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Educar em Revista

versão impressa ISSN 0104-4060versão On-line ISSN 1984-0411

Educ. Rev. vol.39  Curitiba  2023  Epub 06-Set-2023

https://doi.org/10.1590/1984-0411.87090 

DOSSIÊ: PROCESSOS MIGRATÓRIOS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA TRANSNACIONAL

A escola italiana em Pelotas (RS, Brazil) durante as décadas de 1920 e 1930: entre contextos locais, nacionais e internacionais1

Renata Brião de Castro* 
http://orcid.org/0000-0002-5724-6621

*Universidade Federal de Pelotas, UFPel, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Prefeitura Municipal de São Paulo - São Paulo, Brasil. E-mail: renatab.castro@gmail.com


RESUMO

Esta contribuição visa investigar a escola italiana em Pelotas nas décadas de 1920 a 1930, período em que houve modificações importantes para as instituições ligadas a grupos imigratórios. A pesquisa justifica-se pela necessidade de ampliar os estudos sobre a escolarização dos imigrantes italianos nas décadas mencionadas, uma vez que grande parte do saber acumulado está concentrada sobre o final do século XIX e o início do XX. Para contemplar as discussões que englobam tal contexto, a pesquisa usa a perspectiva teórica da história transnacional e história transnacional da educação. No que concerne as fontes, são utilizados documentos consulares italianos, relatórios de comissões encarregadas da reestruturação da escola italiana no exterior e relatórios da sociedade italiana de Pelotas e de intendentes municipais em Pelotas. Com a análise das fontes a partir da perspectiva proposta observou-se que a escola italiana, durante os anos analisados, foi tanto influenciada pelas políticas italianas fascistas do governo de Mussolini quanto pelo contexto municipal do governo de Pelotas, com a abertura de novas escolas públicas; além disso, também sofreu influência do contexto maior brasileiro, com as políticas nacionalistas do governo de Getúlio Vargas que culminaram com o fechamento no ano de 1938.

Palavras-chave: Escola Italiana em Pelotas; Nacionalização; Municipalidade; Fascismo Italiano

ABSTRACT

This text aims to investigate the Italian school in Pelotas, in the decades of 1920 and 1930, when there were important changes in the institutions related to immigration groups. The research is justified by the need to boost studies about the scholarization of Italian immigrants in these decades, since most of the knowledge about it up to now is focused on the late 19th and early 20th century. To contemplate the discussion on this context, the research uses the theoretical perspective of transnational history and transnational history of educations. Sources are Italian consulate documents, reports by commissions in charge of the restructuring of Italian schools abroad, and reports by the Italian Society in Pelotas and by the city’s mayors. Analyzing the sources from the perspective proposed herein, it was observed that Italian school, along the years analyzed, was influenced by both Italian fascist policies of Mussolini’s governments and by the my the municipal context of Pelotas’ government, with the opening of new public schools: in addition to that, it was also affected by the greater Brazilian context, with nationalist policies by the government of Getulio Vargas’, that culminated with the closing of the school in 1938.

Keywords: Pelotas Italian Dchool; Nationalization; Municipality; Italian fascism

Considerações iniciais

O presente artigo analisa a escola italiana mantida pela Sociedade italiana no município de Pelotas entre os anos de 1920 a 1930. Estudos anteriores (CASTRO, 2021; CASTRO; BARAUSSE, 2020) mostraram, sobretudo, a relação estabelecida entre as Sociedades e a escola italiana em Pelotas, assim como a cultura escolar e a italianidade nessa instituição. Para este texto, o recorte temporal escolhido recai sobre as décadas de 1920 e 1930, por ser um período histórico que comporta muitas particularidades: por um lado, houve mudanças nas políticas levadas adiante pelo governo italiano de Benito Mussolini, na Itália, a partir do ideário fascista; por outro lado, a influência do governo de Getúlio Vargas, no Brasil, com o nacionalismo das instituições estrangeiras; e, ainda, a municipalidade de Pelotas, com a oferta de ensino público nos anos de 1920. Nesse sentido, o estudo opera no limiar das políticas governativas que atingiram as escolas italianas que estavam situadas no Brasil, especificamente no que diz respeito à escola italiana em Pelotas.

Desta forma, em consonância com a análise pretendida, a escolha teórica é a da história transnacional e história transnacional da educação, perspectivas que auxiliam a investigar o fenômeno imigratório e as instituições de imigrantes a partir de um ponto de vista que coloca na análise as variadas escalas espaciais: locais, nacionais e transnacionais. Assim, a investigação parte de uma tríade entre empiria, teoria e contexto, utilizando este último com potencial analítico.

Para compor a empiria, o corpus documental utilizado são documentos salvaguardados, sobretudo, no Archivio Storico del Ministero degli Affari Esteri, na Itália, tais como: relatórios consulares, boletins da emigração, anuários das escolas italianas no exterior. Ainda, a pesquisa recorre de relatórios de algumas comissões italianas encarregadas de diagnosticar e estruturar as escolas italianas no Brasil.

Para contemplar todas as discussões propostas, o texto está estruturado em três partes além das considerações iniciais e finais: a primeira realiza uma discussão acerca das mudanças que ocorreram nas políticas para as escolas italianas no exterior durante o período estudado; A segunda traz alguns elementos da teoria escolhida; E a terceira abordará especificamente a instituição escolar italiana existente no município de Pelotas durante as décadas de 1920 e 1930.

