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Revista de Educação PUC-Campinas

versão impressa ISSN 1519-3993versão On-line ISSN 2318-0870

Educ. Puc. vol.24 no.3 Campinas set./dez 2019

https://doi.org/10.24220/2318-0870v24n3a4475 

Artigos

O livro didático de educação física: uma leitura da produção acadêmica

The physical education textbook: A reading of the academic production

Fernando Garcez de Melo1 
http://orcid.org/0000-0001-9634-0568

Evando Carlos Moreira2 
http://orcid.org/0000-0002-5407-7930

1Universidade do Estado de Mato Grosso, Faculdade de Ciências da Saúde, Curso de Educação Física. Cáceres, MT, Brasil.

2Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Educação Física, Curso de Educação Física. Av. Fernando Correa da Costa, 2369, Boa Esperança, 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil.


Resumo

O objetivo do trabalho é reunir e interpretar a produçãoacadêmica (teses e dissertações) acerca do livro didáticode educação física. Focalizou-se o período entre 1987e 2018, utilizando as informações do Catálogo de Tesese Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior. A justificativa residena recente inclusão da educação física no ProgramaNacional de Livro e Material Didático e a necessidade deencontrarmos subsídios para o acompanhamento desseprocesso de implementação e os desdobramentos noâmbito da prática docente da educação física. Tendocomo referência o pragmatismo de Richard Rorty pararecontextualizar a produção e apresentar um novotexto, destacam-se a esperança e os receios presentes nas produções acadêmicas, com realce para um conjunto de trabalhos “exploradores do potencialdo livro didático” que possui esperança nas maneiras experimentais e humildes. Essa conjuntura detrabalho se diferencia de outro grupo (os “analistas de conteúdos”), crentes nas maneiras teóricasamplas de encontrar justiça e a verdade. Por fim, sugere-se outro ponto de vista aos professores deeducação física, para que possam receber os livros didáticos da área com afeição a uma esperançahumilde e experimentalista identificada, em especial, no grupo que será denominado “exploradoresdo potencial do livro didático”.

Palavras-chave Educação corporal; Educação física; Livro didático

Abstract

The objective of this study is to gather and interpret the academics production (thesis and dissertations)regarding the physical education textbook. The period investigated is between 1987 and 2018, using theinformation from the Thesis and Dissertations Catalog of the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior. The justification lies in the recent inclusion of physical education in the National Book andTeaching Material Program and in the necessity of finding subsidies for the follow-up of this implementationprocess and its developments within the scope of physical education teaching practice. Taking RichardRorty’s pragmatism as a reference for recontextualizing production and presenting a new text, the hopesand fears present in academic productions are highlighted, emphasizing a set of studies which exploredthe textbook potential that has hope in the experimental and humble ways. Unlike any other groups (thecontent analysts), who believe in the broad theoretical ways of finding justice and truth. Finally, anotherpoint of view for physical education teachers is suggested, so that they can accept the textbooks of the fieldwith an affective approach to a humble and experimentalist hope especially identified in the group thatwill be called the explorers of the textbook potential.

Keywords Body education.; Physical education; Textbook

Introdução

O reconhecimento do corpo e a valorização das práticas corporais no processo educacional e na formação do “eu” do indivíduo é um movimento crescente, ainda que com oscilações no século XX (Ghiraldelli Júnior, 2007). A preocupação com o cultivo dos corpos e o processo de escolarização das práticas corporais, no final do século XIX, são, dentre outras, ações iniciais para a institucionalização de um espaço-tempo na escola dedicado à realização da educação corporal 3 (Paiva, 2003). Além disso, essas ações assinalam a preocupação de ora formar, ora domesticar o corpo.

A escola é um espaço social fundamental para a formação e civilização de crianças e jovens, e nela ocorre o processo de escolarização das práticas corporais. Nas palavras de Bracht e González (2014, p.241): “A instituição educacional foi, por assim dizer, um locus eleito (embora não o único) para uma sistemática educação corporal da população”. Dentro desse espaço, a educação física emerge como instrumento privilegiado para a realização dessa tarefa, pois passa a selecionar, da cultura geral, aqueles elementos pertinentes de serem tratados em seu âmbito. Como aponta Paiva (2003), não são todos os elementos da cultura que vão para a escola, mas sim alguns específicos, como os exercícios físicos e a ginástica. Os critérios dessa seleção são retirados da perspectiva vigente ou predominante em cada período histórico, ou até mesmo de uma mescla das perspectivas existentes. Além disso, em meio a esse processo, ocorre também a invisibilização ou o silenciamento de outros critérios e práticas.

Nesse sentido, a educação física se apresenta como instrumento para a criação e difusão de educações corporais. Ela é instrumento, na medida em que funciona como mediadora entre os conhecimentos e valores presentes na sociedade e os indivíduos (crianças, jovens, adultos) a serem educados. As educações corporais não acontecem apenas na escola ou no espaço-tempo da disciplina escolar educação física, todavia, quanto a esta última, possui uma atenção e um cuidado privilegiado. A criação da educação física é um modo de dizer que a socialização de um indivíduo, no âmbito das questões corporais, não convém ocorrer à revelia, tendo o Estado uma responsabilidade central.

Ao longo de sua história, a educação física, então, se apropriou e criou diversas maneiras de promover as educações corporais: adotou princípios higienistas, militaristas, esportivistas, críticos e outros; fez, ainda, de algumas práticas corporais, como a ginástica e, depois, o esporte, seus maiores representantes, inclusive, confundindo-se, por vezes, com essas práticas; desenvolveu conceitos para dar uma “identidade” para a área, como os de cultura corporal (Soares, 1992), motricidade humana (Sérgio, 1986), cultura de movimento (Kunz, 1994), dentre outros; e inventou outros conceitos e noções mais específicos para balizar suas pesquisas e intervenções pedagógicas, como atividade física, prática corporal, corporeidade, corporalidade, consciência corporal, movimento, se-movimentar, por exemplo. Todo esse cabedal de conhecimentos e práticas, eventualmente, une-se a ferramentas ou tecnologias para auxiliar em sua difusão. Embora, em pleno século XXI, as chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) venham chamando a atenção e despertando curiosidades por serem “modernas” ou “avançadas”, uma das novidades na educação física não é original, pois retoma uma antiga parceria: o livro didático.

