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Educação e Pesquisa

versão impressa ISSN 1517-9702versão On-line ISSN 1678-4634

Educ. Pesqui. vol.46  São Paulo  2020  Epub 19-Mar-2020

https://doi.org/10.1590/s1678-4634202046214213 

Artigos

Relação com o saber: um estudo com universitários ingressantes em uma instituição privada

1 - Universidade Federal de Sergipe , São Cristóvão , SE , Brasil . Contato: vieirask@hotmail.com.


Resumo

Este artigo apresenta resultados de uma investigação que buscou compreender a relação com o saber acadêmico de estudantes universitários de uma instituição privada de educação superior. O campo da pesquisa foi o Centro Universitário AGES (UniAGES) localizado no estado da Bahia. Os sujeitos da pesquisa foram 170 estudantes de primeiro e segundo período que ingressaram na educação superior mediante o auxílio de programas governamentais, tais como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (ProUni) e mesmo o implementado pela Instituição, o Programa de Acolhimento (ProVIDA). A coleta de dados foi realizada a partir do balanço de saber, instrumento proposto por Bernard Charlot que consiste no processo da produção de um texto a respeito das aprendizagens do sujeito. Primeiramente, o artigo apresenta os eixos teóricos, seguidos da análise das aprendizagens evocadas pelos estudantes, após é discutido com quem os estudantes dizem ter aprendido, a preponderância das aprendizagens intelectuais e acadêmicas e, por fim, os projetos que elaboram para o futuro. Conclui-se que a relação com o saber dos sujeitos da pesquisa está ligada à valorização das aprendizagens intelectuais e acadêmicas como promessa de uma vida melhor. Trata-se do elemento de mobilização para entrar na universidade e, por almejarem a inserção no mercado de trabalho em uma sociedade especializada, não é incomum a preponderância apresentada para o tipo de aprendizado indicado com veemência.

Palavras-Chave: Relação com o saber; Educação Superior Privada; Acadêmicos bolsistas

Abstract

This article presents results of an investigation that sought to understand the relationship with academic knowledge of university students from a private institution of higher education. The research field was AGES University Center (UniAGES) located in the state of Bahia. The research subjects were 170 first and second period students who entered higher education through the aid of government programs, such as the Student Financing Fund (Fies) and the University for All Program (ProUni) and even the one implemented by the Institution, the Reception Program (ProVIDA). Data collection was carried out from the balance of knowledge, an instrument proposed by Bernard Charlot that consists of the process of producing a text about the subject’s learning. First, the article presents the theoretical axes, followed by the analysis of the learning evoked by the students, after it is discussed with whom the students say they have learned, the preponderance of intellectual and academic learning and, finally, the projects they elaborate for the future. It is concluded that the relationship with the knowledge of the research subjects is linked to the valuation of intellectual and academic learning as a promise of a better life. It is the element of mobilization to enter the university and, aiming at the insertion in the job market in a specialized society, it is not uncommon the preponderance presented for the type of learning strongly indicated.

Key words: Relationship with knowledge; Private Higher Education; Scholarship students

Introdução

Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que procurou compreender a relação com o saber acadêmico de estudantes bolsistas universitários de uma instituição privada de educação superior do interior da Bahia. A fim de alcançar esse propósito, foi utilizado como referencial teórico a teoria da relação com o saber, de Bernard Charlot (2000, 2001, 2005, 2006, 2009). A escolha dessa temática foi motivada por considerar o caráter heterogêneo do público universitário de instituições privadas decorrentes da expansão da oferta a esse nível de ensino a partir dos programas Fies e ProUni e mesmo o ProVIDA, do caráter complexo da discência na educação superior, bem como dos diferentes processos na relação com o saber acadêmico estabelecidos pelos estudantes. Por isso, foi encontrado nas discussões de Bernard Charlot a respeito da relação com o saber o referencial apropriado para a análise e compreensão dos diferentes aspectos envolvidos nas experiências educacionais estabelecidas na educação superior.

O campo da pesquisa foi o Centro Universitário AGES (UniAGES) localizado em um município de pequeno porte no estado da Bahia. A pesquisa abrangeu 7 cursos de graduação em licenciatura, sendo pesquisado um curso representativo de cada Centro de conhecimento 2 oferecido pela instituição: Biologia, 2012 (Ciências Biológicas); Educação Física, 2008 (Ciências da Saúde); Matemática, 2012; Física, 2014, e Química, 2014 (Ciências Exatas e da Terra); Pedagogia, 2007 (Ciências Humanas); Letras, 2001 (Linguística, Letras e Artes) 3 . A definição dos cursos tomou como premissa considerar aqueles com maior número de estudantes matriculados, pois assim ter-se-ia uma base mais ampliada de dados, bem como por ser neles a maior concentração de estudantes bolsistas. No entanto, como os cursos do Centro de Exatas registravam um baixo número de matrículas, optou-se por três como evidenciado acima.

Os sujeitos da pesquisa foram os estudantes do primeiro e segundo período de cada curso. Os 170 estudantes que compuseram a população investigada eram jovens, predominantemente do sexo feminino, oriundos de famílias com baixa renda e que, sendo os primeiros de suas famílias a ingressarem na Universidade, ultrapassaram a escolaridade dos pais. A fim de coletar os dados, foi utilizado o balanço de saber, técnica elaborada por Bernard Charlot que consiste na produção de um texto pelos sujeitos/estudantes, a partir das seguintes questões: “Desde que nasci, aprendi muitas coisas, em casa, na rua, na escola e em outros lugares... O quê? Com quem? O que é importante para mim nisso tudo? E agora, o que eu espero?” (CHARLOT, 2009, p. 7).

Nessa perspectiva, este estudo deixa falar os estudantes universitários ingressantes em uma realidade que até a implementação de programas de financiamento para a educação superior (Fies, ProUni e ProVIDA) não os tinha como protagonistas. Por isso, por considerar que toda relação com o saber comporta também uma dimensão identitária, social e epistêmica (CHARLOT, 2000), nesta investigação foi modificado o enunciado do balanço de saber, a fim de deixar falar qual o sentido os estudantes universitários bolsistas atribuem ao saber acadêmico, o que para eles é mais importante em toda a vivência na educação superior, quais projetos elaboram para o futuro. Assim, na tentativa de adequar o instrumento a essas perspectivas foram realizadas alterações, as quais estão indicadas abaixo:

Desde que nasci, aprendi muitas coisas... e agora estou na Universidade. O que tenho aprendido na Universidade? E o que aprendi com os livros, com os professores, com os colegas...? O que me parece mais importante nesta aprendizagem? O que é importante para mim nisso tudo? E agora, o que eu espero, quais os meus projetos e expectativas para o futuro depois que eu me formar?

Na primeira seção deste artigo apresentamos os aspectos teóricos da teoria da relação com o saber. As seções subsequentes são dedicadas à análise dos dados produzidos a partir do balanço de saber. É abordado não o que o estudante aprendeu objetivamente, mas o que para ele tem importância, valor, sentido. Assim, são tratadas as aprendizagens que são mais preeminentes na atmosfera dos saberes acadêmicos. Na sequência, é apresentada a importância atribuída pelos estudantes às aprendizagens, quais são as mais relevantes e dotadas de sentido, em seguida com quem aprenderam e, por fim, quais projetos elaboram para o futuro.