As políticas governamentais para as escolas italianas durante o novecento

Ao longo do período em que as escolas italianas estiveram em funcionamento, elas foram influenciadas e geridas pelas políticas italianas de diversos governos. A política italiana para os que imigraram e para as escolas italianas em outros países oscilou; em alguns momentos foi mais ativa e contundente nas recomendações e em outros menos (LUCHESE, 2017). Iniciadas de forma mais contundente com o governo de Francesco Crispi, a partir de 1889, as determinações para essas instituições escolares foram se desenvolvendo no decorrer dos anos posteriores com as políticas italianas que, naturalmente, se modificaram com os diferentes governos.

Para o início do século XX, um período significativo foi aquele que culminou com a criação do Commissariato Generale dell’Emigrazione, em 1901, e o decreto Prinetti (D’ALESSIO, 2019). Naquele momento, muitas foram as linhas de atuação do novo comissariado, dentre elas a criação da Direzione dalle scuole italiane all’estero, órgão responsável por gerir as instituições escolares italianas no exterior. Outra linha de atuação foi oferecer especial atenção àqueles que gostariam de emigrar.

Outra importante lei para a imigração e as escolas italianas foi a Lei Tittoni, elaborada em 1910 pelo Ministro Tittoni. Sobre essa lei em específico: “no ano em que o movimento migratório italiano registrou um dos picos mais elevados, foi aprovada a lei de 18 de dezembro de 1910, n. 867, destinado a reorganizar nossas escolas no exterior [...]” (FLORIANI, 1974, tradução nossa). Mais leis e regulamentos para os italianos e as escolas no exterior surgiram à época, as quais introduziram novas orientações para que as escolas fossem subsidiadas. Uma delas foi a unificação da Direção Geral das Escolas Italianas no Exterior com o Comissariado Geral da Emigração, criando, assim, a Direção Geral dos Italianos no Estrangeiro e Escolas (CIAMPI, 1998). No mesmo ano, assumiu como diretor central das escolas italianas Angelo Scalabrini, que já havia assumido antes o Ispettorato delle Scuole Italiane all’estero (CIAMPI, 1998).

É importante ressaltar que nos anos estudados neste artigo, o espaço de tempo entre as décadas 1920 e 1930, havia um contexto diverso nos dois países - Itália e Brasil - se comparado com o contexto do início do século XX. No período, os ideais fascistas de Benito Mussolini impactaram fortemente a Itália, assim como a política nacionalista de Getúlio Vargas impactou o Brasil e as escolas e instituições de grupos estrangeiros. Os grupos imigrantes foram atingidos com força, sobretudo nos anos de 1930, pois buscava-se nacionalizar o nosso país e combatia-se as formas de expressão de grupos estrangeiros; dentro disso, estavam as orientações e as diretrizes referentes ao ensino nas escolas tidas como estrangeiras. Durante o período do Estado Novo, a política educacional se orientava pelos aspectos constituintes deste, ou seja, centralização, autoritarismo, nacionalização e modernização. Dessa forma, a política para a escolarização se desenvolveu de modo autoritário e tratava os imigrantes como aqueles que desnacionalizariam o Brasil (HILSDORF, 2003).

Assim, durante o interstício analisado, as escolas italianas no Brasil e, no específico, aquela localizada em Pelotas, foram influenciadas por essas duas políticas de governo que foram, em determinado momento, divergentes. De uma perspectiva, o governo de Mussolini procedeu com a reestruturação e reabertura de escolas fechadas, agora sob as diretrizes e ideias fascistas; era necessário que as escolas educassem para a italianidade a partir do que o fascismo propagava. Assim, as escolas no Brasil receberam subsídios e meios para a sua reorganização. No entanto, sob outra perspectiva, o governo de Getúlio Vargas, sobretudo com a instituição do Estado Novo, em 1937, buscava nacionalizar as instituições estrangeiras e restringir o uso de outros idiomas entre os imigrantes e descendentes. Nessa conjuntura, as escolas com o ensino em língua diferente do português partiram para dois caminhos, especialmente: a nacionalização ou o fechamento. Franchini, em sua dissertação, observa esse aspecto ao estudar o Colégio Dante Alighieri em São Paulo; para a autora: “[...] no processo de nacionalização, a instituição e os sujeitos passaram a se encontrar no limiar dos cruzamentos e rupturas entre dois projetos: de um lado, o Governo Vargas; e de outro, da política cultural expansionista fascista” (FRANCHINI, 2015, p. 29).

Diante disso, para analisar as fontes a partir dos contextos, no plural, é que se propõe aqui a utilização da perspectiva teórica da história transnacional e história transnacional da educação.

Os aspectos teóricos e metodológicos da história transnacional para a análise do fenômeno imigratório italiano

Para analisar os processos imigratórios e, em específico, os processos de escolarização dos imigrantes, um dos caminhos que pode ser percorrido refere-se aos estudos da história transnacional.

O transnacional pode ser considerado como um desdobramento da história comparada (GUIMARÃES, 2015) e, ao longo dos anos, acompanhou os estudos postcolonial (OSSEMBACH; DEL POZZO, 2011). Ossembach e del Pozzo explicam o termo: “[...] “História transnacional” examina unidades que transbordam e vazam através das fronteiras nacionais [...]” (OSSENBACH; DEL POZO, 2011, p. 581, tradução nossa).

