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Revista de Educação PUC-Campinas

versión impresa ISSN 1519-3993versión On-line ISSN 2318-0870

Educ. Puc. vol.27  Campinas  2022

https://doi.org/10.24220/2318-0870v27e2022a5382 

Artigos de Revisão

Empregabilidade e destino ocupacional de egressos da educação superior: uma revisão da literatura

Employability and occupational destiny of higher education graduates: a literature review

Daniel Santos Braga1 
http://orcid.org/0000-0001-5075-4570

Márcia Helena Inácio2 
http://orcid.org/0000-0002-7625-749X

Nivalda Chaves dos Santos Salomé2 
http://orcid.org/0000-0003-4169-2501

Amanda Tolomelli Brescia3 
http://orcid.org/0000-0002-1578-1474

1Universidade do Estado de Minas Gerais, Unidade Ibirité, Departamento de Educação. Av. São Paulo, 3.996, Vila Rosário, 32412-190, Ibirité, MG, Brasil

2Centro Universitário Newton Paiva, Instituto de Ciências Humanas, Campus Carlos Luz. Belo Horizonte, MG, Brasil.

3Universidade do Estado de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Conhecimento e Educação. Belo Horizonte, MG, Brasil.


Resumo

Este artigo de revisão discute pesquisas recentes sobre a inserção profissional de egressos da educação superior no Brasil. Para isso, foi feito um levantamento em bases indexadas e repositórios acadêmicos, das produções publicadas no país nas últimas décadas. A partir de critérios de elegibilidade, foram selecionados 30 trabalhos que compuseram o corpus documental do estudo. Parte significativa dos documentos localizados dizem respeito a egressos de cursos de formação de professores. Assim, o estudo foi desagregado entre produções sobre egressos em geral e sobre egressos de licenciaturas, sendo que, dessas, destacaram-se pesquisas sobre graduados em cursos de Pedagogia. Nas análises, foi possível classificar as produções em três categorias: (i) as que relacionam a inserção de egressos às modificações do mercado de trabalho; (ii) as que associam as trajetórias profissionais em interface com desigualdades estruturais da sociedade; e (iii) as que abordam a inserção laboral de egressos a partir das especificidades da área de formação. Dentre os resultados, identificou-se que as produções sobre egressos da educação superior são bem distribuídas nos três grupos. Já para egressos das licenciaturas e Pedagogia, os trabalhos se concentram na terceira categoria, com exceção de cursos da parte diversificada da Base Nacional Comum Curricular. Foi possível concluir também que, em geral, o mercado de trabalho para licenciados absorve os egressos dentro da área de formação com relativa facilidade, ainda que continuem existindo desigualdades de remuneração quanto ao sexo e à raça/cor.

Palavras-chave Educação e emprego; Educação superior; Inserção profissional de egressos; Mercado de trabalho

Abstract

This review article discusses recent research on the professional insertion of graduates of higher education in Brazil. For this, a survey of productions was carried out on indexed bases and academic repositories published in the country in recent decades. Based on eligibility criteria, 30 papers were selected that comprised the documentary corpus of the study. A significant part of the documents located relate to graduates of teacher training courses. Thus, the study was disaggregated between productions on graduates in general and graduates of bachelor’s degrees, and of these, research on graduates of pedagogy courses stood out. In the analyses, it was possible to classify the productions into three categories: (i) those that relate the insertion of graduates to changes in the labor market; (ii) those that address professional trajectories in interface with structural inequalities of society; and (iii) those that associate the work insertion of graduates to the specificities of the training area. Among the results, it was identified that the productions on graduates of higher education are well distributed in the three groups. For graduates of undergraduate studies and Pedagogy, the works focus on the third category, except for courses from the diversified part of the curriculum. It was also possible to conclude that, in general, the labor market for graduates absorbs graduates within the training area with relative ease, even though inequalities in remuneration remain in terms of gender and race.

Keywords Occupational destination; Higher education; Employability; Job market

Introdução

Este texto investiga e discute pesquisas que tratam da entrada de egressos da educação superior de forma geral e dos cursos de licenciatura e Pedagogia de maneira específica no mercado de trabalho. Para isso, foi feita uma revisão de literatura a partir de trabalhos produzidos sobre o assunto durante as últimas décadas e presentes em bases indexadas e repositórios de publicações acadêmicas brasileiras.

De maneira geral, os estudos que abordam as trajetórias profissionais de egressos no Brasil estão ligados ao crescimento do número de matrículas na educação superior no país desde a década de 1970. Afinal, com a histórica exclusão de parte considerável da população do ensino de nível universitário, os egressos da educação superior eram absorvidos pelo mercado de trabalho com relativa facilidade. Para fins de exemplificação, no início da década de 1970, 83% dos graduados conseguiam emprego no prazo máximo de um ano após a formatura (Simões, 1985).

Porém, nas décadas seguintes, a absorção de pessoas com formação universitária começou, paulatinamente, a diminuir. No início da década de 1980, somente 77% dos recém-graduados conseguiam emprego no primeiro ano de formados (Simões, 1985). Já entre 2014 e 2018, apenas um em cada quatro egressos (25,5%) conseguiam emprego logo após a conclusão do curso (Lima, 2021).

