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Revista Brasileira de Educação

Print version ISSN 1413-2478On-line version ISSN 1809-449X

Rev. Bras. Educ. vol.27  Rio de Janeiro  2022  Epub Dec 20, 2022

https://doi.org/10.1590/s1413-24782022270118 

Artigos

A fotografia no desenvolvimento da identidade da criança na educação infantil no Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia, em Presidente Kennedy1

PHOTOGRAPHY IN THE DEVELOPMENT OF CHILDREN’S IDENTITY IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION AT CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL SANTA LÚCIA, IN PRESIDENT KENNEDY

FOTOGRAFÍA EN EL DESARROLLO DE LA IDENTIDAD INFANTIL EN EDUCACIÓN INFANTIL EN CENTRO MUWNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL SANTA LÚCIA, EN PRESIDENTE KENNEDY

Marta Alessandra dos Anjos I  
http://orcid.org/0000-0003-4744-3776

Sônia Maria da Costa Barreto I  
http://orcid.org/0000-0002-2013-2591

IFaculdade Vale do Cricaré, São Mateus, ES, Brasil.


RESUMO

Este artigo, de abordagem qualitativa, caracterizado como um estudo de caso, objetiva identificar como os professores da educação infantil tem inserido a fotografia em suas práticas pedagógicas no Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia, em Presidente Kennedy (ES). Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se uma entrevista semiestruturada aplicada a oito docentes do Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia. A análise dos dados fundamentou-se em documentos elaborados pelo Ministério da Educação, como o Referencial Nacional Comum Curricular e a Base Nacional Comum Curricular. Como produto final da dissertação que serviu de base para este artigo, elaborou-se uma cartilha com sugestões de atividades que utilizam a fotografia como recurso pedagógico para o desenvolvimento da identidade da criança. Os resultados revelam que a fotografia pode e deve ser inserida na educação infantil como um recurso pedagógico que auxilia o desenvolvimento das competências e habilidades da criança e a construção da sua identidade e autonomia.

PALAVRAS-CHAVE fotografia; educação infantil; identidade; desenvolvimento infantil

ABSTRACT

This article, with a qualitative approach, characterized as a case study, identified how early childhood education teachers have inserted photography into their pedagogical practices at Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia, in Presidente Kennedy (ES). As a data collection instrument, a semi-structured interview was used, applied to eight teachers from Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia. An analysis of the foundations was based on documents prepared by the Ministry of Education, such as the National Common Curricular Reference and the Common National Curricular Base. As a final product of the dissertation on which this article is based, a booklet was elaborated, with suggestions for activities that use photography as a pedagogical resource for the development of the child’s identity. The results reveal that photography can and should be incorporated in early childhood education as a pedagogical resource that aids the development of the child’s skills and abilities and the construction of their identity and autonomy.

KEYWORDS photography; child education; identity; child development

RESUMEN

Este artículo, con abordaje cualitativo, caracterizado como estudio de caso, identificó cómo docentes de educación infantil han insertado la fotografía en sus prácticas pedagógicas en el Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia de Presidente Kennedy (ES). Como instrumento de recolección de datos, se utilizó una entrevista semiestructurada, aplicada a ocho docentes del Centro Municipal de Educação Infantil Santa Lúcia. El análisis de las bases se basó en documentos elaborados por el Ministerio de Educación, como la Referencia Curricular Común Nacional y la Base Curricular Nacional Común. Como producto final de la dissertacion en la que se basa este artículo, se elaboró un cuadernillo con sugerencias de actividades que utilizan la fotografía como recurso pedagógico para el desarrollo de la identidad del niño. Los resultados revelan que se puede y se debe incorporar la fotografía en la educación infantil como um recurso pedagógico que ayuda al desarollo de las habilidades y destrezas del niño y a la construcción de su identidad y autonomía.

PALABRAS CLAVE fotografía; educación infantil; identidad; desarrollo infantil

INTRODUÇÃO

Ao pensar em educação infantil, temos, em primeira instância, a premissa de que o lúdico sempre está em evidência; logo, imagina-se que as atividades lúdicas auxiliam as crianças em todos os segmentos de desenvolvimento de que ela necessita. Entretanto, o lúdico, por si só, não configura o total desenvolvimento social e pedagógico da criança.

A teoria walloniana traz a abordagem de que toda atividade desenvolvida pela criança pode ser considerada lúdica quando ela exerce por si mesma, antes de integrá-la a projetos que subordine a atividade e transforme-a no meio. Em outras palavras, qualquer atividade que estimule a ludicidade da criança, como brincadeiras de pique-pega, pique-esconde, caça ao tesouro, entre outras, são consideradas lúdicas (Rejane, 2013).

Na concepção de Henrique e Souza (2014, p. 2), são consideradas lúdicas as atividades em que as crianças são capazes de “[...] atribuir a objetos significados e conceitos desenvolvendo [a sua capacidade] de abstração, raciocínio e percepção, podendo aumentar seu nível de compreensão do mundo que os rodeia.”.

Nesse sentido, levar a atividade lúdica para a sala de aula como ferramenta de intervenção pedagógica é trabalhar o aprendizado da criança de forma mais divertida, que estimule o pensar, a imaginação, a criação, a potencialização de conhecimentos e o desenvolvimento do raciocínio lógico e de habilidades fundamentais para o desenvolvimento integral da criança.

Além disso, a utilização do lúdico pelos educadores em sala de aula compreende o desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais da criança, sendo um importante aliado na construção de sua independência e identidade.

Nesse contexto, esta pesquisa possui como foco o desenvolvimento da identidade da criança, por meio de um aprendizado satisfatório e emancipatório nas situações cotidianas. Dessa forma, adota-se como atividade lúdica o uso da fotografia na educação infantil, que, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), compreende o ensinamento das artes visuais, que estão presentes diariamente na vida infantil e permitem à criança expressar-se e comunicar-se, atribuindo “[...] sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura [...].” (Brasil, 1998a, p. 85).

O uso da fotografia na educação infantil contribui consideravelmente com a forma como a criança vê o mundo, constituindo-se como uma expressão de vontades, realizações e aspirações, como uma forma de mostrar como a criança se identifica com um lugar, com a família, com os amigos e até mesmo como uma maneira de desenvolvimento da cultura.

Assim, destaca-se, na presente pesquisa, o uso da fotografia como recurso para contribuir com o desenvolvimento da identidade infantil a partir de uma perspectiva lúdica é direcionado para a retratação da rotina escolar das crianças com idade de zero até três anos.

Frente ao exposto, a fim de colaborar para o desenvolvimento integral da criança, principalmente na sua identidade, esta pesquisa busca responder a seguinte problemática: como o uso da fotografia pode contribuir no desenvolvimento da identidade da criança na educação infantil? Assim, pretende-se compreender o uso da fotografia como elemento de desenvolvimento da identidade da criança na nesse segmento da educação e estimular os docentes a refletirem acerca da possibilidade do seu uso no cotidiano da sala de aula.

Para isso, tem-se como objetivo geral compreender o uso da fotografia como elemento de desenvolvimento da identidade da criança da educação infantil e estimular os docentes do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Santa Lúcia, em Presidente Kennedy (ES), a refletirem sobre a possibilidade do seu uso no cotidiano da sala de aula. Também se adotam os seguintes objetivos específicos, que são norteadores para alcançar os resultados desta pesquisa:

  • Identificar como os professores da educação infantil têm inserido a fotografia em suas práticas pedagógicas;

  • Apresentar a importância da fotografia como recurso didático no cotidiano da educação infantil para o desenvolvimento da identidade da criança;

  • Discorrer acerca do uso da fotografia utilizada como prática lúdica na educação infantil e à luz da legislação atual;

  • Verificar se a fotografia é utilizada na educação infantil pelos professores do CMEI Santa Lúcia, em Presidente Kennedy (ES), para o desenvolvimento da identidade da criança.

