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Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade

versão impressa ISSN 0104-7043

Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade vol.27 no.52 Salvador maio/ago 2018  Epub 02-Jul-2019

https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2018.v27.n52.p60-71 

Dossiê Temático

CÍRCULO DE ESTUDOS, OBSERVATÓRIO DE EDUCAÇÃO E TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES DE METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL

CIRCLE OF STUDIES, OBSERVATORY OF EDUCATION AND COMMUNITY-BASED TOURISM: CONTRIBUTIONS OF PARTICIPATORY METODOLOGIES FOR LOCAL DEVELOPMENT

CÍRCULO DE ESTUDIOS, OBSERVATORIO DE EDUCACIÓN Y TURISMO DE BASE COMUNITARIA: CONTRIBUCIONES DE METODOLOGÍAS PARTICIPATIVAS PARA EL DESARROLLO LOCAL

Giovanna Del Gobbo* 

Eduardo José Fernandes Nunes** 

Anaie Leite Silva Morais*** 

*Doutora em Educação. Professora e orientadora de pesquisa do Departamento de Ciências da Formação e Psicologia da Universidade de Florença (Itália). E-mail: giovanna.delgobbo@unifi.it.

**Doutor em Geografia. Professor e orientador de pesquisa do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). E-mail: eduardojosf2@gmail.com

***Mestranda em Educação pela Universidade do Estado da Bahia (PPGEduC/UNEB). E-mail: anaie.cidadesustentavel@gmail.com


RESUMO

Este trabalho discute metodologias participativas educacionais em dois países, Itália e Brasil, articuladas com as teorias sobre desenvolvimento local. Tanto o projeto do Círculo de Estudos (CE) na Itália quanto o Observatório de Educação de Jovens e Adultos do Território de Identidade do Sisal (OBEJA) e o Turismo de Base Comunitária (TBC no Cabula), na Bahia, Brasil, utilizam-se de metodologias que integram estratégias de intervenção social local, tendo como princípios o diálogo com a sustentabilidade, ação pública e a ação dos cidadãos. Na Itália, a Universidade de Florença, em parceria com o Centro de Educação Profissional na cidade de Gorizia, com financiamento da União Europeia, desenvolveu Círculos de Estudos com diferentes agentes sociais locais buscando estratégias de desenvolvimento local. No Brasil, na região do SISAL e na localidade do antigo quilombo Cabula Salvador, respectivamente o OBEJA e as intervenções do TBC em bairros populares, onde está inserida a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), reacende perspectivas também para novos projetos de desenvolvimento local. Essas expreriências serão analisadas a partir de suas abordagens metodológicas e de suas ações para recuperar os conhecimentos e saberes de grupos sociais e a possibilidade de eles criarem seus próprios caminhos com autonomia e autogestão de seus ecossocioempreendimentos.

Palavras-chave: Círculo de estudos; Observatório de educação; Turismo de base comunitária; Desenvolvimento local; Metodologias participativas

ABSTRACT

This paper discusses participatory educational methodologies in two countries, Italy and Brazil, articulated with theories on local development. Both the Circle of Studies project in Italy and the Youth and Adult Education Observatory of the Sisal (OBEJA) Identity Territory and the Community Based Tourism (TBC) in Bahia, Brazil, use methodologies that integrate social local intervention strategies, with the principles of a dialogue with sustainability, public action, and citizen action. In Italy, the University of Florence, in partnership with the Center of Vocational Education in the city of Gorizia, with funding from the European Union, developed Circle of Studies with different local social agents seeking local development strategies; In Brazil, in the Sisal region and in the City of Salvador, respectively, OBEJA and TBC interventions in Popular Neighborhoods, where the State University of Bahia is inserted, rekindles perspectives also for new local development projects. These excerpts will be analyzed from their methodological approaches and their actions to recover the knowledge of social groups and their possibility to create their own ways.

Keywords: Circle of studies; Observatory of education; Community based tourism; Local development; Participatory methodologies

RESUMEN

Este trabajo discute metodologías educativas en dos países, Itália y Brasil, articuladas con las teorías sobre el desarrollo local. Tanto el proyecto del Circulo de Estudios en Italia como el Observatorio de Educación de Jóvenes y Adultos del Territorio de Idenditad del Sisal (OBEJA) y el Turismo de Base Comunitaria (TBC) en Bahia, Brasil, se utilizan de metodologías que integran estrategias de intervención social local, teniendo como principio el diálogo con la sostenibilidad, la acción pública, y la acción de los ciudadanos. En Italia, la Universidad de Florencia, en asociación con el Centro de Educación Profesional en la ciudad de Gorizia, con financiamiento de la Unión Europea, desarrolló un círculo de estudios con diferentes agentes sociales locales buscando estrategias de desarrollo local; en Brasil, en la región del Sisal y en la ciudad de Salvador, respectivamente, el OBEJA y las intervenciones del TBC en barrios populares, donde está inserta la Universidad del Estado de Bahia, reavivan perspectivas también para nuevos proyectos de desarrollo local. Esas experiencias serán analizadas a partir de sus abordajes metodológicos y de sus acciones para recuperar los conocimientos y saberes saberes de grupos sociales y la posibilidad de ellos crear sus propios caminos.

