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Educação e Pesquisa

versão impressa ISSN 1517-9702versão On-line ISSN 1678-4634

Educ. Pesqui. vol.48  São Paulo  2022  Epub 14-Jul-2022

https://doi.org/10.1590/s1678-4634202248254257por 

SEÇÃO TEMÁTICA: 20 anos depois: pensar com e sem Bourdieu

Socialização de habitus: gênero e geração nas elites paulistanas

Socialization of habitus: gender and generation in the elites of São Paulo

Maria da Graça J. Setton1 
http://orcid.org/0000-0001-7306-9293

Cláudia Vianna1 
http://orcid.org/0000-0002-9366-4417

Paulo Rogério da C. Neves1 
http://orcid.org/0000-0002-4155-2675

1- Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Contatos: gracaset@usp.br; cpvianna@usp.br; pneves@alumni.usp.br


Resumo

O objetivo do artigo é trazer informações acerca da socialização de gênero em quatro gerações da elite paulistana do século XX e XXI. Trata-se da análise de dados recolhidos na pesquisa Pensamento e práticas de cultura da elite paulistana. A intenção é problematizar experiências socializadoras de homens e mulheres — hetero e homossexuais — indagando sobre as possíveis transformações das formas de hierarquia de poder nestes grupos a partir dos habitus de gênero. Os dados foram recolhidos em entrevistas e questionários, com um olhar qualitativo, aplicados em um grupo de 48 pessoas. A hipótese principal apoia-se na teoria dos capitais de Pierre Bourdieu, entre outras, e suas formas subjetivas de construção de disposições de habitus. Destaca-se, por um lado, que as gerações e o sexo das pessoas passaram por mudanças expressivas, indicando rupturas individuais e sociais com alguns padrões estabelecidos para seu sexo ou geração. Por outro lado, indica-se também a permanência de um sentido prático que continua garantindo em todas as gerações as posições de status em função de suas expertises, subjetividades e berço familiar.

Palavras-Chave: Pierre Bourdieu; Socialização; Habitus; Elites; Gênero; Geração

Abstract

The objective of the article is to bring information about the socialization of gender in four generations of the São Paulo elite in the 20th and 21st centuries. This is the analysis of data collected in the research Thought and cultural practices of the elite paulistana. The intention is to problematize the socializing experiences of men and women - straight and homosexual - inquiring about the possible transformations of the forms of power hierarchy in these groups from the gender habitus. The data were collected in interviews and questionnaires, with a qualitative look, in a group of 48 people. The main hypothesis is based on Pierre Bourdieu’s theory of capital, among others, and its subjective forms of construction of habitus dispositions. It is noteworthy, on the one hand, that people’s generations and gender have undergone significant changes, indicating individual and social ruptures with some established standards for their gender or generation. On the other hand, it is also indicated the permanence of a practical sense that continues to guarantee status positions in all generations due to their expertise, subjectivities and family background.

Key words: Pierre Bourdieu; Socialization; Habitus; Elites; Gender; Generation

Introdução

A socialização nos remete a um processo lento, homeopático, voluntário ou involuntário, de transmitir e incorporar valores, modos de ser e agir na vida em sociedade que não podem ser identificados a olho nu (SETTON; BOZZETTO, 2020; VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001). Deriva da humanização das mentes e dos corpos, diretamente relacionada a um período histórico e caracterizada por uma estrutura social. Nos processos de socialização articulam-se diversas dimensões que remetem às diferenças sistematicamente transformadas em desigualdades em nossa sociedade. Este é o caso da origem social, da renda familiar, da escolaridade parental, do acesso à cultura, das gerações e das relações sociais de gênero. Conforme Bernard Lahire (2015), tal identificação exige conhecer a gênese social das modalidades estratégicas em trabalhos empíricos. Além disso, devemos avaliar a força e os reforços das disposições, suas condições de formação e manutenção nos diversos tempos e instituições sociais.

Apoiado na teoria dos capitais de Pierre Bourdieu e suas formas subjetivas de construção de disposições de habitus, o foco central deste artigo é analisar as possíveis transformações das formas de hierarquia e distribuição de poder a partir das relações de gênero em um grupo de pessoas pertencentes a distintas gerações da elite paulistana.

Usando as categorias de Karl Mannheim (1982) acerca do debate sobre gerações, observamos o quanto estas se aproximam das experiências culturais e históricas vividas nos processos socializadores. Assim, o pertencimento a uma faixa etária enquanto variável independente é tão importante quanto as diferenças de gênero em cada contexto sociotemporal. Gênero aqui é compreendido como uma forma primária básica de representar as relações de poder expressas na singularidade dos símbolos, das normas, das concepções políticas e das identidades individuais e coletivas (SCOTT, 1995). Tais disposições seriam de natureza econômica, política, religiosa, ética e estética, apreendidas no curso da trajetória de cada pessoa, em instâncias socializadoras, como família, escola, trabalho, entre outras, sobretudo em nosso caso, contando com a especificidade de ambiência contemporânea e mundializada dos séculos XX e XXI.

Norbert Elias (1990) já nos ensinou que os aspectos de transformação comportamental quase sempre foram introduzidos pelas camadas de elite. Os trabalhos sobre as elites, em geral, seguem duas leituras. A primeira adota o que se pode chamar de tendência weberiana das classes sociais, em que se destaca o poder e os recursos que as elites detêm. A segunda, conforme uma linha mais marxista, pensa esses grupos como aqueles que ocupam posições de dominação nas relações sociais. A maior diferença entre essas leituras se dá pelos seus enfoques. Enquanto a primeira enfatiza o aspecto individual sobre o controle das propriedades e recursos, a segunda releva o aspecto estrutural das relações em que se fortalecem os mais bem posicionados. Se de um lado, a partir de um referencial mais afeito à ciência política, alguns autores têm como foco a dominação ou o poder de pequenos grupos de acordo com a posse de algum recurso; outros se dedicam a compreender as razões de tal domínio em função da capacidade e das estratégias de reprodução, análise mais relacionada aos estudos sociológicos.

Segundo Renato Perissinotto e Adriano Codato, seria necessário certo ecletismo teórico para se avançar na discussão conceitual entre elites/elite, grupos e/ou classes dominantes (CODATO; PERISSINOTTO, 2009; PERISSINOTTO; CODATO, 2008; 2009). Com base nesses autores, julgamos mais adequado trabalhar com a categoria grupos ou frações de elite, na medida em que elas dariam conta de operacionalizar a análise dos setores das classes dominantes e suas formas de representação simbólica. Entendemos a categoria elite como grupos que têm a posse de recursos sociais de prestígio e o poder de administrar a distribuição desses bens (KHAN, 2012). Concordando com Wright Mills (1975), já não existiria, de um lado, uma ordem econômica e, de outro, uma ordem política encerrando uma organização midiática sem importância para a política e os lucros. Há sim uma economia política ligada, de mil modos, às instituições e decisões dos empresários midiáticos ou das celebridades.

