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Educar em Revista

versão impressa ISSN 0104-4060versão On-line ISSN 1984-0411

Educ. Rev. vol.39  Curitiba  2023  Epub 06-Set-2023

https://doi.org/10.1590/1984-0411.83901 

Artigos

A trajetória de José Pereira Lins e a história da educação no sul de Mato Grosso na segunda metade do século XX1

The trajectory of José Pereira Lins and south Mato Grosso educational history in the second half of the 20th century

Kênia Hilda Moreira* 
http://orcid.org/0000-0002-0265-4783

Alessandra Cristina Furtado* 
http://orcid.org/0000-0002-6084-2299

*Universidade Federal da Grande Dourados, UFGD, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. E-mail: keniamoreira@ufgd.edu.br; alessandrafurtado@ufgd.edu.br


RESUMO

Objetiva-se apresentar a história e a trajetória do professor José Pereira Lins, cuja atuação foi decisiva para a educação escolar no Sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), em especial no município de Dourados e região, a partir da segunda metade do século XX. Os procedimentos de pesquisa ancoram-se nos pressupostos teórico metodológicos dos estudos biográficos. As fontes foram retiradas do acervo pessoal do professor José Pereira Lins, disponíveis principalmente na Universidade Federal da Grande Dourados, além de matérias em jornais e revistas, artigos acadêmicos e a obra de Rosa (1990), que inclui a história de vida de José Pereira Lins. A exposição dessa trajetória é apresentada em três partes: 1. “José Pereira Lins e o seu arquivo pessoal”; 2. “José Pereira Lins: de aluno a professor”; 3. “José Pereira Lins: dedicação ao ensino e à educação em Dourados e região”.

Palavras-chave: Biografia; José Pereira Lins; História da Educação; Sul de Mato Grosso

ABSTRACT

This article searches to understand the history and trajectory of Professor José Pereira Lins whose acting was crucial to scholastic education on South of Mato Grosso State (nowadays Mato Grosso do Sul State), especially in Dourados city and its region, in the second half of the 20thcentury. The argument is methodologically anchored around biography as methodological and academic reference. The sources were the personal collection of the Professor José Pereira Lins, mainly available at the Federal University of Grande Dourados, in addition to articles in newspapers and magazines, academic articles and the work of Rosa (1990), which deals with the life story of Lins. This trajectory exposure is presented in three parts: 1. “José Pereira Lins and his personal collection”; 2. “José Pereira Lins: from student to professor; 3. “José Pereira Lins: dedication to teaching and education in Dourados and region”.

Keywords: Biografy José Pereira Lins; History of Education; South of Mato Grosso State

Introdução

Menino pobre, lutou com incrível força de vontade, para ultrapassar as condições adversas de seu meio, até se tornar um dos mais respeitados educadores do Estado. (ROSA, 1990, p. 175).

Objetivamos apresentar uma biografia do professor José Pereira Lins, com ênfase tanto na pessoa do professor como na sua profissão e práticas, expondo a relação entre a sua história de vida e a história da educação no sul de Mato Grosso, tendo como base seus próprios escritos e as escritas feitas sobre ele. Além de atividades na docência, o “Professor Lins”, como era conhecido, atuou como importante “mediador cultural” frente à educação e à produção literária de Mato Grosso do Sul e, sobretudo, de Dourados2. A pesquisa compreendeu e analisou a história e a trajetória desse professor e sua atuação na educação escolar no sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul)3, em especial no município de Dourados e região. Assim, neste texto, enfrentamos o desafio de escrever sobre um homem, um professor como tantos outros, que merece ser biografado pelo papel desempenhado como educador.

Para tanto, ancoramo-nos nas discussões metodológicas em torno da biografia, como referencial teórico metodológico. Apesar de Bourdieu (2006, p. 190) tratar a biografia como uma “ilusão”4 e Le Goff afirmar - ao contribuir com o “retorno da biografia” em sua obras monumentais sobre São Luís e São Francisco - que “[...] a biografia é uma das maneiras mais difíceis de fazer história” (apudDOSSE, 2007, p. 276)5, enxergamos a biografia como uma possibilidade de evidenciar as condições humanas em suas múltiplas facetas, sem aprisionar o sujeito histórico ou exaltá-lo em detrimento de outros, como sentencia Loriga (1998). A biografia de José Pereira Lins será apresentada, conforme Del Priore (2009), não como a história de um indivíduo isolado, mas de uma época, vista por meio de um indivíduo.

Não podendo contar com a contribuição do próprio sujeito, utilizamos, como fontes de pesquisa, documentos do acervo pessoal do professor José Pereira Lins, presente no Centro de Documentação Regional (CDR), da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); a seção José Pereira Lins, da Biblioteca Central da UFGD; documentos apresentados por sua filha, Elisabete Regina Lins de Laet; matérias que circularam em jornais e revistas de Dourados e região e artigos acadêmicos produzidos sobre o professor Lins. Uma fonte de grande valia foi também a biografia de Lins apresentada pela testemunha e intérprete professora Maria da Glória Sá Rosa (1990), na obra “Memória da cultura e da educação em Mato Grosso do Sul: Histórias de Vida”.

O desafio de biografar José Pereira Lins consistiu em juntar alguns recortes feitos por e sobre ele, papéis impressos, fotos, para tentar dar sentido a sua trajetória. Dessa forma, os dados foram entrecruzados a fim de decompor tramas, construir enredos possíveis, descrever dinâmicas de um tempo não tão distante. O recorte temporal foi o século XX, compreendendo que a formação de José Pereira Lins aconteceu na primeira metade desse período e sua atuação docente, na segunda metade. Mais precisamente, tal delimitação vai da década de 1930, quando começam seus primeiros estudos formativos, até a década de 1970, que corresponde ao ápice de sua atuação como profissional da educação escolar.

Para apresentar a trajetória de José Pereira Lins, dividimos o texto em três partes: a primeira versa sobre José Pereira Lins e o seu arquivo pessoal como possibilidades para a escrita de sua biografia; a segunda aborda José Pereira Lins de aluno a professor; e a terceira parte apresenta José Pereira Lins e sua dedicação ao ensino e à educação em Dourados e região.