A teoria da relação com o saber

A relação com o saber é, na concepção de Charlot (2000), um conjunto de relações que o sujeito estabelece com o aprender, relações múltiplas, circunstanciais e, por vezes, contraditórias. Assim, propõe a compreensão do sujeito como sendo inteiro e simultaneamente um ser humano, um ser social e singular. Por isso, nessa teoria não há igualdade entre os sujeitos quanto ao acesso ao saber. Cada ser é único, ímpar e por isso, cada um tem uma relação com o saber que é particular. Portanto, as pesquisas de Charlot e da equipe ESCOL 4 sobre essa relação com o saber:

[...] buscam compreender como o sujeito categoriza, organiza seu mundo, como ele dá sentido à sua experiência e especialmente à sua experiência escolar [...], como o sujeito apreende o mundo e, com isso, como se constrói e transforma a si próprio. (CHARLOT, 2005, p. 41).

Nessa perspectiva, não há relação com o saber sem uma referência ao sujeito que nasce obrigado à necessidade de aprender. Frente ao dever de aprender para ser, para construir-se, tornar-se homem e apropriar-se de uma parte do mundo, subjacente à condição humana, o sujeito vivencia esses processos envolvidos na condição de humanizar-se, singularizar-se e socializar-se, assim tornar-se membro da espécie humana, ter uma história que é única e fazer-se membro de uma sociedade (CHARLOT, 2000).

O aprender, portanto, faz parte da construção do homem e não há aprendizagem senão envolvida em condições de desejo. Isso porque o homem é um ser que nasce inconcluso, imperfeito, inacabado, despreparado. Por isso ele deve se tornar, com a ajuda da humanidade, da educação e dele próprio, deve terminar sua própria obra. Mas também é um ser engajado em um mundo onde age, interpreta, sobrevive, produz e é produzido.

Aprender é apropriar-se do que foi aprendido, é tornar algo seu, é “interiorizá-lo”. Contudo, aprender é também apropriar-se de um saber, de uma prática, de uma forma de relação com os outros e consigo mesmo... que existe antes que eu a aprenda, exterior a mim. (CHARLOT, 2001, p. 20).

Saber implica adquirir um conteúdo intelectual, ao passo que se pode aprender muitos elementos que não implicam essa condição. Pode-se aprender a dominar o computador, a andar de bicicleta, pilotar uma moto, a nadar, ler, enfim, aprende-se uma vastidão de práticas e não apenas a apropriar-se de um conteúdo, um saber. Por outro lado, à medida que se adquire um saber, mantêm-se outras relações com o mundo.

Aprender não é apenas adquirir saberes, no sentido escolar e intelectual do termo, dos enunciados. É também apropriar-se de práticas e de formas relacionais e confrontar-se com a questão do sentido da vida, do mundo, de si mesmo. A relação com o aprender é mais ampla que a relação com o saber (no sentido escolar do termo), e toda a relação com o aprender é também uma relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo. Nesse campo do aprender podem existir situações de concorrência (por exemplo, entre aprender na escola e aprender na vida) provocadas principalmente pela posição social e cultural na qual se nasce. (CHARLOT, 2005, p. 56, grifo do autor).

Assim, pode-se aprender em vários espaços, tempos e com diferentes pessoas. Ao passo que o saber, no sentido escolarizado do termo, é algo que se adquire num ambiente escolar, por isso é o saber que é privilegiado pelas instituições de ensino. Desse modo, não há saber fora de sua relação.

Adquirir um saber permite assegurar um certo domínio do mundo no qual se vive, comunicar-se com outros seres e partilhar o mundo com eles, viver certas experiências e, assim tornar-se maior, mais seguro de si, mais independente. (CHARLOT, 2000, p. 60).

A noção do saber, portanto, está restrita a atividades que envolvem o uso da razão, do movimento intelectual, mental. Em função disso, o sujeito do saber desenvolve atividades de argumentação, verificação, experimentação, vontade de demonstrar, de provar, de validar. Também é ação do sujeito sobre si mesmo, pois fazer uso da razão e do saber aumentam exigências em relação a si mesmo, é uma atividade que implica uma forma de relação com a comunidade intelectual.

Segundo Charlot (2009), há vários tipos de aprendizagens assim categorizadas: relacionais e afetivas (relações interpessoais e comportamentos afetivo-emocionais); ligadas ao desenvolvimento pessoal (conquistas pessoais, maneiras de ser, experiências religiosas); cotidianas (aprendizagens do dia a dia – andar, falar etc. ); aprendizagens institucionais e escolares (aprendizagens escolares ou que envolvem operações mentais); profissionais (aprendizagens ligadas às expectativas sobre aprender a ser um profissional); genéricas (quando o sujeito diz que aprendeu muitas coisas, mas não as especifica). A partir dessas categorias, formulamos outras para tratar e tipificar aprendizagens mencionadas pelos estudantes, as quais compõem o quadro de análise da questão tratada na próxima seção.

Aprendizagens não especificadas: aprendizagens que não foram nomeadas sugerindo ideias genéricas, a exemplo: “Na Universidade eu estou aprendendo várias coisas que certamente irão me ajudar a ser uma profissional de sucesso na área da educação” (ESTUDANTE DO CENTRO DE EXATAS).

Aprendizagens intelectuais e acadêmicas: aprendizagens que envolvem operações mentais e intelectuais cujo conteúdo tenha sido especificado, como por exemplo: “Durante o período na Universidade venho aprendendo inúmeras coisas. Como criar e fazer análise de funções, fichamentos, mapas conceituais, aprendendo a gostar mais dos estudos, dentre outros” (ESTUDANTE DO CENTRO DE EXATAS).

Aprendizagens relacionais e afetivas: aprendizagens que abrangem o relacionamento interpessoal ou afetivo, a exemplo: “E agora estou na Universidade, tenho aprendido que o conhecimento não se limita apenas na sala de aula, me fez amadurecer mais minhas ideias, aprendi a entender e respeitar as diferenças aceitando-as de forma natural e sem repúdio” (ESTUDANTE DO CENTRO DE EXATAS).

Aprendizagens de desenvolvimento pessoal: aprendizagens que envolvem conquistas pessoais, gerenciamento do tempo, valores, maneiras de ser, a exemplo: “Aprendi a tirar um pouco da minha timidez” (Estudante do Centro de Ciências Biológicas) e, “Agora que entrei na faculdade tenho aprendido a me organizar na vida pessoal e conciliar o tempo entre a faculdade e os afazeres do dia a dia” (ESTUDANTE DO CENTRO DE SAÚDE).

A relação com o saber e as diferentes aprendizagens

Aprender, segundo Charlot (2009), significa adquirir saberes, controlar atividades, objetos da vida corrente, formas relacionais. Na universidade, o sentido de aprender se amplifica e para cada sujeito pode significar relações diversas, singulares. Nesse sentido, trataremos aqui de como se organiza esse universo de aprendizagens e quais são mais relevantes para os estudantes pesquisados no UniAGES.

Considerando o conjunto dos estudantes universitários pesquisados, de um total de 377 aprendizagens evocadas, 18% foram classificadas como não especificadas; 49% como intelectuais e acadêmicas; 8% como relacionais e afetivas e, por fim, 25% como de desenvolvimento pessoal, conforme evidencia a Tabela 1 .