Para desenvolver o argumento, destacamos os aspectos relacionados às mudanças e permanências das práticas socializadoras de frações geracionais da elite paulistana tendo o gênero como categoria de análise. Procuramos examinar o andamento das mudanças e estabilidades no grupo, o quanto elas podem traduzir tendências mais amplas e em quais gerações elas são mais expressivas.

Sobre os(as) participantes da pesquisa

A amostra não representativa de 48 participantes foi constituída por personalidades de nove setores econômicos2. Ao todo são 25 homens e 23 mulheres divididos em quatro gerações: 9 homens e 7 mulheres com mais de 66 anos; 9 homens e 6 mulheres de 65 a 51 anos; 6 homens e 7 mulheres de 50 a 41 anos; e 1 homem e 3 mulheres de 40 a 32 anos.

Não se trata da questão biológica ou cronológica, como diria Mannheim (1982), mas das experiências vividas na posição social que ocupam. Podemos, pois, avaliar que os aprendizados socializadores dos grupos foram e ainda são variados. É possível identificar um corpo expressivo de individualidades notáveis com um leque variável e diversificado das frações da elite paulistana.

Em síntese, mesmo com uma distribuição semelhante entre os sexos nos nove setores pesquisados, os homens são mais numerosos no setor da política e as mulheres, entre as celebridades intelectuais. No que se refere às formas de pertencimento às elites, foi possível classificar as frações estudadas em quatro grupos. O primeiro agrupamento, mais antigo, congrega pessoas que estão nesta posição há três gerações. Ou seja, seus pais e avós já pertenciam às frações das elites. São herdeiros(as) do mercado financeiro, indústria ou comércio, ou vieram das frações de políticos, como governadores e secretários de Estado (cinco homens e quatro mulheres).

As quatro mulheres e os dois homens do segundo grupo, que se sobressaem por estarem há duas gerações na elite, vieram de ambiente familiar escolarizado. Dedicados(as) à indústria, ao comércio e ao agronegócio, a maioria é parte da segunda ou terceira geração de imigrantes, herdando de seus pais e avós expertise técnica, não universitária, mas relevante na época do crescimento econômico no Brasil dos anos 1930 a 1940. Na grande parte das vezes trouxeram em suas bagagens apenas a determinação e a necessidade, contando com o auxílio da família para consolidar os empreendimentos.

O terceiro agrupamento tem uma representação expressiva de doze pessoas (sete homens e cinco mulheres) provenientes de famílias intelectualizadas, com herança de capital cultural distintivo no período dos anos 1950 e 1960 ou anterior, bem como com alta escolarização no Brasil e no exterior. Isto é, tinham avós ou pais possuidores de nível superior quando este nível de escolarização ainda era privilégio para poucos no Brasil. Imigrantes, conhecedores de idiomas (alemão, italiano, espanhol, árabe e francês), com formação em áreas variadas do conhecimento, que conviveram com frações economicamente mais abastadas, colocando-os(as) em uma situação relacional privilegiada.

O quarto grupo de pessoas altamente escolarizadas, também de grande expressão numérica, se destaca em função do tipo de conhecimento e/ou capital cultural acumulado por eles(as) mesmos(as). São 22 pessoas (doze homens e dez mulheres) provenientes de frações do comércio e profissionais liberais numa segunda geração de imigrantes. Conhecedoras de idiomas como francês e alemão, usufruíram de capital internacionalizado, já logo cedo se identificando com as novidades empresariais mundializadas. Ainda no campo da distinção relativa à escolarização, nota-se a presença de pessoas que se fizeram individualmente por estarem up-to-date com as tecnologias e souberam se relacionar com grupos dominantes para se alocar em cargos de poder ou na condução de empresas em que a expertise se fazia necessária no campo empresarial nos anos 1990.

Em diálogo com as teorias das disposições de cultura (BOURDIEU, 1979; LAHIRE, 2015) os tempos e os espaços de socialização são decisivos para consolidar traços e características culturais dos grupos, sendo aspectos constitutivos das identidades e, desta forma, nos permitindo localizar a gênese dos princípios das representações. Nas gerações mais velhas estão políticos e industriais; pessoas entre 51 e 65 anos concentram-se entre proprietários(as) do comércio, comunicação e finanças; e os mais novos se dispersam em quase todos os domínios da economia.

Também encontramos diferenças e semelhanças nos percursos de formação universitária quando comparamos mulheres e homens de diferentes gerações. Entre os mais velhos encontramos mais homens com formação universitária, na segunda geração essa formação está equiparada numericamente entre os sexos e chega a inverter-se no terceiro e no quarto agrupamentos. Inicialmente poderíamos supor tratar-se apenas da maior inclusão de mulheres nesses dois últimos grupos. Entretanto, cabe lembrar que, como veremos a seguir, essas duas gerações indicam novas conquistas de gênero, tanto em termos de carreira quanto de opções individuais.

A socialização de gênero é uma das mais fortes, com invisíveis e inesquecíveis formas de aprendizado, por ser simultânea ao processo de construção de subjetividades e identidades singulares (NEVES, 2014; SCOTT, 1995; SETTON; VIANNA, 2014). Neste sentido, vale recuperar alguns traços dos percursos sociais dos relatos obtidos à luz das diferenças de sexo e idade. A intenção foi compreender as formas tensionadas da distribuição de poder a partir de estratégias socializadoras. Ou seja, como as relações de gênero e geracionais nestes grupos de elite contribuem ou não para com a conservação de uma sociedade hierarquicamente estratificada.

Segundo Mannheim (1982), indivíduos contemporâneos vivem influências condutoras tanto culturais como históricas que permitem identificar condicionamentos socioculturais semelhantes, indicando o pertencimento a uma geração. Mais especificamente, verificamos como alguns traços socializadores marcadamente geracionais estão presentes nas trajetórias: modelos de casamento, relacionamento com pais e mães, escolarização, escolhas profissionais, permanências e rupturas com padrões sexuais, entre outros.

Assim, seguiremos um recorte geracional, conforme explicitado anteriormente, de forma a explorar cada uma destas quatro gerações a partir da perspectiva de gênero.

