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Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas)

versão impressa ISSN 1414-4077versão On-line ISSN 1982-5765

Avaliação (Campinas) vol.27 no.1 Sorocaba jan./abr 2022

https://doi.org/10.1590/s1414-40772022000100005 

Artigos

Precarização e Função Social: análise dos significados do trabalho de docentes da pós-graduação

Precariousness and Social Function:analysis of the meanings of the work of postgraduate professors

Thiago Soares Nunes1 
http://orcid.org/0000-0002-1323-8160

Júlia Gonçalves2 
http://orcid.org/0000-0002-2804-1045

Eliana Marcia Martins Fittipaldi Torga3 
http://orcid.org/0000-0003-4175-9390

1 Universidade Fundação Mineira de Educação e Cultura, Programa de Doutorado e Mestrado em Administração, Belo Horizonte, MG, Brasil, adm.thiagosn@gmail.com

2 Faculdade Meridional, Programa de Pós-Graduação em Psicologia , Passo Fundo, RS, Brasil, julia_psi_@hotmail.com

3 Centro Universitário Una, Mestrado Profissional em Administração , Belo Horizonte, MG, Brasil, elianatorga@gmail.com


RESUMO

O trabalho pode proporcionar um continuum de significados que perpassa aspectos positivos, instrumentais e negativos, capazes de influenciar a forma que o indivíduo o interpreta, sua saúde, produtividade e vínculo organizacional. A Pós-Graduação - espaço de prestígio, produtividade e competição -, proporciona diversos sentidos para os docentes nos diferentes estágios de suas carreiras. Esta pesquisa analisou os sentidos e significados do trabalho para docentes vinculados à programas de pós-graduação stricto sensu de uma universidade brasileira. Por meio de uma pesquisa qualitativa e descritiva, 33 docentes vinculados a pós-graduação responderam questões sobre seu trabalho que foram submetidas a análise de conteúdo. Os sentidos positivos que surgiram nos discursos dos participantes estavam vinculados, principalmente, a função social da profissão, seja na formação discente ou na contribuição a sociedade por meio do ensino, pesquisa e extensão. Por outro lado, os sentidos negativos apareceram associados a precarização do trabalho e a desvalorização do docente. Os sentidos do trabalho, identificados na pesquisa, refletem situações de prazer e sofrimento que oscilam no decorrer dos anos, de um lado, a falta de atenção do Estado para com as universidades e docentes, e no outro, o corpo funcional das instituições na busca e luta para melhorar este ambiente.

Palavras-chave: sentido e significado do trabalho; pós-graduação; docente

ABSTRACT

Work can provide a continuum of meanings that permeates positive, instrumental and negative aspects, capable of influencing the way that the individual interprets it, their health, productivity and organizational bond. The postgraduation - a place of prestige, productivity and competition -, provides different meanings for professors at different stages of their careers. This research analyzed the senses and meanings of the work for professors linked to the stricto sensu postgraduate programs of a Brazilian university. Through a qualitative and descriptive research, 33 professors linked to postgraduate courses answered questions about their work that were submitted to content analysis. The positive senses that emerged in the participants’ speech were mainly linked to the social function of the profession, whether in student education or in contributing to society through teaching, research and extension activities. On the other hand, negative senses appeared associated with the precariousness of work and devaluation of the professor. The senses of work, identified in the research, reflect situations of pleasure and suffering that fluctuate over the years, on the one hand, the lack of attention from the State towards universities and professors, and on the other, the functional body of institutions in the search and struggle to improve this environment.

Keywords: sense and meaning of work; postgraduate; professor

1 Introdução

O trabalho faz parte da condição humana e nos diferencia de outros animais, é uma atividade intencional de transformação do ambiente e do próprio sujeito (GONDIM; BORGES, 2020). Constitui-se como um dos valores fundamentais do ser humano e exerce importante papel para a autorrealização e a subjetividade, bem como contribui para o desenvolvimento da identidade e dos processos de socialização (ANTUNES, 2003; BLANCH, 2003; BORGES; YAMAMOTO, 2014; GONÇALVES; OLIVEIRA, 2017; NEVES et al., 2018). A forma como os indivíduos, a partir de suas vivências e percepções, compreende e conceitua a própria atividade laboral é representada pelo fenômeno denominado “sentidos e significados do trabalho” (NUNES et al., 2019).

Embora, na literatura, não haja consenso acerca da definição e diferenciação dos termos “significado” e “sentido” do trabalho (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014; PEREIRA; TOLFO, 2016; TOLFO, 2015; TOLFO et al., 2011) nesse artigo, eles serão entendidos como interdependentes e relacionados. Diferentes estudos buscaram integrar e sistematizar o conhecimento acerca dos sentidos e significados do trabalho de diferentes maneiras, seja identificando as bases teórico-epistemológicas que norteiam as investigações sobre o fenômeno (PEREIRA; TOLFO, 2016; SCHWEITZER et al., 2016), analisando estudos que enfocam a temática (NEVES et al., 2018) e mesmo rediscutindo as relações entre os dois conceitos (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014).

O trabalho e seus sentidos, para Blanch (2003) e Lamothe e Guay (2017), percorre um continuum de significados: do polo negativo, relacionado à penalidade e ao castigo, até o polo positivo, no qual o trabalho é percebido como vocação, satisfação e autorrealização, passando por um marco central neutro relacionado à perspectiva instrumental, a serviço da sobrevivência. A organização em “três tempos” (positivo, negativo e instrumental) proposta por Blanch (2003) e corroborada por Lamothe e Guay (2017) e aqui mencionada é didática, pois o dia a dia das atividades laborais apresenta situações e condições capazes de produzir diferentes e conflitantes sentidos ao próprio trabalho. Além disso, esses sentidos podem emergir de forma concomitante na trajetória de um trabalhador, expressando várias contradições, com predominância de um ou com a presença de todos eles (GONDIM; BORGES, 2020; NUNES et al., 2019; TOLFO, 2015).