Tabela 1 – Resultado do conjunto das aprendizagens citadas pelos estudantes 

CATEGORIAS OCORRÊNCIAS
A) Aprendizagens não especificadas 18% (68)
B) Aprendizagens intelectuais e acadêmicas 49% (185)
C) Aprendizagens Relacionais, Afetivas 8% (30)
D) Aprendizagens de Desenvolvimento Pessoal 25% (94)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (377)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro de 2016).

Observa-se que, em relação ao conjunto dos estudantes, há a preponderância das aprendizagens intelectuais e acadêmicas que perfazem quase a metade do total das aprendizagens registradas nos balanços de saber. As aprendizagens relacionadas ao desenvolvimento pessoal também apresentaram um índice significativo, totalizando 25% do total. Em seguida, têm-se as aprendizagens não especificadas, categoria também com percentual elevado, 18%. Já as aprendizagens relacionais e afetivas foram citadas numa proporção 6 vezes menor que as intelectuais e acadêmicas.

A categoria aprendizagem não especificada incorpora todas as respostas dos estudantes que não fazem menção a uma aprendizagem peculiar, não nomeiam o que dizem ter aprendido. Assim, dizem com expressões genéricas que aprenderam muitas coisas ou vários conhecimentos, mas não os especificam.

A categoria aprendizagens intelectuais e acadêmicas, de maior preponderância, agrega aprendizagens ligadas à produção de textos acadêmicos, trabalhos, metodologia, assuntos de cunho teórico e científico discutidos nas disciplinas; conceitos, regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a importância da leitura. Quando os alunos evocam a metodologia , referem-se à utilizada na Instituição pesquisada – a metodologia ativa. Os registros a seguir exemplificam:

Novas aprendizagens me foram proporcionadas, como por exemplo: a criação de mapas conceituais, que desde o ensino médio era por mim, considerado difícil [...]. (ESTUDANTE DO CENTRO DE HUMANAS, FEMININO) 5 .

Aprendi muita coisa desde o dia o dia que pisei aqui, a como construir um texto legal, mapa conceitual, a argumentar e dá minhas ideias, aprendi também a contextualizar perguntas, fazer objetivos, hipóteses [...]. (ESTUDANTE DO CENTRO DE SAÚDE, FEMININO).

Durante meu período na Universidade venho aprendendo inúmeras coisas como criar e fazer análise de funções, fichamentos, mapas conceituais [...]. (ESTUDANTE DO CENTRO DE EXATAS, MASCULINO).

Estou aprendendo muitos conteúdos que não vi nem se quer falar no ensino fundamental e médio, como os da disciplina de Anatomia, Bases Biológicas, PT (Produção Textual), MTC (Metodologia do Trabalho Científico), e a História da Educação Física que na verdade não sabia que existia essa disciplina. (ESTUDANTE DO CENTRO DE SAÚDE, FEMININO).

A categoria ligada aos aspectos relacionais e afetivos, citada em menor proporção no total de respostas, reúne aprendizagens ligadas aos relacionamentos interpessoais, à capacidade de conviver com o outro, respeitando as diferenças, bem como os relacionamentos afetivos, ao aprender a amar.

E ter entrado para a Universidade está sendo uma descoberta maravilhosa, tenho aprendido diversas coisas tais: a respeitar melhor a opinião do outro, a conviver melhor, aceitar as diferenças, aprendendo a fazer novas amizades [...]. (ESTUDANTE DO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO).

Por fim, a categoria desenvolvimento pessoal congrega aprendizagens ligadas aos valores humanos, às conquistas pessoais, enquanto maneiras de ser; ligadas à capacidade de a partir das conquistas pessoais, desenvolver responsabilidade e administrar o tempo:

Tenho aprendido a importância de ser humilde e solidário com todos. (ESTUDANTE DO CENTRO DE SAÚDE, MASCULINO).

Aprendi que nem sempre estou certa, que é melhor ouvir e refletir do que soltar aos quatro ventos o que se está sentindo, aprendi a ver minhas falhas como um meio de aprimoramento do conhecimento próprio, e acima de tudo a me valorizar e a perceber que sou capaz. (ESTUDANTE DO CENTRO DE EXATAS, FEMININO).

Tomando, portanto, o conjunto dos estudantes pesquisados, percebe-se maior preponderância para as aprendizagens intelectuais e acadêmicas, aparecendo com 49%, no entanto, outras aprendizagens foram arroladas com certa prevalência, como as ligadas ao desenvolvimento pessoal e as aprendizagens não especificadas.

Os estudantes citam que aprenderam, nesses primeiros meses de vivência na universidade, conteúdos de disciplinas específicas como Anatomia e Bases Biológicas, a metodologia de ensino adotada pela instituição (mapa conceitual, perguntas, objetivos, hipóteses), dizem ter aprendido a fazer os trabalhos acadêmicos a exemplo de fichamentos e produção única.

A categoria desenvolvimento pessoal aparece com 25% das respostas das quais emergem declarações do tipo: aprendi a ser ético, humano, humilde, aprendi os valores humanos, a gerenciar e administrar o tempo conciliando o estudo com os afazeres domésticos, a perder a timidez.

Já a categoria aprendizagens não especificadas registra 18% das ocorrências. Muitos não identificam o que aprenderam de modo especificado e mencionam em respostas genéricas que aprenderam muitas coisas, muitos conhecimentos, mas não os nomeiam ou os tipificam. A categoria menos citada, nesse total de estudantes, refere-se às aprendizagens relacionais e afetivas, com um total de 8%.

A transição do ensino médio para a educação superior é um estágio delicado (COULON, 2008), não há mais as mesmas relações, os rostos conhecidos do colégio desaparecem, mas tudo isso pode gerar crescimento.

Crescer é sempre perder suas raízes, suas relações antigas, seus amigos antigos, é estar isolado durante certo tempo. É uma condição necessária para caminhar na direção de uma encruzilhada que descortina a esperança de novos caminhos. A aprendizagem, tempo do outro com o qual eu quero parecer, anuncia o tempo da afiliação que será finalmente o que permitirá aprender e compreender. (COULON, 2008, p. 175).

Por tudo isso, esse mundo solitário é, segundo Coulon (2008), condição necessária para o crescimento, para o desenvolvimento e, sobretudo, para a aprendizagem. Entrar na universidade é perder de vista seus melhores amigos de colégio, “sentir-se isolado e anônimo no meio dos outros, é ficar silencioso mesmo estando em grupo” (COULON, 2008, p. 173).

De qualquer modo, é importante perceber que a escola faz algum sentido para os estudantes, o sentido é o que muda. Para o conjunto dos estudantes do UniAGES que responderam ao balanço de saber parece que a universidade ganha sentido pelas aprendizagens intelectuais e acadêmicas, conforme evidenciadas na Tabela 1 .

Evidente a primazia dada aos saberes universitários. Logo, estudar a relação dos jovens bolsistas universitários com o saber acadêmico é pensar na sua formação humana e profissional, considerando que, em sua maioria, tiveram uma educação básica que em grande parte pouco os favoreceu. Além disso, estudá-los é importante para perceber o retorno que eles, a partir da preponderância dos saberes universitários, evidenciados nos dados coletado, bem como através dos projetos que elaboram para o futuro, podem dar à sociedade que investe em sua preparação.

