A Revista da FAEEBA apresenta, nesta edição, o Dossiê Educação Integral e Desenvolvimento Humano com um tema que nos revela muito das demandas da educação básica e suas relações com as produções de pesquisa, formação e extensão nessa área de conhecimento. A Educação Integral é um espaço-tempo de disputas político-pedagógicas que temos de enfrentar nos cotidianos da escola em suas diferentes práticas curriculares. As temporalidades e suas relações com a formação integral dos sujeitos representam, cada vez mais, outros modos de fazer-sentir-pensar a educação nos tempos atuais, numa perspectiva que possa ampliar os horizontes dos/as estudantes e docentes, em lutas e práticas emancipatórias. Este volume amplia as discussões sobre o assunto e aponta para uma ação socialmente integradora, de tal forma que possa representar uma contribuição ao processo de (re) democratização da instituição escolar pública.

O retrocesso histórico que tivemos nos últimos anos evidencia os limites postos à luta pela democratização do Estado brasileiro e, sobretudo, das políticas públicas. Especificamente, na área educacional, projetos como Escola sem Partido, a reforma do ensino médio e a aprovação da Base Nacional Comum Curricular reforçaram princípios das agendas neoliberais e ultraconservadoras que garantiram o interesse, sobretudo, do desmonte do ensino público.

Nesse contexto, a Educação Brasileira segue na busca pela reconstrução dos seus modos de viver e habitar a sociedade, retomando aos poucos o seu lugar no cenário brasileiro, uma vez que cabe a nós, educadores e educadoras, produzir e difundir a história que a história não conta (samba-enredo da escola Mangueira, 2019), fortalecendo outras narrativas de luta e de retomada de uma agenda humanizadora para seus sujeitos. Na contramão dessa premissa, vimos atualmente escolas brasileiras sendo invadidas pela violência, pelo armamento, por práticas que ameaçam o lugar essencial da Educação na formação e consolidação da nossa Democracia.

Na luta pela (re)democratização encontramos um país dividido, em que a escola acaba traduzindo estas fraturas. Episódios de violência na escola - que estão amparados em gradativas construções de incitações ao ódio, discriminação, intolerância e racismo - juntamse a muitos outros elementos que disputam espaços de poder na formação da juventude brasileira. Não podemos deixar de registar, nesta edição, nosso pesar pela morte, muito recentemente (27 de março de 2023), da Professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, agredida por um estudante numa escola da zona oeste de São Paulo. E o assassinato de quatro crianças na Creche Bom Pastor,em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina ( 05 de Abril de 2023). Na abertura deste segundo trimestre de 2023, continuamos a seguir no esperançar da retomada da democracia do Brasil a partir da luta constante por políticas de garantia ao direito à memória, à verdade e à justiça. Após cinquenta e nove anos do golpe militar de 1964, vivemos ainda resquícios de um país em (re)construção e ameaça. Um movimento contínuo de luta e (re)existência vem atuando nas fissuras da nossa frágil Democracia para que NUNCA MAIS!!! possam nos tirar o direito constitucional da liberdade, do convívio com as diferenças e da permanente conquista dos/ pelos Direitos Humanos.