Mulheres sempre afastadas dos negócios e orientadas para serem boas mães

Na geração com mais de 66 anos, agregamos sete mulheres: uma vem de família intelectualizada; uma faz parte de uma família que está na elite há duas gerações; duas chegaram à elite por serem altamente escolarizadas; e três, cujo volume econômico de suas famílias é expressivo, estão na elite há três gerações, sendo herdeiras da indústria, do cultivo do café e do mundo das finanças. Nesse grupo, quatro mulheres parecem ter alcançado status de elite devido ao conhecimento gerado pela escola, oriundas de famílias já intelectualizadas e com pais e avós possuidores de certa expertise técnica prestigiada no início do século.

Entre os nove homens na faixa acima de 66 anos, três estão há três gerações na elite, um há duas gerações, três vieram de famílias intelectuais e dois alçaram a elite pela escolarização. Ou seja, tal como entre as mulheres, na geração mais velha a pertença à elite há três gerações deriva da herança de terras e da indústria, demonstrando certa homogeneidade do grupo e confirmando que as maiores riquezas econômicas do Brasil se estabelecem na passagem do século XX para o XXI.

É comum nesse grupo etário o estudo em escolas privadas, a maioria segregada por sexo, confessional, muitas vezes interna e dirigida por entidades religiosas de idioma francês. Dois deles, um filho de adidos culturais e outro imigrante, estudaram a maior parte do tempo no exterior, enquanto duas delas realizaram estudos secundários no exterior (Suíça).

Tudo leva a crer que estes homens e mulheres acima de 66 anos estariam muitas vezes predispostos a agir segundo escolhas familiares interessadas em uma formação. Esta gênese insere-se em trajetórias de vida marcadas por distintas tomadas de posição entre os sexos, nas quais a socialização escolar e de gênero era escolha deliberada entre famílias, prestigiando instituições com origem longe do país. Assim, o comportamento social desenvolvido seria, portanto, produto de um sentido prático, ato realizado a partir das injunções de um contexto cultural singular na busca de subjetividades resilientes.

Ao se referir à história das mulheres, Bourdieu ressalta o valor das instituições “que concorrem permanentemente para garantir essas permanências [habitus], ou seja, Igreja, Estado, Escola etc., cujo peso relativo e funções podem ser diferentes, nas diferentes épocas” (BOURDIEU, 2002, p. 101). Nesta acepção, tais permanências referem-se ao conjunto de esquemas classificatórios, apreendidos de modo sistemático ou difuso, no seio da família ou no interior de instâncias produtoras de valores morais e comportamentais, como as escolas supracitadas, com forte poder formador e identitário.

Em diálogo com autoras de grande contribuição para forjar o conceito de habitus de gênero (KRAIS; WILLIAM, 2000; MCLEOD, 2005), Paulo Neves (2014) chama a atenção para o fato de que tais permanências articulam-se com significados de masculinidades e feminilidades em disputa. Nesse sentido, podemos falar da “existência de um habitus de gênero, que envolve práticas e percepções que garantem o domínio de determinado tipo de masculinidade [e de feminilidade], de forma a ser, geralmente, compreendida como ‘natural’” (NEVES, 2014, p. 72).

A afirmação de um entrevistado não deixa dúvidas sobre o habitus de gênero a ser forjado: “mulheres tinham, mas sempre afastadas do negócio”. Retratos de uma década, muitas dessas mulheres procuraram corresponder aos valores tradicionalistas da década de 1950, que defendiam o casamento como prioridade na vida da maioria das jovens (PINSKY, 2004). Ao referir-se às suas irmãs, um deles conta que “nenhuma das duas jamais se envolveu com o negócio”, afirmando que “naquela época as mulheres eram orientadas para serem boas mães, boas donas de casa”.

Estas mulheres chancelam a premissa de que “ser mãe, esposa e dona de casa era considerado o destino natural das mulheres. Na ideologia dos Anos Dourados, maternidade, casamento e dedicação ao lar faziam parte da essência feminina; sem história, sem possibilidades de contestação” (PINSKY, 2004, p. 608).

Também deram pistas da rigidez na socialização familiar, voltada para manter os princípios tradicionais do que se entendia por feminilidade: ocupação doméstica e cuidado dos filhos e do marido. Referindo-se a seu pai e sua mãe, uma das entrevistadas revela que “eles eram muito rígidos, a nossa educação era aristocrática, ela é mais severa […] porque a gente tem que dar o exemplo”.

E, para além da família, uma importante instituição a marcar a rigidez da diferenciação de gênero era a escola: “[…] Porque só tinha mulher na minha escola, eu estudei em uma época que era menina nas escolas de freiras […], a primeira marca externa foi essa. Daí eu fiz colegial, que eu também gostei, era muito mais tradicional, na mesma instituição”.

Todas as escolas frequentadas por este grupo pertenciam a ordens religiosas, o que, de certa forma, privilegiava um estudo sexista com forte carga humanista, em afinidade com o conceito de conexão geracional de Mannheim, uma aproximação entre situação de classe e situação geracional. Cumpriam a mesma função moral e religiosa vigente nas famílias: reservar ao sexo feminino as funções sociais relacionadas ao cuidado e à reprodução.

O início do século XX já registrava o avanço das mulheres quanto ao acesso à instrução, acompanhado do direito ao voto e do ingresso ao ensino superior. Entretanto, o sistema da coeducação era combatido pela Igreja Católica, visto como um sério risco aos costumes morais vigentes, em oposição à defesa feminista (Almeida, 2007). No caso das mulheres por nós ouvidas, é no ensino superior que encontramos a consequência das influências de gênero nas escolhas educacionais. Se verificarmos a formação universitária da geração acima de 66 anos, continuaremos a perceber a seleção por instituições prestigiosas e internacionais em ambos os sexos. Contudo, quase a unanimidade dos homens possui nível superior, mas nem todas as mulheres têm. Por certo, pequenas rupturas com um habitus de gênero são delicadamente construídas em suas trajetórias. Uma delas, sempre desprestigiada pelo pai, conta que “estava indo muito mal na escola”, mas “cabulava para ir ler”. Segundo ela, seu pai chegou a afirmar: “é uma tristeza porque você é muito ignorante para nós”. Mas, ao mesmo tempo, ela mantém guardados os livros de filosofia comprados por sua governanta e lidos com vivacidade: “eu tenho todos aí, Jean-Jacques Rousseau […]. Tudo isso que está aí, eu guardei todos”.