É difícil dimensionar a amplitude e intensidade da presença do livro didático de Educação Física nas escolas. Sua história é contada de modo esparso no seio da Educação Física, sendo possível apenas serem retirados indícios de pesquisas como de Puchta e Taborda de Oliveira (2015). De todo modo, destaca-se que, desde 1985, com a implementação do agora Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), apenas em 2017 o Programa estabeleceu o atendimento e fomento da produção de livros didáticos de educação física, com previsão de chegada desse material nas escolas em 2019.

O PNLD, por ser uma política pública do governo federal, é abrangente, demandando recursos financeiros expressivos e tendo impacto significativo nos componentes curriculares (Gatti Júnior, 2004; Cassiano, 2007). Isso justifica a necessidade de serem encontrados subsídios para o acompanhamento desse processo de implementação e os desdobramentos no âmbito da prática docente da educação física. Tendo em vista que a implementação terá início, efetivamente, em 2019, com a distribuição das obras às escolas, objetiva-se, como ponto de partida, reunir e interpretar a produção acadêmica (teses e dissertações) acerca do livro didático de educação física.

Percurso investigativo

Fazer “uma leitura” da produção acadêmica significa expor apenas uma interpretação, dentre outras possíveis, dessa produção. Pretende-se enfatizar, com base no pragmatismo de Richard Rorty, que não há a priori a possibilidade de assinalar qual o caminho “correto”’ ou mesmo o “melhor” para que seja feita uma leitura da produção acadêmica que evidencie seja o significado intrínseco, seja algo que corresponda à realidade (Rorty, 1997, 2005). A sugestão de que, numa investigação, há disponibilidade de realizar recontextualizações indica a possibilidade de se realizarem infindáveis interpretações, nesse caso, a partir de um mesmo conjunto de textos. Essa abertura de possibilidades deve-se, em parte, ao abandono da ideia pré-kuhniana de que “a investigação racional era uma questão de colocar todas as coisas num contexto único, familiar, amplamente acessível” (Rorty, 1997, p.134). Dessa forma, abre-se espaço para o paradigma da imaginação e, por conseguinte, para a coligação dos textos não com o objetivo de encontrar todos os elementos dentro do espaço lógico já instituído, mas de exploração de outro contexto com propósitos particulares.

Quando se revisita um conjunto de textos, é possível encontrar elementos e discussões recorrentes, mas não é incomum que as revisões de literatura se limitem a um resumo ou seleção desses tópicos. É reconhecida a importância desse procedimento, contudo entende-se que há a possibilidade de avanço. Quando não se enrijece a investigação com os conceitos a priori definidos, abre-se a possibilidade para outros indícios ou provocações diversas. E, obviamente, o propósito não é elencar todas elas, mas destacar que não há nenhuma justificativa para que sejam desconsideradas a priori, ou mesmo serem vistas como menos importantes.

É profícuo assinalar a produção acadêmica que foi consultada tendo como referência a pesquisa bibliográfica (Gil, 1999), isto é, que tem nas produções acadêmicas (teses, dissertações, artigos científicos) sua fonte primária de informação. A justificativa por “teses e dissertações” decorre do respaldo acadêmico-científico inerente a esse tipo de pesquisa, pois ampliam significativamente a perspectiva sobre o tema, já que foram realizadas em diversos contextos. Ademais, configuram um importante indicador na produção da pós-graduação das universidades, estando reunidas e bem delimitadas para consulta pública sob a chancela do Ministério da Educação (MEC), o que não ocorre com outras publicações que estão esparsas. Já os artigos científicos sobre o assunto foram tratados numa outra perspectiva, de acordo com Melo e Moreira (2018).

Desse modo, nossa primeira etapa foi realizar o levantamento bibliográfico: identificar e selecionar o conjunto de produções sobre o tema – livro didático de educação física. Para identificar teses e dissertações, recorreu-se ao Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Utilizaram-se, na busca, os termos “educação física” e “livro didático”, nas áreas de conhecimento “educação física”, “educação” e “saúde e biológicas”. O período corresponde a todos os anos disponíveis nesse Catálogo, ou seja, de 1987 até 2018, exceto quando foi incluída a área de conhecimento “saúde e biológicas”, que passa a aparecer nas buscas apenas a partir de 2013. O número de resultados na busca com base nesses termos é bastante expressivo, ultrapassando 22 mil resultados, por isso foi realizada a leitura dos títulos para identificar os trabalhos relevantes para a pesquisa. Destaca-se também que, eventualmente, o termo indicado não era propriamente “livro didático”, visto que, pelo contexto, ele se encaixava na investigação deste estudo, tendo sido incluído na seleção (Quadro 1).

Quadro 1 Lista de dissertações e teses com os temas “educação física” e “livro didático”. 

Ano Autor/ Título/ Instituição
2018 Alison Nascimento Farias. Livro didático e as TIC: limites e possibilidades para as aulas de educação física no município de Caucaia/CE. 2018. 144f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2018.
Juliana Martins Cassani. Da imprensa periódica de ensino e de técnicas aos livros didáticos da Educação Física: trajetórias de prescrições pedagógicas (1932-1960). 2018. 416f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2018.
2017 Irlla Karla dos Santos Diniz. A dança no Ensino Médio: material didático apoiado pelas TIC. 2017. 360f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2017.
Alexander Klein Tahara. Práticas corporais de aventura: construção coletiva de um material didático digital. 2017. 192f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2017.
2016 Camila Ursulla Batista Carlos. Discussão sobre o livro didático na Educação Física a partir da proposta do estado do Paraná e da cidade de João Pessoa. 2016. 161f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2016.
2015 André Luís Ruggiero Barroso. A utilização de material didático impresso para o ensino de um modelo de classificação do esporte na Educação Física escolar. 2015. 312f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2015.
Diogo Rodrigues Puchta. A escolarização dos exercícios físicos e os manuais de ginástica no processo de constituição da Educação Física como disciplina escolar (1882-1926). 2015. 285f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2015.
2014 Erica Bolzan. Das prescrições às práticas de pesquisa/formação compartilhadas: o lugar do livro didático na Educação Física. 2014. 110f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2014.
Eduardo Viganor Silva. Educação olímpica no ensino médio: validação qualitativa de um material didático de Educação em valores por meio do esporte. 2014. 252f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2014.
Carine Ferreira Costa. O livro didático público de Educação Física para o Ensino Médio do estado do Paraná: uma proposta marxista? 2014. 132f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2014.
Pollyane de Barros Albuquerque Vieira. O texto escrito como recurso didático nas aulas de Educação Física: a perspectiva dos professores. 2014. 113f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, SP, 2014.
2013 Eduardo Borba Gilioli. Livro didático público de Educação Física do Estado do Paraná: potencial formativo. 2013. 207f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, 2013.
2012 Paula Pereira Rotelli. A construção e utilização de mWateriais curriculares como estratégia de formação de professores de Educação Física. 2012. 220f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2012.
Fernanda Moreto Impolcetto. Livro didático como tecnologia educacional: uma proposta de construção coletiva para a organização curricular do conteúdo voleibol. 2012. 320f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2012.
Luiz Gustavo Bonatto Rufino. Campos de luta: o processo de construção coletiva de um livro didático na educação física no Ensino Médio. 364f. 2012. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2012.
2011 Tania Mara Pacífico. Relações raciais no livro didático público do Paraná. 2011. 153f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2011.
Rubens dos Santos Branquinho. Currículos apostilados: o professor de educação física da escola pública do estado de São Paulo frente ao novo paradigma educacional. 2011. 179f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, 2011.
2009 Heitor de Andrade Rodrigues. Basquetebol da escola: construção, avaliação e aplicabilidade de um livro didático. 2009. 173f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2009.
Davi Marangon. Mobilização para o saber, discurso pedagógico e construção de identidades: uma análise do livro didático público de educação física do estado do Paraná. 2009. 275f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2009.
2006 Luís Fernando Rocha Rosário. A educação física na escola e suas interfaces com os conteúdos de história e ciências nos livros didáticos. 2006. 184f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2006.
Larissa Rafaela Galatti. Pedagogia do esporte: o livro didático como um mediador no processo de ensino e aprendizagem dos jogos esportivos coletivos. 2006. 165f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2006.
1999 Sérgio Carnevalle do Carmo. O livro como recurso didático no ensino de futebol. 1999. 121f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 1999.
1993 Marcos Santos Ferreira. Atletismo e promoção da saúde nos livros-texto brasileiros. 1993. 196f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, 1993.

Fonte: Elaborado pelos autores (2019) com base no Catálogo de Teses e Dissertações/Capes.

Ao todo, foram identificados 23 trabalhos, sendo 16 dissertações e 7 teses. A maior parte deles (17) foi publicada a partir de 2010, o que corrobora o estudo de Souza Júnior et al. (2015), que assinalam um “despertar” da área pela temática no ano de 2010. O tema apareceu em dissertação de mestrado, pela primeira vez, em 1993, e em tese de doutorado, em 2009.

Para realizar a leitura/interpretação dessas produções acadêmicas, utilizou-se da sugestão de Moraes (2003) e realizou-se uma análise textual discursiva. Diferenciando-se da análise de conteúdo e da análise de discurso, a proposta de Moraes (2003) tem como princípio geral um processo auto-organizador de onde resulta a emergência de um novo conhecimento. Esse processo envolve um ciclo com três fases: (1) desmontagem dos textos: também denominado de processo de unitarização, implica examinar os materiais em seus detalhes, fragmentando-os com o objetivo de atingir unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados; (2) estabelecimento de relações: processo denominado de categorização, implica construir relações entre as unidades de base, combinando-as e classificando-as para que se possa compreender como esses elementos unitários podem ser reunidos na formação de conjuntos mais complexos, as chamadas categorias; e (3) captação do novo emergente: nessa etapa, a intensa impregnação nos materiais da análise desencadeada pelos dois estágios anteriores possibilita a emergência de uma compreensão renovada do todo.

A culminância de todo o processo gera um metatexto ou, como se prefere utilizar, um novo texto, visto que ele não goza de um status superior aos utilizados como fontes, mas apenas expressa a interpretação e a argumentação que foi realizada. Destaca-se que as três fases não são expostas separadamente, embora façam parte da construção. Apenas o novo texto será exposto à parte, como será feito a seguir.

O livro didático de educação física: esperança e receio

Diferente das perspectivas que perguntam “qual sua concepção de [...]?”, foi adotada a sugestão pragmática de Rorty (2005, p.60) de “substituir conhecimento por esperança”. A partir da substituição da crença da existência de uma concepção ou conhecimento que prediz o futuro por uma esperança vaga, acredita-se que seja possível fazer um futuro melhor. Sem pressupor uma concepção ou “corpus” de conhecimento que permitirá aos docentes da Educação Básica receber os livros didáticos de educação física do PNLD e utilizá-los de modo “superador” ou “emancipatório”, buscou-se a esperança e receio presentes nas produções acadêmicas de modo a fornecer elementos que favoreçam a utilização desse material pedagógico.

Tendo isso em vista, analisou-se o trabalho de Ferreira (1993), que inaugura a discussão, e foi possível notar a realização de uma das tarefas amplamente realizadas por pesquisadores de livros didáticos, de modo geral: a análise ou avaliação de conteúdo, o que, para Choppin (2004), é uma corrente de investigação de grande exponencial. O autor aborda os livros didáticos como “agentes culturais por excelência para instruir” (Ferreira, 1993, p.3), o que justifica a necessidade de avaliar as informações, imagens, saberes e práticas difundidas por meio deles. O autor pretende verificar, especialmente, se os livros didáticos de atletismo veiculam uma concepção pautada na saúde. Ele identifica, entretanto, que isso não ocorre, pois há a prevalência de uma visão “esportivisada”, centrada na técnica. Além disso, o referido pesquisador encontra inúmeros erros gramaticais, como enfatizou.

O conteúdo apresentado por Ferreira, em 1993, é retomado, sob outras ênfases, por Pacífico (2011), ao estudar as relações raciais; por Gilioli (2013), inquirindo o potencial formativo; e por Costa (2014), questionando a existência de uma proposta marxista. Todos esses trabalhos têm uma lógica de argumentação em comum, isto é, todos possuem um determinado referencial teórico (tomado como pressuposto do que é real, necessário ou hierarquicamente superior) que é utilizado para confrontar o mundo empírico e fugaz: os livros didáticos. Os resultados, invariavelmente, repetem-se: a razão preconizada no referencial teórico não se manifesta nos livros. Pacífico (2011) mostra como os brancos são apresentados como símbolos da humanidade, enquanto que os negros são representados de modos estigmatizados; Gilioli (2013) identifica uma contradição no potencial formativo do livro, pois nota o predomínio de uma formação para a manutenção da sociedade, e não sua transformação, embora haja resquícios de criticidade e criatividade; e Costa (2014) entende que o livro investigado ainda está distante das obras clássicas marxianas, dificultando o trabalho pedagógico.