Esse fenômeno se deu ao mesmo tempo em que o país passava por um acentuado crescimento da educação superior, com políticas voltadas para a expansão tanto de instituições privadas, quanto públicas. Destacam-se o Fundo de Financiamento Estudantil, criado em 1999, e o Programa Universidade para Todos (PROUNI), criado em 2005 (Andriola; Barrozo Filho, 2020), com incentivos fiscais para a iniciativa privada. Já para as universidades públicas, a expansão se deu principalmente com a implementação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) em 2007 (Almeida et al., 2020) e com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia em 2008 (Gonçalves, 2021). Também se destaca no período o crescimento da oferta de cursos na modalidade de Educação a Distância nas instituições públicas por meio da Universidade Aberta do Brasil e nas instituições privadas (Ribeiro, 2014).

Nesse contexto de expansão da educação superior, a fim de avaliar a qualidade desse nível de ensino e a formação dos profissionais para o mercado de trabalho, em 2004 foi criado o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Entre as dez dimensões de avaliação desse instrumento, existe uma voltada para as políticas de atendimento ao estudante e ao aluno egresso. Ou seja, a inserção profissional do graduado é um dos critérios analisados pelo sistema de avaliação para definição da qualidade da instituição formadora (Lima; Andriola, 2018).

Porém, apesar de algumas iniciativas por parte do poder público de mapear a qualidade da inserção profissional de graduados no país, como por exemplo o que se vê no volume 4 do relatório do primeiro ciclo do Sinaes (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2015), a avaliação das trajetórias de egressos acabou ficando a cargo das comissões próprias de cada instituição, que se utilizam desses indicadores para seu planejamento interno. Por outro lado, a relação entre o crescimento da educação de nível superior e o aumento do desemprego entre graduados passa a ser captada cada vez mais e de uma maneira mais efetiva por diferentes tipos de pesquisas sobre empregabilidade e destino ocupacional.

A empregabilidade tem sido entendida, de forma geral, como a capacidade do trabalhador de conseguir um emprego, de se manter nele, ou, ainda, de obter uma nova colocação no mercado de trabalho caso seja necessário (Helal; Rocha, 2011). Essa definição encerra uma dimensão individualista do posicionamento laboral dos sujeitos no mercado de trabalho, como se isso dependesse exclusivamente da iniciativa do trabalhador. Nesta pesquisa, buscou-se identificar nas produções analisadas a empregabilidade em um sentido interativo (Gazier, 2001). Ou seja, se as relações de inserção laboral se dão de maneira contextual, quanto às habilidades específicas da profissão, quanto à situação do próprio mercado de trabalho e quanto às políticas públicas de emprego (Helal; Rocha, 2011).

Já destino ocupacional diz respeito à trajetória profissional dos egressos após a formatura e seu ingresso no mercado de trabalho (Paul, 2015). Caso esse ingresso se dê em situações profissionais pouco – ou nada – relacionadas com o curso frequentado pelos indivíduos, diz-se que estão em desvio funcional (Paul, 1989). No entanto, é preciso cautela ao estabelecer a ideia de desvio, pois se pode incorrer em uma visão limitada das “[...] competências desenvolvidas através da educação e não levar em conta as dinâmicas internas do mercado de trabalho (principalmente com relação aos gostos do trabalhador, à estrutura das carreiras e ao nível de remuneração)” (Paul, 2015, p. 323).

O trabalho está organizado em três partes: inicialmente, o percurso metodológico para a sistematização do levantamento bibliográfico foi apresentado. Uma vez que se identificou um percentual significativo de investigações a respeito da inserção profissional de egressos de licenciatura e, mais especificamente, de graduados em cursos de Pedagogia, optou-se pela desagregação desses objetos. Assim, na segunda parte do trabalho foram apresentados os estudos que tratam sobre empregabilidade e destino ocupacional de egressos da educação superior em geral. Já na última seção, foram discutidas as produções específicas sobre egressos de licenciaturas e Pedagogia.

Desenho da revisão de literatura e procedimentos metodológicos

Para o estudo bibliográfico, foi construído um corpus documental contendo artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que tratassem de trajetórias profissionais de egressos de cursos de educação superior. O levantamento dos artigos foi feito na base da Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO) e os trabalhos de conclusão de cursos foram coletados na Biblioteca Brasileira Digital de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.

Os termos de busca utilizados nas consultas foram: egressos; empregabilidade; destino ocupacional e mercado de trabalho. Foram incluídos estudos que abordassem as trajetórias profissionais de egressos da educação superior. Os critérios de exclusão foram pesquisas sobre egressos de fora do território brasileiro; de cursos de formação continuada e/ou programas de pós-graduação; que discutissem saberes e competências utilizadas na atuação profissional; que analisassem público específico (e.g. pessoas com deficiência) e que fizessem exclusivamente análise de currículos dos programas cursados.

