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ETD Educação Temática Digital

On-line version ISSN 1676-2592

ETD - Educ. Temat. Digit. vol.24 no.4 Campinas Oct./Dec 2022

https://doi.org/10.20396/etd.v24i4.8669147 

DOSSIÊ

PROJETO DE UMA COLÔNIA AGRÍCOLA DE SURDOS: UMA SURDOTOPIA NO SÉCULO XIX FRANCÊS?

PROJECT OF AN AGRICULTURAL COLONY FOR THE DEAF: A DEAFTOPIA IN 19TH-CENTURY FRANCE?

PROYECTO DE UNA COLONIA AGRÍCOLA PARA SORDOS: ¿UNA SORDOTOPÍA EN EL SIGLO XIX FRANCÉS?

Regina Maria de Souza1 

Fábio Bezerra de Brito2 

Cristina Gil3 

1Doutorado em Lingüística - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP - Brasil. Professora Associada - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP - Brasil. E-mail: resouza@unicamp.br

2Doutor em Educação Especial - Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP - Brasil. Vice-Diretor da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação e pesquisador do Grupo de Pesquisa CNPq Políticas de Educação Especial - Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP - Brasil. E-mail: frbrito@usp.br

3Doutora em Estudos de Cultura da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH-UCP). Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, Portugal. E-mail: cristina.gil@ese.ips.pt


RESUMO

Em 1870, dez anos antes do conhecido II Congresso Internacional de Educação para Surdos de Milão, Joseph Théobald, um dos quatro surdos nele presentes, detalha os motivos pelos quais a criação de uma colônia agrícola de surdos seria um projeto relevante para ser implementado com o apoio da Sociedade de Educação e de Assistência para os Surdos-Mudos na França. O objetivo deste trabalho é oferecer escuta à demanda de Théobald em seu projeto, analisando o contexto histórico (político, social, educacional) da França do século XIX, que permitiu a emergência de uma proposta que, hoje, nos impactaria: a da criação de uma colônia agrícola de surdos. A metodologia consiste na análise de discurso da fonte histórica primária – Projet d´une colonie agricole de sourds-muets – e sua discussão a partir do estudo de processos históricos ocorridos no século XIX, em especial na França. Além disso, à luz da investigação sobre Surdotopia, integrando Estudos Surdos, Estudos de Cultura e Estudos de Utopia, procuramos entender os contornos da vida e da obra de Théobald como potencial manifestação de Surdotopia. O nosso recorte considera, principalmente, as iniciativas feitas por surdos para poderem viver e ser surdos.

PALAVRAS-CHAVE Joseph Théobald; Colônia agrícola; Surdotopia; Língua de sinais; História da educação de surdos

ABSTRACT

In 1870, ten years before the well-known Second International Congress on Education of the Deaf in Milan, Joseph Théobald, one of the four deaf teachers present, explains the reasons why the creation of an agricultural colony for the deaf would be a relevant project to be implemented with the support of the Society of Education and Aid for Deaf-Mutes in France. The objective of this work is to offer a listening ear to Théobald’s demands in his project, analyzing the historical (political, social, educational) context of 19th-century France which allowed the emergence of a proposal that, today, would certainly still be impactful: the creation of an agricultural colony for the deaf. The methodology consists of discourse analysis of the primary historical source - Projet d'une colonie agricole de sourds-muets - and a discussion of this text in relation to the historical processes that occurred in the 19th century, especially in France. Furthermore, in the light of research on Deaftopia, integrating Deaf Studies, Culture Studies, and Utopian Studies, this research seeks to understand the outlines of Théobald's life and work as a potential manifestation of Deaftopia. The study’s scope mainly considers the initiatives made by deaf people to be able to live and to be deaf.

KEYWORDS Joseph Théobald; Agricultural colony; Deaftopia; Sign language; History of deaf education

RESUMEN

En 1870, diez años antes del conocido II Congreso Internacional de Maestros de Sordomudos de Milán, Joseph Théobald, uno de los cuatro sordos presentes en él, detalla las razones por las que la creación de una colonia agrícola para sordos sería un proyecto pertinente que se llevaría a cabo con el apoyo de la Sociedad de Educación y Asistencia a los Sordomudos de Francia. El objetivo de este trabajo es ofrecer una escucha de la demanda de Théobald presente en su proyecto, analizando el contexto histórico (político, social, educativo) de Francia del siglo XIX, que permitió la aparición de una propuesta que, hoy, nos impactaría: la creación de una colonia agrícola para sordos. La metodología consiste en el análisis del discurso de la fuente histórica primaria –Projet d'une colonie agricole de sourds-muets– y su discusión a partir del estudio de los procesos históricos ocurridos en el siglo XIX, especialmente en Francia. Además, a la luz de las investigaciones sobre la Sordotopía, que integran los Estudios Sordos, los Estudios Culturales y los Estudios de las Utopías, tratamos de comprender los contornos de la vida y obra de Théobald como una manifestación potencial de la Sordotopía. Nuestro recorte considera principalmente las iniciativas realizadas por las personas sordas para poder vivir y ser sordas.

