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ETD Educação Temática Digital

versão On-line ISSN 1676-2592

ETD - Educ. Temat. Digit. vol.21 no.3 Campinas jul./set 2019  Epub 23-Set-2019

https://doi.org/10.20396/etd.v21i3.8652226 

RELATO DE EXPERIÊNCIA

PRÁTICAS EDUCATIVAS NO CONTEXTO DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: UMA EXPERIÊNCIA FORMATIVA COM EDUCADORES DO CAMPO

EDUCATIONAL PRACTICES IN THE CONTEXT OF THE PEDAGOGY OF ALTERNATION: A TRAINING EXPERIENCE WITH FIELD TEACHERS

PRÁCTICAS EDUCATIVAS EN EL CONTEXTO DEL PEDAGOGÍA DE ALTERNANCIA: UNA EXPERIENCIA FORMATIVA CON EDUCADORES DEL CAMPO

Cícero da Silva1 

1Doutor em Letras Ensino de Língua e Literatura - Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Araguaína, TO - Brasil. Professor Adjunto - Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Tocantinópolis, TO - Brasil. E-mail: cicolinas@yahoo.com.br


RESUMO

Neste trabalho, apresentamos reflexões sobre o projeto “Práticas educativas no contexto da Pedagogia da Alternância”, vinculado ao curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus de Tocantinópolis, desenvolvido na Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo (EFABIP), situada em Esperantina-TO. Essa ação objetivou proporcionar aos participantes uma formação com enfoque nas práticas didático-pedagógicas da Pedagogia da Alternância, execução de Instrumentos Pedagógicos da alternância, Educação do Campo, sustentabilidade, Arte e estética camponesa e Mística. O curso foi dividido em dois módulos e totalizou 30 (trinta) horas, sendo os participantes: 10 (dez) professores e 04 (quatro) técnicos da EFABIP, 06 (seis) discentes da UFT e 04 (quatro) atores sociais da comunidade. A avaliação final respondida pelos participantes mostrou que a formação proporcionou a eles contribuições significativas relacionadas ao aperfeiçoamento de práticas educativas recorrentes no sistema educativo da alternância, além do curso realizado ter sido um espaço importante para o diálogo entre escola e universidade.

PALAVRAS-CHAVE: Educação do Campo; Formação de professores; Práticas pedagógicas; Alternância

ABSTRACT

In this paper, we present reflections on the project "Educational Practices in the Context of Pedagogy of Alternation", linked to the Higher Degree Courses in Rural Education: Arts and Music, by Federal University of Tocantins (UFT), Campus de Tocantinópolis, developed in a school named Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo (EFABIP), located in Esperantina-TO. This action aimed to provide participants with a training focused on the didactic-pedagogical practices of the Alternation Pedagogy, execution of Pedagogical Instruments of the alternation, Rural Education, sustainability, Art and peasant aesthetics, and Mysticism. The course was divided into two modules and totalled 30 (thirty) hours, and its participants were: 10 (ten) teachers and 04 (four) technicians from EFABIP, 06 (six) UFT students and 04 (four) social actors from the local community. The final evaluation answered by the participants showed that the training provided them with significant contributions related to the improvement of recurrent educational practices in the educational system of alternation, besides the course having been an important space of dialogue between school and university.

KEYWORDS: Rural Education; Teacher training; Pedagogical practices; Alternation

RESUMEN

En este trabajo, presentamos reflexiones sobre el proyecto "Prácticas educativas en el contexto de la Pedagogía de la Alternancia", vinculado al curso de Licenciatura en Educación Rural: Artes y Música, de la Universidad Federal de Tocantins (UFT), Campus de Tocantinópolis, desarrollado en la Escuela Familia Agrícola del Bico del Papagayo Padre Josimo (EFABIP), situada en Esperantina-TO. Esta acción objetivó proporcionar a los participantes una formación con enfoque en las prácticas didáctico-pedagógicas de la Pedagogía de la Alternancia, ejecución de Instrumentos Pedagógicos de la alternancia, Educación Rural, sustentabilidad, Arte y estética campesina, y Mística. El curso fue dividido en dos módulos y totalizó 30 (treinta) horas, siendo los participantes: 10 (diez) profesores y 04 (cuatro) técnicos de la EFABIP, 06 (seis) discentes de la UFT y 04 (cuatro) actores sociales de la comunidad. La evaluación final respondida por los participantes mostró que la formación les proporcionó contribuciones significativas relacionadas con el perfeccionamiento de prácticas educativas recurrentes en el sistema educativo de la alternancia, además del curso haber sido un espacio importante de diálogo entre escuela y universidad.

PALAVRAS CLAVE: Educación Rural; Formación de profesores; Prácticas pedagógicas; La alternancia

1 PALAVRAS INICIAIS

Neste trabalho, apresentamos reflexões com base em nossas experiências formativas nas atividades inerentes ao projeto “Práticas educativas no contexto da Pedagogia da Alternância”, um curso de extensão desenvolvido na Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo (doravante EFABIP), em Esperantina-TO, município situado na microrregião do Bico do Papagaio2, extremo norte do Estado do Tocantins. Trata-se de uma formação continuada para educadores do campo desenvolvida (entre 29 de abril de 2016 a 09 de setembro de 2016) por uma equipe constituída de 04 (quatro) professores vinculados ao curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Universitário de Tocantinópolis.

