A editoração de periódicos acadêmicos da área da Educação, no contexto brasileiro, constitui-se território de lutas perenes no intuito de trazer a público o corolário do processo intelectual e investigativo de pesquisadores/as contemporâneos/as e atrair leitores/as especializados/as que poderão mobilizar o conhecimento, empreender novas pesquisas, ampliar o debate entre investigadores/as e grupos de pesquisa num ciclo virtuoso da produção científica da área. Nos anos recentes, num período de governo(s) anti-ciência, antidemocrático(s), não afeto(s) às questões sociais e educacionais, as lutas eram ainda menos alvissareiras.

O ano de 2023 trouxe a expectativa de um período mais promissor com perspectivas de retomada e reconstrução do processo humanizador, civilizatório e democrático, comprometido com pautas que visam mitigar as desigualdades, em âmbito nacional. Em consequência da eleição em 2022 de um governo que assume compromissos com políticas públicas para os setores social e científico, sobretudo.

A Educar em Revista recém comemorou 45 anos de existência, no ano passado. Ao tomar os ciclos de 5 anos e de uma década, neste ano temos outros motivos de júbilo: os 50 anos do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná, instância que nos abriga desde o surgimento do primeiro número, e os 10 anos de criação do Programa de Pós-graduação em Educação: Teoria e Prática de Ensino (PPGE-TPEn). Reafirmar tais longevidades se torna cada vez mais importante diante de ameaças e de retrocessos vivenciados em inúmeros espaços universitários recentemente, dentre os quais a situação de reitores/as interventores/as em algumas universidades e institutos federais, a morte por suicídio de um reitor em decorrência de acusações e ações jurídico-policiais exacerbadas, o cerceamento de professores/as de um lado e as atitudes docentes negacionistas de outro.

Na esfera mais específica dos periódicos científicos, as demandas atuais são sempre mais complexas, em face de diferentes aspectos como: as possibilidades e exigências das tecnologias digitais da informação para produção e comunicação científica; as boas práticas editoriais, incluído nelas o necessário cuidado ético (ainda que alguns desafiem as normas e não cumpram com a idoneidade expectável) ao longo de todo o processo, desde o recebimento e avaliação do artigo à sua aprovação e publicação; a abissal dificuldade de encontrar pareceristas ad hoc disponíveis e comprometidos/as que suportem a decisão editorial; os compromissos com a ciência aberta; a ausência de financiamento ou sua insuficiência; os ditames dos preprints; as intenções de promover a inclusão e a acessibilidade, assim como a equidade e a diversidade; as métricas e fator de impacto esperados e impostos (ainda que possa existir controvérsias sobre tais dispositivos); entre outros. Junta-se a este universo alguns tensionamentos, como a indefinição sobre a continuidade ou não do sistema de classificação Qualis Periódicos da Capes, sistema de classificação da produção científica dos programas de pós-graduação brasileiros, que tem orientado a avaliação dos programas desde 1998. Enfrentaremos esse dilema em futuro próximo, o que afetará tanto instituições como pesquisadoras e pesquisadores individualmente.

O ano de 2023 também é o ano no qual a SciELO (Scientific Electronic Library Online) comemora 25 anos de existência. Ela nasce como uma biblioteca virtual de revistas científicas brasileiras em formato eletrônico e, em seguida, se expande ao incluir na Rede mais países da América Latina e Caribe, México, Espanha, Portugal e África do Sul. De acordo com ^{Rezende e Falgueras (2020}, p. 19), a SciELO é “considerada o avanço de maior impacto para o fortalecimento dos periódicos de acesso aberto no Brasil e nos países da América Latina”. ^{Packer (2023}, p. 18) afirma que a “SciELO Brasil estabeleceu o final de 2024 como prazo para que todos os periódicos da coleção se alinhem com o modus operandi da ciência aberta.” No presente, trata-se de instituição fundamental na indexação, na divulgação e na internacionalização da produção acadêmico-científica nacional.

A Educar em Revista dispôs na SciELO todos os números publicados, desde 1977. No Volume 39, em fluxo contínuo, do ano de 2023 a Revista publicou: 42 (quarenta e dois) originais que compõem 4 (quatro) dossiês temáticos, com os seguintes temas: “Valorização docente nos contextos de Brasil e Chile frente às marchas e contramarchas do neoliberalismo”; “Processos migratórios e história da educação em perspectiva transnacional”; “Educação, saúde e assistência às infâncias: saberes, conhecimentos e práticas sociais”; “Histórias da educação na Pan-Amazônia: sociedades, culturas, tempos e espaços”. Some-se a este quantitativo 38 (trinta e oito) publicações de artigos da seção Demanda Contínua, uma Entrevista, um Documento e o Editorial, perfazendo um total de 83 (oitenta e três) textos. Mais uma vez temos a demonstração da vigorosa produção científica na área da Educação, fruto do laborioso trabalho científico de professores, pesquisadores em processo formativo na Pós-graduação e outros já consolidados nessa atuação.

Agradecemos aos/às autores/as, aos/às pareceristas que confiam seu trabalho e colaboram com a Educar em Revista e aos/às leitores/as que leem, debatem e citam os artigos veiculados, mantendo viva e pujante a nossa publicação. Sempre cabe um “grito” do Paulo ^{Leminski (2013}) em nosso viver: