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Revista e-Curriculum

versión On-line ISSN 1809-3876

e-Curriculum vol.17 no.2 São Paulo abr./jun 2019  Epub 08-Ago-2019

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2019v17i2p313-318 

Editorial

EDITORIAL DA REVISTA E-CURRICULUM

Antonio Chizzotti* 

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida** 

* Professor Doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP. E-mail: anchizo@uol.com.br

** Docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, linha de pesquisa de Novas Tecnologias em Educação. Bolsista PQ 1C do CNPq. E-mail: bethalmeida@pucsp.br


A política da Revista e-Curriculum de acesso aberto às publicações científicas on-line mostra sua visibilidade e potencial de ampliar a disseminação das pesquisas que os artigos reportam, ao mesmo tempo que intensifica os esforços de editores e equipe técnica para dar vazão à alta demanda de pesquisadores que submetem seus trabalhos à avaliação dos pareceristas e impõe custos crescentes com profissionais de apoio técnico, geração de DOI, servidores institucionais e outros.

Sensíveis à demanda de publicação das pesquisas de autores do campo das ciências humanas, em especial da educação, que se encontra convulsionada pelos cortes de financiamento e cerceamento da liberdade de cátedra, a edição atual atesta a preocupação dos editores em ampliar os espaços de divulgação da produção científica sobre estudos relacionados ao currículo, às políticas públicas, às questões ambientais e de gênero, aos movimentos sociais, à formação, à avaliação, às tecnologias digitais na educação presencial, híbrida ou a distância e às competências dos professores.

Desse modo, a edição que ora se apresenta retrata em seus 20 artigos a diversidade de olhares sobre a educação, elaborados por autores de distintas instituições e regiões brasileiras, de Portugal e da Colômbia.

O artigo de autoria de Oscar Emerson Zúñiga Mosquera, da Universidade Nacional Abierta y a Distancia de Colômbia e da Universidade Federal de Pernambuco, aborda os jogos da linguagem relacionados ao povo do campo por meio de uma reflexão ético-política, apoiada em estudos culturais e em categorias propostas por Ernesto Laclau, para problematizar a noção de povo no âmbito da Agroecologia e da Educação do Campo. Como o autor sugere uma formação transdisciplinar para os cursos de Agroecologia e de Educação do Campo.

Os autores, Ana Pedro e João Filipe Matos, da Universidade de Lisboa, com base no conceito teórico de competência, se reportam às competências técnico-pedagógicas do século XXI para identificar as competências pedagógicas necessárias a um professor do ensino básico, segundo uma abordagem metodológica quali-quantitativa de investigação. Os autores propõem um referencial de competências para o século XXI para professores do 2º e 3º ciclo do Ensino Básico português e refletem sobre as implicações desse referencial no desenvolvimento profissional docente.

O discurso das competências também é enfatizado em artigo Geraldo Eustáquio Moreira, da Universidade de Brasília, e Rita Luciene da Silva Milanez, do Instituto Federal de Brasília (IFB), desta feita para analisar os desafios da gestão por competências na visão dos servidores desse Instituto, sem uma problematização do referido conceito. A partir dos resultados da pesquisa, os autores sugerem que o caminho para a implantação da gestão por competências desse instituto é por meio de modelos adotados por outras instituições que apresentam resultados satisfatórios, respeitando o ambiente organizacional do IFB.

São cinco os artigos que enfocam o currículo do ensino superior e da educação básica mediante um olhar crítico.

Tassia Joana Rodrigues Ciervo e Roberto Rafael Dias da Silva, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, questionam a centralidade das competências socioemocionais nas políticas curriculares brasileiras por meio de um mapeamento das contribuições teóricas sociais contemporâneas dos estudos sobre neoliberalismo e capitalismo emocional. Concluem que a racionalidade econômica preponderante se apoia na emoção para impulsionar a produtividade e a constituição subjetiva de “empresários de si”, contribuindo para alargar a compreensão sobre a adoção acrítica do conceito de competência.

Os autores Adreana Dulcina Platt, Frederico Augusto G. Fernandes, ambos da Universidade Estadual de Londrina e Ubaldo César Balthazar da Universidade Federal de Santa Catarina, analisam a lógica curricular universitária do Curso de Bacharelado em Direito no Brasil, identificando a presença da racionalidade formativa e a ausência de bases curriculares revolucionárias. Nesse sentido, há indícios de que a formação em Direito se sustenta mais pelo autoestudo do que pela interação, criticidade, criatividade, desenvolvimento da autonomia, investigação e produção do conhecimento.