Palabras clave: Círculo de estudios; Observatorio de educación; Turismo de base comunitaria; Desarrollo local; Metodologías participativas

Introdução

Nosso interesse é por metodologias educacionais locais que consigam promover interações com diferentes grupos sociais e permitam a formação de ações inovadoras em âmbito local, deixando as medidas macro para políticas públicas mais abrangentes. A discussão do território, e suas potencialidades, pode ser vista em/por diferentes ângulos aglutinados por ideias que visem o bem comum e a harmonia entre os diferentes grupos sociais.

As três experiências confrontam a relação Norte-Sul em parâmetros assimétricos de desenvolvimento. No caso da Itália, políticas educacionais diferenciadas para a formação profissional de jovens e adultos nas áreas de informática, idiomas e, nesses últimos anos, políticas para promoção do desenvolvimento local. No caso do Brasil, em particular na Bahia, o desenvolvimento local e a formação de jovens e adultos são possibilidades graças ao apoio de Organizações Não Governamentais (ONGs) e Insituições Governamentais construindo formações dialogadas, participativas e contextualizadas.

Os Círculos de Estudo, o Observatório de Educação e o Turismo de Base Comunitária são três experiências que apresentam metodologias bastante próximas em contextos distintos como esses: o primeiro na Itália, numa região de fronteira com a Eslovênia, com características próprias do capitalismo avançado; e as outras duas experiências no Brasil, Bahia, uma localizada num território rural e a outra experiência na cidade. As três realizando projetos visando a participação cidadã e ações que valorizem o território.

Desenvolvimento local e processos educativos

O debate sobre desenvolvimento local e educação vem sendo discutido em muitas instâncias e ao longo de muitas décadas desde que o paradigma de crescimento e desenvolvimento demarcaram sua presença na década de 1950, com a criação de organismos supranacionais (ONU, UNESCO, OEA, Banco Mundial), que desenvolveram modelos ou programas econômicos para serem implantados em todo o mundo. No entanto, mesmo antes desses modelos hegemônicos surgirem, em diferentes lugares foram sendo experimentadas outras formas, onde territórios, comunas, cidades conseguiram criar alternativas que viabilizaram a expansão dos negócios e da vida social (CIAPETTI, 2010).

Ciapetti (2010) ressalta que para o desenvolvimento local acontecer é preciso uma rede de relações e cooperação com os sujeitos locais e políticas intencionais para o desenvolvimento local. Quais são os caminhos para que a produção coletiva, sob os princípios e tipologias da Economia Popular e Solidária, conduza ao Desenvolvimento Local Solidário e, assim, ao comércio justo? (COSCIONE, 2008; VILANOVA; VILANOVA, 1996).

Não existe um só modelo teórico para o Desenvolvimento Local (DL), o que há é uma possibilidade de integração de diversos modelos (CIAPETTI, 2010). Estevan, Jover e Naredo (2009) consideram importante refletir e intercambiar ideias e propostas com os movimentos sociais preocupados com o paradigma da economia ecológica. Acrescenta que a ideia de crescimento (e de desenvolvimento) econômico com que trabalham os economistas não está vinculada ao mundo físico e só se refere ao agregado de renda ou de produto nacional de forma abstrata. Abstraem a natureza física heterogênea dos processos que os geram, carecendo, portanto, de informação e critérios para julgar sua sustentabilidade (ESTEVAN; JOVER; NAREDO, 2009).

Dowbor (2006) aborda a importância do processo de educação que estimule o estudo de forma científica e organizada dos conteúdos do currículo tradicional e a compreensão da realidade em que os alunos conhecem por vivência, melhorando a assimilação dos conceitos científicos por fazerem sentido para eles, tornando o conhecimento algo mais que uma obrigação escolar.

Diante a crescente importância do desenvolvimento local apesar da globalização, em que as pessoas buscam melhores condições de vida em seu entorno imediato. Em que a cidadania pode se exercer em diversos níveis, mas é no plano local que a participação pode se expressar de forma mais concreta, compreendendo que os conhecimentos gerais se materializam em possibilidades de ação no plano local.

Na cidade a qualidade de vida e o desenvolvimento vão depender cada vez mais da capacidade inteligente de organização das complementariedades, das sinergias no interesse comum, respeitando as especificidades de cada localidade. Onde suas necessidades são conhecidas pela população que habita, enriquecendo, o processo da iniciativa local através da participação colaborativa, articulando interesses na busca por soluções.

