SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.31 issue67TOWARDS AN ETHNOGRAPHIC IMAGINATION IN EDUCATION author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Share


Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade

Print version ISSN 0104-7043On-line version ISSN 2358-0194

Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade vol.31 no.67 Salvador July/Sept 2022  Epub Jan 13, 2023

https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2022.v31.n67.p413-419 

Entrevista

ENTREVISTA COM JACQUES JULLES SONNEVILLE: REVISTA DA FAEEBA - 30 ANOS

Lívia Fialho Costa

Jacques Julles Sonneville


LÍVIA: Professor Jacques, o senhor fundou a Revista da FAEEBA em 1992. São 30 anos este ano.

JACQUES: Que beleza! Mas é uma coisa fantástica, uma qualidade incomparável, na minha opinião, a Revista de 1992 é uma, a de 2022 é outra. Embora seja a mesma.

LÍVIA: E o senhor permaneceu quantos anos como Editor Geral? Dezoito anos na Revista?

JACQUES: É, 18 anos. É, fiquei até 2010, foi.

LÍVIA: 1992...

JACQUES: É, até 2010, mais ou menos, que eu permaneço como Editor.

LÍVIA: Muito bom, muito bom.

JACQUES: Porque às vezes não conto todo o período. Eu me aposentei, mas depois ainda fiquei muito tempo na Universidade do Estado da Bahia em função da Revista; me aposentei, continuei dando aula também, mas o principal foi realmente cuidar da revista.

LÍVIA: Cuidar da Revista... E, inicialmente, como foi que o senhor teve essa ideia de criar uma revista? Porque a Revista nasce com o senhor, com a proposta do senhor, não foi assim?

JACQUES: Certo. Mas é... alguém da Faculdade de Educação - FAEEBA, na época, disse que a gente poderia fazer uma revista, então eu topei logo, certo? Porque achei muito interessante. Então graças à então diretora conseguimos levar adiante a Revista. Era diferente no início, muitas vezes eu mesmo levava a Revista para imprimir, porque tudo era começo, não tinha revista na UNEB. A impressão da Revista, em papel, dava muito trabalho, mas a gente teve sempre a colaboração de muitas pessoas o tempo inteiro.

LÍVIA: Sim.

JACQUES: No começo era tudo manual [risos]. Eu levava para a gráfica para imprimir, digitar. No começo mesmo foi coisa assim, algo de formiga, sem segredo nenhum a gente foi e o que tinha que fazer, fazia e pronto.

LÍVIA: O senhor lembra do primeiro número qual foi?

JACQUES: Foi sobre a Universidade, alguma coisa assim. E fazer a Revista era algo trabalhoso, mas sem segredo. Tinha de fazer com o que a gente tinha. Antes era tudo impresso, começamos assim. Depois virou impresso e na Internet (online). E agora sai na internet só, né?

LÍVIA: Agora é só online.

JACQUES: É, online. Porque no fundo ninguém quer mais ter um livro, só quer acessar no computador. Eu prefiro na Internet, porque quando está apenas impresso, para poder copiar para citar alguma coisa, fica mais complicado. Na Internet é muito mais fácil para acessar, se quiser copiar é mais fácil.

LÍVIA: Sim, sim.

JACQUES: Não preciso “xerocopiar” nada. É só copiar e colar.

LÍVIA: O senhor olha, visita o site da Revista na internet, online? Claro, né? [risos]

JACQUES: Sempre [risos]. Acho interessante o online. Mas é uma coisa assim que... ter uma revista na internet viabiliza muito a produção de uma boa parte dos autores, pois uma revista recebe artigos de muitas regiões do país. Os autores nunca se encontram, uma boa parte dos autores se comunicam com os editores apenas online, via internet. Eles sabem que podem publicar sobre tal assunto e aí mandam a cópia do artigo, tudo via internet.

LÍVIA: E a Revista da FAEEBA, ela sempre foi temática, né?

JACQUES: Sim. É uma forma fantástica, né? Uma revista que se concentra em um número em torno de um assunto. Então acho isso uma coisa completa. É uma riqueza, viu?, para a universidade... assim, ser uma revista temática. LÍVIA: E...

