SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.28Escrevivências: possibilidades para uma educação antirracistaPESQUISANDO O CONHECIMENTO DA FAMÍLIA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA DE RECONHECIMENTO E CONVIVÊNCIA índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Revista Brasileira de Educação

versão impressa ISSN 1413-2478versão On-line ISSN 1809-449X

Rev. Bras. Educ. vol.28  Rio de Janeiro  2023  Epub 09-Out-2023

https://doi.org/10.1590/s1413-24782023280094 

Artigos

Raul Rodrigues Gomes e o Manifesto de 1932: ações na imprensa por um plano nacional de educação (1931-1932)

RAUL RODRIGUES GOMES AND THE 1932 MANIFEST: ACTIONS IN THE PRESS FOR A NATIONAL EDUCATION PLAN (1931-1932)

RAUL RODRIGUES GOMES Y EL MANIFIESTO DE 1932: ACCIONES EN LA PRENSA PARA UN PLAN NACIONAL DE EDUCACIÓN (1931-1932)

Dulce Regina Baggio OsinskiI 
http://orcid.org/0000-0002-3506-4974

IUniversidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.


RESUMO

Este artigo analisa a trajetória do intelectual educador e jornalista Raul Rodrigues Gomes (Piraquara, 1889 – Curitiba, 1975), relacionando-a ao movimento que culminou, em 1932, com o Manifesto pela Educação Nova, do qual foi signatário. Recorrendo-se a publicados na imprensa, a noção de trajetória será operacionalizada com base em Bourdieu, sendo o conceito de intelectual problematizado no diálogo com Gramsci, Vieira, Sirinelli e Gomes. O educador participou ativamente do cenário cultural e educacional paranaense, contribuindo para a criação de instituições culturais e dialogando com o público por meio da imprensa. Entre os anos de 1931 e 1932, em artigos publicados no jornal O Dia, foi assídua sua defesa da primazia da educação nos planos de reconstrução nacional e de um plano nacional de educação para o país a partir de pressupostos como a unidade do ensino em seus diversos níveis, a educação como direito de todos, a laicidade, a obrigatoriedade e a coeducação.

PALAVRAS-CHAVE história da educação; educação e imprensa; Raul Rodrigues Gomes; Manifesto de 1932; educação nova

ABSTRACT

This article analyzes the trajectory of the intellectual, educator and journalist Raul Rodrigues Gomes (Piraquara, 1889 – Curitiba, 1975), relating it to the movement that culminated in the Manifesto pela Educação Nova (1932), which he signed. By drawing on articles published in the press, the notion of trajectory is mobilized with reference to Bourdieu, and the concept of “intellectual” is problematized by dialoguing with Gramsci, Vieira, Sirinelli, and Gomes. The educator participated in the cultural and educational scene in Paraná, helping to create cultural institutions and debating with the public through the press. Between 1931 and 1932, in articles published in the newspaper O Dia, he defended the primacy of education in national reconstruction plans and the idea of a national education plan for the country based on some assumptions, such as the unity of teaching in its different levels, education as a right for all, secularism, obligatoriness, and co-education.

KEYWORDS history of education; education and press; Raul Rodrigues Gomes; Manifest of 1932; new education

RESUMEN

Este artículo analiza la trayectoria del educador intelectual y periodista Raul Rodrigues Gomes (Piraquara, 1889 – Curitiba, 1975), relacionándola con el movimiento que culminó con el Manifiesto pela Educação Nova (1932), del que fue signatario. A partir de artículos publicados en la prensa se operacionalizará la noción de trayectoria a partir de Bourdieu, siendo problematizado el concepto de intelectual en el diálogo con Gramsci, Vieira, Sirinelli y Gomes. El educador participó en el escenario cultural y educativo de Paraná, contribuyendo a la creación de instituciones culturales y dialogando con el público a través de la prensa. Entre 1931 y 1932, en artículos publicados en el diario O Dia, defendió la primacía de la educación en los planes de reconstrucción nacional y de un plan nacional de educación para el país basado en supuestos como la unidad de la enseñanza en sus diferentes niveles, la educación como derecho de todos, laicidad, obligatoriedad y coeducación.

PALABRAS CLAVE historia de la educación; educación y prensa; Raúl Rodrigues Gomes; Manifiesto de 1932; nueva educación

INTRODUÇÃO

Minha política é a da educação. Meu partido é o da educação. Minha religião é a da educação. (Gomes, 1932d, p. 2)

As palavras acima, proferidas em artigo publicado no jornal O Dia, em circulação na Curitiba da década de 1930, sumarizam a opção de dedicar sua vida à causa educacional, feita pelo único intelectual paranaense a assinar, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova. Nesse texto buscamos investigar a trajetória de Raul Rodrigues Gomes no sentido de compreender sua participação neste momento emblemático da história da educação brasileira.

Tal investigação justifica-se pelo fato de as pesquisas sobre o Manifesto, embora abundantes e multitemáticas, privilegiarem signatários mais proeminentes, como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme ou Lourenço Pinto, ou problematizarem lateralmente outros, a exemplo de Cecília Meireles, Sampaio Dória ou Afrânio Peixoto. Isso ocorre em detrimento de partícipes considerados de menor relevância no âmbito daqueles acontecimentos, como ocorre com Raul Gomes.1 No âmbito da historiografia do Paraná, o personagem integra a trama que inclui educadores como Erasmo Pilotto, Eny Caldeira, Dario Vellozo e Lysimaco da Costa, objetos de inúmeras pesquisas, merecendo, da mesma forma, investimentos pela relevância de suas ações.

A noção de trajetória ancora-se em Bourdieu (1996, p. 189), que a concebe como a “[…] série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente […] num espaço que é ele próprio um devir, estando sujeito a incessantes transformações”. Já o conceito de intelectual será aqui problematizado com base em Gramsci (2004), que o define como um organizador da cultura e um interventor ativo na cena pública em favor de transformações sociais. Raul Gomes pode ser incluído na categoria dos intelectuais mediadores, os quais são concebidos por Gomes e Hansen (2016, p. 10) como aqueles envolvidos com a “[…] produção de conhecimentos e comunicação de ideias, direta ou indiretamente vinculados à intervenção político-social”. Para Sirinelli (2003), eles comporiam, junto com os criadores culturais, uma categoria mais ampla que incluiria os escritores, jornalistas e professores. É também pertinente o diálogo com Vieira (2011, p. 29), que propõe a explicação histórica do intelectual como agente coletivo pautado por quatro aspectos:

a) Sentimento de pertencimento ao estrato social que, ao longo dos séculos XIX e XX, produziu a identidade social do intelectual; b) engajamento político propiciado pelo sentimento de missão ou de dever social; c) elaboração e veiculação do discurso que estabelece a relação entre educação e modernidade; d) assunção da centralidade do Estado como agente político para a efetivação do projeto moderno de reforma social.

O tom missionário observado na epígrafe deste texto é constante na produção de Raul Gomes, que elegeu a imprensa como arena de suas intervenções pela educação e pela cultura. Identificado com valores modernos,2 especialmente os relacionados aos movimentos renovadores da educação emergentes no Brasil a partir da década de 1930,3 seu círculo não se restringia aos intelectuais atuantes no contexto paranaense, revelando um esforço de inserção nacional. Gomes considerava-se partícipe de um coletivo de defensores da educação como fundamental para as reformas sociais necessárias ao projeto de país por eles idealizado e do Estado como viabilizador das transformações a serem implementadas.

Fontes privilegiadas para a presente investigação, os jornais diários são férteis no que se refere às possibilidades de problematização do passado. Em suas páginas, é possível encontrar a explicitação de projetos políticos e apreender visões de mundo. São eles verdadeiras janelas do tempo, por meio das quais conseguimos vislumbrar, “[…] em ampla medida, a complexidade dos conflitos e das experiências sociais” (Vieira, 2007, p. 13).

No caso de Raul Gomes, os artigos publicados em jornais consistiram na forma predileta de expressão de ideias e de diálogo com o público mais amplo, devendo ser interpretados como enunciados que visavam “[…] demarcar normas e fixar formas de pensar que se expressam como valores, juízos, modos de classificação, enfim, justificativas para a ação social” (Vieira, 2007, p. 14).

EDUCADOR E JORNALISTA ENGAJADO EM CAUSAS DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO

Nascido em 27 de abril de 1889 em Piraquara, Paraná, Raul Rodrigues Gomes era filho do português Joaquim Rodrigues Gomes, primeiro prefeito daquela cidade, e de Guilhermina Lisboa da Costa, descendente de fundadores de Curitiba (Coluna…, s.d.). Entre seus antepassados figuram os tios-avôs Capitão João de Souza Dias Negrão, que exerceu o cargo de Secretário da Instrução Pública do Paraná, e Major Ricardo de Souza Dias Negrão, colaborador do Diário do Comércio e redator-chefe no periódico O Democrata. Sua mãe foi professora pública da capital (Negrão, 1927), tendo seu pai atuado como correspondente do Diário do Comércio. Também fazia parte do círculo da família o professor normalista e jornalista Jayme Ballão, casado com uma prima sua, que era fundador e proprietário do Diário do Comércio, tendo também dirigido o Diário da Tarde e atuado como redator-secretário do A República (ibidem). Essas relações familiares com a educação e o jornalismo possivelmente contribuíram para sua decisão de se dedicar a essas duas profissões.