Para contribuir com o desenvolvimento desta pesquisa, adotou-se como procedimento metodológico o estudo de caso, que tem como propósito a investigação empírica sobre os fenômenos contemporâneos no ambiente da pesquisa (Yin, 2001). O estudo de caso foi realizado no CMEI Santa Lúcia, localizado na zona rural do município de Presidente Kennedy (ES).

Os atores envolvidos na pesquisa são oito docentes da instituição de ensino, os quais são responsáveis pelo ensino e aprendizado das crianças do CMEI Santa Lúcia, além de incumbidos do planejamento das aulas ministradas para as crianças. Também compõem os atores da pesquisa as crianças de zero até três anos de idade, que estão iniciando a primeira etapa da educação básica.

Dessa forma, para alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma entrevista, de forma online, com o corpo docente do CMEI Santa Lúcia, com o propósito de verificar as práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula, especificamente as atividades voltadas ao uso da fotografia como recurso pedagógico. Ao fim da pesquisa, foi desenvolvido um desafio pedagógico, com a finalidade de sugerir atividades que potencializassem o uso da fotografia como recurso pedagógico nas escolas.

REFERENCIAL TEÓRICO

A fotografia constitui uma importância que retrata o passado no presente, traz memórias afetivas, que, apesar do tempo, permanecem vivas nas memórias. Barthes (1984) descreve que a fotografia é capaz de trazer três tipos de abordagem: o fazer, o suportar e o olhar. O fazer destina-se a prática de fotografar do fotógrafo; o suportar se relaciona ao ato de se permitir ser fotografado, de se colocar diante da câmera; e o olhar se aduz nas imagens fotográficas disponíveis em livros, jornais, cartazes, revistas, em que é permitido transmitir uma comunicação por meio da fotografia. Esta é um elemento que envolve a estética e pode ser compreendida como uma análise documental.

A fotografia é utilizada como veículo de divulgação e incorporação de ideais e concepções. Se considerarmos essa afirmação verdadeira, necessariamente, teremos que considerar o consumo das imagens.

Para Bourdieu (1965), as fotografias refletem visualmente valores ideológicos, idealizações e sistemas estéticos e éticos de grupos sociais, tornando-se documento para pesquisas. Por meio delas, pode-se ter acesso a determinado período histórico, uma vez que, através das imagens, é possível evidenciar cidades, seus espaços físicos, os costumes, os móveis, as roupas, os tipos de moradia e as estruturas políticas, econômicas e sociais registradas em forma de imagem.

Frente a essa associação da fotografia à ideia de realidade, como prova documental de determinado fato, sem contestações, ressalta-se que a fotografia pode não representar a totalidade do ocorrido, mas uma visão neutra da realidade. Ela está sujeita à interferência subjetiva do sujeito que faz os registros, à interferência do olhar do fotógrafo, ou seja, de forma intencional, pode ocorrer uma recriação e reinterpretação daquilo que é real. Ainda se ressalta que as fotografias representam sim a realidade, mas não abrangem a totalidade daquilo que se permite fotografar (Bourdieu, 1965).

A fotografia é uma representação de um fragmento captado em determinado momento e espaço, mas o todo não deve ser reduzido a esse recorte, o qual permite arquivar um momento. A fotografia, logo que surgiu, não era considerada arte. Atualmente, alguns críticos ainda não a consideram, pela facilidade de produzi-la. Porém, outros acreditam que ela pode ser considerada como arte a partir do momento em que é uma interpretação da realidade, e não apenas uma cópia.

Para Kossoy (2001), toda fotografia tem a sua origem a partir do desejo de um indivíduo que se viu motivado a congelar em imagem um aspecto dado do real, em determinado lugar e época. Nesse sentido, a fotografia representa a intenção do fotógrafo que expressa, por meio de imagens, a sua visão de mundo.

Desse modo, as teorias afirmam que os fotógrafos podem manipular a imagem e, para que seja feita uma leitura mais condizente da realidade, devem-se considerar diversos pontos que abrangem a construção da fotografia. Assim, ela pode ser considerada importante elemento da compreensão de momentos históricos, desempenhando um papel essencial na sociedade, uma vez que retrata determinados contextos, aspectos culturais, grandes acontecimentos, emoções, etc. (Barthes, 1984).

Destarte, a fotografia se tornou indispensável na sociedade e principalmente na área educacional, uma vez que permite que sejam identificados fatos históricos nas imagens fotográficas de familiares, livros, jornais, revistas, entre outros e constitui, em cada ocasião, uma história a ser contada, o que também pode ser considerado um instrumento importante na busca pela própria identidade.

A IDENTIDADE DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Os centros de educação infantil têm um importante papel no processo de construção da identidade da criança, pois, além de transmitir o conhecimento, esse processo contempla a organização, ou seja, o planejamento das propostas pedagógicas, de modo que as ações realizadas pela escola e principalmente pelos professores compreendam o desenvolvimento integral da criança, nos aspectos físico, psicológico, intelectual, social e sobretudo a identidade da criança.

O RCNEI enfatiza a educação infantil como a primeira etapa da educação básica, iniciando-se aos quatro anos de idade, e considera que “[...] a instituição de Educação Infantil é um dos espaços de inserção das crianças nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade na qual estão inseridas.” (Brasil, 1998a, p. 11).

Os desenvolvimentos da identidade e da autonomia estão intimamente relacionados com os processos de socialização. Nas interações sociais, se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer umas com as outras e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias (Brasil, 1998b).

A identidade das crianças é desenvolvida ao longo de sua convivência com outras crianças e adultos, através das relações sociais estabelecidas na escola, por sua forma de pensar, que se difere da de outras crianças, caracterizando a noção de que nenhum indivíduo é igual a outro, cada um pode se distinguir por identidade ao realizar uma atividade de apresentação em sala de aula, como falar o seu nome, por exemplo.

A identidade é um conceito do qual faz parte a ideia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir e de pensar e da história pessoal. Sua construção é gradativa e se dá por meio de interações sociais estabelecidas pela criança, nas quais ela, alternadamente, imita e se funde com o outro para diferenciar-se dele em seguida, muitas vezes utilizando a oposição (Brasil, 1998b).

No espaço escolar, as atividades devem estar articuladas em um ambiente farto em interações, que acolha as particularidades de cada criança promovendo conhecimento e o reconhecimento das diversidades, preservando a autoimagem de cada uma delas. Segundo o RCNEI (Brasil, 1998a), cada criança possui suas particularidades e deve ser recebida pelo professor e pelo grupo no qual está inserida de forma que não seja causado impacto na formação de sua personalidade.

Dessa forma, pode-se destacar que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2017) enfatiza a abordagem sobre o “Eu e a Criança” na educação infantil, o que deve ser apresentado por meio de atividades apropriadas ao mundo lúdico e do imaginário da criança, colaborando assim para a formação de uma identidade autêntica e respaldada em valores éticos necessários ao cidadão consciente do seu papel na construção da sua história e da do outro.

Para o efetivo desenvolvimento da criança, é necessário ter a concepção de que as crianças aprendem umas com as outras por meio dos vínculos que estabelecem. Desse modo, a aprendizagem na educação infantil acontece por meio da interação com as outras pessoas, sejam adultos, sejam crianças.