JACQUES: Foi bem aceita no Brasil todo, todo mundo fica de boca aberta.

LÍVIA: Como era a Revista logo no início, professor Jacques, em termos de estrutura, de sala, como era a infraestrutura no início?

JACQUES: A estrutura é de... tinha uma salinha lá na FAEEBA, na UNEB, e pronto. E tinha as pessoas que visitavam, que no começo visitavam tudo. Brincadeira, parece, mas era assim: autores vinham até a revista, era o pessoal que mandava um texto e vinha saber se iam ser publicado ou não. As correções também muitas vezes eram pessoalmente. Tinha que acertar o texto, digitar e pronto, e publicar.

LÍVIA: O senhor diagramava, corrigia?

JACQUES: Ah, sim, tudo. Eu levava assim o... como chama? Levava a versão completa de um dossiê ... na empresa...

LÍVIA: Na empresa gráfica.

JACQUES: Sim!! A gente fazia já impresso um modelo digitado, mostrando a obra, para eles terem um exemplo. Levávamos já com a formatação, tudo certinho para eles não fazerem besteira e... a gente fazia tudo assim, na mão, e não tem nada de segredo, é tudo bem simples.

LÍVIA: E como era? O senhor trabalhava junto com uma outra editora ou no início era o senhor sozinho?

JACQUES: No início era a própria gráfica da UNEB. Lá eles fizeram tudo assim, então eles levavam e traziam uma versão impressa final, o texto, mas ainda não era aquela coisa já formatada, com a capa. Era a versão pra correção, feita numa gráfica. Imprimiam e aí a gente verificava, tudo assim bem manual. Esta versão primeira da gráfica era praticamente a final, só faltava a gente ler.

LÍVIA: E a professora Yara Dulce Ataíde, trabalhou junto com o senhor na Editoria Científica. Foi, também, a primeira editora junto com o senhor...

JACQUES: Na fundação da Revista. É, ela é uma pessoa assim, que dava, assim, uma espécie de apoio, de presença importante. Apoiava mesmo. Sim, e ela divulgava muito a Revista.

LÍVIA: Como era a divulgação da Revista no começo?

JACQUES: Tudo muito artesanal. A colega Nádia Fialho, acho que ela era diretora na época, ela divulgava. Algumas professoras, quando viajavam para congressos, aproveitavam para fazer a divulgação. Os congressos eram muito importantes como esse lugar para divulgar a Revista para outros colegas e outros estados. Posteriormente, teve um site, né? Aí a divulgação ficou mais rápida. No início a gente publicava um dossiê temático e divulgava junto como as outras revistas. Eu diria que era tudo manual, artesanal, “muito primitivo”.

LÍVIA: E a UNEB apoiava financeiramente?

JACQUES: Sim. Sim, porque muitas pessoas trabalhavam no apoio à Revista da FAEEBA. E trabalhavam em função da Revista. Tinha até pessoas que praticamente trabalhavam só na digitação dos artigos e de todas as coisas relacionadas à Revista.

LÍVIA: Certo. Digitador, diagramador...

JACQUES: Nesse sentido a UNEB sempre apoiou.

LÍVIA: Sempre apoiou.

JACQUES: Sim, a faculdade, o departamento, a diretora. Dava-se apoio para os funcionários, salas para apoiar a produção da Revista. Depois até se conseguiu no Governo do Estado, acho que a Secretaria de Educação deu apoio. Apoio nunca faltou.

LÍVIA: Apoio sempre teve.

JACQUES: Eu levava os textos muitas vezes para os próprios avaliadores, pareceristas, para as pessoas do Conselho Editorial para ler e dar um parecer. Corrigir, primeiro avaliar depois corrigir, tudo bem primitivo. O principal trabalho é esse.

LÍVIA: Sim, sim. O principal é isso, né? Naqueles 18 anos de gestão da Revista, o senhor percebeu alguma mudança na Revista, algum desafio, algum momento em que foi mais difícil manter a Revista?