Na base SciELO não foram usadas restrições de temporalidade e foram localizados 122 resultados. A triagem pelo título e leitura dos resumos buscou identificar textos que não atendiam aos critérios de inclusão explicitados acima. Obteve-se uma amostra de 56 artigos que passaram pela leitura completa, sendo excluídos aqueles que não atendiam ao escopo da pesquisa. Dessa maneira, 17 artigos compuserem o corpus da revisão. Na base BDTD, o recorte temporal foi delimitado à última década (2011-2021). A opção por esse recorte se justifica pelo fato de o Sinaes já ter contemplado em seus relatórios o ciclo avaliativo 2005-2010. Dessa maneira, seria possível trazer dados novos para lançar luz à questão. Foram identificados 169 resultados, que passaram por triagem (leitura exploratória dos títulos e resumos). Ao serem retirados aqueles que não se adequavam aos critérios, restaram 32 trabalhos monográficos, dos quais 13 foram inseridos no corpus documental deste estudo após leitura integral e análise qualitativa de seu conteúdo.

Dessa forma, o corpus documental de discussão da literatura da pesquisa foi composto por 30 produções no total.

Os estudos sobre trajetórias profissionais de egressos das áreas de licenciatura constituíram uma parte significativa do corpus documental da pesquisa (12 trabalhos de um total de 30 publicações selecionadas), sendo que 40% (nove) deles abordavam a inserção de pedagogos no mercado de trabalho. Dessa forma, é possível inferir que a área de pesquisas sobre empregabilidade de egressos tem dado destaque à investigação sobre as trajetórias profissionais de licenciados em Pedagogia, haja vista que esses estudos representam um em cada quatro trabalhos identificados na base SciELO e na BDTD, sendo que nessa foram considerados apenas os trabalhos publicados na última década.

Um possível motivo desse interesse é o fato de a Pedagogia ser o sétimo curso com mais ingressantes na modalidade presencial e o primeiro na modalidade de Educação a Distância segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil de 2020 (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior, 2020). Ainda segundo mapa, em relação à modalidade presencial, a Pedagogia era o terceiro curso com o maior número de concluintes em 2017, atrás apenas de Direito e Administração, e o primeiro na modalidade à distância (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior, 2020). Os números explicam, em parte, o percentual de estudos dedicados aos egressos desse curso, uma vez que seria esperado também uma proporção significativa de pesquisas sobre egressos do Direito e da Administração. No entanto, no corpus documental da pesquisa figuram apenas um trabalho (entre 30) que aborda egressos do Direito e três que investigam as trajetórias profissionais de graduados em Administração.

Apontamentos da literatura sobre a inserção profissional de egressos da educação superior no Brasil

Conforme discutido na introdução deste trabalho, as produções sobre egressos no Brasil acompanharam o processo de expansão da educação superior no país, especialmente na busca por analisar a aparente contradição entre a progressiva qualificação da mão de obra e do gradual aumento do desemprego entre diplomados. Os resultados de Almeida e colaboradores (2020), por exemplo, ao investigarem a alocação de egressos e de ex-estudantes que se evadiram da formação universitária de uma instituição pública de Brasília, apontam para o que os autores chamam de “inefetividade da expansão da educação superior no Brasil”. Em pesquisa, a equipe identificou altas taxas de desemprego entre egressos, maiores inclusive do que entre os evadidos. Além disso, um percentual considerável dos graduados não atuava em suas respectivas áreas de formação (Almeida et al., 2020).

Um dos caminhos de investigação para a explicação desse fenômeno é representado por estudos que relacionam as mudanças no próprio mundo do trabalho como fator explicativo para as dificuldades de inserção laboral encontradas pelos egressos da educação superior. Lousada e Martins (2005), em pesquisa com egressos e dirigentes de cursos superiores de Ciências Contábeis em São Paulo, identificaram que, na percepção de graduados e gestores, há descompasso entre os conteúdos disciplinares e o dia a dia do trabalho. Essa distância se refletiria na dificuldade de inserção no mercado profissional dos egressos daquele curso.

Pereira et al. (2016), ao analisarem dados públicos da primeira década do século XXI, identificaram um crescimento de matrículas em cursos de nível universitário de cerca de 480 mil em 2002 para mais de um milhão em 2012. No entanto, os dados indicam desvalorização da mão de obra qualificada, decréscimo no número de empregos de maior remuneração e um déficit de mais de 450 mil empregos de nível superior no mesmo período (Pereira et al., 2016). Para os autores, seria fundamental a reestruturação curricular dos cursos para que uma visão, chamada pela equipe de “estritamente acadêmica”, fosse superada em prol de uma perspectiva empreendedora e inovadora, mais focada nas demandas de mercado atuais.

Nessa mesma direção, em dissertação de mestrado, Dantas (2016) investigou o perfil profissional de egressos de curso de Design de uma universidade pública da Paraíba. A autora identificou grande percentual de desvio ocupacional entre os egressos, com mais da metade dos respondentes atuando fora da área de formação (Dantas, 2016). A pesquisa atribuiu a esse fato a incompatibilidade entre a vocação do curso e a vocação produtiva local, com pouca aplicação de projetos acadêmicos à realidade regional e pouca interação com o mercado de trabalho.

