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ETD Educação Temática Digital

On-line version ISSN 1676-2592

ETD - Educ. Temat. Digit. vol.21 no.1 Campinas Jan./Mar 2019  Epub Oct 24, 2018

https://doi.org/10.20396/etd.v21i1.8648406 

Artigos

"OS HOMENS QUE ODIAVAM AS MULHERES": RELAÇÕES DE GÊNERO EM JOGOS INTERNOS DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

"THE MEN THAT HATE THE WOMEN": GENDER RELATIONSHIPS IN THE INTERNAL GAMES OF A PUBLIC UNIVERSITY

"LOS HOMBRES QUE ODIABA A LAS MUJERES": RELACIONES DE GÉNEROEN JUEGO INTERIOR DE UNA UNIVERSIDAD PÚBLICA

Kelly Cristiny Martins Evangelista1 

Daiana Rodrigues de Lima Braga2 

Pâmella Gomes de Brito3 

Adelson da Costa Ribeiro4 

Tadeu João Ribeiro Baptista5 

1 Mestra em Educação - Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia, GO - Brasil. Professora de Educação Física - Secretaria Municipal de Educação - Escola Especial Helena Antipoff; Docente na Universidade Estadual de Goiás (UEG) - Anápolis - GO - Brasil. E-mail: kellycristiny89@hotmail.com

2 Mestra em Educação - Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia, GO - Brasil. Professora efetiva - Secretaria Municipal de Educação de Goiânia Goiás (SMEE/GO) - Goiânia, GO - Brasil. E-mail: daianarodrigues17@hotmail.com

3Graduada em Educação Física - Licenciatura - Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia, GO - Brasil. E-mail: pamellagomezz@gmail.com

4 Mestre em Educação - Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia, GO - Brasil. Professor - Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) - Cuiabá, MT - Brasil. E-mail: adelson.ribeiro@cba.ifmt.edu.br

5 Doutor em Educação - Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia, GO - Brasil. Professor Adjunto - Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia, GO - Brasil. E-mail: tadeujrbaptista@yahoo.com.br


RESUMO

As relações de gênero estão presentes em diferentes espaços sociais e muitas vezes expressam posturas preconceituosas. Nesse sentido, este texto analisa a relação entre o gênero feminino e a cultura em um evento esportivo e cultural na cidade de Goiânia, a partir de um regulamento sexista amplamente divulgado nas mídias regionais. Quanto à metodologia, foi feita uma análise documental com o ranking disponibilizado por mídias sociais, visto que nele havia dezenove itens discriminados segundo os critérios de interesse relacional heterossexual durante os jogos realizados no evento de uma universidade pública do estado de Goiás, região Centro-Oeste do Brasil. Sobre os resultados, os dados demonstram um movimento no qual a relação de subalternidade de alguns grupos foi evidenciada; a virilidade masculina protagonizou o evento, de forma que se estabeleceram relações desiguais entre homens e mulheres, nas quais os corpos femininos foram colocados sob extrema avaliação e constrangimento. Como conclusão, aponta-se para uma série de preconceitos quanto aos comportamentos sexistas, misóginos, heteronormativos e étnico-raciais.

PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Gênero; Cultura; Mulher; Violência

ABSTRACT

The Gender relationships are present in different social spaces and many times express prejudice postures. This text aims to analyze the relationship present between female gender and the culture in a sports and culture event at Goiânia City, from a sexist rule generally exposed in state medias. Methods: Because this, we made a documental analysis with the "ranking" presented for social medias and, in it was analyzed nineteen items described in the criteria of heterosexual relations interests during the games of a Public University event from Goiás State, Brazil’s interior. Results: The data shows a movement in which the subaltern relationship of some groups was evidenced, the male virility carried out the event, so that unequal relations between men and women were established, in which the female bodies were placed under extreme evaluation and constraint. Conclusion: The conclusion points to a series of prejudices regarding sexist, misogynist, heteronormative and ethnic-racial behavior.

KEYWORDS: Body; Gender; Culture; Woman; Violence

RESUMEN

Las relaciones de género están presentes en diferentes espacios sociales y, a menudo actitudes expresar prejuicios. Este artículo tiene la intención de analizar en esta relación entre el sexo femenino y la cultura en un evento deportivo y cultural en la ciudad de Goiânia a partir de una regulación sexista ampliamente reportado en los medios regionales. Método: Para este análisis documental fue hecho con el "ranking" proporcionada por las redes sociales, y se analizó diecinueve conceptos detallados en los criterios de interés relacional heterosexual durante los juegos celebrados en el caso de una universidad pública en el estado de Goiás, el interior de Brasil. Resultados: Los datos muestran un movimiento en el que se puso de manifiesto la relación de subordinación de algunos grupos, la virilidad masculina organizó el evento, por lo que se establecieron las relaciones desiguales entre hombres y mujeres, en la que los cuerpos de las mujeres se colocan debajo de la evaluación y la vergüenza extrema. Conclusión: Las hallazgo apunta a una serie de prejuicios sobre el comportamiento machista, misógino, heteronormativa y étnica-racial.

PALABRAS CLAVE: Cuerpo; Género; Cultura; Mujer; Violência

1 INTRODUÇÃO: "TRÊS FORMAS DE AMAR"

As relações de gênero manifestam-se em diferentes espaços sociais e são, na maioria dos casos, demonstrações de poder do homem sobre a mulher. Essas demonstrações de desrespeito às condições femininas apresentam-se na forma de frases com conotação sedutora, sarcasmos, expressões pejorativas, descaso, indiferença, humilhação, entre outras.

E, com o advento das redes sociais, todos esses processos ficam exacerbados, considerando ainda que a internet atinge uma quantidade significativa de pessoas de maneira muito rápida, podendo produzir um grande mal-estar em uma parcela da sociedade. Desse modo, as postagens assumem características ainda mais devastadoras quando são provenientes de grupos teoricamente mais esclarecidos, como é o caso de jovens universitários.