Esta mesma narrativa aponta o casamento como alternativa ao subjugo dos pais, visto por elas como outra pequena transgressão: “Eu acho que eu casei para me livrar […], é pressão e tal. E meu marido era jovem, mas ele já estava com uma carreira incrível”.

Além disso, as indicações por conveniência familiar favoreceram relações pré-dispostas a satisfazer mais os grupos do que os indivíduos: “Eu estudei em um colégio interno […], me mandaram com 16 anos, voltei com 18 […], casei com 20, logo em seguida. Arranjaram um maravilhoso que tinha ido para Harvard”.

Também já era possível vislumbrar a possibilidade de cursar o ensino superior, mas ainda sob o jugo da família: “[…] quando eu quis fazer PUC [Pontifícia Universidade Católica] e tinha tudo para entrar na PUC, o meu pai estava muito envolvido lá na revolução, ditadura mesmo, e eles não queriam que eu fosse nem para a USP [Universidade de São Paulo] e nem para a PUC […], aí fiz Nancy e Cambridge”.

Apenas aquelas que estudaram em universidades públicas reconhecidas seguiram a carreira inicialmente escolhida. As outras tiveram uma vida profissional mais diversificada. Seria possível indagar se as disposições de cultura adquiridas pelas universitárias, expressas em escolarização seleta e longeva, foram resultado de ação cognitiva e organizadora de suas mentes, designando uma maneira de ser, predisposição ou tendência construída ao longo dos processos socializadores, às vezes à custa de dores e sofrimento individual (BOURDIEU, 1979; SETTON, 2021).

Sobre o ensino superior cursado pelos homens de mais de 66 anos, observamos maior homogeneidade de destino, com habitus profissionais mais afeitos a estratégias masculinizadas que facilitaram a consolidação de modos de ser específicos. Nenhum deles demonstrou dúvida sobre suas escolhas. Engenharia, economia e direito foram as carreiras mais escolhidas, cursadas em universidades brasileiras renomadas, públicas ou privadas. A maioria realizou pós-graduação no exterior quando ainda não era comum a dedicação à pós-graduação no Brasil. Apenas um fugiu do padrão tendo cursado ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP).

Também entre os homens parecia haver diálogo familiar. As decisões conjugais e profissionais eram harmoniosas e, mesmo fora da tradição transmitida, foram aceitas. Os casamentos realizados foram promovidos pelas e nas experiências de lazer do grupo, já que as escolas não eram mistas. Não houve menção de arranjos matrimoniais:

Eu tenho essa profunda admiração pelo meu pai […]. Muito cedo o meu pai comprou uma motocicleta pequenininha que se usava na guerra, na Segunda Guerra, o meu pai trouxe uma e eu adorava desmontar. E na hora de montar não dava certo, o motor explodia, então ele falou: “deixa eu te ensinar como é que funciona o motor” e assim foi. […] quando tinha 11 anos […], ele comprou um avião a contragosto da minha mãe.

Quando eu concluí o curso de administração de empresas, me casei […], fui trabalhar por mais de ano no escritório do meu pai. Lá estava desenvolvendo um departamento de exportação, mas a certa altura surgiu um concurso para ser professor […]. E o meu pai falou: “bom, veja bem, […] ser professor não vai lhe proporcionar o padrão de vida que você está acostumado, mas se for o que você acha que vai lhe deixar feliz, vou procurar lhe apoiar”.

Nota-se, portanto, que as relações sociais de gênero ditaram as trajetórias escolares como parte da constituição de um habitus, resultando em escolhas de carreiras marcadamente diferentes entre homens e mulheres. Todos eles realizaram universidades em profissões socialmente mais reconhecidas, carregadas de prestígio e com grande possibilidade de sucesso financeiro ou de manutenção das empresas familiares. Por outro lado, as mulheres que fizeram curso superior acessaram carreiras menos prestigiosas e menos rentáveis, aparentemente reproduzindo a estrutura patriarcal, na qual mulheres “deveriam” ser boas mães e esposas, não necessitando se preocupar em prover a família.

Eu só decidi ter filho depois que eu chegasse a vice-presidente

Na faixa etária imediatamente inferior, de 65 a 51 anos, temos seis mulheres e nove homens. Nesse grupo, encontramos mulheres altas executivas e em setores do agronegócio, comunicação, comércio, finanças, comunicações e indústria. Faltaram aqui mulheres representantes na política, entre celebridades e profissionais liberais. Apenas uma delas pertence à elite há três gerações, três alçaram posição de elite pela escolarização e três vieram de famílias intelectualizadas.

Os estudos básicos das mulheres e dos homens foram realizados em escolas renomadas dando continuidade às demandas familiares de escolarização distintiva (BOURDIEU, 1979). Contudo, vale destacar certa mudança na escolha das escolas de ensino neste grupo, que já apresenta maior diversidade nas seleções pedagógicas oferecidas pelo sistema. Ressaltamos ainda que não há coincidência entre as escolas frequentadas pelos diferentes sexos nesta geração, o que nos faz indagar sobre outros espaços de convivência do grupo.

Nesta faixa etária, duas mulheres iniciaram sem, no entanto, concluírem o ensino superior. Outra, formada em instituição pouco renomada, seguiu carreira de administradora tornando-se alta executiva. Uma delas, proveniente de família intelectualizada, fez duas graduações, direito e arquitetura na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Duas delas fizeram hotelaria e design gráfico, mas não seguiram a carreira inicialmente escolhida. A última fez seus estudos superiores no exterior, graduada em filosofia nos Estados Unidos, com mestrado em teologia e economia política em Oxford. Ou seja, a grande maioria cursou a graduação, ainda que nem todas em instituições com grande reconhecimento acadêmico.

Mas antes de procurarmos acompanhar a trajetória destas mulheres, vale sublinhar que, dos nove homens desta geração, seis cursaram a USP, dois fizeram faculdades pouco renomadas e um não completou a formação universitária. Carreiras tradicionais como engenharia, direito e economia continuaram sendo as mais presentes, embora um entrevistado tenha se formado em ciências sociais e outro em filosofia. Deste grupo, quatro homens ocupam posições relevantes no campo em que trabalham. Os outros cinco são proprietários de seus negócios. Nesta faixa etária, quatro fizeram cursos de especialização no exterior e três não estão entre os proprietários de empresas.

É também nesse grupo que já encontramos uma geração de mulheres dedicadas às profissões até então consideradas majoritariamente masculinas. Essas mulheres parecem ter tido incentivos variados em relação à condução dos estudos, alçando postos de comando: “Então eu tive um empenho, um foco, uma determinação muito grande. Eu tenho 51 anos, 52 anos, então o que acontece? Eu sou de uma geração que poucas mulheres brasileiras fizeram”.