Podem-se destacar algumas brincadeiras das quais as crianças podem participar como meio de interação: a imitação, o faz-de-conta, a oposição, a linguagem e a apropriação da imagem corporal. De acordo com o RCNEI (Brasil, 1998a), o brincar estimula o desenvolvimento da identidade e da autonomia da criança, pois, desde cedo, a coloca em uma posição de comunicar-se com os outros através de gestos e sons, contribuindo para, mais tarde, desenvolver habilidades como imaginação; atenção; memorização; imitação de alguém ou algo, amadurecendo a capacidade de socializar-se em um ambiente, o que desenvolve sua identidade dentro de um grupo social.

No entanto, o brincar na educação infantil não significa brincar por brincar, sabe-se que o desenvolvimento das crianças está no brincar com intencionalidade. Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças, baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade, sem ser ilusão ou mentira. Também se tornam autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucionar problemas de forma livre das pressões situacionais da realidade imediata (Brasil, 1998b).

Nessa perspectiva, assim como a escola tem a função de ensinar proporcionando os conteúdos de forma lúdica, é importante desenvolver projetos que contemplem o desenvolvimento da identidade e autonomia. O RCNEI contempla os eixos pedagógicos que devem ser trabalhados com as crianças na educação infantil, entre os quais está o da identidade e autonomia, que devem ser trabalhados de zero a três anos de idade, aprofundamos um pouco mais sobre a identidade, pois desde pequenos é importante que a criança crie sua identidade, se conheça, tenha a oportunidade de explorar quem ela é, aprender e conhecer a si mesma, fortalecendo a sua identidade própria (Brasil, 1998b).

É importante ressaltar que os projetos na educação infantil são importantes, pois contemplam seu objetivo principal: a promoção do desenvolvimento da identidade e autonomia. A escola, em conjunto com os professores, deve criar projetos articuladores com os eixos pedagógicos com arranjos especiais quanto à escolha e à disponibilização dos brinquedos, como também à forma de organizar as brincadeiras e as interações, considerando que implicam na formação de diferentes tipos de subjetividades e produzem identidades.

Por outro lado, a escola e a família também devem estar em constante colaboração quanto ao desenvolvimento da sua identidade, pois o primeiro contato da criança inicia-se pela família, a visão que cada um possui pode influenciar na relação com os significados e sentidos sobre a escolha das brincadeiras.

O trabalho com a identidade por meio das brincadeiras e dos brinquedos pode representar um importante espaço para a integração entre família e escola. Nesse sentido, “organizar, com os pais, vivências de brincadeiras típicas da comunidade para aumentar o repertório de brincadeiras de todas as crianças e propiciar a aprendizagem do respeito às formas de vida de vários grupos” (Brasil, 2012, p. 44).

Posto isso, ao considerar a importância da participação dos pais e professores, cabe destacar as diferentes situações de brincadeiras e atividades lúdicas que são elementos fundamentais na proposta da educação infantil, tendo em vista que essas atividades e brincadeiras podem expressar os seus sentimentos e valores, proporcionando conhecer-se a si mesmo, outras pessoas e o mundo em que vive, expressando a sua individualidade e a sua identidade.

FOTOGRAFIA: RECURSO DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O uso da fotografia no ambiente escolar é considerado um aliado para o desenvolvimento do aprendizado, proporcionando às crianças diferentes formas de compreender a realidade. A utilização das fotografias nos livros didáticos, por exemplo, permite ao professor o ensino através de conteúdos que proporcionem maior atratividade em sala de aula, chamando a atenção da criança para o que está sendo abordado e até mesmo auxiliando no processo de aprendizado. Para Cravo (2015, p. 23) “[...] a utilização de ilustrações em salas de aula oferece enriquecimento da leitura visual [...]”, caracterizando-se como uma linguagem educacional que agrega valor às demais linguagens.

A fotografia no contexto da educação infantil permite trabalhar o próprio registro fotográfico, utilizar como memória visual, trabalhar com arte, ou seja, permite dar sequências didáticas de forma lúdica, sendo um instrumento do professor a partir do qual podem se revelar as aprendizagens e propiciar uma diversidade de atividades com as crianças.

A fotografia é considerada, na BNCC (Brasil, 2017), como uma forma de expressão e linguagem que auxilia no desenvolvimento dos campos de experiência da criança, alcançando o campo de traços, sons, cores e formas. Para a BNCC (Brasil, 2017), essa forma de expressão contribui para a criação de produções artísticas próprias ou culturais e o desenvolvimento dos sensos estético e crítico, estimulando o conhecimento de si e dos outros que estão a sua volta.

O RCNEI (Brasil, 1998a, p. 87) reconhece a fotografia como uma arte que permite a criança sua “[...] manifestação espontânea e auto expressiva: valorizavam a livre expressão e a sensibilização para o experimento artístico como orientações que visavam ao desenvolvimento do potencial criador [...]”, em outras palavras, propostas que viabilizem o desenvolvimento integral da criança

É importante salientar as experiências sensoriais que podem ser exploradas por meio da fotografia, não cabendo apegarem-se apenas às imagens do livro, é preciso realizar atividades práticas com as crianças. Nesse sentido, a fotografia permite ao professor inovar as suas aulas. Para Cesar e Piovan (2007), utilizar tal recurso exige conhecimento, criatividade, sensibilidade, talento e se expressar de maneira que os olhos não são capazes de ver. Portanto, o uso de fotografias no espaço escolar vem ao encontro do processo de conhecimento e perpassa por um processo historicamente construído, bem como promove a todos os envolvidos a compreensão, pois é nas interações que esse processo se constitui e permite fazer história.

Entender a fotografia nos espaços escolares é constituir um espaço democrático e extremamente investigativo de nossa curiosidade em identificar pessoas e lugares, espaços e épocas. De acordo com Leite (1983, p. 87):

A fotografia é utilizada para reforçar a integração do grupo familiar, reafirmando o sentimento que tem de si e de sua unidade, tanto tirar as fotografias, como conservá-las ou contemplá-las lhes emprestam à fotografia de família o teor de ritual de culto doméstico em que a família pode ser estudada como sujeito e como objeto.

Ainda nas palavras do autor, a fotografia é resultado de uma escolha, de uma ocasião ou de um aspecto das relações da família que, habitualmente, vem afirmar a continuidade e a integração do grupo doméstico, e, no processo de ensino e aprendizagem, a fotografia pode ser utilizada de diversas maneiras.

Tendo em vista que as metodologias utilizadas para as aulas na educação infantil devem ser impressas e de forma diferenciadas, principalmente ao se tratar de recurso como a fotografia, deve-se refletir quanto ao objetivo a que a fotografia se refere, ou seja, a forma de linguagem que quer evidenciar. Segundo Flusser (2011, p. 43), é “[...] a câmera que nos move em direção à fotografia, e não o contrário, ou seja, [...] nossa atração é tão individualizada que sequer escapamos da tentação que a câmera nos proporciona.”.

Do ponto de vista do autor, a fotografia não surge espontaneamente, muito pelo contrário, é fruto da mente de uma pessoa específica. Cabe ao professor instigar sobre a imagem apresentada para as crianças por meio de diálogo e, a partir da reflexão das crianças, realizar perguntas acerca do contexto que envolve a imagem. É importante ter uma leitura do cotidiano que os cerca, pois a criança precisa compreender sobre seu papel na sociedade desde a primeira infância, a fim de criar condições para que ela possa futuramente ampliar seu conhecimento e sua capacidade de crítica para lugares e situações diferenciadas que aprendeu em sala de aula. Segundo Asari, Antoniello e Tsukamoto (2004, p. 194), “[...] por mais que a fotografia seja produzida com certa finalidade, a sua representação vai conter um meio de informação e conhecimento, e o seu conteúdo irá ajudar o aluno a se constituir como um leitor crítico da paisagem.”.