Então, durante a realização da edição de 2016 das atividades esportivas e culturais internas promovidas pelas Associações Atléticas Acadêmicas (AAA), em uma universidade pública da região Centro-Oeste, circulou, nas redes sociais, um "Ranking da Pegação", o qual utilizava uma pontuação de acordo com o tipo de "pegação" que os rapazes realizavam ao longo do evento, dando ênfase aos tipos de mulher, com o objetivo de reforçar estereótipos e demonstrar uma série de preconceitos contra as questões de gênero, etnia e sexualidade. Este "Ranking" acabou sendo divulgado pelos canais de televisão local e provocou uma série de reações, entre as quais foi aberto um inquérito policial para apurar os fatos, embora, até o momento da elaboração deste texto, nada tenha sido divulgado sobre os possíveis responsáveis pela publicação apresentada.

Destarte, o objetivo central deste texto é analisar a relação presente entre o gênero feminino e a cultura em um evento esportivo e cultural realizado no primeiro semestre de 2016 em uma universidade pública do estado de Goiás, a partir de um regulamento generificado amplamente divulgado nas mídias regionais. Para isso, foram analisados dezenove itens discriminados no ranking de interesse relacional heterossexual e étnico durante os jogos.

Estruturalmente, o texto está dividido, pois, em três momentos. Em um primeiro momento, apresentamos o referencial teórico; no segundo, a metodologia; e depois, de maneira mais específica, os resultados e discussões identificados pela pesquisa empírica.

2 "MENINOS E MENINAS": AS RELAÇÕES DE GÊNERO NA CULTURA HETERONORMATIVA

As questões de gênero são, pelo menos desde o final do século XIX, um ponto de tensão que tem se estabelecido, principalmente, nas relações entre homens e mulheres. A luta pelo voto, o impedimento de realizar determinadas práticas corporais como o futebol, e outras consideradas violentas, os comportamentos específicos das mulheres, sobretudo em relação ao seu comportamento sexual, são algumas das lutas presentes na questão vinculada ao gênero (GOELLNER, 2003, 2005; FOUCAULT, 1993).

Nesse sentido, Nogueira e Colling (2015) apontam o conceito de heteronormatividade criado por Michael Warner, em 1991, que vem refletir sobre a organização social. Conforme os autores, a ordem sexual vigente confere a todas as pessoas a reprodução de um modelo de vida e sexualidade heterossexual. Além disso, dissemina essa padronização como a forma mais adequada de existir socialmente. Desse modo, os autores explicam que a organização da vida na heteronormatividade exige que todos os casais, mesmo os homossexuais, devam se comportar no modelo heterossexual, inclusive em relação ao casamento e à construção familiar.

Conforme Louro (2009), a sociedade insiste na natureza binária dos humanos, reforçando características de normalidade e assim reproduzindo o modelo heteronormativo, que se trata de um movimento de elaborar e repetir a heterossexualidade, dizendo ser ainda uma criação social, que demanda investimento cultural e disputas.

Através de estratégias e táticas aparentes ou sutis reafirma-se o princípio de que os seres humanos nascem como macho ou fêmea e que seu sexo - definido sem hesitação em uma destas duas categorias - vai indicar um de dois gêneros possíveis - masculino ou feminino - e conduzirá a uma única forma normal de desejo, que é o desejo pelo sujeito de sexo/gênero oposto ao seu. (LOURO, 2009, p. 89)

A autora diz que os meninos e homens recebem maior investimento nessa construção, situação que reflete na forma de lidar com a masculinidade e construir as relações sociais. Segundo Miranda-Ribeiro e Moore (2003), as imagens disseminadas das mulheres vão influenciar no modo como uma sociedade constrói suas formas de se relacionar sexualmente. Por isso, entende-se que os comportamentos sexuais não ocorrem em igualdade de gêneros, considerando que as mulheres estão sempre expostas, observadas pelo viés da submissão. Já Louro (2000) afirma que a marca dos gêneros apresenta-se no corpo com as inscrições de uma determinada sociedade, assim como a sexualidade e as formas de apresentar os anseios e interesses são também normatizadas pela cultura.

Sendo assim, problematizar este "[...] tipo de comportamento é fundamental para possibilitar a compreensão das múltiplas formas de relação dos gêneros e entre os gêneros e deste modo desfazer a ideia preconceituosa que a mulher deve ser protegida, reservada à intimidade e passividade (COSTA, 2013, p. 4).

A exposição do corpo das mulheres é um dos recursos utilizados pela mídia. Assim, as visualizações presentes nas vitrines objetivam vender mercadorias e sugerem algo além. Segundo Mota-Ribeiro (2003), a publicidade de corpos femininos erotizados é um modelo bastante recorrente. Ainda conforme a autora, existem, para as mulheres, maiores cobranças acerca de sua aparência, quando comparadas aos homens. Desse modo, elas são invisíveis socialmente e visíveis fisicamente, um paradoxo que se desenvolve e se complexifica ao longo do tempo.

Mota-Ribeiro (2003) analisa que, para as mulheres, é exigido um alto padrão de beleza em público, necessitando assim de cuidados infinitos com o corpo. Nessa busca, especialmente o gênero feminino vive constantemente em competição na tentativa de se alinhar ao padrão estético mais aceitável. Pulverizando imagens femininas, as mídias criam uma visão de mulher como objeto sexual disponível e de desejo masculino. As imagens publicadas, segundo a autora, utilizam de diversos recursos para evidenciar a erotização, a nudez, a ênfase no corpo ou em partes específicas, que são algumas formas de insinuações desse aspecto, quase sempre a serviço do masculino.