PALABRAS CLAVE Joseph Théobald; Colonia agrícola; Sordotopía; Lengua de señas; Historia de la educación de los sordos

1 INTRODUÇÃO

A redação do presente artigo foi motivada por termos conseguido, pela Editora Du Fox, um livro que constava em sua lista de obras de domínio público. Tratava-se do livro escrito em 1870 por Joseph Théobald, Projet d´une colonie agricole de sourds-muets, doravante chamado de Projet. Théobald foi um surdo francês (1839-1893), tendo adquirido a surdez como efeito da febre tifoide. Era um surdo falante, seguidor de Jean-Jacques Valade-Gabel (1801-1879), ardoroso defensor do método intuitivo e do treino articulatório para o ensino da fala, para que os surdos pudessem conviver sem inferioridade com pessoas francesas ouvintes na sociedade, com conhecimento escolar, seguindo os preceitos da moral cristã (THÉOBALD, 1870b; VALADE-GABEL, 1863). A questão que nos moveu foi: Por qual motivo um surdo falante, defensor do amplo convívio de surdos e ouvintes em uma mesma sociedade, estaria propondo uma colônia agrícola constituída apenas por homens surdos? Para traçarmos possibilidades de compreensão, lemos e traduzimos, além do Projet, textos de historiadores – surdos e ouvintes, boa parte também franceses e por nós traduzidos – sobre a situação social, escolar e trabalhista dos surdos franceses no século XIX e sobre a forma como marcantes acontecimentos políticos e econômicos afetaram não apenas os surdos, mas toda a população francesa. Todavia, diferentemente de cidadãos ouvintes, os surdos da época nunca tiveram a possibilidade, ou o direito, de participar efetivamente do governo em cargos políticos. Portanto, durante todo o século XIX tiveram que encontrar meios de resistência e de negociação com representantes e pessoas influentes ouvintes nas várias formas de gestão do estado francês, intercalado, ao longo do século XIX, por períodos monárquicos, imperiais e republicanos. E, em cada um desses períodos, o Instituto Nacional de Surdos–Mudos de Paris, escola de referência na época, sofria alterações da política educacional e linguística que provocavam dissenções internas e, não raro, manifestações aos governantes da época, além de embates acirrados entre professores ouvintes e surdos (CANTIN; CANTIN, 2017; SOUZA, 2021). Essa situação toma contorno claro na década de 1830, quando a direção do Instituto de Paris é assumida por Desiré Ordinaire (1773-1847), que seguiu à risca as orientações de Joseph-Marie Degerando (1772-1842), que ocupou um cargo de grande importância - Maître des requêtes au Conseil d'Etat - no reinado de Luís Felipe I, durante a Monarquia de Julho (1830-1848). Com Ordinaire, o Instituto de Paris passa a priorizar o treino articulatório e a fala (SOUZA, 2021), como defendeu Degerando em “Dos signos e da arte de pensar considerados em mútuas relações”, publicado em 1800. Como parte da estratégia de tornar a fala e a escrita prioridades, houve uma paulatina substituição de professores surdos por professores ouvintes, além do rebaixamento funcional e salarial dos professores surdos, o que gerou um clima de forte humilhação e indignação entre os surdos. O trabalho docente diminuía visivelmente para os surdos (BERNARD, 2016; CANTIN; CANTIN, 2017). Em relação a outros campos laborais, as oficinas profissionalizantes, como se lê no texto do autor surdo Henry Gaillard (1866-1939), em Vie sociale des sourds-muets. Carrières et professions des sourds-muets (1894), em geral, careciam de professores ou instrutores capacitados; eram ensinadas profissões extintas; havia péssima organização e falta de instrumentos para as atividades práticas; ensino profissional, não raro, era oferecido oralmente ou de forma deficitária, além da resistência dos empregadores a contratarem surdos. Outra questão que dificultava a empregabilidade dos surdos era o baixo nível de instrução que lhes era oferecido na maioria dos casos, dos quais um dos efeitos era a pobreza. Deve ser lembrado que, em geral, não era gratuito o ensino no Instituto de Paris.4 Nesse contexto, começaram a aparecer, entre os surdos, propostas de comunidades formadas, organizadas e administradas por eles, e cujas normas de coexistência eles também determinariam.

