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Revista e-Curriculum

versión On-line ISSN 1809-3876

e-Curriculum vol.18 no.3 São Paulo jul./sept 2020  Epub 01-Dic-2020

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2020v18i3p1040-104 

EDITORIAL

EDITORIAL DA REVISTA e-CURRICULUM Edição 18 (3) julho/setembro 2020

Antonio Chizzottii 
http://orcid.org/0000-0003-0939-5646

Marina Graziela FELDMANNii 
http://orcid.org/0000-0003-3008-2636

i Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. E-mail: anchizo@uol.com.br

ii Doutorado em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora Titular da Faculdade de Educação da PUC-SP. Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq) Formação de Professores e Cotidiano Escolar. E-mail: feldmnn@uol.com.br.


A REVISTA E-CURRICULUM EM TEMPOS DE PANDEMIA

 

A produção científica é um bem comum e muitos pesquisadores, conscientes da contribuição que podem oferecer ao desenvolvimento social e à qualidade de vida, empenharam-se, mesmo diante do agravamento da pandemia, em proporcionar novos conhecimentos para o bem-estar social, como atestam os artigos científicos que compõem o número 3 do volume 18 da Revista e-Curriculum.

A pandemia repôs a questão da responsabilidade social coletiva e o compromisso ético de todos os pesquisadores de cooperar para a superação do aprofundamento trágico das desigualdades sociais. A constrição do convívio social e o confinamento necessário no recinto do lar exerceram um grande impacto na vida cotidiana, desestabilizaram as interações sociais, entravaram os contatos pessoais e provocaram um impedimento inesperado em muitas fontes de informação científica.

A pandemia não só alterou o modo de viver, mas também provocou uma substancial mudança: a promessa de uma vida, isolada de outras vidas, confrontou-se com as exigências de garantir a sanidade da própria existência e a do outro. Todos foram constrangidos a modificar sua rotina e, mais, reconhecer que a vida humana não é mais a mesma: se, antes, aliciada pelo sucesso crescente da produção, da riqueza, da porfia competitiva pelos bens e de promessas de uma vida privada exuberante com a expansão dos bens e serviços e, no extremo, um reino fantástico de bem-estar individual, tudo, repentinamente, se estancou diante da iminência de uma hecatombe universal e mostrou a instabilidade frágil da própria vida e da vida alheia. Foi preciso que cada um vencesse os riscos e se investisse na construção da coletividade, sem abdicar da aplicação ao estudo, tampouco abandonar a reflexão e a produção científica. Esta edição da Revista e-Curriculum arrostou todos os impedimentos provocados pela fase aguda da epidemia para propiciar aos leitores os empenhos dos pesquisadores, que desejaram oferecer, em uma fase tão instável da vida sanitária e social, seu contributo científico ao bem-estar comum de todos. A Revista apresenta, pois, as colaborações científicas, oriundas da demanda contínua, e as produções que formam o dossiê do presente número.

Luciana Pasqualucci e Alípio Casali debatem sobre a indissociabilidade entre cultura e educação e fazem-no por meio do debate crítico sobre as práticas dos museus reduzidas a arquivos de objetos reificados; as práticas das universidades que se limitam ao currículo tradicional e à formação profissional voltada à preparação para o mercado de trabalho; a redução de seus públicos à condição de consumidores culturais. Fundamentados no conceito de formação cultural em contraponto à indústria cultural e à semiformação, propõem uma prática interativa entre museus e universidades em favor da formação cultural crítica de seus públicos.

As autoras Rosa Maria Bortolotti de Camargo e Rosane Carneiro Sarturi analisam, por meio de investigação comparada entre Brasil e França, o “ritmo escolar” como componente fundamental do currículo escolar que designa a forma como são conduzidos e organizados os diferentes tempos e espaços escolares. Consideram, para sua pesquisa, duas escolas públicas de periferia, uma em cada país, e realizam a coleta de dados a partir da observação participante e de entrevistas semiestruturadas aplicadas aos professores e monitores. Como resultado, estabelecem uma relação de causalidade entre o “ritmo escolar” e o sucesso e fracasso escolar e social, em virtude da influência direta na vida crianças.

Os autores Elialdo Rodrigues Oliveira e Antonio Chizzotti discorrem acerca de possibilidades e limitações do currículo na formação de professores em contexto multicultural, tendo como base o Estado de Roraima. Consideram a interseção entre o currículo e a cultura como indutora da educação que aspira a um papel social reflexivo, crítico, criativo e significativo. Por meio da pesquisa fenomenológica, alcançam resultados que apontam como limitações: a falta de atenção do currículo à realidade local, a ausência de conhecimento sobre a organização curricular e as disputas por poder político hegemônico. Como possibilidade, assinalam a importância de um currículo com intencionalidade multicultural para amenizar problemas relacionais, de ensino e aprendizagem, assim como a valorização de princípios como respeito, tolerância e autonomia do sujeito.

Ângela Cristina Alves Albino analisa e contempla a voz docente na significação da autonomia, ancorada ao momento de decisão sobre o projeto político-pedagógico. Por meio da Análise Crítica do Discurso (ACD), compreende que o discurso significa e produz significados, por vezes, naturalizados. Infere que autonomia no contexto docente assume uma multiplicidade discursiva que não exprime apenas liberdade para fazer algo, mas ainda um ideal a ser alcançado que está ancorado na formação docente para que seja possível (re)significar tal prática como ato profissional político. Entende a autonomia como requisito político relacional que extrapola as instâncias de regulamentação institucional e torna-se relevante para alimentar a crença na possibilidade de configurá-la, numa perspectiva de luta e movimento emancipatório, nos instantes de proposição curricular da escola.