Dowbor (2006) considera que a conectividade entre as pessoas é possível por meio de tecnologias de informação e comunicação, facilitando o acesso ao conhecimento e, assim, a exigência de constante atualização e inserção nos significados locais e regionais. E neste processo, a escola passa a ser uma articuladora entre as necessidades do desenvolvimento local e os conhecimentos correspondentes, emancipando a educação ao possibilitar aos alunos instrumentos de intervenção sobre a sua realidade através do bom conhecimento da realidade, sólidos sistemas de informação, transparência na divulgação, permitindo iniciativas inteligentes por parte dos cidadãos.

E esse processo enriquece o sistema educacional ao possibilitar que escola se torne um centro de produção de conhecimento sobre a realidade local, tendo a educação como instrumento científico e pedagógico, em que os professores sejam mediadores de uma comunidade onde serão naturalmente levados a confrontar o que ensinam com as realidades vividas, contribuindo para o desenvolvimento e transformação local, ao passo que oportunizam aos alunos a problematização e a organização cientifica do conhecimento. Reconhecendo que todos são responsáveis pela construção de cidades sustentáveis através da promoção do território e dos recursos locais que constituem potencial local de melhoria da qualidade de vida para todos.

Lutar contra a insustentabilidade do modelo econômico da civilização industrial; buscar conexões entre os princípios da economia ecológica e da economia solidária; colocar na construção de propostas de economia alternativa e solidária as pessoas e a natureza no centro, em vez da economia e do benefício; compreender as ações coletivas na contemporaneidade. Se entendermos o crescimento econômico como associado ao aumento indefinido das variáveis físicas da economia (mobilidade, transformação de território, extração de recursos, consumos energéticos etc.), são irreconciliáveis o crescimento econômico e a sustentabilidade ecológica (ESTEVAN; JOVER; NAREDO, 2009).

Pressupostos do desenvolvimento alternativo, crítica à racionalidade econômica, Segundo Santos (2011), um dos requisitos para o desenvolvimento alternativo é elaborar a crítica à racionalidade econômica a fim de promover melhores condições de vida para a população e a defesa de valores de igualdade e cidadania. Singer (2002) reafirma essas questões e assinala que a economia solidária se compõe das empresas que praticam os princípios do cooperativismo, ou seja, a autogestão, sem confundir com as cooperativas que empregam assalariados. Para esse autor, a empresa solidária questiona a separação entre trabalho e posse dos meios de produção, e a propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os trabalhadores.

Parcerias para a construção e difusão do conhecimento

Na teoria pragmático-linguística desenvolvida por Habermas (2012), o processo do diálogo e das interações linguísticas podem produzir razões e critérios consensuais ao se discutir as regras de convivência de uma sociedade, sendo necessário o estabelecimento de um processo argumentativo capaz de fornecer os critérios e os parâmetros racionais para a coordenação das ações e sendo possível encontrar as premissas básicas para a construção de um projeto educativo que privilegie o diálogo, a interação e o entendimento como formas de coordenação da ação social e pedagógica.

Para Brandão (1993), a educação contribui na produção do conjunto de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que compõem a sociedade em que vivemos, nos ajuda a pensar, a criar, a transmitir uns para os outros o saber que constitui e legitima o ser humano.

Tendo como base Paulo Freire, a partir da leitura de Brandão (1993), a educação é um processo permanente e dialético, de aprofundamento, tanto da experiência pessoal quanto da vida social, que se traduz pela participação efetiva, ativa e responsável de cada sujeito envolvido. Desta forma, é necessário o aperfeiçoamento constante na formação profissional, de maneira a se tornarem mestres da práxis.

E nesse enfoque teórico encontram-se as bases para o desenvolvimento de uma educação dialógica e crítica, com potencial emancipatório quanto à filosofia da linguagem, à teoria social e à relação entre agir comunicativo, diálogo e educação para uma práxis comunicativa da educação, geradora de entendimento e fonte de integração social com vistas à coordenação das ações e de socialização entre as pessoas, as quais são chamadas à responsabilidade e ao exercício da solidariedade e de cooperação mútua na busca de superação para os conflitos e contradições que desafiam a sociedade contemporânea.

Gatti (2012) sugere uma construção metodológica de pesquisa em educação com clareza quanto às denominações e conceitos utilizados, de seus significados, caracterização do campo e quais as contribuições de nossos interlocutores e especialistas de outros campos, como estão compreendendo e como podem articular e validar os conhecimentos produzidos através de nossos estudos, devido à nossa comunicação com diferentes setores sociais e acadêmicos, de modo que possamos ser compreendidos e que os conhecimentos sejam bem interpretados, com contribuições realmente relevantes para a sociedade.

Santos (2011) sugere uma reforma criativa, democrática e emancipatória, através de sujeitos de ações que empreendem e enfrentam eficazmente os desafios que defrontam a universidade pública que qualifique para inserção em contextos cada vez mais transnacionalizados, visando responder positivamente às demandas sociais pela democratização da universidade.

