenciandos:

O Estágio Supervisionado é de extrema importância, pois através dele temos contato com o Ensino Médio e conhecemos como funciona uma sala de aula na prática (L9); A importância do estágio se dá pela possibilidade de o futuro professor conhecer seu meio de trabalho e se dedicar à forma didática que ele julga necessário para poder trabalhar posteriormente (L29); O Estágio Supervisionado proporciona uma vivência durante a vida acadêmica sobre a realidade da profissão de professor e todas as implicações e dificuldades que esta tem (L30).

Nessa perspectiva, Almeida e Pimenta (2014) defendem o papel do Estágio Supervisionado como lugar de aproximação com o futuro campo profissional:

Essa dinâmica é fruto das considerações teóricas que temos sobre o papel e a importância do estágio na formação de professores, pois acreditamos que para uma real aproximação com o futuro campo profissional é necessário que os estudantes levantem dados, observem a prática dos profissionais mais experientes, reflitam, analisem, conceituem, busquem articular os vários elementos com as situações práticas, procurem articular os vários elementos que estão percebendo na realidade observada de modo que avancem no seu desenvolvimento pessoal e na constituição dos seus estilos de atuação. (ALMEIDA; PIMENTA, 2014, p. 29).

Cluster 3

Apresenta-se, no Quadro 5, as variáveis que deram origem ao Cluster 3.

Ao observar-se o Cluster 3, pode-se destacar que, para esse grupo de licenciandos, o significado de ser um “bom professor de Filosofia” é “instigar os alunos a pensar” e “ser capaz de aprender e ensinar Filosofia”; que a experiência filosófica é importante porque “a filosofia é transformadora”, mas que muitos veem a experiência filosófica como enciclopedismo. Para os licenciandos desse cluster, o significado de ensinar Filosofia é “superar o senso comum” e “viver a Filosofia”.

QUADRO 5 Síntese dos significantes elementares do Cluster 3. 

Variável Significantes elementares Frequência
1. Significado de ser um bom professor de Filosofia B1 - Incentivar a reflexão. 25,0
C1 - Instigar os alunos a pensar. 25,0
E1 - Ser capaz de aprender e ensinar Filosofia. 25,0
2. Se a experiência filosófica é importante A2 - Experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo. 25,0
B2 - Sim, a filosofia é transformadora. 66,6
3. Significado de ensinar Filosofia D3 - Superação do senso comum. 50,0
F3 - Viver a Filosofia e respostas diversas. 25,0
4. Importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia A4 - Aprendizado para a futura atividade. 25,0
5. Expectativas em relação à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo, durante o estágio B5 - Estágio como momento da prática. 25,0
E5 - Não respondeu à questão. 33,3
6. Motivação para cursar Licenciatura em Filosofia B6 - Desejo particular. 41,6
F6 - Paixão pela Filosofia. 41,6
7. Função do Ensino Superior na educação brasileira A7 - Auxiliar no aperfeiçoamento profissional. 41,6
B7 - Formação do cidadão. 25,0
G7 - Respostas diversas. 25,0

Fonte: Os autores, 2020.

A importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia para os licenciandos desse cluster é determinante para a vivência da futura condição de professor. Em relação às expectativas voltadas à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo, durante o estágio, os licenciandos destacaram a importância do estágio como momento da prática. A motivação para cursar licenciatura em Filosofia centra-se no desejo e na paixão pela Filosofia. Ainda, para esse cluster, a função do Ensino Superior na educação brasileira é “auxiliar no aperfeiçoamento profissional” e “formação do cidadão”.

Os significantes elementares apontam no sentido de que o enciclopedismo pode ser um pressuposto para a experiência filosófica. Assim, os acadêmicos entendem que a oposição entre experiência filosófica e ensino enciclopédico pode ser dissolvida por um novo modelo de cooperação entre ambas as partes, culminando em um tipo de ensino que provoque, nos estudantes, o pensamento crítico. L22, na entrevista, assim se expressa sobre o que considera ser objeto de ensino da Filosofia:

Acredito que é o que seja despertar esse interesse em filosofar. É você pegar um tema, pegar alguma coisa e mostrar para os alunos, colocar para os alunos, começar a debater sobre isso, virar uma discussão, virar uma conversa, pegar uma coisa simples, por exemplo: ‘Esse é um livro, de que cor esse livro é? O que esse livro significa para você? Você gosta de ler? Por que você gosta de ler? O que tem de interessante? Por que é interessante?’. Então, acho que começa aí. (L22).