Como a erotização, que sempre foi utilizada no contexto da pornografia, possibilita uma exploração significativa do corpo da mulher, Moraes e Lapeiz (1985) demonstram que existe um foco no desejo masculino, no contexto da imagem feminina, considerando, inclusive, aspectos vinculados à pornografia. Além disso, de acordo com essas autoras, a análise de que a pornografia explora o corpo da mulher, a partir do olhar masculino, é uma das vertentes de análise deste tema.

A imagem da mulher vista sob a perspectiva sexual, e reproduzida pela indústria cultural, leva a objetivações, que, segundo Mota-Ribeiro (2003), podem se configurar na ideia do feminino como elemento decorativo. A sensualidade exposta, que leva à insignificância da figura feminina considerada apenas na aparência, envolve também uma tentativa de controle na qual a última forma é se adaptar ao padrão. Entretanto, não é apenas a questão vinculada ao sexo (biológico), mas, sim, à ideia de gênero, que é o fator fundamental nesse contexto.

"Gênero não é uma simples categoria analítica: ele é, como as intelectuais feministas têm crescentemente argumentado, uma relação de poder" (WEEKS, 2001, p. 56). Assim, a sexualidade feminina foi construída a partir de uma normatização masculina, que enfatiza o que é admirável, sendo, para o autor, uma forma de poder enraizado pela construção histórica.

Um fato interessante do ponto de vista do comportamento de gênero é pensar no papel que é atribuído às mulheres do ponto de vista social. Nesse caso, a compostura da mulher é sempre questionada e isso não é de hoje, como demonstra Matthews-Grieco (2008). Segundo a autora, mesmo no período compreendido entre os séculos XV e XVIII, apesar de haver algumas práticas sexuais e comportamentos considerados lícitos, ainda assim as mulheres poderiam ser punidas caso adotassem práticas ilícitas.

Essas práticas muitas vezes se articulam com o próprio processo de dominação masculina, que vem do antigo regime, e atingem a lógica moderna capitalista. Essa lógica, centrada na perspectiva da racionalidade instrumental, pode trazer, para as mulheres, a perspectiva de um comportamento esperado para o gênero, embora, por outro lado, haja a tensão expressa pela própria sexualidade, um conflito semelhante ao de Juliete, como identificam Adorno e Horkheimer (1985).

Este aspecto traz, para a análise, uma fragilidade da mulher em relação ao homem, sobremaneira no contexto do amor e do sexo. Destarte,

[...] os amigos de Juliete atribuem à sexualidade, em oposição à ternura, ao amor terreno em oposição ao celestial, não apenas um poder um pouquinho excessivo, mas também um caráter excessivamente inócuo. A beleza do colo e o torneado dos quadris agem sobre a sexualidade não como fatos a-históricos, puramente naturais, mas como imagens que encerram toda a experiência social. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 103)

Os conflitos e a tensão sofrida por Juliete, no contexto de sua relação com o masculino, perpassam pela "[...] hierarquia dos sexos e o jugo imposto ao caráter feminino pela ordenação masculina da propriedade [...]" (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 102). Essa imposição e subjugação do feminino se mantém, apesar de as condições sociais e históricas aparentemente terem se alterado.

Apesar das transformações sociais, de um avanço nos direitos das minorias, da luta feminista e de maior respeito em relação às mulheres, o ano de 2016 parece apresentar um refluxo na espiral da história, trazendo, para o Brasil, uma onda conservadora em relação à mulher, a determinadas etnias e orientações sexuais. Volta à tona a perspectiva de que "[...] a mulher traz o estigma da fraqueza e por causa de essa fraqueza estar em minoria, mesmo quando numericamente é superior ao homem. [...] o desamparo da mulher é a justificação legal de sua opressão" (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 105).

Partindo dessas ideias e considerando os fatos de opressão e desrespeito pela condição de ser mulher, passaremos a discutir a relação e a condição do ser masculino.

3 "O CLUBE DA LUTA": REGRAS PARA SE TORNAR UM HOMEM

Como a sociedade estabeleceu expectativas generificadas para o ser humano, quando pensamos no gênero masculino não podemos deixar de buscar os infinitos ritos que os garotos são submetidos ao longo de sua formação cultural. Então, Welzer-Lang (2001) realizou uma pesquisa na qual apresenta os modos como são implantadas e consolidadas as relações de identidade e virilidade masculinas. O autor definiu com a expressão "casa dos homens" os locais percebidos como fundamentais na conformação de um homem autêntico.

A casa dos homens é, pois, o local onde ocorrem rituais de virilidade, os mais experientes transmitem os conhecimentos acumulados e os jovens buscam se aproximar daquilo que é revelado em cada etapa da vida pelos semelhantes. Welzer-Lang (2001) destaca que, para estar entre homens, é importante aprender a lidar com o ambiente viril, uma vez que as regras para isso já foram elaboradas no passado e precisam ser consagradas. Assim, diferenciam-se homens de mulheres e crianças.

Os pés, as mãos, os músculos [...] se formam, se modelam, se rigidificam por uma espécie de jogo sadomasoquista com a dor. O pequeno homem deve aprender a aceitar o sofrimento - sem dizer uma palavra e sem "amaldiçoar" - para integrar o círculo restrito dos homens. Nesses grupos monossexuados se incorporam gestos, movimentos, reações masculinas, todo o capital de atitudes que contribuirão para se tornar um homem. (WELZER-LANG, 2001, p. 463)

Desse modo, a constituição de comportamentos considerados masculinos atravessa toda a vida humana. Ao adentrar a juventude, estes ritos perpassam a construção da sexualidade e o trato com o sexo oposto, considerando a normatividade das relações sociais. Torna-se, portanto, apropriado compreender melhor esses jovens, trazendo à baila a definição de "jovem" e o entendimento acerca do termo "juventudes", o qual está inserido no ambiente universitário.