Círculos de estudo para o desenvolvimento local

No período de 2011 a 2014 foram realizadas as experiências dos círculos de estudo na area transfronteiriça da Itália e da Eslovênia nos seguintes territórios: Valli del Torre e Natisone, Collio e Carso em Friuli Venezia Giulia, e Veneto oriental sul lado italiano, alta Valle dell’Isonzo, Comune de Kanal, Collio esloveno e área da Comuna de Nova Gporica sul, lado esloveno. O objetivo é experimentar o método pedagógico participativo dos “círculos de estudo” para valorizar e aumentar o patrimônio de conhecimento dos sujeitos/território. A ideia é promover redes de aprendizagens e a valorização das regiões de fronteiras com a participação de operadores econômicos, empreendedores, administradores e cidadãos.

Além disso, esse projeto procurou construir círculos de estudos integrados ao valor transfronteiriço que se autossustentem para além da conclusão do projeto, das instituições e entidades que gestionam. Baseado no modelo territorial em rede, desenvolvendo atividades de seleção da demanda formativa, planificação e gestão das atividades formativas do círculo. Todo o material produzido tem a contribuição dos experts da Cátedra Unesco de em Desenvolvimento humano e Cultura da Paz da Universidade de Florença e do Centro de Estudos de Adultos (ENFAP), na cidade de Gorizia, na Itália.

Do ponto de vista metodológico, os Círculos de Estudo (STUDY CIRCLES, 2014) procuram difundir saberes tradiconais e novos conhecimentos sobre o desenvolvimento rural integrado, artesanato, agricultura, restauração, turismo, ambiente, tutela da biodiversidade. Todos esses temas guardam a ideia de valorização e uso sustentável dos recursos do território, como também perspectiva da cadeia de suprimentos, com uma abordagem participativa desde baixo. De acordo com o guia dos Círculos de Estudo, todo o processo se inicia a partir do desejo do território e dos participantes, visando trabalhar na difusão de redes de microempresas para a inovação e competitividade, a promoção do autoempreendedorismo vinculado à vocação do território, a valorização do território através do desenvolvimento de produtos turísticos de rede e a valorização dos produtos típicos e da cidadania ativa.

Essas ações estão integradas às estratégias da nova programação da Europa 2020, baseada no desafio de “crescimento inteligente, sustentável e inclusiva” (STUDY CIRCLES, 2014, p. 17, tradução nossa), que se refere ao melhoramento da ocupação e da inclusão social, inovação, green economy, a qualidade e atratividade do território, entre outras. Como já assinalado, Nos objetivos formativos de conhecimento e competência nessa metodologia de investigação - ação participativa -, é necessário contar com a mediação de um tutor e de experts de instituições reconhecidas.

Os Círculos de Estudo, metodologicamente, abordam preferencialmente a troca e o aprofundamento de conhecimentos do território em diferentes aspectos: naturalístico, ambiental, antropológico-cultural, econômico-produtivo, gerencial do ponto de vista normativo e do Plano de Desenvolvimento Local. Algo importante nessa metodologia é privilegiar o conhecimento recíproco com os participantes, sustentada nas experiências pessoais, no confronto de pontos de vistas diversos e na construção de ações comuns.

Os Círculos de Estudo são um dispositivo formativo que se desenvolve a partir do desejo formativo do território e dos estudantes, dos seus interesses e das suas expectativas em relação à atividade educativa. Nesse sentido, destaca-se a importancia da atividade da construção da rede dos sujeitos intermediários no território (associações, instituições, operadores econômicos), priorização e análises de necessidades, envolvimento dos beneficários finais, a solicitação de treinamento e a programação das atividades do círculo. A análise dos requisitos é realizada num primeiro nível, através das Mesas de Trabalho Territorial para a valorização local, que serão objeto de estudo e desenvolvimento de ações concretas dentro do círculo.

O Observatório de Educação de Jovens e Adultos (OBEJA)

O Programa Observatório da Educação, criado pelo governo federal, envolvendo a Capes, o INEP e a Secadi, desde 2006 visava, principalmente, proporcionar a articulação entre pós-graduação, licenciaturas e escolas de educação básica, e estimular a produção acadêmica e a formação de recursos pós-graduados, em nível de mestrado e doutorado. Nessa perspectiva, a proposta do OBEJA foi aprovada pela Capes em 2013, elaborada pelo grupo de pesquisa Teoria Social e Projeto Político Pedagógico (TSPPP), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC), no Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

O Observatório definiu seis municípios do Território de Identidade do Sisal, localizados no semiárido baiano: Araci, Conceição do Coité, Santa Luz, São Domingos, Serrinha e Valente. Fazendo parte do grupo para a organização do observatório, era obrigatória a inserção de três professores(as) da educação básica com atividade em EJA nos municípios selecionados e, também, três estudantes de graduação da UNEB nos dois campi localizados nas cidades de Serrinha e Conceição de Coité, incluídas na área de intervenção do Observatório e com experiência em EJA.

A escolha do OBEJA nesse território deve-se ao quadro educacional do Território do Sisal, que apresenta índices elevados de pessoas não alfabetizadas e, também, por terem representantes nesses municípios do Fórum de EJA do Território do Sisal, facilitando no universo da EJA no território.