Em todos os estudos assinalados anteriormente, a justificativa, em linhas gerais, é a mesma: a necessidade de vigiar o conhecimento difundido pelos livros. De fato, nenhum desses estudos adota o termo “vigiar”. Costa (2014, p.17), por exemplo, propõe-se a “analisar como o materialismo histórico e dialético é apresentado no conteúdo do LDP [livro didático público] de Educação Física fundamentado na sua forma de organização do trabalho didático”. Em outras palavras, quer saber se o materialismo é apresentado como ela pressupõe que deva ser, ou seja, um materialismo calcado nas obras clássicas marxianas. Essa hipótese é confirmada pela autora: “[...] constatou-se a veracidade da hipótese levantada para a pesquisa de que na organização do trabalho didático da Educação Física Escolar atualmente há um distanciamento das obras clássicas marxianas [...]” (Costa, 2014, p.3). Ela ainda vai além, afirmando que isso é um “[...] fato que dificulta o desenvolvimento do trabalho didático dos professores [...]” (Costa, 2014, p.3). Como foi possível notar, tais resultados são usuais nesses estudos de “vigilância” conteudista, metodológica, epistemológica etc. No processo de desmontagem de textos e unitarização, esse primeiro conjunto de textos foi denominado “grupo de análise de conteúdo” (Quadro 2).

Quadro 2 Primeiro conjunto de textos: análise de conteúdo. 

Ano Autor/Título/Instituição
2014 Carine Ferreira Costa. O livro didático público de educação física para o ensino médio do estado do Paraná: uma proposta marxista? 2014. 132f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2014.
2013 Eduardo Borba Gilioli. Livro didático público de educação física do Estado do Paraná: potencial formativo. 2013. 207f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, 2013.
2011 Tania Mara Pacífico. Relações raciais no livro didático público do Paraná. 2011. 153f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2011.
Rubens dos Santos Branquinho. Currículos apostilados: o professor de educação física da escola pública do estado de São Paulo frente ao novo paradigma educacional. 2011. 179f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, 2011.
1993 Marcos Santos Ferreira. Atletismo e promoção da saúde nos livros-texto brasileiros. 1993. 196f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1993.

Fonte: Elaborado pelos autores (2019) com base no Catálogo de Teses e Dissertações/Capes.

A esperança, segundo a concepção de Rorty, refere-se ao fato de que as pesquisas não são a busca pela verdade, mas sim a justificação das crenças dos pesquisadores, que desejam por progresso. Isso leva a pesquisa a um contexto político, visto que não há uma “objetividade” na realidade que a torne neutra, sem a interferência do ser humano (Rorty, 1997). Dessa forma, resta aos pesquisadores, implicitamente em suas hipóteses, a esperança ou receio de que o trabalho possa apresentar alguma contribuição, individual ou coletiva, ainda que seja por meio de uma descrição pormenorizada.

Quanto ao primeiro grupo, é possível constatar a predominância do receio em relação à esperança. Nos quatro estudos, o “encontrado” é diferente do pretendido e desejado. Todas as hipóteses são negativas (algo não acontece ou não se desenvolve tão bem), e o estudo confirma essa situação. A única esperança presente é a de que, um dia, essa realidade passe a corresponder com o referencial teórico, considerado melhor ou potencializador de contextos melhores. Desse modo, o livro didático de educação física é uma ferramenta sobre a qual existem muitos receios, visto que os “dados” mostram sua improdutividade ou limites. A esperança não está no livro, mas em um determinado referencial, que, acaso seja disposto nele, poderá resplandecê-lo.

Em outra direção, há um conjunto de pesquisadores e pesquisadoras – Carmo (1999), Galatti (2006), Rodrigues (2009), Impolcetto (2012), Rotelli (2012), Rufino (2012), Silva (2014), Barroso (2015), Diniz (2017), Tahara (2017) e Farias (2018) –, que serão denominados “grupo de exploradores do potencial do livro didático”. As justificativas presentes nesses trabalhos, em linhas gerais, apresentam-se pela necessidade, ou disposição dos pesquisadores, em criar novas e melhores maneiras de aperfeiçoar e difundir as educações corporais.

Carmo (1999) elabora um livro didático após constatar em escolas e clubes que os materiais didáticos mais utilizados eram bolas e cones em detrimento de textos e imagens. Após explorar o livro didático desenvolvido para o ensino de futebol, relata as virtudes e deficiências. Os trabalhos seguintes dão continuidade, ainda que sem mencionar o trabalho de Carmo (1999), à exploração do livro didático, alterando o conteúdo, metodologia de ensino e outras peculiaridades.

O trabalho de Galatti (2006) destina-se ao ensino de jogos esportivos coletivos para o ensino fundamental, ao passo que o de Barroso (2015) aborda o ensino de um modelo de classificação do esporte na educação física escolar. Diferentemente, o trabalho de Diniz (2017) elabora um material direcionado para o ensino da dança apoiado pelas TIC; já Rodrigues (2009) elabora o livro acerca do tema basquetebol tanto para o docente quanto para o estudante. Rufino (2012), enfim, explora o tema “lutas”, por meio da construção coletiva de um livro didático.

Quanto aos autores restantes, Impolcetto (2012) e Tahara (2017) também efetivam a construção coletiva de um livro didático – nesses casos, eles estão voltados, respectivamente, para o voleibol e as práticas corporais de aventura. Já Rotelli (2012) abarca um escopo mais amplo, explorando o que chama de materiais curriculares e uma pluralidade de assuntos da educação física. Silva (2014), tendo como referência a educação olímpica, elabora um material para o ensino de valores por meio do esporte no âmbito do ensino médio, enquanto o trabalho de Farias (2018), por fim, explora outra possibilidade, que é a articulação entre o livro didático de uma rede de ensino com as TIC. O resultado é a elaboração de estratégias de uso da TIC a partir das sugestões do livro didático (Quadro 3).