Na Lei n.º 12.852/2013, que instituiu o Estatuto da Juventude, "[...] são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade" (BRASIL, 2013, p. 9). Apesar de o critério etário ser bastante utilizado para delimitação por faixa de idade junto à definição de juventude, mas, como contraponto a esse critério, outros estudiosos preferem dar ênfase ao critério sociocultural.

Como referência, tem-se Groppo (2000, p. 9-10), que evidencia a predileção pelo critério sociocultural, explicando que o critério etário é limitado para se compreender a juventude, pois "[...] o jovem e seu comportamento mudam de acordo com a classe social, o grupo étnico, a nacionalidade, o gênero, o contexto histórico, nacional e regional, etc". O autor tem ainda a intenção de demonstrar a importância da juventude como categoria social, a fim de entendermos o funcionamento das sociedades modernas.

O ambiente universitário concentra, nesse espaço, ainda mais a diversidade social já presente nesta etapa da vida, denominada juventude, considerada fase de transição para o mundo adulto. Para tanto, Groppo (2000, p. 15) sugere "[...] o uso sociológico no plural do termo juventude", para que possamos conseguir compreender a realidade dos grupos sociais concretos na pluralidade de "juventudes". Portanto, pretendemos, neste artigo, fazer recorte sobre gênero mais especificamente.

4 "LINDA ROSA" E OS CAMINHOS DA PESQUISA

Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa de caráter descritivo, documental e qualitativa. É descritiva porque tem como objetivo descrever uma dada realidade a partir das características de um grupo de uma cultura (TRIVIÑOS, 1987). Caracteriza-se como documental, uma vez que, segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 55), "[...] baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa".

Neste caso, a pesquisa documental tem como foco informações que estavam disponíveis nas redes sociais, as quais não tinham sido analisadas previamente. Para esses autores, considerando o tipo de informação coletada, a mesma se caracteriza como uma fonte de primeira mão, porquanto, "[...] os documentos de primeira mão como os que não receberam qualquer tratamento analítico, como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc" (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 56). Neste caso, fizemos a análise do "Ranking de pegação", que foi publicado, inclusive, por um jornal da cidade quando as pessoas tiveram acesso ao mesmo.

Portanto, esta pesquisa, de caráter documental, analisou um "Ranking de pegação", que foi divulgado em uma rede social durante a realização de um evento esportivo e cultural realizado por acadêmicos de uma instituição pública da cidade de Goiânia, referente às práticas de relacionamento entre os participantes (SILVA, 2016). O "regimento da competição" apresentava dezenove itens com valoração diferenciada, e a pontuação era definida para cada tipo de associação estabelecida.

A pesquisa caracteriza-se ainda como uma pesquisa qualitativa, haja vista que "Explora características dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente. O dado é frequentemente verbal e coletado pela observação, descrição e gravação" (MOREIRA; CALEFFE, 2006, p. 73).

5 "A PELE EM QUE HABITO": OLHANDO OS DADOS E COMPREENDENDO AS RELAÇÕES EM JOGOS UNIVERSITÁRIOS

O ranking foi elaborado aparentemente pelos próprios universitários que competiam nos jogos internos da instituição. Durante o período desses jogos, havia festas e outros eventos culturais cujo foco era a socialização dos acadêmicos. Assim, a tabela foi criada para contabilizar entre os universitários, prioritariamente do sexto masculino, a quantidade e especificidades das mulheres com as quais eles teriam tido algum contato sexual. Dessa forma, podemos identificar que, inserido em uma esfera menor do contexto dos jogos universitários, existe um jogo de sociabilidade que envolve questões de caráter heteronormativo, no qual os universitários competem entre si, atribuindo pontuação de acordo com as mulheres com as quais eles estabelecem contato sexual.

Nesse contexto, a quantidade de mulheres é um dos critérios que estabelece uma relação relevante para a pontuação das, então, consideradas dentro do padrão estético como as mais bonitas e "gostosas", chegando até aquelas que socialmente teriam menor valor, ou valor negativo, de acordo com sua cor ou peso corporal. Assim, o ranking previa a coisificação feminina e a atribuição de pontuação a mulheres com padrões estéticos estereotipados. O "Ranking da Pegação" apresentado abaixo, sendo objeto de análise neste artigo, apresenta algumas regras, as quais foram disponibilizadas para os participantes de acordo com a descrição realizada na tabela 1.

Tabela 1 Ranking apresentado para os Jogos Internos da instituição 

Item Pontuação
Comeu a mulher (6 pra cima) 30 pontos
Comeu mulher (5 pra baixo) 20 pontos
Ganhou um "bola gato" (imagem que representa sexo oral) 15 pontos
Mulher casada 10 pontos
Mulher gostosa e gata 8 pontos
Mulher que namora 6 pontos
Mulher gostosa e mais ou menos 6 pontos
Arrumou mulher na parceria 5 pontos
Mulher gostosa e feia 4 pontos
Mulher mais ou menos 3 pontos
Mulher pretinha bonitinha 2 pontos
Deu perdido 1,5 pontos por perdido
Mulher feia 1 ponto
Mulher preta mais ou menos 0 pontos
Mulher preta feia - 1 ponto
Mulher gorda - 1 ponto
Casou com a mulher -0,5 ponto por ½ hora
Zerou a noite - 10 pontos
Pegou traveco Eliminado da Competição

Fonte: Silva (2016).

O primeiro ponto de análise centra-se no uso da linguagem pejorativa utilizada na elaboração do "ranking", no qual as mulheres são retratadas como mero pedaço de carne , evidenciando assim a relação de consumo estabelecida a partir da inferiorização à condição de objeto sexual, sendo a relação de "comer" a de maior pontuação na tabela. O tratamento dispensado às mulheres, expresso por meio da linguagem no contexto em análise, contrapõe-se a todas as lutas feministas na conquista por direitos no contexto de suas relações sociais, bem como à profunda compreensão da mulher como ser humano.