O artigo de Mauricio de Sousa traz uma análise da trajetória da política de avaliação educacional no ensino fundamental, adotada durante os três governos petistas na cidade de São Paulo: Luiza Erundina (1989-1992), Marta Suplicy (2001-2004) e Fernando Haddad (2013- 2016). Utiliza a pesquisa documental para discutir dois modelos teóricos sobre a avaliação educacional, mostrando a avaliação numa perspectiva inclusiva, formativa, dialógica e democrática, além de abarcar a avaliação numa perspectiva da performatividade. Conclui que os dois primeiros governos petistas se aproximaram do primeiro modelo de avaliação. Todavia, o governo Haddad adotou uma política de avaliação educacional que manteve práticas do discurso neoliberal.

As autoras Eliana Nardelli de Camargo e Patrícia Rodrigues Carvalho dos Reis examinam as produções de um grupo de professores, participantes do curso de extensão Práticas Docentes no Ensino Fundamental, vinculado ao Programa de Mestrado Profissional Práticas Docentes no Ensino Fundamental, oferecido pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES), ao elaborarem atividades empregando recursos tecnológicos digitais em suas aulas. A metodologia adotada foi a pesquisa-ação, pela qual se apresenta qualitativamente a efetividade do uso de dispositivos móveis conectados à internet como potencializadores dos processos de ensino e aprendizagem. Indicam como resultados que o que se colheu nos cursos de extensão pode se tornar objeto de pesquisa para aperfeiçoar o ensino oferecido.

O artigo de Ana Lara Casagrande e Kátia Morosov Alonso aborda a relação entre a etapa final da Educação Básica e a Educação a Distância (EaD). Discute a EaD como estratégia de ensino a ser adotada parcialmente no Ensino Médio, conforme as novas Diretrizes Curriculares Nacionais voltadas a essa etapa (até 20% no período diurno e 30% no noturno). Conclui ser inviável neste momento a adoção da EaD no Ensino Médio, pois esse modelo coaduna-se com um modo de precarização da Educação, dado que a justificativa central parece assentar-se nos custos, além de desprezar o percurso ainda a ser consolidado da modalidade na expansão do acesso à educação superior no País, visto que sua institucionalização ainda não é considerada um processo acabado.

Lhays Marinho da Conceição Ferreira e Roberta Sales Lacê Rosário investigam a intensa produção político-curricular que tenta justificar a importância do uso de materiais, de tecnologias consideradas educacionais e de normas, visando à regulação da prática docente nas escolas, sob a premissa de que isso garantirá uma “qualidade na educação”. Trazem para a discussão alguns trechos de entrevistas com professores de uma instituição escolar pública localizada na periferia da cidade do Rio de Janeiro para refletir a produção do currículo no cenário social contemporâneo. Apresentam nos resultados como os discursos de professores e estudantes dão sentido à produção política.

O artigo de Maria do Rozario Gomes da Mota Silva, Cláudia Simone Almeida de Oliveira e Sérgio Paulino Abranches discute os Estilos de Uso do Espaço Virtual (EUEV), suas implicações nas formas de aprender em redes digitais de aprendizagem e sua contribuição para o desenvolvimento da coaprendizagem como possibilidade para a inovação curricular na Educação Básica. O estudo proporciona a compreensão de que a Educação Básica precisa estar atenta e aberta às novas descobertas e aos conhecimentos que envolvem os novos cenários de aprendizagem, as novas formas de aprender em rede e os Estilos de Aprendizagem e Estilos de Uso do Espaço Virtual dos estudantes como elementos essenciais no desenvolvimento das competências digitais para coaprender e cocriar em rede.

O autor Gilson Cruz Junior trata sobre o vínculo entre educação e tecnologias, fornecendo elementos para a crítica da educação digital. Apresenta como resultado que o cerne do referido debate se encontra eivado de vícios explicativos e interpretativos que, no geral, derivam do determinismo tecnológico. Por fim, descreve os princípios e os objetivos da sociologia digital, refletindo sobre seu potencial analítico com relação às problemáticas que envolvem as apropriações escolares e educacionais das tecnologias de informação e comunicação.

O artigo de Nuria Pons Vilardell Camas, Eduardo Fofonca e Andrei Rafael Galkowski examina a percepção de um grupo de docentes de Arte da Educação Básica, especificamente do Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio, a respeito do uso da linguagem fotográfica e de imagens no contexto de sala de aula. Tem como métodos a observação participante e a análise das experiências realizadas no contexto de sala de aula, considerando as narrativas dos docentes. Como instrumentos de coleta de dados utiliza questionários, com perguntas abertas e fechadas, bem como as cartas narrativas. Evidencia como resultados que os sujeitos reconhecem a necessidade da adoção das diferentes tecnologias em sala de aula para a exploração de variadas linguagens artísticas. Entretanto, explicita que existem obstáculos difíceis de serem superados quanto ao uso da linguagem fotográfica e de tecnologias diversificadas em sala de aula, pela estrutura física e pedagógica dos ambientes escolares.

A Revista e-Curriculum tem, pois, a satisfação de apresentar mais uma edição de sua publicação, agradecendo a todos os avaliadores que colaboraram na análise e na apreciação crítica dos artigos, possibilitando, assim, a produção de mais esse número da Revista e- Curriculum.

 

Setembro/2020

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