Pesquisas que buscam investigar os sentidos e significados do trabalho para docentes são encontradas na literatura. O estudo de Nunes et al. (2019) sobre sentidos e significados do trabalho de docentes e técnico-administrativos de uma universidade federal evidenciou a predominância de sentidos positivos que relacionaram o trabalho a sua função social, ao orgulho da instituição, ao gostar do que se faz e a possibilidade de crescimento profissional e/ou pessoal. A pesquisa de Irigaray et al. (2019) investigou os sentidos do trabalho para professores de uma instituição de ensino superior (IES) relacionando-os aos diferentes vínculos empregatícios. Outro exemplo é de Silva, Ribeiro e Lima (2019) que analisaram as representações que professores universitários constroem sobre a profissão docente e destacaram também os sentidos positivos associados à realização, prazer, satisfação e alegria. Ainda, D’Arisbo et al. (2018) ao pesquisarem sobre o sentido do trabalho de docentes e a relação com a flexibilização do trabalho perceberam a predominância do sentido laboral substantivo sobre o instrumental.

A profissão e o “ser” docente no ensino superior são construídos e modificados ao longo de suas trajetórias (ISAIA, 2006), sendo influenciados por elementos contextuais que favorecem a incidência de sentidos positivos, neutros e/ou negativos do trabalho. Observa-se nos últimos anos, a degradação das condições de trabalho e o descrédito da profissão e da missão das IES, principalmente pela falta de políticas governamentais. Por outro lado, a pós-graduação segue sendo considerada um ambiente de prestígio/status e que fornece contribuições para a sociedade devido a suas pesquisas; apesar disso, persistem cobranças exacerbadas por produtividade e a competição entre os pares, buscando um destaque em um mercado onde “só” os melhores sobrevivem (NUNES et al., 2019). O ambiente, portanto, contribui para continuum de significados conforme mencionado por Blanch (2003) e Lamothe e Guay (2017).

Frente a esse contexto, objetiva-se analisar os sentidos e significados do trabalho para docentes vinculados aos Programas de Pós-Graduação stricto sensu de uma universidade brasileira. Discutir essa temática é fundamental para identificar a relação desses profissionais com o trabalho, ambiente laboral e as relações interpessoais, considerando que os sentidos atribuídos são influenciados positiva e/ou negativamente pelo ambiente externo, interno e pelas percepções do próprio indivíduo. Ademais, compreende-se que as universidades são ambientes complexos, políticos e que apresentam contradições incorporadas da própria sociedade, ou seja, multidimensões que interferirem e favorecerem nesse processo de construção dos sentidos do trabalho. Trata-se de pesquisa qualitativa e descritiva em que 33 docentes vinculados a pós-graduação responderam questões sobre seu trabalho. Para além da introdução, esse artigo conta com outras quatro seções. Segue-se para a fundamentação teórica, que sustenta e norteia a perspectiva epistemológica e teórica de compreensão do trabalho e dos sentidos e significados a ele atribuídos. Além disso, é incluída uma subseção que caracteriza a profissão docente no ensino superior. A seção seguinte descreve o percurso metodológico adotado nessa pesquisa. A seção de análise e interpretação dos dados caracteriza os participantes e discute os resultados relacionados aos sentidos enfatizando aspectos positivos e negativos. Por fim, são apontadas considerações obtidas a partir com a análise dos dados coletados na pesquisa.

2 O trabalho e seus sentidos e significados

O trabalho tornou-se, ao longo do desenvolvimento da humanidade, uma atividade central na vida das pessoas (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2017; OLIVEIRA; PEREIRA; LIMA, 2017), impactando na construção da identidade, da subjetividade e constituindo-se um importante meio de socialização do ser humano (ANTUNES, 2003; BLANCH, 2003; BORGES; YAMAMOTO, 2014; GONÇALVES; OLIVEIRA, 2017; NEVES et al., 2018). Essa perspectiva de centralidade psicológica e sociológica do trabalho o considera um elemento-chave para a compreensão dos indivíduos e suas interações com o mundo.

As constantes transformações no mundo trabalho, principalmente a partir do final do século XX - tais como a intensificação da globalização, a reengenharia, as inovações tecnológicas e informacionais, as possibilidades de comunicação, a exigência e surgimento de formatos de trabalho flexíveis e a constante preocupação com o realinhamento estratégico, modernização de processos produtivos, financeiros e administrativos (BORGES; YAMAMOTO, 2014; TOLFO, 2015) -, impactam nas esferas econômicas, sociais, políticas, culturais e tecnológicas relacionadas ao contexto do trabalho (BENDASSOLLI, 2009; GONÇALVES; OLIVEIRA, 2017). Apesar dessas novas formas de trabalho e de relações laborais, Irigaray et al. (2019) reafirma a importância do trabalho para as pessoas e para a sociedade.

Para Bendassolli (2009) a compreensão da centralidade moderna do trabalho exige a introdução de lógicas distintas nos processos de subjetivação, como: moral-disciplinar (o dever de trabalhar e seus elementos normativos); romântico-expressivo (ressalta a natureza expressiva do trabalho, aquilo que “nasceu para fazer”, de seu domínio e habilidade); instrumental (dimensão liberal do trabalho, visto como uma troca, que é submetido à uma lógica capitalista de produtividade e a eficiência); consumista (meio de acesso para um prestigio social por meio da aquisição de bens); gerencialista (trabalho como sinônimo de carreira e da “marca própria”, exposto de uma forma mercadológica).

Nesse cenário, o fenômeno sentidos e significados do trabalho é estudado por diversas áreas do conhecimento, tais como a administração e a psicologia (PEREIRA; TOLFO, 2016). O trabalho possibilita a integração entre significados e sentidos construídos na relação que é estabelecida entre o indivíduo e o mundo (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014). A base histórica desse fenômeno pode ser reportada a diferentes momentos. Destaca-se aqui os estudos de Morse e Weiss (1955) sobre o significado do trabalho para norte-americanos, que elucidaram que, profissionais de salário médios e que ocupavam um cargo de gestão, relacionavam seu trabalho a objetivo, realização e autoexpressão, já trabalhadores de salários baixos o relacionavam a ocupação (GOULART, 2009).

Nas décadas de 1960 e 1970 surgiram as pesquisas de Tausky e Piedmond (1968) e Hackman e Oldhan (1975), reconhecidos como pioneiros e referenciais históricos para os estudos sobre o fenômeno. Enquanto os primeiros identificaram o significado do trabalho para trabalhadores manuais, os segundos estabeleceram relações entre qualidade de vida e o sentido do trabalho. Destaca-se também as pesquisas do grupo Meaning Of Work (MOW) que trouxeram contribuições a nível mundial, já que utilizaram amostras representativas de diversos países e identificaram as variáveis relacionadas ao construto, entendidos por eles como multidimensional e dinâmico (NUNES et al., 2019; PEREIRA; TOLFO, 2016; TOLFO, 2015). Para o grupo MOW, o significado do trabalho resulta de uma interpretação do contexto laboral que é compartilhada e envolve aspectos históricos, econômicos, políticos e culturais. No Brasil, em especial, os estudos com o construto e que visavam adaptar e validar instrumentos e iniciaram nos anos 1990 (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014).