A ênfase na "competição" é o segundo ponto de análise, uma vez que, sendo a mulher considerada objeto, a tomada ou a conquista da propriedade de outrem confere significativa pontuação na categoria "mulher casada" e "mulher que namora", evidenciando, novamente, a coisificação da mulher. Quando diz respeito ao fato de os rapazes investirem suas energias em mulheres casadas ou comprometidas, este fator aumenta o nível de pontuação alcançado, assim como a quantidade de mulheres que eles se relacionam sexualmente.

Outro fator, presente no "ranking", diz respeito à valorização de mulheres com corpos esteticamente aceitos, que estão em consonância com os padrões midiáticos difundidos (jovens, magras, altas, brancas, cabelos lisos, entre outros) em detrimento de mulheres fora desse mesmo padrão, ou seja, mulheres representadas nas categorias "Mulher feia", "Mulher preta", "Mulher gorda", "Pegou traveco", entre outras, bem como as não mencionadas e que pertencem a outros grupos étnicos, como as indígenas. Apesar do elucidado neste parágrafo ser uma discussão que abarca a dimensão da raça e da etnia, assim como os padrões estéticos, consideramos necessária e de relevante importância essa dimensão do debate acerca da questão de gênero e sexualidade, visto que ela nos aponta para a complexidade da sociedade brasileira que ainda tem o branco como referência.

Os dados apresentados na tabela e utilizados como mecanismo de "rankeamento" feminino são a expressão do show de horrores que constitui nossa realidade social segregacionista. Visto de longe, isso é a materialização do machismo, o que garante por si sua necessária análise. Porém, é no confronto da subjetividade do conteúdo, contida em cada categoria do "ranking", que nos deparamos com a diversidade de contextos que abrange as relações de ódio às mulheres. Piscitelli (2008), ao discutir algumas possibilidades de análise quanto às relações de poder que situam as mulheres em posições de desigualdade, apresenta dois conceitos possíveis, o de interseccionalidade e o de categorias articuladas, em que, ao citar Kimberlé Crenshaw, ressalta:

A interseccionalidade trataria da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, confluindo e, nessas confluências constituiriam aspectos ativos do desempoderamento. A imagem que ela oferece é a de diversas avenidas, em cada uma das quais circula um desses eixos de opressão. Em certos lugares, as avenidas se cruzam, e a mulher que se encontra no entrecruzamento tem que enfrentar simultaneamente os fluxos que confluem, oprimindo-a. (PISCITELLI, 2008, p. 267)

Nesse sentido, apresentamos a crítica a partir de algumas dimensões presentes no objeto de análise, o Ranking, no qual o corpo feminino negro é tratado em duas instâncias: na primeira, como "preta bonitinha", que, implicitamente, é o corpo que incorpora características fenotípicas da mulher eurocêntrica, ou seja, aquela que, "apesar" de negra, possui lábios e nariz finos; na segunda, como a "preta feia", a que não atende à estética da "negra ideal", sendo então classificada com um ponto negativo. Esse dado nos remete à constituição histórica, em que as determinações sociais se manifestam de forma agressiva, alterando a autoestima e as relações dessas mulheres, substanciando a ideia de que elas são hierarquicamente de menor relevância social. Nesse contexto, a mulher negra estaria em situação de inferioridade ao homem branco, ao homem negro e ainda à mulher branca, sendo essa classificação manifesta não apenas no imaginário social, mas também nos indicadores de desenvolvimento humano (NOGUEIRA, 2000).

O racismo, mesmo com a abolição da escravatura, não foi superado, existindo a necessidade de desconstrução do mito homem/mulher negros na perspectiva sexual em que são marcados por estereótipos negativos. Assim, "[...] a imagem da mulher negra como cronicamente promíscua, uma vez aceita a noção de que os homens negros trazem em si compulsões sexuais irresistíveis e animalescas, toda a raça é investida de bestialidade" (DAVIS, 2016, p. 186). Conforme Davis (2016), as mulheres negras seriam culpadas pelos possíveis estupros, visto que o seu corpo seduzia os homens brancos. Nesse contexto, a concepção de "menor valor", ou, ainda, a invisibilização da mulher negra se perpetua ao longo da história como forma de dizer qual lugar é, ou não, reservado a esse grupo de mulheres, restando à mulher branca uma classificação mais elevada no ranking da objetificação feminina.

Outra categoria marginalizada no ranking refere-se à classificação "mulher gorda", no qual a pontuação é de menos um ponto. Essa desvalorização é reflexo da relação que se estabeleceu entre o corpo gordo e o sujo, resultado da interferência midiática que tende a apresentar termos de mercado como diet, ligth, fit, que estão presentes na linguagem dos jovens e que se fundamentam nessa realidade social. Assim, Freitas (2002) contextualiza a limpeza à beleza do corpo:

Aqui, a limpeza é o sentido que produz efeito sobre a pessoa que não tem dívidas com o tráfico de drogas ou passagem pela polícia (atribuído também pela mídia impressa), e também significa um corpo não poluído pela aparência de gorduras. A mulher jovem desse lugar, apesar das tradições concebidas sobre o corpo, designa o seu desejo de manter uma imagem corporal, para reagir às muitas maneiras que se percebe socialmente rejeitada por outros grupos sociais. (FREITAS, 2002, p. 31)

Esse desejo de se manter magra, sobretudo entre as jovens, é reflexo dessa desvalorização da mulher com peso corporal para além do estabelecido pelos padrões estéticos. Essa desvalorização social pode ter levado os acadêmicos que elaboraram o ranking a atribuir esse valor de consumo a esse corpo que não atende aos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade, sobretudo jovem. O corpo magro feminino apresenta-se como mercadoria de maior valor por refletir os padrões estéticos impostos pelos mais diversos veículos midiáticos. Dessa forma, como a mulher é vista como mercadoria nessa classificação, a "mulher gorda" teria um menor valor, por não atender aos padrões estéticos corporais impostos, resultados de uma construção social que não a concebe como uma mulher "gostosa e gata". Esse é um elemento que demonstra informações como as de Goellner (2003, 2009), as quais demonstram que as mulheres são consideradas belas, tendo como uma das referências a magreza.