Sua carreira de professor iniciou-se em 1907, aos 18 anos, quando ele concluiu a Escola Normal de Curitiba, tendo sido nomeado para o exercício do magistério na cidade de Morretes. Também lecionou em Rio Negro, Paranaguá e Joinville, tendo participado, em 1915, da comissão responsável pelo recenseamento escolar do Paraná (Noticiário, 1915).

Em 1921, retornou definitivamente a Curitiba para assumir um cargo nos Correios do Paraná. A função de guarda-livros, exercida naquela instituição (Negrão, 1927) até 1938, tem relação direta com o Curso Prático de Guarda-Livro por ele fundado em 1919 e que funcionou por algumas décadas,4 sendo anunciado com frequência nos jornais da cidade com a promessa de “[…] preparo individual, rápido e garantido de escrituração mercantil, redação completa, datilografia, etc.” (Curso…, 1927, p. 4). A essas atividades se somaram mais tarde as exercidas no ensino secundário público,5 no qual ingressou em 1940 como professor do Instituto de Educação do Paraná e ao qual se dedicou até sua aposentadoria em 1959 (Biblioteca…, 1975).

Sua formação superior ocorreu tardiamente, aos 41 anos, quando iniciou o curso de Direito na Universidade do Paraná, em 1931, concluindo-o em 1935 (Brandalise, 2016). Tal instrumental possibilitou-lhe o ingresso na carreira docente do ensino superior, quando, já com quase 60 anos, assumiu a cadeira de economia política na mesma faculdade que cursara. Com as defesas das teses de livre-docência (Gomes, 1946) e, dois anos mais tarde, de cátedra (Gomes, 1948), consolidar-se-ia sua carreira acadêmica, a qual só se encerrou compulsoriamente em 1959, quando ele já tinha 70 anos.

A participação de Raul Gomes em associações culturais e entidades de classe, muitas das quais ele ajudou a fundar, foi outra marca de sua trajetória.6 Chama atenção seu envolvimento com aquelas vinculadas à classe operária, para as quais contribuiu participando de comissões deliberativas ou proferindo palestras.7 Também foi um dos criadores da Operação Paraná de Liquidação do Analfabetismo (OPALA), em Morretes, e do Grupo Editorial Renascimento Paranaense (GERPA), especializado em publicação de clássicos e de obras de autores oriundos do estado do Paraná (Osinski e Brandalise, 2015).

Suas atividades como jornalista tiveram início ainda enquanto estudante, em 1906, com a fundação do jornal humorístico O Relâmpago (Gomes, 1973). Já em 1907 estreou como colaborador na revista A Escola, impresso do Grêmio dos Professores Públicos do Paraná (Gomes, 1907), momento em que teve início de modo mais sistemático uma produção enfatizando assuntos educacionais. Naquele mesmo ano atuou como redator do quinzenário Lutador, de Morretes (Notícias, 1907).

A colaboração com o Diário da Tarde inaugurou no mesmo período uma parceria que duraria por décadas e que incluiu funções diversas tais como as de repórter, redator, redator-secretário, redator chefe e diretor (Gomes, 1973). Em 1908, uma série de seis artigos intitulados “Assuntos Pedagógicos”, publicada entre 24 de novembro e 11 de dezembro, já trazia aspectos que caracterizariam o seu pensamento, como a defesa da educação pública e o anticlericalismo. Entre as questões ali abordadas, destacam-se a obsolescência dos regulamentos e das práticas de ensino, as condições precárias das escolas, o atraso metodológico, o desinteresse e a omissão dos professores e sua baixa remuneração. Num tom enfático que caracterizaria seu discurso, afirmou na ocasião que a solução para o progresso do Brasil e do Paraná seria apenas uma: “[…] o caminho do aperfeiçoamento dos meios de transmissão de ensino, o caminho é instruir o povo” (Gomes, 1908b, p. 1).

A exploração de assuntos de caráter educacional em textos encadeados ou publicados num mesmo período foi estratégia constante em seu percurso como jornalista, a exemplo dos artigos publicados no jornal A República comentando o relatório apresentado em 1914 pelo então Diretor da Instrução Pública, Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo, que propunha melhorias para a educação paranaense. Em outra ocasião, seu foco foi a situação profissional do professorado, tema abordado em diversos veículos. Esses dois conjuntos temáticos foram compilados por Gomes e publicados posteriormente com os títulos Instrução Pública no Paraná (Gomes, 1914) e Missão, e não Profissão (Gomes, 1928). Tais esforços, somados à edição da obra Versa Tribunicia (Gomes, 1925), explicitam a percepção sobre a efemeridade das publicações periódicas e o desejo de que suas ideias transcendessem a duração das páginas dos jornais diários.

Entre 1907 e 1975, ano de sua morte, publicou milhares de artigos em veículos paranaenses e nacionais.8 Àqueles assinados como “Raul Gomes” e, a partir de 1932, como “Raul Rodrigues Gomes”, somam-se muitos outros veiculados com pseudônimos.9 Entre os diversos assuntos, que incluem política, arte, cultura, economia e literatura, a educação assume papel de destaque.

Não se limitando a agir somente por meio da pena, desde muito jovem Raul Gomes demonstrou interesse de participar de projetos em prol da comunidade, fosse como idealizador, fosse como proponente ou coordenador. Membro da Associação Curitibana de Empregados do Comércio, integrou comissões de organização de eventos promovidos por aquela instituição, tais como bailes à fantasia (Carnaval…, 1907) e corridas de bicicleta (Grandes…, 1907). Gradativamente, passou a usar suas habilidades mobilizadoras aliando a ação propriamente dita com o poder de convencimento da opinião pública.

Foram muitas as campanhas por ele empreendidas ou apoiadas nos jornais paranaenses, algumas de cunho político, como a mobilização da população local, em 1910, contra a cessão de áreas do Paraná para Santa Catarina pelo Supremo Tribunal (Morretes, 1910). Na maioria das vezes, porém, seu foco eram os assuntos referentes à educação, à arte ou à cultura. Em 1925, integrou uma comissão para a ereção de um monumento em homenagem à professora Julia Wanderley,10 projeto concretizado dois anos depois (Ecos…, 1927). Em 1927, pronunciou-se sobre a necessidade de comemorar o centenário da lei que instituiu o ensino primário (Gomes, 1927). Utilizando os jornais para convocar professores e interessados para se reunirem, mobilizou a população local em torno do projeto, enviando correspondências a diversos estados brasileiros para que fizessem o mesmo.

Campanhas empreendidas para a melhoria do aparelhamento cultural geraram resultados práticos, como as que ele fez para a construção da Biblioteca Pública do Paraná, de outras bibliotecas no Estado e do Teatro Guaíra, para a fundação da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e pela federalização da Universidade do Paraná. Outras ideias foram advogadas de forma recorrente, a exemplo da defesa da dignidade da profissão docente, da instituição do dia do professor ou do combate ao analfabetismo.11 Na década de 1930, as necessidades de reformas e da implementação de um plano nacional para a educação foram objeto de suas preocupações, como veremos a seguir.

AÇÕES NA IMPRENSA POR UM PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

A necessidade de reformas educacionais integrou o discurso de Raul Gomes (1908a, p. 1) desde a primeira década do século XX, quando abordou o assunto nos textos “Assuntos pedagógicos”, sobre a situação paranaense:

Quando, aos domínios vastos da instrução conterrânea, começa agir fortemente o desejo grande de ser levada à efetivação proveitosa uma reforma radical, uma remodelação total, que elevem o ensino público a uma altura que se coadune com o nosso supino estado de progresso, uma parte considerável de professores deixa-se ficar em inação, apagada a velhos processos de ensino e praxes obsoletas.

O autor fazia críticas aos adeptos de ideias por ele consideradas obsoletas e atrasadas nesse campo:

São espíritos abcedados, refratários às modificações constantes para melhora das profissões de que tiram o meio de subsistência: são espíritos irritantemente conservadores que veem, nas reformas, abantesmas tétricos, que os obrigam a sair de suas comodidades. Inconteste a verdade que, com o decorrer dos tempos, a maneira de ensinar se foi desenvolvendo, ao influxo benéfico das provas concepções científicas, acompanhando par e passo o evoluir, lento, mas contínuo, dos múltiplos ramos da atividade humana. (Gomes, 1908a, p. 1)

Enaltecendo a pedagogia como arte e ciência, Gomes (1908a, p. 1) procurava atualizar seu leitor sobre seus movimentos mais recentes:

Ao lado de reformas sensíveis nos modos e processos de ensino, se fizeram radicais transformações nos métodos, que foram, à luz meridiana de novas concepções pedagógicas, ampliados e aumentados em seu número, pelo acréscimo de outros que, erudições de nomeada, proclamavam como a última palavra sobre o assunto.