Ainda Conrad explica que as abordagens da história transnacional aparecem, também, promovidas por uma mudança geracional, e em alguns países também influenciadas pela internacionalização do trabalho acadêmico. Para Guimarães: “em resumo, transnacional poderia ser compreendido como aquilo que vai “além das fronteiras”, o que implica, segundo o próprio termo, mudança, transformação e até negação [...]” (GUIMARÃES, 2015, p. 91). No que diz respeito à História da Educação, para Fuchs (2014), a partir de 2005, gradualmente, essa perspectiva caminhou na direção de novas tendências espaciais vindas de outras áreas.

No que diz respeito às pesquisas brasileiras em História da Educação, alguns estudos (embora não muitos), sim, recorrem à ideia do transnacional. Uma importante contribuição é a publicação organizada por Vidal e Rabello (2020), por exemplo, a qual tem como mote principal o movimento internacional da educação nova. O livro, escrito por muitos autores, coloca em cena a perspectiva transnacional da educação com vários estudos que abordam essa dimensão. Para Vidal: “Ao possibilitar a análise da multiplicidade espacial das vidas dos sujeitos e suas experiências, alternando de uma microescala para um macronível, de dimensões nacionais a globais, a história transnacional põe em evidência uma variedade de escalas policêntricas em interação” (VIDAL, 2020, p. 11). No âmbito específico da interligação entre as pesquisas histórico-educativas e as de imigração, destaca-se o dossiê organizado por Ascenzi et al. (2019) em que os autores indicam possibilidades de pesquisa.

Há ainda uma imprecisão nos conceitos e nas suas nomenclaturas: transnacional, conectadas, cruzadas, transfronteiriça (GUIMARÃES, 2015), entretanto, o ponto em comum é a crítica ao chamado nacionalismo metodológico (BECK, 2000 apudBERTRAND, 2015, p. 20). Marjanen (2009) também pontua que a riqueza dessas expressões, que causam, por vezes, confusão, pode indicar um distanciamento das análises pautadas apenas pelo estado-nação. Nessa direção, é possível pensar que as escolas étnicas italianas, dentro de suas especificidades, foram permeadas por ideias e preceitos que se conectaram a distintas realidades, tanto do local de origem dos imigrados quanto do solo brasileiro.

A escola italiana em Pelotas nos anos de 1920 e 1930

Para analisar a escola italiana em Pelotas durante os anos de 1920 e 1930 é necessário traçar um breve panorama dela enquanto instituição ao longo dos anos em que funcionou. Essa tipologia de instituição existiu em Pelotas a partir do ano de 1872, por uma iniciativa da Società Italiana Unione e Filantropia, e esteve, de certo modo, sempre ligada às diversas sociedades italianas no município (CASTRO, 2021). Durante o século XIX, passou por diversos momentos entre fechamentos e reaberturas, problemas de dissidências entre as sociedades, relações com o consulado italiano e os subsídios e também mudanças de professores, conforme foi detalhado no estudo produzido por Castro e Barausse (2020). No início do século XX, as instituições italianas em Pelotas foram reorganizadas com a chegada do maestro-agente Umberto Ancarani e sua esposa Irò Ancarani. Ambos, por meio da Società Italiene Riunite Unione e Filantropia e Circolo Garibaldi, reestruturaram e geriram a escola em Pelotas no período entre os anos de 1905 a 1907 (CASTRO; BARAUSSE, 2019). A figura de ambos foi fundamental para a comunidade italiana de Pelotas no tempo em que estiveram no município, aproximadamente 2 anos. Após o período, registra-se a presença de escola italiana até 1909, mas sob a responsabilidade de outros docentes; depois disso, não foram encontrados indícios de alguma escola italiana em Pelotas até o momento em que foi reinaugurada, nos anos do fascismo italiano.

Para essas duas décadas citadas também é possível utilizar as informações encontradas nos anuários das escolas italianas no exterior2. No anuário do ano de 1924 é descrita a presença de um curso de italiano no município, de recente instituição, para o ano de 1925. Há as mesmas informações do curso, mas em nenhum dos anos é descrito o número de alunos que frequentaram esse curso ou outras informações adicionais (MINISTERO DEGLI AFFARI ESTERI, 1925, 1926). Não há nenhum registro de escola italiana subsidiada em Pelotas entre 1914 e 1925, o que faz pensar que não havia nenhuma em funcionamento. Caso contrário, teria sido mencionada nos anuários.

A organização da escola italiana no exterior é um assunto que não diz respeito somente a Pelotas ou ao estado do Rio Grande do Sul, mas, sim, abrange todos os lugares para os quais os italianos se deslocaram e onde foram abertas as escolas italianas, sejam elas subsidiadas ou governativas3. Nesse sentido, encontram-se documentos da Commissione per la riorganizzazione delle scuole italiane in America, que foi criada em 18 de dezembro de 1910 e encarregada da preparação do projeto de lei para a organização e a vigilância das escolas italianas na América (COMMISSIONE PER LA RIORGANIZZAZIONE E LA VIGILANZA DELLE SCUOLE ITALIANE ALL’ESTERO, [1911-1922], s/p).