JACQUES: Teve uma espécie de crise quando, por exemplo, é... como que foi assim? Foi um momento difícil, como uma espécie de situação em que ninguém na Universidade queria mais pagar nada. Não lembro, porque era uma espécie de confronto de várias pessoas, de tensão entre colegas. Então teve uma espécie de paralisação das atividades. De repente não tinha mais financiamento, dinheiro para pagar as pessoas. Mas isso deu pra contornar, porque era crise entre pessoas. Mas nós tínhamos o apoio da Faculdade, da direção, havia valorização da revista como fruto de um trabalho da Universidade, para a Universidade, então isso foi decisivo para continuar a revista.

LÍVIA: Apoio financeiro decisivo.

JACQUES: Sim, financeiro. Apoio financeiro para as pessoas que estavam ligadas à produção da Revista... diagramação, gráfica. E o espaço e as pessoas que trabalhavam para a Revista se mantiveram.

LÍVIA: O apoio acadêmico era bom? Os professores do departamento se mostravam disponíveis para avaliar artigos, serem pareceristas?

JACQUES: Sempre. Durante algum tempo meu trabalho era a Revista só, não precisava dar aula em muitas disciplinas, eu ficava disponível também para outras formas de trabalho etc. Então, tinha uma matéria, aulas, um grupo de pesquisa e pronto. Praticamente era mais trabalho com a Revista, para estruturar e garantir a existência da Revista. A maior parte das coisas eu também fazia em casa, no computador, revisando o conteúdo dos artigos. Eu digitava tudo e levava para os rapazes passarem para o papel vegetal para impressão. Então, nesse sentido, a universidade sempre me liberou e apoiou sempre as pessoas, e isso foi fundamental para diversificar e crescer. Eu percebia que no fundo todos os colegas queriam escrever naquela época, todo mundo já queria publicar. No começo era difícil.

LÍVIA: Qual foi o dossiê que o senhor mais gostou de editar, o senhor lembra? Algum de preferência, algum número que o senhor tenha gostado muito de alguma temática?

JACQUES: Acho que sobre Formação de Professores. Teve também um outro dossiê sobre Trabalho Comunitário - tanto no meio rural, como no estado moderno. É, dá um bocado de trabalho, mas é um prazer muito grande poder ver, assim, o interesse de muitas pessoas. Isto é de se comemorar, lembrar do interesse de muita gente pela Revista. Sempre uma equipe boa. Como editor, eu cansei de andar nas ruas para entregar os textos impressos porque não dava pra enviar pela internet, dava apenas para digitar e diagramar no computador, mas em 1992 o acesso à internet não era tão comum a todos. Os pareceristas também preferiam o texto para ler no papel, para...

LÍVIA: Para corrigir no papel, redigitar.

JACQUES: Tudo bem rudimentar, mas com eficiência. [risos]

LÍVIA: Como era a divulgação da Revista, em linhas gerais?

JACQUES: Em algum momento passou a ser pela internet, mas no comecinho se mandava sempre a Revista por correio para todas as faculdades e setores de Educação do Estado e até de outros estados. Mandávamos até para o exterior pelo correio, Portugal e Espanha recebiam sempre. A gente recebia muitos textos também de fora.

LÍVIA: Recebiam também textos de fora?

JACQUES: Ah, sim, em outras línguas, espanhol, sobretudo.

LÍVIA: Quem traduzia era o senhor?

JACQUES: Não. Tinha os especialistas que traduziam. Porque na Revista tinha muita colaboração, na base da colaboração mesmo, sem pagar mesmo, de boa vontade. E eu digo sempre que o trabalho na Revista não tinha muito segredo. O segredo era trabalhar e cuidar e prestigiar os outros, o trabalho dos outros. Eu digo os donos verdadeiros da Revista são os autores, que dão qualidade, temos que sempre prestigiar, elogiar e fazer tudo que é possível para valorizar os autores. Porque, por um lado, publicar um artigo numa revista é um prestígio para o autor, para qualquer pessoa; por outro, o editor deve reconhecer o mérito do autor ter um artigo aprovado e poder publicar em uma revista. Então tem que prestigiar, é um valor muito grande. Como profissional, poder publicar um artigo em uma revista hoje em dia é um mérito.