Gabriel (2015) defende um ensino como experiência filosófica, que, conforme L22, se relaciona com a vida do estudante de Filosofia e não deve ser algo abstrato. De acordo com o autor, a Filosofia como criação de conceitos, no contexto do Ensino Médio, deve ser entendida não como criação profissional de um conceito filosófico, mas como uma experiência do pensamento autônomo e singular, cujo objetivo é provocar a pensar por si mesmo e sair da menoridade intelectual.

Sobre a importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia, tem-se o significante elementar “aprendizado para a futura atividade”, exemplificado pelas seguintes falas:

O contato com a realidade da sala de aula é importante para o processo de desconstrução e reconstrução (L6); É muito bom para o contato com a realidade, é a experiência com a sala de aula (L7); É importante, porque por meio dele o acadêmico aprende como se comportar como professor numa sala de aula; como ensinar; como se faz para cativar o aluno (L31); Acho importante, porém os professores não se sentem, na maioria das vezes, à vontade com um estagiário em sala (L38).

Nesse sentido, urge entender o Estágio Supervisionado como parte da formação integral do educando e não apenas como parte mais prática (PIMENTA, 2012). A dicotomia entre teoria e prática deve ser superada, porque é uma visão inadequada da realidade do estágio.

Cluster 4

No Quadro 6, apresentam-se as variáveis, os significantes elementares e as frequências evidenciados no Cluster 4.

QUADRO 6 Síntese dos significantes elementares do Cluster 4. 

Variável Significantes elementares Frequência
1. Significado de ser um bom professor de Filosofia E1 - Ser capaz de aprender e ensinar Filosofia. 83,3
2. Se a experiência filosófica é importante A2 - Experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo. 50,0
3. Significado de ensinar Filosofia B3 - Pensamento crítico - ajudar a construir. 33,3
C3 - Ajudar o aluno a refletir. 33,3
4. Importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia C4 - Pode ser negativa. 66,6
5. Expectativas em relação à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo, durante o estágio A5 - Ensinar é agradável. 33,3
6. Motivação para cursar Licenciatura em Filosofia F6 - Paixão pela Filosofia. 33,3
7. Função do Ensino Superior na educação brasileira D7 - Formar massa trabalhadora. 33,3

Fonte: Os autores, 2020.

Ao observar-se o Cluster 4, pode-se destacar que, para esse grupo de licenciandos, o significado de ser um “bom professor de Filosofia” é “ser capaz de aprender e ensinar Filosofia”; que a experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo. Para os licenciandos desse cluster, o significado de ensinar Filosofia é “ter pensamento crítico” e “ajudar o aluno a refletir”.

A importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia para os licenciandos desse cluster é determinante para que esta não seja uma experiência negativa. Em se tratando das expectativas em relação à regência, aos alunos, ao professor, à escola e ao conteúdo, durante o estágio, os licenciandos destacam que ensinar é agradável. A motivação para cursar licenciatura em Filosofia centra-se no desejo e na paixão pela Filosofia. Ainda, para esse cluster, a função do Ensino Superior na educação brasileira é “formar a massa trabalhadora”. Na entrevista, L13 assim se pronuncia com relação a uma aula como experiência filosófica:

Na graduação, temos filósofos enciclopédicos, que são também importantes porque nos ensinam a pensar filosoficamente, mas tem os professores que abrem para o debate e se aproximam mais de uma experiência filosófica. Acredito que é importante somar as duas visões: enciclopedismo e experiência filosófica. Nas aulas do ensino médio, acredito que é imprescindível que os alunos tenham uma experiência de criar conceitos, como está nas Diretrizes Curriculares do Paraná. Trabalhei já um ano como PSS numa escola da região e não é tão fácil na prática... No curso, acredito que deveríamos ter uma valorização maior das disciplinas pedagógicas. (L13).