Ao conhecer os dados do conjunto dos estudantes, interessa-nos agora saber se eles permanecem ou variam de acordo com os Centros de conhecimento 6 . Por isso, contabilizamos os dados por curso pesquisado e os agrupamos por Centro. Segue a Tabela 2 com os dados dos cinco Centros.

Tabela 2 – Aprendizagens citadas pelos estudantes por Centro de conhecimento 

CATEGORIAS SAÚDE EXATAS HUMANAS LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
A) Aprendizagens não especificadas 19% (20) 26% (21) 13% (13) 11% (3) 18% (11)
B) Aprendizagens intelectuais e acadêmicas 57% (62) 41% (34) 48% (47) 41% (11) 47% (29)
C) Aprendizagens Relacionais, Afetivas 6% (6) 9% (7) 11% (11) 11% (3) 5% (3)
D) Aprendizagens de Desenvolvimento Pessoal 19% (20) 24% (20) 28% (27) 37% (10) 31% (19)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (108) 100% (82) 100% (98) 100% (27) 100% (62)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro, 2016)

Conforme evidenciado na Tabela 2 , não há variação importante. Em todos os Centros de conhecimento os balanços de saber cunharam a preponderância das aprendizagens intelectuais e acadêmicas. Parece que o conhecimento, as atividades de leitura, escrita, os conteúdos das disciplinas, a metodologia, o aperfeiçoamento do vocabulário, ampliar a visão de mundo fazem muito sentido para os estudantes pesquisados do UniAGES.

A respeito desse aspecto, um estudante do curso de matemática, em uma linguagem informal e descontraída, remete em seu balanço de saber à importância dos saberes acadêmicos para a sua inserção no mercado de trabalho:

A vida do estudante é muito complicada, pobre coitado não tem tempo nem de trabalhar, vive no mundo das escolhas, faz um lanche ou tira xerox de um trabalho? Contudo, no término do curso ainda tem que cuidar do estômago com uma gastrite causa de preocupações acadêmicas. Entretanto, obtém um bom conhecimento para o mercado de trabalho [sic]. (ESTUDANTE DO CURSO DE MATEMÁTICA).

É importante destacar as dificuldades financeiras enfrentadas pelos estudantes, condição que os faz viver de escolhas. Por serem bolsistas, um dos requisitos para ter acesso a esse financiamento é, justamente, pertencer a um grupo familiar de baixa renda per capita . Vê-se, portanto, que não estamos diante de sujeitos que são os herdeiros de Bourdieu. Os herdeiros, os estudantes e a cultura é uma obra de Bourdieu com a colaboração de Passeron. Na obra é tratada a desigualdade em face da cultura que predomina nos processos de escolarização. Logo, a escola define quem são os herdeiros e não-herdeiros. Os herdeiros são, pois, aqueles que possuem um capital cultural amplo, para eles a experiência do futuro escolar é marcada por mais de uma chance em duas de ir para a faculdade, esse destino lhes é natural, corriqueiro; enquanto que para os filhos de operário é uma realidade quase que inalcançável, pois possuem menos de duas chances em cem de lá chegar (BOURDIEU; PASSERON, 2018). Os que conseguem ingressar numa universidade têm de, muitas vezes, conciliar estudo e trabalho e, em razão de sua condição social, precisam fazer escolhas para se manter nos estudos. Ao contrário dos herdeiros, os quais têm origem social econômica favorecida. Para eles, o ofício é o estudo, sem que precisem fazer escolhas ou conciliar essa tarefa com trabalho.

Com quem os estudantes dizem ter aprendido

Conforme elucida Charlot (2009), as aprendizagens expressas nos balanços de saber podem fazer referência, por um lado, a lugares e, por outro, a agentes de aprendizagem, quem os ensinou. Nesta pesquisa, os registros das ocorrências referem-se a agentes da aprendizagem. Usaremos o termo para referir-nos a uma pessoa (um professor, um membro da família etc.), ou a um grupo de pessoas (colegas, amigos etc.) que operaram uma função, desempenham uma ação e/ou participam dos momentos e processos de aprendizagem junto aos estudantes. Além disso, os estudantes de nossa pesquisa também apontam os livros e em algumas raras ocasiões referem-se à internet, para indicar onde e com quem aprenderam. Importante ressaltar que os livros são para Bourdieu bens culturais. No estado objetivado, o capital cultural pode existir ainda sob outras formas de bens culturais como pinturas, quadros, dicionários etc. (BOURDIEU, 1998).

No conjunto, portanto, dos estudantes pesquisados, o total de 273 respostas foram assim distribuídas: 35% citam que aprenderam com os professores, acompanhando essa margem, 33% indicam que aprenderam realizando leituras nos livros que são indicados pelos professores; com um percentual um pouco menor, 29% dizem que aprenderam com os colegas; já a família e a internet foram mencionadas raras vezes, ambos 1%. Percebamos que entre professores, colegas e livros não há uma preponderância relevante, os dados aparecem com certo equilíbrio.

Quando os estudantes mencionam os professores como agentes de aprendizagem dizem ter sido eles a ensinarem os conteúdos ligados ao curso, à própria dinâmica da universidade e sua metodologia:

Com os professores da Universidade tenho aprendido o que é um texto acadêmico, um mapa conceitual, um fichamento. (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

Toda a aprendizagem está vinculada principalmente com o professor que através dele é que conhecemos todo o conhecimento das disciplinas e que está nos livros, proporcionando uma ampla diversidade de conhecimentos atrelado com os livros. Os colegas também fazem parte desse conhecimento, pois é através deles que temos discussões de assuntos. (CENTRO DE SAÚDE, FEMININO).

Os livros aparecem, muitas vezes, associados aos professores. Os estudantes dizem que os livros ajudam a construir conhecimentos a partir das ideias neles veiculadas, o que chamam de teorias.

Quando se trata de identificar os colegas como agentes de aprendizagem, eles são citados quando em referência à construção de relações de companheirismo, ao respeito à opinião do outro, ao tempo que os colegas também aparecem como aqueles que ajudam a esclarecer conteúdos e atividades não entendidas com o professor:

Com meus colegas aprendi que temos que respeitar a opinião do outro, pois ser diferente, ter opinião diferente é normal. (CENTRO DE LINGUÍSTICA LETRAS E ARTES, FEMININO).

Tenho aprendido com os colegas, com eles há uma grande conexão um ajudando o outro nas horas da necessidade, tirando dúvida que as vezes a gente não entende com o professor. (CENTRO DE EXATAS, MASCULINO).

[...] muitas vezes passa a ser mais fácil o aprendizado com o estudo com um colega do que em sala de aula. [sic]. (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, MASCULINO).