José Pereira Lins e seu arquivo: possibilidades para a escrita de sua biografia

Pertencente a uma família numerosa, José Pereira Lins nasceu em 05 de fevereiro de 1921, na cidade de São José de Piranhas, no Estado da Paraíba. Seu pai era mestre de obras e especialista em construção de templos religiosos. Sua mãe, dona de casa. Negro e de origem humilde, a influência religiosa se tornou uma marca na história de vida de Lins, como atesta o conteúdo de boa parte dos livros publicados por ele, e pôde, quiçá, ter influenciado sua perseverança como educador.

Considerando, como pondera Bourdieu (2006), que a abordagem através das histórias de vida deve precaver-se da ilusão de transparência do real, optamos por iniciar esta seção expondo a documentação que permitiu a construção de tal biografia. Nesse sentido, levamos em conta a subjetividade individual inscrita nas histórias de vida e as idiossincrasias do espaço social onde reinam as desigualdades veladas e as verdades ocultas pela ilusão da transparência do mundo moderno.

Todas as pessoas produzem arquivos. Na realidade, trata-se de um processo tão natural que elas sequer percebem sua existência ou pensam no assunto. Mas, lá estão eles, os documentos, guardados na gaveta da mesa de trabalho, em uma pasta no fundo do armário, escondidos no meio de um livro esquecido na estante, entre tantos outros lugares. Ao tratar das práticas de arquivamento do eu, Philippe Artières (1998, p. 11) afirma que “arquivar a própria vida é se pôr no espelho, é contrapor à imagem social a imagem íntima de si próprio, e nesse sentido o arquivamento do eu é uma prática de construção de si mesmo e de resistência”, como forma de “destacar a exemplaridade de sua própria vida” (ARTIÈRES, 1998, p. 11).

Existem pessoas que ao longo de suas vidas produzem e acumulam documentos diversos em razão das atividades que exercem, dos eventos dos quais participam e dos papéis sociais que desempenham. Assim foi feito por José Pereira Lins durante sua vida funcional como professor, diretor, escritor e intelectual no sul de Mato Grosso. Todas essas atividades geraram uma rica documentação. Atualmente, grande parte do acervo pessoal do Professor Lins encontra-se na UFGD, estando uma parte no CDR da Faculdade de Ciências Humanas e outra na Biblioteca Central, o que nos permite afirmar tratar-se de um acervo pessoal que ganhou valor público.

Além desses, tivemos acesso a cópias de documentos diversos guardados pela terceira de cinco filhos de José Pereira Lins, Elisabete Regina Lins de Laet6, que nos recebeu para uma conversa e nos apresentou cópias de documentos que compõem o acervo pessoal e profissional de seu pai, arquivados em seu computador. Dentre os documentos, fotografias da construção do edifício do Colégio Osvaldo Cruz, de propriedade de seu pai, fotografias de ex-alunos formandos, de ex-professores, e uma entrevista em áudio do professor Lins concedida à Rádio Coração, em 2005. Assim como o pai, Elisabete tem o hábito de guardar documentos que compõem a história de sua família.

O acervo constante no CDR corresponde a documentos do Colégio Osvaldo Cruz7 ainda não catalogados, além de placas de prêmios, cartas de felicitações remetidas a Lins, oriundas de diferentes partes e personalidades, e recortes de matérias de jornais que tratam de homenagens recebidas.

Vale destacar que José Pereira Lins recebeu inúmeras homenagens, prêmios e titulações ao longo de sua trajetória, como ele mesmo menciona em seu discurso de agradecimento pelo título de Doutor “Honoris Causa”, proferido em 17 de junho de 2005:

Tenho recebido muitas manifestações carinhosas. Impossível mencioná-las todas [...], menciono o título de cidadão douradense que me foi outorgado há 31 anos. O diploma conferido pela Associação da Escola Superior de Guerra, em 1994, o de cidadão da paz, em 1996, conferido pela comunidade Baha’i do Brasil, reconhecida pela Organização das Nações Unidas e a medalha do mérito policial militar, outorgada pelo senhor Governador do Estado, no ano 2002. (LINS, 2005a, p. 6).

Vestígios dessas homenagens compõem parte do acervo pessoal de José Pereira Lins, constante no CDR. Além das que tratam da sua relação com a Academia Douradense de Letras, da qual foi um dos fundadores e presidente, e com a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, constam homenagens ao seu desempenho como escritor de destaque na região por sua produção literária. O conteúdo de suas obras é de cunho literário e religioso. Os títulos de seus livros evidenciam esses dois caminhos: Do Livre Arbítrio e da Soberania de Deus (Teologia); Lobivar Matos: o poeta desconhecido (ensaios literários em coautoria); Conceitos (ensaios de crítica literária); Hélio Serejo... Sublime Poema: vida e obra; O Sol dos Ervais - Exaltação à obra literária de Hélio Serejo (ensaios literários); Tudo passa sobre a Terra (crônicas); As Aves de Arribação; Os Olhos de Deus; Panacéia: máximas, provérbios e... (o que passar pela cabeça do leitor!).

No CDR, o conteúdo dos papéis, dos recortes de jornais, dos convites, é muito diversificado, assim como a data de sua produção, como também ocorre com o arquivo do Colégio Osvaldo Cruz. Não obstante, nessa diversificação predominam os assuntos de âmbito local e regional, que retratam aspectos pessoais e da história da educação de Dourados e do sul de Mato Grosso. Como assinalam Schwartzman, Bomeny e Costa (2008, p. 28), “o que este tipo de material [acervos particulares] permite é adquirir uma visão muito mais rica e complexa dos fenômenos históricos, a partir das motivações e visões de seus protagonistas”.

Esse arquivo impressiona pela riqueza de documentos. Dessa forma, acreditamos que eles não foram acumulados aleatoriamente por José Pereira Lins. Por trás de cada recorte arquivado, carta, fotografia, jornal, livro e revista, havia um critério de seleção presidindo a sua escolha, bem como a sua conservação e manutenção (LE GOFF, 1996). Há de se considerar que, nos arquivos pessoais, os papéis acumulados e guardados acabam por demonstrar e revelar a maneira de pensar e de sentir e os valores de cada indivíduo, ou seja, os costumes e as tradições de um grupo social em um determinado período e lugar.

O CDR, onde está armazenado o arquivo pessoal de José Pereira Lins, tem sua documentação procurada pelo público acadêmico, sobretudo dos cursos de graduação e pós-graduação em Letras, Pedagogia e História, servindo, assim, como fonte de pesquisa para diferentes áreas do conhecimento, porquanto, além daquelas referentes à educação, suas obras de crítica literária são analisadas como fonte de pesquisa sobre a literatura regional.

