É com grande satisfação que apresentamos o dossiê Educação Básica: Processos de Formação Docente, neste número 57 da Revista da FAEEBA, Educação e Contemporaneidade. Trata-se de um dossiê que expressa pesquisas de duas redes de pesquisa, aproximando estudos de diferentes regiões brasileiras. Os autores e autoras, pesquisadores no campo da formação de professores, engajam-se na Rede Interinstitucional de Pesquisadores em Formação e Prática Docente (RIPEFOR) e na Rede de Formação Docente: Narrativas e Experiências (Rede Formad), redes que vêm se consolidando como espaços de discussões ampliadas no campo da formação e prática docente. A essas redes se somam pesquisadores que contribuem com artigos que ampliam e aprofundam a discussão em torno dos processos de formação de professores da educação básica. A finalidade é cooperar com as propostas para a melhoria da formação docente, refletindo na atuação desses professores na educação básica.

Os artigos expressam pesquisas sobre a formação de professores que atuam nas escolas da educação básica no contexto nacional e internacional, em diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. As pesquisas sobre formação e práticas de docentes requerem contínuo debate e proposição de ações que possam atender às demandas institucionais e de desenvolvimento profissional docente. O contexto atual requer um fortalecimento das instâncias de organização no campo da pesquisa inseridas no cenário das políticas públicas de formação.

Desse modo, os artigos estão organizados considerando pesquisas que se articulam com esse compromisso. Considera-se, ainda, que o dossiê poderá apoiar novos estudos de pesquisadores da área de Educação e, sobretudo, subsidiar o trabalho de formadores de professores de Educação Básica, os quais serão nossos interlocutores.

Bernardete Gatti abre este dossiê problematizando o conceito e o lugar das práticas educacionais, na formação de professores para a educação básica. O trabalho, intitulado Perspectivas da Formação de Professores para o Magistério na Educação Básica: a relação teoria e prática e o lugar das práticas, apresenta resultado de pesquisa que indica que as iniciativas de formação que investem na prática como elemento formativo ainda são tímidas. A prática como elemento formativo substancial ainda se apresenta timidamente, tanto na formação inicial, quanto na formação continuada dos professores da educação básica.

O artigo intitulado Concepções Docentes quanto aos Processos de Formação de Professores: um estudo exploratório, de Ana Paula de Andrade Janz Elias, Beatriz Maria Zoppo e Claudino Gilz, apresenta uma pesquisa exploratória. No texto são discutidas as concepções de docentes da rede municipal de ensino de Curitiba, em relação aos processos de suas formações. A vivência profissional e suas compreensões sobre a carreira profissional docente são problematizadas pelas autoras no estudo.

Os mestrados profissionais em rede são discutidos no texto escrito por Marli André e Cecília Rosa Lacerda. O artigo expressa resultados de uma pesquisa cujo objetivo é analisar as contribuições e desafios dos Mestrados Profissionais em Rede no que se refere à formação docente, considerando o olhar dos coordenadores dos cursos. Os resultados desta investigação indicam que o mestrado profissional se apresenta como um desafio que se exprime como importante dispositivo para a melhoria da formação e aprendizagem docente no campo educacional brasileiro.

Aprendizagem da Docência para a Educação Básica em Comunidades de Prática é o título do trabalho apresentado por Joana Paulin Romanowski, Soraia Carise Prates e Pura Lucia Oliver Martins. O artigo aborda a formação de professores para a educação básica em comunidades de prática, com o objetivo de examinar as contribuições dessas comunidades realizadas em estágio não obrigatório para o aprendizado da docência. Os resultados indicam que a comunidade de prática favorece o aprendizado da docência quanto à organização do ensino e da aprendizagem, identificação de dificuldades de aprendizagem e investigação de procedimentos de atuação no processo de ensino, bem como contribui na constituição da identidade docente.

A formação continuada de professores da educação básica na Rede Municipal de Ensino de Curitiba é discutida no artigo de Simone Regina Manosso Cartaxo, Marilia Marques Mira e Rosangela Gasparim. O artigo tem por objetivo caracterizar os diferentes movimentos formativos desenvolvidos na rede da capital paranaense, com o intuito de compreender os processos de organização coletiva que são empreendidos pelos e com os professores do ensino fundamental. As análises pautam-se nas práticas dos próprios professores da rede, produzidas no contexto de trabalho da escola.

A relação teoria e prática é problematizada no artigo intitulado Formação Continuada e Pesquisa na Escola: a prática docente em foco. O texto expressa resultados de uma pesquisa realizada por Rita Buzzi Rausch e Luciane Maria Schlindwein com um grupo de professoras da rede municipal de Blumenau, no estado de Santa Catarina. A Psicologia Histórico-cultural norteou o estudo que buscou capturar o movimento de transformação e tomada de consciência das professoras envolvidas, empreendendo-se estudo e análise cooperativa com as professoras da rede envolvidas efetivamente na investigação.