O território revela a pouca absorção de mão de obra nas atividades agrícolas, no cultivo do sisal ou nas pequenas propriedades, onde produzem, em geral, uma pequena horticultura, principalmente o aipim, a abóbora e o feijão, e a pequena criação de cabras e ovelhas que comercializam nas feiras periódicas nas cidades. Outros fatores, como deficiência do transporte escolar e estradas precárias, ensino em escolas com poucos recursos organizacionais e infraestrutura também com poucas condições de funcionamento, acabam interferindo na permanência do estudante em algumas escolas públicas do interior do sertão baiano.

O OBEJA teve como objetivo principal realizar estudos e proposições sobre a organização e a oferta da EJA no Território de Identidade do Sisal (TIS); criar um sistema de informações/acompanhamento e monitoramento da Gestão Social de Políticas Educacionais em EJA e uma metodologia de formação em EJA; gerar informações que possam ser utilizadas pelos movimentos sociais locais.

O Território de Identidade do Sisal, na Bahia, abrange uma área de 21.256,50 Km² e é composto por 20 municípios; a população total do território é de 582.331 habitantes, dos quais 333.149 vivem na área rural, o que corresponde a 57,21% do total. Possui 58.238 agricultores familiares, 2.482 famílias assentadas, 2 comunidades quilombolas e 1 terra indígena. Seu IDH médio é 0,60 (BELTRÃO, 2010).

Em 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios (PNAD), a taxa de analfabetismo no Brasil era de 8,3%, cerca de 13,2 milhões de habitantes, concentrados no Nordeste (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014). A diminuição do número de escolas que ofertam EJA pode sinalizar um problema, sobretudo para o trabalhador, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2014). Merece destaque também a integração da EJA com a educação profissional na perspectiva de se criar novas possibilidades de trabalho para esse público. Além disso, quase metade da população brasileira (49,25%) com 25 anos ou mais não tem o ensino fundamental completo, segundo dados do Censo 2010 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012). O índice é mais alto em áreas rurais, onde 79,6% dos brasileiros nessa faixa etária não terminaram o ensino fundamental - na Bahia é de 20%; no Território do Sisal, em 2000, era de 34,5%.

A participação dos movimentos sociais no Território do Sisal tem sua presença desde muito tempo. A história dos movimentos sociais no Território do Sisal começa a mudar em 1960, com o trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEB); em 1967, com o Movimento de Organização Comunitária (MOC); e em 1969, com a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). Os movimentos sociais mais recentes vêm realizando novas reivindicações, a agricultura familiar, o associativismo e o cooperativismo, dentre eles, a Associação de Desenvolvimento Solidário e Sustentável da Região Sisaleira (APAEB), em 1980; o assentamento Nova Palmares, em 1998; o Núcleo de Educação Popular do Sertão da Bahia (NEPSBA), a Associação Cultural e BeneficenteRevolution Reggae, de 2003; o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), além do Fórum EJA do Território do Sisal, um dos movimentos com mais impacto nas políticas e gestão da EJA nesse Território.

O projeto do Observatório para a formação de professores da EJA no Território do Sisal seguiu também algumas orientações e análises a partir da metodologia da Investigação Ação Participativa (IAP), através da experimentação de modelos de formação em EJA nas escolas TIS, seminários e oficinas que funcionaram como ações mobilizadoras e descobridoras de modelos já utilizados pelos próprios professores. A construção da formação deveu-se, em toda a sua extensão, à participação dos atores locais nos processos de reflexão e ação das atividades de pesquisa e extensão do OBEJA.

Através da IAP, continua conjuntamente conhecendo o território, envolvendo diversas instituições e atuando com propostas metodológicas de formação mais atentas ao aprender a pesquisar, a construção e utilização de elementos gráficos para facilitar a formação, atividades práticas nas comunidades para desenvolver a escuta da comunidade através da realização das Caravanas da Escuta, adaptando a construção freiriana na formação participativa e em conjunto com estudantes e professores nas comunidades onde vivem ou em outras que mantêm relações.

Da fase de estudos e pesquisas, quantitativas e qualitativas, foram mapeadas, nos seis municípios, a situação histórica, econômica e política do Território através de um levantamento de artigos, teses e dissertações sobre o Território e um diagnóstico sobre a situação sociogeográfica e econômica em documentos oficiais, e, por fim, um diagnóstico da EJA nesses municípios.

Foram realizadas, nos seis municípios, pesquisas em 40 escolas nas zonas urbana e rural, identificando quais os perfis dos gestores, coordenadores, professores e estudantes de EJA e suas expectativas, críticas, avaliações e potencialidades. Um dos temas pesquisados foram as metodologias utilizadas pelos professores, que foram consideradas, em muitos casos, expositivas e sem a devida relação com o contexto dos estudantes.