Após esses estudos, desenvolveram-se pesquisas sobre o(s) sentido(s) e significado(s) do trabalho a partir de diferentes perspectivas epistemológicas, que influenciaram na busca por um consenso na forma de chamar o fenômeno (PEREIRA; TOLFO, 2016; SCHWEITZER et al., 2016). Nesse estudo, privilegia-se a utilização do entendimento de significado do trabalho em sua processualidade, como um construto dinâmico, construído na relação do indivíduo com seu ambiente e que sofre influências de diferentes fenômenos psicossociais (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014; BLANCH, 2003). Os significados e sentidos do trabalho auxiliam os indivíduos a criarem vínculos com as atividades que realizam, envolvendo a subjetividade nessa vinculação com o mundo (GONDIM; BORGES, 2020).

Para Gondim e Borges (2020) o trabalho pode significar dignidade e humilhação, saúde e doença, prazer e sofrimento, fonte de sustento e dificuldade de enfrentamento, desafios e riscos, dentre outros, expressando contradições dentro do continuum proposto por Blanch (2003). De maneira resumida, Pereira e Tolfo (2016) explicitam seu entendimento a partir dessa abordagem: na visão positiva, predominante na sociedade moderna, o trabalho é associado a missão, vocação, fonte de prazer, satisfação e autorrealização; no entendimento neutro, o trabalho é associado ao emprego e a remuneração, ligado à sua função instrumental, como meio de garantir a sobrevivência; e por fim, no polo negativo, o trabalho é relacionado a opressão, coerção, esforço e castigo e degradante. Tal classificação permite afirmar que o trabalho ocupa significados e sentidos diferentes, que podem ser coletivos e/ou individuais, de caráter tanto subjetivo quanto objetivo e relacionados à aspectos da época, cultura e organização (BLANCH, 2003).

2.1 O “ser” docente: características da profissão docente no ensino superior

O “ser” docente no ensino superior é um processo complexo e contínuo de construção que se forma ao longo da trajetória profissional, envolvendo de forma dinâmica as dimensões pessoal, laboral e institucional (ISAIA, 2006). É nessa intersecção que o sentido e o significado do trabalho são estruturados para cada docente e surge o “ser” professor.

As atividades acadêmicas de ensino superior mudaram nos últimos anos e passaram a englobar múltiplas atividades para além do ensino, tais como a pesquisa, a extensão, a orientação e atividades de administração (D’ARISBO et al., 2018, MILLER, 1991). Somado a isso, outros afazeres de líder, de gestor, de pesquisador, de docente são incorporados, incluindo tarefas administrativas, elaboração de workpapers, participação em reuniões, planejamento de orçamento, lidar com gestores, direcionar discentes professores e staff não acadêmico, continuar com uma agenda de pesquisa, além de direcionar algum tempo para relações públicas e externas com a sociedade (CARROLL; GMELCH, 1992). Para cumprir com o papel social da universidade em relação à sociedade o docente também deve ser capaz de cumprir outras atividades como reuniões de associação profissional, organização de eventos, edição de publicações acadêmicas (BALBACHEVSKY, 1999), manter diálogo com instituições públicas e privadas, manter relação com IES estrangeiras para troca de conhecimentos e realizar trabalhos em parcerias e convênios capitaneados por iniciativa própria.

Dessa forma, as tarefas a serem desempenhadas extrapolam a tríade docência, pesquisa e extensão (D’ARISBO et al., 2018, MUSSELIN, 2011) e, incluem desenvolvimento de produtos e contatos comerciais, elaborar documentos contratuais e elaborar programas de ensino em ambiente virtual nas diversas plataformas disponíveis. Os professores têm sido os rostos que divulgam a marca de suas IES em redes sociais e eventos e que disseminam suas realizações como publicações, disciplinas ministradas, projetos e qualquer outro feito que possa colocar o profissional e a instituição em evidência.

As múltiplas atividades desenvolvidas pelos docentes na pós-graduação exigem competências gerenciais e comportamentais, além daquelas esperadas de um docente e pesquisador. Para Paiva e Melo (2009), é necessário utilizar e/ou desenvolver uma diversidade de competências que, muitas vezes, podem parecer contraditórias. Do professor pesquisador espera-se foco e concentração para ler, interpretar, escrever e inovar, já do professor-gestor exige-se o cumprimento de atividades burocráticas, administrativas (MENDONÇA et al., 2012), comerciais e de relações interinstitucionais e internacionais que podem tomar seu tempo e desvirtuar o foco da pesquisa e docência. Embora sejam atividades complementares, podem resultar em sobrecarga de atividades com focos e exigências diferentes.

Nesse cenário, o trabalho pode gerar sentimentos de prazer ou desprazer, favorecendo a saúde ou a doença (NUNES; TORGA, 2020), ou seja, embora o trabalho possa dar sentido e promover a autorrealização, o sofrimento também é inerente à atividade laboral (RATES; LEDA, 2018; LANCMAN; SZNELMAN, 2011). As atividades desenvolvidas são acompanhadas pelas exigências de qualidade e produtividade, pelo desgaste interpessoal com superiores e alunos, pela pressão por desempenho e qualidade e, pode interferir diretamente na formação de futuros profissionais ou pesquisadores, o que demonstra a relevância deste trabalhador para a academia e para a sociedade.

Para a realização da atividade laboral acontece uma interação entre a personalidade do trabalhador com as atividades nas relações interpessoais e no contexto laboral no qual está inserido. Se a realidade do trabalho está em desacordo com as suas expectativas isso pode resultar em sofrimento psíquico. Concomitantemente, podem acontecer experiências exitosas que tragam sentimento de prazer e satisfação. A regulação dessas emoções opera-se no aparelho psíquico e dela depende a manutenção da saúde psíquica do sujeito-trabalhador (MAISSIAT et al., 2015)

Pesquisas demonstram que a ausência de condições organizacionais adequadas, a precarização do trabalho (COUTINHO; MAGRO; BUDDE, 2011; FERNANDES, 1996), a demanda por publicações de excelência, a cobrança discente intra e extraclasse podem dilapidar a saúde levando o docente ao adoecimento por meio da forte pressão, comprometendo a docência e a pesquisa. A maneira com que o professor lida com as dimensões do trabalho docente (profissional, pessoal e institucional) pode levar ao sofrimento e ao estabelecimento da doença (MERLO; BOTTEGA; PEREZ, 2014) como depressão, ansiedade, síndrome de pânico, síndrome de burnout, entre outras (LEITE et al., 2020).