LÍVIA: Os critérios mudaram muito em 30 anos. Então, foi na UNEB que o senhor se construiu editor?

JACQUES: É.

LÍVIA: Professor e editor.

JACQUES: Alguém tem que fazer, nada acontece se ninguém fizer. Eu andei a Bahia toda me metendo em pirambeiras etc., não sei aonde, que nunca tinha ido antes, em bairros que eu não conhecia para poder entregar o texto para corrigir e encontrar os autores. [risos]

LÍVIA: Os colegas/autores valorizavam as publicações?

JACQUES: Claro! Era uma honra, era um mérito.

LÍVIA: A Revista da FAEEBA nasce antes do programa de pós-graduação, porque o programa de pós-graduação nasce em 2002, e a Revista da FAEEBA começa 10 anos antes.

Jacque: É, realmente. Porque começa mesmo a Revista da FAEEBA na Faculdade, num setor específico. Era, portanto, uma produção local, nunca foi pensada em termos nacionais, é uma coisa então que os envolvidos pensavam com muito empenho, mas era uma espécie de revista local mesmo. Muitas vezes eu penso que o mérito da Revista da FAEEBA foi ela por si só, os editores e envolvidos valorizaram a produção. Então o cuidado que todo mundo teve para fazer uma coisa de primeira linha, não é alguém que pensou, projetou e perseguiu. Foi algo que foi acontecendo, como por si próprio foi crescendo.

LÍVIA: E o senhor como editor, o senhor se sentia valorizado na UNEB?

JACQUES: Sim, claro. Ajudar a publicar uma coisa com valor é uma coisa fantástica, a própria revista que se valoriza.

LÍVIA: Qual relação o senhor faz entre a Revista e o surgimento do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade?

JACQUES: Eu acho que há muita relação, sim. Os colegas, à época, muitos, cada vez mais, as pessoas se interessavam em publicar suas pesquisas, se fazer visualizar. Então, quando surge a pós-graduação, ela vira justamente uma espécie de suporte da Revista: a Revista se torna uma espécie de instrumento para se publicar e se valorizar a produção dos colegas. Não é que a gente vai fazer uma pós-graduação em função de uma revista, mas ali é uma espécie de sustentação à produção, um suporte que veicula o trabalho dos pesquisadores da pós-graduação.

LÍVIA: A Revista da FAEEBA também ajudou muito a expandir o número de publicações dos próprios professores que vieram a compor a pós-graduação.

JACQUES: É, porque realmente é uma espécie de cartão de visita: por exemplo, os professores olhavam e pensavam o quão era importante ter o artigo ali publicado, porque não era fácil, não tinha espaço pra todo mundo. Muitos textos, a maioria, era externo à UNEB. Você já tem alguma coisa publicada?

LÍVIA: Na Revista da FAEEBA, tenho. Antes de ser editora científica, eu coordenei um dossiê na Revista da FAEEBA, o dossiê 35, “Educação e religiões”. Foi uma coordenação dividida com uma colega do PPGEduc, professora Sueli Mota. Realmente muito importante. Naquela época a editora científica era Liège Sitja.

JACQUES: O tema das Religiões... ah que beleza! Que ano?

LÍVIA: Foi o número 35 da Revista, em 2011. Eu ainda não era editora. Fui eleita como editora científica em 2014, para uma gestão pro tempore. [risos] E lá se vão 8 anos de função. Coordenei também um dossiê mais recente, em 2019, “Educação e Antropologia: questões de método e Epistemologia”.

JACQUES: Poxa, que bom, hein? Como foi escolhido o tema?

LÍVIA: Então, essas temáticas, hoje, elas são definidas da seguinte forma: a gente abre o edital público para o Brasil e para o exterior. Nós recebemos propostas durante um prazo estabelecido no edital. Das propostas aprovadas pelo Conselho Editorial, escolhemos a sequência dos dossiês. Como a revista é trimestral agora, nós classificamos quatro propostas por ano. Há um rigor e, portanto, uma série de critérios que servem para classificar, separar, julgar as propostas. Então os critérios normalmente estão relacionados à relevância das temáticas atualmente para o campo da educação; considera-se o currículo do professor proponente, olhando-se, sobretudo, para o grau de conhecimento que ele tem na temática proposta. Enfim, são muitos critérios, e que estão baseados nas exigências do qualis Capes.