Quadro 3 Segundo conjunto de textos – Exploradores do potencial do livro didático. 

Ano Autor/Título/Instituição
2018 Alison Nascimento Farias. Livro didático e as TIC: limites e possibilidades para as aulas de educação física no município de Caucaia/CE. 2018. 144f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Uni-versidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2018.
2017 Irlla Karla dos Santos Diniz. A dança no Ensino Médio: material didático apoiado pelas TIC. 2017. 360f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2017.
Alexander Klein Tahara. Práticas corporais de aventura: construção coletiva de um material didático digital. 2017. 192f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2017.
2015 André Luís Ruggiero Barroso. A utilização de material didático impresso para o ensino de um modelo de classificação do esporte na educação física escolar. 2015. 312f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnolo-gias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2015.
2014 Eduardo Viganor Silva. Educação olímpica no Ensino Médio: validação qualitativa de um material didático de educação em valores por meio do esporte. 2014. 252f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2014.
2012 Paula Pereira Rotelli. A construção e utilização de materiais curriculares como estratégia de formação de professores de educação física. 2012. 220f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2012.
Fernanda Moreto Impolcetto. Livro didático como tecnologia educacional: uma proposta de construção coletiva para a organização curricular do conteúdo voleibol. 2012. 320f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Humano e Tecnologias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2012
Luiz Gustavo Bonatto Rufino. Campos de luta: o processo de construção coletiva de um livro didático na educa-ção física no Ensino Médio. 2012. 364f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Humano e Tecnolo-gias) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2012.
2009 Heitor de Andrade Rodrigues. Basquetebol da escola: construção, avaliação e aplicabilidade de um livro didático. 2009. 173f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2009.
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Fonte: Elaborado pelos autores (2019) com base no Catálogo de Teses e Dissertações/Capes

A exploração dos livros didáticos, nas pesquisas mencionadas anteriormente, tem um caráter experimental, cuidadoso e pontual. Não se depreendem princípios universais de como elaborar um livro didático ou a forma adequada de expor um conteúdo. No máximo, foi possível identificar sugestões de como fazê-lo. O valor desse material está imbricado com a participação dos docentes em sua produção ou avaliação. A partir disso, decorrem os contributos dos livros na organização curricular e na sua apresentação como fonte de consulta (Impolceto, 2012; Farias, 2018), para o estímulo à reflexão e ressignificação das práticas (Rodrigues, 2009) e extensão do momento de aprendizagem para além da aula (Rotteli, 2012). O maior problema do livro didático 4 é atender à demanda de todos os docentes. Sem uma sintonia entre docente e livro, este último tende a ser descartado 5 ou ressignificado 6 . Além disso, em menor grau ocorre o “consumo” acrítico.

A exploração do livro didático ocorre, também, porque eles identificam lacunas ou deficiências no processo de desenvolvimento da educação corporal. É possível destacar uma dessas lacunas, a chamada dimensão teórica ou conceitual do saber.

Por muito tempo, essa dimensão foi desprivilegiada na área e favoreceu a pecha de “mera atividade” para a educação física. Autores como Betti (2005) e Darido e Rangel (2005) demonstraram a necessidade de serem abarcadas outras “dimensões” do conhecimento para que a educação física fosse devidamente reconhecida como componente curricular e, também, para que a educação corporal se tornasse crítica ou mais significativa. Embora o livro didático não seja o único material a propiciar isso, ele se mostra bastante útil, pois é o suporte para textos, imagens, ilustrações, gráficos, entre outros elementos. O livro funciona como um difusor da dimensão “teórica” ou “conceitual” do saber, tais como a história do esporte e seus valores. Todavia, vale a ressalva de Dewey mencionada por Rorty (2005, p.87), de que “resolvemos velhos problemas à custa da criação de novos problemas”. Com isso, pretende-se assinalar a problemática, por vezes mal resolvida na área, das “dimensões” do conhecimento ou a complicada relação entre teoria e prática. Além disso, o próprio livro tende a requerer novas atitudes e ações dos docentes, implicando em novos problemas. Tais aspectos podem desencadear receios em relação aos livros, o que demandará um cuidado da área para resolvê-los.

Outra questão recorrente nos trabalhos é a identificação da falta de livros ou textos para subsidiar a prática docente, sendo eles didáticos ou não. Os elementos culturais – valores, história, moral, estética, compreensão da tática e dinâmica do jogo, entre outros –, são pouco explorados pelos docentes de educação física. Nesse sentido, as novas perspectivas de formação de professores, ao demandarem novas atitudes e ações dos docentes, acabam, indiretamente, por realçar o papel do livro didático como ferramenta auxiliar, visto que, na ausência ou ineficácia da oferta de uma formação permanente, são os livros que realizam a difusão de um novo ideário e ações.

A partir das considerações feitas, entende-se que, para o grupo de “exploradores”, a esperança antecede o receio, pois eles partem da crença/hipótese de que essa ferramenta pode favorecer o ensino de um conteúdo específico ou colaborar na formação de professores de educação física. A crença é genérica, tomada, em certa medida, como um pressuposto, o que permite considerar a possibilidade de o livro didático “poder ser” (e não “necessariamente” ser) bem explorado.

Essa postura abre margem para os críticos de livros didáticos, como Silva (1996) e Alves (2006), de acusarem-nos de ingênuos ou, principalmente, de desconsiderarem a estrutura da sociedade e do livro didático, o que o torna, invariavelmente, uma ferramenta a ser superada e descartada. Todavia, nos estudos mencionados, essa “possibilidade” a priori funcionou como propulsora da elaboração de propostas, e não como algo para apenas ser verificado (como faz o Grupo de Análise de Conteúdo). Em todas essas pesquisas, há uma exploração do livro didático a fim de identificar suas potencialidades e restrições, sendo que, em alguns casos, como o de Rufino (2012), Impolcetto (2012), Rotteli (2012) e Silva (2014), houve a produção coletiva de livros didáticos (com participação de professores da escola). A perspectiva aqui, diferentemente do “Grupo de Análise de Conteúdo”, é colaborar para que haja alteração na prática docente.