A educação no Brasil, pelo governo atual, não é uma prioridade e é permeada por um discurso “anti-conhecimento”, em que se utiliza de práticas e projetos que tendem a sucatização e precarização das condições de funcionamento das universidades públicas e do corpo funcional (MANCEBO et al., 2020). Com isso, o trabalho na educação superior é e será impactado em alguns níveis: a) financeiros - com contenções/cortes em salariais, de incentivo a projetos financiados e investimentos de recursos na educação, pesquisa e órgãos de fomento; b) paralisia estrutural das instituições públicas - frente a número elevado de futuros aposentados e poucos movimentos para novas contratações, a intensificação do trabalho e a exigência pela produtividade. Já no campo privado, existe a necessidade de “mostrar serviço” face ao desemprego e concorrência existente; c) não retorno de benefícios para a sociedade, uma vez que no contexto político atual não há incentivos para tal fim; d) adoecimento, muitas vezes silencioso, motivado pelo não-reconhecimento do trabalho, competitividade, intensificação do trabalho, ataques a profissão e instituições e outros elementos (MANCEBO et al., 2020). Por fim, o “ser” docente vai além das salas de aula, envolve um volume de atividades e funções que não estão dissociadas da função social da profissão e das universidades. Embora atualmente ocorra um contexto que questione o “ser” docente, as intuições de ensino superior e a pesquisa, não é possível mensurar ainda como reverter todos os impactos negativos que estão acontecendo atualmente (MANCEBO et al., 2020).

3 Método

Este artigo faz parte de um projeto maior que trabalhou com temas como cultura e comportamento organizacional, relações de trabalho, sentidos e significados do trabalho, ética, valores, dentre outras temáticas. O presente estudo é classificado como qualitativo, pois busca identificar os sentidos e significados num universo de motivos, valores e atitudes, a partir dos relatos dos participantes, ou seja, em um aspecto mais subjetivo. A pesquisa ainda se classifica como descritiva, uma vez que descreve as características do fenômeno e da população (GIL, 2007) - os sentidos e significados do trabalho para os docentes vinculados na Pós-Graduação.

Os participantes foram os servidores docentes vinculados aos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu (PPGs) de uma universidade brasileira. No momento da pesquisa, a IES contava com cerca de 660 docentes vinculados aos PPGs. A amostra caracteriza-se por conveniência, pois a participação decorreu da acessibilidade e interesse dos docentes. Os pesquisadores divulgaram e realizaram convites por e-mail para todos os servidores vinculados aos PPGs, bem como aos próprios programas. Ao total, 36 docentes acessaram o instrumento, porém 33 responderam ao questionamento sobre o tema desse estudo.

Os dados foram coletados com a aplicação de um questionário online, composto 3 partes: a) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que apresentava informações sobre a pesquisa, objetivos e questões éticas; b) Dados Sociodemográficos e relacionados ao trabalho do docente na IES, como por exemplo, idade, sexo, cor, estado civil, formação, tipo e tempo de vínculo; c) Questões abertas sobre os sentidos e significados do trabalho. É importante enfatizar que para seguir na pesquisa o participante deveria aceitar as condições do TCLE. A pesquisa foi encaminhada e aprovada pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE 70905517.0.0000.0104). Portanto, o respeito às normativas sobre o manejo correto dos conteúdos de dimensões da vida humana foi mantido, conforme as Resoluções nº 466/12 e 510/16, do Conselho Nacional de Saúde - CNS (BRASIL, 2012; 2016).

Os dados sociodemográficos, utilizados para a caracterização da amostra, foram analisados a partir de estatística descritiva, identificando média e frequência das respostas. Já as questões sobre sentido e significado do trabalho foram analisadas a partir da análise de conteúdo. A utilização da análise de conteúdo nessa temática é de grande valia, pois procura trabalhar com uma compreensão mais profunda das informações através da inferência e interpretação (BARDIN, 2011). Desta forma, a análise foi desenvolvida observando algumas etapas definidas pela autora: a pré-análise (ocorre a organização do material a ser analisado, a transcrição dos entrevistados, definição do corpo de análise, hipóteses e demais); a exploração do material (divisão do texto em unidades de registro para classificação em categorias de acordo com temas trabalhados); o tratamento dos resultados, inferência e interpretação (análise reflexiva e crítica dos resultados). Salienta-se que as categorias de análise foram definidas a priori, partindo das contribuições de Blanch (2003) na temática, que interpreta os sentidos/significados do trabalho como: positivo, neutro/instrumental e negativo. A partir da categorização das respostas, criou-se também subcategorias para identificar os elementos mais frequentes na pesquisa

4 Análise e interpretação dos dados

Nesta seção são expostas, inicialmente, algumas características sociodemográficas e do trabalho na Universidade dos 33 docentes vinculados aos Programas de Pós-Graduação stricto sensu que participaram deste estudo. Na sequência, são apresentadas as categorias de análise que permitiram identificar os sentidos e significados atribuídos pelos docentes às suas experiências na pós-graduação. A Tabela 1 apresenta os dados mais frequentes na pesquisa.

Tabela 1 Dados sociodemográficos 

Dados Sociodemográficos (33) Frequência (n) Porcentagem (%)
Gênero: Feminino 17 51,5
Gênero: Masculino 16 48,5
Idade média: 49 anos - -
Cor/etnia: Branca 29 87,9
Estado Civil: Casado(a)/União Estável 22 66,7
Vínculo: professores efetivos 33 100,0
Centro de Vínculo: Ciências da Saúde 9 27,3
Centro de Vínculo: Ciências Humanas 7 21,2
Tempo de trabalho na Universidade: mais de 25 anos 14 42,4
Tempo de trabalho na Universidade: de 6 a 10 anos 7 21,2
Tempo de trabalho na Pós-Grad. da Univ.: de 1 a 5 anos 14 42,4
Tempo de trabalho na Pós-Grad. da Univ.: de 11 a 15 anos 8 24,2
Cargo de Direção na Pós-Grad.: Não 25 75,8

Fonte: dados primários.