A busca por independência e liberdade de escolha elucida o habitus de gênero que passa a se configurar como indicador de novas mudanças, ainda que com muitas permanências:

A trajetória profissional foi uma construção muito da minha cabeça, não tanto debatida no meu âmbito familiar. A decisão de ir para os Estados Unidos foi debatida porque os meus pais pagaram a primeira parte da minha educação. O meu mestrado eu mesma que me financiei. […] depois eu tomei um empréstimo para poder terminar de pagar a minha escola. […] Para mim é fundamental eu ter liberdade.

Estas mulheres relatam suas escolhas premidas pela tensão entre valores de uma época de grandes contradições. Ao examinar a pluralidade que caracteriza a existência das mulheres brasileira na década de 1970, Nadiesda Dimambro (2019, p. 160) ressalta que, longe de ser um grupo homogêneo, a condição feminina era caracterizada por tensões entre a militância contra a ditadura militar e as representações expressas pelas mídias da época, entre elas a busca de independência e liberdade feminina, marcada pela “emergência de críticas e questionamentos acerca do papel social da mulher na sociedade brasileira, de forte herança patriarcal”.

O casamento não mais era apresentado como maneira de conseguir autonomia em relação à família de origem; muitas delas já não se dedicam apenas ao matrimônio e a maternidade começa a se apresentar como escolha programada: “Então, antes de eu ter [filho], até a gente teve uma conversa com a equipe. […] eu trabalhava 14, 16 horas por dia. Agora eu estou trabalhando menos. Então eu preparei a equipe.”.

Outras conseguiram conciliar a vida de mãe com a vida profissional, ainda que, para tal, tenha sido imprescindível contar com a ajuda de outras mulheres para cuidar de filhos e filhas:

A minha mãe, os dois maiores ela cuidou, tinha ela e a minha avó. Mas depois ela não podia mais, tinha empregada.

Trabalhando, viajando, e tinha época que eu tinha que viajar de segunda à sexta, largava os meus filhos com babá, motorista, coordenando tudo por telefone.

Retrato de uma década na qual se incrementa a participação feminina no mercado de trabalho (BRUSCHINI, 1994), a maioria parece ter dado voos profissionais individuais. Teríamos nesta geração um maior protagonismo feminino se comparado a seus companheiros de faixa etária? Pensamos que sim, ainda que lamentassem o cansaço:

Eu falei que eu queria ter um negócio, queria ser independente, aí acabei entrando com capital para abrir a segunda loja.

Nem eu sei, Deus ajuda. Eu falava assim: “eu tenho que viver, tenho que sobreviver, tenho que cuidar de dois filhos, não tem como”. Tudo no racional. Tirei a emoção e fui seguindo, me esforcei para dar para eles coisas que eu não tive.

É notável que os homens da faixa etária de 65 a 51 anos não registrem essas mesmas dificuldades. Mesmo com ruídos nas relações entre pais e filhos, estabelece-se um diálogo, num estilo educativo de maior cumplicidade, sem romper com os padrões socializadores se comparados às narrativas das mulheres: “Tanto quando eu disse para ele que eu ia abandonar medicina para ser filósofo, ele agiu com a maior tranquilidade do mundo e disse que eu deveria fazer aquilo que fazia sentido para mim”.

Essa geração tem dados muito peculiares sob a ótica do gênero. Os homens continuam em profissões mais poderosas e sem aparentes tumultos com seus genitores acerca dos rumos a seguir, demonstrando uma linearidade esperada, com poucos conflitos entre a carreira, o casamento e a paternidade:

Porque graças a Deus ela ficou grávida logo em seguida, nos casamos […] e logo em seguida eu fui fazer um estágio em Nova Iorque e ela foi comigo. […] eu sei que pra ela deve ter sido muito mais sacrificante do que foi pra mim, mas ela acabou abrindo mão para tomar conta dos filhos. […] Se sacrificou, eu acho que profissionalmente ela definitivamente sente, hoje em dia.

Elas, como já mencionado, apresentam dados sobre a escolha de suas vidas profissionais, bem como sobre a vida materna e conjugal de modo distinto do deles: não há mais mulheres que se casam para “fugir” da família de origem, como na geração anterior, há muitas mulheres que optaram por seguir com suas carreiras. Essa é a geração contida, por um lado, pelo patriarcalismo e, por outro, incentivada pela segunda onda do feminismo: pressionadas a serem donas de casa e, ao mesmo tempo, mulheres que poderiam desempenhar funções profissionais de destaque, embora com desigualdades significativas em relação aos homens.

Eu tive que provar, tive que ir atrás

Entre sete mulheres da geração de 50 a 41 anos, duas pertencem ao setor do comércio; uma ao da comunicação, uma ao do agronegócio, uma é alta executiva e uma é profissional liberal. Aquelas posicionadas em cargos de dirigentes, administradora de propriedade rural e profissional liberal possuem escolaridade longeva, ainda que quase todas tenham realizado seus estudos básicos em escolas públicas no interior de São Paulo, o que demarca uma diferença relevante de escolarização neste agrupamento. Entre os seis homens, temos percursos bastante heterogêneos, mas que coincidem com a trajetória da maioria, tendo estudado em escolas públicas, tal como suas companheiras de geração.

A escolha por escolas de prestígio, com viés bilíngue e confessional entre mulheres e homens daria continuidade à preocupação distintiva verificada nas gerações anteriores. Destacamos, pois, mudança no padrão de escolarização desse grupo, acentuando diversificação nas preocupações e ampliação das ofertas no ensino formal. Vale notar que as escolas de ensino básico já não são as mesmas das gerações anteriores, contudo, cursos de nível superior são coincidentes e sinalizam reforço das disposições culturais desse grupo na fase adulta.

Sobre os cursos universitários, quatro mulheres fizeram faculdades renomadas no Brasil e outras três enfrentaram rumos fora do país. Administração, medicina, direito e economia demonstram que esta geração de mulheres já não se deixa levar pelas formações tradicionalmente femininas como nas faixas etárias anteriores. Também conquistaram espaço nas universidades de renome a partir de uma ambiência familiar favorável e muita determinação individual.

Entre os homens, quatro frequentaram curso superior nas mesmas faculdades renomadas que as mulheres e dois foram para faculdades de pouco renome. Apenas dois realizaram pós-graduação. As carreiras escolhidas são bem diversificadas: cientista social, médico, jornalista, advogado e dois no campo da administração, demonstrando, novamente, maior diversidade profissional se comparados à geração anterior, talvez com novos horizontes para os diferentes sexos entre aqueles de 50 a 41 anos.