Carrilho (1987) apresenta o conceito de aula de Filosofia como laboratório conceitual. Quando isso acontece, tem-se a possibilidade da experiência filosófica, porque não se está a tratar de conceitos estagnados da história da Filosofia, mas de conceitos que se relacionam com a existência. Nos dizeres do autor sobre a ensinabilidade filosófica:

A situação é a seguinte: o ensino escola habitua os alunos a aprender, a adquirir conteúdos estáveis de conhecimentos. Se o ensino de filosofia se conformasse a esta característica geral, não haveria qualquer problema particular. Mas tal não acontecesse: os problemas que surgem com o ensino de filosofia decorrem fundamentalmente daquilo que se pretende ensinar, isto é, da própria natureza da filosofia, do facto de ela não poder oferecer aqueles conteúdos e, portanto, ser aprendida stricto sensu, mas apenas poder propor, exercitar, a aprendizagem do filosofar. (CARRILHO, 1987, p. 44, grifo do autor).

A respeito da categoria “importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia”, prevaleceu, com frequência de 66,6, o significante elementar “pode ser negativa”. Seguem alguns exemplos nesse sentido:

O Estágio Supervisionado por vezes é muito burocrático e os professores nem sempre aceitam que observemos as aulas deles (L4); O Estágio Supervisionado em partes é bom, porque ajuda a ter um contato com a realidade, mas às vezes somos vistos como intrusos nos colégios (L14); De certa forma é bom, mas ao mesmo tempo ruim, porque é uma carga horária muito grande (L43).

Pimenta e Lima (2012) entendem a importância do Estágio Supervisionado quando é valorizado de forma a contribuir na constituição identitária do futuro professor, superando uma visão burocrática de estágio. Segundo as autoras,

[...] o estágio passa a ser um retrato vivo da prática docente e o professor-aluno terá muito a dizer, a ensinar, a expressar sua realidade e a de seus colegas de profissão, de seus alunos, que nesse mesmo tempo histórico vivenciam os mesmos desafios e as mesmas crises na escola e na sociedade. Nesse processo, encontram possibilidade para ressignificar suas identidades profissionais, pois estas, não são algo acabado: estão em constante construção, a partir de novas demandas que a sociedade coloca para a escola e a ação docente. Formadores e formandos encontram-se constantemente construindo suas identidades individuais e coletivas em sua categoria. (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 127).

Assim, o Estágio Supervisionado pode ser um momento de grande crescimento pessoal e profissional para os futuros professores, desde que todos os agentes (universidade, escola, orientador de estágio, professor que acolhe o estagiário) estejam cientes da necessidade de superar sua visão burocratizada e entendê-lo como movimento de formação imprescindível na existência do futuro profissional de Filosofia. É importante ressaltar que, embora o objeto de pesquisa esteja vinculado ao curso de Licenciatura em Filosofia, muitas das considerações se aplicam às demais licenciaturas.

Considerações sobre o modo de entender a Filosofia como experiência filosófica

No Quadro 7, apresentam-se as características mais evidenciadas em cada cluster, que permitem entender as nuanças em cada um deles.

Percebe-se, nos diversos clusters, a importância atribuída ao ensino de Filosofia como experiência filosófica, que coincide com uma visão de sala de aula como momento de desenvolver o espírito crítico dos estudantes. Nessa perspectiva, aparece com alta frequência que ser professor de Filosofia significa auxiliar na capacidade crítica dos alunos. Heller (1983) propõe e discute a importância de uma recepção filosófica que harmonize o pensar, o viver e o agir, entendendo que a recepção completa da Filosofia transforma o modo de pensar e de viver das pessoas, não se podendo limitar a um enciclopedismo filosófico. Em suas palavras, o “[...] dever do filósofo - hoje não menos do que em outros momentos da história - é viver segundo a sua filosofia; ele deve assumir o risco do conflito com a profissão” (HELLER, 1983, p. 27).

É importante destacar que esse entendimento de Heller (1983) dialoga com o pressuposto de uma aula de Filosofia como experiência filosófica, uma vez que não se pode querer filosofar sem relacionar com a vida e a existência. A Filosofia estudada não deve doutrinar, mas provocar o pensamento de assumir um modus vivendi. Toda construção filosófica é, portanto, “[...] expressão de uma forma de vida, que se torna vinculante para o seu criador no momento em que foi formulada como autêntico saber” (HELLER, 1983, p. 29). Assim sendo, qual é a importância do Estágio Supervisionado nesse contexto? Ele assume a relevância de ser o momento oportuno para o acadêmico vivenciar a aula como laboratório conceitual (CARRILHO, 1987) e contribuir com o professor regente para que a aula de Filosofia seja uma experiência do filosofar e não apenas a memorização de alguns conceitos mais relevantes da disciplina.

