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Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade

versão impressa ISSN 0104-7043

Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade vol.27 no.52 Salvador maio/ago 2018  Epub 02-Jul-2019

https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2018.v27.n52.p26-43 

Dossiê Temático

APRENDIZAGEM EXPANSIVA E ECOSSOCIOECONOMIAS NA PRÁTICA ARTESANAL DA FEIRA DE ARTE E ARTESANATO DO LARGO DA ORDEM EM CURITIBA-PR

EXPANSIVE LEARNING AND ECOSOCIOECONOMICS IN THE HANDCRAFTED PRACTICE OF THE ARTS AND CRAFTS FAIR OF LARGO DA ORDEM IN CURITIBA-PR

APRENDIZAJE EXPANSIVO Y ECOSSOCIOECONOMÍAS EN LA PRÁCTICA ARTESANAL DE LA FERIA DE ARTE Y ARTESANÍA DEL LARGO DA ORDEM EN CURITIBA-PR

Fabiola Bevervanço Zdepski*  PUCPR

Isabel Jurema Grimm**  UFPR

Mario Procopiuck***  PUCPR

*Pós-Doutoranda em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professora das Faculdades Integradas dos Campos Gerais (CESCAGE). E-mail: fabiolabz@gmail.com

**Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Docente do Programa de Pós-Graduação em Governança e Sustentabilidade (PPGGS) do Instituto Superior em Administração e Economia (ISAE/FGV). E-mail: isabelgrimm@gmail.com

***Doutor em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professor no Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR. E-mail: mario.p@pucpr.br


RESUMO

O avanço em perspectivas teóricas e metodológicas para inovar as bases de desenvolvimento sustentável lança desafios ao associar estratégias de aprendizagem, capacidade de agência para incorporar valor em processos criativos e princípios de ecodesenvolvimento. O objetivo do presente artigo é avaliar mudanças em práticas na tomada de consciência individual associada a questões socioambientais em experiências ecossocioeconômicas em atividades de artesanato em um arranjo socioprodutivo representado por uma feira urbana curitibana. A investigação tem natureza qualitativa e utiliza narrativas para levantamento de dados e informações empíricas. Os resultados indicam que é possível ampliar a base teórico-conceitual da ecossocioeconomia ao associá-la com aprendizagem expansiva; o artesanato contribui para o comprometimento do sujeito-artesão com o contexto socioambiental em que está implexo; e que as feiras urbanas são lócus privilegiado para a emergência de ciclos de aprendizagem expansiva e para elevar o potencial artístico e o valor do artesanato.

Palavras-chave: Aprendizagem expansiva; Teoria da atividade; Ecossocioeconomia; Arranjos socioprodutivos; Ecodesenvolvimento

ABSTRACT

Advancing theoretical and methodological perspectives to innovate the foundations of sustainable development poses challenges by linking learning strategies, agency capacity and combining creative processes and ecodevelopment principles. The objective of this study is to evaluate changes in practices in the individual consciousness raising associated with socioenvironmental issues in ecossocioeconomic experiences in handicraft activities in a socioproductive arrangement represented by an urban fair in Curitiba. The research is qualitative and uses narratives for data collection and empirical information. The results indicate the possibility of expanding the theoretical-conceptual basis of the ecossocioeconomy by associating it with expansive learning; craftsmanship contributes to the commitment of the subject to the socio-environmental context; the urban fairs are privileged locus for the emergence of expansive learning cycles and raise the artistic potential and value of handicrafts.

Keywords: Expansive learning; Activity theory; Ecossocioeconomy; Socio-productive arrangements; Ecodevelopment

RESUMEN

El avance en perspectivas teóricas y metodológicas a innovar las bases de desarrollo sostenible plantea desafíos al asociar estrategias de aprendizaje, capacidad de agencia y aliar procesos creativos y principios de ecodesarrollo. El objetivo del presente es evaluar cambios en prácticas en la toma de conciencia individual asociada a cuestiones socioambientales en experiencias ecosoeconómicas en actividades de artesanía en un arreglo socioproductivo representado por una feria urbana curitibana. La investigación és cualitativa y utiliza narrativas para el levantamiento de datos e informaciones empíricas. Los resultados indican la posibilidad de ampliar la base teórico-conceptual de la ecosocioeconomía al asociarla con aprendizaje expansivo; la artesanía contribuye al compromiso del sujeto artesano con el contexto socioambiental; las ferias urbanas son locus privilegiado para la emergencia de ciclos de aprendizaje expansivos y elevar el potencial artístico y el valor de la artesanía.

Palabras clave: Aprendizaje expansivo; Teoría de la actividad; Ecossocioeconomia; Arreglos socioproductivos; Ecodesarrollo

Introdução

A aprendizagem expansiva busca uma aprendizagem que resulta em um tipo de agência individual que desafia a retórica gestão, difere da visão individualista dominante (ENGESTRÖM, 2011) e é transformadora por romper com a estrutura da ação, com a intenção de transformá-la (VIRKKUNEN; SCHAUPP, 2011). Essa abordagem é perceptível a partir da transformação do objeto, de movimentos na zona de desenvolvimento proximal, de ciclos de ações de aprendizagem, de cruzamento de fronteiras e construção de redes, de movimento distribuído e descontínuo, e de intervenções formativas (ENGESTRÖM; SANNINO, 2010). A aprendizagem expansiva, pois, vai além do indivíduo para procurar possibilidades de esforços de mudança coletiva, como ocorre com grande parte da abordagem da ecossocioeconomia.

Por meio da ecossocioeconomia buscam-se identificar e sistematizar alternativas para a solução de problemas reais de acordo com a diversidade de arranjos socioeconômicos e culturais e das diferenças de potencialidades/recursos de cada território, deixando que prevaleçam as identidades culturais e interesses comuns de grupos organizados em experimentações a partir da complexidade do cotidiano em busca de potencializar aspectos qualitativos essenciais de vida (SACHS 2007, 2008; SAMPAIO, 2010). A aprendizagem expansiva pode trazer possibilidades promissoras para avançar em estudos de ecossocioeconomia por permitir que se associe o desenvolvimento individual à lógica de ação coletiva em que se fazem presentes potencialidades e capacidades de agência humana em experiências do cotidiano.

Às perspectivas da ecossocioeconomia (SACHS 2007; SAMPAIO 2010; PROCOPIUCK et al, 2017) e de aprendizagem expansiva (SACHS 2007; SAMPAIO 2010) é possível associar a teoria da atividade (ZDEPSKI et al, 2017) para estabelecer relações entre a atividade imediata do indivíduo vinculada com o contexto espaciotemporal em que atua. Na visão de Engeström e Mwanza (2003), um sistema de atividades pode ser visto à luz da história do indivíduo, dado que a sua historicidade é construída e transformada ao longo do tempo em compasso com a compreensão que adquire dos processos e problemas que o levam a formar ou transformar suas atividades em razão do que apreende do contexto histórico e local das atividades que exerce e dos seus objetos resultantes. No presente estudo, nos interessa compreender especificamente como podem surgir e serem transformadas as atividades de artesanato em contextos de ecossocioeconomia. Na concepção de Lima (2005), as atividades de artesanato podem pode ser vistas, pois, como um conjunto de atividades e produtos marcados pelo gesto humano, pela participação do indivíduo nas etapas de elaboração do produto a partir de referenciais culturais. Nessa linha, o objetivo deste artigo é avaliar mudanças em práticas na tomada de consciência individual sobre a atuação com autonomia criativa associada com questões socioambientais, experiência de ecossocioeconomia em que se desenvolvem atividades de artesanato em um arranjo socioprodutivo representado por uma feira urbana curitibana.