A contraposição dos métodos da Escola Moderna com os então vigentes, tidos como tradicionais, foi estratégia de convencimento por ele utilizada com frequência. No último texto da série, dedicado a Dario Vellozo,12 teceu considerações sobre os efeitos de ambas as vertentes sobre a formação dos alunos:

O aluno atual, terminada a aprendizagem escolar — não tem elementos para nortear-se na vida; recomeça a aprender para poder subsistir; o aluno da Escola Moderna terminado o tirocínio, que é curto, acha-se preparado convenientemente para enfrentar, com muita probabilidade de vencer, porque tem um contingente forte de conhecimentos racionalmente adquiridos, a luta pela existência.

O aluno das escolas atuais é um raquítico, físico, intelectual e moral. O aluno da Escola Moderna, cujas virtudes não nos cansamos em apregoar, será um ser forte, hercúleo-intelectualmente pela aquisição racional e proveitosa de conhecimentos úteis; moralmente, pelo robustecimento e polimento de suas faculdades, na convivência com os docentes, no seguir de exemplos bons; fisicamente, pela continuidade de selecionados exercícios que revigorem seu organismo. (Gomes, 1908b, p. 1)

Embora Gomes não tenha deixado claras as referências que lhe davam suporte, a dedicação do texto deixa claro o diálogo empreendido com Dario Vellozo, de quem fora aluno na Escola Normal. Intelectual anticlerical e simpatizante da educação moderna, Vellozo era vinculado à maçonaria, ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e professor do Ginásio Paranaense e da Escola Normal em Curitiba. O programa pedagógico por ele idealizado, denominado justamente Escola Moderna, defendia uma educação laica, pública e obrigatória. Segundo Andrade (2002, p. 6), a função da escola, concebida em tal projeto, “[…] deveria ajudar o jovem a desenvolver suas capacidades intelectuais e profissionais para ser capaz de promover reformas e progressos sociais no Estado”. Vellozo, assim como Gomes, era presença assídua na imprensa local. Desde 1906, colaborava periodicamente com a revista A Escola, dando publicidade a um discurso que incluía críticas à sociedade brasileira, apologia à educação e atribuição de papel salvacionista à escola (Andrade, 2002). A obra Compêndio de Pedagogia, por ele publicada em 1907 e dedicada a formar normalistas, enfatizava como referências, além do ensino intuitivo, autores como Pestalozzi, Spencer, Bain, Compayré e Fröebel (Gonçalves Junior, 2012).

A opção pela educação moderna foi ganhando proeminência progressiva nos posicionamentos públicos de Raul Gomes. No início da década de 1930, o educador gozava de considerável prestígio no meio social e cultural paranaense, mantendo relações com intelectuais reconhecidos nacionalmente. Convidado com frequência para eventos culturais, aproveitava tais oportunidades para disseminar ideias renovadoras. Foi o caso de conferência proferida no Centro de Cultura Filosófica em 1930:

Após essa parte inicial levanta-se o professor Raul Gomes e por espaço de uma hora prende a atenção do auditório dissertando sobre a Escola Nova, demonstrando com documentos e fatos irrefutáveis o valor do ensino baseado na técnica de ensinar a criança pelo método racional e prático, cujas provas o conferencista vem pondo em prática há muitos anos de onde tem colhido resultados satisfatórios. (Centro…, 1930, p. 5)

O termo Escola Nova, mobilizado na ocasião, sinaliza para a sintonia com as discussões e com o léxico empregado nos debates do período. Segundo Vidal (2013), tal expressão havia sido utilizada anteriormente por educadores como Sampaio Dória e Oscar Thompson na década de 1910, referindo-se ao método intuitivo. A autora (Vidal, 2013, p. 582) assinala, porém, que a partir da reforma de Fernando de Azevedo, realizada no Rio de Janeiro no final dos anos 1920, “[…] o termo passou a significar os esforços de renovação do sistema escolar e de ruptura simbólica com as antigas estruturas educativas”. Vidal (2013, p. 582) observa que a Escola Nova abrangia propostas pedagógicas diversas que buscavam a diferenciação dos empreendimentos anteriores:

[…] sob sua cobertura estavam diferentes métodos, como centros de interesse, métodos de projeto, sistema platoon ou qualquer outra proposta educativa que se associasse ao interesse e à experiência da criança, bem como à sua participação ativa na construção do conhecimento.

No momento em que sua palestra foi divulgada na imprensa, a produção de Raul Gomes como jornalista concentrava-se no jornal O Dia, com o qual começou a colaborar esporadicamente desde 1925 e quase diariamente a partir do segundo semestre de 1931. Entre julho daquele ano e dezembro de 1932, foram 268 artigos publicados, cerca de três quartos dos quais tratavam de temas relacionados à educação.13 Os movimentos pela Educação Nova eram pauta constante nos textos publicados por ele nesse período, sendo com frequência mobilizados exemplos de educadores como Rousseau, Dewey, Pestalozzi, Montessori, Claparède, Ferrière, Kerschensteiner e Antipoff, entre outros. Os contrastes entre os conceitos de “tradicional” e “moderno” eram mobilizados com frequência para a defesa de suas convicções. Enquanto a chamada “escola ativa”, “escola da ação”, “escola da sociedade”, “escola para a vida” ou “escola do trabalho” era por ele denominada “escola da bondade”, o modelo escolar tradicional merecia de sua parte a alcunha de “escola da maldade” (Gomes, 1931d, p. 2). A reafirmação do laicismo, a defesa de profissionais da educação para ocupar cargos de comando relacionados a essa pasta, a incitação para maior organização dos professores e a divulgação de ideias e métodos renovadores são elementos recorrentes de seu discurso nesse período.

Alguns artigos de Gomes eram dedicados aos avanços alcançados com reformas educacionais realizadas em países como os Estados Unidos, o Chile, A Argentina, o México, a Espanha ou a Rússia, sendo feitas comparações com a situação brasileira. Também exploravam publicações pedagógicas de autores nacionais e estrangeiros, bem como eventos de orientação moderna que ocorriam no exterior, informando sobre sua programação e orientação pedagógica. Personagens que já naquele momento eram conhecidos como renovadores da educação são citados de maneira elogiosa, como Lourenço Filho, considerado “uma das maiores, senão a maior competência psicopedagógica da América do Sul” (Gomes, 1931f, p. 2), Anísio Teixeira, “eminente discípulo de Dewey” (Gomes, 1931g, p. 2) ou Fernando Azevedo, “um grande técnico” da educação” (Gomes, 1931e, p. 2). Adeptos paranaenses da educação nova como Erasmo Pilotto, Osvaldo Piloto ou Lysimaco Ferreira da Costa também são presenças constantes.

As ações decorrentes da revolução de 1930 também eram tema dos artigos publicados no O Dia. Como chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas anunciara um programa de reconstrução nacional, o qual previa “[…] a adoção de medidas para modernizar a produção nacional, a organização do trabalho, instituir a representação por classe e criar meios para implantar obras de saneamento e difundir o ensino público” (Galter, Mendes e Perin, 2016, p. 279). Uma das primeiras iniciativas em âmbito educacional foi a criação, em 1930, do Ministério da Educação e Saúde Pública, encabeçado por Francisco Campos, a que se seguiram vários decretos que resultaram na criação do Conselho Nacional de Educação e na organização do ensino superior, entre outras providências (Alencar, 2016). Não obstante, a percepção de Gomes, como de outros intelectuais, era que as providências tomadas para as transformações educacionais necessárias eram insuficientes. Os debates sobre a importância da educação escolar, iniciados com a experiência republicana inaugurada em 1889 e intensificados ao longo das décadas seguintes, haviam sido em parte expressos na legislação educacional, malgrado a lentidão dos resultados práticos. Entretanto, as altas taxas de analfabetismo e o pouco alcance das oportunidades de escolarização faziam com que as intenções de racionalização da educação como estratégia de modernização do Estado não surtissem efeito (Machado e Carvalho, 2015). Nesse sentido, embora Gomes saudasse algumas das iniciativas do governo recém instaurado, muitas vezes criticava seus métodos, considerados ineficientes. Algumas dessas críticas diziam respeito às providências governamentais de organização da educação brasileira e da elaboração de um plano nacional de educação, como veremos adiante.

É possível que os primeiros contatos de Raul Gomes com alguns daqueles que se tornariam conhecidos como os renovadores da educação, e que estiveram envolvidos na elaboração do Manifesto, tenham se dado nas conferências nacionais organizadas pela Associação Brasileira de Educação (ABE). Raul Gomes teve participação ativa em vários desses eventos, com destaque para sua primeira edição, apresentando teses e tomando parte nos debates ali empreendidos.