Outros ainda dizem que tudo que aprenderam na universidade foi com a contribuição de todos: livros, professores e amigos. Diante desse conjunto de dados, é importante saber se há mudança por Centro de conhecimento. Assim, também catalogamos os dados e os sistematizamos por Centro, conforme evidencia a Tabela 3:

Tabela 3 – Agentes de aprendizagens citados nos Balanços de Saber por Centro de Conhecimento 

CATEGORIAS BIOLÓGICAS SAÚDE EXATAS HUMANAS L. LETRAS E ARTES
A) Professores 31% (16) 38% (32) 33% (18) 37% (21) 40% (9)
B) Colegas 35% (19) 31% (26) 24% (13) 26% (15) 30% (7)
C) Livros/leituras 30% (16) 32% (27) 37% (20) 37% (21) 30% (7)
D) Família 7% (3) 0% (0) 0% (0) 0% (0) 0% (0)
E) Internet 0% (0) 0% (0) 7% (3) 0% (0) 0% (0)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (54) 100% (85) 100% (54) 100% (57) 100% (23)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro de 2016)

A partir dos dados evidenciados na Tabela 3 , percebemos que não há uma variação significativa, pois tanto por Centro como no conjunto dos dados os estudantes reconhecem a importância dos professores, dos colegas e das leituras/livros em seus processos de aprender. A família só aparece como agente de aprendizagem entre os alunos do Centro de Ciências Biológicas e a menção à Internet aparece entre os estudantes do Centro de Ciências Exatas. Se pensarmos que a ocorrência de aprendizagens intelectuais e acadêmicas entre todos os estudantes pesquisados foi de 49%, conforme a Tabela 1 , podemos inferir que a família e a internet parecem ter pouca participação em seus processos de aprendizagem no cenário acadêmico; professores, colegas e livros ganham nesse espaço maior significado.

Segundo Coulon (2008), o saber que nesse espaço universitário é veiculado não tem mais referência aos discursos parentais e o estudante começa a viver momentos de conflitos, decorrentes tanto das exigências da Universidade, em função de seu vínculo, quanto pelos aspectos muito mais amplos e pessoais que fazem parte das transformações comuns nesse estágio de transição e desenvolvimento.

Nessa atmosfera, é importante destacar que se a educação básica não favorece aos alunos em seu ingresso na educação superior, é na Universidade que começam a, de fato, aprender. Por isso, do total de 377 respostas, 49% citaram ter aprendido assuntos de cunho intelectual e acadêmico, pois temas ligados ao desenvolvimento pessoal, e até mesmo a temas relacionais e afetivos, eles podem ter aprendido na família e na educação básica, mas conhecimentos de cunho acadêmico, mapa conceitual, fichamento, elaboração de perguntas, objetivos, hipóteses como mencionados por eles, não foram explorados na escola básica pública.

Assim, muitos atribuem valor ao conhecimento e à leitura como agentes de aprendizagem ressaltando o valor de também sermos leitores:

É importante sermos leitores, pois quando não exercitamos a mente, fica dentro de nós uma escuridão e a leitura trata exclusivamente de preencher esse vazio dentro de nós, além de nos abrir os olhos para a sociedade. (CENTRO DE SAÚDE, FEMININO).

Por tudo isso, a universidade é, portanto, para os estudantes pesquisados do UniAGES, um espaço privilegiado e importante de aprendizagens intelectuais e acadêmicas, podendo ser facilitada pela orientação dos professores, colegas e pelas leituras, mas é também espaço de aprendizagens ligadas ao desenvolvimento pessoal.

Sentido e relação com o saber

Para aprender é preciso estar mobilizado, é preciso que haja uma ação interna, algo que projete o sujeito e o faça querer. Assim, para se buscar a universidade, a realização de um curso, é preciso que algo coloque o sujeito em movimento por móbeis que o remeta a um valor. Desse modo, o que faz sentido para o estudante envolvido em toda essa atmosfera de aprendizagens? O que é importante para eles? Ao serem convidados por meio do balanço de saber a registrar o que é importante em toda a experiência vivida na Universidade e das aprendizagens que adquiriram, muitas foram as respostas, as quais foram assim categorizadas: respostas não especificadas; o saber intelectual e acadêmico; aspectos relacionais, afetivos e de valores; aspectos ligados à profissão e uma vida melhor; e por fim, aspectos ligados ao desenvolvimento pessoal.

A primeira categoria diz respeito às respostas genéricas, que não mencionam ou especificam o que na experiência acadêmica tem sido mais importante, como exemplificado a seguir:

Não possui algo mais importante que outro na aprendizagem, sendo assim, pode-se dizer que tudo é importante , desde que seja consistente e aplicável a realidade encontrada em sociedade. (CENTRO DE EXATAS, MASCULINO, grifo meu).

A segunda categoria, saber intelectual e acadêmico, agrupa os registros daqueles estudantes que mencionam a relevância de aprender conteúdos disciplinares, metodologias, procedimentos científicos etc., nomeados por eles, tais como: a disciplina de anatomia, o desenvolvimento da visão crítica, conhecer os conceitos da Educação Física e até mesmo o método da Instituição. Assim, citam:

Da aprendizagem o mais importante é o conhecimento , porque só eu posso buscar, e é algo que ninguém vai tirar de mim. (CENTRO DE EXATAS, MASCULINO, grifo meu).

Sendo assim fica como uma das aprendizagens mais importantes para mim a aquisição de todos esses conhecimentos expostos acima (mapa conceitual, produção de texto, fazer fundamentação teórica). (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

A terceira categoria ligada aos aspectos relacionais, afetivos e de valores faz referência aos aspectos da convivência, dos relacionamentos interpessoais, das amizades, do companheirismo, dos relacionamentos afetivos, a exemplo do registro:

Nisso tudo o que é mais importante é os amigos que fiz aqui, que parece amizade de infância. Já ia esquecendo, importante também foi que conheci Felipe, que hoje somos namorados. (CENTRO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES, FEMININO).

A quarta categoria ligada à profissão e uma vida melhor envolve os aspectos ligados à profissão e ao desejo de uma vida melhor, desejos de conseguir um emprego, ter um bom salário. Isso fica evidenciado em registros como os que seguem abaixo:

Exatamente tudo que foi aprendido tem a sua devida importância, mas a visão de mundo que tenho após cada explicação é fundamental. É importante, portanto, para a minha formação profissional. (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO, grifo meu).

Venho me dedicando o máximo aqui, entretanto, não tenho tanto tempo disponível, todavia sei que a maior importância está na garantia de um futuro e uma vida melhor. (CENTRO DE EXATAS, MASCULINO, grifo meu).

Por fim, a última categoria, ligada ao desenvolvimento pessoal, evidencia aspectos relacionados à superação das dificuldades, à confiança em si, ao perder a timidez, ao aprender os valores humanos, à ética, à moral, ao mudar a maneira de ser, conforme exemplificados a seguir:

A importância dessa minha aprendizagem é me tornar uma pessoa cada vez melhor, humana, humilde, leal e amiga. (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

Para mim toda essa aprendizagem tem seu nível de importância, mas contudo [sic] os valores humanos por sua vez têm uma importância especial, pois é necessário que você conheça e tenha cada um deles tanto para o seu bem, como para o bem da humanidade. (CENTRO DE EXATAS, FEMININO).

A respeito dessas categorias, no conjunto dos estudantes, das 165 respostas, 38% referem-se como sendo mais importante na experiência universitária o saber intelectual e acadêmico; em seguida, com 19% indicam os aspectos ligados à profissão e a uma vida melhor; ao lado dessa categoria, com 18%, citam os aspectos ligados ao desenvolvimento pessoal; com um número bem expressivo, 14%, estão as respostas não especificadas, para quem tudo é importante; e, por fim, os aspectos relacionais e afetivos, conforme evidencia a Tabela 4 , aparecem com o menor percentual de 12% coadunando com os dados da Tabela 1 em que esses aspectos foram os menos citados quando perguntados sobre o que havia aprendido na universidade.

