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Revista e-Curriculum

versión On-line ISSN 1809-3876

e-Curriculum vol.18 no.1 São Paulo ene./marzo 2020  Epub 30-Sep-2020

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2020v18i1p1-9 

EDITORIAL

EDITORIAL DA REVISTA E-CURRICULUM: A PESQUISA CIENTÍFICA EM TEMPOS ADVERSOS

Antonio Chizzotti* 
http://orcid.org/0000-0003-0939-5646

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida** 
http://orcid.org/0000-0001-5793-2878

* Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP. E-mail: anchizo@uol.com.br

** Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP. E-mail: bethalmeida@pucsp.br


A educação passou por grandes crises ao longo dos anos. Nesse ano, porém, de modo singular, a crise assumiu proporções inéditas provocada pelos confrontos políticos internacionais e nacionais e pela guerra fiscal entre as potências econômicas. Essa situação, agravada pela pandemia do novo Coronavírus, alcunhada COVID-19, trouxe problemas inesperados, com alto grau de incidência na vida particular e na vida social, e com consequências inéditas na educação e no currículo.

A insegurança social com o governo do país e o acirramento das tensões políticas geraram um clima de exasperação da retórica partidária, que adentrou a vida acadêmica, contaminou o discurso científico e comprometeu tanto o apoio quanto o financiamento da pesquisa brasileira. A sobreposição de uma pandemia de dimensões globais, trazida pelo Coronavírus, adensou o clima de acirramento social e trouxe um agravamento das disputas partidárias com sérias consequências para a vida econômica e social. No campo da gestão da educação, as providências erráticas do Ministério da Educação agravaram, ainda mais, o campo da pesquisa e da educação nacional, com consequências profundas nas atividades cientificas dos educadores e da pesquisa acadêmica. O que torna o momento atual, particularmente, preocupante é que o espaço para o debate sobre os rumos da educação nacional tem sido, progressivamente, diminuído e substituído por uma retórica tribal de opiniões exasperadas, que acirra os ânimos, obscurece os esforços dos pesquisadores e ameaça comprometer a produção científica no Brasil.

Nesse contexto singular da vida nacional e da produção e da difusão científicas, a Revista e-Curriculum, fiel ao seu compromisso de contribuir com o incremento da produção e difusão dos esforços científicos dos pesquisadores, tratou, de modo especial, nesse número, de ampliar as possibilidades de oportunizar a publicação de autores nacionais que, afrontando as adversidades do momento histórico do país, mantiveram seus esforços de investigação e de produção científica, a fim de lograr a construção de um contexto dialógico e colaborativo com o objetivo de superar as hostilidades interpessoais, as diatribes políticas e contribuir com os esforços coletivos na superação de uma crise, ainda em curso, e de consequências prospectivas muito graves.

Para propiciar, pois, para a consolidação da produção científica em educação e currículo, a Revista e-Curriculum considerou necessário dar lugar privilegiado à contribuição dos pesquisadores nacionais, a fim de ampliar o espectro dos debates e lograr a edificação de um contexto dialógico e colaborativo na solução dos problemas atuais, respaldado nos esforços da pesquisa e na difusão da produção científica, desenvolvida em tempos tão adversos.

Nesse sentido, apresentamos aos autores e leitores da Revista e-Curriculum a edição volume 18 n. 1, respeitando sua periodicidade, contemplando vinte e um artigos da demanda contínua, originados em instituições das mais diversas regiões do Brasil. Os artigos estão organizados em temáticas relevantes e candentes da realidade educacional e do debate sobre o campo do Currículo, quais sejam: políticas públicas curriculares; currículo e ensino superior; formação; educação da infância; gênero e aprendizagem.

São quatro os artigos relacionados a currículo, dois deles tratam da educação superior e outro de publicações em periódicos ou dossiês voltados a temáticas de currículo. Observa-se entre os quatro artigos uma preocupação latente com o currículo. Destes, três inter-relacionam com o cotidiano, a prática profissional, a cultura e seus instrumentos. O outro artigo questiona a perda da autonomia curricular do docente em um contexto de gestão do currículo no ensino superior.