Tem-se ainda, no contexto, a questão expressa pela orientação sexual/sexualidade, visto que o fato de se manter relações com um homossexual, travesti, transgênero (descritos como travecos) implica na desclassificação da "competição". Isso demonstra preconceito, traços de homofobia, machismo, entre outras categorias que poderiam ter sido levantadas ao longo do texto, mas não foram feitas por questões de espaço. Mas fica evidente o preconceito declarado na efemeridade do jogo, demonstrando o significativo desprezo atribuído a alguns indivíduos da sociedade e a seus corpos, em que a monstruosidade é associada "[...] às tramas das representações da sexualidade, como homossexual, bissexual, heterossexual duvidoso, ativo, passivo, viril, efeminado, etc" (POCAHY, 2011a, p. 75).

Finalmente, há uma característica muito próxima da lógica quantitativa da reificação apresentada por Lukács (2003): a ideia de que a quantidade de mulheres é um valor mais importante do que a qualidade das relações. Esse dado é expresso pelo número de mulheres com as quais se manteve relações sexuais na noite (seis ou mais, 30 pontos; até cinco, 20 pontos; zerou a noite, menos dez pontos). Além disso, passar muito tempo com a mesma mulher (casou com a mulher) perde-se meio ponto a cada meia hora que se fica com ela. Assim, a efemeridade das relações se caracteriza por relações breves, sem conteúdo, o que caracteriza, em dada medida, a construção de uma subjetividade fragmentada.

Da forma como esta classificação se apresenta, é possível dialogar com Bourdieu (2007), para quem o corpo feminino é um corpo para o outro. Na forma como se estabeleceu a relação desigual entre homens e mulheres, os corpos femininos se tornaram "objetos receptivos, atraentes, disponíveis" (BOURDIEU, 1999, p. 82). No ranking exposto, ficou evidente essa associação díspar em que a mulher foi colocada em evidência como um prêmio a ser obtido pelo primeiro homem que conseguisse seduzi-la. Seu corpo, sob avaliação constante a partir dos parâmetros de saúde e beleza disseminados pela indústria cultural, acaba sendo mensurado pelo olhar cartesiano, comparado e pontuado.

"Os homens dominam coletiva e individualmente as mulheres. Essa dominação se exerce na esfera privada ou pública e atribui aos homens privilégios materiais, culturais e simbólicos" (WELZER-LANG, 2001, p. 461). Tais vantagens permitem a criação e a vulgarização de termos regulamentadores para conquista de mulheres (entre elas a expressão "comer"), demarcando uma visão unilateral, violenta e dominante, que considera todas as categorias elencadas. Essa é uma forma de se identificar algumas características próprias de pessoas com tendências conservadoras e até mesmo fascistas, como diz Adorno (2009, p. 210):

Segundo temos visto, uma saída desta agressividade se produz através do deslocamento para grupos marginais que conduzem à indignação moral e à agressão autoritária. […] a forte agressividade subjacente parece expressar-se ao mesmo tempo de algum outro modo - de um modo não moralizado. (Tradução nossa)

Apesar da aparente naturalização dos termos, os autores do ranking, na realidade, expressam grande agressividade quando apresentam, a partir da classificação e categorização da mulher como objeto sexual, a pressuposição de que as mulheres são influenciáveis e sem compromisso. Eles desconsideram as pessoas com as quais desenvolveram vínculos afetivos e compreendem que existem necessariamente corpos mais belos que outros, ignorando as características etárias, étnicas, de sexualidade, entre outras.

A agressividade notada nos termos do ranking revela, de certo modo, as formas de como as pessoas, incluindo os jovens, se posicionam diante dos jogos biopolíticos, na ideia foucaultiana de normalização da vida, marcando-se as posições de cada sujeito principalmente pela desigualdade, em que os indivíduos passam a ocupar posições "[...] a partir das interpelações de gênero, raça, idade, sexualidade, localidade" (POCAHY, 2016, p. 296). Esse posicionamento engendrado por essa forma de regulação sociocultural das subjetividades acarreta em marcas nos corpos, pois os "[...] discursos de poder-saber inventam e inventariam a realidade de nossos corpos, produzindo materialidades tácitas, ficções do real" (POCAHY, 2011b, p. 28).

O modo fictício de como o corpo da mulher é incorporado na idealização compulsória de gênero "[...] reforça de forma contundente o sexismo e a objetificação veiculados em discursos que hierarquizam as possibilidades de autonomia e de liberdade das mesmas, mas estes não são discursos fixos ou imutáveis" (POCAHY, 2016, p. 296; grifos nossos). Por entender que essas subjetivações socioculturais sejam mutáveis, mesmo diante dos discursos arbitrários, normativos e hierárquicos que as relações sociais impõem aos seres submetidos, Pocahy (2011) aposta na interseccionalidade como caminho que permitirá realizar as articulações das categorias relacionadas com a dominação e as diferenças, ainda encontrando outras formas de produções discursivas nas relações sociais atuais. Possibilita-se assim a elaboração de novas "[...] estratégias epistemológicas na reversibilidade das formas de dominação e hierarquização social" (POCAHY, 2011, p. 20).

Ainda de acordo com Pocahy (2011, p. 20), a interseccionalidade teve seu surgimento na crítica política das práticas feministas da experiência universalista e/ou essencialista, representada pelo feminismo de mulheres brancas e de classe média no interior dos Estados Unidos, a partir das "[...] contestações e oposições de ativistas afro-americanas, chicanas e sul-americanas". A princípio, o movimento do feminismo negro teve o intuito de contestar a situação das desigualdades das mulheres negras em detrimento da hegemonia branca, que as colocavam em situação periférica e minoritária. Mas, posteriormente, foram adicionadas novas argumentações de cunho político, social e cultural, produzindo-se novas articulações interseccionais, o que permitiu "[...] articular um conjunto de outras formas de objetivação de saber-poder" (Ibidem, p. 21).