Tabela 4 – O que é mais importante na experiência universitária para o conjunto dos estudantes 

CATEGORIAS OCORRÊNCIAS
A) Respostas não especificadas 14% (23)
B) O saber intelectual e acadêmico 38% (62)
C) Aspectos Relacionais e Afetivos 12% (20)
D) Aspectos ligados à profissão e uma vida melhor 19% (31)
E) Aspectos ligados ao Desenvolvimento Pessoal 18% (29)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (165)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro de 2016)

Embora a categoria do saber intelectual e acadêmico apareça com 38% no total das respostas, ainda é um número pequeno quando somamos o resultado das outras categorias. Além disso, na Tabela 1 é evidente que o saber intelectual e acadêmico prevalecem dentre os demais com 49% do total das respostas, aqui, na Tabela 4 , esse número cai para 38%. Diante desses dados, parece que embora 49% das respostas evidenciem com preponderância que aprenderam aspectos ligados ao saber intelectual e acadêmico ( Tabela 1 ), apenas para 38% é a categoria mais importante ( Tabela 4 ).

Quando sistematizados por curso, percebemos que há variações importantes, a começar pelos estudantes do Centro de Ciências Biológicas (curso de Ciências Biológicas), para os quais é alto o índice de respostas não identificadas, representando 23%, esses pensam que “tudo” é importante, “que tudo isso me serve”. Conforme expressa o registro a seguir:

Aqui tudo é importante, pois o mundo lá fora não tem nada fácil e aqui estamos nos preparando para saber lá fora como agir, por isso tudo é importante. (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO).

É importante destacar que em relação à Tabela 2 , as respostas não especificadas para o que eles diziam ter aprendido foi de 18%, número também expressivo. Por outro lado, 47% ( Tabela 2 ) diziam ter aprendido os aspectos ligados ao saber intelectual e acadêmico, os quais para 36% das ocorrências são os mais importantes.

A frequência da importância atribuída aos saberes intelectuais e acadêmicos deu-se com maior prevalência entre os estudantes do Centro de Humanas (curso de Pedagogia), representando 56%, em seus balanços de saber os estudantes diziam com maior veemência que o conhecimento era o mais importante.

É importante para mim saber que a cada dia que passa eu aprendo mais, tenho mais conhecimento e vou buscar mais informações. (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

Tudo que venho aprendendo, todos os conhecimentos passados são de muito valor para a minha vida, pois tudo será muito proveitoso no futuro. (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

A grande importância nisso tudo é porque a cada dia aprendemos mais e sempre buscando mais conhecimentos, é importante porque o que seria de cada um de nós se não estudasse. (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

O saber para o público de estudantes investigados é um elemento importante na relação com a universidade e na garantia de um futuro melhor:

O que considero como mais importante é o ganho de conhecimentos, pois como diz Paulo Freire só a educação liberta e pode nos dá uma nova vida, uma nova experiência e até mesmo um futuro melhor. (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

Os estudantes do Centro de Exatas (curso de Física, Química e Matemática) também evidenciam o saber como elemento importante tanto pelo conhecimento que se adquire quanto pela possibilidade de poder compartilhá-lo com outras pessoas, além disso, expõem que o conhecimento permite retirá-los da ignorância intelectual de tal modo que é possível formar opinião sobre diversos assuntos do cotidiano. Assim, um estudante expressa: “a grande importância nisso tudo é que além de aprender vou compartilhar meu conhecimento para os outros e ter uma visão de mundo bastante plena e ter a moral de poder opinar diante de assuntos do nosso cotidiano” (CURSO DE QUÍMICA).

Outro Centro do conhecimento que apresenta o saber como elemento mais importante é o de Ciências da Saúde (curso de Educação Física) com 41% das respostas. Nesse Centro, os estudantes representam o saber como conhecimento, leitura, conteúdos específicos a exemplo da disciplina de anatomia, o método ativo da Instituição, conhecer os conceitos da Educação Física. Além disso, alguns expõem que tudo é importante, sobretudo, quando se é o primeiro da família a estar na universidade, declara uma estudante:

Tudo isso é importante para mim, pois na minha família sou a primeira filha a cursar a educação superior, é importante para mim, pois quero ter uma visão crítica sobre tudo e nunca ser manipulada por ninguém por falta de conhecimento. (ESTUDANTE DE EDUCAÇÃO FÍSICA).

Ter uma visão crítica é, sobretudo, analisar, examinar os fundamentos e as razões de algum objeto, para isso é preciso ter conhecimento. É necessário conhecer o fenômeno. Não se pode ter uma visão crítica e assim fazer uma análise e se posicionar sobre o que nada se sabe ou se conhece. O conhecimento é a base e o fundamento.

Os dados da Tabela 5 evidenciam que apenas o Centro de Letras, Linguística e Artes (curso de Letras) não cita o saber como elemento mais importante. Os dados desse Centro citam como preponderante os aspectos relacionais e afetivos, com 25%, bem como os ligados a uma profissão e uma vida melhor, como 35%. Conforme os registros a seguir:

Tabela 5 – O que é mais importante na experiência universitária para os estudantes por Centro 

CATEGORIAS BIOLÓGICAS SAÚDE EXATAS HUMANAS L. LETRAS E ARTES
A) Respostas não especificadas 23% (5) 11% (7) 19% (7) 11% (3) 6% (1)
B) O saber intelectual e acadêmico 36% (8) 41% (26) 31% (11) 56% (15) 12% (2)
C) Aspectos relacionais e afetivos 9% (2) 16% (10) 3% (1) 7% (2) 24% (4)
D) Aspectos ligados a uma profissão e uma vida melhor 5% (1) 22% (14) 19% (7) 11% (3) 35% (6)
E) Aspectos ligados ao desenvolvimento pessoal 27% (6) 10% (6) 28% (10) 15% (4) 24% (4)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (22) 100% (63) 100% (36) 100% (27) 100% (17)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro de 2016)

O mais importante para mim nisso tudo é haver harmonia, respeito entre as pessoas independentemente quem seja, é de grande importância para mim que esses valores estejam sempre presentes para que haja união entre as pessoas. (CENTRO DE LETRAS, LINGUÍSTICA E ARTES, FEMININO).

O mais importante é que tudo que aprendi e ainda vou aprender me ajudará a ser um bom profissional e ter um futuro melhor. (CENTRO DE LETRAS, LINGUÍSTICA E ARTES, MASCULINO).

Diante de tudo, o panorama geral apresentado pelos estudantes pesquisados do UniAGES no que se refere ao que para eles é mais importante na experiência universitária aponta para o saber intelectual e acadêmico como elemento mais importante, como aquilo que para eles faz mais sentido. Além disso, como buscam inserção no mercado de trabalho em uma sociedade especializada, talvez seja comum que a maior importância atribuída pelos estudantes esteja ligada às aprendizagens intelectuais e acadêmicas.