A outra parte do acervo particular de José Pereira Lins corresponde a sua biblioteca particular, com cerca de oito mil títulos, dentre eles obras raras, livros de sua autoria - anteriormente citados - e os que compunham a biblioteca do Colégio Osvaldo Cruz, repassados pelo professor à Biblioteca Central da UFGD, em 2009. Como aponta Freire (2013, p. 45), uma biblioteca particular “não é apenas um acúmulo casual de livros, é uma possibilidade de leitura que acompanha toda uma vida afetiva, intelectual e profissional de seu proprietário”. Por meio dela se pode conhecer o mundo do seu colecionador.

É importante sinalizar que a potencialidade informacional de um arquivo pessoal varia de acordo com os usos e sentidos que podem surgir a partir do seu universo documental. Mas, como afirma Cunha (2008, p. 118), “ao iluminar esses papéis ‘ordinários’ pode-se pensar na importância de uma memória de papel para o reconhecimento de diferentes práticas, costumes, rituais, ações e sociabilidades como ponto de partida para reinventar outros presentes”, o que demonstra a importância dos acervos pessoais para a análise historiográfica. Consideramos o arquivo pessoal de José Pereira Lins uma importante fonte para a escrita da história da educação no sul de Mato Grosso, devido a sua atuação nessa área no município de Dourados.

Antes mesmo de ter sido repassada à UFGD, a biblioteca, juntamente com o arquivo pessoal, já era conhecida pelo público acadêmico de Mato Grosso do Sul, posto que José Pereira Lins os abrigava em um pequeno escritório construído no interior de sua residência e os deixava à disposição para todos que necessitassem de informações ali depositadas, como professores universitários e alunos de graduação e pós-graduação que o procuravam para estudo e pesquisa.

A importância da disponibilidade dos títulos que compunham a biblioteca particular de José Pereira Lins, agora na Biblioteca Central da UFGD, pode ser evidenciada, por exemplo, com a descrição de Fernandes (2010) sobre o levantamento do seu objeto de pesquisa, ao afirmar que encontrou todas as suas fontes no acervo particular de Lins, assim como Araújo (2009), que em sua tese fez agradecimentos ao professor Lins. Fica evidente o incentivo à pesquisa e a preocupação desse professor com a divulgação da literatura sul-mato-grossense quando as referidas autoras destacam sua disponibilidade de tempo e de materiais para estudos, fazendo de seu acervo particular um bem público, disponível a todos os interessados8.

José Pereira Lins: de aluno a professor

Por compreendermos o “desenvolvimento profissional como resultado de um crescimento individual”, como afirma Abrahão (2011, p. 267), não sendo possível “separar o eu pessoal do eu profissional, sobretudo numa profissão impregnada de valores e de ideias e muito exigente do ponto de vista do empenhamento e da relação humana” (NÓVOA, 1995, p. 7), como é a profissão docente, justificamos a possibilidade de apresentar a trajetória de José Pereira Lins de aluno a professor.

José Pereira Lins começou sua trajetória no ensino quando o seu irmão mais velho lhe instruiu nas primeiras letras do alfabeto, uma tradição das famílias da época, em que o primogênito repassava o conhecimento para os irmãos mais novos, mesmo com a expansão das escolas primárias a partir da República, aspecto que evidencia “as restrições de um sistema educacional ainda precário”, como afirma Abrahão (2011, p. 286), ao apresentar elementos comuns da história de formação de professores. “Aprendi a ler com meu irmão Guilherme Evangelista, com quem me sentava à beira de um poço, no fundo do quintal, para que ele me ensinasse os rudimentos da leitura, da Aritmética” (LINS apudROSA, 1990, p. 176).

Professor Lins permaneceu no Nordeste, entre a Paraíba e o Piauí, trabalhando como ajudante de pedreiro, com seu pai, até 1937, quando se mudou para Campo Grande9. Foi seu irmão Guilherme Evangelista quem trouxe ele, sua mãe e os outros irmãos, após a morte do seu pai.

A partir da inauguração da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em 1914, a cidade de Campo Grande começou a receber muitos migrantes e imigrantes, entre funcionários da ferrovia, comerciantes e fazendeiros, elevando a vila a centro comercial da região (CABRAL, 1999). Em 1930, a cidade de Campo Grande contava com os principais órgãos administrativos. O comércio apresentava mais de 200 estabelecimentos, três agências bancárias, uma agência de Correios e Telégrafos, iluminação elétrica, abastecimento de água canalizada, telefones e clubes recreativos. No que diz respeito às instituições de ensino, em 1933, havia em Campo Grande “2.580 estudantes matriculados, sendo aproximadamente 83% no ensino primário; 10% no Ginásio; 4% no Normal; e 3% no comercial”, como afirma Rocha (2010, p. 69).

O Colégio Dom Bosco, originário do Instituto Pestalozzi, tornou-se, em 1925, a primeira instituição a oferecer o ensino secundário, em nível ginasial, em Campo Grande. Em 1927, esse Instituto era administrado, ao mesmo tempo, pela iniciativa particular e pela municipalidade, passando a se chamar Ginásio Municipal de Campo Grande, equiparado ao Colégio Pedro II. Em 1930, os padres salesianos assumiram a direção do Ginásio, que passou a se chamar Ginásio Municipal Dom Bosco, e, posteriormente, Colégio Dom Bosco.

Apenas no final da década de 1930, precisamente em 1939, foi instalado o primeiro Ginásio público do município, o terceiro dessa modalidade pública no Estado (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2009). Na década de 1940, ainda era reduzido o número de estabelecimentos públicos de ensino secundário, havendo apenas três ginásios oficiais sob a inspeção federal nas três principais cidades de Mato Grosso: Cuiabá, Corumbá e Campo Grande (MATO GROSSO, 1940).

Segundo Brito (2001), a Constituição de Mato Grosso de 1947 previa a criação de estabelecimentos oficiais de ensino secundário sob responsabilidade do governo estadual, nas cidades com população superior a 10 mil habitantes. Ao comparar as instituições de ensino secundário públicas e privadas em Mato Grosso uno, no período de 1947 e 1954, a autora apresenta dados (Quadro 1) que evidenciam um relativo crescimento das instituições de nível médio no Estado, em especial as públicas.