Outro estudo que também aponta essa perspectiva é o de Cavalcante (2019). A pesquisadora investigou o acompanhamento de egressos de cursos de Administração Pública na modalidade de Educação a Distância. Para a autora, a empregabilidade e a inserção profissional foram baixas devido à pouca oferta de empregos na área de formação. Ainda como resultados da pesquisa, apesar de cerca da metade dos respondentes terem percebido melhora da renda, essa percepção não foi atestada pelos dados, que revelaram a permanência de rendas inferiores à da média nacional de gestores públicos com o mesmo tempo de atuação (Cavalcante, 2019). Analisando egressos de cursos de Turismo a partir de pesquisa divulgada por meio de redes sociais, Silveira, Medaglia e Nakatani (2020) identificaram que os graduados na área associavam a falta de empregabilidade com a distância entre o currículo de formação do curso e as expectativas e demandas da realidade do mercado de trabalho para os turismólogos.

O estudo de Calbino e equipe (2020), ao avaliar os egressos de cursos de Engenharia criados em uma universidade de Minas Gerais a partir do REUNI, destaca que apenas 48,9% dos respondentes, egressos entre 2013 e 2017, havia, até a data da pesquisa, se inserido no mercado de trabalho. Dentre os demais, a maioria atribuía essa não alocação à falta de oportunidades profissionais. Além disso, os autores identificaram uma alta taxa de desvio funcional (com cerca de 50,0% dos egressos atuando fora da área de formação). Em relação à renda, em comparação com outros estudos que analisaram médias salariais de egressos das Engenharias, os autores acusaram perda salarial para as mesmas faixas de tempo de serviço (Calbino et al., 2020). Para os pesquisadores, a grade curricular dos cursos era limitada por não estabelecer mais articulações de seus estudantes com o mercado profissional ainda durante a formação.

Outra vertente de investigação suscitada pelo levantamento bibliográfico realizado é aquela que associa a análise da ocupação laboral com as estruturas de desigualdades preexistentes na sociedade (Bourdieu, 1988apud Lemos; Dubeaux; Pinto, 2009). Nessa perspectiva, a inserção do recém-formado no mercado profissional teria estreita associação com seu perfil socioeconômico. Em trabalho com egressos do curso de Administração de uma instituição de ensino superior privada do Rio de Janeiro, Lemos, Dubeaux e Pinto (2009) identificaram relações entre origens desses egressos e sua inserção no mercado de trabalho, destacando aspectos relativos ao capital cultural, econômico e social como fatores influenciadores da empregabilidade.

Essa conclusão também parece ser corroborada pelo trabalho de Ferreira-Vargas (2011) que analisou diferença de renda e empregabilidade entre egressos que tiveram acesso às políticas de assistência estudantil e os que não foram contemplados por elas. O recorte do estudo foi estudantes graduados em cursos de Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Direito e Geografia de uma universidade pública de Minas Gerais. Segundo a autora, apesar da formação superior ter elevado a remuneração média dos respondentes e de não haver diferenças significativas entre bolsistas e não bolsistas de programas de assistência estudantil (Ferreira-Vargas, 2011), ainda assim permaneciam disparidades de origem socioeconômica (sexo, raça/cor, escolaridade dos pais).

Também a tese de doutorado de Oliveira (2015), que investigou o processo de inserção profissional de egressos de um campus avançado recém-criado de uma universidade pública do Paraná, parece ir nessa direção. A autora analisou a condição profissional de egressos dos cursos de Gestão e Empreendedorismo, Gestão Ambiental, Serviço Social e Fisioterapia e constatou que cerca de 15,0% dos respondentes demoraram mais de um ano para conseguir um emprego e cerca de 18,0% permaneceram desempregados nos anos imediatamente subsequentes à formatura (Oliveira, 2015). Dentre os resultados, foi possível destacar que um em cada três respondentes (34,4%) afirmaram que o primeiro emprego na área foi obtido graças às redes de contato e indicações, denotando imbricação estrutural (Granovetter, 1985 apudOliveira, 2015).

Da mesma maneira, parece ir ao encontro da análise reprodutora da educação os resultados da investigação de Andriola e Barrozo Filho (2020). Os autores, ao compararem estudantes egressos de uma instituição privada do Ceará usuários e não usuários do PROUNI, identificaram que os alunos beneficiados pelo programa, além de apresentarem maior qualidade de aprendizado e menor tempo de formação, demonstravam maior desejo de se inserir mais rapidamente no mercado de trabalho. Já os estudantes não usuários apresentavam maior desejo de prosseguir estudando (i.e. em nível de pós-graduação) e se aprofundarem nos conteúdos desenvolvidos durante a graduação (Andriola; Barrozo Filho, 2020). Tendo em vista que os estudantes do PROUNI, para serem beneficiários do programa, precisam demonstrar carências financeiras, a necessidade de inserção profissional após a conclusão do curso é ainda mais urgente do que para aqueles advindos de camadas superiores do extrato social.