Essa atitude colaborativa do grupo de “exploradores” permite que a ideia dicotômica do produtor x reprodutor seja abandonada. Por dicotomia produtor x reprodutor, entende-se a imagem acerca da educação, presente em perspectivas como as crítico-reprodutivistas, que subjazem, também, a dicotomia trabalho intelectual x trabalho manual, na qual um conjunto de especialistas dita e prescreve as ações a serem aplicadas ou reproduzidas nas escolas. Esse pensamento é infrutífero por desconsiderar a relativa autonomia das escolas e docentes e seus modos de apropriação e criatividade (Viñao Frago, 2002).

Em primeiro lugar, quando o referido grupo adota metodologias como da pesquisa-ação e são partícipes do processo – ao invés de teóricos, analistas, “produtores” ou “vanguarda” –, é estabelecida uma continuidade entre pesquisador e professor. Não há uma hierarquia; há um trabalho solidário em prol de um objetivo comum: promover e difundir a educação corporal (ou conteúdos específicos da educação física). Em segundo lugar, o conhecimento dali resultante é expressão do máximo de consenso intersubjetivo alcançado, deixando de lado a busca pela “objetividade” ou conhecimento universal, que perpassa a discussão quando é incorporada a ideia de produtor-reprodutor. Nesse sentido, o conhecimento se dá num constante processo de aperfeiçoamento, de estabelecimento de sintonia entre livro e docente, de solução de problemas.

Sabe-se que a abordagem dos pesquisadores de tratar os docentes como colaboradores auxilia a relação com a obra didática. Ainda assim, vale destacar o engajamento dos docentes das escolas no processo de elaboração de livros didáticos. Esse processo foi pertinente para eles, tanto pelas dificuldades dos anos iniciais de docência quanto pela ausência de material, que os deixa, não raro, numa situação incômoda, pois o trabalho docente não acontece a contento. Todavia, isso não significa a aceitação imediata de tudo o que lhes é apresentado, situação tratada de modo emblemático no trabalho de Rufino (2012, p.329), quando ele afirma: “os professores puderam avaliar o que realmente fez ou não sentido para eles, ocasionando processos de confrontação e ressignificação de saberes”.

Essa diferenciação entre os grupos indica um paradoxo, pois, autores como Gilioli (2013) tomam seus referencias como contribuidores a priori. Ou seja, caso suas perspectivas sejam adotadas, o livro e a prática docente irão melhorar. A problemática reside no fato de que, se a contribuição vem a priori, “de fora”, entende-se que pouco pode se falar de algo crítico, como reivindicado pelos autores do “Grupo de Análise de Conteúdo”. Por outro lado, o grupo acusado de ingênuo, afeitos a potencialidades do livro, testam na escola essa possibilidade. Embora tenham uma crença inicial, ela é submetida à avaliação de professores das escolas, que manifestam suas perspectivas e percepções. Em outros casos, também participam na íntegra do processo de elaboração, como é exemplificado no estudo de Impolcetto (2012).

Nesse sentido, entende-se que o tipo de esperança do grupo de “exploradores” é mais valoroso do que a do grupo de “analistas”. É algo que Rorty ensina, mostrando como se deve, inicialmente, trabalhar mais na tolerância do que em conhecimentos não meramente humanos. O grupo de “exploradores” demonstra mais a “habilidade de não ficar demasiado desconcertado diante do que é diferente de si” (Rorty, 2005, p.78). Inclusive, por não buscarem o diferente de si, eles se reconhecem, de certo modo, na atividade docente.

Diferentemente, os analistas procuram o que ocorre lá “no mundo”, “na escola”. Procuram o que é diferente de si e ficam desconcertados com o que encontram, sempre tentando expor o que os professores e as escolas deveriam fazer para “tornarem-se melhores”. Vale ressaltar que a grande questão não é propor ou oferecer algo melhor, mas acreditar que esse “melhor” depende “da obtenção de uma relação mais próxima a algo maior e mais poderoso do que nós mesmos” (Rorty, 2005, p.59), algo como Deus, a Natureza ou a História.

Quando são observados os trabalhos que enfatizam a dimensão da política pública dos livros didáticos, é possível compor outro conjunto de trabalhos, que serão denominados Grupo de Política Pública. Essa ênfase converge com o alerta feito por Choppin (2004), que focaliza a necessidade de não descuidar do aspecto político desses livros, uma ideia que foi desenvolvida nos trabalhos de Branquinho (2011), Bolzan (2014) e Carlos (2016). Sua importância reside no fato de que, ao longo da história, o livro didático foi interpretado como o grande difusor da cultura e da ideologia na escola, o que demanda vigilância e censura por parte do Estado. Por isso, para cumprir a tarefa de vigilância e, caso necessário, censura, as políticas de livros didáticos atuam desde as fases de produção até a avaliação das obras.

Não é possível afirmar que essas políticas de livros didáticos são as grandes fomentadoras de livros didáticos de educação física, já que existe um amplo conjunto de obras no mercado que podem ser assim classificadas, mas são notáveis indícios de que essas políticas estimularam mais pesquisas sobre o tema. Essa consideração é retirada do trabalho de Bolzan (2014), que realiza um levantamento sobre livros didáticos e propostas didático-pedagógicas. Em seu trabalho, ele identifica a produção de cadernos e livros direcionados à prática de ensino nos estados do Paraná (em 2006), de São Paulo (em 2009) e do Rio de Janeiro (em 2006). É importante reiterar, neste momento, que, antes de 2009, foram localizadas apenas 3 dissertações sobre a temática (Quadro 4).

Quadro 4 Terceiro conjunto de textos: política pública. 

Ano Autor/Título/Instituição
2016 Camila Ursulla Batista Carlos. Discussão sobre o livro didático na educação física a partir da proposta do estado do Paraná e da cidade de João Pessoa. 2016. 161f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2016.
2014 Erica Bolzan. Das prescrições às práticas de pesquisa/formação compartilhadas: o lugar do livro didático na educação física. 2014. 110f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2014.
2011 Rubens dos Santos Branquinho. Currículos apostilados: o professor de educação física da escola pública do estado de São Paulo frente ao novo paradigma educacional. 2011. 179f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, 2011.

Fonte: Elaborado pelos autores (2019), com base no Catálogo de Teses e Dissertações/CAPES.