Outra análise possível diz respeito ao uso prático do corpo. E, nesse sentido, Bourdieu (2007) aponta que existe uma situação envolvendo dominantes e dominados, na qual o primeiro é comumente representado pela figura masculina. Para Welzer-Lang (2001), a assimetria vista nas convivências divide o mundo de forma simbólica, deixando para as mulheres funções desvalorizadas e para os homens os grandes ofícios e, porque não dizer, as conquistas, atribuindo à mulher um papel de submissão das ações, desejos e necessidades masculinas. A dualidade, segundo o autor, é responsável por manter e regulamentar violências qualificadas como triviais ou mesmo naturais.

A dominação masculina, que constitui as mulheres como objetos simbólicos, cujo ser (esse) é um ser-percebido (percipi), tem por efeito colocá-las em permanente estado de insegurança corporal, ou melhor, de dependência simbólica: elas existem primeiro pelo, e para, o olhar dos outros, ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes, disponíveis. (BOURDIEU, 2007, p. 82)

Pierre Bourdieu (2007), ao tratar a questão do feminino como o "ser-percebido", aponta que dentro da estrutura social o corpo é percebido a partir de esquemas que advêm de oposições, como forte e fraco, gordo e magro, feio e belo, entre outros.

A probabilidade de vivenciar com desagrado o próprio corpo [...] o mal estar, a timidez ou a vergonha são tanto mais fortes quanto maior a desproporção entre o corpo socialmente exigido e a relação prática com corpo imposta pelos olhares e as reações dos outros. Ela varia nitidamente segundo o sexo e a posição no espaço social. (BOURDIEU, 2007, p. 81)

O corpo feminino possui uma constituição expressa na cultura de um espaço, demonstração de um modo de produção que não rege apenas as fábricas, mas a forma com que as relações sociais se estabelecem. O modo de produção é o modo de reprodução da vida, como diria Marx e Engels (1998). Nesse sentido, refletir como o corpo feminino vem se constituindo em nossa sociedade é desafio para os que buscam compreender os elementos que delineiam as relações com as mulheres nos dias atuais. E um dos elementos fortes nesse processo é o não reconhecimento do outro como humano, concebendo-o, dessa forma, como objeto. Assim, o sujeito demonstra a habilidade de cometer as maiores atrocidades com relação ao outro, havendo, nesse sentido, a sua reificação, como diria Lukács (2003).

O processo de produção se reflete na cultura, compreendendo-a como espaço de produção, reprodução e consumo em massa, de forma indiscriminada nas diferentes manifestações culturais, que foge do proposto nas obras de arte em sua essência. Assim, quando a mulher cede a esta lógica, muito próximo do que acontece com Juliete, mencionada por Adorno e Horkheimer (1985), ela adere ao processo da racionalidade instrumental, sendo ela própria uma mercadoria sob o olhar masculino. E isso pôde ser identificado na maneira como as mulheres são postas no "ranking".

Nesse momento histórico, determinado pela organização social de produção, sob a égide capitalista na qual tudo se configura como mercadoria, o corpo não foge a esse processo. E, nessa perspectiva, o corpo feminino deve se encaixar em padrões sociais preestabelecidos pela indústria cultural e propagados pelos meios midiáticos. De acordo com Agricola (2011), o corpo feminino não foge a esse processo, definindo-se, pois, como um objeto sujeito à venda. A mulher possuidora do corpo bonito é concebida como produto, como coisa, como invariante da lógica moderna.

A produção do corpo belo é tão imperiosa, que a ideia da beleza pelas características da diferença se perde. Para Adorno (1970), a ideia de dissonância, a qual caracteriza a beleza natural, fica totalmente subsumida à perspectiva da homogeneização, causando, por sua vez, repugnância.

[...] o mais belo rosto de uma rapariga torna-se repugnante mediante a semelhança penetrante com a estrela do cinema, segundo a qual ele seria, de facto, finalmente pré-fabricado: mesmo onde a experiência de algo de natural se dá como a de um indivíduo integral, com se ela estivesse protegida da administração, tem a tendência para mistificar. O belo natural, na época da sua total mediatização, transforma-se na sua caricatura; o respeito da natureza incita antes, perante a sua contemplação, a exercer um ascetismo enquanto o belo natural estiver impregnado das marcas da mercadoria. (ADORNO, 1970, p. 83-84)

Nesse contexto em que o corpo é refém da indústria cultural e que a mesma se manifesta de forma marcante na mídia, compreendemos que esse processo só acontece de forma satisfatória pelo fato de que a mídia é uma instituição formadora, educativa de indivíduos. Nesse sentido, as mulheres como mercadoria são categorizadas em um ranking que define os corpos femininos dentro de padrões estabelecidos pela indústria cultural, que rege diferentes concepções sociais. O que se percebe fortemente é a objetivação do corpo da mulher. Dessa forma, a aparência das mulheres importa mais do que qualquer outro elemento que a defina como indivíduo. A mulher, como a mais bela obra de arte da natureza, perdeu a sua aura, como diria Benjamin (2011).

A objetivação do corpo feminino pode então trazer alguns elementos férteis à nossa reflexão, a estereotipia da mulher estabelecendo para ela padrões estéticos irreais. Esse processo contribui para a hostilização da mulher em detrimento do seu peso, cabelo, cor, formato do corpo, etnia, orientação sexual e outros elementos que permeiam o corpo físico, biológico, como é possível identificar na postagem feita durante o evento em análise.