As escolas do campo, enquanto espaços de formação que atendem aos camponeses, devem alinhar suas práticas didático-pedagógicas à realidade social, cultural, econômica e aos saberes do seu público alvo (QUEIROZ, 2004; ARROYO, 2011). Para tanto, a formação inicial e continuada dos educadores para atuação nesse contexto de ensino é primordial. Assim, um dos papéis do curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música da UFT, por meio do seu corpo docente e com apoio da própria universidade, é promover ações por intermédio de projetos de pesquisa e extensão capazes de chegar até essas escolas, a fim de conhecermos a realidade da escola, promovermos formações continuadas e fortalecermos a Educação do Campo, sobretudo, na microrregião do Bico do Papagaio.

Para tanto, os cursos de Licenciatura em Educação do Campo devem estabelecer vínculos estreitos e parcerias com as Escolas Famílias Agrícolas (doravante EFA) e demais escolas de Educação Básica situadas no campo. Dentre as frentes de atuação desse tipo de curso, podemos citar a necessidade de fomentar ou articular, com a participação direta da comunidade, a construção da organização escolar e do trabalho pedagógico para as escolas do campo (MOLINA; SÁ, 2011; SILVA et al., 2017). Visto que esses cursos de licenciatura objetivam, especialmente, preparar educadores para atuar na docência nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, bem como a gestão de processos educativos escolares no contexto do campo. Segundo Silva et al. (2017), a UFT - por intermédio do curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música - apresenta-se engajada nessa proposta de formação de educadores para atender as demandas das escolas do campo.

Nesse sentido, o curso intitulado “Práticas educativas no contexto da Pedagogia da Alternância”3 caracteriza-se como uma ação de extensão capaz de fortalecer o fazer pedagógico na escola-campo, contribuindo para a formação continuada dos professores e dos técnicos que ali atuam, como também de outros atores sociais da comunidade. Ao enfocar os princípios teórico-metodológicos da Pedagogia da Alternância (PA), seus Instrumentos Pedagógicos (IP), a Educação do Campo e sustentabilidade, a Arte e estética camponesa, a Mística no contexto de ensino da alternância, considerando a realidade da EFABIP, as contribuições voltadas para as práticas didático-pedagógicas são importantes tanto para os professores (monitores4 dessa EFA), quanto para os alunos que estudam nessa escola. Ademais, as atividades realizadas pelo curso favorecerão aos monitores a conhecer um pouco melhor, sobretudo, os Instrumentos Pedagógicos da PA e sua implementação, a exemplo do (1) Plano de Estudo, (2) Colocação em comum, (3) Intervenção externa, (4) Visita de estudo, (5) Caderno da Realidade (CR) entre outros. Certamente, isso favorecerá o fortalecimento da alternância na EFABIP e a compreensão da importância desses Instrumentos Pedagógicos nos processos formativos das crianças e dos jovens camponeses que ali estudam.

Conforme exposto anteriormente, o propósito principal do curso foi promover uma formação e reflexões sobre o uso e implementação dos diferentes Instrumentos Pedagógicos da PA nas atividades desenvolvidas no Tempo Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC) (SILVA, 2018). Nesse sentido, entendemos que se faz necessário promovermos ações voltadas à formação inicial e continuada de educadores do campo, mas considerando ainda a proposta teórico-metodológica da PA, seu contexto social, os IP e a Educação do Campo, de modo que os resultados possam figurar na melhoria do processo ensino-aprendizagem dos estudantes na Educação Básica.

O trabalho contém a introdução e traz outras duas partes. A primeira apresenta a perspectiva teórico-metodológica baseada nos princípios da PA. Já a segunda parte expõe uma caracterização da EFABIP e explicita a metodologia utilizada na formação continuada, bem como algumas evidências de atividades desenvolvidas no curso. Por último, tecemos algumas considerações a respeito da ação.

2 A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E SUA PROPOSTA FORMATIVA

A Pedagogia da Alternância (PA) é um sistema educativo que surgiu na década de 1930, no interior da França (GIMONET, 2007), com a criação das primeiras Maisons Familiales Rurales (Casas Familiares Rurais), conhecidas atualmente no Brasil como Escolas Famílias Agrícolas (EFA) e Casas Familiares Rurais (CFR).

A PA é reconhecida pelos movimentos sociais como uma Pedagogia própria e apropriada a uma educação crítico-emancipatória destinada à formação dos povos do campo. No Brasil, essa pedagogia tem início em 1969, a partir da ação do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES) que resultou na criação de 03 (três) Escolas Famílias Agrícolas (EFA) no norte capixaba. De lá para cá, o movimento expandiu e, em 2008, o Brasil já contava com aproximadamente 263 (duzentas e sessenta e três) unidades educativas que praticavam a alternância (GARCIA-MARIRRODRIGA; PUIG-CALVÓ, 2010). Ao longo de sua trajetória, a alternância tem-se constituído como uma referência pedagógica para a formação em cursos de diferentes níveis e nos movimentos sociais. Recentemente, tem fundamentado também cursos de graduação específicos em Educação do Campo nas diversas áreas do conhecimento em mais de 42 (quarenta e duas) universidades públicas brasileiras (SILVA et al., 2017; SILVA, 2018). Assim, a relevância ímpar deste tipo de curso está em discutir com os atores sociais do campo e tentar aperfeiçoar as práticas educativas desse contexto específico, como forma de potencializar, também, o uso dos Instrumentos Pedagógicos da alternância.