A idade média da amostra foi de 49 anos (DP = 10,17). Na Tabela 1 destaca-se o tempo de trabalho na universidade, em que quase metade da amostra (42,4%) tem mais de 25 anos dedicados a IES, apesar disso, a atuação pós-graduação é recente (de 1 a 5 anos). Conforme apresentado na teoria, existe uma diferença nas atividades desenvolvidas e no próprio reconhecimento/status entre a Graduação e Pós-Graduação - em que pode ser agregado um volume maior de trabalho, além das atividades normais da graduação.

A análise das respostas relacionadas aos sentidos e significados atribuídos ao trabalho foi, inicialmente, categorizada nos três polos proposto pela teoria (BLANCH, 2003) - positivo, neutro/instrumental e negativo. A Tabela 2, apresenta a distribuição da frequência e porcentagem das respostas nos polos, observa-se que o número total é maior que o de participantes, já que em algumas respostas foi possível identificar elementos pertencentes a mais de uma categoria.

Tabela 2 Polos dos sentidos e significados do trabalho 

Polos Frequência (n) Porcentagem (%)
Positivo 28 70,0
Negativo 9 22,5
Neutro/Instrumental 3 7,5
Total 45 100

Fonte: dados primários.

Apesar da incidência de respostas pertencentes às três categorias definidas, observa-se a maior frequência de elementos relacionados ao polo positivo, seguido pelo negativo. A discussão dessas categorias ocorrerá em subseções separadas, privilegiando a análise de duas subcategorias bastante prevalentes e significativas - a função social do ser professor e os reflexos da precarização do trabalho.

É importante enfatizar que elementos incluídos na perspectiva instrumental/neutra, ou seja, que reconhece o trabalho apenas como forma de subsistência, fonte de remuneração, obrigação e cumprimento de dever (BLANCH, 2003) foram identificadas em três respostas: “Atividade de trabalho normal” (P7); “Trabalho obrigatório da atividade docente” (P15); “Cumprir o meu papel (dever) na Instituição” (P16). O trabalho em que se é atribuído um valor neutro na vida dos indivíduos não representa fator positivo ou negativo, ou seja, não é uma atividade que traz prazer e satisfação, nem algo degradante (PEREIRA; TOLFO, 2016).

A baixa prevalência de respostas associadas a perspectiva neutra é entendida pelo fato de que, ser professor envolve uma escolha de vida, e em especial, da pós-graduação implica uma perspectiva de carreira que exige grande investimento na formação formal (doutorado e/ou pós-doutorado), estabelecimento de network consistente com outros professores e pesquisadores, bem como uma identificação e dedicação à pesquisa, à docência e à extensão. As exigências, muitas vezes, perpassam as contingências de um trabalho formal, tanto referindo-se ao espaço físico quanto o tempo dedicado ao cumprimento das atividades. Ser professor da pós-graduação exige constante investimento na carreira - parcerias, publicações, projetos, dentre outras atividades -, visto as formas de avaliação regulares a que são submetidos (MENDONÇA et al., 2012; MUSSELIN, 2011).

A profissão docente atravessa a construção da própria identidade profissional, elucidando o modo como os professores se reconhecem e se realizam, tanto como docentes como quanto pessoas (SILVA; RIBEIRO; LIMA, 2019). Esses aspectos ficam mais evidentes, ao analisar que nenhum dos participantes atribuiu sentidos relacionados diretamente a remuneração ou a retribuição financeira (salário), comum em muitas pesquisas sobre sentidos e significados do trabalho para diferentes profissões/ocupações (GONÇALVES; BUAES, 2011; MORIN; TONELLI; PLIOPAS, 2007; TOLFO; PICCININI, 2007)

4.1 A função/contribuição social: a perspectiva positiva nos sentidos atribuídos ao trabalho

No polo positivo o trabalho é concebido como uma vocação, missão, fonte de prazer, satisfação e autorrealização, ou seja, é um meio de promover sentidos positivos para o indivíduo (BLANCH, 2003; COUTINHO, 2009). Esses sentidos, encontrados em muitas áreas profissionais na sociedade moderna, foram predominantes nas verbalizações dos participantes dessa pesquisa. Desta forma, o sentido está atrelado à atividade profissional executada e as relações construídas por ele.

O sentido positivo predominante na pesquisa (16 ocorrências; 35,6%) foi o trabalho enquanto “função social”. Os participantes acreditam e se identificam com os objetivos das IES e da função docente, a promoção da pesquisa, ensino e extensão com vistas para aprimoramento e desenvolvimento da sociedade (BALBACHEVSKY, 1999). As seguintes falas demonstram essa percepção “[...] somos responsáveis pelas inovações técnicas e práticas em nossas áreas” (P4); “[ser docente] significa se preocupar com a ciência brasileira, [...] podemos fazer melhor não só pelo Brasil, mas pela nossa universidade” (P6); “Significa um compromisso social” (P13); “Significa ser um docente que realmente atua em sua área, produzindo conhecimento, expandindo os limites da área em que atua, apoiado por colegas, bons estudantes e pela instituição” (P24); “A possibilidade de cumprir plenamente o meu papel como professor e pesquisador [...] buscar na ciência soluções para alguns dos problemas afligem o homem” (P26); e “Melhorar a vida das pessoas que poderão ser reflexo para outros, como instituições de ensino, pesquisa” (P29).

Na pesquisa de Irigaray et al. (2019) alguns docentes interpretaram o trabalho como vocação, como uma atividade que apresenta um propósito maior e altruísta, ou seja, como um “chamado”. Assim, “[...] a significação do exercício de uma profissão deve ser analisada em função do papel social dela, bem como das razões que levam um indivíduo a escolhê-la (IRIGARAY et al., 2019, p. 22, grifo nosso). As metas de carreira estão embasadas em valores pessoais, que são descritos por Schwartz et al. (2012) e podem ser compreendidas como mais abstratas, representando a natureza ou os resultados das experiências de trabalho que se pretende atingir.