O artigo de Thais de Souza Schlichting e Marcia Regina Selpa Heinzle busca compreender históricos e princípios de metodologias de aprendizagem ativa - PBL (Problem Based Learning) e PLE (Project Led Education) - no currículo da educação superior em cursos de Medicina e Engenharia. As análises mostram que essas metodologias orientam propostas curriculares centradas no trabalho em equipes multidisciplinares, que buscam solução de problemas reais, autonomia do estudante e formação técnico-científica. A concepção de currículo orientadora dessas propostas não se constitui como objetivo do artigo, porém os resultados sugerem uma concepção reconstrutiva e problematizadora ao inter-relacionar formação e atuação profissional ética e humanista.

Com o título “Gestão curricular no ensino superior: contextos de desenvolvimento”, Itamar Mendes da Silva, Jorge Nassim Vieira Najjar e Marcelo Lima desenvolvem uma análise de processos coletivos, internos e sistemáticos de revisão curricular realizados na Universidade Federal do Espírito Santo com ênfase no conceito de currículo, seu significado e possibilidades, bem como nos caminhos e perspectivas dessa instituição. Como resultados apontam a pseudoneutralidade dos indicadores educacionais e revelam as contradições dos colegiados em suas relações com os sujeitos do currículo, restringindo a autonomia curricular.

Terezinha Maria Schuchter, Juliana Paoliello e Nilcéa Elias Rodrigues Moreira, analisam as práticas discursivas por meio de um mapeamento cartográfico-discursivo evidenciadas no periódico Transnational Curriculum Inquiry e nos dossiês organizados pela Associação Brasileira de Currículo, publicados em três periódicos: e-Curriculum; Currículo sem Fronteiras; e Teias. Os discursos são agrupados em eixos temáticos e as análises indicam a dinâmica de uma organização impositiva, mas esta não consegue tolher os afetos e a constituição de redes de conversação, de relações entre currículo, cultura, cotidiano e diversidade, com abertura para outros movimentos.

A integração das tecnologias digitais de rede ao currículo é foco do estudo de Ana Claudia Pereira Rubio e Ozerina Victor de Oliveira, em análise sobre o ciclo político deste currículo e seus contextos, mediante as políticas públicas de currículo, com ênfase na constituição de discursos de docentes de uma escola pública. As análises mostram que as possibilidades dessa integração residem em reconhecer essas tecnologias como prática social realizada mediante o protagonismo dos atores envolvidos do currículo e mediações pedagógicas entre docentes e discentes em processos epistemológicos que configuram um currículo escolar. O artigo aponta elementos essenciais ao processo de integração entre as tecnologias digitais de rede e o currículo, quando as tecnologias são apropriadas como instrumentos da cultura e linguagem mediadora dos processos de ensino, aprendizagem e reconstrução do currículo no ato educativo.

São seis os artigos que se referem a políticas públicas da educação, entre as quais BNCC, reforma do Ensino Médio, sistema de avaliação adotado em um município e Educação Integral. As análises encetadas nos artigos revelam que essas políticas mantêm a centralidade da homogeneização das diferenças, uma visão apartada da consciência crítica, a reprodução das desigualdades sociais na escola, a avaliação com foco em resultados e a diversidade de sentidos à educação integral. Tais resultados apontam a disputa entre perspectivas de educação voltadas à emancipação e equidade social ou distanciamento do pluralismo, à doutrinação e à lógica do mercado.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento analisado em artigo de Lucas Munhoz Cabral e Rosana dos Santos Jordão a fim de identificar a presença de elementos do multiculturalismo no texto geral e na área de Ciências da Natureza. Os resultados revelam que, embora a BNCC defenda a igualdade de direitos às diversidades, no que tange à área de Ciências, um por cento de habilidades empregam verbos representativos da aprendizagem de valores, o que evidencia o distanciamento do documento curricular da educação básica brasileira em relação ao tema do multiculturalismo, da ética e da pluralidade.