QUADRO 1 Escolas secundárias, normais e comerciais em Mato Grosso (1947 a 1954), públicas e privadas 

PÚBLICAS
Tipo de escola 1947 1948 1950 1953 1954
Secundárias ... 2 ginásios; 1 colégio 4 ginásios; 1 colégio 4 ginásios; 1 colégio 7 ginásios 10; 3 colégio11 7 ginásios; 3 colégio
Normais ... Em implantação 2 escolas de segundo ciclo12 3 escolas de segundo ciclo 4 escolas de segundo ciclo 4 escolas de segundo ciclo
Comerciais... 1 2 2 2 3
PRIVADAS
Tipo de escola 1947 1948 1950 1953 1954
Secundárias ... 7 ginásios; 1 colégio 6 ginásios; 1 colégio 4 ginásios; 1 colégio 7 ginásios; 3 colégio 7 ginásios; 3 colégio
Normais ... 1 escolas de segundo ciclo 1 escolas de segundo ciclo 3 escolas de segundo ciclo 3 escolas de segundo ciclo 3 escolas de segundo ciclo
Comerciais... 1 1 1 1 1

FONTE: Elaborado pelas autoras com base em Brito (2001).

É importante considerar, como destaca Brito (2001), que a Constituição Estadual de 1947 facultava ao poder público a cobrança de mensalidade nesse nível de ensino, sendo a garantia da gratuidade restrita aos alunos da rede primária e profissional pública. Havia bolsas de manutenção para os alunos que comprovassem insuficiência de recursos nos estabelecimentos públicos. O governo financiou parte da expansão do ensino médio de instituições privadas, ora subsidiando a construção e a manutenção das escolas, ora mantendo alunos bolsistas. Esses fatores propiciaram o aumento na oferta de vagas, principalmente na escola secundária, “que alcançou um aumento de 101,4% em termos de matrícula geral, entre 1946 e 1953” (BRITO, 2001, p. 174)13.

No entanto, José Pereira Lins iniciou o ensino secundário em Campo Grande antes desse período de expansão. Ele frequentou os bancos escolares pela primeira vez aos dezenove anos, quando prestou o exame de admissão no Ginásio Estadual Campo-Grandense: “Preparei-me para os exames de admissão no Osvaldo Cruz de Campo Grande” e “ingressei no Ginásio Estadual Campo-Grandense em 1940 e ali fiquei até 1944, ano em que terminei a quarta série” (LINS, apudROSA, 1990, p. 176). Sobre sua formação nesse período, afirma: “O ensino naquela época era ministrado dentro de métodos tradicionais, isto é, o professor dava a matéria, passava as tarefas, e o aluno devia tratar de aprender por si mesmo” (LINS apud ROSA, 1990, p. 176).

De família humilde, Lins trabalhava como zelador na escola em que estudava, serviço conseguido pela diretora Maria Constança de Barros Machado, quem o incentivou o quanto pôde. Como ele mesmo afirma: “Sou um produto da vontade de terceiros. Não foram poucos os que me ajudaram na vida” (LINS apudROSA, 1990, p. 177). Também recebeu auxílio de Dona Oliva Enciso, como doação de livros, cadernos e uniforme. Olívia Enciso14 era diretora da Sociedade Miguel Couto dos Amigos do Estudante, fundada em 1940, cujo objetivo consistia no atendimento a crianças carentes e abandonadas. Maria Constância Barros Machado era uma professora cuiabana que chegou a Campo Grande no final da década de 1910 e iniciou seus trabalhos atuando como diretora, secretária e professora15. Segundo Lins (2005a), foram elas as duas mulheres coparticipantes da sua vitória.

A trajetória de Pereira Lins evidencia que, além da vontade de terceiros, sua “vitória” também é fruto de seu próprio esforço:

Meu maior interesse era estudar, o que fazia até altas horas da noite. Muitas vezes, ia trabalhar com um livro ou as lições amarradas a meu pescoço com um cordão. Enquanto varria ou passava pano, ia cantarolando as lições.

Além desse trabalho na Estadual, fazia serviços de limpeza em casas de família. [...] Fiz muita faxina na casa do prof. Luís Alexandre de Oliveira, na Igreja Batista, da qual me tornei depois membro.

Para economizar, ia almoçar na casa de minhas irmãs e colegas. (LINS apudROSA, 1990, p. 176; 177).

Como se vê, suas limitações financeiras não foram um empecilho para dedicar-se aos estudos. Um exemplo de seu empenho foi o primeiro lugar da “Taça Eficiência”, no concurso cultural “Semana da Asa”, organizado pela base aérea em 1944. “As competições eram realizadas no espaço cine Trianon, aos domingos [...]. Os alunos tinham que decorar os livros da sua série, para disputarem o primeiro lugar”, explica Silva (2018, p. 58). Além disso, como lembra o autor, José Pereira Lins escrevia regularmente no jornal estudantil “A Pena”, pertencente ao Colégio Estadual Campo-grandense, o que evidencia sua jornada de faxineiro, estudante e autor.

Para continuar seus estudos, diante das circunstâncias do ensino secundário em Mato Grosso, mais especificamente na cidade de Campo Grande, onde José Pereira Lins residia com sua família, ao concluir o curso ginasial, se ele tivesse interesse em prosseguir os estudos, deveria se mudar para uma localidade que oferecesse o segundo ciclo do ensino secundário. Em Mato Grosso, no período, o curso científico somente era oferecido no Liceu Cuiabano, situado na capital, Cuiabá.

Como José Pereira Lins tinha interesse em continuar os estudos, sua opção foi mudar-se para a capital do Paraná. A cidade de Curitiba, do seu ponto de vista, na época era a localidade, até se comparada a São Paulo e Rio de Janeiro, que lhe oferecia melhores condições para cursar o segundo ciclo do secundário. Concluiu o terceiro ano do curso científico no Colégio Estadual do Paraná em 1948, tendo que conciliar os estudos com o trabalho.

Como conta Lins, seus primeiros anos em Curitiba, com o objetivo de cursar o científico, não foram fáceis:

Em 1945, no dia 5 de novembro, fui à estação ferroviária de Campo Grande, decidido a embarcar para Curitiba, onde pretendia fazer o curso científico, sem o dinheiro da passagem, enganando se possível o próprio chefe do trem. [...] Lá chegando, fui morar na rua João Negrão, debaixo de um viaduto por cima do qual passava o trem.