Quando os termos significado e sentido são definidos de forma distante, é dada uma abordagem social ao primeiro - considerando-o como construções coletivas em determinado momento histórico, econômico e social - e individual ao segundo - compreendido como produções pessoais a partir da apreensão do indivíduo acerca significados coletivos (BENDASSOLLI; GONDIM, 2014; PEREIRA; TOLFO, 2016; TOLFO; PICCININI, 2007; TOLFO, 2015; TOLFO et al., 2011). Nesse estudo, o significado do trabalho dos docentes participantes está fortemente conectado ao papel social que exercem, e que dá significado a responsabilidade social das IES. Os segmentos discursivos que corroboram esse valor remetem ao orgulho, satisfação e realização pessoal que dá sentido ao trabalho da docência por meio da realização do significado (missão) das IES: “Ser um profissional responsável em capacitar profissionais mais preparados [...] sermos responsáveis pelas inovações técnicas e práticas em nossas áreas (P4)”; “Cumprir o meu papel (dever) na Instituição, o de formar recursos humanos para o futuro da ciência no país” (P16); e “[...] contribuir para a formação profissional, ética e humana dos alunos e, consequentemente, com o desenvolvimento da sociedade” (P27).

O sentido de ser docente está conectado ao propósito de vida dos indivíduos, o que remete à uma vocação, inseparável da vida que escolheu viver, sendo a docência a forma de cumprir seus objetivos pessoais e os da universidade (WRZESNIEWSKI et al., 1997). O papel do docente está profundamente enraizado no significado social da atividade, o que é verificado por meio das construções discursivas dos respondentes que falam ao mesmo tempo do sentido (pessoal) e do significado (social) de ser docente, e que reforçam a adesão dos participantes ao compromisso social que constitui essência e princípio da universidade pública.

Outro aspecto que se destaca na análise dos fragmentos discursivos é a responsabilidade e comprometimento do docente quanto a formação discente e o seu empenho nesse objetivo (SILVA; RIBEIRO; LIMA, 2019), que vai ao encontro com o papel social da IES na formação dos alunos. Foram identificados 12 ocorrências (26,7%) na pesquisa em que o sentido positivo é relacionado à formação discente, na sequência destacamos algumas: “Ser um profissional responsável em capacitar profissionais mais preparados tecnicamente, politicamente e pessoalmente para o mercado de trabalho, independentemente de qual seja ele.”(P4); “Fui beneficiada com essa qualificação e entendo que tenho o compromisso de oferecer essa oportunidade a outras pessoas que contam com uma universidade regional, pública e gratuita para poderem se qualificar.” (P13); “[...] formar recursos humanos para o futuro da ciência no país.” (P15); “Contribuir para a formação acadêmica, profissional e humana em nível de pós-graduação.” (P18); “A oportunidade de participar da formação de outros profissionais, buscando que os mesmos sejam mais bem sucedidos que nossa geração” (P23); e “[...] contribuir para a formação profissional, ética e humana dos alunos e, consequentemente, com o desenvolvimento da sociedade.” (P27).

Ao analisar o conteúdo das falas é importante destacar os trechos de P4, P18 e P27 que enfatizam a contribuição na formação técnica, mas também na humana, política, social e ética do discente. Reflete, portanto, que o papel do docente ultrapassa o técnico e do conteúdo que é ministrado dentro de sala de aula, nas orientações e discussões nos grupos de pesquisa e demais espaços. É uma atividade que apresenta uma alta relevância social do trabalho em que, segundo D’Arisbo et al. (2018), a docência é percebida como um elemento de transformação do discente, em um aspecto do próprio aprendizado, das reflexões e transmissões de experiência, e mesmo no estabelecimento de relações. Irigaray et al. (2019) corroboram ao afirmar que a docência tem sentido quando transforma e “faz a diferença” na vida dos discentes. No entanto, os autores afirmam que essa contribuição ocorre, principalmente, quando ambos se veem como parceiros no processo. Cabe salientar, que entre os docentes mais jovens, as atividades de ensino ficam em segundo lugar em detrimento das atividades de pesquisa (IRIGARAY et al., 2019).

Ao sair do âmbito dos aspectos sociais do trabalho, outros sentidos positivos foram identificados nas falas dos participantes. Entre eles, o desenvolvimento pessoal e profissional, identificado em outras pesquisas (D’ARISBO et al., 2018; IRIGARAY et al., 2019; NUNES et al., 2019; SILVA; RIBEIRO; LIMA, 2019), conforme pode ser observado a seguir: “Significa a possibilidade de desenvolvimento pessoal, profissional e a possibilidade de lutar por mais espaços sociais na universidade” (P9); “Uma oportunidade de pesquisar, de orientar, de continuar minha formação como pesquisador, de iniciar e acompanhar a formação de novos pesquisadores, divulgação e discussão de ideias” (P31); e “Muito importante no sentido de um crescimento pessoal, porém cansativo em muitos aspectos mencionados acima” (P33).

O sentimento de autorrealização, mencionado por D’Arisbo et al. (2018), está alinhado ao de desenvolvimento e aprendizagem, sendo que nas IES públicas existe o apoio para formação e capacitação do docente. Por sua vez, Irigaray et al., (2019) refletem que o crescimento profissional e pessoal, muitas vezes, é reflexo da aplicação prática do conhecimento e experiências com os discentes e nas atividades docentes. O ambiente da pós-graduação envolve além das atividades de graduação, maior desenvolvimento de pesquisas, participações em eventos nacionais e internacionais, network com outros pesquisadores e instituições, envolvimentos com os orientados, suas pesquisas e grupos de pesquisa, e demais. São atividades que promovem, em diferentes graus, o desenvolvimento pessoal, profissional e social do docente, uma vez que o próprio sistema “exige” trocas mais intensas com o meio.

O docente que escolhe participar da pós-graduação deve ter em mente as (novas) responsabilidades e gostar do trabalho que desenvolverá com esta escolha. Responsabilidade não como um fardo, mas um sentido positivo que reflete em orgulho ou sentimento gratificante em estar representando sua instituição e PPG internamente e/ou externamente. Desta forma, foram identificados relatos, como: “É gratificante fazer parte da pós-graduação da universidade, por ser uma instituição séria” (P2); “Uma grande responsabilidade, pois nossa instituição é reconhecida no Brasil e em alguns outros países pela pesquisa.” (P5); “Significa fazer o que eu gosto acrescido de muita responsabilidade.” (P8); e “Fazer parte de uma universidade pública me honra e me gratifica enquanto profissional.” (P32). Esses trechos podem ter maior peso dependendo também da nota do PPG na CAPES ou também da IES a qual pertencem, ou seja, quanto maior o reconhecimento institucional, maior será a responsabilidade e orgulho. Existe nos discursos, uma satisfação profissional e pessoal em pertencer a estes grupos. Ruza e Silva (2016) relatam em sua pesquisa que maior parte do corpo docente na pós-graduação apresenta uma satisfação profissional, ou seja, estão contentes no seu trabalho ou na situação atual em que se encontram - em diferentes graus.