2 O CONTEXTO DE PRODUÇÃO DO PROJETO DE COLÔNIA AGRÍCOLA: A CRISE DO SEGUNDO IMPÉRIO FRANCÊS

A certa altura do seu Projet, Théobald (1870a, p. 18, tradução nossa) clama: “Voltemo-nos para Napoleão, não como soberano, mas como um homem comum, e peçamos-lhe que nos ajude a fazer algum bem aos surdos-mudos adultos...”. O apelo a Napoleão III5 não era infundado, pois o imperador dos franceses durante o Segundo Império (1852-1870) usava a propaganda política e o controle dos meios de comunicação para construir a imagem de protetor dos necessitados, e chegou a propor a criação de colônias agrícolas para abrigar os desempregados das cidades, além de conceder subsídios a orfanatos, asilos e hospitais que atendessem os trabalhadores pobres (LESOURD, 1991; ROSENBLATT, 2021). Por outro lado, sabemos que foi justamente no decorrer desse período que as portas das instâncias e de autoridades governamentais foram se fechando cada vez mais à participação e às demandas dos intelectuais e professores surdos (ENCREVÉ, 2019; QUARTARARO, 1995). Por seus aspectos contraditórios, a França de Napoleão III foi desde sempre objeto de polêmica, contrastando análises ora favoráveis, ora hostis, e o próprio imperador, conhecido no seu tempo como a “esfinge sem enigma”, aparece na literatura como um personagem enigmático (HOBSBAWM, 1982; MILZA, 2008; SPITZER, 1962).

Na maior parte do tempo, o governo de Napoleão III manteve um ambiente de ordem social à custa de mecanismos autoritários, e suas políticas atenderam aos anseios da burguesia e pavimentaram o caminho do desenvolvimento industrial da França. O sistema financeiro e de crédito foi modernizado e a infraestrutura ampliada, com ênfase na construção de ferrovias e na expansão do telégrafo elétrico e do serviço postal. A cidade de Paris foi reformada segundo uma lógica higienista e elitista e se tornou o centro industrial e o principal mercado do país (BERNSTEIN; MILZA, 1997; HARVEY, 2006; LESOURD, 1991; PRICE, 2001). Enquanto mirava o desenvolvimento capitalista, Napoleão III não deixou de olhar para a questão social, “consciente do fato de que o sufrágio universal fez o seu regime dependente do apoio da crescente classe trabalhadora” (PRUTSCH, 2020, p. 105, tradução nossa). A realização de grandes obras públicas de saneamento, abastecimento de água e urbanização garantiu temporariamente a diminuição do desemprego e houve a melhoria de alguns índices sociais. Todavia, não ocorreu um efetivo enfrentamento dos problemas sociais, e as políticas governamentais eram essencialmente paternalistas, visando enaltecer a imagem do imperador como benfeitor dos desamparados (MILZA, 2008; PRICE, 2001; ROSENBLATT, 2021).

No auge do Segundo Império, o movimento surdo abandonou a retórica republicana e buscou se aproximar – e com eles negociar – do programa e da estratégia política do imperador. O professor e ativista surdo Ferdinand Berthier “regularmente honrava Napoleão III em seus discursos” (ENCREVÉ, 2019, p. 277), e as autoridades da corte napoleônica figuravam como convidados nos banquetes surdos. Era uma tentativa, que se revelaria frustrada, de convencê-los da importância da comunicação e da educação em língua de sinais6 para a comunidade surda. Com o passar do tempo, os ativistas e os intelectuais surdos viram diminuir sua capacidade de influência nos círculos da burocracia estatal e não mais conseguiram frear o avanço inexorável de uma política educacional que associava o ensino da fala à possibilidade de progresso e do melhor caminho para a integração e a aceitação social do surdo na sociedade francesa. A perda de influência chegou à Sociedade de Educação e de Assistência para os Surdos-Mudos na França, cada vez mais dirigida por burocratas imperiais sem ligação com os ativistas surdos (ENCREVÉ, 2019; QUARTARARO, 1995). Esse processo de aparelhamento seguiu o mesmo padrão empregado em outras organizações e associações comunitárias, que era uma forma de o governo lidar com a questão social de modo a manter viva a imagem do imperador como “pai dos pobres” e, ao mesmo tempo, garantir a vigilância e o controle estatal (MILZA, 2008; ROSENBLATT, 2021).