A fotografia pode ser interpretada a qualquer instante, a imagem tem uma caracterização muito ampla no âmbito educacional, cabendo aos professores da educação infantil utilizar a fotografia como recurso pedagógico em atividades lúdicas, que propiciem um momento de aprendizagem mais prazeroso. O lúdico na educação infantil é muito importante, pois desenvolve as habilidades da criança além de tornar as aulas mais atrativas para o conhecimento. A educação infantil tem como objetivo o desenvolvimento integral da criança, abrangendo os aspectos físico, psicológico, intelectual e social e, assim, proporcionar a ela um ambiente de bem-estar, onde se proponham atividades que contribuam para despertá-la na sua curiosidade e espontaneidade.

A importância de se trabalhar a fotografia contribui para as crianças da educação infantil no desenvolvimento das capacidades física e intelectual. O ensino promovido utilizando-se da fotografia permite que elas aprendam a compreender não apenas a figura em si, mas o que ela representa, o que ela quer dizer, qual reflexão a fotografia traz para a criança e/ou o indivíduo. De acordo com Kossoy (1989), toda fotografia tem sua origem a partir do desejo de um indivíduo que se viu motivado a congelar em imagem um aspecto dado do real, em determinado lugar e época.

Dessa maneira, a fotografia representa a expressão do indivíduo, assim como destaca Kossoy (1989); na educação infantil, a fotografia aguça a imaginação e, quando o professor prepara uma sequência didática, integrando as disciplinas com a fotografia, pode-se dizer que o conhecimento se tornará mais construtivo.

Contudo, a imagem representa a expressão visual em que a criança se observa e dialoga com ela, permitindo que ela consiga associar a imagem com a própria realidade, por exemplo. As atividades visuais ampliam o conhecimento da realidade do mundo, por isso é importante que o professor conheça a realidade da criança, para que possa instigar e ampliar o conhecimento do trabalho com a fotografia. Destaca Mizukami (2004) que as imagens são pouco utilizadas em sala de aula, visto que os professores precisam seguir à risca uma apostila, uma cartilha ou um livro.

Para mudar esse cenário tradicionalista, é preciso conhecer além das atividades, mas também é preciso conhecer o objetivo da atividade proposta, por isso a fotografia contempla diversas interpretações, tendo em vista que essas práticas influenciam diretamente no dia a dia e no desenvolvimento da criança, como aluno, e do docente.

Nessa perspectiva, são inúmeras as atividades que podem ser utilizadas em sala de aula, assim como arte, história e atividades que envolvam a fotografia e que contribuam para o desenvolvimento da criança nos aspectos físicos, sociais, culturais e individuais. Podem incluir-se atividades lúdicas, que exigem mais práticas, e destaca-se ainda como atividade pedagógica o cinema, que permite à criança observar as imagens, o contexto, criar e recriar através da sua própria imaginação, que, para Fresquet (2013, p. 19), “[...] nos oferece uma janela pela qual podemos nos assomar ao mundo para ver o que está lá fora.”.

Por fim, não se trata da quantidade de imagens que serão trabalhadas em sala de aula, mas a qualidade que a fotografia irá representar como aprendizado para a criança, a intenção de aprender com a fotografia e não apenas olhar a fotografia em si, mas a maneira como a criança contextualiza aquela imagem com o seu entorno social.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este subtítulo compreende a apresentação dos resultados alcançados com o estudo de caso, mediante aplicação de questionário online para os professores da instituição de ensino pesquisada, cujo objetivo foi verificar se utilizam a fotografia como recurso pedagógico em sala de aula.

Foram trazidas para discussão as abordagens e opiniões de cada professor participante da pesquisa, dadas as questões estabelecidas e padronizadas, e, em consonância, buscou-se uma confrontação com as teorias especificamente de documentos normativos que estabelecem o conjunto de aprendizagens essenciais a serem trabalhadas na educação básica, como a BNCC (Brasil, 2017) e o RNCC (Brasil, 1998a), a fim de verificar a aplicabilidade do uso da fotografia como recurso pedagógico para contribuir com o desenvolvimento integral da criança.

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES

A entrevista realizada online com os professores do CMEI Santa Lúcia, em Presidente Kennedy (ES), trouxe uma abordagem sobre o olhar dos docentes acerca do uso da fotografia como recurso pedagógico que pode contribuir com o desenvolvimento da identidade da criança na educação infantil.

Esta pesquisa foi aplicada a oito docentes desse CMEI, dentre os quais: professores regentes de classe (P1, P2, P6, P7 e P8), professor de educação física (P3), pedagoga (P4) e professora de artes (P5). É importante evidenciar que essa diversidade de atuação do docente pode contribuir para elucidar diferentes opiniões e a aplicação do uso da fotografia no desenvolvimento da criança na educação infantil.

Assim, inicialmente os professores foram questionados em relação à utilização da fotografia como recurso pedagógico para o desenvolvimento de atividades em sala de aula, tendo respondido conforme Quadro 1.

Quadro 1 - Uso da fotografia pelos docentes 

Q1: Você utiliza a fotografia como recurso pedagógico para desenvolvimento de atividades em sala de aula?
P1 Utilizo sim, como recurso pedagógico. Uso em toda e qualquer época, diariamente, não somente em datas comemorativas.
P2 Utilizo, sim, principalmente com atividades para explorar questões acerca da identidade da criança.
P3
EF
Não costumo usar no dia a dia, não. Só uso se precisar colocar no portfólio ou algum outro documento para escola.
P4
A
Sim...é de suma importância utilizar a fotografia em sala de aula.
P5
P
Sim, a fotografia está sempre inserida em minhas atividades. Seja por meio do livro didático, seja por algum cartaz extra que levo para sala, seja por meio das mídias.
P6 Sim...é importantíssimo para o reconhecimento dela mesma. Utilizo sempre no cotidiano escolar. Faz parte da rotina.
P7 Sim.
P8 Sim...costumo usar o ano todo. No início do ano, eu utilizo mais por conta do Projeto Identidade, fomentado pela Secretaria Municipal de Educação.

Fonte: Elaboração do autor.

Observa-se que a fotografia é um recurso pedagógico utilizado pelos docentes do CMEI Santa Lúcia não apenas em datas comemorativas, mas diariamente para explorar as questões inerentes à identidade da criança, algo fundamental nessa primeira etapa de ensino.

A fotografia como um recurso pedagógico tem sido utilizada por 87,5% dos professores da instituição, de forma unânime pelos regentes de classe e pela P5, os quais utilizam a fotografia em suas atividades rotineiras. Além disso, também se observa a presença do uso da fotografia nas atividades desenvolvidas pela pedagoga da instituição, que ressalta a presença da fotografia nas atividades realizadas: “[...] a fotografia está sempre inserida em minhas atividades. Seja por meio do livro didático, seja por algum cartaz extra que levo para sala, seja por meio das mídias.”.

No entanto, nesse primeiro momento, observou-se que a fotografia não é um recurso pedagógico muito utilizado nas atividades de educação física, sendo explícito pelo docente que só a utiliza quando este é inserido no portfólio ou por meio de outras diretrizes da instituição de ensino.