Portanto, além dos anuários, também são utilizados nesta pesquisa os relatórios consulares e os que foram elaborados conforme as prescrições ministeriais que se seguiram à reforma das escolas italianas no exterior, como os documentos produzidos pela referida comissão nomeada pelo Ministro degli Affari Esteri, no final de 1921, para a reforma das escolas italianas nas Américas, que contou com a participação de Ernesto Schiaparelli e Vittore Alemanni (BARAUSSE, 2016). Enquanto o primeiro elaborou o relatório sobre a situação das escolas nos Estados Unidos, Alemanni redigiu o relatório sobre o estado das escolas italianas no Brasil (BARAUSSE, 2016). O professor Alemanni, no apêndice de seu relatório, aborda a instrução primária nos Estados do Brasil meridional: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. No texto, Alemanni disserta sobre a Capital do estado do Rio Grande, Porto Alegre, e outros dois importantes centros urbanos: Rio Grande e Pelotas. No que se refere a Pelotas, o número era de 1000 italianos, os quais trabalhavam no comércio, nas mais variadas profissões (ALEMANNI, 1923). Para preparar o seu relatório, Alemanni fez uso, também, dos relatórios elaborados e enviados por uma das associações filo-ministeriais que, a partir do início dos anos 1920, viu aumentar o seu papel na gestão e coordenação de esforços para o desenvolvimento de escolas italianas no Brasil e, sobretudo, no Rio Grande do Sul, a associação católica Italica Gens4 (BARAUSSE, 2019b).

A associação direta de Schiaparelli confiou ao capitão Louis Seghetti uma missão específica para verificar a possibilidade de reviver a presença de instituições educacionais no sul do Brasil. Durante a missão, que ocorreu por quase dois anos, Seghetti periodicamente escreveu relatórios e os enviou ao ministério. Sua leitura oferece, ainda que parcialmente, uma fotografia e uma representação das escolas italianas que merecem ser investigadas (BARAUSSE, 2015). É a partir de um desses relatos que se pode ver, por exemplo, como o desenvolvimento da escola italiana em Pelotas no decorrer da década de 1920 se extinguiu:

Bem menor é aquela de Pelotas. Também faltam escolas italianas nesta cidade, em cujos institutos religiosos me disseram que o número de alunos filhos de italianos é mínimo. Dois dispostos, o Dr. Ernesto Ronna (que também é professor do Liceu de Pelotas) e o Sr. Ernesto Mattola, aderiram de coração, e eles também, por puro amor à pátria, a iniciar um curso de italiano, quando os livros forem fornecidos.

Para esta escola, que irá funcionar na sala de aula da paróquia, cortesia de S.E. Mons. Gioacchino Ferreira De Mella, Bispo de Pelotas, assegurou o seu interesse, além dos dois compatriotas citados, o Rev. Pároco da Catedral, Pe. Pietro Esmeraldo da Silva, Cav. Uff. Federico [Frederico] Trebbi, R. Agente Consular, o Ver, Can.co D. Rocco Ambrosini, Secretário do Bispo, Eng. Lucano Conedera e o Sr. Gaetano Gotuzzo [...] (SEGHETTI, 08/05/1923, p. 06-07, tradução nossa).

Esse documento aponta que durante um lapso de tempo Pelotas novamente não teve uma escola italiana. A partir do relatório de Seghetti, é possível notar que há alguns italianos e descendentes interessados em realizar um curso de língua italiana na cidade e ainda a relação entre esse curso e a Igreja Católica, pois o curso aconteceria no interior de uma das paróquias. No entanto, apesar do interesse no curso de italiano, a escola italiana, tal como no início do século, deixou de existir. No dado contexto, é possível pensar sobre os motivos que poderiam levar ao baixo interesse da população descendente de italianos em estudar nessas escolas e/ou manter o idioma: a abertura de escolas públicas no município de Pelotas, uma nacionalização antecipada dessas instituições italianas, o não interesse na manutenção da escolarização em um idioma diferente daquele de onde se vivia etc. Além disso, não devem ser desconsideradas as tensões existentes entre os membros da comunidade italiana em Pelotas. Inúmeras vezes, os representantes consulares responsáveis fizeram menção a essas dissidências que traziam consequências na escola e entre os sócios.

A colônia italiana em Pelotas era dividida e nem sempre concordava com questões que abrangiam a escolarização dos seus descendentes (CASTRO, 2021). O fato de a escola italiana em Pelotas não existir durante um período no século XX pode também ser explicado pela configuração municipal da época. Castro (2017) analisa os relatórios dos intendentes municipais nas décadas de 1910 e 1920 em Pelotas, e registra que a partir disso é possível observar que justamente no período em que a escola italiana deixou de existir houve um forte discurso sobre a importância da educação pública e também um aumento no número de escolas construídas pelo poder municipal, sobretudo nos anos da administração do Intendente Augusto Simões Lopes, entre 1924 e 1928. Neste período foram construídos, conforme os relatórios municipais, 17 prédios para escolas rurais, além de alguns grupos escolares na região urbana (SIMÕES LOPES, 1928). Também na época foi criada uma diretoria que tratava especificamente da escolarização e também foi lançado o regulamento de instrução (OLIVEIRA, 2005).

Nesse sentido, esse impulso dado à escolarização pelo poder público municipal pode ser um dos fatores que contribuíram para a inexistência da escola italiana no período. Através de vários relatórios dos intendentes municipais, é possível notar que durante as duas primeiras décadas do século XX a educação pública municipal estava sendo organizada e impulsionada em Pelotas, como analisaram os autores citados. Além de um discurso em favor da educação pública, novas escolas foram abertas no espaço urbano e rural do município, e o número de alunos matriculados aumentou consideravelmente. Assim, como já observado, a não existência de escola italiana poderia ter relação com a maior oferta no ensino público.