Instalei-me debaixo da ponte, numa casa de zinco, com paredes de tábua e papelão, no que se pode chamar favela. O frio foi a coisa mais terrível de vencer. Minhas mãos rachavam, meus pés e meus lábios sangravam, porque eu trabalhava numa fábrica de cola, que fabricava um produto nocivo para a pele [...]. Minhas mãos ficaram estragadas. (LINS apudROSA, 1990, p. 177).

Com toda a dificuldade, ao concluir o curso científico, não mais como funcionário da fábrica de cola “Íncola, das indústrias Renard Ltda”, mas como auxiliar de escritório na “Rede de Viação Paraná S. Catarina”, José Pereira Lins prestou vestibular. O interesse pela faculdade de Medicina foi deixado e a sua nova opção foi um curso de licenciatura. De acordo com Lins, essa mudança ocorreu em virtude da orientação de um colega, que lhe sugeriu ser professor porque seus modos, jeitos e maneira de estudar eram de tal profissional. “Eu pensei que talvez aquilo estivesse na minha índole e daí me matriculei na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da universidade que era dirigida pelos Irmãos Maristas” (REVISTA PREMISSAS, 2009, p. 25). Formou-se em Letras Neolatinas pela Universidade do Paraná, no final de 1952, e fez cursos de aperfeiçoamento em Literatura Comparada, Filologia Portuguesa, Literatura e Língua Italiana.

Como universitário, ingressando no início de 1949, Lins foi bolsista. Segundo conta, um amigo solicitou para ele uma bolsa de estudos “com que pudesse pagar a Faculdade particular, pertencente aos Irmãos Maristas. Engraçado que esse amigo, Eli Correa pediu também uma bolsa para ele, e só veio a minha. Coisa de sorte” (LINS apudROSA, 1990, p. 177, sic).

Nesse percurso de formação em Curitiba conheceu sua futura esposa, também de origem nordestina, Isabel Figueiredo Lins. Os dois frequentavam a Igreja Batista na cidade, e lá se casaram em 1948. Em 1952, com um filho, José Pereira Lins retornou com a família a Mato Grosso, voltando a morar na cidade de Campo Grande, onde exerceu várias funções docentes em instituições de nível secundário, como no Colégio Estadual Campo-Grandense, atual Colégio Estadual Maria Constança, onde ele havia estudado, fazendo parte da primeira turma; no Colégio Osvaldo Cruz, instituição privada, de propriedade de Luiz Alexandre de Oliveira; e no Ginásio Barão de Rio Branco, entre 1952 a 1954, quando recebeu o convite de Luiz Alexandre para ajudar na implantação de uma extensão do Colégio Osvaldo Cruz em Dourados.

O Colégio Estadual Campo-Grandense onde lecionou em 1953, conhecido até 1952 como Ginásio Estadual, era o único na cidade, à época, reconhecido como curso científico. O Colégio Osvaldo Cruz contava com o primeiro ciclo do ensino secundário e com o curso de contador, e o Ginásio Dom Bosco, privado, era destinado aos meninos. A atuação do professor Lins nessa instituição ocorreu a partir do ensino da disciplina Espanhol. Machado (apudLINS, 1995) relembra que os professores das disciplinas do curso científico trabalharam de graça, o que atesta o comprometimento do professor Lins com a educação sul-mato-grossense, assim como fez ao longo de sua vida, como veremos na seção seguinte.

José Pereira Lins: dedicação ao ensino e à educação em Dourados e região

A história pessoal e profissional docente, “antes de ser unicamente individual, tem natureza social, pois se inscreve na e constrói a própria História da Educação e da profissão docente” (ABRAHÃO, 2011, p. 267), daí a importância da biografia “como um potencial para a construção de propostas significativas para a formação de professores e para a profissionalização docente” (ABRAHÃO, 2011, p. 279), como a que se nos apresenta pela biografia de José Pereira Lins, em especial a partir de sua chegada ao município de Dourados.

José Pereira Lins chegou a Dourados pela primeira vez no ano de 1954, quando foi fundado o Colégio Osvaldo Cruz, se dedicando, como pioneiro, à educação de centenas de jovens. A extensão do Colégio Osvaldo Cruz de Campo Grande na cidade de Dourados foi instalada por Luiz Alexandre Oliveira, proprietário e primeiro diretor dessa instituição de ensino.

José Pereira Lins mudou-se definitivamente com a família em 1956, quando a instituição adquiriu o nome de Colégio Osvaldo Cruz. Sua chegada a Dourados ocorreu em um período em que o município passava por um importante desenvolvimento urbano e rural, proporcionado pela implantação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), pelo Decreto-Lei nº 5.941, de 28 de outubro de 1943, mas só implantada em 1948, já no governo de Eurico Gaspar Dutra. Esse projeto colonizador desenvolvido no sul de Mato Grosso fez parte de uma política de Getúlio Vargas, de criação de colônias que estavam diretamente ligadas à fixação do homem no campo, por meio da implantação da pequena propriedade (OLIVEIRA, 1999).

Muitas famílias se deslocaram para a Colônia, atraídas pelas propagandas nos veículos de comunicação oficial ou por informações de familiares e amigos que, ao tomarem conhecimento da doação dessas terras, apressavam-se em avisar suas famílias. Para ocupar as terras da CAND, vieram migrantes de quase todas as regiões, principalmente do Nordeste, além de imigrantes de países da América Latina, Europa, Ásia e Japão.

A implantação da CAND não proporcionou para o município de Dourados apenas a expansão demográfica, com o povoamento dos “espaços vazios” da localidade; promoveu também transformações econômicas, políticas, culturais e sociais. Essas mudanças aceleraram o desenvolvimento urbano com a instalação, a partir de 1950, de hospitais, bancos, cinema, clubes, linha telefônica; ampliação do comércio, loteamentos imobiliários; criação de associações de classe e mais escolas. No entanto, como lembra o professor Lins, na época em que ele chegou à cidade, “Dourados era uma fazenda mal administrada” (LINS, 2005b). Como a maior parte do país naquela época “cidade” era só o nome, pois era eminentemente rural, “Dourados era uma promessa de futuro para quem iria começar a vida” (LINS, 2005b).