Aparentemente, a educação física é incluída em políticas de livros didáticos sem uma discussão prévia sobre a necessidade, os princípios orientadores ou o papel desses livros. É plausível argumentar que, na formação inicial, a discussão genérica sobre didática e práticas de ensino, por exemplo, já contempla os modos de lidar e interpretar esse material didático. Todavia, é importante indicar a pertinência de um debate mais específico em torno dos livros, visto que a ausência de discussões mais aprofundadas tende a prejudicar a implementação de uma política de livro didático.

Nota-se esse prejuízo por meio do trabalho de Branquinho (2011), no qual é analisada a proposta “São Paulo Faz Escola”, que distribui apostilas, também, para os professores de educação física. O principal agravante, segundo o autor, é a imagem difundida de que o professor é o “executor de atividades prescritas por especialistas”. Para corroborar essa afirmação, embasa-se em autores como Giroux (1983) e Gadotti (1987), que persistem na dicotomia produtor x reprodutor. Observa-se que é difícil não se fixar a essa imagem, mas estudos investigativos das culturas escolares, como de Julia (2001) e Viñao Frago (2002), já demonstraram como ocorre a produção de conhecimento no âmbito escolar. Melhor dizendo: se há uma ideia, que não deve ser desconsiderada, de que existem políticas ou mesmo grupos que tentam impor seus pensamentos no cotidiano escolar, esse direcionamento está distante de se materializar. Entende-se que uma forma de evitar tais problemáticas é abandonar a insistência na dicotomia produtor x reprodutor, focalizando, ao invés disso, o estudo das diversas formas de interpretar e usar esses materiais didáticos.

O estudo da política pública permite a amplitude do olhar para as questões relacionadas ao livro didático, como mostra o estudo de Bolzan (2014), após a investigação de sete propostas didático-pedagógicas de livros didáticos: os livros e cadernos didáticos do Paraná (de 2006), de São Paulo (de 2009) e do Rio de Janeiro (de 2006), tidos como caixas de utensílios; e as propostas pedagógicas e diretrizes de Minas Gerais (de 2005), de Goiás (de 2007), do Espírito Santo (de 2009) e de Pernambuco (de 2010), entendidos como coleções pedagógicas. O título de seu trabalho é bastante sugestivo ao indicar o movimento “Das prescrições às práticas de pesquisa/formação compartilhadas”, ou seja, é um título que mostra como as intervenções vêm acontecendo mais a partir de ações colaborativas entre política pública/universidade e escola/professores.

O trabalho de Carlos (2016) faz a avaliação dos livros didáticos públicos do Paraná e do município de João Pessoa (PB). Além de identificar pontos positivos, suas considerações são mais esperançosas, interpretando esses livros como exemplos inspiradores para a elaboração de outras propostas. Admite, inclusive, que esses mesmos livros poderiam ser utilizados em outras redes, o que lhe exige outro olhar acerca da dicotomia produtor x reprodutor.

Quando os estudos focalizam a dimensão política, é destacável a relação entre professor e livro didático a fim de determinar qual deles é o produtor e qual deles é o reprodutor. Quando essa dicotomia é levada em consideração, a esperança é maior no momento em que o professor participa do processo. Da mesma forma, quanto menos participação houver, maior será o receio. Isso é nítido no trabalho de Branquinho (2011) e, de modo mais ponderado, em Bolzan (2014). Em Carlos (2016), diferentemente, a esperança de que os livros podem colaborar com a prática pedagógica é ainda maior, visto que a produção desse material pode acontecer independente de uma construção coletiva.

As pesquisas de Rosário (2006), de Marangon (2009), de Vieira (2014), de Puchta (2015) e de Cassani (2018) são muito diferentes entre si. Ainda assim, eles constroem uma imagem de que pretendem antes “compreender” e, depois, “avaliar”. O olhar desses autores é mais retrospectivo do que prospectivo, por isso podem ser denominados como Grupo de Pesquisadores Compreensíveis. Destaca-se, ainda, que a esperança desses autores, diferente dos grupos anteriores, está na realização de uma descrição cuidadosa do contexto investigado e na crença, ressonante em Rorty (2005, p.50), de serem “capazes de ajudar alguém a compreender seu próprio tempo em pensamento”, ao invés de tecerem uma nova metanarrativa (Quadro 5).

Quadro 5 Quarto conjunto de textos: compreensíveis. 

Ano Autor/Título/Instituição
2018 Juliana Martins Cassani. Da imprensa periódica de ensino e de técnicas aos livros didáticos da educação física: trajetórias de prescrições pedagógicas (1932-1960). 2018. 416f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.
2015 Diogo Rodrigues Puchta. A escolarização dos exercícios físicos e os manuais de ginástica no processo de constituição da educação física como disciplina escolar (1882-1926). 2015. 285f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2015.
2014 Pollyane de Barros Albuquerque Vieira. O texto escrito como recurso didático nas aulas de educação física: a perspectiva dos professores. 113f. 2014. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, SP, 2014.
2009 Davi Marangon. Mobilização para o saber, discurso pedagógico e construção de identidades: uma análise do livro didático público de educação física do estado do Paraná. 275f. 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2009.
2006 Luís Fernando Rocha Rosário. A educação física na escola e suas interfaces com os conteúdos de história e ciências nos livros didáticos. 184f. 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP, 2006.

Fonte: Elaborado pelos autores (2019), com base no Catálogo de Teses e Dissertações/Capes.

Foi destacado nesses estudos “compreensíveis” como o livro didático, de diferentes maneiras, participa na construção da educação física como disciplina escolar e no desenvolvimento das educações corporais. Puchta (2015) apresenta como os manuais escolares de exercícios físicos e ginástica contribuíram para a própria criação da educação física, no final do século XIX. Na época, pode-se afirmar, havia mais do que uma esperança nessa ferramenta pedagógica; o manual foi decisivo na disseminação de orientação pedagógica aos professores, que careciam de formação específica. Cassani (2018), por sua vez, demonstra o papel dos livros didáticos (ou impressos) no favorecimento da inserção e consolidação da educação física nos currículos escolares, no período entre 1932 e 1960. Já em pleno século XXI, os livros ou os textos escritos, como investiga Vieira (2014), continuam sendo um recurso demandado pelos docentes para que a educação corporal não se restrinja ao “saber fazer”. Esses textos escritos e conteúdos podem e, efetivamente, são encontrados não só em livros didático de educação física, mas em coleções de história e ciências, como mostrou Rosário (2006). Para além dos conteúdos propriamente ditos, Marangon (2009) evidencia que esse material direciona a identidade pedagógica, ou seja, uma postura monológica ou dialógica do professor ou uma combinação de ambas. E essa identidade interfere na mobilização para o saber constitutivo das educações corporais.