Também se constatou, na fala da P8, o uso da fotografia no início do ano letivo como parte do Projeto Identidade, fomentado pela Secretaria Municipal de Educação. Esse projeto se apoia nas diretrizes curriculares estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura, seguidas pela instituição de ensino, que trata da orientação aos docentes para que o primeiro tema abordado seja o acolhimento e a identidade da criança na escola.

Esse projeto busca seguir as diretrizes estabelecidas pela BNCC, que estabelece as diretrizes e os campos de experiências a serem desenvolvidos na primeira etapa da educação básica, compreendendo “o eu, o outro e o nós”.

De acordo com a BNCC, o primeiro campo de experiência a ser desenvolvido na educação infantil consiste em “o eu, o outro e o nós”, que compreende a construção das próprias experiências e da identidade da criança, a interação das crianças com os pares e adultos, em suma, oportuniza à criança a construção de experiências, o que é parte fundamental do processo da construção da identidade (Brasil, 2017).

A BNCC enfatiza que: “É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista.” (Brasil, 2017, p. 40).

Assim, o Projeto Identidade é aplicado no plano de aula de cada docente, utilizando como apoio para o desenvolvimento das atividades o livro Aprende Brasil (Figura 1), que faz parte do material didático disponibilizado para as escolas municipais, rico em ilustrações, como imagens e mapas, e adequado para a faixa etária da educação infantil, seguindo as diretrizes estabelecidas pela BNCC.

Fonte: Acervo próprio (2019).

Figura 1 - Foto de realização de atividade por meio do livro Aprende Brasil. 

Dando prosseguimento, os docentes foram questionados quanto ao seu entendimento acerca do uso da fotografia como recurso pedagógico, enfatizando a opinião de cada participante sobre a importância da fotografia nas atividades escolares, o que foi respondido conforme Quadro 2.

Analisando a percepção de cada docente, observou-se a importância da fotografia para a construção da identidade da criança, sendo considerada um recurso pedagógico que auxilia na aquisição de conhecimento sobre si e sobre o outro, compreendendo as particularidades de cada um, sendo compreendida como um exercício de autorreconhecimento, em que as crianças constroem suas identidades através das experiências vivenciadas no dia a dia e das diferenças identificadas entre o eu e o outro.

Quadro 2 - Importância da fotografia como recurso pedagógico 

Q2: Você entende que a fotografia é um recurso pedagógico importante?
P1 É importante porque serve de base para registro diário e ajuda no acompanhamento da criança.
P2 É importante para que a criança conheça e reconheça a diferença entre elas e os colegas.
P3 Acho importante, sim. Para mostrar as fotos das crianças fazendo atividades para os pais e comunidade em geral.
P4 Sim, muito importante.
P5 Sim. A fotografia é um recurso lúdico pedagógico, pode ser utilizada como meio de aprimorar o olhar das crianças em relação ao ambiente a que pertencem e também de fazer com que elas descubram novas maneiras de enxergarem a si mesmas (identidade).
P6 É muito importante e auxilia no processo de desenvolvimento da criança.
P7 Sim.
P8 Sim. Por causa do exercício do autoconhecimento. Mesmo não sendo letradas, as crianças precisam se identificar umas com as outros e se autoconhecer.

Fonte: Elaboração do autor.

Identificar e compreender “o eu, o outro e o nós” consiste nos saberes e conhecimentos que compõem os campos de experiências defendidos pela BNCC, a qual é responsável por promover as primeiras experiências sociais da criança na educação infantil, construindo suas percepções e questionamentos em relação a si e aos outros e identificando as diferenças entre si, “[...] identificando-se como seres individuais e sociais [...]” (Brasil, 2017, p. 40). Assim, ao mesmo tempo que a criança participa das relações sociais e culturais, ela amplia sua percepção sobre si mesma e sobre o outro, aprendendo a valorizar sua identidade, respeitando as diferenças e reconhecendo que cada ser humano possui sua identidade única.

Desse modo, o uso da fotografia nas atividades da educação infantil busca justamente evidenciar as diferenças e particularidades de cada pessoa, a reconhecer a si e ao outro em uma foto, por exemplo. De acordo com Ferreira (2013, p. 89) as fotografias “[...] são carregadas de símbolos e imagens que possibilitam às pessoas identificar-se intimamente com seus elementos de diferentes maneiras ao longo do tempo e em diferentes lugares [e] carregam a identificação com as fisionomias e os sentimentos [...]”.

Assim, ao serem querem questionados sobre a contribuição do uso da fotografia para o desenvolvimento da identidade da criança, os docentes afirmaram o constante no Quadro 3.

Quadro 3 - A fotografia como contribuição no desenvolvimento da identidade 

Q3: Você compreende que a fotografia pode contribuir para o desenvolvimento da identidade da criança?
P1 A fotografia contribui para o desenvolvimento cognitivo e psicológico da criança, além de auxiliar o trabalho do professor, sendo mais um recurso pedagógico.
P2 No quesito eu e o outro, a fotografia é um importante recurso para exercitar esse objetivo da BNCC. Auxilia a assimilar nome e foto. Ajuda na alfabetização.
P3 Contribui sim.
P4 Sim, o campo pedagógico da BNCC “eu, o outro e o nós” exige do professor o trabalho com a identidade. Usando o lúdico, o docente tem diversas possibilidades de propiciar o desenvolvimento integral da criança.
P5 Sim. Ele pode contribuir na formação, identidade, memória, cultura, nova era da tecnologia, entre outros.
P6 Sim, contribui em diversos momentos. A criança tende a identificar ela própria, os colegas, a professora, entre outros. A fotografia é um recurso muito importante porque, por meio dela, é possível alcançar diversos objetivos pedagógicos.
P7 Sim.
P8 Com certeza.

Fonte: Elaboração do autor.

Observa-se que o uso da fotografia está ligado ao desenvolvimento da competência “o eu, o outro e o nós”, sendo enfatizado pelos professores que sua utilização auxilia na construção da identidade da criança, através da identificação de si e do outro nas fotografias e nas atividades que utilizam as fotos dos componentes familiares, por exemplo.

A utilização da fotografia também consiste em um recurso pedagógico que auxilia no processo de alfabetização e letramento da criança, a qual começa a compreender e identificar o seu nome ou o de seus colegas de turma ou familiares através da foto versus nome, em que são coladas algumas fotos de pessoas próximas da criança em um cartão ou no livro didático e abaixo é escrito o nome da pessoa da foto para que a criança inicie o processo de letramento e alfabetização através da assimilação da imagem e da letra.

De acordo com Aguiar (2019, p. 13), “É através da fotografia que as crianças produzem suas primeiras narrativas, mesmo quando ainda não sabem ler, desenvolvem a ficção e aprendem a ler pelas imagens.”. A leitura da imagem possibilita à criança interpretar e recriar o mundo com seu olhar, com sua imaginação.

Assim, a leitura da imagem pela criança e a associação desta ao nome escrito abaixo da fotografia também consiste na construção da sua identidade, uma vez que a criança terá a oportunidade de aprender as letras do seu nome e a reconhecer sua fisionomia nas fotografias.

Além disso, também foi posicionado pelos professores a contribuição da fotografia “[...] na formação, identidade, memória, cultura, na nova era da tecnologia entre outros” (fala do P5). Nesse sentido, é possível compreender a fotografia como um recurso pedagógico capaz de promover não apenas o conhecimento de si e do mundo, mas também a ampliação das suas experiências sensoriais, expressivas, corporais, cultural e social (Brasil, 2009).