Na presente investigação não há a intensão de abranger todos os aspectos do ciclo da produção artesanal, mas voltar o olhar para o artesão, que é o ator principal e fundamental para a concretização da atividade de artesanato. O recorte para configuração do objeto empírico parte, portanto, do indivíduo artesão, com seus saberes e fazeres tradicionais e os significados sendo atribuídos à sua atividade, que ganha corpo em um contexto de feira urbana. A investigação é desenvolvida sob orientação sócio-histórica a fim de compreender o fenômeno “a partir de seu acontecer histórico no qual o particular é considerado uma instância da totalidade social” (FREITAS, 2002, p. 21).

Fundametação teórico-conceitual

Para bases analíticas a fim de compreender em profundidade atividades de artesanato que se desenvolvem em arranjos socioprodutivos localizados em contextos urbanos, a fundamentação teórico-conceitual foi construída para trazer os principais traços e associar a teoria da aprendizagem, a aprendizagem expansiva e a ecossocioeconomia.

Aprendizagem expansiva1

A teoria da aprendizagem expansiva, formulada por Engeström (1987, 2001, 2002), baseia-se em ideias fundamentais apresentadas na escola russa de base histórico-cultural que dá sustentação à teoria da atividade, que tem dentre os seus expoentes Vigotsky (1998), Leontiev (1984), Ilyenkov (1982) e Davydov (1987). Nessa escola, nas discussões levadas a efeito por Leontiev e Vigotski, é posta como nuclear a tríade sujeito-objeto-mediação (ENGESTRÖM, 2001).

Nessa tríade, os sujeitos (pessoas, grupos ou subgrupos) realizam a atividade e cuja maneira de agir é tomada como ponto de vista para a análise; os instrumentos ou as ferramentas (físicos e simbólicos, externos e internos) assumem papel de mediação entre o sujeito e o objeto; objeto artefactual é o que se busca alcançar na atividade. Nessas relações, a divisão de trabalho revela o papel de cada sujeito na atividade e se refere à forma como as atividades são distribuídas, conscientemente ou não, entre os indivíduos e como as ações irão definir as relações de poder com o objeto da atividade; as regras definirão a divisão de trabalho e organização da atividade; e a comunidade, que são todos aqueles que se relacionam indiretamente na construção do objeto, compreende os indivíduos e subgrupos que compartilham o mesmo objeto em geral (ENGESTRÖM, 2001).

Nesse olhar da teoria da atividade são incluídas a análise de regras, a comunidade e a divisão de trabalho, realçando a diferença entre a ação individual e a ação coletiva. Isso tem levado à necessidade de se desenvolver ferramentas conceituais para analisar e compreender a comunicação entre múltiplas perspectivas e redes dos sistemas interativos de atividade, que ocorrem em sistemas de atividades implexos em comunidades (ENGESTRÖM, 1987, 2001, 2002). A atividade apresenta uma estrutura mediacional complexa, por sua formação coletiva e sistêmica e pela multiplicidade de relações que se estabelecem entre os elementos que formam a estrutura triangular da atividade. Desta forma, a análise do sistema de atividade humana deve representar as ações individuais ou de grupo inseridas e integradas em uma estrutura mais ampla, denominada de sistema de atividade coletiva (ENGESTRÖM, 1987).

A teoria da atividade expansiva, com perspectiva específica, tem se mostrado particularmente útil em análises de aprendizagem não tradicionais e nas configurações híbridas e multi-organizacionais, e pode ser vista como consequência das transformações históricas no trabalho que passou a demandar aprendizagem sócio histórica (ENGESTRÖM; SANNINO, 2010). Assim, na teoria da aprendizagem expansiva, a aprendizagem deve ser vista de forma diferente da perspectiva tradicional, pois reconhece que o conteúdo e o resultado da aprendizagem não são apenas conhecimento escrito ou mental, mas também a possibilidade de desenvolver novas formas de realizar tarefas e materiais diretamente focados à solução de problemas reais. A aprendizagem é, portanto, conduzida pelas necessidades reais da prática humana e evolui em torno de ciclos complexos de ações durante os quais são criados novos artefatos que possibilitam a abertura de novas perspectivas aos participantes.

A teoria da aprendizagem expansiva, tendo o indivíduo como a gênese da agência, coloca primazia sobre as comunidades como aprendizes, na transformação e criação da cultura em um movimento horizontal e híbrido e na formação de conceitos teóricos (ENGESTRÖM; SANNINO, 2010). Essa teoria enfoca a noção de comunidades como aprendizes na transformação e criação da cultura, pois os aprendizes aprendem “algo que ainda não está lá”, pois eles constroem um novo objeto e o conceito de sua atividade coletiva e introduzem esse novo objeto e conceito na prática (ENGESTRÖM, 2011, p. 74). A conduta humana é vista como orientada ao objeto e, com isso, os objetos são construídos e dotados de significado por meio de ferramentas culturais (ENGESTRÖM; BLACKLER, 2005; ENGESTRÖM et al, 2016).

A importância das atividades está no fato de que, na maioria dos contextos humanos, elas são mediadas pelo uso de instrumentos culturalmente estabelecidos. Desta forma, certas atividades são meios necessários para trazer a experiência anterior da história na atividade atual, pois, diferentemente dos animais, para os seres humanos existem as tradições de atividades geradas anteriormente por outros seres humanos, que podem ser invocadas no presente pelo uso desses instrumentos ou artefatos previamente estabelecidos (ENGESTRÖM, 2001).

O conceito de artefato tem um papel relevante para analisar o contexto das aprendizagens mediadas no contexto de comunidades orientadas por regras, normas e ações dirigidas para objetivos e referenciais comuns. Para Cole (1998), o artefato abrange as dimensões simbólicas e materiais e hierarquiza-se em três níveis: o nível primário é representado por instrumentos diretamente ligados à produção material ou social; o nível secundário diz respeito às representações dos instrumentos primários e também às formas de ação e ao papel importante da preservação e transmissão dos modos de ação e de crenças; e, finalmente, o nível terciário está relacionado com as formas mais autônomas de representação do que as anteriores, sendo os artefatos menos regulados por normas e convenções e situando-se no âmbito da imaginação.

Nessa direção, Engeström (1987) aprofundou seus estudos sobre atividade mediada, a qual ele denomina de mediação com artefatos para prover um conceito, descrever uma estrutura ou desenvolver tarefas apoiadas por um sistema, podendo envolver vários métodos e técnicas. A evolução da atividade vai ocorrer, então, pelas várias formas de interação dialética entre organismo e meio ambiente. Os organismos no curso da sua evolução não se adaptam ao meio ambiente, mas o constrói para poder chegar a um resultado.