O clima de paz social e de triunfo do capitalismo começou a mostrar sinais de instabilidade a partir da década de 1860, com o desgaste político de intervenções imperialistas desastradas e o declínio de indicadores econômicos, agravado nos anos de depressão entre 1867-1870. Diante de reveses internos e externos, Napoleão III adotou uma atitude reformista: tomou medidas liberais que flexibilizaram as restrições à liberdade de opinião e imprensa e aumentaram as atribuições e os poderes do Corpo Legislativo. A guinada liberal foi referendada por meio de plebiscito, e o movimento de conciliação estendeu-se ao crescente movimento operário. O pacote de concessões abrangeu o direito de greve e recursos para atividades sindicais (BERNSTEIN; MILZA, 1997; PRICE, 2001). Apesar dessas iniciativas, a oposição republicana e socialista aumentou significativamente nas cidades, onde circulavam mais e mais jornais críticos ao regime. Multidões de trabalhadores das províncias, mobilizados para as obras de urbanização da cidade de Paris, aumentaram o contingente de moradores dos bairros pobres numa cidade cuja população crescia vertiginosamente (BRESCIANI, 1982; HARVEY, 2006). Entre 1867 e 1870, a situação econômica da França deteriorou-se rapidamente por uma combinação de fatores, como as colheitas pobres e a diminuição de investimentos devido à incerteza provocada pelas primeiras guerras da unificação alemã. A depressão econômica piorou as condições de vida dos trabalhadores, e grandes manifestações grevistas se espalharam pelo país, sendo violentamente reprimidas pelas forças policiais. O controle social pela via filantrópica começou a se desmanchar a olhos vistos, e as multidões começaram novamente a aparecer assustadoras às classes dominantes (HARVEY, 2006; PRICE, 2001; SPITZER, 1962).

Temos, assim, que Théobald redigiu e publicou o Projet no ambiente turbulento da tempestade perfeita que se abateu sobre toda a França. Não é preciso muita imaginação histórica para supor que os surdos estivessem entre os grupos sociais mais atingidos pelo desemprego e por demais problemas causados pela depressão econômica e pela crise social instaurada. Os tempos não eram menos sombrios para o movimento surdo. Com a pressão dos higienistas e dos partidários do treino articulatório e da oralização dos surdos, os defensores da língua de sinais praticamente haviam perdido a capacidade de pressão e influência nas decisões governamentais referentes ao ensino oferecido pelas instituições de educação de surdos, onde professores surdos, como o próprio Théobald, estavam com os próprios empregos em risco.

Quando vivemos tempos difíceis, repletos de dificuldades e frustrações, e vemos tudo tingido com desesperança, é comum querer sair do centro dos conflitos e projetar a ideia de recomeçar a vida em um mundo melhor e mais valioso, onde (re)encontramos aquilo de que sentimos falta: a harmonia entre as pessoas, a segurança alimentar, o emprego digno, a felicidade. É no terreno instável da falta, do que nos foi tirado ou jamais oferecido, que, paradoxalmente, se nutrem os projetos de sociedades melhoradas que podemos chamar de utopias. Poucos momentos históricos se revelaram mais férteis às construções utópicas do que o século XIX, nos países europeus que foram se convertendo em nações industriais e capitalistas, à medida que se desnudava nas grandes cidades o contraste profundo entre a opulência da burguesia e a pobreza da classe operária (BRESCIANI, 1982; HARVEY, 2006; HOBSBAWM, 1982).

Théobald vivia em um país em plena crise, e em seu tempo o ofício que ele exercia era objeto de contendas acaloradas, com a língua de sinais sitiada pelo ensino da fala. Em meio a esse torvelinho de mudanças, ele se voltou à ideia de uma colônia agrícola de surdos-mudos, um projeto que fora pensado originalmente por Berthier em meados do século XIX, outro momento traumático na história da França, e “reformulado em 1852 com uma preocupação mais pedagógica por Hector Volquin, professor ouvinte do instituto” (BERTIN, 2010, p. 87, tradução nossa). Nesse movimento, Théobald dialogava ainda com uma tradição fecunda na França do seu tempo, em que, desde o início do século XIX, a criação de colônias agrícolas era frequentemente apresentada como uma solução para os problemas sociais. Segundo Urbinati (2015, p. 258), “[o]s primeiros defensores da solução agrícola [...] visavam ocupar os colonos – crianças desamparadas, órfãos, mendigos, jovens delinquentes etc. – em atividades agrícolas, objetivando aproveitar as superfícies cultiváveis”. Para justificar o uso de recursos públicos, tais estabelecimentos eram apresentados como uma panaceia para mazelas sociais e econômicas: “conter o êxodo rural, modernizar a agricultura e reerguer pequenos cidadãos corrompidos oferecendo-lhes uma formação técnica” (p. 259). Nesse aspecto, de retorno à terra, reside uma reação à industrialização e à vida urbana que gerou, no final do século XIX, uma vertente utópica essencialmente rural de busca por comunidades planejadas no campo, cujo epítome foram os falanstérios imaginados por Charles Fourier (1768-1830), que “considerava a vida e o trabalho comunais em uma localização rural cruciais para a felicidade humana” (CLAEYS, 2013, p. 115).