A Resolução nº 05/2009 vai enfatizar justamente essas experiências que devem obrigatoriamente ser desenvolvidas na educação infantil, utilizando-se de práticas pedagógicas que viabilizem a imersão das crianças nas diferentes linguagens e formas de expressão, na aquisição da identidade e autonomia, na construção das experiências sociais e culturais e no desenvolvimento integral da criança (Brasil, 2009).

Nesse sentido, em consonância com essa abordagem, foi perguntado aos docentes quanto ao interesse demonstrado pelas crianças nas atividades que envolvem o uso da fotografia, sendo enfatizadas as falas constantes no Quadro 4.

Quadro 4 - Interesse da criança nas atividades com fotografia 

Q4: As crianças demonstram interesse em atividades que utilizam a fotografia?
P1 Demonstram sim. As crianças ficam muito animadas em ver as fotos delas nas atividades.
P2 Demonstram muito interesse. As crianças gostam de se ver e de identificar os colegas nas fotos.
P3 Sim, eu penso que a fotografia e o vídeo motivam as crianças a participarem das aulas. Principalmente as crianças dos maternais.
P4 Sim... observo que elas gostam muito.
P5 Sim. Podemos observar um enorme interesse, interação e desenvolvimento.
P6 Sim, demonstram muito interesse. Nos cartazes coletivos, eles observam as imagens e interagem entre eles e também com a professora e os demais profissionais da sala de aula.
P7 Sim.
P8 Sim, eles sorriem, querem passar as mãos, apontam os colegas e a si mesmo, entre outros.

Fonte: Elaboração do autor.

Diante das manifestações dos docentes, observa-se que o uso da fotografia é bem aceito pelas crianças nas atividades realizadas no CMEI Santa Lúcia, as quais despertam o interesse e a interação para realizar a atividade proposta pelos professores, sendo enfatizada a motivação abarcada pelas crianças do maternal, que se interessam e tendem a se concentrar com maior frequência nessas atividades.

Segundo Câmara et al. (2017), o uso das fotografias nas atividades aplicadas para as crianças no ensino infantil é benéfico para o desenvolvimento da identidade da criança, em razão de sua capacidade “[...] de alcançar níveis de percepção humana que outros meios não alcançam, ampliando o leque de opções, para a excursão de atividade a serem realizadas dentro e fora da instituição de ensino.” (Câmara et al., 2017, p. 249).

Também se constatou que, ao utilizarem a fotografia nas atividades na educação infantil, as crianças manifestam a vontade de tocar na imagem e apontam as imagens dos seus colegas como forma de reconhecimento do outro, o que contribui para a interação e o desenvolvimento das relações sociais, que também constituem o processo de aquisição da identidade, pois, conforme apontado pelo RCNEI (Brasil, 1998a), a construção da identidade ocorre de forma gradativa e é estabelecida através das interações sociais.

Dando prosseguimento, os docentes foram questionados acerca da possibilidade de desenvolvimento de habilidades através do uso da fotografia no ensino infantil e suas respostas são apresentadas no Quadro 5.

Quadro 5 - Manifestações acerca do desenvolvimento infantil através da fotografia 

Q5: Você entende que as crianças desenvolvem alguma habilidade através de atividades com fotografia? Se sim, quais?
P1 Sim, com certeza. A fotografia tende a nos levar a compreender as artes plásticas e a levar as crianças a exercitarem o olhar observador e crítico de reconhecimento e atenção.
P2 A observação das fotos exercita as crianças a fazer leituras de imagens, traços, desenhos, entre outros.
P3 Sim, equilíbrio, lateralidade. Motiva para o exercício da observação.
P4 Sim, com certeza, muitas habilidades. Percebo o quanto as crianças podem observar a si mesmas e o outro e, assim, há possibilidades de trabalho em relação ao respeito com o próximo, empoderamento da criança, exercício da observação de imagem, leitura de mundo, entre outros. A fotografia também auxilia na inclusão das crianças com necessidades especiais.
P5 Sim. A atividade com fotografia é prazerosa, a criança aprende a respeitar o outro, trabalhar com cores, recortes, percepção espacial, expressões, emoções, entre outros.
P6 Sim, com certeza; trabalhamos as diferenças, reconhecimento de si e do outro, respeito para com o próximo, socialização, entre outros.
P7 Sim. Estimulação da imaginação, a criatividade, ampliação das relações interpessoais, entre outras.
P8 Sim, autoconhecimento, observação, desenvolvem a fala, entre outros.

Fonte: Elaboração do autor.

Observa-se a amplitude de habilidades e capacidades que podem ser desenvolvidas na criança através do uso da fotografia como recurso pedagógico. Com base nas manifestações dos docentes, a fotografia possibilita o desenvolvimento do olhar crítico e observador da criança, que, ao manusear uma imagem fotográfica, observa os mínimos detalhes e reconhece as expressões e os sentimentos explícitos nas imagens.

Nesse sentido, Lima (2015) ressalta a importância de oportunizar à criança o contato com as imagens, principalmente para desenvolver um trabalho quanto ao olhar da criança para a leitura das fotografias e imagens, com o objetivo de estimular seu olhar crítico no que diz respeito às imagens que estão presentes no cotidiano dela, bem como permitir a compreensão de que existem várias percepções para uma mesma fotografia e que isso será lido por cada pessoa com base na realidade em que está inserida.

Essa habilidade de leitura das imagens também está relacionada à aquisição da competência dos “traços, sons, cores e formas” enfatizada pela BNCC (Brasil, 2017, p. 41), que compreende as experiências com diferentes manifestações artísticas e culturais como uma forma de expressão e linguagens, dada através das artes visuais (incluindo a fotografia), da dança, do movimento, da música, etc.

Essas experiências contribuem para o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade e expressão pessoal das crianças, que, ao se apropriarem e reconfigurarem suas manifestações artísticas, potencializam suas singularidades e principalmente a construção da sua identidade (Brasil, 2017), também apresentadas pelos docentes como habilidades desenvolvidas através do uso da fotografia.

Ainda foi possível observar o uso das fotografias na CMEI Santa Lúcia como recurso pedagógico para a inclusão de crianças com necessidades especiais, essencialmente por meio do enfoque no reconhecimento de si e do outro, trabalhando assim o respeito ao próximo, as diferenças e semelhanças, o que constitui parte fundamental na construção da identidade.

Esse uso da fotografia como recurso para inclusão de crianças com necessidades especiais é defendido pelo RCNEI (Brasil, 1998a), que enfatiza que a forma como cada criança identifica a si mesma também consiste no modo como é vista pelas outras crianças. As particularidades de cada indivíduo são recebidas tanto pelo professor, quanto pelo grupo de alunos, resultando em um grande impacto na formação da sua personalidade e identidade.

Trazendo para a inclusão de crianças com necessidades especiais, o RCNEI (Brasil, 1998, p. 13) ressalta que “[...] quando o grupo a aceita em sua diferença está aceitando-a também em sua semelhança, pois, embora com recursos diferenciados, possui, como qualquer criança, competências próprias para integrar com o meio.”.

Prosseguindo a análise, foi perguntado aos docentes quanto às atividades em que estes utilizam a fotografia como recurso pedagógico, a fim de compreender as atividades inseridas na educação infantil que contribuem para a construção da identidade da criança. Para essa pergunta, foi respondido o constante no Quadro 6.