Oliveira (2012) escreve que ainda que a década de 1920 tenha sido um decênio importante para o aumento da oferta no ensino público municipal pelotense e que represente um momento de criação e construção de escolas, foi na década anterior, 1910, que se iniciou o discurso da importância da instrução. A preocupação com o ensino primário público ocorreu, sobretudo, a partir de 1910, algo que se percebe facilmente com a leitura dos relatórios da intendência municipal de Pelotas. Ainda de acordo com Oliveira (2012), até essa década o ensino primário no município era ofertado, sobretudo, por meio de particulares e também por aulas subvencionadas. Para Neves (2012), no final do século XIX e início do XX, em Pelotas existiam espaços educacionais com diferentes perfis, os quais atendiam a grupos heterogêneos, com necessidades também diferentes em relação à escolarização. Ainda para a autora, em Pelotas percebeu-se, assim como em outras localidades do país, que a população recorria às escolas particulares pela ausência de oferta no ensino público (NEVES, 2012).

Nessa direção, o impulso municipal dado à instrução pública aliado às dificuldades que as sociedades italianas enfrentavam para manter as escolas poderiam englobar os fatores que contribuíram para o fechamento das escolas durante a década de 1920. O período do século XX em que a escola italiana em Pelotas deixou de existir coincide com esse período de maior preocupação, incentivo e criação de escolas públicas municipais, assim como uma maior oferta de matrículas no ensino primário municipal pelotense. Decerto que não é apenas uma coincidência, talvez a maior oferta no ensino público tenha sido influenciadora para que a escola fosse fechada por falta de público. Ainda outros aspectos também merecem ser considerados, como a vontade de que os filhos fossem alfabetizados em português para uma melhor inserção na sociedade pelotense ou uma inserção desse grupo em outras escolas privadas que se destacavam na cidade no século XX.

Os anos de 1920 e 1930 constituem um período intenso de mudanças, tanto para o contexto político nacional brasileiro quanto para o italiano. No que concerne aos anos 20 do século XX, no contexto geral das escolas no Rio Grande do Sul, há alguns documentos de representantes diplomáticos italianos que auxiliam na compreensão do período. Em março de 1920, o embaixador italiano escreve um relatório ao Ministro em Roma para informar sobre as condições das escolas no estado do Rio Grande do Sul:

Senhor Ministro,

[...]. Supondo que não tenha ideia exata do que são na realidade as escolas italianas deste Distrito Consular, permito-me fazer algumas considerações que me foram sugeridas pela experiência de muitos anos e pelo conhecimento do ambiente.

Em primeiro lugar, por falar em escolas italianas, não se pode pensar, nem se deve compreender, que sejam verdadeiras escolas orgânicas, fundadas e constituídas para nós, pois são em geral são escolas ítalo-brasileiras que surgiram a partir da Colônia, e nas quais se aprende o português e a língua italiana (REGIO AMBASCIATORE, 05/03/1920, s/p, tradução nossa).

Ainda nesse mesmo relatório, o embaixador escreve sobre o programa de ensino que as escolas seguiam ou deveriam seguir:

De forma que o programa de ensino realizado pelos professores colonos se limite às coisas mais simples e essenciais:

1) Aprender a ler e a escrever com fluência, treinando o aluno ao silabário e ao seu cumprimento até adquirir a confiança certa;

2) O princípio da numeração simples e às quatro operações fundamentais;

3) Algumas noções geográficas e históricas básicas da Itália e do Brasil;

Leituras escolhidas nas escolas pelo próprio professor de contos educativos e das mais belas páginas do nosso Risorgimento (REGIO AMBASCIATORE, 1920, s/p, tradução nossa).

No ano de 1923, o ministro Giovanni Gentile promoveu uma reforma da educação na Itália, sob a égide fascista. Em 1922, quando Mussolini assumiu o poder, nomeou Gentile para o Ministero dell’istruzione. De acordo com Horta (2009), o ministro conseguiu a colaboração de alguns de seus discípulos. Entre eles, encontrava-se Lombardo-Radice, o qual se tornou Diretor-geral da instrução primária e foi responsável pela reforma do ensino primário em 1923. Gentile e Lombardo-Radice permaneceram no governo italiano até 1924 (HORTA, 2009). Entretanto, suas ideias influenciaram, para além disso, o pensamento do governo fascista no que diz respeito à escola e à educação. Os fundamentos da reforma Gentile continuaram a existir mesmo após a saída de ambos do ministério, em 1924 (HORTA, 2009).

Embora as citadas reformas tenham sido importantes na Itália, segundo Salvetti (2002), essas mudanças não impactaram substancialmente as escolas italianas no exterior no que se refere ao número de escolas e à distribuição de subsídios. Mas, com essas determinações, as escolas receberam novos livros elaborados segundo os ideais fascistas e houve, também, gradualmente, um movimento de centralização administrativa e um maior controle dos professores italianos no exterior. As escolas perderam a sua relativa autonomia no período. Ainda para a autora, não por coincidência, no ano de 1928, Piero Parini assume a direção dos italianos no exterior e nas escolas. Parini havia sido secretário dos fascistas italianos no exterior (SALVETTI, 2014), “a ideia de um nacionalismo sem fronteiras será uma das máximas perseguidas pelos fascistas, parte da sua política de sobreposição entre fascismo, identidade nacional e etnicidade” (BENEDUZI, 2015, p. 292).

No específico de Pelotas, foram encontrados alguns documentos que auxiliam a compreender a realidade do município no período. As fontes indicam que na década de 1920 houve o fechamento da escola, como já analisado. Naquele momento, talvez os alunos filhos dos italianos já estudassem em escolas públicas no referido município, pois:

[...] já em meados de 1920, as efêmeras escolas italianas iam, aos poucos, cedendo espaço para as escolas públicas. Algumas iniciativas, especialmente em áreas urbanas permaneciam ou foram reativadas na década de 30 do século XX, resultando da ação fascista (LUCHESE, 2007, p. 239).