O currículo do curso de graduação em psicologia brasileiro é analisado criticamente em artigo de Caio Rudá, da Universidade Federal do Sul da Bahia, Denise Coutinho e Naomar de Almeida Filho, ambos da Universidade Federal da Bahia, por meio de uma abordagem comparativa em um estudo de casos múltiplos. Os autores identificam uma estrutura de formação anacrônica, pouco condizente com o papel da educação superior na formação crítica e cidadã do profissional de psicologia e sugerem uma revisão em todas as dimensões da formação e a adoção de uma nova arquitetura de formação.

O artigo de Nonato Assis de Miranda e Gabriela Pinheiro Bressan, ambos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, e de Viviane Patrícia Colloca Araújo, da Universidade Paulista, analisa o direito à educação nas orientações curriculares de um município paulista, segundo as concepções dos professores, os quais reconhecem a importância das orientações curriculares, mas indicam a necessidade de avaliá-las e referem sobre a necessidade de participação dos pais na vida escolar dos seus filhos. O apontamento dos professores sobre a necessidade de avaliar as orientações curriculares do município mostra a relevância de problematizar tanto seu significado como seu conteúdo.

Em um artigo de característica ensaística, os autores Martin Kuhn, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Helena Copetti Callai e Cláudia Eliane Ilgenfritz Toso, ambas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, questionam os pressupostos epistemológicos e pedagógicos orientadores do ensino de estudos sociais nos anos iniciais do ensino fundamental, que tomam como referência os círculos concêntricos, tratando as temáticas a partir do conhecimento mais simples para o mais complexo. Desse modo, os autores perscrutam a tradição consolidada em torno do ensino dos Estudos Sociais nos anos iniciais do ensino fundamental da educação básica.

Dois artigos destacam questões de gênero colocando em discussão aspectos relacionados com as relações de gênero e a diversidade sexual, o que revela preocupações com a educação igualitária almejada, e indica que o enfrentamento dessas questões começa a ser abordado nas relações educativas, embora de maneira pontual.

Nesse sentido, o artigo de Anselmo Lima de Oliveira e Alfrancio Ferreira Dias, da Universidade Federal de Sergipe, inspirados em estudos pós-estruturalistas, abordam os discursos de gênero, corpo e sexualidade no ambiente escolar produzidos por docentes e discentes. Os autores identificam a presença de discursos heteronormativos e reguladores e reconhecem a existência de poucas experiências com foco nessas temáticas.

Por sua vez, o artigo de Isaias Batista de Oliveira Júnior, da Universidade Estadual do Paraná, focaliza a diversidade sexual e a homofobia em treze escolas públicas de ensino médio investigadas. Com base em estudos de gênero e em estudos culturais, o autor analisa falas espontâneas de educadores/as sobre esses temas emitidas nas práticas imputadas às pessoas LGBTQIA no cotidiano escolar. Há indícios de atitudes discriminadoras em relação à diversidade sexual e à homofobia.

No que tange à formação profissional, há dois artigos com esse enfoque, um deles versa sobre a formação inicial de professores tendo como sujeitos os egressos desse curso, o outro trata do estágio supervisionado em um hospital de ensino na percepção dos preceptores. Os dois artigos evidenciam uma visão crítica sobre a formação em foco e a necessidade de envidar esforços para superar suas problemáticas candentes, que clamam por um olhar cuidadoso sobre o currículo desenvolvido na prática.

O artigo de Ademilson de Sousa Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais, trata da formação inicial de professores no âmbito da educação infantil a partir da análise de dados obtidos junto aos egressos do curso, oferecido por essa universidade, nas modalidades presencial e a distância. As análises apontam contribuições favoráveis do curso e mostram algumas lacunas, como a ausência da prática como componente curricular; o estágio burocratizado; a utilização insuficiente das tecnologias e mídias digitais.

Os autores Lusineide Carmo A. Lacerda, Roxana Braga de Andrade Teles e Cristhiane Maria Bazílio de Omena, da Universidade de Pernambuco, analisaram o estágio supervisionado em um hospital de ensino, segundo a percepção do preceptor sobre o processo de ensino-aprendizagem e as práticas interdisciplinares no ambiente hospitalar. Por meio da Análise de Conteúdo Temática, o estudo, de natureza descritiva e quali-quantitativa, evidenciou que a maioria dos preceptores atua empiricamente sem uma formação específica para desenvolver o trabalho formativo de novos profissionais da saúde.

São três os artigos que têm como foco a integração entre as tecnologias digitais, a cultura e a educação, cada qual trazendo um enfoque e uma metodologia diferentes.