Quadro 6 - Atividades que utilizam da fotografia como recurso pedagógico 

Q6: Quais atividades com uso da fotografia você já aplicou em sala de aula?
P1 Registros de fotos de atividades antes, durante e depois da execução de determinada atividade.
P2 Identificação das mesas, assimilação da foto ao nome.
P3 Localização do colega por meio de fotos. Gincana das fotos, identificação da identidade, reconhecimento de si mesmo e do outro.
P4 Verificação e observação da evolução das crianças por meio de fotos.
P5 Releituras, música (paródia), teatro.
P6 Sim, por meio da Chamadinha a criança decodifica nome versus foto.
P7 Atividades de reconhecimento de identidade, lugar e objetos.
P8 Dinâmicas com caixa de leite, painéis da turma, Chamadinha com fotos e nomes, entre outros.

Fonte: Elaboração do autor.

Frente às atividades abordadas, observa-se uma unanimidade do uso da fotografia nas atividades de reconhecimento do eu e do outro, oportunizando a percepção das crianças acerca das diferentes visões e percepções sobre uma mesma imagem, em que é possível transmitir emoções, sentimentos, memórias e experiências.

A fotografia ativa o senso de imaginação da criança. Ao realizar uma leitura de uma fotografia, a criança impõe sua imaginação, sua criatividade, sua sensibilidade e sua inocência. A criança traz para sua percepção aquilo que ela vê e também aquilo que ela gostaria que fosse ilustrado. No estudo realizado por Lima (2015), é possível observar a fotografia sob o senso de assinatura, que consiste na ideia de criação de identidade daquele que fotografa bem como daquele que realiza a leitura da imagem.

Para Santos (2010 apudLima, 2015, p. 76), “[...] a fotografia passa a ser percebida também na maneira como o fotógrafo traduz na imagem, na organização dos seus elementos constituintes, um modo de (re)criar a realidade.”.

Pereira e Agostinho (2015) afirmam que o uso da fotografia na educação infantil promove o desenvolvimento da expressão e vivência da dimensão estética, sendo um recurso pelo qual a criança manifestará a arte, dando espaço também para a construção das manifestações culturais individuais, que se soma à construção da identidade da criança.

Nesse questionamento, foi possível identificar que a maioria das atividades utilizadas pelos docentes com uso da imagem se limita a fotografias das crianças e dos familiares, à assimilação da foto com o nome da criança - que consiste na Chamadinha, como apontam os docentes - e ao reconhecimento de lugares, objetos e pessoas nas fotografias apresentadas em sala de aula.

Dada essa observação, foi questionado quanto às atividades que os professores tinham interesse em aplicar em sala de aula, mas, por falta de oportunidade e/ou recursos, ainda não foram desenvolvidas, sendo indicado o constante no Quadro 7.

Quadro 7 - Manifestação acerca das atividades com uso da fotografia 

Q7: Quais atividades você tem interesse em aplicar, mas ainda não teve oportunidade, seja devido à falta de materiais ou outros recursos?
P1 Antigamente, eu não fazia porque não tinha recurso. Hoje, eu comprei impressora e eu mesma imprimo e faço os meus trabalhos. Interessante que os livros didáticos estão com propostas para uso constante de fotos, entretanto não temos esse apoio como recurso primordial por parte da Secretaria de Educação.
P2 Atualmente, eu consigo fazer atividades com fotos porque também comprei impressora. Há um tempo atrás, não tinha condições de custear meus trabalhos com fotos. Hoje, já faço mais.
P3 Não fiz porque acho que na minha disciplina é mais difícil.
P4 Eu, como pedagoga, sempre sugiro que a fotografia seja usada, de acordo com o plano de aula, como suporte educacional.
P5 Criação com uso de tecnologia.
P6 Gostaria de ter feito um mural com a fotografia da turma, não o fiz em 2020 por causa do tempo, não tivemos contato direto com as crianças em virtude da pandemia. A falta de recursos também dificulta a realização de atividades com fotos.
P7 Levar as crianças em um ambiente agradável para que elas pudessem fotografar umas às outras para uma possível exposição.
P8 Atividades com fotos coloridas; até hoje, só pude desenvolver atividades com fotos em preto e branco. Penso que, se tivesse o recurso das fotos coloridas, as atividades seriam mais bem aproveitadas.

Fonte: Elaboração do autor.

Podemos observar que os docentes possuem limitações para desenvolver atividades com uso de imagens e fotografias em sala de aula como recurso pedagógico. Essas limitações são oriundas da ausência de recursos disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação e pelo CMEI Santa Lúcia, que não dispõe de impressoras com toner colorido para impressão das fotografias e imagens coloridas.

Na maioria das situações em que são trabalhadas a fotografia em sala de aula, os professores utilizam de recurso próprio para impressão das atividades com imagens, a fim de incluir o uso da fotografia no ensino infantil, dada a importância desse recurso pedagógico para o desenvolvimento da identidade da criança, das competências e habilidades sensoriais e cognitivas, do pensamento crítico e da autonomia.

Essa ausência de recursos que dificulta o uso da fotografia no ensino infantil é discutida por Santos, Miranda e Gonzaga (2018), que descrevem a ausência de condições e atualizações para atuação do educador, dada a parcialidade da escola frente às transformações socioculturais que vem ocorrendo desde a inclusão da fotografia e de imagens como recurso didático-pedagógico.

Diante das manifestações dos docentes, observa-se a intencionalidade de aplicar atividades com o uso da tecnologia (câmera fotográfica) para o desenvolvimento de atividades com imagens na educação infantil. Uma atividade que chamou a atenção foi a mencionada pela P7, que consiste em “levar as crianças em um ambiente agradável para que elas pudessem fotografar umas as outras para uma possível exposição”.

O ato de conduzir as crianças a um ambiente agradável, com diversidade de natureza, que desperte na criança a imaginação e criatividade contribui para o desenvolvimento da sensibilidade, da expressão, das diferentes formas de linguagem, refletindo sobre o desenvolvimento da imaginação e criatividade da criança e consequentemente na construção da identidade e autonomia.

Esse desenvolvimento de competências e habilidades propostas pelo uso da fotografia é defendido por Câmara et al. (2018) como uma ferramenta primordial, uma vez que a imagem permite ao indivíduo alcançar níveis de aprendizado e percepções não alcançados por outro meio de atividade, possibilitando a leitura crítica da imagem e/ou fotografia. Câmara et al. (2018, p. 246) afirmam que: “Essa ferramenta cria mecanismos reflexivos, onde os alunos serão capazes de interpretar, visando à criação de novas mensagens e informações, construindo sua própria identidade, de manheira criativa e eficaz.”.

Com base nessa atividade sugerida pelos docentes, foi possível retomar os estudos realizados por Cunha e Ferreira (2015), que buscavam, através da inserção da fotografia, aprimorar o olhar das crianças de modo que enxergassem novas potencialidades sobre o ambiente inserido, vislumbrando a criticidade, a observação e a atenção da criança. A realização de atividades que utilizem a fotografia pela ótica da criança, estimulando os seus registros fotográficos, contribuem para o desenvolvimento das “[...] expressões, percepções, ideias e emoções [...]” (Cunha e Ferreira, 2015, p. 41240), sendo enfatizado que, apesar da limitação do espaço, isso não restringiu a imaginação da criança, que foi além das expectativas criadas pelos docentes.

Desse modo, através da fotografia, denota-se a oportunidade de as crianças experimentarem a liberdade de escolha, a autonomia, a habilidade de produção e expressão, o seu pensamento crítico e principalmente a construção de sua identidade, que, conforme evidenciado pelo RCNEI (Brasil, 1998a, p. 13), “[...] diz respeito ao conhecimento, desenvolvimento e uso dos recursos pessoais para fazer frente às diferentes situações da vida.”.

Em análise final, os docentes foram questionados acerca do seu entendimento quanto à idade mínima para usar a fotografia como recurso pedagógico no ensino infantil, sendo respondido o constante no Quadro 8.