Vale ressaltar ainda que quase todas as mulheres fizeram cursos de especialização no exterior, com predomínio de países de idioma inglês. No caso das profissionais executivas e profissionais liberais, seus estudos foram custeados pela empresa na qual trabalhavam. As demais custearam os próprios estudos fora do Brasil. É notável ainda a presença das mulheres em profissões até então privilegiadamente masculinas, como administração, direito e medicina, e os homens em áreas mais abertas, como ciências sociais e jornalismo. O movimento de oscilação de carreiras entre os sexos parece mais acentuado, com talvez uma inversão em relação às gerações anteriores. Tudo nos faz pensar que principalmente as mulheres desse grupo colheram frutos das experiências de gerações anteriores, realizando a formação superior no exterior e/ou escolhendo profissões com maior prestígio e comumente ocupadas por homens. Se anteriormente a forma de escapar das pressões e problemas na família de origem era pelo casamento, para essa geração passa a ser pelo trabalho. As mulheres relatam mais conflitos ao optarem por um modelo de vida profissional muitas vezes contrário ao desejo familiar, numa relação de disputa com irmãos homens. Perseverantes e cientes das dificuldades, dedicaram-se aos estudos de forma a contrariar destinos já traçados. Nenhuma delas se arrepende da vida que escolheu:

[…] olhando pra trás, eu vejo que a maneira com a qual eu me blindei foi estudando muito. […] ele [meu irmão] sempre foi um menino mais emocionalmente instável, […] eu acabei tomando decisões de que eu queria sair de casa e queria tocar a minha vida. Assim, eu acho que era uma maneira meio de me salvar desse ambiente. E aí eu talvez tenha feito uma trajetória bastante diferente de todo mundo, bem solo.

Contudo, descrevem experiências em que demostram grande determinação para superarem algo que localizam em sua mais tenra socialização. Ter que superar-se, provar-se, muitas vezes construindo caminhos mais longos e tortuosos, com desvios de padrões de conduta esperados das mulheres:

Para eles [meus irmãos] era um fato dado. Eu tive que provar, tive que ir atrás.

E aí eu não entrei na GV [Fundação Getúlio Vargas] e falei para os meus pais que eu ia estudar fora seis meses, […] eu fui para Boston, nos Estados Unidos, […] logo eu transferi para uma faculdade super conceituada […]. Aí eu tranquei, e eu voltei porque meus pais… […] Começaram a fazer uma pequena pressão e eu mesma me senti um pouco pressionada. Minhas amigas, todas, estavam se casando. […] Então olha que loucura. Eu volto, na minha primeira semana aqui eu conheço o meu futuro marido. Na academia de ginástica.

A reflexão advinda da sociologia do trabalho, por meio das metáforas do “teto de vidro”, para as mulheres, e da “escada rolante invisível”, para os homens, para simbolizar as barreiras que impedem a promoção de muitas mulheres em suas carreiras (WILLIAMS, 1995), ilustra bem o desafio a ser enfrentado quando tratamos de significados de gênero nas trajetórias dessas mulheres:

Talvez inconscientemente o meu pai e minha mãe tenham feito isso, tenham me oferecido a escada de degraus e não a escada rolante, entendeu? Talvez eu não precisasse… Ou talvez, se eles não tivessem feito isso, eu não teria tido tanto sucesso, não teria sido tão lutadora quanto eu fui.

O relacionamento matrimonial de uma fração da geração de 50 a 41 anos começou na escola e/ou universidade, de outra em ambiente de trabalho e só uma em academia de esporte. Espaços de convivência que ensejam mais proximidade entre iguais nos novos tempos.

Quando começa a trabalhar junto pega respeito, pega amizade e vai tranquilo

Por fim, na faixa etária de 40 a 32 anos, encontramos um homem alto executivo e três mulheres: uma alta executiva, uma do agronegócio e uma celebridade intelectual. O grupo agrega uma mulher pertencente à elite há duas gerações. O restante do grupo alcançou destaque e status de elite pela escolarização. A escolarização é bastante heterogênea: apenas um deles fez seus estudos básicos em escola pública e as demais em escolas privadas, sendo que uma delas fez os estudos básicos no exterior. Três frequentaram, ainda que por pouco tempo, estudos de especialização no exterior e outra realizou intercâmbio internacional na juventude. Os estudos superiores não se destacam por serem renomados; só uma fez administração na GV. Parece evidente que a escolha de escolas e universidades prestigiosas e tradicionais começa a rarear nesse grupo etário. Tudo leva a crer que a dedicação à escolarização renomada deixa de ser tão relevante, destacando-se aqui as relações empresariais e familiares como estratégias de sucesso e protagonismo na hierarquia social.

Sobre a questão das famílias e do modelo de matrimônio, neste grupo mais jovem, três moram com seus companheiros e uma é divorciada. As formas de encontro destes casais foi, sobretudo, o círculo de amizade, ocorrendo em festas e em bares, espaços mais difusos, ainda que cultivem o encontro entre iguais:

A gente se conheceu em um casamento. […] Foi à primeira vista. Eu cheguei, eu olhei para ele, ele olhou para mim […]. Um amigo de infância que apresentou a gente, a gente ficou no sábado, almoçou no domingo, correu na segunda-feira e nunca mais largou.

É neste grupo também que encontramos duas pessoas homossexuais:

[uma namorada] foi uns oito meses, a [atual] a gente está há oito, nove meses. A [anterior] eu fiquei uns quatro anos […]. E antes [dela] teve [uma], […] a gente ficou um ano. […] Aí eu tenho contato com todas.

Sou casado. O meu marido é colombiano. […] Aí a gente se conheceu em 2014, ele veio para o Brasil em 2015 […]. E a gente está junto desde então. […] a gente pensa em adotar.

Por ser um grupo muito pequeno, vale ilustrar que a mulher é herdeira de uma grande rede varejista e veterinária dedicada à produção de matrizes de gado na fazenda da família: “Eu vou para a fazenda 8h. E aí eu fico até o fim do dia. E eu faço tudo, eu vacino gado, vamos queimar, eu ajudo a marcar […]. Então eu estou na rotina pesada. […]. Eu adoro o que eu faço”.