No Observatório, uma tese sobre o estudo da matemática na EJA afirma que embora os estudantes que são trabalhadores rurais do sisal consigam elaborar pensamentos matemáticos sofisticados a partir de suas próprias experiências, como calcular o valor que recebe por uma carga do sisal e quanto tempo leva para executar certas funções dentro da cadeia produtiva, não conseguem colocar esses cálculos no papel.

A produção de material didático específico para o Território do Sisal faz parte do desafio de uma educação participativa, contextualizada e integrada em rede com diferentes instituições parceiras. A busca pelos portais, tais como IBGE, INEP, IPEA, Capes e SEI, que possuem bancos de dados sobre o território, as escolas, os estudantes, são importantes para a formação do professor e do estudante da EJA. A disponibilização desses dados, mapas, censos e gráficos pode ajudar na formação.

A utilização das TIC na EJA apresenta-se como uma abertura para muitas redes e acessos ao conhecimento. A dinâmica desse processo de produção da internet é um eixo importante na compreensão da ferramenta, embora as dificuldades dos provedores em se instalar em municípios pequenos e em localidades rurais distantes do centro contribua para dificultar o quadro educacional ainda bastante debilitado nesse Território.

A integração com o Território para utilizá-lo como parte do currículo procura mostrar a riqueza cultural e o universo vocabular dessa parte do sertão baiano, através da criação da Caravana da Escuta como uma experiência de formação da escola, de professores e de estudantes, necessária em qualquer projeto político pedagógico escolar.

A Caravana da Escuta (CE) é uma metodologia que procura entender as especificidades da cultura sisaleira no diálogo com os sujeitos da EJA no ambiente não escolar. A metodologia da Escuta não é compreendida aqui como continuidade dos processos de escolarização, mas sim das experiências vivenciadas pelos sujeitos. Procurou compreender o universo cultural das pessoas dos diferentes povoados, nas feiras, nas roças, ouvindo relatos e histórias sobre a escola, a cultura, a vida social.

A pesquisa elaborada pelo Observatório Educação de Jovens e Adultos do Território do Sisal - Bahia (OBEJA-BA) proporcionou a criação de um sistema de informações capaz de acompanhar o desempenho institucional e as estratégias pedagógicas do sistema educativo nos seis municípios da região do semiárido baiano supracitados, identificando assim as experiências inovadoras da oferta de Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas escolas que atendam às especificidades socioculturais.

O OBEJA tem como base em sua proposta formativa para os atores da EJA, estudantes e professores a formação em pesquisa para a leitura do mundo na concepção freiriana como um processo de formação participativo e integrador, entre estudantes e professores, que dialogue com suas realidades e potencialidades. Nessa perspectiva, propomos o desenvolvimento de uma formação em pesquisa social e, em particular, pesquisa em educação na qual estejam inseridas em “classes/oficinas” em metodologia da pesquisa, como elemento de diálogo entre a proposta curricular formal da EJA e a realidade sociocultural dos estudantes. Sendo assim, partimos do pressuposto de que ao proporcionar oficinas que trabalhem com história de vida, grupo focal, trajetórias de vida, autobiografias, entrevistas, caravanas da escuta, permitiremos aos estudantes e professores a ampliação da sua percepção da realidade social, local e global, de forma a tornar os currículos e o processo de aprendizagem mais consonante com as perspectivas desses sujeitos, e empreender uma formação acadêmica. Para tanto, é fundamental realizar leituras de metodologias, sintetizá-las e apresentá-las de forma acessível para o estudante da EJA, como uma disciplina de teoria e prática de pesquisa em EJA.

Uma das estratégias foi a utilização das ideias de Paulo Freire sobre a Caravana da Escuta como uma metodologia de pesquisa para formação em serviço, propondo colocá-la no planejamento das áreas do conhecimento para formação docente. A Caravana da Escuta é um modelo de compreensão da realidade local dos estudantes e professores, realizada por eles próprios, utilizando-se de técnicas de pesquisa já conhecidas pelas ciências sociais e pela pedagogia para um maior entendimento dos problemas e para aprofundar a conscientização dos agentes da EJA. Dentre essas técnicas e métodos, trabalhamos com as histórias de vida, com as lendas locais, com as músicas e festas, com as atividades de solidariedade e apoio mútuo realizadas no processo produtivo.

A pesquisa de materiais didáticos que possam formar os professores e estudantes é um desafio. Para isso, disponibilizamos informações importantes para o conhecimento do Território do Sisal no site da OBEJA por meio do link http://obeja.uneb.br e do aplicativo para celular OBEJA formação participativa, adquirido gratuitamente através do Play Store. Nos dias atuais contamos com uma quantidade de informação muito grande e de fácil disponibilidade, embora saibamos das dificuldades que muitos ainda têm para utilizar essas mídias, principalmente nas pequenas e médias cidades do semiárido baiano. Nesse sentido, nossa preocupação foi a de buscar, nesses sítios, materiais informativos que ilustrem e contextualizem os conhecimentos disponíveis. Nossa tarefa é facilitar mais, ensinando os passos da pesquisa para acesso e obtenção dessas informações.