Conforme Lins, o que o motivou a migrar com sua mulher e dois filhos e continuar sua família em Dourados foi justamente a possibilidade de futuro que a cidade propiciava, em especial no campo educacional, considerando que em Campo Grande os espaços já estavam todos estabelecidos, segundo ele (LINS, 2005b). Convém lembrar que antes da criação do Colégio Osvaldo Cruz em Dourados, a cidade contava com poucas escolas, e nenhuma delas oferecia o ensino secundário. Para cursar o ensino ginasial, os jovens do município e da região tinham que se dirigir a outras cidades de Mato Grosso, como Campo Grande e Cuiabá, ou a outros estados brasileiros, se quisessem ir além do ensino primário.

No período, as instituições de ensino primário em Dourados eram: o Colégio Erasmo Braga, de caráter privado, fundado em 1939 pelos presbiterianos; o primeiro Grupo Escolar, “Joaquim Murtinho”, instalado pelo governo estadual em 1947; e a Escola “Imaculada Conceição”, também privada, instalada em 1955, pelas Irmãs Franciscanas, precedida pela Escola Paroquial “Patronato de Menores”, também criada pelas franciscanas.

Diante dessas circunstâncias, a instalação do Colégio Osvaldo Cruz, da qual José Pereira Lins participou ativamente, promoveu certo ar de progresso e valorização cultural na educação escolar em Dourados e região.

Apesar das carências materiais, a instalação do Colégio representou a efetivação prática e objetiva das aspirações e dos valores mais elevados da época, no que se refere ao ensino. Nesse período, eram poucos ainda os municípios que possuíam uma instituição de ensino secundário, apesar de, na década de 1950, o ensino secundário já ter passado por um processo de expansão, tanto no Brasil quanto em Mato Grosso, como anunciamos na seção anterior.

O Ginásio Presidente Vargas, que oferecia ensino secundário público em Dourados, apesar de ter sido criado pela Lei nº 427, de 2 de outubro de 1951, teve suas atividades iniciais previstas para 1 de janeiro de 1955, e seu primeiro registro de funcionamento data de 15 de fevereiro de 1958. Nesse sentido, o Colégio Osvaldo Cruz trouxe, desde o início de suas atividades educativas, um grande avanço para a educação em Dourados e região, afinal, foi a primeira instituição de ensino secundário a ofertar o ginasial na cidade. Além disso, começou a oferecer cursos em período noturno. Como afirmou o professor Lins, em entrevista concedida ao jornal Diário MS (2003, p. 5), gerou-se também um “preconceito, que foi ainda maior quando o colégio passou a oferecer aulas no período noturno, pois as mulheres eram proibidas de estudarem ou saírem à noite”. Ele ainda recordou que, nos primeiros anos de funcionamento, as aulas eram dadas à luz de lampiões, pois a energia elétrica ainda não havia chegado ao território douradense.

Sob a administração do professor Lins, o Colégio iniciou suas atividades com o curso primário e o curso ginasial, oferecidos em dois turnos, no diurno e no noturno, e educou gerações de douradenses e de jovens da região sul do Estado. Inúmeros ex-alunos são hoje cidadãos de destaque em nível estadual e nacional, no campo da educação, política, medicina, advocacia e engenharia, conforme afirmam os diferentes artigos jornalísticos que mencionam seus prêmios e títulos. Como assinala Abrahão (2011, p. 286) ao tratar da vida profissional de educadores, essa “é, sem exceção, de uma riqueza, de um comprometimento, de uma paixão pela profissão, o que se percebe claramente pelas histórias, o quanto aprenderam e o quanto influenciaram as comunidades em que atuaram” direta e indiretamente.

Diante desse quadro, podemos afirmar, conforme aponta Ferrarotti (1988, p.18), que “se todo o indivíduo é a reapropriação singular do universo social e histórico que o rodeia, podemos conhecer o social a partir da especificidade irredutível de uma práxis individual”. Assim, é oportuno considerarmos que, a partir da práxis individual de Lins, foi possível conhecer o entorno social que o rodeava e compreender o papel por ele exercido no meio social e histórico no qual estava inserido, na área da educação de Dourados e do sul de Mato Grosso; suas marcas na história da educação da região e do atual estado de Mato Grosso do Sul, pois ele contribuiu para a educação escolar de uma localidade, nesse caso, com a construção de um Colégio de ensino secundário, em um período em que essa modalidade de ensino, tanto no Brasil quanto em Mato Grosso, dava início a um processo de expansão e eram poucas as cidades que possuíam uma instituição escolar que a ofertasse, mesmo que fosse em um estabelecimento pertencente à iniciativa privada.

Professor Lins relembra que, nos primeiros anos de escola, os “professores iam para a sala de aula com um revólver na cintura” (LINS, 2005b), o que demonstra o clima de medo e insegurança da região nos idos da década de 1950. Tal situação, segundo ele, aos poucos, foi se transformando, contando, inclusive, com a ampliação da educação formal na cidade. Provavelmente, essa circunstância de temor fez com que o professor e diretor do recém-criado Colégio Osvaldo Cruz tivesse, como ele mesmo afirma, que agir com “muita autoridade e rigidez” em relação aos alunos. Mas, como também afirma, pautou-se pelo modelo de educação da época, “apesar de todo o rigor com que eu tratei o aluno, foi para o seu bem” (LINS, 2005b).

No que diz respeito ao público que frequentou essa instituição, apesar do cunho privado, o professor José Pereira Lins tinha a prática de oferecer bolsas de estudos aos alunos que não podiam arcar com as mensalidades. Talvez por sua formação religiosa e pela própria história de vida, tendo sido ajudado ao longo de sua formação, como demonstramos e como ele faz questão de lembrar, ao afirmar: “não sou saudosista, mas sou preso a raízes, não fujo das origens” (LINS, 2005b). Sendo assim, não se pode afirmar que apenas a elite douradense frequentava as aulas no Colégio Osvaldo Cruz. Além disso, o público foi se diversificando com o passar dos anos, com o surgimento de cursos profissionalizantes no Colégio e a criação de outras instituições de ensino secundário na cidade.

Em 1960, o Colégio Osvaldo Cruz passou a oferecer o curso técnico em contabilidade e, em 1965, instalou o Curso Normal, tornando-se a segunda instituição de ensino de Dourados a oferecer formação de professores primários. Em 1970, a instituição foi transformada em Centro Educacional Osvaldo Cruz, abarcando a Escola Primária Princesa Isabel, o Colégio Osvaldo Cruz de Dourados, o Colégio Comercial Santos Dumont e a Escola Normal Olavo Bilac (CENTRO..., 1970, p. 1).