Uma vez que devemos considerar que a proposta de formação criada pela PA introduziu dois espaços formativos diferentes (GIMONET, 2007; RIBEIRO, 2008), representados pelo: Tempo Escola - TE (período de aulas nos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA5) articulado entre estudo, pesquisa e propostas de intervenção) e o Tempo Comunidade - TC (período de vivência na propriedade/comunidade, pesquisa de estudo, realização de experimentos, trabalhos coletivos, entre outras atividades), todos estes tempos estão integrados com os IP. Nesse processo, os IP - gestados nas experiências da PA ao longo dos últimos 80 anos - têm papel importante e facilitam o ensino-aprendizagem de gêneros orais e escritos, como é o caso da produção do gênero Caderno da Realidade6. Evidentemente, a PA possibilita às crianças e aos jovens oriundos do meio rural aprender não só por meio de conhecimentos teóricos sistematizados, mas também saberes ligados à realidade cotidiana (ESTEVAM, 2003; QUEIROZ, 2004; GIMONET, 2007; SILVA, 2018). Ou seja, na perspectiva da PA pensa-se a formação dos atores sociais de maneira integral, inseridos em uma relação dialógica nas práticas educativas.

Dessa forma, a Pedagogia da Alternância é um sistema educativo que contempla e articula diferentes valores e experiências formativas na construção do conhecimento (GIMONET, 2007; SILVA, 2018). Por isso, os estudantes devem participar de atividades formais na sessão escola (TE) durante uma semana, nos três períodos, em regime de internato. Na semana seguinte, ou sessão família/comunidade (TC), realizam-se as atividades próprias do meio social em que vive, trocam-se experiências associando-se o saber científico com o popular, de forma que os dois ambientes favoreçam a construção do conhecimento (RIBEIRO, 2008; SILVA, 2018).

Para a articulação das práticas educativas na PA, os Instrumentos Pedagógicos - em especial os escritos - são os dispositivos de ação que possibilitam ao estudante interagir com a família, com os parceiros da formação, com o conhecimento científico e com o meio socioprofissional e cultural de maneira ativa, como buscar a formação integral e atuação para o desenvolvimento local (SILVA; ANDRADE; MOREIRA, 2015; SILVA, 2018; SILVA; GONÇALVES, 2018). Para enfatizar a relevância desses instrumentos nos processos formativos da alternância, podemos dialogar com Magalhães (2009, p. 122) quando diz que:

[...] a educação transdisciplinar é uma proposta educacional da e para a libertação, pois objetiva a conscientização dos sujeitos ao promover uma vivência que permite e estimula a religação das pessoas, dos eventos, e das pessoas aos eventos; que reconhece a submissão à dinâmica que emerge da interação com a realidade, e do poder sobre ela, poder de buscar sustentabilidade para as vidas e para a vida sobre o Planeta, de maneira comprometida e ética.

Assim, conforme o Projeto Político-Pedagógico (PPP) de cada Escola Família Agrícola (EFA), podemos encontrar alguns Instrumentos Pedagógicos (IP) básicos que medeiam o processo ensino-aprendizagem, conforme apresentado por Silva (2018): (1) Plano de Estudo, (2) Colocação em comum, (3) Caderno da Realidade, (4) Visita de estudo, (5) Visita à Família, (6) Projeto Profissional do Jovem, (7) Intervenção externa, (8) Atividade de Retorno, (9) Acompanhamento Individual, (10) Avaliação Semanal, (11) Caderno de Acompanhamento e (12) Cursos. Somada a estes IP, a Mística também é muito importante para Alternância e a Educação do Campo em geral.

Em função de nosso curso de extensão focalizar práticas educativas no contexto de ensino da PA, interessa-nos aqui os IP mais importantes e que envolvem diretamente a escrita de textos em uma EFA. Por sua vez, o Plano de Estudo constitui o principal instrumento que possibilita articulação efetiva entre: casa-escola, conhecimentos empíricos e teóricos, trabalho e estudo (GIMONET, 2007; SILVA, 2018; SILVA; GONÇALVES, 2018). Conforme Gimonet (2007), esse plano é um caminho de mão-dupla, uma vez que traz, por meio dos textos produzidos pelos estudantes, os conhecimentos da cultura popular para a EFA e a outra é responsável por levar para a vida cotidiana no meio socioprofissional as reflexões aprofundadas na escola. No final, ou início de cada ano o CEFFA define (com a participação de monitores, estudantes e pais) os temas geradores para cada Alternância, ou seja, os Planos de Estudo a serem pesquisados em casa ou no meio familiar/socioprofissional durante um ano letivo.

