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Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade

versión impresa ISSN 0104-7043versión On-line ISSN 2358-0194

Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade vol.28 no.54 Salvador ene./abr 2019  Epub 10-Jul-2019

https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2019.v28.n54.p9-11 

Apresentação

APRESENTAÇÃO: Revista Faeeba v28n54 2019

Raphael Vieira Filho* 

*Doutor em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é do Conselho de Consultores da Revista Espaço Acadêmico e da Revista Urutágua. É professor adjunto da Universidade do Estado da Bahia, onde atua na graduação no Departamento de Educação Campus


Pós-modernidade é um termo polissêmico e que ainda provoca muitas discussões acadêmicas sobre seus marcos temporais e teóricos. Suas ligações e posições políticas, os temas suscitados, as utilizações provocadas por essa polissemia e a falta de precisão temporal provocam a inclusão e exclusão de autores e pensadores nas coleções e coletâneas organizadas desde a década de 1930. A primeira utilização do termo pós-modernismo, no mundo acadêmico, foi de fala hispânica e tinha a estética como foco.

No final da década de 1950, o termo pós-moderno começa a ganhar corpo como um período histórico global. Visões pessimistas e otimistas sobre o pós-moderno se debatem, mas principalmente sobre o marco inicial desta nova era.

Conforme Jameson (1996), o principal argumento que perpassa todos os escritos para embasar a argumentação dessa nova baliza é a crise do capitalismo e as análises de uma nova organização de produção dentro das explicações no campo marxista. Nos argumentos dos acadêmicos em geral existia uma crença na exaustão dos paradigmas epistemológicos e do modelo de racionalidade das ciências (SANTOS, 2008), desanimação com as formas de organização das sociedades naquele momento - nem o capitalismo, nem o socialismo se mostravam capazes de satisfazer os anseios sociais de liberdade, beleza e ordem -, instabilidade nas instituições e uma crise das explicações sistêmicas provocada pelas reivindicações de participação nos espaços decisórios e de poder de grupos sociais antes sem voz (FORTES, 2014).

As polêmicas provocadas pelos vários revisionismos, as discussões sobre cânones e currículos agitaram o mundo intelectual. Na base da polêmica está, ainda, o próprio questionamento sobre a superação da modernidade, que, para alguns autores, ainda não se fixou: ao contrário, estaríamos vivendo uma transição para a pós-modernidade, misturados às incertezas institucionais, à crise do conceito de razão.

Reivindicações dos movimentos sociais e as discussões das teorias críticas e neomarxismos ajudaram e subsidiaram a entrada de novos temas, visões e personagens nas pesquisas, desde as décadas de 1950/60, provocando uma série de debates e o surgimento de movimentos intelectuais intitulados de pós-modernismo, englobando várias correntes, às vezes excludentes entre si, como: pós-estruturalismo, multiculturalismo, pós-colonialismo, descolonização, decolonialismo, feminismos/estudos de gênero.

No Brasil, esse movimento de inclusão de novos personagens e novos temas nas Ciências Humanas só será notado na Academia na década de 1970, conforme Sader (1988). As reivindicações de abertura política, movimento das Diretas, anistia plena e irrestrita, movimento de mulheres, movimentos negros, movimentos LGBT, movimento de indígenas, entre outros, trouxeram, no seu bojo, os protestos e os clamores de diversos segmentos populacionais, que se destacaram como protagonistas de suas próprias falas. Permeados pelas discussões de inclusão e dos movimentos questionadores da educação eurocêntrica, e muitas vezes militantes desses movimentos, novos pesquisadores trazem problemas não tocados pela Academia até então. Os artigos que compõem este dossiê trabalham com essa perspectiva: um profícuo autor marxista analisando a contemporaneidade; crianças Guarani no norte do Paraná; educação das relações étnico-raciais em um município do interior baiano; raça e gênero na Educação e Jovens e Adultos; manifestações culturais negras. Não são temas comumente explorados e fazem parte das possibilidades abertas pela pós-modernidade.

O que está ao lado dessas discussões, e que interessa ao campo da Educação, é responder: que saberes devem ser valorizados nos currículos diante do desafio das novas tendências? Quantos passagens são possíveis entre a escola e a sociedade? O que e como incluir neste contexto social em transformação?

A seção temática é composta de seis artigos. O primeiro, Educación, arte y cultura política em la posmodernidad, de autoria de Hamlet Fernández Días, traz uma reflexão teórica sobre as possibilidades de desenvolvimento de uma arte-educação com base na estética do mapeamento cognitivo. Examina um tipo de educação por meio da arte que contribui para a formação de cultura política na condição histórica da pós-modernidade.