O jornal estudantil “O ABC”, de responsabilidade dos alunos do Colégio Osvaldo Cruz, evidencia o reconhecimento dos discentes à administração da instituição, ao apresentar um agradecimento ao professor Lins, demonstrando a importância de sua atuação como diretor:

Somos, portanto, gratos às sábias iniciativas do professor JOSÉ PEREIRA LINS, renomado educador que há anos vem dedicadamente oferecendo sua grande parcela de colaboração para o progresso de Dourados, trazendo assim a oportunidade da educação, do conhecimento e da evolução para esta juventude que hoje em grande número encontram-se espalhados pelas mais diversas Faculdades brasileiras e até mesmo no exterior. O nosso muito obrigado ao professor Lins, sua contribuição é humilde, porém de valor insubstituível para nós. (ABC LITERÁRIO, 1968, p. 1, grifo no original, sic).

Além do Colégio Osvaldo Cruz, Professor Lins fundou outras dez escolas na região, como em Caarapó, Itaporã, Indápolis, Glória de Dourados, Panambi, dentre outras cidades e distritos. Na época, o professor Lins dizia que, depois de criá-las, as passava gratuitamente para outras pessoas administrá-las. Com isso, alunos de outras regiões não precisavam enfrentar longas horas de ônibus para estudar em Dourados.

Em Dourados, o Professor Lins exerceu ainda a função de docente na Escola Estadual Presidente Vargas e no Centro Universitário de Dourados (CEUD), hoje UFGD. No CEUD, ele integrou a primeira equipe de professores do curso de Letras, lecionando Latim, Língua Portuguesa e Literatura. Foi Presidente da Junta de Educação da Convenção Batista Mato-grossense, membro do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul e orientador pedagógico do Curso de Treinamento Básico para Professores do Curso Médio pela Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES), em Mato Grosso.

A CADES teve importante papel na tarefa de preparar tecnicamente pessoas leigas para o exercício do magistério secundário. Criada pelo Decreto nº 34.638, de 17 de novembro de 1953, por Getúlio Vargas, em um momento em que o Brasil passava por grandes transformações socioeconômicas, políticas e culturais, que alteraram profundamente a fisionomia do país e repercutiram na educação. Duas preocupações se faziam presentes nesse período: de um lado, o atendimento das necessidades e exigências de um país que se acreditava estar em franco desenvolvimento, e, de outro, o déficit de professores, decorrente da grande expansão do ensino secundário, que colocava em risco a sua qualidade. Nessas circunstâncias, a CADES foi criada com duplo objetivo: elevar o nível do ensino secundário e difundi-lo (PINTO, 2003). Pinto (2003) menciona que, para a consecução de seus objetivos, a CADES deveria, entre outras atividades:

[...] promover a realização de cursos e estágios de especialização e aperfeiçoamento para professores, técnicos e diretores de estabelecimentos de ensino secundário; conceder e incentivar a concessão de bolsas de estudo a professores secundários, a fim de realizarem cursos ou estágios de especialização e aperfeiçoamento no País ou no exterior; promover estudos dos programas do curso secundário e dos métodos de ensino, a fim de ajustá-los aos interesses dos alunos e às condições e exigências do meio; elaborar material didático para as escolas secundárias; organizar missões culturais, técnicas e pedagógicas para dar assistência e estabelecimentos distantes dos grandes centros; incentivar a criação e o desenvolvimento dos serviços de orientação educacional nas escolas de ensino secundário; divulgar atos e experiências de interesse do ensino secundário; e promover o intercâmbio entre escolas e educadores nacionais e estrangeiros. (PINTO, 2003, p. 755).

José Pereira Lins teve uma participação fundamental nessas iniciativas de ação e difusão da CADES em Mato Grosso, no contexto educacional do ensino secundário. Levou (e difundiu) a orientação e a assistência pedagógica prescrita por essa Campanha aos professores leigos mato-grossenses, em uma época - década de 1950 - na qual o ensino secundário no Estado iniciava um processo de crescimento e até mesmo expansão.

Além disso, o professor Lins foi o segundo presidente da Associação Campo-Grandense de Professores (ACP), entre 1954 e 1955, período em que implantou um programa de rádio para tratar de assuntos da categoria e da educação em geral, e da Associação Douradense de Professores (ADP), atual Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação de Dourados (Simted). Essa atuação nos permite afirmar o forte comprometimento de Lins com a profissão docente, o qual, conforme assinala Nóvoa (1999), é marcado na dupla perspectiva do professor individual e do coletivo docente, pois, no entendimento desse autor, o que define o magistério como profissão “é o seu exercício a tempo inteiro (como ocupação principal); o estabelecimento de um suporte legal para o seu exercício; a criação de instituições específicas para a formação de professores; a constituição de associações profissionais de professores” (NÓVOA, 1999, p. 20). José Pereira Lins, embora se ocupasse com a sua produção literária, tinha a profissão docente como ocupação principal, pois o seu movimento não era feito apenas no exercício da docência e da direção dentro dos muros da escola, sua atuação ia para além dela, como colaborador na construção de escolas e na participação efetiva em entidades sindicais.

Em suma, podemos afirmar que a participação efetiva de José Pereira Lins em entidades sindicais, na posição de presidente, fundador e até mesmo criador de programas de rádio para discutir questões relativas à educação escolar no sul de Mato Grosso acabaram por fortalecer o movimento de reivindicação nessa localidade do Estado, o que acabou deixando também as suas marcas na história dos sindicatos de professores em Mato Grosso do Sul.

Em 2011, José Pereira Lins terminou sua trajetória como ativo colaborador da educação escolar em Dourados e região, vítima de parada cardiorrespiratória, aos 90 anos. Como forma de reconhecimento, em 2014, ele foi homenageado ao atribuírem seu nome a uma escola no bairro Jóquei Clube, em Dourados, conforme Resolução n. 2.879, da Secretaria de Estado de Educação (MATO GROSSO DO SUL, 2014). Esse preito é uma forma de reconhecimento da importância de sua atuação no meio educacional na grande Dourados.

Considerações finais

Vivieron por algo, para algo, hacia algo. Recrear sus vidas es darles vida y darnos vida. Porque eso es, a fin de cuentas, la biografía: un canto en prosa a la vida. (KRAUZE, 2013, p. 15).