O homem é um alto executivo da indústria farmacêutica e galgou a tal posição por meio da implantação de tecnologias de comunicação em sua área. Não sendo herdeiro, não pertencente às famílias tradicionais e formado em uma faculdade de reconhecimento mediano, é o exemplo do self-made man meritocrático:

Tinha 18 anos. Eu estava no primeiro semestre da faculdade. […] a gente começou a olhar o marketing digital de uma maneira estruturada, isso ainda no meu primeiro ano, acabei sendo efetivado naquele ano mesmo, como analista. […] aí no ano seguinte eu fui para a Argentina para montar essa mesma capability. […] voltei, continuei a minha trajetória em estrutura digital, aí a área cresceu muito, rapidamente eu fui promovido à coordenação. […] fui um dos gerentes mais jovens da empresa no Brasil […]. Aí em 2014, quando a outra empresa me procurou […], 28 anos. E aí foi em uma velocidade incrível, as coisas aconteceram muito rápido. […] fiquei na outra empresa até dezembro do ano passado, foi quando a terceira empresa precisava reestruturar já a área de desenvolvimento de pessoas, que é a área de business learning.

Neste caso, as disposições de cultura foram forjadas há pouco tempo, talvez indicando comportamentos não afeitos ao conservadorismo das elites, mesmo no que se refere à orientação sexual. É sedutor pensar que, assim como a geração anterior, essa última beneficiou-se das conquistas obtidas pela segunda onda do feminismo: “Eu gostava, sempre gostei. Aí o meu pai começou uma criação de Jersey, de vaquinha de leite, e aí depois, há 22 anos, ele já arrendou uma fazenda […], começou a trabalhar com nelore, já pensando em reprodutor e matriz”.

Tal geração é a que mais se beneficia das conquistas dos direitos das mulheres e da agenda LGBTQIA+, uma vez que as mulheres ocupam posições de comando mesmo dentro de ambientes identificados como extremamente masculinos (manejo de gado) e, tanto para os homens quanto para as mulheres, suas orientações sexuais não foram impeditivas à construção das vidas afetivas e profissionais. Mesmo assim, as duas pessoas homossexuais contam não ter sido uma trajetória fácil:

Pra ela [minha mãe] foi um baque, um desespero, na verdade. Foi um ano que ela fez terapia, foi tudo. […] Conselho de pastores, aquela coisa. […] A minha mãe estava fazendo um drama, estava fazendo um escarcéu. […] Agora, você pergunta pra ela: “você concorda?” e ela diz: “eu preferiria outra coisa”, mas ela respeita.

O meu pai não sabia nem conversar com mulher. […] Eu sempre queria acompanhar ele no sítio e tal, mas não podia porque eu era pequena e porque eu era mulher.

Uma terceira entrevistada ressalta a mesma dificuldade ao lembrar de sua irmã: “minha irmã é gay. Aceitaram da maneira deles […]. A minha irmã falou que queria casar. […] Eu acho que assim, nas limitações deles, eles aceitaram, mas não da maneira que a minha irmã gostaria. […] foi muito difícil”.

De certa forma, há maior possibilidade de mobilidade profissional na qual a diversidade sexual é valorizada. Ademais, esta década foi a de maiores conquistas de políticas estatais quanto aos direitos à diversidade sexual. Tanto no que se relaciona ao convívio quanto à própria orientação sexual: “Sabe o fotógrafo que eu falei? Ele é transgênero. Era uma mulher. […] De boa [a aceitação dele entre os funcionários da fazenda] […]. Quando eu conheci ele era mulher”.

Assim, esse grupo etário apresenta uma série de diferenças e continuidades com as gerações anteriores. Se por um lado as mulheres conquistaram posições de relevo nas carreiras sem a dificuldade do grupo etário anterior, concomitantemente com mudanças nos arranjos familiares e com a presença de uniões homoafetivas, por outro as ocupações profissionais de prestígio continuam muito similares.

Ainda uma rápida reflexão. Trata-se de pergunta que atravessa esta discussão. As relações de gênero no grupo das elites são diferentes das vividas pelas outras camadas sociais? Para nós, sim. Ainda que convivam com tensões inerentes à identidade feminina/masculina, o poder financeiro os(as) tornam mais uma vez privilegiados(as). Rompem padrões convencionais de escolha das carreiras, vão além dos consensos familiares, mas não deixam de experimentar cobranças tais como as pessoas de outros grupos sociais. Não obstante, o que os(as) tornam fundamentalmente diferentes é um sentimento de segurança básica e ontológica. Tensões, contradições e pressões fazem parte da experiência das quatro gerações, mas a maioria se tornou vencedor(a) em função sobretudo das facilidades objetivas e subjetivas.

Para nós, não poderia ser de outro modo. Sabemos que os processos socializadores são inexoravelmente tensos e intensos, contam com a participação das pessoas num permanente socializar-se. Uma ambiência crítica aos papéis sociais no interior da família difundiu-se em todas as camadas, contando, sem dúvida, com a abertura reflexiva de uma ambiência sócio-histórica.

Por último, não poderíamos deixar de relatar agressões e feminicídios nas elites. Narrados de forma discreta, o que se evidencia é que tais acontecimentos não são exclusivos das camadas médias e populares, mas ainda com distinções singulares:

Ah, sei lá, um menino aqui em São Paulo que bate em todas as namoradas, espanca, entra com arma na casa da amiga, ameaçando a amiga porque está acolhendo a namorada, coisas assim de…

Um menino que eu conheço da vida inteira, esse menino doido, numa briga de bar foi lá e deu um tiro na cara do outro, matou. Isso há quinze anos atrás, aí pegou e fugiu com o carro, com o motorista, com o segurança dele, e bateu o carro, matou os outros dois do outro carro, matou o segurança, largou tudo, pegou o avião do pai, foi para os Estados Unidos […].

Algumas sínteses

Ainda que com limitações, o diálogo com Bourdieu nos permite dizer que os condicionantes culturais e emocionais, isto é, as disposições de habitus possuem real relevo no modo de entender, classificar e posicionar-se no mundo.

Observamos que a gama de profissões entre homens e mulheres é bem distinta demarcando nas gerações mais velhas uma divisão sexual do trabalho de caráter tradicional. Grande parte dos homens acima de 51 anos fazia suas escolhas no campo da economia e da engenharia, enquanto as mulheres, quando se formavam, se pré-dispunham a cursos pouco profissionalizantes. Muitas delas não seguiram carreira, abandonando seus futuros por arranjos familiares.