Visto que o Caderno da Realidade (CR), por acumular os registros de conhecimentos sobre a realidade vivenciada pelos estudantes, nasceu da necessidade de sistematizar a pesquisa (SILVA; MOREIRA, 2011; SILVA, 2018); nele, crianças e jovens registram todas as suas reflexões e estudos aprofundados sobre os temas geradores dos Planos de Estudo, o que também envolve Instrumentos Pedagógicos como a Colocação em comum, a Visita de estudo e a Intervenção externa. Posteriormente, todas as ações ou atividades desenvolvidas são registradas no Caderno da Realidade (CR).

Como ressalta Silva (2018), para o CR existir são necessárias diferentes atividades de linguagem empreendidas em diferentes esferas, como na escolar, na familiar e na comunidade. Em geral, os CR produzidos em uma EFA são compostos de registros referentes às atividades vinculadas a 08 (oito) PE desenvolvidos ao longo do ano letivo, situados no mesmo eixo temático e divididos em micro temas. O gênero Caderno da Realidade é, de fato, um instrumento fundamental para a PA cumprir (em parte) seus objetivos quanto ao ensino da produção escrita (SILVA; ANDRADE; MOREIRA, 2015). Por isso nossa formação deu grande ênfase a esses Instrumentos Pedagógicos da PA nas práticas educativas, já que o público principal do curso é formado por monitores e técnicos da EFABIP.

Portanto, nosso curso permitiu não só conhecer os docentes da EFABIP e parte das atividades desenvolvidas nesse CEFFA, mas, sobretudo, favorecer o aperfeiçoamento da execução dos Instrumentos Pedagógicos da PA nessa EFA, a compreensão da Educação do Campo como também de outros temas vinculados ao projeto de extensão.

3 A ESCOLA-CAMPO E O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

A ideia de desenvolver o projeto de extensão “Práticas educativas no contexto da Pedagogia da Alternância” na EFABIP, por um lado, surgiu de nossas experiências envolvendo a formação na Educação Básica e Ensino Superior, sobretudo a partir das pesquisas que desenvolvemos na Alternância no Estado do Tocantins, a exemplo dos trabalhos de Silva e Moreira (2011), Silva, Andrade e Moreira (2015), Silva et al. (2017), Silva (2018) e Silva e Gonçalves (2018). Por outro lado, foi motivada pelo fato de termos acompanhado de perto, desde o ano de 2014, a luta pela abertura das portas da referida escola do campo, em março de 2016, finalmente, concretizou-se o início das atividades da EFABIP e ao sabermos que os futuros monitores desse CEFFA não tinham formação específica sobre práticas didático-pedagógicas na Alternância e Educação do Campo.

3.1 A Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo (EFABIP)

A Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo (EFABIP) iniciou suas atividades no final do mês de março de 2016, sendo inaugurada oficialmente no dia 16 de abril de 2016. Contudo, suas instalações foram entregues pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) à Prefeitura do município de Esperantina-TO em 10 de fevereiro de 2012. Por estar situada em um município que se localiza dentro do Território da Cidadania do Bico do Papagaio, o MDA destinou os recursos necessários para construção da escola, conforme solicitação do Comitê dos municípios que fazem parte desse território.

A unidade de ensino foi entregue mobiliada à comunidade em 2012, porém permaneceu durante 04 (quatro) anos com as portas fechadas, deteriorando, sem sequer efetivar a matrícula de um aluno. Embora estivesse ao longo desses anos sob tutela da Prefeitura de Esperantina, o funcionamento dessa EFA não aconteceu. No entanto, desde que foi entregue em 2012 a Presidente da Associação da EFABIP e lideranças dos movimentos sociais do campo da região articularam reuniões e tentaram estabelecer convênio com a Secretaria de Estado da Educação do Tocantins (SEDUC-TO) para iniciar as aulas, porém, o vínculo com o município impedia a celebração de qualquer convênio com o Estado.

Fonte: Pesquisa do autor (2014).

Figura 1 Ala de salas de aula da EFABIP em 20147  

Fonte: Pesquisa do autor (2016).

Figura 2 Solenidade de Inauguração da EFABIP em 20168  

Felizmente, depois de muita luta e articulação da Presidente da Associação EFABIP e representantes dos movimentos sociais junto às esferas municipal e estadual, em 2016 a Prefeitura de Esperantina assinou um Termo de Comodato em que cede, por um período de 10 (dez) anos, toda a estrutura da EFABIP à SEDUC-TO.

Tão logo o acordo se concretizou, a SEDUC-TO fez reparos nas instalações do prédio e realizou a seleção dos monitores (professores formadores) e demais funcionários para atuarem na escola, ao passo que uma formação de curta duração para os monitores aconteceu na última semana de março de 2016 e foi ministrada por um técnico (com formação em Alternância) da SEDUC-TO. Isso porque os monitores recém-contratados não tinham formação na área de alternância e as aulas desse CEFFA tiveram início no dia 04 de abril de 2016, com 04 (quatro) turmas matriculadas no Ensino Fundamental II (6º, 7º, 8º e 9º anos) e 03 (três) no Ensino Médio (1º, 2º e 3º anos), totalizando 148 alunos.