3 O PROJETO DE COLÔNIA AGRÍCOLA

A ideia da criação de territórios de surdos pelos surdos, com objetivos e normas de coexistência supostamente pacíficas entre iguais é, em geral, ligada à agricultura. Algumas tentativas nessa direção eram discutidas e lembradas por eles (BERNARD, 2016). Uma delas foi a do latifundiário americano surdo John J. Flournoy (1808-1879). Flournoy considerava ser sofrida demais a convivência com pedagogos e médicos ouvintes, na insistência de que falassem, se comportassem como ouvintes, além de, socialmente, não haver equidade entre cidadãos surdos e ouvintes, não sendo os surdos considerados cidadãos plenos. Essa avaliação levou-o a, em 1855, reivindicar ao governo que criasse um estado exclusivamente para os cidadãos surdos; um lugar onde o destino dos surdos poderia ser construído por eles mesmos, uma comunidade própria, onde pudessem ter soberania sem qualquer ingerência dos políticos ou de educadores ouvintes (BERNARD, 2016). Considerava que a cidadania para os surdos só poderia ser alcançada com a equidade de estatuto entre as duas línguas e culturas. Para neutralizar os protestos dos surdos, foram utilizadas estratégias como abafar todo debate e evitar todos os encontros em que o assunto pudesse ser discutido. A proposta de Flournoy foi colocada em xeque por vários líderes surdos, dentre eles, o surdo Edmund Booth (1810-1905), que argumentava que, nesse território surdo, se existisse, também poderiam nascer e crescer crianças ouvintes de casais surdos, e se tornaria uma comunidade como outra qualquer; além disso, aumentaria a probabilidade do nascimento de um número maior de surdos devido a hereditariedade, possibilidade a que se opunham ferrenhamente os eugenistas da época (BERNARD, 2016).

Na segunda metade do século XIX, a proposta de colônias agrícolas começa a se organizar em distintos lugares na Europa. Nesse contexto entra em cena Joseph Nicolas Théobald, professor do Instituto Imperial de Chambéry, em Besançon; em 1876 foi contratado pelo Instituto de Paris e demitido depois do Congresso de Milão. Théobald, como especialista em agricultura, faz uma das mais bem elaboradas propostas de colônia agrícola de surdos. Ele mesmo afirma que “a ideia de uma colônia agrícola para surdos-mudos não é nova; o assunto já foi colocado na ordem do dia, mas o plano proposto não era racionalmente viável” (THÉOBALD, 1870a, p. 6, tradução nossa). Ao fazer essa afirmação, Joseph Théobald sabia de outras iniciativas, e, portanto, deduzia as discussões e os entraves que poderiam surgir a sua proposta. Por isso, talvez, tenha evitado temas polêmicos, como a presença de mulheres na colônia e a língua em que a profissionalização dos surdos seria oferecida.

Em relação à ausência de mulheres, preferiu, ao contrário do que defendeu Flournoy em 1858, não entrar em confronto com os eugenistas, que defendiam a separação de surdos por gênero nas escolas, a inclusão em escolas com ouvintes e o não financiamento à manutenção das associações de surdos, a fim de que se extinguissem pouco a pouco. Para uma discussão mais densa sobre a influência do programa eugênico para a contenção do aumento da população surda, sugerimos a leitura do artigo de Patriota da Silva e Souza (2018). O que as autoras afirmam é reiterado na análise que Bernard (2016) faz da decisão de Théobald. Assim afirma Bernard (2016, p. 432, tradução nossa):

de um modo geral, as representações femininas no século XIX também eram inexpressivas ou deficitárias; o risco do perigo dos casamentos de surdos entre si assombrava a mente dos eugenistas, mergulhados na teoria da degeneração. E Théobald devia estar ciente de que sua colônia seria o alvo de muitos ataques. Ele estava ciente das taxas de mortalidade de colonos em outras experiências, numerosas em seu século, que fizeram reconsiderar o envio de mulheres e crianças para lugares onde as condições de sobrevivência não estavam sequer consolidadas.

Em relação às línguas que circulariam na colônia, além da escrita, optou pelo não confronto com os pedagogos ouvintes que nucleavam fervorosos debates sobre a melhor forma de os conhecimentos serem transmitidos aos surdos: se em sinais, pela fala, pelo método misto – fala acompanhada de gestos ou sinais. Preferiu se ater à delimitação do projeto, deixando claro que a sua implementação deveria ser realizada, atendendo à política educacional de cada povo, comunidade ou país.