Morin e Aubé (2009) relatam que dar sentido aos próprios atos é essencial para os indivíduos, que buscam que esses sejam aceitáveis para eles e reconhecidos no meio em que interagem. Ademais, Morin, Tonelli e Pliopas (2007) corroboram ao expressar que o trabalho que tem sentido, o indivíduo gosta de suas atividades e aprecia o que desenvolve. Por fim, conforme exposto nesta subseção, os sentidos positivos do trabalho docente de pós-graduação estão implicitamente relacionados às suas atividades laborais e ao “resultado” do seu trabalho, ou seja, seguem uma perspectiva da função social “própria” da profissão e do compromisso social da universidade pública.

4.2 Precarização do trabalho: os reflexos na atribuição de sentidos

A atribuição de sentidos negativos ao trabalho - tais como punição, castigo, sofrimento e desvalorização (BLANCH, 2003) - remonta a épocas difíceis da história da humanidade, tais como a antiguidade clássica e a idade média, em que o trabalho era inferior e humilhante - exercido por escravos e vassalos (BORGES; YAMAMOTO, 2014). Além disso, a representação negativa do trabalho reforça a associação da atividade laboral a uma dimensão degradante, em que o indivíduo somente obterá dignidade e cidadania se outros trabalharem por ele (PEREIRA; TOLFO, 2016). Na atualidade, as constantes e intensas transformações no mundo do trabalho tem imposto novas formas de organização e gestão, muitas vezes, danosas aos trabalhadores e que influenciam em suas atribuições de sentidos e significados ao trabalho.

Para Irigaray et al. (2019), Oliveira, Pereira e Lima (2017) e Silva, Ribeiro e Lima (2019) a carreira docente, que já ocupou elevado status social, também tem sofrido com as repercussões e mudanças do ambiente, incluindo diversas políticas e práticas organizacionais. Corroborando, Ruza e Silva (2016) reforçam que as atividades laborais e a subjetividade do professor da pós-graduação estão inseridas em um contexto político-econômico determinado pelo capitalismo, pelas modificações do Estado e por práticas de gestão e organização do trabalho fundadas em paradigmas objetivista, funcionalista e utilitarista.

Dessa forma, a imposição de disponibilidade de tempo e energia para atender (e talvez superar) as expectativas e exigências do competitivo mercado de trabalho também está presente no contexto das universidades. Esses aspectos aparecem nas falas dos docentes associados às exigências da função assumida na pós-graduação, “Impacta na minha qualidade de vida, tenho menos tempo disponível, vivo correndo” (P19) e “Significa mais trabalho em relação aos outros colegas doutores não pertencentes a programas de pós-graduação. Não existe benefícios como redução de carga horária se o docente da pós-graduação tem 1, 2 ou 6 pós-graduandos e o outro colega não orienta” (P20). As falas revelam a sobrecarga de trabalho, consequência da intensificação das demandas profissionais, que para docentes da pós-graduação se eleva ainda mais em virtude da pressão na produção científica e da necessidade de atuar numa multiplicidade de áreas: ensino, comissões e orientações na pós-graduação (RUZA; SILVA, 2016). Ademais, o panorama do produtivismo acadêmico dos professores-pesquisadores, que precisam conciliar atividades de docência, pesquisa e extensão, exige cada vez mais dedicação e esforço, incentiva a competição e traz repercussão na qualidade de vida, saúde e bem-estar do indivíduo (IRIGARAY et al., 2019).

O desgaste provocado pela sobrecarga, pela falta de condições de trabalho - apoio e recursos - e pela morosidade que o excesso de burocracia pode causar também foram evidenciados na fala de um dos participantes, “É gratificante fazer parte da pós-graduação [...] por outro lado, é desgastante trabalhar com tão poucos recursos, pouco apoio e muita burocracia” (P2). Esses aspectos também foram citados na pesquisa de Ruza e Silva (2016) em que a sobrecarga de trabalho, advinda das múltiplas atividades do ensino superior, em especial das tarefas administrativas e burocráticas, foi limitante do prazer e de sentidos positivos do trabalho do docente, além de poder ocasionar sofrimento e adoecimento (OLIVEIRA; PEREIRA; LIMA, 2017). As IES possuem um ambiente altamente complexo e burocrático no âmbito administrativo e acadêmico, em consequência disto, podem ser lentas no atendimento das demandas pelo excesso de normas, além de terem sua eficiência comprometida devido às disfunções da burocracia (VIEIRA; VIEIRA, 2004). Ademais, Pires e Macêdo (2006) expõem que a má gestão, a alta burocracia, a influência política e a limitação dos recursos nas organizações públicas prejudicam a prestação do serviço à sociedade. Os aspectos normativos e burocráticos da Pós-Graduação vão além das atividades internas dos PPG’s e da Universidade, mas também apresentam relação com o externo - por exemplo os órgãos regulatórios, como CAPES e MEC, ou quanto ao vínculo com entidades externas que precisa ser comunicado e aceito internamente.

Não somente na fala acima, do P2, houve a presença de elementos positivos e negativos na mesma afirmação, outros exemplos são “Sacrifício e doação para contribuir para a formação profissional” (P27) e “Muito importante no sentido de um crescimento pessoal, porém cansativo em muitos aspectos” (P33). O conflito em que, de um lado há o prazer oriundo do trabalho e da identificação com o mesmo, e do outro o sofrimento, associado ao “preço a ser pago”, parecem compor o sentido do trabalho para docentes do ensino superior na atualidade (IRIGARAY et al., 2019; RUZA; SILVA, 2016). As contradições, são explicadas por Gondim e Borges (2020) como reflexos das manifestações singulares e socioculturais expressas nos sentidos e significados do trabalho, que são mediados por diversos símbolos e processos de socialização.