Com base nesses estudos, Engeström (1987) propôs um modelo representacional dos componentes da atividade, identificando-os como um sistema unificado. Os participantes de uma atividade são retratados como sujeitos que interagem com objetos para alcançar resultados desejados. Entretanto, as interações humanas, entre si e com os objetivos do ambiente, são mediadas pelo uso de ferramentas, regras e divisão do trabalho. Esses mediadores representam, então, a natureza das relações que existem dentro de uma atividade e entre os participantes dessa, e busca identificar os fatores a considerar ao desenvolver um sistema de aprendizagem. Subsequentemente, Engeström (2001) avançou para um modelo mais voltado para o âmbito social. Nesse modelo, a aprendizagem se torna muito mais ligada à comunidade onde ela ocorre, integrando aspectos culturais e sociais da aprendizagem, configurando, com isso, a terceira geração da Teoria da Atividade. O objetivo deste modelo expandido da teoria da atividade é considerar a aprendizagem como uma atividade que se situa em um sistema de atividade.

Na aprendizagem expansiva, o conteúdo e os resultados de aprendizagem não são apenas conhecimento, mas novas formas de atividades práticas e artefatos construídos ao longo do processo de descoberta (ENGESTRÖM, 1987). O aprendizado é, então, dirigido por verdadeiras necessidades de desenvolvimento de práticas humanas e instituições, o que se manifesta em perturbações, falhas, problemas e episódios de questionar a prática existente. A visão da atividade de artesanato, aqui vista como uma atividade criadora, traz em sua constituição a capacidade de o sujeito, além de construir sua autonomia, repensar e transformar sua realidade a partir da problematização da mesma, indo além da reprodução de uma mesma lógica societal, mas partindo sempre de uma gênese criativa implexa no contexto ecossocieconômico em que age.

Para facilitar a compreensão dos pressupostos da teoria da atividade, Engeström (2001) desenvolveu cinco princípios da teoria da atividade, acrescentando a eles o princípio de transformação expansiva da atividade. O primeiro princípio diz respeito à unidade fundamental de análise formada pelo sistema de atividades, que é coletivo e orientado para o objeto e mediado por instrumentos ou artefatos culturais, e deve ser analisado tendo por base a rede de relações com outros sistemas de atividade, como um processo em movimento. O segundo é representado pela multiplicidade de vozes dos sistemas de atividade, que têm origem em diferenciadas perspectivas, interesses e tradições que levam à moldagem da atividade a partir de negociação e colaboração sobre diferentes artefatos, regras e convenções até se chegar à inovação. O terceiro está relacionado com a historicidade construída e transformada ao longo do tempo para trazer à luz os indivíduos e suas atividades localmente implexos para criação e transformação de seus objetos e artefatos. As contradições, quarto princípio proposto por Engeström (2001), são fontes de mudança e de desenvolvimento, que são constituídas historicamente entre e em cada sistema de atividade, pela introdução de elementos como objetos, indivíduos, sujeitos ou regras que, ao serem trazidos para o nível consciente dos sujeitos, possibilitam a mudança no sistema de atividades. Finalmente, o quinto princípio se configura aprendizagem expansiva, que diz respeito às possibilidades de transformações expansivas nos sistemas de atividades possíveis quando um ou vários sujeitos envolvidos começam a questionar as normas estabelecidas, levando a que a prática colaborativa se torne necessária para que a transformação ocorra. Isso propícia que o movimento dos sistemas de atividade ocorra em ciclos longos de transformações qualitativas, chamadas por Engeström (2001) de ciclos expansivos.

O objeto da aprendizagem expandida “consiste no contexto da crítica, do contexto da descoberta e do contexto da aplicação dos conteúdos [...] específicos sob exame” (ENGESTRÖM, 2002, p. 197). Há, então, uma transição expansiva através da auto-organização pela criação de redes de aprendizagem que transcendem as fronteiras institucionais e criam um instrumento coletivo de aprendizagem. O primeiro contexto característico dos espaços de aprendizagem seria o de prática social, que surge nos espaços de aprendizagem como o contexto de descoberta dos aprendizes envolvidos no processo de aprendizagem e inovação.

O processo de descoberta surge a partir da ascensão do abstrato para o concreto. A “ascensão do abstrato para o concreto se move do geral para o particular” na busca de um “germe primário geral”, que leva à dedução de aspectos particulares tendo esse “germe” como base (ENGESTRÖM, 2002, p. 185). “Essa estratégia é essencialmente genética, visando descobrir e reproduzir as condições de origem dos conceitos a serem adquiridos” (ENGESTRÖM, 2002, p. 185). A partir desse processo, os indivíduos passam a ter “uma oportunidade de analisar crítica e sistematicamente sua atividade prática e suas conclusões internas” para que possam, então, “elaborar e implementar na prática um caminho alternativo, um modelo novo de fazer trabalho” (ENGESTRÖM, 2002, p. 192). Complementarmente, tendo como base estes contextos que se materializam na atividade, é possível conceber um espaço de aprendizagem em que seja possível aprender algo que ainda não está posto na sua atividade, ou seja, aonde os indivíduos possam adquirir sua atividade futura enquanto a vão criando (ENGESTRÖM, 2002, p. 192). Para que a mudança na atividade possa acontecer, é necessária uma atividade reflexiva da organização de tal atividade e, para que as transformações ocorram, os participantes do sistema de atividades precisam compreender as contradições e criar colaborativamente ferramentas para impulsionar o desenvolvimento de suas atividades.

A sequência proposta por Engeström (1987, 2001) apresenta sete etapas: o questionamento da situação atual formulado a partir da crítica ou rejeição de aspectos da prática corrente; a análise empírica ou histórica das contradições envolve transformações mentais, discursivas ou práticas da situação em questão para descobrir causas ou mecanismos explanatórios de ordem histórico-genéticas (no caso de situação ser explicada pelo traçado de sua origem e evolução) ou real-empíricas (decorre da construção de um esquema das relações sistêmicas internas ocorridas na atividade); na modelagem da nova situação-etapa é empreendida a construção de um modelo da nova ideia para explicar e oferecer uma solução para a situação-problema; exame do novo visa perceber a dinâmica, potencialidades e limitações; a implementação do novo modelo ocorre pela experimentação do modelo por meio de aplicação prática; a reflexão sobre o processo; e, finalmente, a consolidação de nova prática.

Fonte: Adaptado de Engeström (2014, p. xxi).

Figura 1 Ciclo de Aprendizagem Expansiva 

Nesse modelo cíclico, a resolução das contradições leva ao desenvolvimento da atividade e as tensões e contradições internas de um sistema são a força motivadora de mudanças e desenvolvimento das atividades humanas (ENGESTRÖM, 2001). Dessa forma, a mudança e os movimentos são processos contínuos em um sistema de atividade, decorrentes de crises e rupturas que resultam em transformações qualitativas e inovações no sistema coletivo.