Propunha uma colônia autossuficiente, onde os surdos pudessem conviver com seus pares. Um território agrícola voltado para os surdos solitários que vagavam nas ruas, para os órfãos, os mendigos, para aqueles explorados por pessoas gananciosas que os colocavam para venderem alfabetos manuais e panfletos. Enfim, sua proposta destinava-se, principalmente, aos surdos excluídos da vida social e laboral. E, também, buscava atender àqueles que chegavam tardiamente à escola especial, aos 10 ou 12 anos, sem conhecimentos elementares sobre o mundo, sem noções morais ou religião. Segundo Théobald, (1870a, p. 9, tradução nossa), em tal situação, o surdo

[...] privado de audição e da fala, é necessariamente levado a considerar-se um estranho entre aqueles que não são surdos e mudos. Com conhecimentos medíocres, possuindo uma linguagem, a mímica, que os seus vizinhos não conhecem, deixa-o constantemente por sua conta; [...] Naturalmente, com a sua aprendizagem imperfeita, é pouco provável que o surdo-mudo encontre um chefe que o aceite como trabalhador.

(p. 7-8, grifo nosso)

Alguns deles atingem a idade de vinte e cinco a trinta anos sem terem aprendido inteiramente uma única profissão.

A partir desses argumentos, Théobald defende a tese de que todos esses excluídos do convívio social

devem ser reunidos sob o mesmo teto, sob a mesma direção, para um mesmo objetivo, que é o trabalho; levá-los a apoiarem-se uns aos outros; estabelecer entre eles uma emoção livre de sentimentos indignos, uma concorrência sadia que fará convergir forças para o mesmo objetivo, para um interesse comum, para algo indivisível e de igual propriedade de todos. Nas cidades, estes encontros não teriam qualquer hipótese de sucesso, enquanto que no campo, onde a vida é mais fácil, estes surdos-mudos encontrariam na agricultura o suficiente para se cuidarem de várias maneiras; ali encontrariam ar fresco, saúde, um vasto horizonte, coisas que não se encontram nas oficinas ou nos sótãos das cidades.

(Théobald, 1870a, p.12, tradução nossa)

Todavia, Théobald se pergunta: Seria possível realizar o projeto de uma colônia agrícola que fosse viável em termos de financiamento, organização e implantação? Do ponto de vista do financiamento, a Société d'assistance pour les sourds-muets, na França, recebia recursos de seus membros, do Ministério do Interior e dos eventos que organizava. Poderia participar da concretização do projeto de distintos modos, incluindo a compra de um lote de terra. Napoleão III também poderia ser solicitado a doar 60 hectares das regiões da França onde a terra tinha pouco valor, como as chamadas charnecas, com um edifício no meio. A implementação se daria com o apoio da Société d´assistence. Com seu patrocínio, seria contratado um gestor familiarizado com “os métodos de cultivo em uso na região [...]” (p.19) que soubesse se valer de todos os recursos à sua disposição. Além dele, dois surdos-mudos que fossem bons agricultores com conhecimento em vinicultura, com habilidade também em carpintaria e indústria rural. Mais sete ou oito surdos, os quais se encarregariam de comprar o gado, os equipamentos agrícolas essenciais. E no campo os fariam colocar a colônia em marcha: organizariam os edifícios, os celeiros, fariam hortas, se encarregariam de alimentar o gado e de preparar paulatinamente o terreno para o cultivo. Aos poucos a colônia crescia e adquiria uma importância cada vez maior, e novos membros podiam ser atraídos para participar. Professores e surdos aposentados poderiam dela fazer parte e instruir, com seus conhecimentos, os mais novos ou sem instrução, que receberiam um salário, ainda que modesto, para exercerem seus ofícios nas escolas e oficinas profissionalizantes.

A fundação desta colônia não exigiria mais da parte de Société d´assistance do que ligeiros sacrifícios no início do empreendimento e uma proteção benevolente em mantê-la. Em troca, que grande vantagem não daria a estes surdos-mudos cuja maioria estava apenas a demandar trabalho

(THÉOBALD, 1870a, p.25, tradução nossa).

4 COLÔNIA AGRÍCOLA PARA SURDOS: SURDOTOPIA?

Apesar de os períodos aqui descritos serem tempos problemáticos em diversos níveis para toda a população, é importante referir que, em simultâneo, decorria o processo de secularização institucional em França. Sendo o Instituto de Paris liderado por figuras clericais desde a sua fundação, essa mudança social também afetou a sua administração, os seus professores e, inevitavelmente, os alunos. No final do século XIX e início do século XX, vários educadores escreveram sobre o fracasso do método oral puro, baseados na evidência dos resultados dos alunos, e recomendavam com urgência o regresso à utilização dos métodos com línguas de sinais (CANTIN, 2011; RIBEIRO, 2018).