Os autores, Priscila Fabiane Farias e Leonardo da Silva, também tratam da BNCC e enfocam a língua inglesa no ensino fundamental com o propósito de identificar se este documento propõe uma abordagem voltada à conscientização crítica e formação de cidadãos capazes de agir com vista à justiça social. As análises mostram que a BNCC sugere uma visão crítica com relação ao papel da língua inglesa, porém não especifica os conceitos e não problematiza o caráter crítico no ensino dessa língua tampouco as questões sociais.

O estudo de Renan Santos Furtado e Vergas Vitória Andrade da Silva versa sobre a reforma em curso no ensino médio brasileiro e a inserção dos itinerários formativos, em uma análise documental a respeito da estrutura discursiva presente na Lei 13.415/2017, com base nas concepções dos sociólogos Pierre Bourdieu e Jean Claude-Passeron. Os resultados mostram uma proposta de formação destinada a atender realidades sociais desiguais, que tende a erigir as injustiças sociais ao campo educacional. Desse modo, a reforma do ensino médio com a inclusão dos itinerários formativos encobre a função dos sistemas de ensino com a reprodução das desigualdades sociais.

O Sistema de Avaliação do Ensino Municipal de Jijoca de Jericoacoara, no Ceará, é estudado em artigo de Rita de Fátima Muniz, Sheila Maria Muniz, Marcos Antonio Martins Lima e Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim, à luz da metodologia quadripolar. Por meio de análises qualitativas e quantitativas, com uso de softwares, são explicitados resultados dos efeitos dessa avaliação na aprendizagem de alunos do 2º ano do ensino fundamental, que evidenciam contribuições para a equidade entre as escolas e para orientar a prática docente. Contudo, os educadores admitem a necessidade de rever a metodologia de divulgação dos resultados e o nível das questões das avaliações aplicadas. Tais resultados sugerem o estabelecimento de comparações entre as escolas em um possível ranking de resultados e suscitam questionamentos a respeito das contribuições desse Sistema para a aprendizagem das crianças.

Os sentidos atribuídos ao conceito de educação integral na contemporaneidade são estudados em artigo de autoria de Talita Vidal Pereira e Marcio Bernardino Sirino, que analisam as dissertações e teses defendidas, de 2006 a 2016, no âmbito do Núcleo de Estudos, Tempos, Espaços e Educação Integral, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, apoiados na Teoria do Discurso, de Ernesto Laclau. Foram identificados diferentes sentidos ao conceito de Educação Integral, convergentes, divergentes e híbridos, que sugerem a necessidade de compreender as lutas por significações e pela tentativa de hegemonia de determinados sentidos e significados.

O artigo de Carlos Betlinski, Dalva de Souza Lobo e Luiz Roberto Gomes, caracterizado como ensaio teórico, analisa as reformas educacionais brasileiras das três últimas décadas a partir dos conceitos de totalitarismo de mercado, racionalidade neoliberal e estado de exceção. Os resultados revelam a aproximação entre as reformas educacionais e a lógica empresarial, indicam que o chamado progresso conduz à regressão, à exclusão econômica e cultural da sociedade.

No que tange à formação docente esta edição apresenta cinco artigos com temas difusos entre si, tratando de formação de professores do campo, licenciatura em computação, percurso formativo de professores para o exercício da docência universitária, formação continuada de gestores e atuação do professor de educação física (EF) na gestão escolar. As análises sobre o campo da formação inicial e da formação continuada mostram a preocupação atual com esse tema e a diversidade de objetos de estudos.

Os autores, Clarice Zientarski, Hermeson Claudio Mendonça Menezes e Sônia de Oliveira da Silva, retratam uma pesquisa de natureza qualiquantitativa sobre a formação de professores(as) do campo, desenvolvida em municípios do Estado do Ceará/Brasil, situada entre as mutações do mundo do trabalho e suas reverberações na educação. Os resultados mostram a incompreensão dos sujeitos sobre categorias fundamentais dessa modalidade de educação, como campo e educação do campo, bem como discrepâncias entre as concepções teóricas, as teorias pedagógicas assumidas pelos professores e o conhecimento teórico da literatura. Tais resultados sugerem a descontextualização e a precariedade da formação de professores realizada.