Defende-se que o modo de entender o que é a Filosofia determina o que se pensa sobre seu ensino. A respeito, Cerletti (2009) aborda o ensino de Filosofia como problema filosófico, superando um entendimento apenas pedagógico. Dependendo da compreensão, tem-se, assim, uma visão diferenciada sobre o ensino dessa disciplina e o Estágio Supervisionado.

QUADRO 7 Características mais evidenciadas em cada cluster. 

Cluster Característica evidenciada
1 a) Ser um bom professor de Filosofia significa auxiliar na capacidade crítica dos alunos (A1 - 53,8%).

b) Sobre a importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia: vivência da futura condição de professor

c)(D4 - 61,5%).
2 Entendem que a experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo (A2 - 53,3%).
b) Sobre a importância do Estágio Supervisionado na formação do professor de Filosofia: experiência com a sala de aula (B4 - 60,0%).
3 a)Sobre a experiência filosófica: a filosofia é transformadora
b) (B2 - 66,6%).
c) Significado de ensinar Filosofia: superação do senso comum
d) (D3 - 50,0%).
4 a) Sobre o significado de ser um bom professor de Filosofia: ser capaz de aprender e ensinar Filosofia (E1 - 83,3%).
b) A experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo (A2 - 50,0%).

Fonte: Os autores, 2020.

Para alguém que concebe o ensino de Filosofia como algo apenas enciclopédico, ela se limita a ser uma composição de teorias que não se relacionam com a existência. Por sua vez, quando alguém pensa como Heller (1983), em uma recepção completa da Filosofia que relacione teoria e vida, passa a concebê-la de modo existencial - aquilo que se chama Filosofia como experiência filosófica. Nos dizeres de Cerletti (2009),

[...] converter a questão ‘ensinar filosofia’ em um problema filosófico modifica também a sequência tradicional da didática da filosofia, que privilegia o ‘como’ ensinar, para colocar então em primeiro lugar a análise do ‘que’ ensinar. O ‘que’ não será simplesmente um tema filosófico, mas segundo o que sustentamos até, aqui, envolve uma tomada de posição perante a filosofia e o filosofar. Essa colocação, por sua vez, outorga um forte protagonismo aos professores nas decisões sobre as estratégias a desenvolver para levar adiante o seu ensinar, já que tais estratégias resultarão da integração das posições filosóficas e pedagógicas pessoais, com a avaliação das posições filosóficas e pedagógicas pessoais, com a avaliação das condições e do contexto em que o ensino terá lugar. (CERLETTI, 2009, p. 63).

O ensino de Filosofia deixa de ser algo meramente pedagógico para se tornar, portanto, um problema filosófico. Analogamente, acredita-se que a formação de professores de Filosofia é um problema filosófico. Nesse sentido, tem-se procurado aprofundar conhecimentos sobre a formação de professores de Filosofia e defende-se, para modificar essa realidade, ser necessário intervir na formação desses futuros docentes.

Sinteticamente, pode-se dizer que, para todos os clusters, a experiência filosófica é considerada relevante. Assim, infere-se que os sujeitos da pesquisa consideram que é de grande relevância um ensino de filosofia que seja pautado não apenas por memorizar conceitos filosóficos, mas também pela prática do exercício do filosofar. No entanto, há uma especificidade para os integrantes dos Clusters 2 e 4 no que diz respeito ao entendimento que eles têm de que experiência filosófica é o mesmo que enciclopedismo. Conforme apontado anteriormente, nas discussões teóricas, acredita-se que há uma diferença entre enciclopedismo e experiência filosófica. Talvez por aproximação, pode-se dizer que o enciclopedismo seja uma propedêutica para a experiência filosófica. Contudo, há uma unanimidade nos quatro clusters em apresentar um ensino de filosofia que seja crítico e provoque o aluno ao exercício da superação do senso comum. Já com relação ao Estágio Supervisionado, nos quatro clusters, encontrou-se uma consciência sobre a importância do Estágio Supervisionado na formação do futuro professor de Filosofia. Nas respostas, percebe-se um clamor para que exista uma maior parceria entre universidade e escola no sentido de se buscarem estreitar laços entre ambas as instituições, visando que a universidade oriente mais de acordo com a realidade do ambiente escolar em que os estagiários realizam a sua experiência como futuros professores. Com relação à motivação para ser professor de Filosofia, foi encontrado que alguns realizam o curso para aprofundar conhecimentos e não necessariamente pensam em ser professores de Filosofia, e outros se sentiram motivados para cursar Filosofia tendo em vista a experiência satisfatória ou insatisfatória na aprendizagem de Filosofia quando estudantes do Ensino Médio; desse modo, eles optaram por aprofundar seus conhecimentos sobre o filosofar.