Acreditamos, como afirma Krauze (2013), que recontar a trajetória do professor José Pereira Lins é dar-lhe vida e dar-nos vida, ao entrecruzar sua história de vida com a história da educação no sul de Mato Grosso, por meio do seu acervo, seus escritos, suas narrativas e das escritas sobre ele. Diante de sua trajetória, foi possível perceber que cada indivíduo tem muito a dizer não somente sobre as suas experiências pessoais e profissionais, mas também sobre o tempo-espaço em que as mesmas aconteceram. Assim, podemos concluir que a trajetória de Lins, juntamente com a documentação que ele produziu e conservou ao longo da vida, constitui-se em uma importante fonte de pesquisa que permite a recriação de um passado sem heróis, sem mártires, mas, sim, com homens comuns que lutam dia a dia pela educação brasileira.

A biografia do professor Lins permite dialogar com uma dada forma de escrever sobre a história da educação no sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul, especificamente a respeito da história do ensino secundário, da história das instituições escolares, a saber, a história do Colégio Osvaldo Cruz de Dourados e de tantas outra criadas por ele, a história da difusão da CADES em Mato Grosso, a história dos movimentos de reivindicações sindicais dos professores do sul de Mato Grosso, a história da escolarização e da difusão da importância da educação na região, dentre outras possibilidades.

Desse modo, na reconstituição da história da educação do sul de Mato Grosso, a partir dos documentos produzidos por José Pereira Lins, guardados e preservados em seu arquivo pessoal, o pesquisador deve analisar o conteúdo atento às representações que possam expressar o contexto do qual emergiram, tendo em vista que não se constituem em informações neutras das concepções e das ideologias predominantes da época. Apesar disso, não se pode deixar de afirmar que é inegável as potencialidades de seus documentos e de sua biografia para a reconstituição da história da educação no sul de Mato Grosso, como abordamos neste texto.

Procuramos analisar sua trajetória não na perspectiva longitudinal de acontecimentos sem qualquer integração à estrutura social, mas como “acontecimentos biográficos que se definem como colocações e deslocamentos no espaço social” (BORDIEU, 2006, p. 190). Tomadas essas precauções, esperamos ter apresentado um “canto em prosa à vida”, como expõe Krauze (2013, p. 15), ao apresentar a trajetória do professor Lins, homem que se sentia orgulhoso de após ter entrado na escola, nunca mais ter saído, dela, “nem depois de morto”, como afirmou na solenidade de entrega da sua biblioteca pessoal à UFGD.

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1Este artigo é parte dos resultados de pesquisa do projeto “Ensino secundário no Brasil em Perspectiva histórica e Comparada (1942-1961)”, aprovado no edital CNPq Universal n. 1/2016.

2O município de Dourados é, atualmente, o segundo maior do Estado, com população de 261.019 habitantes, de acordo com a prévia da população calculada com base nos resultados do Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

3Mato Grosso do Sul foi criado em 1977, com a divisão do antigo Estado de Mato Grosso (MT) em dois Estados.

4Bourdieu (2006, p. 184-5) refere-se à “ilusão biográfica” ao expor a tentativa de se organizar artificialmente sistemas caóticos por meio do discurso, em sequências inteligíveis, por meio de uma narrativa coerente e totalizante. Nesse exercício, segundo o autor, acontece uma “criação artificial de sentido”, ou seja, uma ilusão retórica.

5Le Goff (1989) afirma que, para o historiador ligado aos documentos, é difícil dispor de informações suficientes para escrever uma biografia outra que aquela de um personagem de primeiro plano.

6Nossos agradecimentos à Elisabete Regina Lins de Laet, que gentilmente nos recebeu numa tarde de sábado, em 12 de dezembro de 2015, em Dourados, onde viveu seu pai, José Pereira Lins, próxima à antiga sede do Colégio Osvaldo Cruz, para uma conversa em busca de confirmar e ampliar as informações apresentadas neste texto. Aproveitamos para agradecer também a leitura atenta deste texto feita por Elaine Rodrigues (Universidade Estadual de Maringá) e Carlos Edinei de Oliveira (Universidade Estadual de Mato Grosso). A todos, nossos sinceros agradecimentos pelas valiosas colaborações na elaboração deste trabalho.

7O Colégio Osvaldo Cruz foi fundado na cidade de Dourados em 1954. Mais informações em Moreira e Passone Rodrigues (2017).

8Nosso levantamento não encontrou qualquer produção que apresentasse o papel do professor José Pereira Lins como educador no sul de Mato Grosso, tratando-se, portanto, de um primeiro exercício de pesquisa nesse sentido.

9Campo Grande era a segunda maior cidade de Mato Grosso e tornou-se, em 1977, a capital de Mato Grosso do Sul, Estado criado com o desmembramento de Mato Grosso uno.

10Com sede nas cidades de Cuiabá, Campo Grande, Corumbá, Cáceres, Aquidauana, Três Lagoas e Bela Vista.

11Trata-se dos Colégios Estaduais: “Maria Leite”, de Corumbá, “Campo-Grandense”, de Campo Grande, e “Mato Grosso”, de Cuiabá (antigo Liceu Cuiabano).

12O ensino normal era ministrado em dois ciclos: o primeiro destinado a formar regentes para o ensino primário, em quatro anos; e o segundo, destinado à formação de professores primários, em três anos.

13Entre os outros cursos médios existentes no Estado, apenas o comercial também passou pelo mesmo processo, aumentando em 27,1% seus discentes. O ensino normal, mesmo após ser implantado, permaneceu apenas com 4,5% do total de matriculados no ensino médio em 1953.

14Olívia Enciso foi a primeira vereadora de Campo Grande e a primeira deputada estadual de Mato Grosso (antes da divisão do Estado). Assim como Maria Constança, contribuiu na área educacional campo-grandense. Foi também uma das responsáveis pela instalação da Escola do Serviço Nacional da Indústria (Senai) em Campo Grande. Foi escritora de várias obras literárias, o que a credenciou para ser 1ª Titular da Cadeira nº 22 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (patroneada por Vespasiano Martins). Para saber mais a respeito de Olívia Enciso, consultar o site http://www.mulher500.org.br (REDEH, 2022).

15Maria Constância Barros Machado foi designada para atuar no Grupo Escolar de Campo Grande em 1922. Professora com notória participação na área educacional, liderança política, inclusive comandou a mobilização junto ao governo do Estado de Mato Grosso para a instalação do primeiro ginásio público nessa cidade, no final da década de 1930 (OLIVEIRA, 2014).

Recebido: 11 de Abril de 2022; Aceito: 23 de Janeiro de 2023

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