Os elementos curriculares do curso de Licenciatura em Computação do Instituto Federal do Triângulo Mineiro, seus limites e possibilidades, são investigados por Elisa Antonia Ribeiro e Olenir Maria Mendes, em inter-relação com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores, o Projeto Pedagógico do Curso e planos de ensino de disciplinas. Como resultado emerge a proposta de que os planos de ensino, construídos coletivamente em uma ótica interdisciplinar, devem ser integrados com a prática profissional, seus fundamentos metodológicos e com a docência. Os aspectos salientados são inerentes à formação de professores de diferentes áreas de conhecimento, questiona-se como são tratados os temas específicos do ensino de conhecimentos da computação.

Maria de Lourdes da Silva Neta, Denilson Cursino de Oliveira, Mayara Alves Loiola Pacheco e Matheus Paiva Serpa Barroso, retratam uma investigação sobre o percurso formativo de professores para o exercício da docência universitária em um curso de Medicina Veterinária de uma instituição pública. As análises evidenciaram a prevalência de cursos de bacharelado na formação inicial dos docentes, a maioria com título de doutorado e participantes de cursos de formação continuada oferecidos pela própria instituição por meio de sua política de desenvolvimento profissional docente. Os achados mostram que a docência universitária continua a ser exercida por um profissional da área do curso, que detém uma formação em nível de pós-graduação stricto sensu voltada para a pesquisa e não para o trabalho do professor.

Por sua vez, o estudo de autoria de Francisco Jeovane do Nascimento, Eliziane Rocha Castro, Luciana Rodrigues Leite e Maria Socorro Lucena Lima, versa sobre a formação continuada de gestores escolares, investigando as contribuições e os limites de um processo formativo continuado no seu desenvolvimento profissional. As análises mostram que a formação considerou as necessidades dos gestores, criou espaços colaborativos de compartilhamento de experiências e conhecimentos, entre outros aspectos. Contudo, aponta a carência de tempo e espaço para a reflexão crítica e o desenvolvimento profissional, que se constitui como um problema fulcral da formação continuada de educadores, em especial, quando se realiza a distância.

Outro artigo, dos autores Fernando Torres Otero de Souza, Rodrigo Lema Del Rio Martins e André da Silva Mello, trata da participação do professor de educação física (EF) na gestão escolar, que realizaram uma pesquisa documental na legislação sobre educação física, e bibliográfica com dados de periódicos, e de banco de teses e dissertações com foco em gestão escolar. O estudo aponta que a atuação profissional nas atividades de gestão escolar de docentes com formação em educação física vem ganhando espaço e há orientação legal para tal, porém registra a escassa produção acadêmica e a falta de repercussão desta nos currículos de formação nesse campo. As discrepâncias entre atuação, formação e produção acadêmica evidenciadas no texto sugerem uma problemática sensível, sobretudo, àqueles que convivem com a situação.

A educação infantil também ocupa posição de destaque com três artigos nesta edição da revista e-Curriculum, que se mostra atenta a essa etapa recentemente inserida na composição da educação básica. Os artigos denotam contextos, métodos de investigação e resultados peculiares, que permitem ampliar a visão sobre a complexidade inerente aos estudos da infância.

As convergências e tensões na produção acadêmica sobre currículo da educação infantil, estão no cerne do estudo de Sandro Vinicius Sales dos Santos, Fabiana Pinheiro Barroso e Jessica Mayara Nascimento, que analisaram periódicos do campo educacional com Qualis A1 e A2. Os resultados revelam que a organização do currículo considera as especificidades das instituições que se dedicam à educação infantil, bem como identificam tensões relacionadas a fatores pouco explorados na organização do currículo para creches e pré-escolas. As conclusões ressaltam a necessidade de expandir as investigações com focos específicos evidenciados na realidade concreta.