Quadro 8 - Limitação de idade para uso da fotografia como recurso pedagógico 

Q8: Você acha que tem alguma idade específica para usar a fotografia como recurso pedagógico? Por quê?
P1 Não, todas as crianças têm capacidade para aprender e se desenvolver independentemente da idade.
P2 Acredito que as crianças menores não assimilam muito. As crianças maiores tendem a compreender um pouco mais acerca de se identificar nas fotos e nos vídeos.
P3 Não. Todas as crianças são capazes de se desenvolver.
P4 O uso da fotografia não tem idade para ser utilizada. Em todas as fases da escolarização, seu uso é primordial.
P5 Não. A fotografia é um recurso pedagógico que deve ser utilizado em todos os segmentos de ensino, apresenta diferentes habilidades a serem desenvolvidas com os discentes.
P6 Não tem idade específica para trabalhar com a fotografia. Ela é primordial de ser usada em todas as fases do ser humano.
P7 Não. A criança, desde a sua primeira faixa etária, deve receber estímulos como acesso a diferentes tipos de imagens, iniciando o seu processo cognitivo de leitura e comunicação visual para análise e reconhecimento de espaços e fatores, fazendo descobertas gradativamente dos contextos que a cercam.
P8 Não. Quanto mais cedo usar melhor, para que haja maior desenvolvimento das crianças a partir desse recurso pedagógico tão rico e importante.

Fonte: Elaboração do autor.

Desse modo, é notório que a maioria dos docentes compreende que a fotografia pode ser inserida na educação infantil, sem limitação de idade, como um recurso pedagógico que auxilia no desenvolvimento das competências e habilidades da criança e para a construção da sua identidade e autonomia, possibilitando que, através dela, a criança possa estimular sua criatividade, seu senso crítico, sua personalidade, seus gostos e suas vontades, sua imaginação, enfim, sua marca.

É importante enfatizar a fala de um docente (P7) que colabora para a promoção e o incentivo do uso da fotografia na educação infantil:

A criança, desde a sua primeira faixa etária, deve receber estímulos com o acesso a diferentes tipos de imagens, iniciando o seu processo cognitivo de leitura e comunicação visual para análise e reconhecimento de espaços e fatores, fazendo descobertas gradativamente dos contextos que a cercam.

Trabalhar com a imagem, com a fotografia em sala de aula promove o desenvolvimento do pensamento, da imaginação, da sensibilidade, da percepção e da cognição da criança, favorecendo assim a construção e o desenvolvimento de suas capacidades criativas na educação infantil.

A fotografia torna-se então um recurso pedagógico significativo no contexto desse segmento educacional, possibilitando a aquisição de diferentes formas de linguagem, de percepção e produção da subjetividade, construindo uma arte capaz de auxiliar a criança na construção de sua identidade, auxiliando-a nesse processo que é carregado de grandes descobertas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa coloca em discussão o uso da fotografia como recurso pedagógico, a fim de compreender como ela é utilizada na educação infantil para auxiliar no desenvolvimento da identidade da criança, apresentando a importância desse recurso como proposta lúdica e pedagógica para esse segmento educacional.

Nesse sentido, ao analisar o uso da fotografia como recurso pedagógico para o desenvolvimento da identidade da criança no CMEI Santa Lúcia, em Presidente Kennedy (ES), pode-se constatar que os docentes compreendem a sua importância na educação infantil, tanto que a maioria deles faz esse uso nas atividades diárias ministradas para as crianças.

Observou-se que o CMEI Santa Lúcia desenvolve um projeto denominado Projeto Identidade, que consiste na elaboração de planos de aula voltados ao desenvolvimento da identidade da criança. Entre os recursos utilizados no projeto está a fotografia, através das ilustrações de imagens e mapas, das histórias e da foto da criança que é registrada no livro Aprende Brasil, um material didático disponibilizado para as escolas da rede pública municipal com o objetivo de contribuir para a promoção de uma aprendizagem progressiva, articulada e interdisciplinar.

Além desse projeto, os docentes da instituição de ensino também se manifestaram positivamente quanto ao uso da fotografia em suas atividades corriqueiras, em que são explorados os recursos fotográficos através das ilustrações dos livros didáticos, das atividades em cartazes, em atividades com fotos das crianças e dos familiares e em diversas outras que trabalham o exercício de autorreconhecimento da criança.

Assim, constatou-se que a fotografia tem sido um recurso pedagógico utilizado pelos docentes com vistas a promover o desenvolvimento da identidade da criança, sendo um meio que proporciona o aprimoramento do olhar da criança em relação ao ambiente, contribuindo para que descubra coisas novas sobre o ambiente à sua volta, mas principalmente sobre si mesma, compreendendo suas particularidades, características e vontades. Reconhecendo, assim, que existem diferenças entre as pessoas, e que são essas diferenças que contribuem para que cada um tenha uma identidade própria.

O estudo também proporcionou uma visão acerca do uso da fotografia como recurso para inclusão de crianças com necessidades especiais na instituição de ensino, em que os docentes afirmaram utilizar esse recurso para trabalhar a inclusão na educação infantil não apenas pela criança com necessidades especiais, mas também pelos colegas de turma. Dessa maneira, através da construção da identidade, as crianças compreendem as diferenças entre elas e entendem que estas existem para que cada um tenha uma identidade própria, única.

Frente ao exposto, a presente pesquisa alcançou com êxito os objetivos propostos, de modo que não apenas se constatou o uso da fotografia como recurso pedagógico, como também foi possível examinar que os docentes compreendem a importância da fotografia para trabalhar a construção da identidade da criança. A construção da identidade nada mais é que a aquisição de novas descobertas, da ressignificação, dos novos sentimentos, da construção dos valores e costumes, da ideologia, do caráter, das ideias, das relações sociais, da compreensão da vontade, da confiança em si próprio, na aceitação, na segurança, enfim, na formação pessoal como sujeito de direito.

Desse modo, conclui-se que esta pesquisa contribuiu para a discussão acerca do uso da fotografia como recurso pedagógico e pela ênfase na importância desse recurso na construção da identidade da criança nos CMEI, promovendo uma reflexão para os docentes para que continuem adotando a fotografia como ferramenta para a construção da identidade da criança.

Como proposta de contribuição para o contexto escolar infantil, foi elaborado um produto educacional em formato de cartilha com propostas de atividades que utilizam a fotografia e auxiliam na construção e no desenvolvimento da identidade da criança.

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1 Este artigo é um recorte da dissertação de mestrado, elaborado pela autora principal, Marta Alessandra dos Anjos, que propôs uma discussão sobre o uso da fotografia como prática pedagógica no desenvolvimento da identidade da criança na educação infantil.

Financiamento: O estudo não recebeu financiamento.

Recebido: 25 de Agosto de 2021; Aceito: 07 de Março de 2022

Marta Alessandra dos Anjos é mestre em Ciência, Tecnologia e Educação pela Faculdade Vale do Cricaré (FVC). E-mail: profmartaalessandra@gmail.com

Sônia Maria da Costa Barreto é doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora da Faculdade Vale do Cricaré (FVC). E-mail: soniamcb@terra.com.br

Conflitos de interesse: As autoras declaram que não possuem nenhum interesse comercial ou associativo que represente conflito de interesses em relação ao manuscrito.

Contribuições dos autores: Análise Formal, Investigação, Metodologia, Escrita - Primeira Redação, Escrita - Revisão e Edição: ANJOS, M. A. Supervisão: BARRETO, S. M. C.

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