Por sua vez, desde que a EFABIP entrou na agenda de reivindicações dos movimentos sociais do campo da microrregião do Bico do Papagaio, o projeto tinha a proposta da escola assumir o sistema educativo da PA, o qual de fato se concretizou. Evidentemente, a alternância possibilita não só a oportunidade para que crianças e jovens camponeses frequentem a escola sem deixar o seio familiar, mas também estudarem em uma unidade educativa em que sua proposta formativa é pensada sob a ótica da realidade camponesa, conforme defendido pela Educação do Campo (ARROYO, 2011). Contudo, entendemos que implementar o ensino orientado pela alternância, especialmente onde não há profissionais com formação específica sobre Pedagogia da Alternância ou Educação do Campo, torna-se um desafio.

3.2 A metodologia e o curso “Práticas educativas no contexto da Pedagogia da Alternância”

O curso desenvolvido por meio de projeto intitulado “Práticas educativas no contexto da Pedagogia da Alternância”, caracterizado anteriormente como ação de extensão capaz de fortalecer o fazer pedagógico na perspectiva da alternância na EFABIP, mirou como propósito contribuir com a formação continuada dos monitores (professores formadores) e dos técnicos vinculados a esse CEFFA, consequentemente, para outros atores sociais da comunidade que circunscreve a escola. Portanto, cabe-se delinearmos a constituição e etapas de desenvolvimento do curso.

Ao focalizar os princípios teórico-metodológicos da Pedagogia da Alternância (PA), seus Instrumentos Pedagógicos (IP), a Educação do Campo e sustentabilidade, a Arte e estética camponesa e a Mística no contexto de ensino da alternância, considerando a realidade da EFABIP, as contribuições do curso voltadas para as práticas didático-pedagógicas são importantes tanto para os monitores e técnicos desse CEFFA, quanto para a comunidade em geral, a exemplo de nossos 06 (seis) alunos vinculados ao curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música da UFT, Campus de Tocantinópolis, que participaram da formação.

Adjunto aos 10 (dez) monitores e 04 (quatro) técnicos da EFABIP, 06 (seis) discentes da licenciatura focalizada e 04 (quatro) pessoas da comunidade participaram da formação. As atividades do curso tiveram carga horária total de 30 (trinta) horas, sendo desenvolvidas em dois módulos distintos: o primeiro em abril e, o segundo, em setembro de 2016. Entre um módulo e outro, os cursistas, também, desenvolveram atividades vinculadas à formação, como organização de místicas.

A apresentação da proposta dessa ação, conforme enunciamos anteriormente, está ligada diretamente às pesquisas que desenvolvemos sobre a Pedagogia da Alternância e seus Instrumentos Pedagógicos, letramento, escrita de gêneros discursivos como o Caderno da Realidade e a Educação do Campo. Seguindo essa linha de pensamento, particularmente, como professor de Língua Portuguesa e Leitura e Produção de Texto de curso de graduação, sabemos da importância e necessidade de desenvolvermos esse projeto, o qual traz em seu escopo temáticas que se vinculam, direta ou indiretamente, ao currículo do curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFT e da escola-campo.

Em decorrência disso, articulamos no curso experiências de ensino vinculadas ao contexto da PA, de modo que esta ação de extensão proporcionasse contribuições significativas para os atores sociais contemplados. O curso possibilitou a formação necessária e contínua de docentes e técnicos que atuam na EFABIP, e também provocou oportunidade de reflexão por parte da equipe proponente (docentes e alunos da UFT) da ação para a reavaliação de suas práticas, inclusive de docência na universidade.

As aulas foram ministradas por quatro 04 (quatro) professores do curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música da UFT, Campus de Tocantinópolis, conforme ilustrado no Quadro 1:

Quadro 1 Cronograma de atividades 

TEMAS E DOCENTES FORMADORES
Temas do 1º Módulo: abril/2016 1. Educação do campo, seu contexto sócio-histórico e desafios.
Prof. Dr. Maciel Cover
2. A formação na perspectiva da Pedagogia da Alternância;
3. Instrumentos Pedagógicos da Pedagogia da Alternância.
Prof. Dr. Cícero da Silva9
4. Arte e estética camponesa, e mística na Educação do Campo.
Profª. Ma. Cássia Ferreira Miranda
Temas do 2º Módulo: setembro/2016 1. Escrita do gênero Caderno da Realidade na Pedagogia da Alternância;
2. Perspectiva docente e tipologias de correção de textos de aluno: repensando a prática.
Prof. Dr. Cícero da Silva
3. Educação do Campo, lutas sociais e sustentabilidade.
Prof. Me. Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus

Fonte: Pesquisa do autor (2016).

Ao pensarmos os temas do projeto apresentados no Quadro 1, levamos em consideração tanto a necessidade de contemplar as demandas de formação dos monitores e técnicos da EFABIP, quanto a disponibilidade dos professores formadores da UFT com experiência nas temáticas e, ainda sim, que pudessem contribuir. Nesse âmbito cada um dos colaboradores da nossa equipe possui formação em área distinta, mas com vínculo direto (em pesquisa e ensino) com o tema que ministraram no curso, a saber: (1) Cícero da Silva (Letras/Pedagogia da Alternância), Cássia Ferreira Miranda (História/Artes), Maciel Cover (Educação/Sociologia) e Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus (Geografia/Educação ambiental).