O primeiro banquete de surdos em Paris em honra do abade de L’Épée teve lugar a 30 de novembro de 1834, evento a que se associa o nascimento do movimento cultural e associativo surdo francês. De acordo com Bernard (201-?), Joseph Théobald dominava a oralidade, tal como é referido no início deste artigo. No entanto, um dos critérios para podermos categorizar o seu Projet como uma Deaftopia, aqui referida como Surdotopia, é entender se Théobald era uma pessoa surda que usava língua de sinais – no seu caso, a Langue des Signes Française (LSF) – e se era membro da Comunidade Surda, a Francesa e, como tal, produzia e consumia Cultura Surda. Esses foram os critérios básicos durante a investigação sobre a Surdotopia, para determinar se um objeto cultural com discursos utópicos e/ou distópicos poderia ser considerado (GIL, 2020). Théobald escreveu e assinou um documento com Chambellan e Forestier, em que os três reivindicavam o regresso do método misto, com LSF e o retorno dos docentes surdos às instituições de educação de surdos (BERNARD, 201-?. p. 754). Em 1887, Théobald juntamente com Berthier, Dusuzeau e Chambellan fundaram a L'Association Amicale des Sourds-Muets de France, (BERNARD, 201-?. p. 639). Além disso, Théobald esteve também presente na secção surda do Congresso de Paris de 1900 (GAILLARD; JEANVOINE, 1900). Por isso, considerando Théobald um membro ativo da Comunidade Surda Francesa, participando no movimento associativo, sendo professor do instituto de Paris, amigo e colega de outras personalidades importantes surdas da sociedade francesa; e considerando o seu ativismo e defesa da LSF e do método misto, tudo indica que ele usaria LSF. Assim, a figura histórica de Théobald relembra-nos que ser oralizado não significa ser oralista. O debate e a opção entre métodos educativos para o ensino de pessoas surdas têm sofrido várias interpretações, por vezes partindo já de fontes primárias, tornando visível o debate filosófico que verdadeiramente pauta esta disputa entre o Oralismo e a defesa das línguas de sinais e da educação bilíngue. Muitas pessoas surdas não se opuseram à aprendizagem da oralidade, mas indignavam-se com as políticas que promoviam a eliminação da língua de sinais e das pessoas surdas do panorama educacional (GIL, 2020). As questões que oprimem sistemicamente a pessoa surda eram relevantes para Théobald. No início de Projet, o autor debruça-se sobre a privação da linguagem, sobre a aquisição linguística tardia que condiciona as aprendizagens da criança surda e as consequências em termos de igualdade de oportunidades no mercado de trabalho quando se tornam adultos. Théobald propunha que as pessoas surdas trabalhassem, aprendessem e que existissem planos de expansão do projeto no futuro, uma projeção a longo prazo, de um espaço autossuficiente para as pessoas surdas poderem trabalhar e subsistir.