As culturas cotidianas são tratadas na inter-relação da cidade com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em artigo de Mirian Maia do Amaral, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, Rosemary Santos e Edméa Santos, ambas da UERJ, mediante os conceitos de cibercultura, mobilidade ubíqua, cartografia de saberes, fazeres e poderes nas redes educativas, e atos de currículo. Nesse contexto, em que se constitui o movimento #UerjResiste, as autoras procuram compreender as principais características dessas redes tecidas com outros cotidianos, em diálogo com o filme documentário “Lixo Extraordinário”.

Os demais artigos desta edição, apresentados a seguir, se caracterizam por ensaios, estudos teóricos, documentais ou bibliográficos.

O estudo de Mary Valda Souza Sales e Emanuel do Rosário S. Nonato, da Universidade do Estado da Bahia, versa sobre uma construção teórica em torno da educação a distância (EaD), seus tipos, metodologias e tecnologias e suas relações com o currículo, considerando o hipertexto como base para refletir sobre perspectivas mais abertas e ampliadas de práticas curriculares de educação mediada pelas tecnologias, por meio de um design pedagógico que propicie o exercício da autonomia, a criatividade, a inventividade, envolvendo os participantes no processo formativo. Subjacente ao design pedagógico há uma concepção de currículo, cuja explicitação permite antever as diferentes abordagens da EaD e seus pressupostos epistemológicos.

Os autores João Carlos Diniz Martins e Fernando Silvio Cavalcante Pimentel, da Universidade Federal de Alagoas, desenvolvem um estudo teórico bibliográfico sobre o hibridismo e a multimodalidade, configurados na convergência de diferentes tecnologias analógicas e digitais, com interação em espaços presenciais físicos e on-line, em contextos educacionais gamificados. O estudo destaca os principais conceitos, referências, características, aplicações e concepções evidenciados na bibliografia, permitindo ampliar horizontes e inspirar novas investigações.

A educação ambiental é o foco do artigo de César Augusto Costa, da Universidade Católica de Pelotas, e de Carlos Frederico Loureiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pautado pelo gênero ensaio. Os autores analisam a realidade das lutas ambientais havidas na América Latina na ótica epistêmica e política, segundo as contribuições de Enrique Dussel, na perspectiva dos “sem direitos” expropriados socialmente, com referências fundamentais para a compreensão dos movimentos atuais.

Por seu turno, Cláudio Rodrigues da Silva e Neusa Maria Dal Ri, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, apresentam uma pesquisa documental e bibliográfica, que inter-relaciona os princípios educativos em movimentos sociais de trabalhadores presentes nos projetos educativos dos owenistas, dos cartistas britânicos e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Brasil. Os princípios comuns encontrados permitem identificar as contribuições para a formação técnico-científica e a constituição de uma concepção de mundo referente à classe trabalhadora.

O artigo de José Alberto Antunes de Miranda, da Universidade La Salle, Viviane Bischoff, da Universidade do Vale do Taquari e Luciane Stallivieri, da Universidade Federal de Santa Catarina, trata de um estudo de natureza qualitativa descritiva, documental e bibliográfica, com o objetivo de reconhecer parâmetros de identidade da internacionalização da educação superior no Brasil. São identificadas ações pontuais e propositivas na América Latina e na África, a formação de uma dimensão internacional e intercultural para a pesquisa e o ensino, via Ministério da Educação, com baixa participação do Ministério de Relações Exteriores. Há evidências de que a internacionalização da educação superior no Brasil se refere a uma recente política com um caminho a percorrer para sua expansão e consolidação.

A pedagogia da avaliação educacional em sua ontologia e epistemologia é foco da pesquisa de Roberto Araújo Silva e Maria Amélia do Rosário Santoro Franco, da Universidade Católica de Santos, fundamentada na sociologia da avaliação. Os autores investigam duas concepções contraditórias de avaliação: o controle e a emancipação, com base no SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) e concluem que este se pauta pela regulação e supervisão associadas ao controle, refletindo a intenção subjacente das políticas educativas.

Luis Fernando Lima e Silva e Nadia Dumara Ruiz Silveira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, apresentam os resultados de um estudo sobre aprendizagens interdisciplinares significativas no ensino de filosofia em interlocução com a arte, que mostra o significado pedagógico da arte para além da ilustração ou sensibilização, apoiado na concepção interdisciplinar de interlocução de saberes. A dimensão da estética emerge enquanto linguagem que expressa a construção de conhecimento por meio da arte como componente significativo de reflexões filosóficas.

A multiplicidade de temas apresentadas nesta edição da Revista e-Curriculum reverberam o caráter híbrido dos estudos que permeiam o campo do currículo e oferecem contribuições significativas para a compreensão do dinamismo e da transdisciplinaridade presentes. Enfim, observa-se um diálogo e uma relação de complementariedade nas discussões apresentadas, excelente oportunidade de acesso aos trabalhos inéditos e um convite à leitura.

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