Para a obtenção dessas informações pelos professores e estudantes da EJA, desenvolvemos um aplicativo disponível para aparelhos móveis onde poderão acessar um grande número de informações. A proposta do aplicativo tem em sua base a ideia do currículo como território de aprendizagem, elaborado através de um guia metodológico participativo que conterá informações precisas de sítios de instituições públicas que disponibilizam dados, tabelas, mapas, gráficos, como os do IBGE, INEP, IPEA, SEI e portais acadêmicos (USP, UNEB, Capes etc.), além de vídeos e músicas. Ao longo desse período da pesquisa reunimos informações sobre as necessidades dos professores e dos estudantes para agregar novos conhecimentos.

Com a metodologia que estamos desenvolvendo e experimentando no TIS, esperamos contribuir para a melhoria das atividades da EJA tanto para o professor quanto para o estudante, aproveitando o conhecimento local e as pesquisas científicas na formação desses sujeitos. A metodologia da formação dos educadores e a metodologia da educação dos jovens e adultos devem ser pensadas em conjunto, estar pautadas nos princípios freirianos, mais acopladas, como o próprio Freire pensou ao iniciar, através do Instituto Paulo Freire (IPF), à utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), a exemplo das bibliotecas que podem ser acessadas de modo virtual e presencial.

Recomenda-se ainda a criação de bibliotecas e museus (cidadania cultural) nas pequenas cidades, pois assim se pode transformar as ações num impulso ao conhecimento.

Turismo de Base Comunitária no Cabula - Salvador, Bahia

O Turismo de Base Comunitária teve origem na década de 1980, na América do Sul, caracterizando-se como um modelo de gestão comunitária do legado cultural e das riquezas naturais, visando à conquista de direitos à cidadania e o engajamento no cumprimento de deveres, para que com isto se concretize o desenvolvimento local.

Apresentar um marco conceitual para o turismo de base comunitária no Brasil, segundo Bartholo, Sansolo e Bursztyn (2009), não é das tarefas mais fáceis devido à diversidade de contextos, histórias, lugares e personagens de cada uma das iniciativas autoproclamadas “comunitárias”, sendo considerado um grande desafio a compreensão dessa diversidade para extrair ensinamentos que possam subsidiar a formulação de políticas públicas.

Bartholo, Sansolo e Bursztyn (2009) consideram como um marco conceitual as primeiras ações do poder público federal em apoio a um outro modelo de turismo, onde as populações tradicionais, a partir de 2007, estabeleceram uma conceituação do TBC no contexto brasileiro, a partir da demanda social e do reconhecimento de experiências de turismo que tivessem como protagonistas organizações comunitárias, o que foi feito por meio de discussões que envolveram, além do Ministério do Turismo, os ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, bem como alguns representantes de iniciativas locais.

Dessa forma, demonstra-se que a atividade turística pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida das comunidades receptoras, com foco na geração de oportunidades e benefícios reais para essas populações.

Nesse contexto apresentamos o projeto Turismo de Base Comunitária no Cabula (TBC), elaborado em conjunto com a assessoria técnica da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares através do Núcleo de Cooperação e Ações em Políticas Públicas e Economia Solidária da Universidade do Estado da Bahia (ITCP/COAPPES/UNEB), identificando e registrando a relevância do papel social da universidade no estabelecimento de diálogos com agentes participativos dos diversos setores da sociedade, de modo a contribuir para a melhoria das comunidades locais e regionais no contexto em que estão inseridas.

A metodologia adotada pelo TBC no Cabula, em que predominam presenças de jovens e adultos, tem sido inovadora na medida em que articula com maestria os saberes acadêmicos e populares, bem como vem mobilizando para a construção de conhecimento sobre o antigo quilombo Cabula, cuja origem remete às presenças de povos indígenas tupinambás, africanos e afrobrasileiros.

Ao longo dos anos vem atuando em 17 bairros por meio do grupo de pesquisa Sociedade Solidária, Educação, Espaço e Turismo (SSEETU), da UNEB, Campus I. Com base em metodologias participativas sustentadas na pesquisa-ação e na praxiologia (SILVA, 2013), o projeto tem como escopo principal a construção de redes sociais cooperadas com as comunidades circunvizinhas da UNEB, Campus I, buscando caminhos alternativos para o desenvolvimento local, no contexto de bairros populares, a partir do turismo de base comunitária e da economia solidária.

Visando o aprofundamento sobre a cultura e o patrimônio da localidade do antigo quilombo Cabula, para a partir daí construir conhecimento e gerar espaços de diálogos que favoreçam o apoderamento da comunidade de seus legados, e mais a mobilização criativa para expressar habilidades e talentos por meio da arte e do Turismo de Base Comunitária, realizaram-se sete versões do Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária (ETBCES), nos quais se conseguiu articular populações dos bairros envolvidos, em particular aqueles que foram realizados nos bairros de Pernambués, Beiru, Mata Escura e Cabula. As três primeiras versões do ETBCES ocorreram na UNEB, Campus I, Salvador, e as outras quatro em colégios da rede estadual de ensino, que mostraram suas experiências de dança, capoeira, artes plásticas, artesanato, culinária, que ajudaram na emancipação das populações envolvidas e deixaram manifestação positiva relacionada à autoestima e sentimento de pertencimento.