O perfil socioprofissional de docentes que atuam no Ensino Fundamental é objeto do estudo realizado por Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios, Fabrício Oliveira da Silva e Ana Lúcia Gomes da Silva. A formação inicial e continuada é investigada sob o prisma de suas interfaces com a diversidade. Professores de dois municípios baianos participam deste estudo. As análises indicam o investimento feito pelos professores na formação continuada e a relevância da temática “diversidade” na formação docente.

Os programas oficiais para a formação de professores para a educação básica são tematizados no estudo realizado por Marielda Ferreira Pryjma e Jamile Cristina Ajub Bridi. As reflexões sobre a formação de professores são o tema do artigo, com o intuito de investigar o processo formativo realizado no interior de uma instituição pública de educação superior. As autoras problematizam como as políticas se consolidaram nos bastidores institucionais e se transformaram em ações concretas na instituição.

O artigo intitulado O Estágio Curricular Supervisionado na Educação Infantil para a Formação Inicial do Professor discute a complexidade do estágio supervisionado e seu papel formativo para o exercício da docência. As autoras Susana Soares Tozetto, Melissa Rodrigues da Silva e Dayana Oliveira analisam os relatórios finais da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Docência na Educação Infantil, realizado pelas acadêmicas do terceiro ano do curso de Pedagogia, analisando este espaço formativo e reflexivo, fundamental para a prática pedagógica.

Roseli de Fátima Rech Pilonetto e Marta Nörnberg apresentam resultados de uma pesquisa que busca investigar a compreensão sobre o cuidado e a educação produzidas por acadêmicas estagiárias do curso de Pedagogia, a partir dos registros das próprias estudantes. O estudo indica uma ampliação do sentido da docência e das práticas com bebês e crianças bem pequenas, favorecidas pela articulação entre elementos práticos e teóricos construídos ao longo da formação, que são potencializados no contexto da prática docente.

Giovana Maria Belém Falcão e Isabel Maria Sabino de Farias escrevem o artigo Identidade e Formação Docente: metamorfoses de uma guerreira. O trabalho tem por objetivo compreender o processo de constituição identitária de uma professora da Educação Básica na relação com a sua formação continuada. Trata-se de um pensar sobre a constituição da identidade docente em seu processo histórico, social e cultural. O estudo aponta para a importância do olhar para as histórias singulares, respeitando as particularidades e a universalidade.

O artigo de Joelson de Sousa Morais e Inês Ferreira de Souza Bragança expressa uma pesquisa qualitativa que prima pelo recurso metodológico das histórias de vida, do diário de pesquisa e das observações, realizados com três professoras iniciantes que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental em uma escola pública de Caxias, no estado do Maranhão. O estudo investiga as implicações das histórias de vida na constituição da docência de professoras em início de carreira.

O artigo Conversa, Partilha e Formação Docente: o Fórum de Alfabetização, Leitura e Escrita (FALE) problematiza o processo de alfabetização de crianças a partir de narrativas de docentes alfabetizadores. Os autores Tiago Ribeiro e Carmen Sanches Sampaio objetivam discutir o pensar sobre a formação na perspectiva da relação, tomando a partilha de experiência e a conversa como possibilidades transformativas do professor. Os autores defendem o espaço formativo como lugar de encontro, descoberta, estranhamento e transformação.

Cyntia Simioni Franca, Nara Rubia Carvalho Cunha e Guilherme do Val Toledo Prado apresentam duas pesquisas desenvolvidas em nível de doutorado, tematizando a relação entre a produção de conhecimentos histórico-educacionais e experiências vividas, que se desdobraram em pesquisas-ação de formação continuada, compostas por professores de Educação Básica lotados em escolas públicas das cidades de Londrina (PR) e Ouro Preto (MG). Os autores investem em uma metodologia composta por movimentos reflexivos dinamizados por rememoração coletiva, produção e partilha de narrativas de cunho biográfico e intersubjetivo.

O número da revista conta, ainda, com três artigos, na seção Estudos: Epistemologias da Gamificação na Educação: teorias de aprendizagem em evidência, de Josefa Kelly Cavalcante de Oliveira e Fernando Silvio Cavalcante Pimentel; Avaliação em Larga Escala e seus Efeitos na Gestão Escolar: a concepção dos diretores, de Nonato Assis de Miranda, Paulo Sérgio Garcia e Estéfano Vizconde Veraszto; e Multiplicar Escolas e estar na Cultura: algumas considerações sobre a escola dos Tupinambá de Olivença/BA, de José Valdir Jesus de Santana e Clarice Cohn.

Desejamos a todos e todas uma boa leitura!

Março de 2020