Organizada pelo professor, pesquisador e administrador do ensino Lysimaco Ferreira da Costa, entusiasta dos métodos educacionais renovadores e então Diretor da Instrução Pública do Paraná, a 1ᵃ Conferência Nacional de Educação, realizada em Curitiba em julho de 1927, contou com a presença e apresentação de teses de vários futuros signatários, a exemplo de Lourenço Filho, Venâncio Filho, Armanda Álvares Penteado e Hermes Lima. Outros, como Fernando de Azevedo e Afrânio Peixoto, foram citados por diversas vezes nos documentos submetidos à análise na ocasião. Raul Gomes compareceu com duas teses. Uma delas, intitulada “Missões Escolares”, sugeria a realização de missões de professores brasileiros a centros educacionais no exterior para a aquisição de experiência e conhecimentos, citando como exemplos Decroly, Montessori, Ferrière e Dewey (Costa, Shena e Schmidt, 1997). A segunda tese, “A conscrição escolar”, de inspiração militar, propunha um modo obrigatório e progressivo de inserção das crianças brasileiras na escola. Em ambos os casos, os textos foram finalizados com um pré-projeto de lei a ser encaminhado para as instâncias governamentais. Naquela ocasião, foi fundada a Associação Paranaense de Educação, seção regional da A.B.E. Instalada no ano seguinte, contou com a participação de Raul Gomes no cargo de secretário geral (Associação…, 1928). Naquele mesmo ano o educador fora convidado a participar do Congresso do Ensino Primário, realizado em Florianópolis, tendo-lhe sido disponibilizados transporte e hospedagem (Congresso…, 1927), o que reafirma seu envolvimento com o campo da educação.

A 2ᵃ Conferência Nacional de Educação, realizada em 1928 em Belo Horizonte (MG), contou com a participação de Gomes já como delegado indicado pelo Governo do Estado e representante da Associação Paranaense de Educação, tendo sido eleito para integrar a Mesa Diretora do evento. Sua atuação foi bastante comentada, tanto nos anais do certame como nos jornais em circulação no Paraná, a exemplo do O Dia, que lhe dedicou dezenas de artigos com destaque. A tese por ele apresentada, intitulada “Educação política”, foi aprovada por unanimidade pela plenária e elogiada pelo parecerista Bernardino de Souza como “uma notável contribuição” (Oliveira e Silva, 2004, p. 108). Souza recomendou ainda a adoção de suas conclusões, as quais solicitavam à ABE que promovesse os meios mais oportunos para que uma comissão de técnicos especialistas, “[…] ouvidas as sugestões de todos os corpos educadores do Brasil”, elaborasse um plano nacional de educação que abrangesse todos os níveis de ensino (ibidem, p. 108). Em matéria publicada no O Dia, que aparenta se tratar de uma transcrição de um dos debates ocorridos no evento, Gomes ressaltou a necessidade de tratar as questões educacionais de forma integrada, devendo-se “[…] orientar os diversos graus de ensino para o fim de formar cidadãos aptos” (O problema…, 1928, p. 2).

Na tentativa de potencializar relações iniciadas naquele certame, alguns meses mais tarde o educador fez parte de uma comissão que recepcionou Vicente Licínio de Cardoso e Ignacio Azevedo do Amaral, que viajavam pelo Brasil em nome da ABE para defender as posições da entidade em favor da educação (A Embaixada…, 1929).

Raul Gomes também foi designado a representar o Paraná na III Conferência Nacional de Educação, realizada na cidade de São Paulo em 1929, à qual também estiveram presentes Anísio Teixeira e Sussekind de Mendonça. Assim como ocorrera nos anos anteriores, sua participação foi intensa. Além de submeter a tese intitulada “O ensino profissional: as necessidades do Brasil e a solução do problema”, fez uso da palavra por diversas vezes para defender suas opiniões e sugerir encaminhamentos. Sua postura engajada não o impedia, entretanto, de tecer críticas públicas aos participantes e à organização das edições por ele frequentadas. Má orientação dos trabalhos, falta de foco e de tempo para as discussões, sobreposição de interesses regionais e de classe, trocas de insultos e desentendimentos entre os participantes foram pontos por ele levantados em alguns de seus artigos. Isso não constituiu obstáculo para que fosse convidado pela própria ABE para participar da Quarta Conferência (1931) e atuar como relator de um dos temas da quinta edição do evento, que ocorreu em 1932 (Gomes, 1932g).

Além da menção feita à necessidade de um plano nacional de educação por ocasião da 2ᵃ Conferência Nacional de Educação, em outras ocasiões esse tema foi retomado por Raul Gomes antes de se tornar signatário da proposta de Fernando de Azevedo. Em julho de 1931, iniciativa nesse sentido havia sido tomada pelo Conselho de Educação, que organizara uma comissão nacional formada pelo professor Miguel Couto, pelo diplomata Leitão da Cunha e pelo engenheiro João Simplício, encarregada de elaborar um plano educacional para o país. A proposta governamental naquela direção foi por ele criticada por não possibilitar uma discussão ampla na sociedade e não incluir, entre os membros da comissão constituída, nenhum professor primário, o que também ocorrera por ocasião da criação, um pouco antes, do Conselho Nacional de Educação.

Ora depende do professor primário, depende de sua clarividência, de seu trabalho o alicerce da nação, — a educação da infância, a matéria-prima da discência dos ginásios, faculdades superiores e institutos profissionais.

É o professor quem conhece a criança, suas necessidades, seus interesses, seus imperativos.

A proscrição do magistério desse grupo levará a conjeturarem que resolvido o problema do ensino está salva a pátria.

[…] O esquecimento propositado ou não do professor primário na comissão do plano nacional de educação reclama corretivo urgente. (Gomes, 1931a, p. 2)

Em sua opinião, um plano nacional de educação deveria “[…] traduzir o esforço de muitos, principalmente dos professores de todos os graus, masculinos e femininos, públicos e particulares” (ibidem, p. 2), devendo a unidade do processo educativo ser o nervo do sistema a ser elaborado, com a íntima articulação dos diversos níveis de ensino. Citava como exemplo o processo adotado pelo Chile para a elaboração de um plano análogo:

Fê-lo o magistério primário discutindo-o amplamente, primeiro em reuniões regionais, depois em assembleias provinciais e em seguida em sucessivos congressos nacionais. Por que detida e brilhantemente examinado e retocado, resultou um documento transbordante de beleza, idealismo, e animado de profundo e comovente sentido social e humano. (ibidem, p. 2)

Seu protesto pela falta de um docente primário na referida comissão foi registrado ainda em outros dois artigos (Gomes, 1931b; 1931c), ocasião em que ressaltou sua importância social. Aproveitou ainda para criticar o fato de se considerarem de caráter nacional iniciativas circunscritas ao Distrito Federal:

O Brasil é um mundo. E a complexidade de seus problemas sociais avulta de tal modo que nem a gênios é dado preestabelecer o necessário à imensa diversidade de seus ambientes. Só é nacional uma empreitada com a cooperação dos elementos vivos da nação. E principalmente em se tratando dum plano educacional extensivo, como o diz este epíteto, a todos os recantos do território. (Gomes, 1931c, p. 2)

Intitulado “O plano educacional”, o texto publicado por Raul Gomes (1931c, p. 2) em 15 de julho daquele ano listava alguns tópicos propostos pelos integrantes da comissão oficial como espinha dorsal do projeto, os quais haviam sido previamente defendidos calorosamente por ele por ocasião do II Congresso Nacional de Educação, realizado em Belo Horizonte:

1º - As diretrizes gerais do ensino, caracterizando-as em todas as suas modalidades e nos seus diversos graus, partindo do ensino elementar integral, como fundamento lógico de uma obra duradoura e de alta sequência, e indispensável ao fortalecimento da unidade nacional;

2º - A distribuição geográfica, pelo território nacional, dos centros de cultura universitária, científica ou técnica, dos institutos de trabalho, de arte ou de preparo profissional, com base no ensino complementar, também integral, tomando em consideração as boas tradições do passado e procurando servir às conveniências superiores da Nação;

3º - O caminho de acesso ao proletário urbano e rural a todos os graus de cultura científica, ou técnica, ou profissional, ou artística, com o concurso material do poder público e adotando o processo de seleção das capacidades, atendendo assim às condições sociais do mundo e aos justos reclamos da opinião brasileira;

4º - As fontes de recursos financeiros especiais para a manutenção e desenvolvimento gradual do plano educativo, durante o período de tempo que ficar estabelecido, indicando o concurso que, em íntimo consórcio, lhe deverão prestar a União, os Estados e os Municípios, para a sua integral execução.