Ao analisar o conteúdo das falas dos participantes que atribuíram sentidos negativos ao seu trabalho, é possível identificar elementos associados a precarização do trabalho: “Significa fazer o que eu gosto acrescido de muita responsabilidade e alguns pequenos incentivos da instituição (P8) e “Matar um leão por dia usando apenas um graveto.” (P25). As grandes transformações nas universidades, em busca da (suposta) eficiência e eficácia, refletiram em maior intensificação do trabalho e desgastes frente às exigências, e na realidade, são traduzidas por uma precarização institucional e danos à saúde dos docentes e do trabalho realizado nas IES (RUZA; SILVA, 2016). A precarização do trabalho e a degradação das suas condições podem, muitas vezes, serem identificadas pelo aumento de doenças profissionais, do sofrimento no trabalho e da insegurança social provocada pela falta de ações que visem o bem-estar do trabalhador (GAULEJAC, 2007). A revisão de literatura de Oliveira, Pereira e Lima (2017) traz um importante aspecto para reflexão, já que segundo os autores a partir da identificação de sintomas e adoecimentos entre os professores universitários em contextos públicos, há a necessidade de refletir sobre seus processos do trabalho, e como esses se organizam a partir da mesma lógica do âmbito privado.

A exemplo, temos a seguinte fala: “Significa se preocupar com a ciência brasileira tão precarização e desprestigiada pelos governos atuais [...] inúmeras desvalorizações que temos tido, na carreira e na atividade desempenhada” (P6), que situa a precarização em um âmbito macro, enquanto consequência das ações, leis e políticas dos governantes, nas diversas esferas do poder público. Corroborando com o relato, para Rates e Leda (2018), o desenvolvimento de políticas públicas na área educacional que priorizem a docência e o próprio docente, que defenda o seu trabalho e a profissão de forma respeitosa, digna e com o reconhecimento da sua importância para a melhora da sociedade como um todo é um elemento altamente necessário.

Ainda, na fala do P6 a desvalorização é citada e diz respeito diretamente a atual falta de prestígio e reconhecimento do status profissional do docente. A pesquisa de Silva, Ribeiro e Lima (2019), também com professores universitários, identificou que a desvalorização se relaciona a sentimentos que incomodam os docentes, para eles, a carreira, as condições de trabalho e as jornadas intensas são citados como elementos da desvalorização da profissão. Mancebo et al. (2020) corroboram ao afirmar que atualmente existe de forma mais intensificada um discurso contra o conhecimento científico, contra as universidades e contra os docentes, reafirmado constantemente nas falas e práticas de muitos políticos pertencentes ao atual governo federal. A valorização e o reconhecimento permitem a mobilização do indivíduo em busca de prazer e o fortalece para enfrentar os desafios do trabalho. Dessa forma, a relevância social da atividade e o reconhecimento são fundamentais para a construção da imagem de si, tanto como indivíduo como profissional (RUZA; SILVA, 2016).

Considerações finais

Identificar e analisar os sentidos e significados do trabalho é, ou deveria ser, importante para as organizações e gestores, pois esses elementos influenciam os vínculos estabelecidos pelo indivíduo com a organização e com seu trabalho, nos relacionamentos interpessoais e na saúde física e mental. A partir dos discursos dos participantes da pesquisa, foram identificados sentidos positivos (70%), negativos (22,5%) e neutro/instrumental (7,5%), seguindo a categorização apresentada por Blanch (2003), sendo importante enfatizar que um não exclui o outro, e que todos podem ser transformados ao longo do tempo.

Os sentidos positivos foram os mais evidenciados no discurso dos docentes. Dentre eles, o significado da função social e a contribuição para formação dos discente - aspectos que corroboram a missão e o compromisso das IES (com destaque para as universidades públicas) - e, o sentido da satisfação e realização pessoal e profissional ficaram salientados. Essa análise permite concluir que, para a amostra estudada, os aspectos positivos da atividade laboral regulam as emoções e orientam para o sentido de realização pessoal e para o comprometimento com a missão social da IES.

Por outro lado, sentidos negativos também foram identificados e associados às condições de trabalho precárias nas quais as IES estão submetidas e que refletem diretamente na organização do trabalho do docente. Aspectos relacionados à atividade de trabalho e a intensificação das demandas profissionais na pós-graduação - maior imposição de disponibilidade de tempo e energia para atender as expectativas e exigências do ensino, pesquisa e extensão - refletem em uma sobrecarga de trabalho geradora de desgaste.

Poucas verbalizações refletiram um sentido neutro/instrumental do trabalho, relacionado a uma atividade normal/obrigatória do docente. A baixa incidência é explicada pois “o ser professor da pós-graduação stricto sensu” em IES públicas é uma escolha do indivíduo. A qual, por exemplo, não está atrelada à ganhos financeiros necessários para sua sobrevivência - item comum no sentido neutro/instrumental -, mas a outros motivos que podem ser o interesse na pesquisa, o prestígio e status em pertencer a um PPG, a própria função social e a formação de futuros professores e pesquisadores (sentidos positivos).

Compreende-se que a relevância dessa pesquisa se vincula ao valor que é atribuído ao trabalho na sociedade, que perpassa os vários estágios de vida laboral do indivíduo. Ao vincular o tema com o campo de pesquisa, verifica-se outro aspecto importante, na medida em que atualmente as IES estão sendo fortemente “atacadas” em várias frentes como ambientes de “balbúrdia”, e consequentemente, são atribuídas imagens negativas aos docentes. Além da falta de investimentos do governo que leva a uma precarização do trabalho e da própria instituição, dificultando assim, exercer sua função social. Portanto, na perspectiva aplicada, compreender o sentido do trabalho dos docentes de pós-graduação pode contribuir para uma promoção de práticas e políticas de gestão que possibilitem maior motivação, produtividade e identidade com os valores e a missão institucional, além de outros efeitos positivos para com os pares, discentes e a própria sociedade.

Para pesquisas futuras, sugere-se o estudo em IES privadas para compreender se existe diferenças entre o ambiente público e privado. No contexto atual, de isolamento social (2020-2021), também se considera importante verificar como está o sentido e significado do trabalho docente em meio ao distanciamento da relação docente-discente frente a pandemia de Covid-19. Bem como, em uma perspectiva política, se as ações e discursos do Ministério da Educação e Governo Federal têm influenciado esses sentidos e significados.

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Recebido: 25 de Janeiro de 2021; Aceito: 07 de Outubro de 2021

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