O estudo de Flávia Brocchetto Ramos, Lovani Volmer e Verônica Bohm sobre aproximações e distanciamentos entre dois produtos culturais: o conto de fadas Rapunzel (irmãos Grimm) e o filme Enrolados, produzido pela Disney em 2010 a partir desse conto. Como resultado registra a interdependência entre os produtos nos modos de representar as relações humanas no que tange à rejeição ao envelhecimento e ao silenciamento da figura feminina. Isto mostra que a narrativa discursiva e simbólica entre cinema e literatura abrange significados e sentidos e arrasta consigo traços de concepções homogêneas reprodutoras de preconceitos latentes na sociedade.

As narrativas de crianças de uma creche pública do interior do estado de Mato Grosso sobre suas vivências em uma cenacontecimento intitulada Cantinho do pensamento, considerado como um ato normativo, são investigadas no artigo de Eliane Maria de Jesus e Silas Borges Monteiro. As narrativas sobre as experiências nesse cantinho descortinam outros modos de pensar sobre as infâncias que se expressam por lógicas específicas e se refletem nos atos das crianças. A expressão do sentir, pensar criativo e se expressar por meio da narrativa permite compreender significados e sentidos que as crianças atribuem à experiência e propicia o entendimento sobre a presença de novos elementos para estudos sobre a infância.

Temáticas relacionadas a gênero se constituem como umas das preocupações dos pesquisadores expressas em um artigo que aborda a questão do feminicídio. Viviane Martins Vital Ferraz, Fernanda Monteiro Rigue, Cádia Carolina Morosetti Ferreira e Rosane Carneiro Sarturi, buscam compreender como a educação pode enfocar as questões de “igualdade de gênero” de modo a contribuir para a redução do número de feminicídios e compreender o impacto no currículo provocado pela supressão do termo “gênero” na BNCC. O estudo conclui que um modo de tratar essa questão se apoia na construção colaborativa de projetos pedagógicos que abordem o respeito às diferenças. Assim, o artigo vai além da denúncia da omissão do tema na BNCC e propõe a participação das famílias em processos de reflexão e ação.

O artigo de autoria de Rosangela Miola Galvão, Sandra Aparecida Pires Franco, Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto e Andressa Cristina Molinari tece uma análise dialética do conceito de memória segundo o enfoque da Teoria Histórico-cultural, a partir do livro Memórias de uma moça bem-comportada, obra autobiográfica de Simone de Beauvoir, no qual a autora tece relevantes concepções filosóficas. Com base nos estudos de Vigotski, a análise dialética encetada leva a entender que o tratamento dado ao desenvolvimento da memória pela escritora apoiado na descrição de suas vivências apresenta convergência com o pensamento de Vigotski sobre o desenvolvimento psíquico.

O artigo de Nize Pellanda e Fabiana Piccinin coloca em foco a autonarrativa como autoconhecimento em uma experiência didática da interdisciplinaridade, considerada como ação/configuração do sentir/pensar, bem como questiona a cognição entendida como representação objetiva da experiência dicotomizada daquilo que afeta o sujeito em sua subjetividade. Os resultados indicam que as autonarrativas mobilizam saberes, emoções, intuições e metáforas e mostram a indissociabilidade da ontogênese do ser humano e de suas epistemes. Entende-se que as autonarrativas provocam as autoras a falar de si, contudo seria importante salientar que o sujeito se constitui na relação com o mundo.

Em suma, a pluralidade de autores de distintas instituições e regiões brasileiras, a multiplicidade de temas, fundamentos teóricos e metodológicos e resultados dos estudos apresentados nos artigos desta edição da Revista e-Curriculum contribuem para a compreensão dos desafios com que se defronta o campo do currículo diante do momento histórico conturbado enfrentado pelo país e dos desafios interpostos à educação e ao currículo.

O conjunto de artigos aglutinados nesta edição da Revista e-Curriculum mostra a diversidade de enfoques temáticos que trazem subjacente as preocupações com o acirramento dos conflitos sociais, da intolerância, das errâncias nas propostas de políticas para a educação e a pesquisa científica, afetando as atividades de ensino, pesquisa em extensão em seu âmago, bem como o desenvolvimento do currículo, a produção e divulgação da ciência. Mais do que preocupações, os pesquisadores autores mostram que continuam a produzir ciência e a criar referências para orientar novas investigações necessárias para a reconstrução do porvir.

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