Não obstante, de acordo com Gomes (1931c), tais proposições ressentiam-se de lacunas que o autor fez questão de apontar no sentido de contribuir para os estudos sobre o assunto. Suas sugestões foram organizadas em itens, de modo que pudessem eventualmente ser aproveitadas na redação do documento referente ao plano em elaboração:

1º - Hoje ninguém discute mais a unidade do processo educativo. E essa unidade deve ser o nervo do sistema a ser elaborado;

2º - Como consequência dessa verdade é absolutamente inadiável articular o ensino primário ao secundário, pois nessa desarticulação reside indiscutivelmente a origem da precariedade de nossa organização ginasial, cujo rendimento em nenhum Estado do Brasil corresponde ao ônus do tesouro público;

3º - Urge a instalação em cada universidade brasileira de uma escola normal superior. Não se deve confundir esse instituto de formação do professorado secundário e superior com a faculdade de filosofia e letras, cuja criação se premeditou na recente reforma de ensino;

4º - O Brasil precisa instituir o sistema de bolsas para custeio,

  1. do estudo dos mais capazes;

  2. da remessa e permanência ao estrangeiro de missões pedagógicas;

5º - Para a organização do plano nacional de educação, deverá ser feita a nomeação imediata de um professor primário e uma professora primária para participarem do confeiçonamento do anteprojeto;

6º - O anteprojeto da comissão será distribuído profusamente por todos os educadores do Brasil, de modo que de sua retificação e ratificação participe a nação inteira pelo esforço do professorado de todos os graus;

7º - Deve ser objeto de estudo nesse plano a vinculação das escolas normais às universidades, de sorte que se consiga muito logo a unidade da função professoral;

8º - No plano nacional de educação deve ser atendido o aspecto econômico do magistério que, como nos países mais adiantados do mundo, precisa no Brasil fazer jus a quantitativo de família e de cultura. (Gomes, 1931c, p. 2)

O texto finalizava com a convocação, aos profissionais do magistério elementar, para que se congregassem na defesa de seus direitos e na participação mais ativa da construção de políticas públicas educacionais:

A essa lição esplêndida de quanto vale a união, junte o magistério nacional o seu exemplo vigoroso sob o estímulo da chicotada de desprezo vibrada na sua face pelo Ministério de Educação, proscrevendo-o do Conselho de Educação, humilhando-o com essa imperdoável omissão! (ibidem, p. 2)

Raul Gomes voltou ao assunto pouco mais de um mês depois, em texto intitulado “A revolução e a educação” (Gomes, 1931e), o qual comentava as ações do então Governo Provisório, qualificado por ele como autoritário, antidemocrático e reacionário, em direção da adoção de um plano para a educação. Em sua opinião, tal iniciativa era um sinal positivo de reorientação, de modificação nos seus rumos. O autor alertava para a necessidade de ele fazer da educação o ponto capital de sua ação: “Que seja a arma ideológica da revolução. Que seja ela a forma do Brasil de amanhã” (Gomes, 1931e, p. 2). Na ocasião, reafirmou seu compromisso com a Escola Nova e aproveitou para, novamente, sugerir providências a serem tomadas pelas instâncias oficiais, as quais defendiam a centralidade da educação nas políticas governamentais.

  1. Despedir o sr. Francisco Campos que em outro país seria levado ao banco dos réus como criminoso por ter conspurcado a sua pasta com atividade baixamente e indecentemente politiqueira.

  2. Colocar no Ministério da Educação um grande técnico com poderes ditatoriais. Temos muitos nomes à altura da missão educacional: um Anísio Spinola, um Lourenço Filho, um Fernando de Azevedo, mesmo um João Simplicio.

  3. Convocar para o estudo de um plano nacional de educação uma comissão de grandes professores superiores secundários e primários e de psicopedagogistas.

  4. Adotar esse plano depois de toda a nação sobre ele livremente se pronunciar.

  5. Iniciar a imediata execução dele, pondo à disposição dos técnicos todos os recursos necessários.

  6. Despachar sobre o mundo inteiro uma revoada de professores para irem buscar nos centros mais adiantados os melhores professores de ensino elementar, secundário, profissional e superior.

  7. Impor a todos os governos estaduais a entrega da instrução a técnicos locais ou contratados fora, mediante fiscalização severa de sua atuação no sentido de renovar toda aparelhagem do ensino.

  8. Por a serviço da educação todas as forças sociais, fazendo dela a ocupação capital das administrações públicas. (ibidem, p. 2)

Além de fazer duras críticas a Campos, então responsável pela pasta da Educação, sugerindo sua substituição por intelectuais vinculados aos movimentos renovadores, Gomes reafirmava a importância da participação de profissionais da educação nas discussões de um plano educacional. Também preconizava o engajamento na nação nesse processo, embora sugerisse que o perfil para a ocupação do respectivo Ministério deveria ser de um “grande técnico com poderes ditatoriais” (ibidem, p. 2). A percepção de que as inovações deveriam vir de fora também fica clara em sua fala, ao indicar aos professores que buscassem qualificação em centros mais avançados, embora não deixasse de valorizar os que denominava como “técnicos locais”.

As relações de Raul Gomes com Cecília Meirelles, que também se tornaria signatária do Manifesto redigido por Fernando de Azevedo, são mais um ingrediente do complexo conjunto de fatores que resultou em sua participação naquele projeto. Desde meados de 1931, o educador contribuía esporadicamente para a coluna “Página de Educação”, de responsabilidade da intelectual, sendo por ela referido como “[…] uma das raras forças que enfrentam corajosamente a alarmante situação educacional do Brasil” (C.M., 1931, p. 6) e “[…] um grande trabalhador da Escola Nova” (Publicações, 1931, p. 6). Alguns dos artigos de sua autoria ali veiculados abordaram o tema do plano nacional de educação, questão reforçada por seu contemporâneo Erasmo Pilotto, também participante da referida coluna, que chegou a sugerir que o assunto fosse discutido na Conferência que se realizaria no final daquele ano.

Por ocasião dos trabalhos de abertura da IV Conferência Nacional de Educação, em dezembro de 1931, as instâncias governamentais, nas pessoas do Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, e de Francisco Campos, primeiro Ministro de Educação, solicitaram aos educadores reunidos o delineamento de diretrizes para sua política educacional, expectativa não realizada muito por conta de dissidências evidenciadas entre católicos e liberais (Vidal, 2013). O excesso de “palavrório gasto” e a falta de coesão dos congressistas para pensar um plano para a educação do país foram objeto de crítica de Raul Gomes (1932a, p. 2). Não obstante, pouco mais de um mês depois, o lançamento de um manifesto na forma de um plano contaria com seu referendo de forma oficial.

RAUL GOMES E O MANIFESTO DE 1932

A decisão tomada por Fernando de Azevedo de reunir um grupo de intelectuais para referendar, por meio de um manifesto, as diretrizes para a educação por ele construídas, foi, segundo Vidal (2013, p. 580-581), “[…] estratégia política de luta, conduzida no calor das batalhas pelo controle do aparelho educacional”, mais que uma tentativa de marcação de posições ideológicas. A autora observa que o documento reivindicava o protagonismo no movimento de renovação educacional brasileira, tendo sido publicado no calor das disputas que envolviam o controle das políticas relacionadas ao Ministério de Educação e Saúde, criado em 1930.

Segundo Cunha (2008), por ocasião da IV Conferência Nacional de Educação, ocorrida em dezembro de 1931, Azevedo havia recebido de seus pares a incumbência de traçar diretrizes que pudessem dar sustentação a um plano de educação para o Brasil, tendo em vista a solicitação feita por Vargas e Campos. Tais diretrizes deveriam ser levadas a discussão na Conferência subsequente, mas Carlos Alberto Nóbrega da Cunha, em explicação dirigida à Mesa e à Assembleia daquele evento, já adiantara que o documento seria produzido por Azevedo e lograria ampla divulgação no prazo de dois meses.

O texto, intitulado “A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo”, lançado em 19 de março de 1932, foi veiculado na íntegra e referido em artigos e notas publicados em veículos de ampla circulação, como os cariocas Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal do Commercio, O Jornal e os paulistas Folha da Manhã e Folha da Noite.

Seus organizadores e signatários14 propunham a modernização do sistema educativo e da própria sociedade brasileira por meio da defesa de princípios gerais como a gratuidade, a obrigatoriedade e a coeducação. Também eram partidários da escola única e do Estado como responsável pelo sistema escolar brasileiro, preconizando a organização científica da escola. De acordo com Lemme (2005, p. 175), o Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova “[…] pressupunha a existência de uma sociedade homogênea e democrática, regida pelo princípio fundamental da igualdade de oportunidades para todos”. Era, na opinião de Carvalho (2015, p. 111), a reafirmação, com nova roupagem, das “expectativas de controle social por meio da escola”.