Quais as expectativas dos estudantes para o futuro

Projetos, sonhos, desejos... o que move os estudantes pesquisados do UniAGES são os sonhos, são as boas razões para se inserir na Universidade. Ao serem convocados a registrar suas expectativas e projetos para o futuro houve uma infinidade de respostas, as quais foram analisadas, divididas em temas e reunidas nestas categorias: respostas não especificadas, como “ir mais longe”, “realizar meus sonhos”, “ver o rumo que os estudos podem me levar”; vida acadêmica, como “tirar boas notas”, “concluir o curso”, “ser uma boa acadêmica”, “conseguir me formar”, “fazer outro curso, especialização, mestrado, doutorado; aspectos ligados à vida profissional em que estão os temas ligados à busca por emprego. Um bom emprego que garanta uma vida melhor financeiramente, ser um profissional de sucesso, estudantes com espírito empreendedor - que desejam abrir suas próprias empresas; aspectos ligados à satisfação pessoal e familiar, em que estão temas que remetem à possibilidade de ajudar à família financeiramente, dando uma vida digna, bem como estão as relações de felicidade, “ser feliz”, “uma pessoa melhor”, “uma pessoa de luz”; por fim, aspectos ligados ao desejo de transformação da realidade, temas ligados ao desejo de construir uma sociedade justa, mudar a visão de mundo das pessoas, tornar a cidade mais ativa, ajudar a sociedade. Os dados estão evidenciados na Tabela 6:

Tabela 6 – Projetos de futuro indicados pelos estudantes pesquisados do UniAGES 

CATEGORIAS OCORRÊNCIAS
A) Respostas não especificadas 7% (20)
B) Vida acadêmica 22% (64)
C) Vida profissional 54% (155)
D) Satisfação pessoal e familiar 10% (30)
E) Transformação da realidade 6% (17)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (286)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro de 2016)

Levando em consideração o conjunto dos estudantes pesquisados, a primeira categoria obteve um percentual não muito expressivo, apenas 7% citam respostas não especificadas. Seus registros não traçam projetos definidos, dizem que no futuro desejam alcançar seus sonhos, suas metas e até mesmo seus objetivos, mas não os nomeiam ou os especificam, como exemplificado no registro a seguir: “Minha expectativa é conquistar todos os meus objetivos” (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

A categoria Vida acadêmica representa 22% do total de 286 ocorrências. Compõem essa categoria os estudantes que declaram almejar boas notas, têm a formatura como expectativas, outros aspiram a continuar os estudos com mestrado ou mesmo outro curso de graduação, conforme evidenciam os registros:

Agora eu espero tirar notas boas nas provas, trabalhos, projetos e me formar... (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO).

Com tudo isso, espero conquistar meus objetivos e conseguir meu diploma, me formar, e quem sabe até outra graduação. (CENTRO DE EXATAS, MASCULINO).

[...] Contudo, já penso no futuro, em fazer bacharelado no curso que estudo e mestrado. (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO).

A terceira categoria, ligada ao trabalho, sucesso profissional e melhoria de vida é a mais preponderante, representa 54% do total das ocorrências. Esse sucesso está relacionado a conseguir um emprego, ter uma melhoria de vida e condições financeiras de adquirir bens e conquistar uma vida mais digna. Conforme exemplificados a seguir:

Espero ser um bom profissional, desenvolver meu trabalho de forma significativa e me especializar para poder receber um bom salário e melhorar de vida. (CENTRO DE LETRAS, LINGUÍSTICA E ARTES, MASCULINO).

Ter uma carreira e ser reconhecida e valorizada em minha profissão, onde se possa destacar a real importância da educação (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

Quero ser uma bióloga marinha de renome e por em prática tudo que me foi ensinado. (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO).

Meus projetos futuros são conseguir um bom emprego e com isso construir o meu próprio negócio, que seria uma escola onde iria desenvolver vários recursos para pessoas especiais... (CENTRO DE HUMANAS, FEMININO).

Se para 38% dos estudantes pesquisados do UniAGES o saber intelectual e acadêmico é importante, é porque o conhecimento é o que dará competências necessárias para conseguir se inserir no mercado de trabalho com um bom emprego para assim ter uma vida melhor, já que 54% do total de 286 ocorrências traçam como projetos para o futuro ter um emprego, abrir um negócio, ter sucesso profissional, enfim ter uma vida melhor. “Minhas expectativas são de conseguir um bom emprego, ajudar aos meus pais e construir e poder sustentar a minha família com a minha profissão, com o meu suor” (CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, FEMININO).

As duas últimas categorias, satisfação pessoal e familiar e transformação da realidade, igualmente à primeira, não apresentam percentuais significativos, respectivamente tem-se 10% e 6%. No entanto, para esses 10%, do total dos estudantes, a família é sua maior fonte de mobilização, além da sua satisfação pessoal de ser feliz. Por fim, a última categoria, transformação da realidade, com 6% do total de 286 ocorrências, corresponde aos estudantes que traçam projetos ligados à transformação da realidade. Desejam modificá-la ao ponto de torná-la mais justa:

Espero a partir desses conhecimentos adquiridos transformar a realidade para o caminho da tolerância, valores humanos e consequentemente a paz. (CENTRO DE SAÚDE, FEMININO).

Pretendo continuar aprendendo para contribuir com a sociedade fazendo com que a mesma seja mais justa e ofereça oportunidades iguais para todos. (CENTRO DE SAÚDE, FEMININO).

Diante disso, percebe-se que, com maior preponderância, os estudantes desejam para o futuro uma vida mais digna, a partir de um bom emprego e sucesso profissional. A partir disso, a fim de verificarmos se haveria mudança, variação nos resultados por Centro de Conhecimento, catalogamos e os sistematizamos por Centro, conforme evidencia a Tabela 7:

Tabela 7 – Projetos de futuro indicados pelos estudantes pesquisados do UniAGES por Centro de Conhecimento 

CATEGORIAS SAÚDE EXATAS HUMANAS LETRAS L. E ARTES CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
A) Respostas não especificadas 9% (9) 4% (2) 7% (5) 14% (3) 2% (1)
B) Aspectos ligados à Universidade, formatura e continuidades dos estudos 26% (27) 20% (9) 15% (11) 24% (5) 29% (12)
C) Aspectos ligados ao emprego, sucesso profissional, melhoria de vida 50% (53) 58% (27) 64% (46) 57% (12) 41% (17)
D) Aspectos ligados à Família e à satisfação pessoal 9% (9) 6% (3) 10% (7) 5% (1) 25% (10)
E) Transformação da realidade 8% (8) 11% (5) 4% (3) 0% (0) 2% (1)
TOTAL DE OCORRÊNCIAS 100% (106) 100% (46) 100% (72) 100% (21) 100% (41)

Fonte: Balanço de Saber, construção da autora (Agosto-Outubro)

Nota-se pelos dados que não há variação relevante. O sucesso profissional, o reconhecimento é uma ocorrência bem marcada entre todos os estudantes dos Cursos pesquisados nos diferentes Centros, sobretudo, o Centro de Ciências Humanas, representando 64% do total de 72 ocorrências. Assim, a Universidade e o conhecimento ganham sentido para os estudantes pesquisados do UniAGES em referência a um emprego, a uma vida melhor, ao sucesso profissional. A universidade é então o passaporte para o emprego, o salário, como diz o balanço de saber de um estudante do curso de Letras do UniAGES: “Espero ser um bom profissional, desenvolver meu trabalho de forma significativa e me especializar para poder receber um bom salário.” O que os move é o emprego, o trabalho.