Como consequência, e às vezes em meio a esses eventos, desenvolveram-se roteiros de visitação de forma colaborativa com crianças, jovens, adultos e idosos, moradores dos bairros da área delimitada pelo projeto TBC Cabula. De um modo geral, compartilhou-se a melhor tradição alimentar; visitas a áreas de Mata Atlântica, a exemplo do Horto do Cabula e Reserva do Cascão; moradias construídas com resíduos sólidos; e artefatos de tecnologias sociais nos quais se expressão a criatividade das populações.

Nesse processo, desenvolveram-se iniciativas de hospedagem e guiamento por alguns participantes comunitários que, com limitações, participaram da formação em guiamento, hospedagem comunitária/domiciliar, culinária sustentável e outras formações, e realizaram suas práticas basilares dentro da perspectiva que se trabalha o turismo de base comunitária, não de maneira sempre crescente, pois desenvolver estas habilidades na comunidade não é fácil, dado o enfrentamento de dificuldades da comunidade e da universidade, mas aos poucos vai se formando diferencial inovador e criativo.

Para além da produção continuada da mobilização comunitária, o II Encontro de Turismo de Base Comunitária do Cabula e Entorno (ETBCES), que ocorreu entre os dias 3 e 8 de julho de 2012, motivou o grupo de artesãs a ampliar os vínculos com a UNEB, através da articulação, reflexão e diálogo para o desenvolvimento de empreendimentos populares solidários no TBC Cabula, possibilitando à universidade contribuir no âmbito social como unidade de apoio, com ações que a sociedade demanda.

O Coletivo Arte e Cultura do Cabula (Cultarte), constituído majoritariamente por artesãs moradoras dos referidos bairros, vem participando de Feiras, conquistando espaço dentro da UNEB - Campus I, através da divulgação de suas produções, e tem sido estudado em âmbito de mestrado e doutorado, transformando-se em estudo de caso relevante de economia criativa e solidária.

O Cultarte passou a ser assessorado por técnicos da ITCP/COAPPES, professores do curso de Design da UNEB e pelas equipes do SSEETU e do TBC Cabula, de modo que esta rede de cooperação vai se ampliando em prol do Turismo de Base Comunitária (TBC), Economia Solidária e Desenvolvimento Local através deste Coletivo.

O projeto Turismo de Base Comunitária do Cabula vem realizando a construção de atividades econômicas, culturais, estéticas, de desenvolvimento da autoestima, que têm crescido também como proposta científico-acadêmica aplicada, reconhecida e com resultados ímpares, mas também, e principalmente, por envolver a comunidade de forma crescente, fazendo-a sentir-se autora do processo e do aproveitamento de seu potencial criativo e humano, através de uma atividade dignificante e plena de produção de sentido.

Outras experiências foram realizadas a partir da criação do Portal TBC Cabula, como o Museu Virtual do Quilombo Cabula, a Rádio Web Juventude e o site do ETBCES. O Portal tem por finalidade dar visibilidade aos saberes e fazeres das comunidades dos 17 bairros (PORTAL TBC, 2018). Quanto ao Museu do Cabula, é resultado de uma tese e é acessado virtualmente. A Rádio funciona dentro de um colégio estadual, com gestão compartilhada por estudantes, gestores e professores. E no site do ETBCES encontra-se o registro de textos e imagens das sete versões deste evento.

O contínuo desenvolvimento dos eventos e das visitações tem aperfeiçoado roteiros e abordagens de realização do turismo de base comunitária como prática social do bairro, possibilitando a construção concreta de uma alternativa para solução produtiva da vida de seres humanos nas comunidades.

Conclusões

Para reflexão final, cabe destacar o lugar da cultura, da experiência e dos saberes locais como referências para a construção de novas matrizes conceituais de formação em desenvolvimento local, como a cidadania ativa, a autogestão, o cooperativismo, a economia verde, ressaltando que as metodologias participativas utilizadas nas três pesquisas, embora em diferentes contextos, podem apoiar a formação de redes de pesquisa voltadas para o desenvolvimento local em diálogo com as universidades e os centros profissionais.

Promover o diálogo e escutar o território, as suas organizações, os cidadãos e no caminho trilhar na construção de um novo mundo, por mais que esse seja o mais utópico possível. A construção de modelos participativos para o desenvolvimento local poderá disseminar novas ações sociais e de valores que transcendam o mero consumismo e a destruição da vida social e do planeta. A educação para o desenvolvimento local é uma temática ainda importante em nossas instituições públicas e precisa ter seu destaque e a participação de outras instituições e organizações sociais.

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Recebido: 30 de Abril de 2018; Aceito: 06 de Julho de 2018

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