Destarte, as próprias mulheres, submetidas às concepções pautadas pela racionalidade instrumental apresentada pela indústria cultural, presente nos escritos de Adorno e Horkheimer (1985), tendem à auto-objetivação, e a objetivar as outras mulheres, o que acarreta problemas relacionados à autoestima e socialização. É, em dado sentido, a ideia expressa pelo amor-ódio pelo corpo.

[...] na relação do indivíduo com o corpo, o seu e o de outrem, a irracionalidade e a injustiça da dominação reaparecem como a crueldade, que está tão afastada de uma relação compreensiva e de uma reflexão feliz, quanto a dominação relativamente à liberdade. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 217)

Dessa maneira, a forma como as pessoas constituem as suas relações sociais, afetivas e sexuais, é caracterizada pelos níveis de irracionalidade, crueldade e dominação, sobremaneira, do homem sobre a mulher. Assim, é possível ainda afirmar:

A transformação em algo de morto, que se anuncia em seu nome, foi uma parte desse processo perene que transformava a natureza em matéria e material. As obras da civilização são o produto da sublimação, desse amor-ódio pelo corpo e pela terra, dos quais a dominação arrancou todos os homens. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 218)

Esse processo é vinculado à construção de uma cultura patriarcal, na qual a mulher deve dar satisfação ao homem em todos os aspectos, entre eles, e principalmente, o sexual. Diante desse padrão de exigência, ela tende a se empenhar para manter seu corpo atraente, concebendo o seu corpo e o de outras mulheres como objetos de satisfação de desejo sexual, aspecto responsável por se configurar como processo de auto-objetivação.

Assim, a mulher, pela imposição midiática, pelas construções sociais nas quais ela está inserida, acaba por internalizar essa objetivação de si, compreendendo-a como "natural", apesar de nem sempre perceber que essa reivindicação é trazida da dimensão cultural da existência. Ademais, mesmo com a expressão feminina na busca pela igualdade social, a diminuição da mulher e sua discriminação em detrimento de seu sexo ainda é uma constante histórica. Nogueira (2011) nos remete ao fato de que com a entrada da mulher em diferentes espaços, embora represente mudanças estruturais em nossa sociedade, a função feminina pouco mudou, muito menos representou uma alteração em seu status social. A divulgação do ranking demonstra que, pelo menos sob o olhar fascista, machista e heteronormativo do grupo responsável pela divulgação da classificação apresentada, a mulher ainda mantém a sua condição de submissão e passividade frente ao desejo masculino.

No entanto, a forte constituição cultural, expressa e reproduzida pela mídia, reflete na classificação objetiva feminina, estabelecendo critérios que elevam sua imagem de acordo com os elementos considerados mais aceitos na sociedade, demonstrando, destarte, as contradições e a espiral da história. Sobretudo no contexto de conservadorismo presente no Brasil, a indústria cultural se apodera do corpo feminino como mercadoria, que no limite se torna fetiche, constituindo um processo de sedução e que, em certa medida, envolve ainda a representação social que a mulher simboliza. Essa informação parece ser tirada do princípio do século XX, quando a mulher precisava demonstrar as suas características de submissão, pureza e recato, mesmo quando acumulava junto o papel de mãe, trabalhadora e esposa prestigiosa (HASSE, 2009; GOELLNER, 2003, 2009).

Quanto mais "bonita", adequada ao que a mídia estabelece, maior a conquista masculina, considerando esse corpo, que é marginalizado, instrumentalizado e objetivado pelo homem, que deseja ser aceito dentro de um grupo em que o foco é a "pegação". Desse modo, tem-se a sensação de que a mulher continua presa aos cânones do antigo regime, como é demonstrado nas relações apresentadas por Matthews-Grieco (2008).

A mídia tende, pois, a produzir e reproduzir condições de dominação feminina, que se revelam e refletem nas relações pessoais e sociais. A mulher é instrumento em propagandas, como as de cervejas, por exemplo (COSTA; SOUZA, 2011; LAHNI; AFONSO, 2016). Desse modo, reféns de certa visibilidade, elas sugerem um padrão de beleza que é inculcado no imaginário masculino, que, no caso aqui analisado, o leva a lhes categorizar e atribuir valor meramente como um objeto para o seu prazer.

6 CONCLUSÃO: "E DEPOIS DO COMEÇO [...] O QUE VIER VAI COMEÇAR A SER O FIM [...]"

Ao analisar a relação presente entre o gênero feminino e a cultura em um evento esportivo e cultural na cidade de Goiânia, fica bastante evidente, na construção deste texto, que o "ranking de pegação" apresentado é uma demonstração inequívoca de um contexto conservador do ponto de vista das relações de gênero, etnia e sexualidade.

Ainda que o objetivo do texto seja analisar, de maneira mais detida, as questões de gênero, uma vez que este foi o foco inicial, é importante destacar o fato de que a compreensão sobre gênero, sexualidade e etnia demonstra, por parte dos responsáveis pela classificação apresentada, total desrespeito ao ser humano e à sua diversidade. E isso passa, segundo Resende (2009), pela construção de uma subjetividade fragmentada.

Portanto, estabelecer um "ranking de pegação", como o divulgado por Silva (2016), representa desrespeito aos direitos humanos, mau gosto e crime. Analisar esse contexto demonstra a necessidade de se rever a perspectiva dos direitos humanos no Brasil, bem como a emergência de outras categorias de análise na elaboração e compreensão acerca das múltiplas dimensões que compõem a questão do ódio ou o "não amor" às mulheres, como apresenta Piscitelli (2008) ao evidenciar os conceitos de interseccionalidade e categorias articuladas.

Revisão gramatical do texto sob responsabilidade de: Varlene Rocha Brandão Bandeira

E-mail: bandeiravrb@gmail.com

Letras/UFG e Biblioteconomia/UFG

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Recebido: 02 de Março de 2017; Aceito: 22 de Outubro de 2018

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