Para Vidal (2013, p. 579), além desses pontos programáticos, o lançamento do Manifesto foi também responsável pela criação de um “personagem coletivo”, os pioneiros da educação nova, além de se pretender marco fundador no debate educativo brasileiro. Naquele momento, Fernando Azevedo era professor do Curso de Aperfeiçoamento do Instituto Pedagógico de São Paulo. Outros signatários também ocupavam postos relevantes relacionados à educação. Anísio Teixeira, por exemplo, era diretor da Instrução Pública da capital da República e Lourenço Filho dirigia o Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Attilio Vivacqua reformara a Instrução Pública no Espírito Santo em 1928 e Mário Casassanta havia sido inspetor geral da Instrução Pública em Minas Gerais. Já Almeida Junior atuava como professor do Instituto Pedagógico, tendo recentemente assumido, junto com Carneiro Leão, Anísio Teixeira e Afrânio Peixoto, o Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação (Vidal, 2013)

Assim como muitos dos signatários, Raul Gomes era professor e atuava na imprensa. Este último critério de escolha carregava possíveis expectativas de que o Manifesto fosse amplamente divulgado nos meios aos quais eles se vinculavam. Foi o caso de Júlio de Mesquita Filho, proprietário do jornal O Estado de São Paulo, e de Fernando de Azevedo, que atuava como redator daquele veículo. Roquette Pinto dirigia a Rádio Municipal do Distrito Federal, e, na esfera governamental, Mario Casasanta atuava como diretor da Imprensa Oficial de Minas Gerais (Vidal, 2013). Carlos Alberto Nóbrega da Cunha era jornalista representante da Associação Brasileira de Imprensa. Cecília Meireles, vinculada ao Diário de Notícias, era responsável pela coluna intitulada Página de Educação. Frota Pessoa escrevia para o Jornal do Brasil e Hermes Lima, para a Folha da Manhã e Folha da Noite (Nunes, 2015).

Se comparada com a visibilidade obtida em outros centros, a repercussão do Manifesto no contexto paranaense ocorreu de forma mais tímida, sendo ele tratado de forma diversa pelos principais jornais locais. O Diário da Tarde publicou o documento na íntegra, dividido em oito artigos intitulados “Um plano nacional de educação” que saíram no período entre 29 de março e 7 de abril daquele ano, porém sem qualquer matéria com esclarecimentos ou comentários. Já a Gazeta do Povo silenciou completamente sobre o assunto.

Raul Gomes foi o único responsável por qualquer referência ao Manifesto em O Dia. Entretanto, ao contrário de Cecília Meirelles, que dedicou espaço considerável ao tema em sua coluna, Gomes comportou-se de modo um tanto evasivo. O texto intitulado “O manifesto dos educadores” (Gomes, 1932e, p. 2), embora cite de forma elogiosa o nome de Fernando de Azevedo, não explora as ideias no referido documento, limitando-se a saudá-lo positivamente:

Pois “A Reconstrução Educacional do Brasil”, manifesto dirigido ao nosso povo por uma plêiade de idealistas encabeçada pelo gigantesco Fernando de Azevedo, fusão milagrosa e providencial de doutrinário com o realizador, surge no minuto propício, trazendo aos espíritos forrados de legítimo sentimento cívico raios de esperança.

Os verdadeiros educacionistas têm agora seu evangelho. Resta se unirem em torno dele. Apelarem para o povo e para o governo. E imporem o traçado dum programa concreto calcado nas diretrizes lúcidas e sensacionais da formidável peça, cuja cítara empolgou a quase totalidade das inteligências patrícias.

Esses comentários são apenas uma saudação ao grandioso trabalho dos excelsos mestres.

A promessa, feita ao final do texto, de analisar seu conteúdo “detidamente em sucessivos artigos” não foi por ele cumprida. Em outros dois textos daquele ano o Manifesto foi mencionado de forma positiva, mas apenas de passagem (Gomes, 1932b; 1932f), não tendo sido dedicado a ele mais que um parágrafo. Em nenhum momento ele se identifica como seu signatário, referindo-se ao grupo sempre na terceira pessoa.

A pouca visibilidade dada por Raul Gomes em relação ao documento que recebeu seu aval causa estranhamento, tendo em vista que muitas das ideias nele contidas eram por ele há tempo defendidas. Entre os pontos de convergência, podemos citar a primazia da educação nos planos de reconstrução nacional, a unidade do ensino em seus diversos níveis e a educação como direito de todos. A laicidade, a obrigatoriedade e a coeducação também eram questões defendidas pelo educador paranaense, assim como a incorporação dos estudos de magistério à universidade e a ênfase numa educação ativa e criadora, que respeitasse a individualidade do aluno. Apesar disso, mesmo tendo afirmado ser ele o “evangelho” dos educadores (Gomes, 1932e, p. 2), Gomes (1932e) não julgou importante que o leitor o conhecesse em detalhes.

Durante o ano de 1932, outros planos educacionais sucederam-se, muitos dos quais mereceram comentários de Gomes, a exemplo do expresso a respeito do programa do Partido Social Nacionalista de Minas Gerais (Gomes, 1932c, p. 2), ocasião em que afirmava a necessidade de os partidos iniciarem por “[…] traçar um plano educacional rigoroso, de linhas firmes, de propósitos objetivos”. Em maio daquele ano, o Partido Reformador Constitucionalista teria seus projetos relativos à educação citados por ele de forma elogiosa (Gomes, 1932h). Em junho seria a vez dos programas do Partido Republicano Paulista e do Partido Democrático serem por ele divulgados (Gomes, 1932i). A sucessão de propostas e planos teve continuidade ao longo daquele ano, quando no mês de agosto o Diário Oficial da União divulgou mais um plano, desta vez de autoria do Almirante Américo Brasil Silvado, criticado duramente por Gomes por seu “integral alheamento a assuntos de instrução” (Gomes, 1932j, p. 2).

Em setembro daquele ano, o intelectual paranaense citaria o Manifesto de Fernando de Azevedo como um dos dois planos dignos de menção surgidos nos últimos anos, ao lado daquele elaborado pelo Governo em 1931, afirmando, porém, que não surgira ainda “o plano definitivo”. No balanço que publicou no final de dezembro sobre o que de relevante ocorrera no campo da educação, o Manifesto não foi sequer citado, embora ações de Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira tenham sido mencionadas positivamente. Gomes também comentou as discussões empreendidas por ocasião da V Conferência Nacional de Educação, as quais, “funcionando sob orientação prática e eficiente” (Gomes, 1932k, p. 2), traçaram diretrizes e bases que seriam acolhidas pela Constituição de 1934, embora suprimidas posteriormente pela Carta Constitucional de 1937.

Apesar da falta de ênfase com que tratou essa primeira iniciativa, seu nome foi lembrado algumas décadas mais tarde por ocasião do segundo manifesto do gênero encabeçado por Azevedo. Lançado em 1959 e intitulado “Mais uma vez convocados: manifesto do povo e ao governo” (Azevedo, 2010), o documento tem Raul Rodrigues Gomes como um dos 161 educadores que o assinaram em reafirmação aos ideais expressos em 1932 e em favor de medidas modernizadoras para a educação do país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As redes compartilhadas por Raul Gomes até aquele momento, a visibilidade alcançada pelas ideias que defendia em eventos educacionais e por meio de artigos publicados em jornais que circulavam em São Paulo e no Rio de Janeiro e, principalmente, a defesa recorrente da necessidade de um plano educacional para o Brasil tornavam possível que seu nome fosse lembrado para integrar o rol de assinantes do Manifesto de 1932, redigido por Fernando Azevedo.

Entretanto, a pouca divulgação que deu à iniciativa, bem como o fato de não se colocar de maneira enfática como um de seus signatários é digna de nota, tendo em vista a identificação das ideias do documento com suas convicções a respeito dos assuntos educacionais. Uma das hipóteses seria em função do modo como o Manifesto foi elaborado, basicamente por seu proponente, sem uma ampla discussão no meio educacional e excluindo a participação de professores primários, pontos recorrentes em suas argumentações sobre o assunto.

Por outro lado, o fato de ser Gomes um intelectual mediador, mais empenhado na divulgação e defesa de ideias que em sua elaboração, somado à sua condição de originário de um estado periférico e nele atuante, pode explicar que ele não tenha levado crédito especial, por ocasião do Manifesto, no que se refere às manifestações e sugestões feitas publicamente sobre o tema, o que pode ter frustrado suas expectativas.

Essa passagem de sua trajetória seria igualmente eclipsada por ele mesmo em seus esforços de construção de uma memória autobiográfica,15 estando ausente de artigos e documentos redigidos ao final da vida sobre seus feitos. O motivo do aparente menosprezo por esse que hoje é considerado um dos marcos para o campo educacional é um enigma ainda a ser desvendado.

1No caso de Raul Gomes, na maioria dos artigos publicados sobre o tema seu nome é meramente citado ou mesmo obscurecido no arcabouço do “entre outros”, após terem sido citados os signatários considerados protagonistas.