Por fim, uma terceira abordagem explicativa identificada nos textos do corpus documental da pesquisa parece apontar para uma relação entre a expansão da educação superior e as taxas de empregabilidade e inserção profissional, que dependem mais da área de formação em si do que de outros elementos. Um estudo conduzido por Câmara e Santos (2012) sobre egressos do curso de Fisioterapia de uma universidade de Minas Gerais, por exemplo, aponta que mais de 90% deles estavam atuando no setor. As autoras investigaram três gerações de graduados (década de 1980, 1990 e 2000) e avaliaram que, apesar dos mais recentemente formados serem os que mais buscam por um segundo emprego e que apresentam menores taxas de satisfação com a profissão, ainda assim os percentuais são muito baixos para o conjunto dos egressos (Câmara; Santos, 2012).

A dissertação de Ribeiro (2014), ao analisar a eficácia da inserção laboral do curso de Administração de uma universidade pública do Ceará, também identifica alta empregabilidade, apesar do percentual de respondentes desempregados e autônomos ter sido ligeiramente superior após a graduação do que a proporção de antes ou durante a formação (Ribeiro, 2014). Além disso, houve crescimento da renda média dos egressos após a graduação, identificada pelos respondentes como relacionada à titulação superior.

Outros três trabalhos da área da saúde também apresentam taxas elevadas de empregabilidade em seus resultados. Jesus e equipe (2013), estudando a inserção de egressos do curso de Enfermagem de uma universidade federal de Santa Catarina no mercado de trabalho, identificaram taxas elevadas de empregabilidade nos setores públicos e privados. Francisco e colaboradores (2016) avaliaram que mais de 80% dos enfermeiros egressos de uma instituição privada do interior de São Paulo estavam inseridos no mercado de trabalho, com alta empregabilidade na área desde a formatura (Francisco et al., 2016). Purim, Borges e Possebom (2016) estudaram o ingresso profissional de médicos recém-formados de uma universidade privada do Paraná. As autoras identificaram uma alta taxa de empregabilidade, com a maioria dos egressos já atuando profissionalmente no mercado de trabalho público e privado desde antes do encerramento do vínculo com a instituição de ensino.

A dissertação de mestrado de Souza (2019) também pode ser enquadrada nessa perspectiva. O estudo sobre eficácia e efetividade de cursos de Ciências Agrárias de uma universidade pública localizada na zona rural de Pernambuco apontou que, em média, 66% dos egressos de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia estavam trabalhando após a formatura. No entanto, dos 44% que não estavam atuando no momento da pesquisa, um em cada três (31%) estava cursando pós-graduação. Além disso, 82% dos empregados estavam atuando na área de formação (Souza, 2019).

Em síntese, esta seção abordou os artigos, teses e dissertações que discutem a inserção profissional de egressos de cursos de educação superior no Brasil em um contexto de expansão desse nível de ensino. Os estudos revelaram que, apesar do crescimento do número de matrículas, houve uma diminuição geral das taxas de empregabilidade de graduados, sendo possível destacar três categorias de explicações para essa constatação:

Uma parte dos trabalhos coletados no levantamento bibliográfico relaciona essa diminuição às próprias modificações do mercado de trabalho nas últimas décadas, à competitividade e às novas demandas de habilidades e competências, muitas vezes ausente nos currículos universitários.

O segundo grupo de pesquisas associa a empregabilidade pós-formatura a um quadro maior de desigualdades estruturais existentes na sociedade, que se refletiriam também na empregabilidade e no destino ocupacional de egressos.

O terceiro grupo identificado na revisão aborda a inserção laboral de egressos a partir da área de formação, sugerindo que alguns campos profissionais têm maior capacidade de absorção desses recém-formados.

A próxima seção irá se deter à análise dos estudos que tratam especificamente de licenciados e egressos de cursos de Pedagogia localizados no levantamento bibliográfico.

Literatura sobre egressos de cursos de formação de professores e inserção no mercado de trabalho: Licenciaturas e Pedagogia

Em geral, os textos sobre egressos de licenciatura do corpus documental desta pesquisa podem ser situados no terceiro grupo de estudos identificados na seção anterior; ou seja, as taxas de empregabilidade e o destino ocupacional são influenciados pela área de formação. E, no caso das licenciaturas, apesar de existir certa flexibilidade para inserção profissional proporcionada pelos currículos, na maioria dos casos os egressos entram no mercado de trabalho por meio da docência e com relativa facilidade. Mesmo nos casos em que o curso em questão é de licenciatura concomitante ao bacharelado, a maior parte dos egressos investigados pelas pesquisas se tornaram professores.

Podem ser consideradas exceções as licenciaturas de componentes curriculares da parte diversificada da base curricular4. Em estudo com egressos do curso de Ciências Agrícolas de uma universidade rural de Pernambuco formados entre os anos de 2006-2013, Vieira (2015) identificou que mais da metade dos licenciados (61,1%) não estavam atuando na docência. Segundo a maior parte dos respondentes, as oportunidades de trabalho eram muito restritas, especialmente devido aos Institutos Federais que, em tese, seriam os principais campos para esses egressos optarem, já que ofertam cursos com mais apelo mercadológico (Vieira, 2015).