Nessa linha, a teoria da atividade tem abordagem teórico-metodológica multidisciplinar com potencial promissor para contribuir para avanços na pesquisa sobre a ecossocioeconomia em contextos de atividades, como as do artesanato. Isso, pois, permite a análise a partir da dimensão do homem no seu contexto social e coletivo, situando os seus valores construídos a partir de suas relações socioculturais locais em plano superior às imposições externas tendentes à massificação. A possibilidade de pensarmos o artesanato como fator de desenvolvimento é passível de ser entendida assim por ser factível situá-lo a partir das atividades do artesão no contexto da ecossocioeconomia, ressignificando as relações entre economia, sociedade e cultura.

Ecossocioeconomias

No início dos anos de 1970 começaram a surgir os primeiros movimentos de resistência, a exemplo dos ambientalistas e, com isso, uma maior reflexão sobre os impactos gerados pelo processo de urbanização, decorrentes da industrialização e do uso descontrolado de recursos. Surge, então, de acordo com Montibeller Filho (1993), um novo padrão de desenvolvimento, chamado Ecodesenvolvimento ou Desenvolvimento Sustentável.

Nesse momento ganha força a difusão do conceito de ecodesenvolvimento, formulado a partir das premissas de uma nova visão de desenvolvimento pautado na prudência ecológica, eficiência econômica e justiça social associados com a satisfação das necessidades humanas básicas, com a proteção ambiental e atenção a gerações futuras (SACHS, 2007). O ecodesenvolvimento representa a mudança no estilo de vida dos indivíduos, com foco na participação, em princípios éticos para o atendimento das necessidades humanas fundamentais e na “promoção da autoconfiança das populações envolvendo vidas e cultivo da prudência ecológica” (SACHS, 2007, p. 12).

O desenvolvimento avança para se configurar em uma rede de desenvolvimentos (ou codesenvolvimentos), interdependentes, com novas alternativas que possam produzir autodependência, autossustentação e participação, dando sustentação para a inter-relação entre seres humanos, natureza e tecnologia. Busca-se, em termos ideais, um desenvolvimento mais sustentável e assentado em valores sociopolíticos para que favoreça a emergência de novas alternativas de projetos de sociedade (MAX-NEEF et al, 2012; SACHS, 2007).

Entretanto, a sociedade ainda vive sob a influência da economia capitalista que incita ao consumo exacerbado, que tende a se limitar ao “cálculo de consequências econômicas individuais de curto prazo sobre as coletivas de médio e longo prazo” (SAMPAIO, 2010, p. 17). Isso tem levado à necessidade de buscar uma nova economia e, com isso, avançar para um desenvolvimento pluridimensional, socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado; ainda, que leve em consideração a complexidade da sociedade e suas realidades locais e regionais (SACHS, 2007). Nesse contexto, a ecossocioeconomia surge em meio à discussão sobre o ecodesenvolvimento.

A ecossocioeconomia tem suas matrizes arraigadas nos princípios da ecologia profunda, por repensar os atuais estilos de vida; na economia social ou socioeconomia, por ponderar as consequências sociais na ação econômica; na economia ecológica, porque está voltada para a análise e o cálculo dos custos ambientais na ação econômica; e na ecologia humana, por considerar a premissa da inseparabilidade dos sistemas sociais e ecológicos (SAMPAIO; DALLABRIDA, 2009).

Os fundamentos da ecossocioeconomia podem ser associados originalmente aos estudos de Karl Willian Kapp, na sua tese intitulada Planwirtschaft und Aussenhandel (Planejamento Econômico e Comércio Internacional) (KAPP, 1936); e na obra The Social Costs of Private Enterprise (Os custos sociais da empresa privada) (KAPP, 1963). Em perspectiva da economia institucional, sendo construída numa contínua interação entre a teoria e as experiências aplicadas, essa obra abordou as relações entre a economia e o meio ambiente, inovando por trazer uma análise detalhada das múltiplas fontes dos custos sociais em uma economia capitalista e em que se desenvolve a ação empresarial. Saindo da vertente de análise tradicional da economia, na qual os recursos naturais são compreendidos como “bem de uso” e o desenvolvimento econômico é uma prioridade em relação ao meio ambiente, inaugurou-se, assim, caminho epistemológico alternativo. Considerando a dicotomia indivíduo-sociedade e meio ambiente-economia das ciências econômicas, Kapp (1963, p. 42) sugere a integração dos estudos das áreas econômica, física e social numa perspectiva sistemática representada pelo “princípio da causalidade circular cumulativa”.

Mais recentemente, a ecossocioeconomia passou a ser pensada a partir de três princípios básicos: a gestão interorganizacional que ocorre na mediação entre os interesses público e privado em situações em que as decisões organizacionais consideram as suas consequências no entorno territorial e para aqueles que sofrerão as externalidades quando serão postas em ação; a efetividade extraorganizacional resultante da gestão interorganizacional pautada em critérios socioeconômico-ambientais integrados no cálculo das consequências societárias para a incorporação da necessidade de resposta às demandas da microcomplexidade do território e da macrocomplexidade dos espaços associados, sendo o território microcomplexo o resultante da dinâmica e do entrelaçamento dos fluxos econômico, social, geográfico e natural e o macrocomplexo aquele que abrange espaços microrregionais, regionais, nacionais ou internacionais; a extraterritorialidade resulta da operacionalização dos dois primeiros princípios no processo de gestão e tomada de decisão organizacional da socioeconomia das organizações, das demandas sociais do território em um contexto de emprego de racionalidade de ecodesenvolvimento confrontante com a hegemonia da racionalidade utilitarista (SAMPAIO, 2010).

As ecossocioeconomias privilegiam experiências de grupos organizados formal ou informalmente: as organizações (FERNANDES; SAMPAIO, 2006). Em suas dinâmicas de funcionamento, as organizações são ordenadas por meio de normas internas (ou critérios intraorganizacionais), que, apesar de serem internas à organização, atingem direta ou indiretamente o território. Assim, toda ação intraorganizacional (interna) reflete extraorganizacionalmente (externo), ou seja, as externalidades organizacionais refletem no seu entorno, no território em que a organização está inserida (GARCIA et al, 2015).

A compreensão da lógica de ação em contextos de ecossocioeconomia é dependente de processos de governança interna (interorganizacional) conduzidos e estabelecidos para que as externalidades das ações da organização (extraorganizacional) respondam com efetividade às demandas socioambientais do território. A ecossocioeconomia pressupõe, assim, um modelo de gestão lastreado em uma racionalidade que incorpore a sustentabilidade nas dimensões social, econômica e ambiental no cálculo dos resultados organizacionais. A extrarracionalidade, por sua vez, diz respeito à capacidade de tomada de decisão para estimar as suas consequências coletivas (SAMPAIO et al, 2011).

O desafio na ecossocioeconomia tem sido superar a lógica econômica de cálculo de consequências para extrapolar os limites da racionalidade puramente econômica e priorizar uma pré-racionalidade “construída a partir da participação e do engajamento da sociedade civil e dos recursos locais, para poder planejar um novo estilo de desenvolvimento por meio de estratégias concretas corretivas de intervenção” (FERNANDES; SAMPAIO, 2006, p. 2). Essa pré-racionalidade pressupõe um modelo de desenvolvimento que permita que a sociedade detenha o domínio sobre os seus avanços e, assim, que permita que o indivíduo e as organizações assumam responsabilidades e gerenciem o seu próprio desenvolvimento.