Por outro lado, há estudantes que pensam em ajudar às pessoas, à sociedade, melhorar o mundo. O sentido da universidade para esses está em poder ter conhecimento para ajudar o próximo: “[...] ir mais além do que a licenciatura, penso muito em ajudar o próximo e tentar ser o melhor sem tomar o espaço de ninguém e deixar meu legado para assim ser lembrado quando me for para outra vida” (CENTRO DE EXTAS, MASCULINO).

Considerações finais

Ao retomar os dados e as discussões apresentadas neste artigo, podemos dizer que a relação com o saber acadêmico dos estudantes universitários sujeitos da presente pesquisa está baseada na valorização das aprendizagens intelectuais e acadêmicas. Considerando especificamente as aprendizagens que para os estudantes são mais importantes, encontramos aqueles que reconhecem a universidade como um espaço privilegiado e importante, onde se podem adquirir novos conhecimentos, desenvolver o pensamento crítico, que perfazem quase a metade do total das aprendizagens registradas nos balanços de saber. Esse resultado não apresenta variações consideráveis quando analisados por Centro de conhecimento, em todos foram registrados a preponderância das aprendizagens intelectuais e acadêmicas.

Esses estudantes também veem a universidade como promessa de uma vida economicamente melhor. Outros indicam a universidade como espaço onde se é possível estabelecer novas relações afetivas, interpessoais. Do primeiro grupo quando se refere às aprendizagens que adquiriram na universidade, mais de 50% mencionam o saber intelectual, no entanto, não são capazes de especificar um conteúdo, um tema, um tópico, o saber. Talvez, isso esteja relacionado à condição de serem estudantes de períodos iniciais e ainda estarem na fase do estranhamento. Ainda não são estudantes, são demandantes à educação superior (COULON, 2008).

Entrar na universidade implica ingressar em um mundo profundamente linguístico, onde a linguagem é muito codificada e normatizada, pois somente através dela o saber pode ganhar um caráter científico, de maneira que ser “científico” é antes de tudo não “falar qualquer coisa” (CHARLOT, 2006). Assim também, não basta dizer que aprendeu assuntos da disciplina X, ou que o conhecimento é o mais importante. É preciso fundamentar, especificar, qual assunto aprendeu detidamente.

A condição de bolsistas interfere na relação com o saber acadêmico. Essa condição é consoante à origem econômica declarada pelos acadêmicos. São provenientes de família de baixa renda, o que é critério para concessão das bolsas. Assim, essa condição os faz ver na Universidade a chave do futuro promissor.

Além disso, fica evidente entre os estudantes desta pesquisa que o sonho de uma vida melhor é o elemento de mobilização para entrar na universidade e como buscam inserção no mercado de trabalho em uma sociedade especializada, talvez seja comum que a maior importância atribuída pelos estudantes esteja ligada às aprendizagens intelectuais e acadêmicas.

Por tudo isso, pode-se dizer que para os estudantes pesquisados do UniAGES a universidade faz sentido enquanto espaço de construção de saber, mas também como espaço de convivência, sociabilidade e de desenvolvimento pessoal. É nesse espaço que o sujeito constrói e desenvolve outra relação com o saber que não aquela do Ensino Médio, como expresso no registro do estudante: “ainda não estou muito adaptado, pois o ensino médio não nos prepara para ingressar na Universidade, aos poucos vou me entrosando, buscando informações e me encontrando” (CENTRO DE EXATAS, MASCULINO).

Nesse processo e espaço universitário, aos poucos, com dificuldade, os estudantes vão se adaptando, se encaixando e se encontrando nessa nova relação, vão aprendendo a vivenciar e lidar com a sua nova condição de estudante, vão progressivamente aprendendo a ser estudantes universitários.

Nessa perspectiva, é importante sublinhar que a sociedade contemporânea é marcada pela desigualdade social e econômica, situação que desencadeia a ansiedade na população em busca de um padrão de vida mais elevado pela via da escolarização. Diante disso, os estudantes universitários pesquisados parecem saber que nessa sociedade para alcançar a ascensão social e uma vida economicamente melhor que a de suas famílias é necessário ter níveis cada vez mais elevados de escolaridade. Assim, o significado da Universidade vai muito além de um espaço para adquirir saberes. Representa esperança, realização pessoal e melhoria do padrão de consumo, pois se identificam entre os estudantes, projetos de ascensão social pela via do sucesso acadêmico e de uma inserção mais qualificada no mercado de trabalho, por isso mostram-se bem focados em enfrentar e vencer os desafios de se apropriar desses saberes.

Referências

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BOURDIEU, Pierre; PARRESON, Jean-Claude. Os herdeiros, os estudantes e a cultura. Tradução de Ione Ribeiro Valle e Nilton Valle. 2. ed. Florianópolis: UFSC, 2018 . [ Links ]

CHARLOT, Bernard. A noção da relação com o saber: bases de apoio teórico e fundamentos antropológicos. In: CHARLOT, Bernard (Org.). Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2001 . p. 15-31. [ Links ]

CHARLOT, Bernard. A relação com o saber nos meios populares uma investigação nos liceus profissionais. Tradução de Catarina Matos. Porto: Legis, 2009 . [ Links ]

CHARLOT, Bernard. As novas relações com o saber na universidade contemporânea. In: NASCIMENTO, Jorge Carvalho do (Dir.). Ensino superior, educação escolar e práticas educativas extra-escolares. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2006 . p. 11-31. [ Links ]

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução de Bruno Magne. Porto Alegre: Artmed, 2000 . [ Links ]

CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Tradução de Sandra Loguercio. Porto Alegre: Artmed, 2005 . [ Links ]

COULON, Alain. A condição de estudante: a entrada na vida universitária. Tradução de: Georgina Gonçalves dos Santos, Sônia Maria Rocha Sampaio. Salvador: Edufba, 2008 . [ Links ]

2- Os centros de conhecimento organizados e apresentados pela Instituição, onde se enquadram os cursos, estão disponíveis em: < http://www.faculdadeages.com.br/faculdadeages/cursos/> .

3- Data de início do funcionamento do curso disponível no link: < http://emec.mec.gov.br/emec/consulta-cadastro/detalhamento/d96957f455f6405d14c6542552b0f6eb/MTY0MA> .

4- Educação, Socialização e Coletividades Locais (Departamento das Ciências da Educação, Universidade Paris-VIII, Saint-Denis) (CHARLOT, 2000).

5- A fim de garantir a autenticidade das falas dos entrevistados, todas os registros a elas correspondentes serão realizados ipis litteris.

6- Nomenclatura usada pelo Centro Universitário AGES para o agrupamento e classificação dos cursos, assim tem-se o Centro de Ciências Biológicas, onde está o curso de Ciências Biológicas; o Centro de Saúde com o curso de Educação Física; o Centro de Ciências Exatas e da Terra, onde agrupa os cursos de Física, Química e Matemática; o Centro de Humanas, com Pedagogia e, por fim, o Centro de Linguística, Letras e Artes, onde faz parte o curso de Letras.

Recebido: 17 de Setembro de 2018; Aceito: 27 de Maio de 2019

Karina Sales Vieira é doutoranda em educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), mestre em educação pela Universidade Federal de Sergipe, pesquisadora do Grupo de Estudos Educação e Contemporaneidade - EDUCON/UFS. Atualmente é professora no Centro Universitário AGES, Paripiranga, BA.

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