Também sobre licenciaturas de componentes curriculares da parte diversificada, Moreira (2019) analisou os perfis de inserção profissional de egressos de um curso a distância de licenciatura em Música de uma universidade pública. Os dados revelaram que mais de 83% dos egressos já atuavam como docentes de música antes de ingressarem no curso – a maioria como professores particulares, em escolas especializadas ou em projetos sociais. O percentual de licenciados que continuaram trabalhando como professores de música após a formação praticamente se manteve o mesmo, correspondendo, na maioria dos casos, aos respondentes que já atuavam antes do ingresso. Verificou-se ainda que 66% dos que não se inseriram na área apontaram como principal fator do desvio ocupacional a baixa remuneração, enquanto 44% deles citou a falta de oportunidades na docência de música (Moreira, 2019).

Para os egressos das demais licenciaturas, a docência foi o principal destino. Em estudo para dissertação de mestrado, Gaspar (2013) abordou os campos de atuação de professores de Educação Física após a divisão de curso desse componente curricular em uma universidade pública de Santa Catarina em licenciatura e bacharelado. Em seus resultados, o autor destacou que a maioria absoluta dos egressos atuava no campo de formação, como professores de Educação Física, sendo que 16% deles estavam em escolas. A divisão do curso pode ter contribuído para a precarização da profissão, com redução do escopo de atuação, aumento da competitividade, especialmente entre bacharéis, e redução da média remuneratória (Gaspar, 2013).

Também sobre egressos de Educação Física, Calegari (2017) fez um estudo com licenciados de uma universidade do interior de Minas Gerais na primeira metade da década de 1990. A autora concluiu que um percentual expressivo dos graduados (81%) atuava na área, sendo que 85% desses tinham cargos de professor.

A aproximação dos resultados dos dois estudos permite inferir que as habilitações de professores de Educação Física possibilitam inserção profissional no campo de atuação com relativa facilidade. Porém, os dados sugerem uma fragmentação profissional maior das áreas de atuação de recém-graduados que estão inseridos em diferentes tipos de trabalho na área do que daqueles formados na década de 1990, concentrados na educação escolar.

Com relação aos egressos de Pedagogia, a maioria dos estudos analisados também pode ser classificada no terceiro grupo explicativo para as taxas de empregabilidade e inserção profissional de egressos. A pesquisa mais antiga dentre as analisadas, realizada por Machado (1986), investigou o mercado de trabalho para os profissionais egressos do curso de Pedagogia de uma universidade federal no Paraná. A despeito das diferenças normativas da educação na década de 1980 – portanto, período anterior à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (de 1996) e das Diretrizes Curriculares Nacionais da Graduação em Pedagogia (de 2006) –, o artigo aponta que, já naquele período, a maior parte dos graduados no curso se direcionavam para a atuação como professores, sendo que 75% deles atuava no 1° grau (correspondente aos anos iniciais do Ensino Fundamental na nomenclatura atual) e 25% em pré-escolas.

Quanto à formação, apesar da maioria dos respondentes do estudo de Machado (1986) terem cursado alguma habilitação5, apenas 20% atuavam nessas funções. Na percepção dos respondentes, o curso de Pedagogia, naquela época, carecia de uma delimitação mais bem acabada do escopo profissional para seus egressos. O mercado absorvia os egressos com relativa facilidade, porém, quase nunca nas suas áreas/habilitações de formação. A remuneração média era baixa, uma vez que, em geral, as escolas privadas pagavam valores próximos aos contratados com formação de nível médio, sendo o ingresso em concurso público municipal ou estadual o principal objetivo a ser alcançado (Machado, 1986).

Em estudo com egressos de 2011 e 2012 do curso de Pedagogia de uma universidade pública do Maranhão, Nunes (2014) constatou que 72% dos respondentes da pesquisa já atuavam na educação no momento da investigação – ou seja, entre 2 e 3 anos após a conclusão do curso, quase um terço dos egressos já estavam atuando na área. Ressalva-se que o texto não aponta em quais áreas os 28% restantes estavam atuando, podendo ser fora da educação ou em outros espaços de atuação do pedagogo (pedagogia hospitalar, empresarial, em museus etc.). Outro estudo, desenvolvido por Moraes e colaboradores (2018) sobre egressos de Pedagogia bilíngue de um instituto localizado no Rio de Janeiro, formados entre os anos de 2009 e 2016, revelou uma alta taxa de empregabilidade dos formados. Da mesma maneira, o trabalho de Andrade (2020) sobre a inserção profissional e a mobilidade social de egressos de Pedagogia de cursos no Brasil avaliou que as taxas de empregabilidade para pedagogos eram muito altas desde o momento da graduação.