2Segundo Alain Touraine (1994, p. 9), a ideia de modernidade em sua versão mais ambiciosa se pautou pelo triunfo da razão, com a “[…] afirmação de que o homem é o que ele faz, e que, portanto, deve existir uma correspondência cada vez mais estreita entre a produção, tornada mais eficaz pela ciência, a tecnologia ou a administração, a organização da sociedade, regulada pela lei e a vida pessoal, animada pelo interesse, mas também pela vontade de se libertar de todas as opressões”. Para o autor, a história da modernidade abrange a dupla afirmação da razão e do sujeito em constante diálogo.

3Baseados nas ideias de educadores e pensadores como Jean-Jacques Rousseau, Heinrich Pestalozzi, Friedrich Fröebel e John Dewey e opondo-se aos métodos de ensino considerados tradicionais, os movimentos renovadores para a educação no contexto brasileiro propunham a centralidade do aluno nos processos educacionais, a valorização da experiência e a oferta de uma educação ampla, democrática, gratuita e laica. Também defendiam a centralidade da educação nos processos de construção social.

4Em 1931, unindo-se à Escola Prática de Comércio, deu origem à Academia Paranaense de Comércio, escola de caráter oficial. Tal fusão foi realizada com o objetivo de satisfazer às exigências do Decreto nº 20.158, de 30 de junho daquele ano, que regulamentava as profissões de guarda-livros e contador (Academia…, 1931).

5Na bibliografia e nas fontes consultadas não foram encontradas informações a respeito da instituição em que Gomes teria atuado. Brandalise (2016) menciona que Gomes teria exercido o cargo professor do Ensino Normal no Ginásio Paranaense, não citando, porém, a fonte dessa informação.

6Entre as instituições das quais foi partícipe, podemos citar o Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná (1900), o Centro de Letras do Paraná (1912), a Associação Paranaense de Educação (1928), a Academia Paranaense de Letras (1936), a Loja Dario Vellozo da Maçonaria (1939), a Sociedade de Amigos de Alfredo Andersen (1940) e a Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê — SCABI (1944).

7Entre outras ações divulgadas em jornais entre as décadas de 1910 e 1930, Gomes integrou a comissão para a elaboração das bases da Federação Operária do Paraná, ao lado de Erasmo Pilotto e Luduvico Garcia (O Industrial…, 1930).

8Entre os jornais paranaenses, podemos citar: O Archote, Diário Folha da Manhã, Diário da Tarde, A República, O Dia, Diário do Paraná, Diário Popular, Comércio do Paraná, Gazeta do Povo, Estado do Paraná, Folha do Norte do Paraná, Folha de Curitiba, Diário dos Campos e O Progresso (Ponta Grossa). Colaborou com jornais que circulavam em São Paulo e Rio de Janeiro, como a Folha da Manhã (hoje Folha de São Paulo), o Diário de São Paulo, O Globo e o Diário de Notícias (Professor…, 1975). Também esteve envolvido com a edição e redação de revistas como a Olho da Rua, Palladium, Anthus, Novela Paranaense, A Noite e A Tribuna.

9Foram registrados por ele em ficha disponível na Biblioteca Pública do Paraná os seguintes pseudônimos: “Fígaro”, “Mendes Fradique”, “Tolstoi”, “Fradique Mendes” e “Nemo” (Dados…, [19––]).

10Júlia Wanderley (Ponta Grossa, 1874 – Curitiba, 1918) foi uma professora primária e diretora de escola paranaense, reconhecida como a primeira mulher a participar presencialmente do curso da Escola Normal no Paraná. Sobre sua trajetória, ver Araújo (2010).

11Sobre essas campanhas, ver Souza (2014); Osinski (2013; 2015); Souza e Campos (2013).

12Dario Persiano de Castro Vellozo (Rio de Janeiro, 1869 – Curitiba, 1937) foi um poeta, escritor e professor atuante em Curitiba. Maçom e defensor de ideias neopitagóricas, fez parte do Movimento simbolista do Paraná. Foi professor de História Universal e do Brasil no Ginásio Paranaense e na Escola Normal. Membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paranaense, criou em 1909 o Instituto Neopitagórico. Foi colaborador de jornais e revistas e autor de livros de ficção, poesia, história e filosofia (Gonçalves Junior e Rodrigues, 2020).

13O percentual dos artigos que tratam da temática da educação foi de 73%. Esse levantamento foi realizado na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, podendo, porém, conter imprecisões pelo fato de faltarem eventualmente algumas páginas dos jornais.

14Além de Fernando de Azevedo, assinaram o Manifesto Afrâmio Peixoto, Sampaio Dória, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Roquette-Pinto, Frota Pessoa, Júlio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mário Casassanta, Delgado de Carvalho, Ferreira de Almeida Júnior, J. P. Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attílio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meireles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Álvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nóbrega da Cunha, Paschoal Lemme e o próprio Raul Gomes (Azevedo, 2010).

15São muitos os artigos e textos consultados em que reivindica historicamente iniciativas tomadas (Gomes, 1971; 1973; Biblioteca…, 1975).

Financiamento: O estudo não recebeu financiamento.

REFERÊNCIAS

A embaixada da A.B.E. O Dia, Curitiba, 7 mar. 1929, p. 8. [ Links ]

ACADEMIA Paranaense de Comércio. Diário da Tarde, Curitiba, 23 out. 1931, p. 5. [ Links ]

ALENCAR, C. P. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 no Brasil: o acontecimento, o discurso e os dispositivos de verdade. 2016. 189 f. Tese (Doutorado em Educação) — Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2016. [ Links ]

ANDRADE, M. L. Educação, cultura e modernidade: o projeto formativo de Dario Vellozo (1906-1918). 2002. 168 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2002. [ Links ]

ARAÚJO, S. A. C. Professora Julia Wanderleu, uma mulher-mito (1874 – 1918). 2010. 183 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010. [ Links ]

ASSOCIAÇÃO Paranaense de Educação. O Dia, Curitiba, 12 abr. 1928, p. 6. [ Links ]

AZEVEDO, F. et al. Manifestos dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores (1959). Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 2010. [ Links ]

BIBLIOTECA Pública do Paraná. Raul Rodrigues Gomes (1889-1975). Curitiba, 1975. Pasta Raul Gomes n. 2. [ Links ]

BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. M. (coord.). Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1996. [ Links ]

BRANDALISE, A. C. O intelectual Raul Gomes e suas práticas discursivas na imprensa: narrativas sobre educação, arte e cultura no Paraná (1907-1950). 2016. 143 f. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. [ Links ]

C.M. Comentário. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 14 out. 1931. Página de Educação, p. 6. [ Links ]

CARNAVAL de 1907. Diário da Tarde, Curitiba, 7 fev. 1907. Associação Curitibana de Empregados do Comércio, p. 2. [ Links ]

CARVALHO, M. M. C. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e a IV Conferência Nacional de Educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 96, n. especial, p. 89-112, 2015. [ Links ]

CENTRO de Cultura Filosófica. Diário da Tarde, Curitiba, 22 set. 1930, p. 5. [ Links ]

COLUNA Domingo. Raul Rodrigues Gomes Semeador de Cultura. Recorte de Jornal da Pasta Raul Gomes. Acervo Biblioteca Pública do Paraná. Seção Paranaense, s. d. [ Links ]

CONGRESSO de Ensino Primário de Santa Catarina. O Dia, Curitiba, 26 jul. 1927, p. 2. [ Links ]

COSTA, M. J. F. F.; SHENA, D. R.; SCHMIDT, M. A. I Conferência Nacional de Educação. Brasília: INEP, 1997. [ Links ]

CUNHA, M. V. O Manifesto dos Pioneiros de 1932 e a cultura universitária brasileira: razões e paixões. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas, v. 8, n. 2 [17], p. 123-140, maio-ago. 2008. [ Links ]

CURSO Prático de Guarda Livros. Diário da Tarde, Curitiba, 8 mar. 1927, p. 4. [ Links ]

DADOS Biográficos de Raul Rodrigues Gomes. Acervo Biblioteca Pública do Paraná. Seção Paranaense, [19––]. [ Links ]

ECOS do monumento de D. Julia Wanderley. O Dia, Curitiba, 18 mai. 1927, p. 2. [ Links ]

GALTER, M. I.; MENDES, C. M. M.; PERIN, C. S. B. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932: relação entre conhecimento, indivíduo e sociedade. Educere et Educare, v. 11, n. 21, p. 277-292, jan.-jul. 2016. [ Links ]

GOMES, Â. C.; HANSEN, P. S. (org.). Intelectuais Mediadores: Práticas culturais e Ação Política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. [ Links ]

GOMES, R. R. A Escola e o cidadão. A Escola, Curitiba, Impressora Paranaense, ano II, n. 6 e 7, p. 94-95, jun.-jul. 1907. [ Links ]

