Neste momento comemorativo dos trinta anos de atuação na área da Educação, a Revista da FAEEBA - Educação e Contemporaneidade publica mais um dossiê comprometido com temáticas atuais e relevantes para a Educação no Brasil. A Revista vem desenhando sua história e, com ela, documentando processos, produções e modos de (re)existências de povos que ganham contornos em suas páginas com os diferentes estudos divulgados.

Desde a promulgação da nova Constituição de 1988, assistimos à luta incessante dos movimentos indigenistas, de organizações ligadas aos povos indígenas e de certos setores da sociedade civil em prol da garantia, aos povos originários, do direito à terra e à preservação de sua cultura. Mais de trinta anos depois, assistimos a outros desafios, como enfrentamento do racismo, do preconceito, da falta de acesso à saúde e aos serviços públicos. Além disso, são muitos os dados que apontam e denunciam o aumento do número de invasões às terras indígenas a partir de 2019.

Ao lado da comemoração histórica pelos 200 anos da Independência (1822-2022), nos esmurece o fato de ver que a luta dos povos indígenas perpassa 522 anos. Atualmente, no Brasil, esta luta parece ser a luta para poder viver. Índios têm sido afetados por um governo conservador que aprova leis que desestabilizam seus direitos, abrindo espaço para o avanço do agronegócio e para o garimpo ilegal, devastando florestas e promovendo conflitos, mortes e disseminação de doenças.

No caso específico deste Dossiê, cuja temática trata da Educação, Etnogênese Indígena e Interculturaridade, registramos pesquisas e experiências com/sobre os povos indígenas que nos mobilizam a pensar o momento atual de lutas e mortes dos povos originários que vêm, constantemente, acontecendo no Brasil e na América Latina. Os autores assumem uma posição crítica e de denúncia em relação às discussões que tratam de populações historicamente vulnerabilizadas pela violência colonial no que se refere à garantia e reafirmação dos seus direitos. Os textos revelam realidades que se vinculam às pautas da Educação na Contemporaneidade a partir de viradas político-epistemológicas que se fazem urgentes no processo de (re/des)construção dos conhecimentos.

No início do trabalho de produção deste volume, em junho de 2022, assistimos, consternados, ao triste episódio do sumiço do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. A notícia do assassinato de ambos, no Vale do Javari, no Amazonas, dias depois, não causou apenas tristeza. Causa-nos indignação. Desejamos que o campo da Educação mantenha firme seu comprometimento com a divulgação de toda e qualquer informação que atente contra os modos de vida dos povos originários e daqueles que se aliam e dedicam suas vidas à luta pela Democracia. E, nesse movimento, dedicamos esta edicão a todos os indígenas e aos movimentos de lutas indigenistas em favor de outras epistemologias, cosmologias e outras formas de viver e (re)existir.

Uma boa leitura!

Agosto de 2022.