Contudo, as mulheres abaixo de 51 anos escolheram administração, medicina e veterinária, profissões anteriormente consideradas mais masculinas. Todas demonstraram determinação e muitas, ao se separarem, seguiram atividades prestigiosas. Quanto aos homens, um número expressivo seguiu negócios paternos, muitas vezes aumentando a importância da empresa. Já entre as mulheres, encontram-se apenas dois casos semelhantes, a transmissão de herança patrimonial ainda estava vinculada à estrutura patriarcal nesse grupo. Outras alcançaram o sucesso pela própria deliberação, principalmente as mais jovens, em campos como finanças, profissionais liberais e comunicação.

Por fim, os homens das gerações mais jovens também seguem este percurso de dedicação individual, contando com uma base familiar sólida, na forma de empregos em grandes empresas e/ou posições de poder em que o capital social das relações foi determinante.

Vale ressaltar que as carreiras foram marcadas por estudos no exterior, reforçando a categoria internacionalização como uma das estratégias de distinção e reforço das disposições da elite desde o início do século XX. Decerto, estratégias de socialização que se somam a um gradiente de escolhas prenhes de sentido prático, na acepção de Bourdieu. Frequentar os mesmos lugares e repetir crenças ensejam materialidade de práticas cotidianas num sentimento de pertencimento.

É ainda possível perceber a influência do movimento feminista e, posteriormente, LGBTQIA+ no que se refere tanto à escolha de profissões quanto às constituições familiares. Se na primeira geração as mulheres eram educadas para serem mães, donas de casa e esposas, mais mulheres da geração seguinte realizaram cursos superiores, sendo exceções as que não encontraram o teto de vidro, enquanto seus pares homens continuaram se concentrando em carreiras influentes, muitos herdando, também, o capital social de seus pais.

A geração de mulheres de 50 a 41 anos já ocupa posições de liderança, e muitas delas com apoio de companheiros no cuidado e administração da casa, aparentemente se beneficiando de conquistas sociais feministas. Algumas competem com irmãos pelo reconhecimento parental de sua capacidade, mas seus pares também continuam ocupando profissões tidas como tradicionais. Embora o último grupo geracional seja menor numericamente, é o único com a assunção da homossexualidade de duas pessoas, o que nos estimula a pensar que questões de orientação sexual não impediram a progressão profissional de ambas. No entanto, não é a presença de homossexuais ou mulheres de sucesso que possibilita afirmar a superação de preconceitos pela elite paulistana. Todas as coortes de idade apresentam contradições, mas as mudanças apontadas indicam influências e disputas inerentes às relações sociais de gênero.

A teoria disposicional aqui adotada nos ajuda a registrar formas confortáveis de vida, longe de urgências materiais, construção de identidades facilitadas e disposições de habitus de gênero afeitas à percepção de si segura e confiante; interiorização de padrões de comportamento que auxiliam a compreender o mundo objetiva e subjetivamente, num acordo entre estruturas objetivas e estruturas mentais. É certo que toda incorporação disposicional não é livre de autoridade, sofrimento ou renúncia. Os processos socializadores são tecidos pela luta constante entre projetos e propostas distintivas. Humanizam ao mesmo tempo que condicionam a um tipo de formação com mais ou menos liberdade.

Assim sendo, as gerações e as relações de gênero das pessoas pesquisadas passaram por mudanças expressivas sem que perdessem o lugar de destaque. Um sentido prático parece ter mobilizado a todos na direção de ocuparem posições de status em função de suas expertises, subjetividades e, sobretudo, berço familiar. Foi possível observar ainda como muitas mulheres romperam padrões estabelecidos para seu sexo ou geração e como se saíram vitoriosas graças a este ambiente de evidências favoráveis.

Para nós, o que torna as elites diferentes são suas experiências exitosas de socialização e as de seus próximos ao longo do tempo, espaços e laços sociais afetivos, familiares e de amizade. Uma segurança ontológica somada a vivencias e convívios com pares em que a dificuldade da vida material é inexistente e os problemas psicológicos têm mais chances de serem minimizados. Um ambiente familiar em que regimes de conduta, disciplina e comportamentos variados controlam ansiedades e, sobretudo, oferecem futuro certo. Como não lembrar o sucesso profissional dos sujeitos altamente escolarizados que alimentam o fetiche do esforço individual enquanto subjetividades e individualidades são, de fato, construídas no e para o sucesso e a manutenção de hierarquias sociais.

O uso do termo crença nos auxilia nesta reflexão. Crença ou doxa, para Bourdieu (1977), se referem a um conjunto de valores sociais, criados na dinâmica dos grupos, que expressariam um ideal motivador de participação em um jogo social, inerente a todo agente dotado de um habitus em um determinado campo. Usos aparentemente diversos, mas que explicitam a força e o poder ideológico dos universos simbólicos que garantem o domínio de masculinidades e feminilidades em disputa. Em outras palavras, uma violência sutil, desconhecida e oculta de formas de poder, responsável pela manutenção de uma estrutura social arbitrária (BOURDIEU, 1977).

Por certo é o que observamos. A socialização das elites não exige apenas reforços na longevidade do grupo, nas instituições frequentadas, no capital social, na escolarização transmissora de conhecimentos que ensejam experiências no exterior. Um conjunto de evidências de vida corrobora formas de ser que confirmam relações sociais de gênero. A socialização das elites conta com formas duradouras de herança subjetiva, tradição de pensamento e ação que permite cristalizar as desigualdades. Talvez esteja aqui a gênese social das mais lucrativas modalidades socializadoras das elites, ainda que convivam com mudanças significativas nas relações sociais de gênero.

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2- A amostra de 48 sujeitos corresponde ao número mínimo necessário para o cálculo das análises de correspondência múltipla (ACM). Escolhemos nove setores da economia que têm expressão nacional: agronegócio, altos executivos, celebridades, comércio e serviços, comunicações, indústria, finanças, política e profissionais liberais.

Recebido: 14 de Julho de 2021; Revisado: 09 de Fevereiro de 2022; Aceito: 21 de Fevereiro de 2022

Maria da Graça J. Setton é professora titular em sociologia da educação, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Atua na área de sociologia, sociologia da educação e sociologia da cultura, com ênfase em temas relativos aos processos educativos e socializadores numa perspectiva institucional (escola, mídia, religião, família, organizações voluntárias, ongs), grupal e individual.

Cláudia Vianna é professora associada sênior no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). É bolsista produtividade em pesquisa pelo CNPq, com ênfase em relações de gênero, política educacional e diversidade sexual.

Paulo Rogério da C. Neves é doutor em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). É membro dos grupos de estudos Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (EdGES) e do Grupo de Pesquisa Práticas de Socialização(GPS), ambos da FEUSP. É assessor e consultor.

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