Entretanto, verificar se os italianos estudavam nessas instituições não é o objetivo deste texto. O que se percebe de fundamental neste caso é a reativação da escola italiana em Pelotas na década de 1930, exatamente pelo impulso da política fascista dado às escolas no exterior. No início do ano de 1937, o cônsul italiano em Porto Alegre comunica ao Ministério italiano a inauguração de uma escola italiana em Pelotas com 50 alunos inscritos:

Tenho a honra de comunicar a V.E. que ontem, 15 corr. ocorreu em Pelotas, cidade próspera desse distrito consular e importante núcleo de imigrantes italianos, comerciantes e abastados, a inauguração da escola italiana, sediada na sede da Sociedade de Mútuo Socorro.

Já tem 50 alunos matriculados, sendo que as despesas relativas, incluindo o professor escolhido no local, são a encargo da referida sociedade que, sob os auspícios deste R. consulado que alentou e incentivou a iniciativa, cumpriu verdadeiramente um trabalho meritório.

A escola de Pelotas é a terceira que vem abrir suas salas de aula durante o período de minha estada no Consulado Real; [...] Por enquanto e por um outro período necessário ao desenvolvimento e ampliação, o ônus da escola de Pelotas será arcado por aquela comunidade, salvo avaliação feita sobre o funcionamento e as possibilidades de desenvolvimento, de pedir a este ilustre Ministério uma pequena ajuda, para torná-la mais eficiente e mais ágil aos seus propósitos (CONSOLE GENERALE, 16/03/1937r, s/p, tradução nossa).

É visível no relatório que algumas escolas estavam sendo reabertas no Rio Grande do Sul na década de 1930. No caso de Pelotas, em específico, a Sociedade italiana assumiria, inicialmente, os custos da manutenção da escola, embora solicitasse recursos ao Ministério italiano, discurso não diferente do que acontecia nas escolas no século XIX.

Ainda no mês de março de 1937, também o Ministro Piero Parini escreve ao consulado de Porto Alegre abordando a inauguração da escola:

Escola de pelotas

Com referência ao relatório deste R. Consulado Geral nº 527-52, tenho o prazer de expressar minha profunda satisfação pela construção da Escola Italiana de Pelotas.

Peço ao S.V. Ill.ma que se torne o intérprete da Sociedade de Mútuo Socorro de toda a satisfação do governo fascista pela generosidade e alto sentido de italianidade demonstrado ao assumir todos os custos.

Desejo também ser informado, em particular, se o Fascio local participa nesta instituição escolar de língua [italiana], pois seria seu estrito dever nos termos do estatuto e aguardo novas comunicações sobre a atividade e o desenvolvimento das várias instituições que presidem ao bem-estar da nossa comunidade (PARINI, 31/03/1937, s/p, tradução nossa).

Na correspondência, o Ministro italiano Piero Parini faz referência direta ao governo fascista e ao Fascio local e se havia a participação deste na escola, o que seria desejável, segundo o Ministro. Os Fasci all’estero eram as seções dentro do Partito Nazionale Fascista (PNF) implantadas no exterior com o objetivo de difundir a ideologia fascista nas coletividades italianas emigradas (BERTONHA, 1998). Ainda, a citação mostra que a sociedade contava com a satisfação do governo fascista ao assumir todos os custos da escola, o que indica que ao menos em termos financeiros o Ministério não subsidiava a escola naqueles anos. Nota-se, assim, que no período em específico os ideais fascistas do governo de Mussolini estavam presentes nas diretrizes para as escolas italianas dos imigrantes e era desejável que esses ideais fossem repassados aos alunos através das escolas.

Outro relatório consular informa o início das aulas em Pelotas com um número de 50 alunos:

Senhor Ministro,

Tenho a honra de comunicar ao V. E. que desde 6 corr. as aulas começaram regularmente em nossas escolas, nas de Caxias e Pelotas, com o seguinte número de alunos:

Escola de Pelotas: 50 (CONSOLE GENERALE, 24/03/1937c, tradução nossa).

No mesmo ano de 1937, no mês de agosto, encontra-se um pedido de professor para a escola italiana de Pelotas, justificado pelo fato de existir um número significativo de alunos, a saber, 73 alunos. Esse pedido é feito pelo Cônsul italiano ao Ministério das relações exteriores na Itália:

[...] Pelotas é a segunda cidade do estado e tem uma universidade, nossa escola se for bem administrada pode levar a um desenvolvimento considerável. Na verdade, depois de apenas alguns meses de funcionamento, seus alunos já atingem a pujante cifra de 73. É preciso, portanto, mandar para lá um jovem professor que, além de dirigir a própria escola, pudesse organizar bons cursos de línguas para estrangeiros, como em Porto Alegre e Caxias.

Se desejasse, de fato, obter os resultados esperados daquela instituição, o envio de um professor titular da Itália torna-se indispensável.

Também seria necessário fornecer alguns subsídios para as despesas necessárias ao funcionamento da escola em questão.

A sociedade italiana, de fato, que até agora tem suportado estas despesas, contando com a promessa que lhe foi feita pelo meu antecessor, que se comprometeu a assumir por conta do Consulado Geral no dia 1 deste mês as despesas de luz, limpeza, etc. ele agora me exorta a colocar essa promessa em prática [...] (CONSOLE GENERALE, 08/07/1937d, tradução nossa).