O segundo artigo, Recontextualização da política curricular para a educação das relações étnico-raciais, de Etelvina de Queiroz Santos e Núbia Regina Moreira, busca compreender como se organizam as políticas curriculares para a educação das relações étnico-raciais para o Ensino Médio, Técnico e Tecnológico de um Instituto Federal Baiano. Toma como foco a recontextualização da educação para as relações étnico-raciais na prática das professoras de Arte, Língua Portuguesa e História da instituição pesquisada.

O terceiro, A interseccionalidade de gênero, raça e classe em livros didáticos de EJA, de Márcia Alves da Silva e Renata Kabke Pinheiro, analisa alguns livros pertencentes a uma coleção voltada à educação de jovens e adultos nos anos finais do Ensino Fundamental, objetivando problematizar as representações de gênero que os livros didáticos carregam, compreendendo gênero na sua interseccionalidade com raça e classe social.

Crianças indígenas Guarani Nhandewa no norte do Paraná: aprendizagens culturais e escolares, de Marcella Hauanna Cassulla e Rosangela Celia Faustino de Faustino, é o quarto artigo do dossiê temático. As autoras discutem elementos da educação da criança Guarani Nhandewa e de que maneira os professores Nhandewa, com apoio de suas comunidades, têm buscado articular os conhecimentos escolares aos conhecimentos ancestrais, no espaço escolar e nos eventos culturais nas aldeias, configurados como momentos de significativas aprendizagens para as crianças Guarani.

O penúltimo artigo, Políticas para educação infantil e a Agenda E2030 no Brasil, de Jani Alves da Silva Moreira, analisa as atuais políticas preconizadas para a educação infantil no Brasil, no período 2015 a 2017, apresentando resultados da análise de documentos internacionais para o contexto latino-americano, precisamente a partir da Agenda de Desenvolvimento Sustentável Pós-2015.

O sexto e último artigo, intitulado Desfiles, rainhas e dança: manifestações negras como espaço de reivindicações e afirmação, de Raphael Rodrigues Vieira Filho, trata de informações históricas sobre manifestações populares, em particular manifestações culturais negras, vistas como espaço de crítica social, reivindicação e afirmação negra. Percebe nas reivindicações indicadores de um confronto com as autoridades e elites ao longo do tempo, além da construção e fortalecimento de ser negro.

A seção Artigos é composta de quatro textos, sendo o primeiro Educação e dever de memória: as possibilidades de emancipação na sociedade de mercado, de Pedro Savi Neto, que analisa consequências do direcionamento cada vez mais explícito e intenso da educação para o atendimento de interesses econômicos, a partir do ferramental teórico da Teoria Crítica da Sociedade, em especial do Novo Imperativo Categórico de Adorno.

O artigo de Ana Chrystina Mignot e Raquel Lopes Pires, intitulado Entre ‘verdadeiros apóstolos’: uma educadora brasileira no Congrès International d’Education Nouvelle (Locarno - 1927), fala das várias motivações e repercussões da experiência de viagens. Toma como elemento da análise a viagem de uma educadora católica à Suíça e seu relato, tomado pelas autoras como instrumento para a interpretação sobre a importância de sua participação no diálogo que se instituía entre educadores brasileiros e estrangeiros à época, desdobrando-se em novas viagens e trocas sobre os modelos pedagógicos.

O penúltimo texto é intitulado Entre significar e decifrar a escrita: a alfabetização de Ivo, de Ana Maria Esteves Bortolanza e Renata Teixeira Junqueira Freire, no qual as autoras analisam gestos da escrita de uma criança de seis anos que frequenta o primeiro ano do Ensino Fundamental, período inicial de sua alfabetização, evidenciando o paradoxo entre significar a escrita na vida e decifrar o código alfabético na escola.

O ensino de matemática na educação profissional técnica: uma análise curricular, de Harryson Júnio Lessa Gonçalves, Ana Lúcia Braz Dias e Deise Aparecida Peralta é o último artigo dessa seção e apresenta dados de uma pesquisa qualitativa sobre necessidades, dificuldades e estratégias didáticas apresentadas por professores brasileiros sobre a Matemática em cursos técnicos da área de indústria de uma escola pública do Brasil.

Esperamos que os textos favoreçam os debates e sejam inspiradores para novas pesquisas.

Salvador, abril de 2019

Raphael Vieira Filho

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