Artesanato e arranjos ecossocioeconômicos

O artesanato é marcado pelo gesto humano, pela participação do indivíduo nas etapas de elaboração do produto e pelos seus referenciais culturais. O que diferencia o artesão é, portanto, o seu contexto sociocultural e as particularidades de sua história e trajetória de vida. Por isso, não se constitui em mera mercadoria, já que traz em si valores, crenças e culturas, e a resultante de tensões e interações entre as dimensões econômica e social do trabalho do artesão. O artesão, portanto, não pode perder as suas especificidades culturais ou o sentido do seu ofício se tem interesse em manter-se na atividade (LIMA, 2005).

Incorporando parte da complexidade representada pela atividade do artesão, o documento chamado A Base Conceitual do Artesanato Brasileiro descreve o produto artesanal como “o objeto resultante da atividade artesanal ou de trabalhos manuais, respeitando o conceito de artesanato (BRASIL, 2012, p. 15) enquanto o Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) o conceitua como “toda atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade” (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 201, p. 21). Nessas perspectivas, ao se considerar o contexto ecossocieconômico em que as atividades do artesanato são desenvolvidas, há que se ter clareza de compreensão sobre o fazer artesanal e o entendimento do papel do artesão em relação ao meio ambiente. Esse papel e esse fazer devem ser considerados do ponto de vista da técnica, da experiência de vida do artesão, das influências do artesanato na preservação da cultura, do fortalecimento do capital social e econômico e, também, da preservação ambiental.

Como uma tradicional forma de manifestação cultural que não pode ser compreendida de forma linear, a análise do artesanato requer a observação de sua origem, do processo de criação e do contexto em que está inserido, pois “o universo artesanal não é uma realidade homogênea, pressupõe modos de fazer diferentes, estilos de visões de mundo e estéticas diferentes também” (LIMA, 2005, p. 1). Portanto, o artesanato dever ser estudado como um processo e não como um resultado, como produtos inseridos em relações sociais e não como objetos voltados para si mesmos (CANCLINI, 1983).

Diante desse contexto, o artesanato presente nas feiras urbanas, como experiências ecossocioeconômicas em curso, podem ser identificadas como arranjos socioprodutivos. Esses arranjos têm seus fundamentos na forma de organização que auxilia a superar barreiras de crescimento e assume os mais variados tamanhos, contribuindo para o surgimento de externalidades pecuniárias e tecnológicas, ao mesmo tempo em que cria condições para uma interação cooperativa e solidária (CROCCO et al, 2003).

As atividades dos produtores ligados ao artesanato podem se mostrar importantes para a dinamização da vida social, econômica e cultural de contextos urbanos. Por um lado, as iniciativas desses segmentos podem estabelecer perspectivas de sustentabilidade do desenvolvimento local/regional e, por outro, constituir-se importantes meios para combater a pobreza e a exclusão social a partir da melhoria das condições de vida local (GRIMM et al, 2018), o que é passível de ser observado em experiências que fortalecem e inovam postulados das ecossocioeconomias no debate contemporâneo.

Abordagem metodológica

O contexto ecossocioeconômico do estudo é formado pela Feira de Arte e Artesanato do Largo da Ordem, em Curitiba (Figura 2). Essa feira funciona aos domingos e conta com um público circulante de aproximadamente 22 mil pessoas, que formado por turistas e moradores de Curitiba e região metropolitana.

Fonte: Acervo pessoal do autor.

Figura 2 Vista panorâmica da Praça Garibaldi e da Feira do Largo da Ordem. 

A feira ocupa espaço específico, abrangendo 1,6 km de extensão, e seu layout compreende 5 trechos em que percorre ruas e praças. Nesse espaço estão localizadas 1.300 barracas habilitadas para comercializar variados produtos. Além da atividade dos feirantes, naquele espaço também ocorrem manifestações culturais e artísticas (GRIMM et al, 2016).

Metodologicamente, o levantamento de dados e informações do contexto empírico de estudo se pautou em narrativas (FELDMAN et al, 2004; FRANZOSI, 1998; MANNING; CULLUM-SWAN, 1994), que foram levantadas por meio de atividade de campo. Para isso foram realizadas observações e conversas informais pautadas em roteiros de entrevistas sobre as atividades de dois artesãos que expõem seus trabalhos na Feira de Arte e Artesanato do Largo da Ordem, em Curitiba. Na coleta também foram analisados documentos no site da Prefeitura Municipal de Curitiba sobre as normas, atividades e forma de organização da feira.

O critério para a escolha dos respondentes foi a de ser feirante legalmente inscrito para comercializar no espaço da feira e produzir artesanato de acordo com as normas estabelecidas pelo Instituto de Turismo da Cidade de Curitiba. O estudo se limitou a dois feirantes em razão da estratégia de utilização de narrativas individuais para captar em profundidade traços do modus vivendi que possam ser relacionados e confrontados com a base teórico-conceitual desenvolvida.

A coleta de informações e dados ocorreu ente dezembro de 2017 e março de 2018.

Apresentação e análise dos dados e informações

As narrativas dos dois feirantes participantes do estudo foram organizadas com base no sujeito, nos instrumentos e ferramentas que utiliza para realizar suas atividades, no objeto artesanal produzido, na divisão do trabalho, nas regras a que se sujeita, na sua relação com a comunidade, e no processo de aprendizagem expansiva em que ocorre um arranjo de socioprodutivo que funciona sob o princípio da ecossocioeconomia.

Sistema de atividade e aprendizagem expansiva do artesão A

Sujeito

O artesão A é pintor e entalhador de profissão, vem de família artesã, tendo irmão e avô entalhadores. Na Feira do Largo da Ordem há dois anos, produz esculturas feitas com pneus, principalmente de moto. Seu empreendimento é gerenciado com seu irmão.

O artesão começou a expor e a vender os seus produtos pelo Facebook. O principal motivo que o levou a participar da Feira foi perceber naquele local a possibilidade de inovar e ampliar a forma de exposição dos seus produtos para um público além daquele que o seguia na rede social. Isso o levou a procurar se informar sobre o processo de inscrição para participar da Feira e, por considerá-lo viável, realizou o seu cadastramento. Feito isso, submeteu os produtos resultantes das suas atividades artesanais à avaliação dos organizadores, sendo aprovado em relação aos critérios que regulam as atividades intraorganizacionais da Feira. Assim, dois meses depois da sua inscrição, ele começava a expor o seu artesanato na Feira.

Instrumentos ou ferramentas

Os principais instrumentos de trabalho são o estilete, a lixadeira e a faca. Como não usa máquinas, não é possível produzir em série. As esculturas são feitas em formatos e tamanhos variados, principalmente em formato de animais. Há também a confecção de mesas, cadeiras e outros objetos com os pneus ou tiras, bem como com sobras de outros objetos.