Considerações finais

Os dados dos quatro clusters revelaram que, diferentemente do pressuposto de oposição entre ensino enciclopédico e ensino como experiência filosófica, os licenciandos apontam para uma possibilidade de conciliação; assim, o ensino de Filosofia pode se servir do enciclopedismo como propedêutica para a experiência filosófica. Nesse sentido, é importante considerar que o papel da história da Filosofia não deve ser o de engessar o filosofar, mas sua presença é importante para dar condições para a reflexão filosófica.

Por meio da ATD, surgiu um emergente na forma de significantes elementares, que foram processados pelo software Mathematica®, resultando nos quatro clusters discutidos. Embora eles apresentem especificidades, é possível destacar três elementos importantes a partir de sua análise:

  • a) Sobre um ensino de Filosofia que eduque para a criticidade: a palavra “criticidade” foi bastante evocada pelos participantes, seja nos questionários, seja nas entrevistas. Isso indica que é de grande importância que o ensino de Filosofia na licenciatura também contribua eficazmente para que os futuros docentes sejam críticos. Outros estudos com esses sujeitos poderão aprofundar os significados da criticidade para eles.

  • b) Sobre o papel do Estágio Supervisionado na formação de futuros professores de Filosofia: ficou evidenciada a importância da vivência do Estágio Supervisionado como propedêutica para a futura atividade como professor de Filosofia. Nas entrevistas, principalmente, os licenciandos apontaram dificuldades em realizar o Estágio Supervisionado, tendo em vista a necessidade de estabelecer laços maiores entre universidade e escola. Por vezes, o professor que acompanha o estágio não tem contato direto com a instituição escolar, devido às próprias condições estruturais da universidade, o que diminui aproveitamentos mais profícuos da vivência do estágio.

  • c) Sobre o ensino de Filosofia como experiência filosófica: com base em pensadores como Heller (1983), parte-se do pressuposto de um ensino de Filosofia que conjugue o pensar, o viver e o agir de forma harmônica, procurando o afastamento de um ensino meramente enciclopédico. Nesse sentido, os dizeres dos licenciandos apontam que, na sua experiência de estágio, já perceberam o quanto faz diferença quando um professor relaciona vida e existência no seu modo de ensinar Filosofia.

Pode-se destacar, dessa forma, que os depoimentos dos acadêmicos sobre o ensino de Filosofia e o Estágio Supervisionado indicam a necessidade de aprofundar estudos a respeito da metodologia de ensino de Filosofia e da vivência do estágio. Ainda, em relação ao Estágio Supervisionado, os licenciandos revelam a necessidade de superar a visão dicotômica entre estágio como prática e teoria apreendida em outras disciplinas. Desse modo, é preciso pensar de forma mais integral as atividades formativas ao longo da licenciatura.

A partir das reflexões aqui apresentadas, destaca-se, ainda, a importância de se aprofundar estudos sobre Filosofia e seu ensino, em busca de melhorar a aprendizagem dos estudantes do Ensino Médio, tendo em vista que, em alguns estados, já se estuda reduzir a carga horária das disciplinas de Filosofia e de Sociologia, devido a críticas sobre a efetivação de sua aprendizagem. Urge, portanto, defender a disciplina, sobretudo aprofundando metodologias de ensino que possibilitem uma experiência filosófica que oportunizem ao futuro professor um bom desempenho na realização da sua atividade docente.

REFERÊNCIAS

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PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2012. [ Links ]

1Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - Código de Financiamento 001 e da Fundação Araucária.

2Trata-se de um recorte dos dados empíricos da tese de Doutorado defendida por um dos autores deste artigo.

Recebido: 20 de Abril de 2020; Aceito: 12 de Outubro de 2022

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