Na correspondência reproduzida acima, observa-se a solicitação de dois elementos que eram fundamentais para o desenvolvimento das atividades da escola italiana: o professor e os subsídios concedidos pelo governo italiano. O outro elemento importante para o funcionamento da escola era a gestão da sociedade italiana, a qual, naquele momento, em Pelotas, assumia responsabilidades financeiras. Nas correspondências sucessivas, nota-se que o pedido foi, ao menos, considerado pelos representantes consulares, como pode ser observado no excerto a seguir: “[...] o Ministério examinará, já no início do Ano Novo brasileiro, a conveniência de enviar um professor para Pelotas” (MINISTERO DEGLI AFFARI ESTERI, 17/10/1937, s/p). Porém, dois meses depois o cônsul geral em Porto Alegre escreve novamente ao Ministério sobre o assunto do envio do professor:

Com referência ao documento nº 899867/143 sobre a oportunidade de mandar um professor para Pelotas, rogo que queira fazer um acompanhamento urgente da prática porque o início do novo ano letivo está iminente, e, por outro lado, a necessidade de providências parece sempre maior.

É evidente a importância da nossa escola, bem organizada e bem gerida naquela cidade sede de Universidade, que delineei no meu relatório n.º 1485/229 de 8 de julho de 1937/XVI (CONSOLE GENERALE, 31/12/1937b, s/p, tradução nossa).

Nesse relatório entra em cena outro elemento importante nas escolas italianas, que é o corpo docente que atuava nessas instituições. Castro (2021) pontua que precisa haver ainda a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o perfil dos professores dessas instituições. O Cônsul geral solicita ao Ministério que envie um professor para a escola de Pelotas, o que indica pensar que a escola, apesar de estar aberta, possuía dificuldades e necessitava de auxílio de Roma.

No ano de 1937, Luigi Ledda5 escreveu sobre as condições gerais da escola italiana de Pelotas e também sobre o professor que ainda não havia sido enviado:

Escola de Pelotas

Nesta escola a frequência se não o proveito é excelente.

É necessário prever sua organização definitiva com um bom professor titular.

Pelo exposto, valem os dados sobre a periodicidade do primeiro relatório, na medida em que parece a esta Gestão que o ambiente não é fácil e simples. No entanto, essas duas escolas também poderão funcionar melhor no próximo ano (LEDDA, ​​12/09/1937, s/p, tradução nossa).

A partir dos documentos citados, nota-se que, por um lado, as políticas fascistas influenciavam e incentivavam a criação e/ou reabertura das escolas, mas, por outro lado, não as financiavam do modo como essas necessitavam, cabendo, assim, a responsabilidade às sociedades.

Para o período do ano de 1937-1938, o cônsul italiano em Porto Alegre solicitou ao Ministério italiano um aumento no valor dos subsídios, estabelecendo para a escola de Pelotas um valor de 5.000 liras anuais (CONSOLE GENERALE, 01/05/1937a, s/p). Isso denota, ao menos, dois elementos: o primeiro, que havia uma escola italiana com alunos que a frequentavam; e o segundo, que essa escola se alinhava, ao menos em teoria, com o que se esperava de uma instituição italiana no exterior no período fascista de Mussolini. Caso contrário, não seria financiada.

As fontes mobilizadas indicam que a escola italiana no contexto urbano de Pelotas, durante um lapso temporal grande, não funcionou. Como mencionado anteriormente, depois de 1909 não se encontra nas fontes analisadas mais referências às escolas subsidiadas pelo governo italiano até o ano de 1937, quando foram reativadas, justamente no período em que o fascismo italiano revitalizou e reorganizou as escolas italianas no exterior. Apesar de ser reativada nesse período pelas políticas do governo italiano, após o ano de 1938 não se encontra mais registros da escola italiana, possivelmente fechada definitivamente com as políticas de nacionalização levadas adiante pelo projeto nacionalista de Getúlio Vargas.

Para as décadas seguintes em Pelotas, não há registros de escola ou sociedade italiana. Somente na década de 1950 que a última ressurge: fundada no ano de 1958, a Associação Cultural Ítalo-Brasileira passou a ofertar cursos de italiano na cidade (CONILL, 2022).

Desta forma, a escola italiana em Pelotas, durante os anos de 1920 e 1930, foi influenciada tanto pelo contexto italiano do governo de Benito Mussolini quanto pelo governo municipal de Pelotas, que pode ter sua parcela de responsabilidade no fechamento dela devido a aplicação das políticas nacionalistas do Estado Novo, que culminaram com o fechamento definitivo da instituição escolar étnica italiana.

Considerações finais

A presente contribuição teve como objetivo investigar a escola italiana no município de Pelotas durante os anos de 1920 e 1930 a partir da perspectiva da história transnacional e história transnacional da educação. Para tanto, foi utilizado um diversificado conjunto de fontes salvaguardadas, majoritariamente, em instituições italianas de guarda documental.

O recorte temporal desta pesquisa abarca um período em que há mudanças significativas nos dois países, Brasil e Itália. As mudanças de cunho político alteraram o quadro e as discussões referentes às escolas italianas no exterior, e Pelotas está dentro dessa conjuntura.

