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Revista e-Curriculum

versión On-line ISSN 1809-3876

e-Curriculum vol.20 no.1 São Paulo ene./mar 2022  Epub 06-Mayo-2022

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2022v20i1p1-5 

EDITORIAL

Edição 20 (1) janeiro/março 2022

Antonio CHIZZOTTIi 
http://orcid.org/0000-0002-2752-2330

Maria Elizabeth Bianconcini de ALMEIDAii 
http://orcid.org/0000-0001-5793-2878

i Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, Brasil. E-mail: anchizo@uol.com.br

ii Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, Brasil. E-mail: bbethalmeida@gmail.com


A revolução digital transformou profundamente o conhecimento, a cultura, o modo de vida e o contexto social. Confrontados com uma massa de informações disponíveis e uma concorrência generalizada de ideias e concepções, circulando sem um filtro epistemológico e sem uma exigência lógica dos usuários, sejam autores ou leitores, eles enfrentam uma saturação do mercado de informações, tornando-os aptos para elevar o próprio conhecimento, mas também deixando-os expostos às falsas informações. Essas informações falsas, revestidas de teorias conspiratórias, fake news, manifestações odiosas, malévolas e criminosas, e outros vocábulos, que se multiplicam, circulam com a finalidade de influenciar ideias, comportamentos, visão de mundo e opções partidárias.

Assim, os usuários podem adquirir um volume inédito de informações, mas estão permeáveis a concepções e práticas que visam alistá-los em partidos e aderi-los a ações iníquas. Nesse momento histórico, a tragédia da guerra, provocada pela Rússia contra Ucrânia, atesta o uso político partidário criminoso da web para justificar a iniquidade desse conflito.

A revolução digital trouxe, por outro lado, um modo dinâmico de editoração de ideias e concepções, que circulam pelas redes sociais, aportando noções, juízos e inverdades expressos por meio de palavras, figuras e imagens, e têm um alto poder de induzir modos de vida, concepções e práticas.

As revistas científicas têm, nesse sentido, uma contribuição fundamental para essa nova dinâmica de circulação de ideias que suplantou os meios históricos de informação: a imprensa escrita, o rádio, os magazines e o livro. Cabe às revistas científicas, nesse momento histórico, manter a difusão e o fluxo de conhecimentos fundamentados para garantir o espaço epistêmico de diálogo e de debate, a fim de elevar a qualidade de informações comprovadas e assegurar a edificação do conhecimento humano.

Em face dessa realidade complexa, atravessada por controvérsias e falsos enredos, que misturam informações de fontes verídicas com outras ludibriosas, a Revista e-Curriculum se mantém ativa e empenhada na disseminação do conhecimento científico confiável, fidedigno, com artigos instigadores, que levam ao público informações de acesso aberto e baseadas na ciência.

Pontual em sua periodicidade, a edição do volume 20, de número 1, da Revista e- Curriculum, contempla o empenho de pesquisadores em prosseguir com a pesquisa científica e a comunicação de processos e resultados de seu trabalho, brindando os leitores com artigos relevantes que patenteiam a pujança da investigação neste momento crítico da educação brasileira, carregado de ataques disfuncionais aos profissionais, às práticas pedagógicas, ao conhecimento e ao currículo em seu conceito e constituição.

Ademais, esta edição é lançada quando o mundo assiste ao massacre da guerra entre Rússia e Ucrânia, revelador da afronta à diversidade cultural, irrefreável em seu ímpeto patrimonialista de anexar territórios, desrespeitar a democracia, a liberdade e a ética, em uma tentativa insana de obstruir o movimento de fronteiras cada vez mais permeáveis e líquidas, que clamam por uma educação acolhedora das diversidades, convivência com as diferenças étnicas e culturais.

Por armadilha do destino, esta edição presenteia os leitores com um dossiê temático denominado “Currículo, Diversidade e Diferenças Culturais”, que se posiciona em contradição aos argumentos deflagradores da guerra e testemunha a relevância de uma educação solidária, multicultural, que respeita e convive com a diversidade, que foi concebido e organizado cuidadosamente por Alípio Casali (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, Brasil), Hildizina Norberto Dias (Universidade Pedagógica de Maputo - UPM, Moçambique) e Suely Dulce de Castilho (Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT, Brasil).

À vista disso, esta edição contempla a diversidade em suas distintas interfaces (internacional, regional, institucional, educacional e temática), tanto nos quatorze artigos do dossiê temático “Currículo, Diversidade e Diferenças Culturais”, apresentados junto ao dossiê, quanto nos seis trabalhos da demanda espontânea, referidos a seguir.

Com o propósito de compreender o estado da arte das tecnologias digitais (TIC) na formação inicial de professores em Portugal, os autores, Cristiano Rogério Vieira e Neuza Pedro, desenvolvem uma revisão sistemática de literatura por meio de metassíntese qualitativa sobre objetivos, metodologia, análise de dados e conclusões das investigações arroladas. Como resultados, identificam a preponderância da metodologia qualitativa com reduzido número de participantes; avanços diminutos na mudança de postura de professores do ensino superior, sugerindo estagnação ou retrocesso do tratamento das TIC na formação de futuros professores. Os resultados despertam questões para a continuidade da pesquisa com novas coletas de dados a fim de compreender as influências do período pandêmico na integração das TIC na formação inicial de professores.