Este gênero de consideração era próprio da época: as comunidades intencionais, tal como teorizou Sargent, são comunidades criadas por pessoas que escolheram voluntariamente reunir-se no mesmo espaço, porque partilhavam valores e um mesmo sentimento de viverem em uma sociedade melhor do que aquela em que viviam: havia um mesmo propósito, o que reforça o que expusemos anteriormente. E por isso, este tipo de comunidades intencionais pode ser encarado como utopianismo (SARGENT, 2010). As comunidades intencionais, são, assim como as nações ou diversas formas de organização social, comunidades imaginadas, como disse Benedict Anderson (ANDERSON, 1991). No caso do projeto de Théobald, ele também refere este sentimento de comunidade e de pertença quando diz: “Eles estão felizes por estarem entre os seus irmãos...” (THÉOBALD, 1870a, p. 22, tradução nossa). Este e outros excertos revelam o que agora consideramos como o Espaço(s) Surdo(s) – referido na literatura como Deaf Space(s) – que indica o espaço seguro e agradável para as pessoas surdas estarem e comunicarem. Podemos incluir, como exemplos, os já referidos banquetes, as escolas e as associações de surdos ou eventos onde se concentram muitas pessoas surdas, tomando posse das dinâmicas do espaço, das dinâmicas culturais e linguísticas (GIL, 2020). A Surdotopia, como conceito, define-se como uma produção cultural surda, de uma pessoa ou grupo surdo que usa língua de sinais, que produz e consome Cultura Surda. Outro critério é que o objeto deve conter um discurso utópico ou distópico com uma crítica à realidade, em diálogo com a história e a cultura da Comunidade Surda. De certa forma, em termos de integração laboral, de crítica ao sistema educativo e de preocupação pelo bem-estar e pelo tecido social surdo, a obra de Théobald inclui-se neste espectro. Pela análise do discurso, a obra em apreciação não é o exemplo mais direto de evidência da Surdotopia, pois não existe um grande enfoque na criação de uma comunidade que se comunicaria através de LSF e que se tornaria um local seguro para promover a sustentabilidade da língua e da Cultura Surda. Não obstante, era inevitável que assim se tornasse, ainda que o autor não tenha considerado escrever sobre isso. Como Bernard refere, Théobald queria retirar as pessoas surdas de uma vida cinzenta em asilos reservados para os marginalizados pela sociedade (BERNARD, 201-?.). A investigação sobre Surdotopia de Gil (2020) mapeou que, desde 1834, os surdos franceses discutiam a criação de um Espaço Surdo, de uma comunidade intencional, seja no formato de uma aldeia, uma exploração agrícola, ou qualquer outro. Aqui testemunhamos que Théobald retoma o debate em 1870, e esse se mantém até os nossos dias, em várias outras Comunidades Surdas de vários outros países (GIL, 2020). Em conclusão, a Surdotopia de Théobald, como muitas outras, reclama o direito de ser surdo e de preservar o que surge naturalmente entre surdos – a língua de sinais e a Cultura Surda.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos têm visto a utopia como o “não lugar”, sentido etimológico da palavra, porque a consideram como a busca da sociedade perfeita, feliz e justa o tempo inteiro, e, portanto, impossível de ser realizada pelos seres falíveis e com imperfeições que nós somos. Mas o utopismo moderno, como se desenvolveu a partir do livro Utopia, de Thomas More, pode ser visto por meio de chaves interpretativas mais reveladoras, como a oferecida por Gregory Claeys (2013, p. 15), para quem a utopia “explora o espaço entre o possível e o impossível”. Segue que, para o autor, “a utopia é definida principalmente pelos limites da própria humanidade [e o] critério de plausibilidade ajuda a limitar e especificar a utopia, assim como a conceber sua factibilidade e separá-la do meramente imaginário ou impossível” (p. 14-15).

A partir dessa perspectiva, podemos alocar o Projet de Théobald no domínio da utopia, no sentido da tentativa deliberada de edificar uma comunidade melhorada, e não de encontrar um lugar perfeito, inatingível. Como bem explica Saliba (2003, p. 103), “os projetos utópicos exprimem desejos e sonhos coletivos e crescem numa sociedade e num tempo para os quais se constituem em respostas”. E é por isso que a ideia de uma colônia agrícola de surdos guarda aspectos comuns a outras construções utópicas de seu tempo, como as comunidades fourieristas e owenistas.

Fruto de sua época, de tempos duros e difíceis, a aspiração utópica de Théobald traz a marca da condição singular do ser Surdo numa sociedade ouvinte, pródiga em subalternizar os que não ouvem, por ser ela cada vez mais refratária à língua de sinais. Daí a busca por estar entre iguais, numa colônia agrícola conscientemente planejada para assegurar dignidade e bem-estar e que oferece aos seus residentes não só a promessa de deixar para trás um mundo de subempregos, de incompreensão e desigualdade, mas a possibilidade de subsistir coletivamente num espaço Surdo. É neste sentido que o projeto de colônia agrícola pode ser lido como Surdotopia (GIL, 2020), numa análise que considera o dito e o não dito pelo seu autor na negociação com instâncias governamentais e beneméritas num contexto histórico em que os Surdos franceses viam cada vez mais manietada a sua capacidade e autonomia para decidir o que desejavam para suas vidas. A Surdotopia de Théobald resiste, assim como todas as outras Surdotopias, como alternativa de transformação e criação em que os Surdos reassumem o seu próprio destino, nos seus termos e com as suas próprias mãos.

Titulo

4Lembramos o leitor que, à época, o ensino não era inteiramente acessível, nem mesmo a pessoas ouvintes, ou a todas as classes sociais, ou seja, o ensino não era massificado.

5Napoleão III (1808-1873) é sobrinho do famoso general e líder político Napoleão Bonaparte (1769-1821), coroado imperador Napoleão I em 1804 e cujo filho, conhecido como Napoleão II (1811-1832), não chegou a governar.

6Sendo este artigo o resultado da colaboração entre investigadores do Brasil e Portugal, e publicado no Brasil, mantemos a expressão “língua de sinais” comum no Brasil, com a salvaguarda para o leitor de que o equivalente em Portugal é “língua gestual”.

Revisão gramatical realizada por: Leda Farah.

E-mail: farahledamaria@gmail.com

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Recebido: 05 de Maio de 2022; Aceito: 16 de Setembro de 2022

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