JACQUES: Que bom!

LÍVIA: O senhor lembra como é que essas temáticas eram definidas?

JACQUES: Era mais ou menos na base da opinião, da sugestão etc. Era uma espécie de Conselho Editorial que conhecia os temas e dizia qual tema era mais importante. No começo era assim, um pouco baseado só no Conselho Editorial, não tinha um critério externo.

LÍVIA: Certo. Como disse o senhor, todas as etapas de produção e projeto da revista eram artesanais, mas todo mundo muito envolvido, né, na proposta?

JACQUES: Sendo uma revista que crescia, era muito importante observar todos os aspectos. Não era qualquer coisa, não era sair enchendo páginas com artigos. Precisava, claro, ser um tema geralmente baseado em pesquisa, a partir de autores. Para quem estava pensando em criar uma pós-graduação, a revista era um suporte muito importante.

LÍVIA: O senhor olha ou o senhor visita outras revistas em outros sites na internet? Ou não, só a Revista da FAEEBA?

JACQUES: Olho a Revista da FAEEBA. [Risos]

LÍVIA: Então, muitas lembranças da época que o senhor foi editor, muito trabalho?

JACQUES: É, a gente fazia muito trabalho em casa realmente. E mais recentemente usamos muito, o computador virou uma necessidade quase física. Para poder trabalhar é uma necessidade. Fico muito tempo trabalhando e lendo, acessando coisas no computador.

LÍVIA: A família tem uma boa lembrança do senhor como editor?

JACQUES: Minha família mora na Bélgica. Aqui em casa, só nós dois aqui. A família de Vilma mora em São Paulo.

LÍVIA: Ah, ok.

JACQUES: A minha família aqui no Brasil, na Bahia, é a UNEB. A família aqui é da UNEB. Tem um bando de aluno que lembra do meu aniversário, dia 5 de novembro. Tá longe. Tive ótimos alunos na UNEB, guardei vínculos.

LÍVIA: Professor Jacques, o senhor tem um conselho para dar a quem quer ser um editor?

JACQUES: Sei não. [risos] Bom, meu conselho é não esquecer de prestigiar aqueles que trabalham pelas revistas, porque uma revista depende do trabalho de muitas pessoas, depende do trabalho dos autores e das pessoas que trabalham na produção acadêmica e técnica. Tem de, acima de tudo, valorizar. Prestigiar, buscar apoio financeiro. Um editor deve respeitar e valorizar a produção da própria universidade e, também, na mesma medida, prestigiar os autores de fora, de outras instituições. Então às vezes pode acontecer de o editor ter de decidir entre um artigo e outro, entre a sua universidade e a de um outro, entre um colega conhecido e um outro. Tem de haver bom senso e responsabilidade. Respeito, valorização do trabalho de todos os autores, sem distinção. Mas sempre olhando e distinguindo o que é bom do que não é bom.

LÍVIA: A Revista da FAEEBA mantém até os dias atuais a mesma estrutura interna: revista temática, uma seção Estudos; Documentos; Entrevista(s). Em geral as Revistas de Educação seguem esta estrutura - embora nem todas as revistas sejam temáticas. Suprimimos a seção Resumos de tese e dissertação.

JACQUES: Quando fui editor havia uma sugestão de observarmos a porcentagem de pessoas que são da própria universidade.

LÍVIA: Isso mesmo. É critério. Devemos evitar a endogenia. Portanto, neste caso, a Revista não pode contemplar um número grande de autores da Bahia, ainda que seus artigos estejam aprovados e aguardando publicação no banco de artigos aprovados.

JACQUES: É muito difícil. Mais critérios. Muitas vezes fica demorando para publicar, tem muito bons artigos no banco e ficam lá parados, esperando publicação.