Extraorganizacionalmente, o artesão participa de um grupo de artesãos nas redes sociais. É nesse grupo que obtém grande parte da informação sobre técnicas, materiais e procedimentos para elaborar as peças que produz.

Objeto

A transformação da atividade anterior começou a partir do estimulo do irmão, que viu algumas peças produzidas na Internet e o estimulou a dar início à produção. O artesão já conhecia algumas técnicas e começou a produzir por conta própria. A princípio, a produção era destinada para sua própria casa, mas diante do interesse das pessoas, os dois irmãos perceberam a possibilidade de comercialização. Isso levou o artesão a aprimorar as suas técnicas até que decidiram fazer a inscrição para exporem os seus produtos na Feira do Largo da Ordem.

Em termos de aplicação de técnicas, o artesão aproveitou e expandiu a experiência e aprendizagem anteriores de pintura e de técnicas de entralhe para adaptá-los à produção de artesanato criado a partir de pneus. A matéria-prima utilizada, além da base material para expressar a capacidade criativa, foi percebida pelo artesão também como uma possibilidade de minimizar os impactos dos muitos pneus que eram descartados na natureza. A conclusão a que chegou foi que além de ter matéria-prima farta e acessível, ainda poderia contribuir para a proteção da natureza.

O processo de corte (o pneu deve ser virado do avesso), limpeza, pintura e montagem para confeccionar uma peça dura aproximadamente um dia. As peças são repostas em função das que foram vendidas no domingo anterior, e acrescidas outras para manter a variedade de produtos expostos. As peças que não são vendidas na Feira são divulgadas para comercialização na página do Facebook. As atividades do artesão são, portanto, mediadas por uma base material relacionada à redução de impactos negativos na natureza e por uma estrutura de comercialização formada por um sistema de atividades que se desenvolvem tanto no contexto micro-organizacional da Feira quanto no macrocontexto representado pela rede social.

Dentro do processo de concepção, análise de viabilidade e construção, quando conclui que algo que fez não dá certo na implementação, ele não desiste. As reflexões sobre o processo o levam a procurar alternativas para reaproveitar os materiais empregados a fim de reformatar as esculturas para colocá-las à venda novamente. Segundo o artesão, ele nunca descartou uma escultura. As sobras de material de uma peça são reutilizadas em outra, ou seja, passam a compor e a gerar significado em outra peça (por exemplo, as tiras que sobram do feitio de um animal são usadas para fazer o assento de um banco ou as asas de uma águia). As demais peças usadas para, por exemplo, fazer bico de pássaro são de madeira reutilizada, com origem em demolição, pallets, partes de guarda-roupas etc., que ele coleta em obras e na rua. Aqui evidenciam-se, por exemplo, princípios do ecodesenvolvimento, como prudência ecológica e busca de eficiência econômica no desenvolvimento e aplicação de tecnologias sustentáveis para dar suporte às suas atividades de criação e produção de artefatos artesanais.

Divisão do trabalho

A divisão do trabalho é feita entre o artesão e seu irmão. Ele explica que: “por exemplo, enquanto um corta, o outro pinta. Ou enquanto um corta, o outro lava o pneu”. Os dois estão capacitados para executar as atividades relativas a todo o processo, mas dividem o trabalho para “não ficar repetitivo” (ARTESÃO A).

Os custos e ganhos são divididos igualmente entre os dois e eles se revezam semanalmente para vender os produtos na barraca, gerenciar a página do Facebook e fazer as entregas. São atividades, portanto, que ocorrem no contexto da microcomplexidade das atividades cotidianas da feira localmente situada e no macrocontexto extraterritorial das redes sociais. Ainda, a continuidade das atividades pressupõe o domínio das normas internas que incidem no território da feira, assim como aquelas que regulam as atividades no ciberespaço.

As regras

As regras que organizam a atividade estão relacionadas a duas questões: produção e venda. O artesão relata que as regras de produção e venda na Feira do Largo da Ordem são definidas pela Prefeitura Municipal, que estabelece normas no processo de escolha dos feirantes, controle de presença e fiscalização dos produtos oferecidos em cada barraca. O objetivo da fiscalização é assegurar que os objetos vendidos não fujam das características daqueles que foram aprovados. Na sua percepção, a fiscalização da Prefeitura é rigorosa, e ele então se policia para não descumprir as regras impostas (não expor outra arte que não seja a proposta, pelo risco de perder o posto de venda). Há, portanto, o cálculo das decisões internas da organização das atividades de produção e comercialização do negócio, para que não se desajustem ou venham a gerar externalidades no entorno que possam gerar imposição de consequências negativas por parte do órgão público regulador.

Em relação às regras pessoais, são relacionadas com a questão da segurança na produção, principalmente na prevenção de cortes no uso dos instrumentos cortantes (estilete, faca, lixadeira). Usam luva para cortar os pneus e máscara para pintura.

Comunidade

No microcontexto em que se situa o arranjo produtivo de que participa, o artesão relata que tem boa relação com os feirantes vizinhos da sua barraca e os identifica como “família”. Segundo ele, naquela região não há conflitos ou brigas por espaço ou por produtos, embora relate que relações conflitivas acontecem em outras regiões da feira. Procurando manter a autogestão de suas atividades e práticas, o artesão relata não ter outra relação com a Prefeitura se não aquela necessária para controle e fiscalização da sua atividade na feira. A sua atividade é, em essência, individual, pois não participa de nenhuma associação ou cooperativa dentro ou fora da Feira.

Sobre a relação com turistas e clientes, o artesão, demonstrando capacidade de se ajustar a demandas por meio da adoção de estratégia de aprendizagem expansiva, relata que se o interessado trouxer a foto de algum animal, eles tentam reproduzir. Eles também fazem móveis de pneus (cadeira, mesa de centro, pufe), ainda que as esculturas de animais serem o foco principal. Sobre as possibilidades de articulação dos conhecimentos e as habilidades aplicadas na atividade que desenvolve, o artesão afirma que “na verdade, o pneu, se você analisar, dá para fazer qualquer coisa”.

Como relatado, a inspiração para novos trabalhos e a troca de informação sobre técnicas, materiais e procedimentos vem da participação de um grupo nas redes sociais. Esse pode ser um contexto da crítica, da descoberta em que se buscam conteúdos para aplicação em peças de artesanato.

Aprendizagem expansiva

De modo geral, em relação às conclusões pontuais tratadas acima, a aprendizagem expansiva identificada na atividade do artesão deve ser caracterizada a partir da análise do sistema de atividade de artesanato do artesão em diferentes momentos das práticas e de sua interação com o seu ambiente de aprendizagem. A nova prática do artesão, consubstanciada na produção de esculturas de pneu, teve início com o estímulo à percepção, a sugestão do seu irmão e os questionamentos do artesão sobre as possibilidades e oportunidades trazidas pela nova produção em termos de benefícios econômicos e ambientais.

O processo tem sequência com a reflexão e reestruturação da prática exercida visando à transformação da atividade. Ao utilizar o conhecimento anterior para a confecção de produtos para uso próprio, o aproveitamento da experiência de pintura e o conhecimento de técnicas de entralhe para se ajustarem e se adaptarem para produção de artesanato feito com pneus, o artesão utilizou a aprendizagem expansiva para conceber e modelar a nova atividade. Percebeu que havia muitos pneus que eram descartados e que, além de ter matéria-prima farta e acessível, ainda poderia contribuir para a proteção da natureza.