De um lado do Atlântico, no Brasil, no início do período republicano, em um primeiro momento as escolas ligadas a grupos étnicos foram incentivadas e até desejadas pela falta de escolas públicas naquele contexto. No início da República, foram bem-vindas as iniciativas escolares de diferentes grupos e de diferentes segmentos. Porém, na década de 1930, sobretudo, as políticas nacionalistas do governo de Getúlio Vargas fizeram com que as iniciativas étnicas, não somente italianas, fossem fechadas e nacionalizadas com o passar dos anos. Decerto que houve maneiras e medidas de resistência a essa nacionalização do ensino, mas as escolas acabaram sendo nacionalizadas ou fechadas. Todo esse contexto brasileiro forneceu as bases para compreender o momento de criação, interrupção, reabertura e fechamento definitivo da escola italiana em Pelotas nos anos analisados.

Do outro lado do Atlântico, na Itália, o período abarcado também comporta singularidades e mudanças históricas, estas protagonizadas pelos ministros italianos da época, figuras importantes e fundamentais para a análise das escolas italianas no exterior. As reformas propostas por Prinetti no início do século XX e a criação do Commissariato Generale dell’Emigrazione portaram significativas mudanças na estrutura interna do Ministero degli Affari Esteri, na atenção e na política direcionada aos que haviam emigrado e às escolas que os atendiam no exterior. Nas décadas de 1920 e 1930, a ascensão de Benito Mussolini ao poder e a potencialização do fascismo influenciaram, além de toda a Itália, também as instituições italianas ao redor do mundo, entre as quais as escolas. Nesse período, novas determinações e novos objetivos foram determinados para essas instituições. Foi nessa época, também, como se demonstrou, que a escola italiana de Pelotas foi reinaugurada, após um tempo (1909-1937), pode-se dizer longo, fechada.

Em um primeiro momento, no regime fascista de Mussolini, foi dado incentivo à reabertura dessas escolas, as quais deveriam estar em consonância com os princípios fascistas. Entretanto, após alguns anos, sobretudo a partir de 1938, foram as políticas brasileiras ligadas à nacionalização que resultaram na proibição de instituições estrangeiras que ganharam centralidade e protagonismo. Assim, gradualmente, as escolas étnicas foram desaparecendo, fenômeno observado também quanto a escola italiana em Pelotas.

A escola foi reinaugurada no período do fascismo italiano, logicamente sob os objetivos e intencionalidades que respondiam aos ideais fascistas do governo de Benito Mussolini, até que outro elemento entrou em cena: a nacionalização do ensino, colocada em prática pelas políticas patrióticas do governo brasileiro de Getúlio Vargas. Essa situação propiciou e impôs o fechamento das instituições ligadas a grupos de estrangeiros, bem como o fim da utilização em instituições formais de ensino, assim como em periódicos e em outros locais, de línguas estrangeiras. Com isso, não se diz que o idioma italiano não foi mais utilizado pelos descendentes. Isso certamente não ocorreu. No entanto, as escolas italianas financiadas deixaram de existir. Após o ano de 1938, há uma total ausência de documentos e registros sobre escolas italianas em Pelotas, o que fornece a possibilidade de pensar que essas instituições deixaram de existir no município, assim como em outros locais. Ainda, o período que compreende os anos em que a escola de Pelotas deixou de existir no século XX, foi também o em que o ensino público municipal estava sendo estruturado e em que este passou a ofertar mais vagas para o ensino primário; decerto, essa pode ser uma das explicações para que a escola italiana fosse interrompida.

Compreender e analisar os contextos locais, nacionais e transnacionais, de forma integrada e conectada neste trabalho, foi possível a partir de dois elementos principais: o acesso a fontes, assim como as bibliografias de ambos os países e também a escolha da perspectiva teórica, a qual auxilia e instrumentaliza a pensar a partir de uma ideia da história transnacional, de inserir um contexto que, sim, é local, em uma perspectiva mais ampla de análise.

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1O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

2Os anuários das Escolas italianas no exterior são uma produção do Ministero degli Affari Esteri e fornecem um panorama do quadro geral das escolas nos diversos continentes, número de escolas, professores, cursos de italianos, sociedades italianas.

3As Escolas italianas no exterior dividiam-se em escolas governativas e escolas privadas subsidiadas pelo governo italiano: as primeiras, menos numerosas, localizadas no Levante e na bacia do Mediterrâneo, eram inteiramente financiadas pelo governo italiano; as segundas eram escolas privadas laicas ou confessionais, nascidas dentro de associações italianas no exterior e recebiam um subsídio do governo italiano desde que se adaptassem aos programas e métodos de ensino da escola italiana, com um controle pelos cônsules e verificação regular através de inspeções ministeriais (SALVETTI, 2002, p. 536, tradução nossa).

4A Italica Gens “[...] foi estruturada através de um escritório central em Turim e duas secretarias centrais, em Nova York (EUA) e Buenos Aires (Argentina). No Brasil, começou nos anos imediatamente anteriores à Primeira Guerra Mundial com forte presença do clero italiano, a IG realizou atividades significativas em Brasil [...]” (BARAUSSE, 2019b, p. 307, tradução nossa).

5Luigi Ledda nasceu na Sardenha, Itália, em 1903, e após um percurso em diversas escolas foi destinado pela direção das escolas italianas no exterior às escolas italianas nas Américas, parindo para o Brasil no ano de 1932. Após 1934, Ledda assumiu a escola italiana de Porto Alegre, onde atuou até 1938 (BARAUSSE, 2019a).

Recebido: 03 de Agosto de 2022; Aceito: 03 de Março de 2023

Translated by Ana Santos Maia - E-mail: anasantosmaia1983@gmail.com

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