Com a finalidade de desenvolver cada um dos temas previstos no cronograma do curso diversas atividades foram realizadas pelo professor Coordenador responsável e pelos demais colaboradores, tais como: (1) Aulas expositivas; (2) Leituras teóricas; (3) Atividades práticas; (4) Socialização de atividades desenvolvidas; e (5) Reflexões coletivas. Nesse sentido, conforme definido no projeto, o Coordenador da ação e demais professores colaboradores, além dos estudantes responsáveis pela monitoria, assumiram, respectivamente, as seguintes atividades:

Quadro 2 Atividades e atribuições dos colaboradores 

COLABORADOR DA AÇÃO ATIVIDADES
01 Coordenador do projeto Ao professor Coordenador da ação, coube, entre outras atividades:
- Elaborar o projeto do curso e registrá-lo no SIGPROJ;
- Planejar o curso de formação;
- Preparar e organizar material do curso;
- Reunir-se com a equipe (diretor, coordenadora, professores) da escola-campo periodicamente;
- Promover reunião com a equipe executora da ação na universidade;
- Organizar horário e espaço das aulas do curso com o apoio da equipe da escola-campo;
- Orientar o trabalho de dois discentes que fizeram a monitoria do curso;
- Ministrar aulas/conteúdos do curso na escola-campo;
- Emitir certificados e elaborar relatório da ação.
02 Professores formadores do projeto Dentre as atividades desenvolvidas pelos professores formadores, podemos elencar:
- Planejar atividades do curso de formação;
- Preparar e organizar material do curso;
- Reunir-se com os membros da equipe do curso de extensão periodicamente na universidade;
- Ministrar aulas/conteúdos do curso na escola-campo;
- Avaliar os resultados da ação.
03 Estudantes voluntários - Desenvolver trabalho de monitoria durante as aulas do curso de formação;
- Auxiliar os participantes do curso no desenvolvimento de atividades;
- Dar apoio à equipe de formadores do curso.

Fonte: Pesquisa do autor (2016).

Em diálogo constante com o professor Coordenador do curso, os professores formadores e os estudantes responsáveis pela monitoria realizaram leitura e compreensão dos princípios teórico-metodológicos da Pedagogia da Alternância, bem como de seus principais Instrumentos Pedagógicos, da Educação do Campo e demais temas previstos no cronograma de atividades (ver Quadro 1). Tais ações foram fundamentais para o planejamento e sucesso das atividades.

Procedendo assim os monitores (docentes da EFABIP), técnicos e estudantes cursistas, conforme as atividades previstas em cada um dos módulos do projeto, desenvolveram estudos, realizaram atividades, prepararam e apresentaram Místicas, e participaram das discussões em diferentes momentos a partir da leitura e compreensão das práticas educativas do quadro teórico-metodológico assumido no curso, assim como aquelas vivenciadas em sala de aula.

Ao final do último módulo da formação realizado em setembro de 2016, os docentes e técnicos da EFABIP, os estudantes da UFT e outros atores sociais da comunidade participantes da ação realizaram uma Avaliação do curso, a qual foi muito positiva. Mesmo que no contexto educacional, a avaliação ainda seja vista como um processo delicado devido as suas dimensões, devemos encará-la como uma prática social, intersubjetiva e carregada de valores (SOBRINHO, 2008).

Tendo em vista a importância da avaliação para o curso de extensão, assumimos a avaliação como uma “prática social polissêmica que não se limita ao conhecimento e ao processo ensino-aprendizagem” (SOBRINHO, 2008, p. 193). Acreditamos que esse tipo de avaliação favorece não só um diálogo efetivo entre formador, educando e os saberes a serem produzidos/aprendidos, mas também, que ela possa ser capaz de produzir sentidos, sobretudo a respeito das finalidades essenciais da educação. Dito de outra forma, “Aplicada à educação, esse processo de comunicação, que também é uma produção social de sentidos, fundamenta e reforça a capacidade de ação de indivíduos, de grupos sociais e do próprio Estado” (SOBRINHO, 2008, p. 197-198). Nessa perspectiva, ainda segundo o autor, a avaliação se torna um importante instrumento de comunicação entre os diferentes atores sociais, cujo propósito é compreender, valorizar e transformar uma dada realidade. Em nosso caso, a ação de extensão criou espaço, por meio da avaliação, para reflexões individuais e coletivas.

Fundamentando-se nessas diretrizes, criamos um formulário de avaliação (ver Apêndice A) para os participantes do curso responderem, o qual contempla: (i) a relevância dos temas desenvolvidos no 1º e 2º módulos do curso para formação dos participantes, (ii) a didatização assumida pelos professores formadores nas atividades e (iii) questões abertas.