O exame e experimentação do novo modelo foi possível com a inscrição do empreendimento na Feira e a ampliação das relações com clientes e turistas. Isso levou o artesão a se inserir em comunidades de práticas para pesquisar técnicas e modelos que pudessem contribuir para a adaptação em relação às demandas e regras de comercialização que lhe passaram a ser externamente impostas.

O artesão parece compreender profundamente o processo e a dinâmica da produção de artesanato e da sua comercialização na Feira, bem como as limitações que a inserção nesse arranjo socioprodutivo lhe impõe. Isso está presente principalmente na preocupação que manifesta quanto a cumprir as regras de comercialização impostas pela Prefeitura.

A consolidação da nova prática está presente no relacionamento com os demais feirantes, na abertura para receber e trocar informações com clientes ou com grupos de contato, buscando sempre inspiração para novos produtos, novas técnicas, materiais e procedimentos.

Sistema de atividade e aprendizagem expansiva do artesão B

Sujeito

O artesão B é artesão há 7 anos e comercializa suas esculturas em metal na Feira há aproximadamente 3 anos. O artesão comercializa os seus produtos na Feira aos domingos e recebe encomendas pelas redes sociais durante a semana. Diz não ter loja ou atelier.

Antes disso ele trabalhava com uma oficina de lataria e pintura, como relata:

Eu tinha essa oficina de lataria e pintura e eu via essas peças que iam ser jogadas fora e pensei... puxa... o que eu posso fazer com isso? E comecei a brincar. Claro que, no começo, não era nada nesse perfil. A partir dali comecei a me interessar mais, mais, até que chegou um momento que eu parei com a oficina e me dediquei só a esse trabalho. (ARTESÃO B).

Essas tentativas iniciais se apresentam como indício do surgimento de um ciclo expansivo de aprendizagem, adaptações e aplicações de conhecimentos historicamente desenvolvidos pelo artesão.

O artesão sempre gostou de criar, mas foi da atividade na oficina que surgiu o interesse em trabalhar com as esculturas feitas de peças automotivas. Conta que sempre teve fascínio por esse tipo de trabalho porque via um grupo de pessoas que o desenvolviam no Centro de Curitiba. Isso ocorreu desde longa data, quando era mais jovem, com mais ou menos 12 anos, e veio morar em Curitiba. Quando teve os primeiros contatos com esses trabalhos, ficou apaixonado. Entretanto, naquela época, não acreditava que teria potencial para fazer o que faz hoje. Nessa época é, portanto, possível identificar o surgimento de necessidades de desenvolvimento de práticas, que se manifestaram a partir de perturbações, identificação de possíveis falhas e problemas relacionados às práticas que então desenvolvia.

Instrumentos ou ferramentas

As principais ferramentas de trabalho são: máquina de solda, lixadeira ou furadeira, para escovar, e verniz, para dar acabamento. Esses são, portanto, os instrumentos que assumem papel de mediação entre o artesão e o seu artesanato. A necessidade de desenvolver ferramentais conceituais levou o artesão, que era pintor automotivo, a adaptar técnicas de solda e de pintura aprendidas e praticadas anteriormente.

Hoje, ele reutiliza todos os materiais que encontra em oficinas e ferros-velhos e algumas ele ganha dos próprios clientes, além de incorporar às esculturas os objetos do dia a dia. Algumas esculturas são feitas de prego, vergalhão e restos de construção.

A necessidade de compreender o sistema de atividades em que se inseriu o levou a compreender e a se integrar em uma estrutura mais ampla, que era formada pelas demandas e relações para atender os turistas. Um dos primeiros aprendizados nesse processo foi o de que o grande problema era o peso das peças. Então, ao longo do processo, ele tenta deixar as peças mais leves, mas sem lhes tirar as características artísticas.

Procurando meios para se ajustar a fim de atender necessidades que são percebidas como reais de turistas e visitantes da feira, o artesão desenvolveu como “carro chefe” as peças que representam motos e guitarras. Entretanto, como trabalha com peças improváveis, ele tenta adaptar as que encontra nas esculturas que têm mais saída. Entretanto, além de sempre repensar a questão de materiais, que nunca são os mesmos, ele complementa: “eu não tenho como produzir em série porque cada escultura é feita com as peças que tenho à disposição no momento” (ARTESÃO B). Não obstante, o artesão procura não sair do padrão estabelecido e da gama de produtos, pois entende que já é conhecido pelo estilo das esculturas que produz. Nesse processo, sob a perspectiva da teoria da atividade, é possível concluir que o artesão constrói um novo objeto e o conceito de sua atividade, e introduz esse novo objeto e conceito na sua prática cotidiana.

Objeto

O artesão iniciou a produção de esculturas com peças de carros, de motos e de instrumentos musicais por serem as primeiras referências que ele teve, com suas primeiras esculturas vendidas a amigos e familiares. Na teoria da aprendizagem expansiva, as atividades anteriores se constituíram nos meios necessários para trazer a experiência anterior da história para a atividade atual.

Em um processo de expansão de aprendizado, o artesão passou a pesquisar na internet fotos de instrumentos musicais e barcos vikings para lhes servirem de inspiração. Entretanto, segundo ele, o próprio processo de transformar materiais que iriam ser descartados já faz o objeto ser bem diferente da foto de referência. No processo de ajustes para aproveitar todos os objetos que tem para fazer uma escultura, o que permanece é o conceito. Por isso, cada escultura, mesmo partindo de um mesmo referencial, acaba sendo feita de forma diferente, porque ele nem sempre tem as mesmas peças.

Para o artesão, além de meio obtenção de retorno econômico, da expressão artística gerada pela aprendizagem que desenvolveu ao longo de sua história, os objetos representam uma escultura e, ao mesmo tempo, fazem referência à preocupação com a sustentabilidade, pois neles estão contidos e ressignificados aquilo que seria descartado, jogado fora.

Do mesmo modo que ocorreu ao outro artesão participante do presente estudo, as relações se desenvolvem tanto em arranjo socioprodutivo microterritorialmente localizado quanto no um macrocontexto virtualizado, representado pelas redes sociais. Há, entretanto, uma diferença que diz respeito à inserção das peças artesanais que produz em um mesmo contexto, formado pelo mercado das galerias de arte. Relata o artesão, pois, que a maioria das peças vai para a Feira, algumas vão para galerias de arte e outras são produzidas para atender às encomendas recebidas na própria Feira ou nas redes sociais.

O artesão, como sujeito que interage com objetos para alcançar resultados desejados e ajustados às demandas do ambiente externo em que está implexo, diz já conhecer o perfil e procura levar as esculturas voltadas ao público que as compra. Quando um cliente não encontra o que procura, o artesão produz e envia as peças pelo correio. Ele complementa que, por um lado,

Às vezes a pessoa tem uma ideia... que nem aquela da formiga... a gente teve a ideia e mandou para o cliente. O cliente queria uma escultura para o jardim dele e não sabia o que ele colocava. Aí nós sugerimos que ele fizesse formigas subindo a parede. Nós fizemos uma formiga e mandamos a foto para ele. Ele gostou e nós fizemos. (ARTESÃO B).