O uso de um protótipo intitulado “Teaching English to Teachers”, na formação de professores de Inglês, é objeto de estudos do artigo de Michele Salles El Kadri e Thaiza Cristina Zancopé, a partir dos princípios da justiça social na ótica do pós-método, associando o conceito de material didático da proposta do Web currículo e dos protótipos (ROJO, 2017). Os resultados indicam diversos princípios da justiça social transpostos didaticamente para os protótipos de língua inglesa construídos segundo essa perspectiva, com indícios de favorecer o desenvolvimento de práticas pedagógicas consentâneas com princípios éticos cidadãos. O estudo extrapola os métodos convencionais sistematizados na literatura ao oferecer suporte teórico-metodológico condizente com a complexidade preponderante na formação de professores para o ensino de línguas estrangeiras, segundo uma abordagem crítica, reflexiva, ética e cidadã.

O artigo de Graziela Ninck Dias Menezes e Jane Adriana Vasconcelos Pacheco Rios trata de uma pesquisa cartográfica sobre profissão docente na Educação Profissional Técnica relacionada a experiências educativas com a diversidade. As reflexões encetadas pelas autoras incidem sobre dados obtidos por meio de respostas a questionários, rodas de conversa e cartas pedagógicas, evidenciam fissuras no processo formativo de docentes que atuam na educação profissional técnica. Os resultados revelam um campo de disputas e insurgências no contexto da diversidade, com fissuras advindas de processos formativos, cujo reconhecimento reposiciona os docentes diante da profissão. Tais resultados permitem vislumbrar o potencial de refletir criticamente sobre a experiência docente com a diversidade com a intenção de provocar a tomada de consciência sobre as lacunas da própria formação e a necessidade de considerar as múltiplas dimensões envolvidas no ato educativo.

O currículo do ensino superior de cursos de terapia ocupacional é foco do estudo de Ângela Cristina Bulhões do Nascimento, Waldez Cavalcante Bezerra e David dos Santos Calheiros, que analisa os Projetos Pedagógicos de Curso de quatro universidades públicas do Nordeste do Brasil. O estudo identifica uma formação generalista e a presença de elementos das áreas da educação e social nos currículos analisados; não é assente a existência de elementos das áreas social e educação e, quando eles aparecem, há uma oferta restrita de práticas e estágios supervisionados, e não em disciplinas obrigatórias. Essas lacunas tornam frágil a formação do terapeuta ocupacional, justamente no tocante a áreas que orientam uma formação humanista e interdisciplinar, propiciando extrapolar a ênfase instrumental.

Maria de Lara Terna Garcia Mancilha e Sanny Silva da Rosa são as autoras de um artigo que retrata uma pesquisa a respeito das memórias curriculares do município de Santo André, Região do Grande ABC Paulista, São Paulo, realizada no momento de discussões e embates sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Com fundamento em teorias críticas do currículo, as análises, apoiadas em documentos e entrevistas, fortalecem as argumentações sobre a constituição das memórias curriculares como patrimônio público, cuja retomada é uma forma de identificar as descontinuidades que fazem parte das políticas e propostas curriculares e de fortalecer a resistência aos ataques à democracia no atual cenário das políticas educacionais. O estudo é relevante e pertinente ao descortinar os ultrajes que afetam o cerne da educação pública brasileira.

A organização curricular na educação integral em tempo integral é objeto do estudo de Darianny Araújo dos Reis, que interpela as posições político-ideológicas e as relações de poder presentes na dinâmica de seleção do conhecimento e do conteúdo curricular. O artigo questiona o modelo prevalente de currículo da educação integral defendido pela Pedagogia Curricular de natureza instrumental-linear e assinala a pertinência de uma concepção de currículo entendida como um projeto formativo com intenções ético-políticas e pedagógicas, cuja organização curricular se pauta por jornadas ampliadas ou em tempo integral, as quais extrapolam os espaços formais de formação e se integram com as experiências culturais e de vida conforme as intenções pedagógicas. Essas novas concepção e organização se concretizam mediante problematizações, postura crítica e solidária, com objetivos compartilhados e responsabilidade coletiva, lógica curricular, tempos-espaços e visão dos sujeitos educativos.

Em suma, a atualidade, a pertinência e a diversidade dos temas avocados nos artigos que compõem esta edição da Revista e-Curriculum, tanto aqueles da demanda espontânea como os acolhidos pelo dossiê temático “Currículo, Diversidade e Diferenças Culturais”, testemunham o vigor da Revista e seu compromisso ético e estético com a disseminação do conhecimento da educação e do currículo, contribuindo com a formação de pesquisadores, educadores e profissionais de distintas áreas, ávidos por aprofundar a compreensão sobre conceitos e experiências mais abrangentes de educação e de currículos comprometidos com a diversidade, o diálogo multicultural e a sustentabilidade do planeta e dos seres humanos.

A Revista e-Curriculum e seus editores agradecem o compromisso e a dedicação de autores que investem seus esforços na pesquisa, na elaboração e submissão de artigos científicos, na revisão a partir de pareceres dos pares e na preparação para a publicação, em um exercício de paciência e confiabilidade.

Ademais, esta produção representa um esforço incomensurável de pareceristas, equipe técnica editorial, conselho científico e suporte técnico, que viabilizam e zelam pelo aperfeiçoamento constante da Revista. A Revista e-Curriculum agradece imensamente a colaboração de todos!

março de 2022

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