Diferentemente dos estudos sobre egressos em geral, não houve enquadramento de pesquisas no primeiro grupo de trabalhos conforme categorizado na seção anterior deste texto; ou seja, pesquisas que relacionam a inserção profissional de egressos pelas modificações do mercado de trabalho. Uma possível explicação é o fato de que a expansão da educação superior nas últimas décadas se deu ao mesmo tempo em que ocorria também uma expansão de atendimento na educação básica. Dessa forma, os egressos de licenciatura e de Pedagogia foram absorvidos pelos sistemas públicos e privados com relativa tranquilidade.

No entanto, a tese de doutorado de Ferreira-Vargas (2016), bem como o artigo dela derivado (Ferreira-Vargas; Peixoto, 2019), apesar de trazerem resultados que confirmam a alta taxa de empregabilidade de egressos e sua inserção laboral na área de formação, sinaliza possíveis mudanças nesse cenário. Considerando o percurso das modificações históricas do curso de Pedagogia de uma universidade pública de Minas Gerais, os dados revelaram que, ao longo das décadas, a escola se manteve como o principal destino ocupacional de pedagogos daquela universidade (Ferreira-Vargas, 2016; Ferreira-Vargas; Peixoto, 2019). Porém, a investigação verificou variações nas atividades exercidas por esses profissionais, assim como lacunas formativas percebidas pelos egressos.

Para as autoras, tanto as variações quanto as percepções de ausências curriculares acompanharam, principalmente, as novas expectativas para a formação de pedagogos dadas pelas condições objetivas da realidade do mercado do trabalho (como, por exemplo, no tocante à utilização de tecnologias de informação e comunicação na educação) e pelas diretrizes normativas nacionais desse curso. Dito de outro modo, apesar da alta absorção de egressos nos últimos anos, as mudanças societais intensificadas pelas tecnologias digitais podem repercutir, em um futuro próximo, em modificações na inserção profissional de licenciados.

Embora em menor número, foi possível categorizar alguns trabalhos sobre egressos de licenciatura do corpus documental da pesquisa como pertencentes ao segundo grupo de estudos (que tratam de desigualdades estruturais). No entanto, as desigualdades encontradas se relacionaram menos à empregabilidade e/ou ao destino ocupacional e mais à remuneração percebida pelo profissional. Em estudo comparativo sobre os egressos de cursos de Ciências Biológicas (licenciaturas e bacharelados) presenciais e a distância do Rio de Janeiro, Teixeira e equipe (2014) identificaram grande absorção pelo mercado de trabalho e aumento considerável de renda média. Os dados revelaram baixa diversidade laboral, sendo que a maior parte dos egressos se tornaram docentes da educação básica (Teixeira et al., 2014). Os autores não verificaram diferenças estatisticamente significativas na renda e empregabilidade entre egressos da modalidade presencial e a distância, mas foi possível concluir que essa diferença existia para egressos de universidades públicas e privadas, bem como em relação ao sexo e à raça/cor.

A pesquisa de Braga (2011) sobre formados em cursos de Ciências Sociais de quatro universidades paulistas também traz elementos do segundo grupo de estudos sobre trajetórias profissionais de egressos. Para o autor, a docência foi o principal destino ocupacional de egressos, em especial no ensino superior. A partir de seus resultados, a pesquisa concluiu que a distribuição das ocupações entre os egressos tem associação com as origens socioeconômicas e relações institucionais estabelecidas (Braga, 2011). A já citada tese de Ferreira-Vargas (2016) e o artigo dela derivado (Ferreira-Vargas; Peixoto, 2019) identificaram padrões de influência da escolaridade dos pais nas escolhas pela área de formação dos egressos, bem como repercussões de gênero e raça na remuneração dos pedagogos (Ferreira-Vargas, 2016).

Ou seja, diferenças como, por exemplo, a escolaridade dos pais e avós revelam apostas e investimentos feitos pelos egressos ainda durante a graduação para os usos sociais esperados para o diploma de Pedagogia (Silva, 2017). Em geral, egressos da licenciatura foram os primeiros de sua família a obterem curso superior (Andrade, 2020). Porém, as desigualdades de origem têm menor poder explicativo para a empregabilidade e inserção profissional pós-formatura de egressos da licenciatura (Silva, 2017) do que para a sua remuneração.

Nesta seção foram apresentadas as produções recentes, localizadas nas bases SciELO e BDTD, que trataram de pesquisas sobre trajetórias de egressos de cursos de licenciatura, dentre os quais, o curso de Pedagogia. A maior parte dos trabalhos analisados considerou que os egressos de licenciaturas são rapidamente absorvidos pelo mercado de trabalho e, em geral, atuam em sua área de formação. A empregabilidade é menor para egressos de cursos de disciplinas da parte diversificada da Base Nacional Comum Curricular, o que aumenta o desvio funcional desses licenciados.

Verificou-se que os trabalhos do corpus documental não destacam transformações no mercado de trabalho que repercutiram em diminuição da inserção profissional de egressos de licenciaturas. Porém, alguns estudos já sinalizam mudanças que podem vir a exigir adequações curriculares dos programas – como é o caso do uso das tecnologias de informação e comunicação na educação –, de forma que os egressos possam atender às novas demandas profissionais.