Na primeira parte da avaliação, há opções de repostas “fechadas” em que os cursistas poderiam assinalar a opção mais condizente com sua opinião: “Excelente”, “Bom”, “Regular” e “Inadequado”. Após condensarmos as respostas de todos os participantes que responderam o formulário de avaliação, observamos que predominou a opção de resposta “Excelente”, seguida de “Bom”. Por um lado, entendemos que as opções didáticas adotadas por cada um dos nossos colegas formadores contribuíram para o sucesso da formação. Por outro lado, embora tenhamos realizado uma visita à EFABIP em março de 2016 e discutido apenas com a Diretora e a Coordenadora pedagógica desse CEFFA os temas ou conteúdos que objetivávamos desenvolver dentro do projeto do curso, certamente nossas escolhas foram acertadas, pois as atividades envolvendo tais conteúdos atenderam as expectativas dos cursistas. Contudo, precisamos destacar que, por se tratar de uma formação,

O conteúdo adquirido, conforme a pedagogia histórico-crítica, gera um compromisso social. Isto implica que tanto o professor quanto os educandos sejam capazes de encontrar situações em que o novo conteúdo seja posto em prática. Este fazer não significa, necessariamente, ações materiais a serem realizadas, mas pode ser uma nova forma de pensar, de analisar a realidade social, política, educacional (GASPARIN, 2011, p. 1981).

Considerando-se esse desdobramento do conteúdo mencionado pelo autor, a avaliação do nosso curso também tinha o propósito de instigar os cursistas a pensar não só acerca dos conteúdos ministrados, mas também sobre as demandas vinculadas à realidade local, tendo se destacado a formação dos docentes da escola-campo, neste caso, dos próprios monitores da EFABIP. Trata-se, portanto, de uma demanda que, às vezes, em função de diferentes fatores, a própria universidade não consegue atendê-la.

Já a segunda parte do formulário de avaliação apresenta aos participantes duas questões “abertas” a serem respondidas, quais sejam: “Que tema(s) você gostaria que fosse(m) abordado(s) no próximo curso?” e “Que alterações/sugestões você apontaria para o próximo curso?”. Para ilustrar parte das respostas a essas questões, apresentamos duas delas no Exemplo 01:

Exemplo 01 

Como podemos observar nas duas respostas presentes no Exemplo 1 às duas questões abertas do formulário de avaliação, os participantes do curso, sobretudo aqueles que são monitores ou técnicos vinculados à EFABIP, enfatizam exatamente o “perfil do profissional” que atua nas escolas do campo, mais especificamente o ensino na alternância nas Escolas Famílias Agrícolas. Evidentemente, são respostas que corroboram o principal ponto que nos levou a planejar e desenvolver esse projeto de extensão com o foco na formação de educadores do campo, do sistema educativo da Pedagogia da Alternância e Educação do Campo em geral. Sem dúvidas, esse é um dos papéis da universidade: desenvolver ações que possam alcançar diretamente a comunidade, especialmente aqueles que possam potencializar melhorarias à qualidade dos processos ensino-aprendizagem na Educação Básica. Os cursos de formação criam espaços que permitem não só sedimentar a reflexão e a compreensão acerca da teoria, mas também a respeito do nosso fazer pedagógico.

Apesar desses aspectos e/ou elementos positivos da formação suscitados por meio da aplicação do instrumento de avaliação caracterizado anteriormente, entendemos que há questões importantes que destacam ou determinam possibilidades e limites da ação. A título de exemplificação, a distância entre o Campus Universitário de Tocantinópolis da UFT e a escola-campo (cerca de 230 km), por si só, já é um fator desafiador para nós professores desenvolvermos uma ação dessa natureza. Pois demanda logística, tempo de deslocamento e gera desgaste físico e mental. Tal distância nos obrigou a oferecer um curso de apenas 30 (trinta) horas, além de ter sido executado em dois módulos. Tendo em vista a carência de formação continuada dos monitores para atuar na EFABIP, entendemos que o ideal seria um curso com carga horária de no mínimo 60 (sessenta) horas, dividido em uns 04 módulos. Certamente, com uma carga horária maior o curso abriria espaço para ampliar as atividades formativas práticas, sendo possível o desenvolvimento de atividades pelos cursistas em suas salas de aula dirigidas/propostas pelos professores formadores. Portanto, isso poderia gerar e ampliar as reflexões no/sobre o curso de formação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do projeto permitiu-nos articular nossas experiências de ensino vinculadas ao contexto da Pedagogia da Alternância e Educação do Campo, de modo que esta ação de extensão proporcionou contribuição significativa para todos os atores sociais envolvidos. O curso de extensão oportunizou a formação continuada de docentes e técnicos que atuam na EFABIP, e também proporcionou oportunidades para a reflexão entre os proponentes (docentes e alunos) da ação para a reavaliação de suas práticas na universidade. Fato que, de certa forma, contribui também para o investimento a pesquisa.

Embora o foco principal do curso era ajudar/levar os cursistas a compreenderem a proposta didático-pedagógica da Pedagogia da Alternância, bem como a execução de Instrumentos Pedagógicos da alternância nas práticas educativas da escola-campo, sobretudo dos Planos de Estudo e do Caderno da Realidade, conseguimos desenvolver as atividades de maneira interdisciplinar conforme escopo do curso, já que contemplamos outros temas, como Educação do Campo e Sustentabilidade, Arte e estética camponesa e Mística. Nesse contexto, a formação contou com as contribuições de 04 (quatro) professores (ministrantes do curso) vinculados à UFT, sendo eles profissionais que acumulam bastante experiência nas áreas em que atuam (Letras/Pedagogia da Alternância, História/Artes, Educação/Sociologia e Geografia/Educação ambiental).

Devido a EFABIP ter iniciado suas atividades pedagógicas em 2016, entendemos que ao promovermos tal formação específica a respeito da Pedagogia da Alternância e da Educação do Campo com os monitores e técnicos dessa EFA, o trabalho didático-pedagógico na escola poderá melhorar, considerando assim, a perspectiva de formação defendida para os povos do campo, uma vez que a maioria desses profissionais não possuía qualquer experiência com as práticas educativas orientadas pela proposta formativa da PA.

Na avaliação final respondida pelos participantes, por exemplo, nota-se que o curso proporcionou aos participantes, contribuições significativas relacionadas ao aperfeiçoamento das práticas educativas empreendidas na escola-campo, observando-se que tal unidade de ensino adota o sistema educativo da PA e seus Instrumentos Pedagógicos. Os participantes também apresentaram sugestões de temas para cursos futuros, como: “Perfil do profissional da Educação do Campo”, “Produção agroecológica”, “Manifestações culturais”, “Produção textual”, entre outros.

Portanto, acreditamos que, conforme as avaliações dos participantes, o curso foi uma ação exitosa vinculada ao curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFT, tendo em vista as necessidades e demandas da comunidade e da escola-campo. Ou seja, trata-se de uma ação que possibilitou o estreitamento dos laços entre universidade, escola e comunidade. Com base nas sugestões dos participantes, pretendemos desenvolver, futuramente, um projeto focalizando o “Perfil do professor da Educação do Campo”.

AGRADECIMENTOS

Em especial, à Universidade Federal do Tocantins (UFT) pelo apoio ao projeto. Aos colegas formadores da UFT que se dispuseram a contribuir com a formação, a Professora Cássia Ferreira Miranda e os Professores Maciel Cover e Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus. Estendemos nossos agradecimentos aos discentes da UFT, Iara Rodrigues da Silva, Cícera Soares e Moisés Sousa Almeida, pelo trabalho de monitoria que realizaram ao longo da formação, assim como a toda equipe da Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo, que nos acolheu calorosamente. Por último, agradecemos à professora Ivone Gomes Siqueira Galvão pela leitura cuidadosa e revisão deste trabalho.

REFERÊNCIAS

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2A microrregião do Bico do Papagaio está localizada no extremo norte do Estado do Tocantins e é assim denominada porque é nessa região que ocorre o encontro dos rios Araguaia e Tocantins, que delimitam geograficamente os limites das fronteiras entre os estados brasileiros do Tocantins, Pará e Maranhão. Durante o período da Ditadura militar (1964-1985), essa região sofreu os enfrentamentos da chamada Guerrilha do Araguaia com reverberações perceptíveis ainda hoje. Ao longo da década de 1980, o Bico do Papagaio também foi palco de intensos conflitos agrários, culminando com o assassinato do Padre Josimo Morais Tavares, no dia 10 de maio de 1986, na cidade de Imperatriz-MA. Além do trabalho missionário que desenvolvia como sacerdote da Paróquia de São Sebastião do Tocantins-TO, Josimo era Coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e “[...] ajudava os agricultores a organizar sindicatos, a promover ações em defesa da reforma agrária, denunciava crimes contra os trabalhadores, o que incomodava os latifundiários” (SILVA, 2018, p. 106). Portanto, o nome “Escola Família Agrícola do Bico do Papagaio Padre Josimo” é uma homenagem a esse mártir que dedicou sua vida aos desamparados, especialmente aos camponeses sem-terra.

3O Projeto do curso foi registrado no SIGPROJ sob n.º 71443.213175.1138.213923.21092016

4Na Pedagogia da Alternância, os professores são denominados “monitores”. Para mais informações, consultar Silva (2018).

5No Brasil, as unidades educativas (a exemplo das EFA, CFR, entre outras) que assumem o sistema educativo da PA são mais conhecidas como Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA).

6Para maiores informações sobre o gênero Caderno da Realidade, ver Silva e Moreira (2011), Silva, Andrade e Moreira (2015), Silva (2018) e Silva e Gonçalves (2018).

7A foto mostra a fachada da Ala de salas de aula da EFABIP em 28/09/2014. Nota-se que a pintura das paredes está deteriorando.

8Esta imagem registra a presença de pessoas da comunidade e de autoridades no pátio da EFABIP em 16/04/2016, durante inauguração da escola.

9Além de ser o Coordenador do curso de extensão, Cícero da Silva também ministrou atividades nos dois módulos, tendo em vista sua especificidade enquanto pesquisador da Pedagogia da Alternância.

APÊNDICE A

Recebido: 12 de Abril de 2018; Aceito: 16 de Novembro de 2018

Revisão gramatical realizada por:

Ivone Gomes Siqueira Galvão. E-mail: ivonesggalvao@gmail.com

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