Por outro, “às vezes o cliente traz a ideia, noutras eu tenho a inspiração e faço, da própria conversa com as pessoas” (ARTESÃO B). Nessa interação, se analisada sob a ótica da teoria da atividade expansiva, a aprendizagem passa a se ligar à comunidade onde ela ocorre, integrando aspectos culturais e sociais da aprendizagem.

Divisão de trabalho

É o artesão quem produz sozinho todas as esculturas que são comercializadas. Sua esposa o ajuda no atendimento aos clientes na Feira e nas redes sociais.

As regras

A principal preocupação do artesão é em relação às regras de segurança, como o uso de óculos de proteção e luvas, pois, como é o único responsável pela confecção das esculturas, precisa garantir que tenha condições de continuar produzindo.

Em relação ao comércio da Feira, como ocorreu com o primeiro artesão participante do presente estudo, suas preocupações estão relacionadas ao cumprimento das regras colocadas pela Prefeitura em relação à assiduidade, ao cumprimento do horário de atendimento (das 9 às 14h) e à manutenção das características dos produtos para que eles não percam sua licença para a comercialização na Feira.

Comunidade

O artesão afirma que a relação com outros membros da Feira é muito boa e os considera como uma família. Em relação aos produtos artesanais, como os do entorno são muito diferentes, não há conflito porque não há concorrência direta, e afirma que “nessa região todos respeitam o espaço dos outros” (ARTESÃO B). Portanto, embora partilhando de atividades de natureza similar, a criatividade aplicada os torna diferenciados a ponto de afastar a concorrência, que é típica de sistemas de produção em série.

Com a prefeitura, a relação é “prática” e resume-se em pagar as taxas, ao processo de cadastramento e à avaliação dos produtos. Nesse sentido, afirma que “tem as normas que precisamos cumprir para estar aqui, como o horário e a manutenção do foco nos produtos que produzimos” (ARTESÃO B). Então, aqui, na perspectiva da teoria das atividades, há análise de regras, convívio em comunidade e divisão de trabalho, realçando a diferença entre a ação individual e a ação coletiva.

No macrocontexto, o artesão não faz parte de nenhuma organização ou cooperativa, mas colabora com projetos do Departamento de Cultura do Município de Fazenda Rio Grande, onde mora atualmente e faz exposições, palestras de conscientização sobre reciclagem e oficinas de artes.

Aprendizagem expansiva

No caso do artesão B, a aprendizagem expansiva para uma prática pode ser identificada quando se analisam as contradições ocorridas quando começou a criar as primeiras obras. Entre a expectativa do outro e as reflexões sobre como expandir a aprendizagem para ampliar as suas atividades e práticas, ao expô-las para amigos e familiares, gerou um contexto em que passou a perceber seu potencial e a necessidade de aprimorar as técnicas, que anteriormente eram vistas como habilidades de aplicação de técnicas de solda e pintura automotiva.

A nova prática relacionada ao artesanato foi modelada a partir da adaptação do artesão à nova atividade. No início, ele conciliava as atividades da oficina e as de artesanato, mas, ao longo do tempo, com o reconhecimento e a necessidade de mais tempo para a produção, foi levado a optar por direcionar seus esforços para a produção das esculturas, o que levou à transformação completa da sua atividade. A questão da sustentabilidade, presente na reutilização de peças e outros materiais, é observada desde a prática da atividade anterior, e mostra-se central no processo de reestruturação da atividade.

A consolidação da nova prática apresenta-se na sua relação com a comunidade formada a partir dos contatos com os outros feirantes, e com a preocupação manifesta de utilizar criativamente os objetos que se lhe apresentam para fazer uma escultura. Isso o leva a desenvolver e ampliar os ciclos de aprendizagem expansiva para conseguir pôr em prática as alterações necessárias a fim de realizar ajustes em razão das demandas contextuais, como, por exemplo, foi o caso do peso elevado das suas esculturas. Esse processo de aprendizagem conceitual lhe permitiu realizar alterações nos objetos que produz sem que haja interferências nas características artísticas das esculturas que cria.

Conclusões

A ampliação das possibilidades de aplicação da base teórico-conceitual da abordagem da ecossocioeconomia parece ter se expandido com a associação da teoria da atividade e suas nuanças relacionadas à aprendizagem expansiva. Na investigação empreendida foi possível, pois, compreender, com bom nível de aprofundamento, o processo de aprendizagem da perspectiva de indivíduos artesãos que, utilizando experiências adquiridas e transformadas durante suas histórias pessoais, se capacitaram para atuar com capacidade de agência suficiente para que se inserissem e passassem a atuar criativamente num contexto formado por um arranjo socioprodutivo urbano. A aprendizagem, da percepção dos feirantes, se subsume, portanto, à visão de Engeström (2014), que defende que o aprendizado envolve a geração de um novo conhecimento ou de novas práticas, como parte constitutiva e de transformação de um sistema de atividades.

A aprendizagem mostrou possuir bases construtivistas originárias de interação, por um lado, na relação sujeito-objeto-mediação para a concepção e desenvolvimento de peças artesanais e, por outro, permitiu a inserção e o relacionamento das práticas e de significados no contexto da ecossocioeconomia. A contribuição da investigação para a prática pode estar na percepção de que o artesanato, se visto como uma atividade criadora, pode contribuir para o comprometimento do sujeito com o contexto socioambiental em que está implexo. Isso é possível por valores ecossocioeconômicos estarem associados à sua prática cotidiana e, por meio de significados incorporados por suas obras artesanais, permitirem elevar o nível de comunhão com a natureza e, pela dialogicidade vivenciada nos ciclos de aprendizagem expansiva, ampliar boas práticas de convivencialidade em arranjos socioprodutivos e em contextos de interações com as cidades. Isso, frente às transformações socioeconômicas que vêm ocorrendo ao longo das últimas décadas, permite bases consistentes para que os artesãos passem a repensar as suas atividades a fim de incorporar práticas sustentáveis em sua produção.

No âmbito das Ecossocioeconomias, o estudo de caso mostrou que as feiras livres podem abranger as dimensões sociocultural, econômica, ambiental e político espacial, configurando-se, assim, como uma atividade que permite a participação cidadã, o empoderamento local, o sentimento de pertencimento, a geração de trabalho e renda (GRIMM et al, 2018), bem como um lócus privilegiado para a emergência de ciclos de aprendizagem expansiva em atividades que visam a incorporação de valores culturais e transformação de técnicas industriais para elevar o potencial artístico e o valor de obras artesanais.

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1Procedimentos éticos: a fim de resguardar a identidade dos entrevistados, eles foram identificados, nesta pesquisa, por código (letra) para preservar seu anonimato e a confidencialidade dos dados fornecidos durante a entrevista.

Recebido: 30 de Março de 2018; Aceito: 06 de Julho de 2018

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