Em geral, as produções sobre egressos de licenciatura não se aprofundaram em desigualdades estruturais da sociedade para a análise da trajetória profissional de egressos. Isso se deu em parte, uma vez que, em geral, estudantes de cursos de formação de professores vêm de famílias sem histórico de diploma de nível superior. No entanto, outras desigualdades sociais, como as de gênero e raça, continuam influenciando nas remunerações médias recebidas pelos egressos.

Considerações Finais

Em um trabalho pioneiro sobre as relações entre a educação superior e o mercado de trabalho no Brasil, Jean-Jacques Paul, no final dos anos de 1980, atestou que as pesquisas sobre egressos não são organizadas de maneira sistemática, tanto no que diz respeito ao país quanto às instituições. Se para as instituições já é possível observar relativa mudança, com o Sinaes induzindo as comissões próprias de avaliação a adotarem critérios de acompanhamento de egressos, nacionalmente falando ainda são escassas as iniciativas por parte das autoridades educacionais para investigações desse tipo. Dessa maneira, o campo de pesquisas sobre trajetórias profissionais de egressos que se seguiu à expansão da educação superior no Brasil nas últimas décadas ainda está, em grande medida, restrito às produções acadêmicas.

Este trabalho pretendeu identificar e analisar, nessas produções, como as pesquisas mais recentes têm abordado a inserção de egressos da educação superior em face às mudanças no mercado de trabalho. Optou-se por investigar bases indexadas ainda que se compreenda que existam outros estudos que abordem o assunto e que não estão presentes nos repositórios consultados. Portanto, ainda que não se tenha pretendido um estado da arte, a revisão de literatura efetivada nesta pesquisa discutiu, em diferentes aspectos, dois subcampos da sociologia das profissões: a empregabilidade e o destino ocupacional.

Identificou-se que a maior parte das produções analisadas se refere aos egressos de cursos de formação de professores e, dentre eles, aos licenciados em Pedagogia. Essa predominância pode estar, em parte, ligada, por um lado, à proporção desses cursos no conjunto da educação superior no Brasil. Em outro aspecto, o percentual expressivo de trabalhos que tratam de egressos de licenciaturas pode ter acompanhado a expansão da educação básica no país.

Foi possível categorizar as pesquisas em três grupos: as que relacionam a empregabilidade e o destino ocupacional e as modificações do mercado de trabalho; as que associam a inserção profissional com as desigualdades estruturais e as que abordam as trajetórias dos graduados a partir das especificidades da própria área de formação. Se os estudos com egressos em geral estão distribuídos entre os três grupos, as pesquisas sobre egressos de licenciaturas e de Pedagogia se concentram na terceira categoria.

Isso denota que a docência na educação básica ainda se mantém como um campo de atuação profissional com oportunidades expressivas para egressos de cursos de formação de professores. Porém, o magistério também apresenta limites, seja para licenciados de disciplinas da parte diversificada da Base Nacional Comum Curricular, seja no tocante a indícios já evidenciados por alguns dos estudos quanto às modificações no mercado, que tenderão a pressionar por mudanças nos programas dos cursos.

Pode-se inferir ainda que a inserção dos egressos no mercado de trabalho no cenário econômico pandêmico pós-março de 2020 pode ser ainda mais dificultada, porém ainda não foi possível observar isso nas produções analisadas neste estudo, talvez pelo pouco tempo decorrido desde o início da pandemia até a finalização deste trabalho.

São necessárias pesquisas de revisão que se utilizem de outros termos de busca nas bases ou mesmo que consultem outros repositórios. Além disso, para fins de recomendação de trabalhos posteriores, sugere-se analisar se existem padrões nas produções intra e entre grupos categóricos de abordagem de egressos identificados neste trabalho, a fim de se buscar fatores explicativos para cada tipo de investigação.

4A Base Nacional Comum Curricular é composta por uma parte comum a todos os sistemas de educação do país e por uma parte diversificada, que pode contemplar até 40% dos currículos estaduais, municipais e das instituições de ensino. Os componentes curriculares da base comum são Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, dentre outros. A parte diversificada contempla temas de relevância social e cultural, contextualizados com a realidade dos seus alunos e da comunidade escolar como um todo (<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>).

5Supervisão escolar, orientação escolar, administração escolar e inspeção escolar, além da docência, sendo que quem a pratica é denominado “licenciado”, conforme Parecer do Conselho Federal de Educação, n° 252, de 11 de abril de 1969, e da Resolução do CFE n° 2, de 12 de maio de 1969.

Como citar este artigo/How to cite this article

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Recebido: 01 de Junho de 2021; Revisado: 03 de Março de 2022; Aceito: 22 de Março de 2022

Correspondência para/Correspondence to: D.S. BRAGA. E-mail: danielsantosbraga@gmail.com.

Colaboradores

D. S. BRAGA contribuiu com concepção e desenho, análise e interpretação dos dados, revisão e aprovação da versão final do artigo. M. H. INÁCIO e N. C. S. SALOMÉ contribuíram com concepção e desenho, análise e interpretação dos dados. A. T. BRESCIA contribuiu com a análise e interpretação dos dados, revisão e aprovação da versão final do artigo.

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