Considerações Finais

Os livros didáticos de educação física, mais precisamente, os manuais de exercícios físicos e ginásticas, no final do século XIX, são parte constitutiva da educação física como disciplina escolar. Não são apenas elementos que contribuíram, mas “um dos” que tornaram possível a educação física. Essa união se deu, não apenas pelo fato de o livro ser um suporte de textos, imagens e gravuras, mas pela educação física ser uma combinação da educação intelectual e moral com a educação corporal.

Essa disciplina escolar é permeada por uma ideia mais ampla do que a imagem, posteriormente atribuída a ela, de primar pelo “saber fazer”. Nesse contexto, o livro tornou-se ferramenta indispensável, em especial, quando se leva em consideração a ausência de formação dos professores da época, pois, em boa parte dos casos, foi o livro que forneceu tanto orientações pedagógicas quanto conteúdos e valores a serem ensinados/disseminados.

Essa valoração que o livro possuía, no final do século XIX e início do século XX (até a década de 1960), diminuiu nas últimas décadas do século XX. Um bom exemplo disso é a identificação da educação física como uma mera atividade, o que pode justificar, em partes, a ausência da educação física do programa de livros didáticos do governo federal entre 1985 e 2016. Com o crescente movimento renovador, que, dentre outros pontos, lutou por uma educação física como componente curricular, incorporando em sua perspectiva mais do que o “saber fazer”, mas também o ‘saber sobre’ esse fazer, a necessidade por livros se fez presente. Inclusive, isso ocorreu pela mesma razão do final do século XIX, pois há necessidade de formar ou atualizar os docentes em perspectivas renovadoras.

É possível que esse movimento na educação física possa ter servido como um propulsor para a inclusão da área no PNLD. Concomitantemente, a produção mais detida sobre o livro didático de educação física nos periódicos da área pode ser lida como formadora de uma agenda influenciadora dos formuladores de políticas, argumentação que pode ser reforçada pelas teses e dissertações assinaladas neste artigo. Contudo, o elemento decisivo para essa inclusão demanda uma investigação específica, pois, embora seja plausível considerar a influência da produção teórica, não é descartada a possibilidade de ter havido um avanço das editoras sobre o governo para ampliarem suas receitas.

Na leitura que foi proposta neste texto, esse cenário favoreceu uma série de iniciativas de estados e municípios para o fomento da produção de livros didáticos nos anos iniciais de 2000. Além disso, desde 2010 houve um “despertar” da área pela temática, como também foi identificado no levantamento de dissertações e teses. É destacável nesse despertar aquele conjunto de trabalhos “exploradores do potencial do livro didático” que possui esperança, de maneiras experimentais e humildes, algo que se manifestou de forma diferente em outro grupo (os “analistas de conteúdos”), crente nas maneiras teóricas amplas de encontrar justiça e a verdade.

Essa esperança – experimental e humilde –, também altera a concepção de receio, que passa a abordar erros e maneiras não muito pertinentes de apresentar conteúdos ou de sistematização, ao invés de um grande receio teórico pautado, por exemplo, na dicotomia produtor x reprodutor. Os grupos – de “políticas públicas” e “pesquisadores compreensíveis” – tendem a colaborar para essa esperança, que não é compreendida como algo profético. Uma esperança pragmática não é uma camuflagem para a certeza, é o reconhecimento do necessário trabalho gradual de aperfeiçoamento de vocabulários e ações. Nessa perspectiva, nota-se boa parte da esperança em torno do livro didático de educação física na produção acadêmica da área.

Ao recontextualizar o livro didático entre a esperança e o receio, foi possível oferecer outro ponto de vista aos professores de educação física, para que possam receber os livros didáticos da área com afeição àquela esperança humilde e experimentalista de quem sabe da lide envolvida na educação corporal.

3Ao nosso ver “educação corporal” ou “educação do corpo” guarda uma continuidade com a noção de “educação physica” indicada por Paiva (2003), em que os cuidados com os corpos foram interpretados como uma base para as outras dimensões da educação (intelectual e moral), além de ocorrerem simultaneamente às referidas dimensões. Em especial, em relação a essa simultaneidade, entende-se que a educação corporal se articula à educação integral. A forma como essa educação corporal ocorreu ao longo do século XX se diversificou e se ampliou. Ademais, recebeu diferentes tratamentos teóricos.

4Não existe livro didático “em si” que seja bom ou ruim. Cada objeto deve estar devidamente contextualizado (Rorty, 1997). Um livro com predomínio de esporte e elementos técnicos não é necessariamente ruim, apenas atende a propósitos bastante pontuais e, talvez, não tenha serventia como um “sistematizador de aulas”, mas pode tê-lo como fonte referencial para consulta.

5Em especial, no trabalho de Rodrigues (2009, p.160), é possível notar esse “descarte” do livro: “Os usos que o professor faz do livro didático também nos surpreendeu, primeiro pelo fato do professor ter praticamente ignorado o livro destinado ao professor e por outro lado ter utilizado amplamente o livro destinado ao aluno”.

6Para Silva (2014, p.162): “[...] a forma de emprego do instrumento pedagógico e as transposições, ajustes e relações didáticas que cada professor realiza de acordo com as especificidades do seu contexto de atuação, fazem toda a diferença no sentido de uma utilização positiva do Manual de Educação Olímpica [...]”. Essa forma e ajustes que são chamados de “ressignificar”, e que permitiu, por fim, estabelecer uma sintonia entre docente e livro.

Como citar este artigo/How to cite this article

Melo, F.G.; Moreira, E.C. O livro didático de educação física: uma leitura da produção acadêmica.Revista de Educação PUC-Campinas, v.24, n.3, p.445-462, 2019. http://dx.doi.org/10.24220/2318-0870v24n3a4475

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Recebido: 31 de Janeiro de 2019; Revisado: 18 de Abril de 2019; Aceito: 03 de Maio de 2019

Colaboradores

Todos os autores contribuíram em todas as etapas da elaboração do artigo.

Correspondênciapara/Correspondence to: E.C. MOREIRA. E-mail: ecmmoreira@uol.com.br.

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