GOMES, R. R. Assuntos pedagógicos. Ao Newton Guimarães. Diário da Tarde, Curitiba, 24 nov. 1908a, p. 1. [ Links ]

GOMES, R. R. Assuntos pedagógicos. Diário da Tarde, Curitiba, 11 dez. 1908b, p. 1. [ Links ]

GOMES, R. R. Instrucção Pública no Paraná. Acervo Biblioteca Pública do Paraná. Seção Paranaense, 1914. [ Links ]

GOMES, R. R. Versa Tribunicia. Curitiba: João Haupt & Co., 1925. [ Links ]

GOMES, R. R. Um século de ensino primário. O Dia, Curitiba, 19 mai. 1927, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Missão, e não profissão. Curitiba: Empreza Graphica Paranaense, 1928. [ Links ]

GOMES, R. R. Um plano nacional de educação. O Dia, Curitiba, 10 jul. 1931a, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Professores do Brasil! Unide-vos!. O Dia, Curitiba, 11 jul. 1931b, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. O plano educacional. O Dia, Curitiba, 15 jul. 1931c, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Escola da maldade. O Dia, Curitiba, 12 ago. 1931d, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. A revolução e a educação. O Dia, Curitiba, 30 ago. 1931e, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Um ato de bom senso. O Dia, Curitiba, 27 set. 1931f, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Mais um. O Dia, Curitiba, 13 out. 1931g, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Um gralho depenado. O Dia, Curitiba, 25 fev. 1932a, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Estudar é difícil e caro! O Dia, Curitiba, 20 abr. 1932b, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Mais um programa. O Dia, Curitiba, 29 abr. 1932c, p. 1. [ Links ]

GOMES, R. R. O podão da interventoria. O Dia, Curitiba, 01 mar. 1932d, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. O manifesto dos educadores. O Dia, Curitiba, 25 mar. 1932e, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Pobre não precisa estudar! O Dia, Curitiba, 2 abr. 1932f, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Uma deferência ao Paraná. O Dia, Curitiba, 22 abr. 1932g, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. O manifesto do P.R.C. e a educação. O Dia, Curitiba, 27 mai. 1932h, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. A educação e os partidos políticos. O Dia, Curitiba, 29 jun. 1932i, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Tecnicidade da educação. O Dia, Curitiba, 17 ago. 1932j, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. 1932 e a educação. O Dia, Curitiba, 31 dez. 1932k, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. A Economia Mundial e o Descobrimento do Caminho Marítimo das Índias. 1946. 34 f. Tese (Concurso e livre-docência) — Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, Curitiba, 1946. [ Links ]

GOMES, R. R. Caminhos da Paz. Maior produção e melhor distribuição. 1948. 145 f. Tese (Concurso para candidato à cadeira de Economia Política) — Faculdade de Direito da Universidade do Paraná. Curitiba, 1948. [ Links ]

GOMES, R. R. Reivindicações irrefutáveis. Diário do Paraná, Curitiba, 17 out. 1971, p. 2. [ Links ]

GOMES, R. R. Entrevista. In: ARAÚJO, A. Raul Rodrigues Gomes: Semeador de Cultura. Diário do Paraná, Curitiba, 8 jul. 1973. Terceiro Caderno, p. 1. [ Links ]

GONÇALVES JUNIOR, E. B. Intelectuais e República: Educação Integral no pensamento de Dario Vellozo. Temporalidades, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 154-174, jan.-jul. 2012. [ Links ]

GONÇALVES JUNIOR, E. B.; RODRIGUES, V. E. R. A Historia Magistra Vitae no Brasil no século XIX: Dario Vellozo e os ensinamentos de história. História da Educação, v. 24, p. 1-27, 2020. https://doi.org/10.1590/2236-3459/95350Links ]

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. v. 2. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. [ Links ]

GRANDES corridas de bicicletas. Diário da Tarde, Curitiba, 25 mar. 1907, p. 3. [ Links ]

LEMME, P. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e suas repercussões na realidade educacional brasileira. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 86, n. 212, p. 163-178, jan.-abr. 2005. [ Links ]

MACHADO, M. C. G.; CARVALHO, C. H. O legado do Manifesto de 32 à educação brasileira: os desafios persistem. Revista Educação em Questão, Natal, v. 51, n. 37, p. 175-194, jan.-abr. 2015. https://doi.org/10.21680/1981-1802.2015v51n37ID7176Links ]

MORRETES. Diário da Tarde, Curitiba, 4 jan. 1910, p. 1. [ Links ]

NEGRÃO, F. Genealogia paranaense. V. 2. Curityba: [Impressora Paranaense], 1927. [ Links ]

NOTICIÁRIO. Diário da Tarde, Curitiba, 23 out. 1915, p. 1. [ Links ]

NOTÍCIAS. A Notícia. Curitiba, 20 dez. 1907, p. 2. [ Links ]

NUNES, C. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932): o compromisso com uma sociedade educada. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 96, n. especial, p. 51-88, 2015. [ Links ]

O INDUSTRIAL Gastão Chaves tenta, de assalto, se apoderar da Federação Operária do Paraná. Diário da Tarde, Curitiba, 25 jan. 1930, p. 1. [ Links ]

OLIVEIRA E SILVA, A. P. (org.). Notícias da II Conferência Nacional de Educação da ABE. Belo Horizonte, 4 a 11 de novembro de 1928. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2004. 187 p. [ Links ]

O PROBLEMA da Educação nacional. O Dia, Curitiba, 9 dez. 1928, p. 2. [ Links ]

OSINSKI, D. R. B. Entre o sacerdócio e o ofício: Raul Gomes e o papel do professor (1914-1928). In: SUASNÁBAR, C.; CAMPOS, N. (org.). Educação no Brasil e na Argentina: escritos de história intelectual. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2013. p. 11-37. [ Links ]

OSINSKI, D. R. B. Raul Gomes e o Dia do Professor: ações na imprensa em favor da profissão docente. In: VIEIRA, C. E.; OSINSKI, D. R. B.; BENCOSTTA, M. L. A. (org.). Intelectuais, modernidade e formação de professores no Paraná: 1910-1980. Curitiba: Editora UFPR, 2015. p. 17-43. [ Links ]

OSINSKI, D. R. B.; BRANDALISE, A. C. Imprensa periódica: “Malhadas e remalhadas” de Raul Gomes em favor da educação e da cultura (1910-1970). In: VIEIRA, C. E.; STRANG, B. L. S.; OSINSKI, D. R. B. História intelectual e educação: trajetórias, impressos e eventos. Jundiaí: Paco Editorial, 2015. p. 187-211. [ Links ]

PROFESSOR Raul Rodrigues Gomes. Rumo Paranaense, Curitiba, ano II, n. 24, dez. 1975. [ Links ]

PUBLICAÇÕES. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1 ago. 1931. Página de Educação, p. 6. [ Links ]

SIRINELLI, J.-F. Os intelectuais. In: RÉMOND, R. Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. [ Links ]

SOUZA, E. F. Campanha pela federalização da Universidade do Paraná: “um inquérito no jornal Gazeta do Povo”. In: ANPED Sul, 10., 2014, Florianópolis. Anais […]. Florianópolis: ANPED Sul, 2014. p. 01-14. Disponível em: http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1925-0.pdf. Acesso em: 10 mai. 2018. [ Links ]

SOUZA, E. F.; CAMPOS, N. Imprensa no Paraná e o combate do analfabetismo: trajetória e pensamento de Raul Gomes (1889-1975). Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 53, p. 133-152, out. 2013. https://doi.org/10.20396/rho.v13i53.8640197Links ]

TOURAINE, A. Crítica da modernidade. Tradução de Elia Ferreira Edel. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. [ Links ]

VIDAL, D. G. 80 anos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: Questões para debate. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 577-588, set. 2013. https://doi.org/10.1590/S1517-97022013005000007Links ]

VIEIRA, C. E. Jornal diário como fonte e como tema para a pesquisa em História da Educação: um estudo da relação entre imprensa, intelectuais e modernidade nos anos de 1920. In: TABORDA DE OLIVEIRA, M. A. (org.). Cinco estudos em História e Historiografia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. [ Links ]

VIEIRA, C. E. Erasmo Pilotto: identidade, engajamento político e crenças dos intelectuais vinculados ao campo educacional no Brasil. In: ALVES, C.; LEITE, J. L. (org.). Intelectuais e história da educação no Brasil: poder, cultura e políticas. 1. ed. Vitória: EDUFES, 2011. [ Links ]

Recebido: 25 de Junho de 2022; Aceito: 18 de Outubro de 2022

Dulce Regina Baggio Osinski é doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora da mesma instituição. E-mail: dulceosinski@gmail.com

Conflitos de interesse: A autora declara que não possui nenhum interesse comercial ou associativo que represente conflito de interesses em relação ao manuscrito.

Creative Commons License Este es un artículo publicado en acceso abierto bajo una licencia Creative Commons