LÍVIA: Este ano a revista completa 30 anos. Essa conversa-entrevista será publicada este ano, como parte das ações de comemoração dos 30 anos da Revista. É importante registrarmos a memória: a Revista tem espaço para narrarmos nossa própria história, valorizando a memória da própria Revista. A Revista da FAEEBA é “qualis A” porque ela começou com pessoas que fizeram esse esforço. E assim, professor Jacques, nós, atuais editor e editoras, valorizamos muito isso, que o seu trabalho e o cuidado com a Revista representam para a própria existência dela. O senhor dá o exemplo do cuidado com as pessoas que fazem parte, mas não só quem faz parte hoje, mas quem fez parte antes de nós. Então, assim, a gente reconhece e faz esta homenagem ao senhor como a pessoa que abre os caminhos da produção na Faculdade de Educação (FAEEBA) - atualmente Departamento de Educação (DEDC I) - e no PPGEduc. Gratidão.

JACQUES: O importante, o mais importante numa revista são as pessoas que publicam e escrevem.

LÍVIA: É, o importante numa revista são as pessoas que publicam e escrevem, e editoram a revista, e se lançam nesse trabalho muito árduo, muito dedicado, muito ético de cuidado com todos os níveis da produção. Além disso, além da dimensão acadêmica, exige muito trabalho físico, porque são horas, dias, madrugadas lendo, enviando artigo para avaliação, acompanhando a revisão, a editoração. O reconhecimento, o qualis A, vem desse percurso que foi, desde o início, de muito trabalho e dedicação.

JACQUES: A Revista da FAEEBA é como se fosse uma filha e agora virou uma Miss Brasil. [risos] Eu levava a Revista num lugar perto da Estrada do Coco, não me lembro bem, onde o rapaz da editoração fazia a correção do texto. Lino. Lino Greenhalgh, ele se chamava. A gráfica também era longe, Fazenda Grande do Retiro, longe.

LÍVIA: É o mesmo Lino até hoje, Lino Greenhalgh. Existe uma equipe que presta serviços - porque não são funcionários da UNEB - para a Revista. Lino na editoração, Luís Fernando na revisão, todos têm um trabalho primoroso. Maura Icléa é a bibliotecária e tem um papel fundamental no acompanhamento da Plataforma e dos indexadores. Passou a ser nossa editora executiva. Muitos desafios para manter este trabalho coletivo. Temos recebido muito apoio da Direção do DEDC, da pró-Reitoria e da coordenação do PPGEduc.

JACQUES: É isso mesmo. É muita gente assim que colabora e que honra a Revista. Isso é bem interessante. Àquela época, quem fazia as coisas não ganhava nada de especial. Editor na UNEB não era cargo [até hoje não é], era um valor: trabalhar pela Revista, trabalhar pela Universidade. Eu permaneci muito tempo na UNEB, mesmo depois de aposentado, apenas porque trabalhava na revista. Então a universidade sempre me apoiou, reconheceu o meu trabalho. Eu fui aposentado no Diário Oficial de fato, não me recordo... até porque continuei fazendo esse trabalho todo. [risos]

LÍVIA: Quando o senhor deixou a Revista, quem foi que assumiu?

JACQUES: Foi uma situação no início um pouco difícil, porque as pessoas não tinham experiência com a Revista. E naquela época também já eram outras exigências para as revistas no Brasil, mais burocracias. Isso levou até a uma crise, interromperam os números, parou até de circular. Depois conseguiram colocar [retomar a periodicidade]. Depois de mim e de Yara Dulce Ataíde, foi a professora Liége e Tânia Dantas. A Revista exige muito. Era muita coisa manual, trabalhar, cuidar como se fosse uma criança, um filho. Uma filha!

LÍVIA: Tão bom! [risos] Então, acho que vamos parando por aqui a entrevista. O senhor nasceu quando, professor Jacques?

JACQUES: Nasci em 5 de novembro de 1935. Muitos anos da UNEB. Desde o começo, quando a UNEB foi fundada, eu fazia parte da Secretaria de Educação, que fomentou a criação da universidade. A Revista da FAEEBA faz parte dessa história da Universidade: é uma filha, que se tornou Miss. Uma filha, e, atualmente, graças ao engajamento e à competência da atual equipe de edição, uma verdadeira Miss.

Recebido: 24 de Maio de 2022; Aceito: 19 de Julho de 2022

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons