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ETD Educação Temática Digital

On-line version ISSN 1676-2592

ETD - Educ. Temat. Digit. vol.22 no.3 Campinas July/Sept 2020  Epub June 27, 2021

https://doi.org/10.20396/etd.v22i3.8661027 

EDITORIAL

INTERNACIONALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: PRESSUPOSTOS, SIGNIFICADOS E IMPACTOS

Camila Alves Fior1 

Antonio Carlos Dias Júnior2 

1Editora de Seção. Doutora em Educação - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP - Brasil. Estágio Doutoral na Universidade do Minho, Portugal. Professora do Departamento de Psicologia Educacional - Universidade Estadual de Campinas (UNIICAMP). Campinas, SP - Brasil. Email: cafior@unicamp.br

2Editor Científico. Doutor em Sociologia - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP - Brasil. Estágio Doutoral na EHESS - Paris, França. Professor do Departamento de Ciências Sociais na Educação - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP - Brasil. E-mail: acdiasjr@gmail.com


O terceiro número da Revista Educação Temática Digital (ETD) de 2020 chega em um momento de imprevisibilidades e incertezas diante do invisível e da ameaça de um vírus que impacta a vida, a subjetividade e a nossa própria existência, e que nos leva ao reconhecimento de que o nosso lançamento ao mundo, numa aproximação às proposições de Sartre (2003), tem sido permeado por medos - da doença, da morte, do desemprego, da fome - que moldam os nossos modos de ser, de sentir e de se relacionar.

Na convergência de experiências, afetos, indignações e esperança, principalmente na expectativa de que o medo não nos paralise, mas que crie uma inquietude que nos impulsione, ancoramos na essência da educação e em seu papel humanizador as nossas potencialidades. Afinal, como viabilizar o desenvolvimento de subjetividades que não naturalizem a doença, a morte, a exclusão social e a violência, mas se afetem pelas incontáveis vidas brasileiras perdidas pelo invisível? Recorremos à educação, num contexto de ressignificação da nossa própria existência e pela sua possibilidade em viabilizar o resgate da essência do humano.

É nesse cenário sem precedentes que apresentamos o Dossiê “Internacionalização na educação superior: pressupostos, significados e impactos”, que chega permeado por importantes indagações: com a hegemonia Norte/Sul, que não se restringe ao cenário educativo, como viabilizar a internacionalização da educação superior de forma cooperativa? Com o fechamento de diversas fronteiras internacionais e restrições de mobilidade, quais os limites e possibilidades da internacionalização? Internacionalizar em atendimento a quais objetivos?

Vale lembrar que a internacionalização, de maneira assemelhada ao novo vírus como metáfora, que nos amedronta e aprisiona, igualmente escancara as diferenças Norte/Sul: entre os que podem isolar-se e proteger-se e aqueles que precisam se expor a fim de manter em funcionamento a estrutura produtiva que alimenta o capital, independentemente dos custos e das vidas associadas; ou, em referência à educação superior, numa cisão entre os que produzem conhecimento, situados em um hemisfério, e os que consomem o saber, geograficamente localizados em outro lugar (SANTOS, 2020). Além do colonialismo epistêmico, as aproximações entre a pandemia e a internacionalização convergem no que tange à ordem neoliberal que nos conduz a um produtivismo ininterrupto, que mercantiliza nossas relações, nossa subjetividade e nossa vida. E, ao aproximar-se da educação, a ênfase no produto cria mecanismos que chegam à educação superior com o seguinte questionamento: por que internacionalizar?

Os nove artigos que compõem o Dossiê “Internacionalização na educação superior: pressupostos, significados e impactos”, organizado pelas professoras Joyce Wassem, Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira e Kyria Rebeca Finardi, discutem as implicações da mercantilização do ato de educar na internacionalização da educação superior. Ancorados em proposições epistemológicas, adensamentos teóricos e marcada diversidade metodológica, estimulam reflexões sobre os riscos da hegemonia nos produtos, nas métricas, nos rankings internacionais e na manutenção de uma estrutura colonial na proposta da internacionalização. Ao mesmo tempo, discutem o tema da internacionalização na educação superior a partir de um diálogo mais que necessário sobre as novas demandas que emergem nos anos iniciais do século XXI, com um olhar atento para os refugiados, os excluídos e os marginalizados da sociedade. O Dossiê traz ainda uma entrevista com Jane Knight, da Universidade de Toronto (Canadá), que nos convida à proposição de novos significados à internacionalização numa lógica decolonial, integradora e cooperativa.

A aproximação e o diálogo entre os atores que constroem o cotidiano da educação superior representam a via de superação das hegemonias e a edificação de uma internacionalização mais justa e igualitária na qual a minimização do medo diante do invisível passa pela ciência (e não por sua negação) e pelas redes de cooperação internacionais. É com essa convicção que a internacionalização ganha novos contornos, como via de diálogo, de inclusão, de respeito à diferença, de combate ao racismo, ao fascismo e à extrema vulnerabilidade de refugiados e imigrantes.

A fotografia que compõe a capa do número, de autoria da professora Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira, uma das organizadoras do Dossiê, é carregada de intencionalidades e luminosidades: sinaliza para processos relativos à internacionalização na educação superior que busquem meandros e caminhos para uma sociedade mais democrática, ética e sustentável.

***

O número que a leitora e o leitor têm em tela oferece ainda, na seção de manuscritos recebidos via demanda contínua, três artigos e uma entrevista, realizada por José Licínio Backes, que dialoga diretamente com a discussão do Dossiê. Nela, José Augusto Pacheco, da Universidade do Minho (Portugal), nos brinda com penetrantes reflexões a respeito do processo de internacionalização e cosmopolitismo do currículo, que transita e impacta nas avaliações externas e nas políticas globais e transacionais.

Ainda que, num contexto de pandemia, as partilhas ocorram através do isolamento social e ausência de contatos físicos, almejamos que as leitoras e os leitores encontrem nas reflexões suscitadas pelos textos do número um coletivo desvelar de invisibilidades (SANTOS, 2020). E que possamos, quiçá, viabilizar trocas por meio de outras vias de mediação, a fim de mantermos a solidariedade do cuidado e da preservação da vida.

REFERÊNCIAS

SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina, 2020. [ Links ]

SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. 3.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. [ Links ]

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