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Revista e-Curriculum

On-line version ISSN 1809-3876

e-Curriculum vol.20 no.1 São Paulo Jan./Mar 2022  Epub May 06, 2022

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2022v20i1p319-346 

Dossiê Temático CURRÍCULO, DIVERSIDADE E DIFERENÇAS CULTURAIS

Sociomuseologia, Diversidade e Educação:Por um Currículo Crítico, Plural e Dialógico

Sociomuseology, Diversity and Education:For a Critical, Plural And Dialogical Curriculum

Sobiomuseología, Diversidade y Educacíon:Por un Currículo Crítico, Plural y Dialógico

i Pós-Doutorado (em andamento) em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (ULHT/Lisboa). Doutora em Educação (2018) na área de Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professora e coordenadora do curso de Especialização em Museologia Cultura e Educação da PUC-SP. Coordenadora do Grupo de Estudos Sociomuseologia, Interculturalidade, Universidade - SiU, Vinculado à Cátedra UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural”. Cofundadora do Projeto PUC Museus (PUC-SP). E-mail: lucianapasqualucci@gmail.com - ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-0473-3589.

ii Doutor em História pela UNICAMP e pós-doutor pelo Departamento de História da USP (2011-2012) e pelo King's College London (2008). É professor de História do Brasil e membro do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). É autor de Capítulos de História Intelectual: racismos, identidades e alteridades na reflexão sobre o Brasil (Alameda, 2019) e vários artigos publicados no Brasil e no exterior. E-mail: alschneider@pucsp.br - ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-7308-2524.

iii Doutora em Educação (2007) pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique. Mestre em Museologia (2000) pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Licenciada em Museologia (1996) pela Universidade Federal da Bahia. Investigadora Principal da FCT -CeiED e Titular da Cátedra Unesco “Educação, Cidadania Diversidade Cultural”. Professora nos Programas de Doutoramento e Mestrado em Museologia da ULHT - no Departamento em Museologia da ULHT. Diretora da Revista Científica Cadernos de Sociomuseologia. E-mail: judite.primo@ulusofona.pt - ORCID iD: https://orcid.org/0000-0002-6953-9851.

iv Doutor em Antropologia Cultural (1983) pela Universidade de Paris VII-Jussieu. É arquiteto (1972) diplomado pela Escola Superior das Belas Artes de Paris (ENSBA- Lisboa). Reitor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia desde 2007. Coordenador do Departamento de Museologia da ULHT, Investigador do CeiED. Foi signatário da Declaração de Quebec. Membro Fundador, Presidente e atual Vice-presidente do Movimento Internacional para uma Nova Museologia - MINOM-ICOM. E-mail: mario.moutinho@ulusofona.pt - ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-0078-6894.


Resumo

Neste artigo, reflete-se sobre o cenário dos museus e das instituições de memória e suas interfaces com o currículo do curso de Especialização em Museologia, Cultura e Educação, fundamentado na Sociomuseologia, oferecido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no âmbito da Educação Continuada. Tem-se como objetivo compreender algumas das habilidades e competências requeridas ao profissional da área de museus na contemporaneidade, a fim de evidenciar o alargamento das funções e das práticas museológicas e enfatizar o museu contemporâneo enquanto lócus de ensino, pesquisa e extensão que possibilita a apropriação de fenômenos culturais, sociais e políticos. A discussão é permeada por pesquisas que aliam as experiências de trabalhos do cotidiano dos museus, seus impactos na relação com a aprendizagem, o exercício da docência em diferentes níveis e as práticas museológicas educativas e interdisciplinares.

Palavras-chave: sociomuseologia; currículo; museologia; cultura; educação

Abstract

In this paper, we reflect on the scenario of museums and memory institutions and their interfaces with curriculum of the Specialization course in Museology, Culture and Education, based on the Sociomuseology, offered by the Pontifical Catholic University of São Paulo (PUC-SP) , in the context of Continuing Education. The aim is to understand some of the skills and competences required of professionals in the contemporary field of museums, in order to highlight the expansion of museological functions and practices and emphasize the contemporary museum as a locus of teaching, research and extension that enables appropriation of cultural, social and political phenomena. The discussion is permeated by research that combine the daily work experiences of museums, their impacts on the relationship with learning, the exercise of teaching at different levels and educational and interdisciplinary museological practices.

Keywords: sociomuseology; curriculum; museology; culture; education

Resumen

En este artículo se reflexiona sobre el panorama de los museos y las instituciones de la memoria y sus interfaces con el plan de estudios de la Carrera de Especialización en Museología, Cultura y Educación fundamentada en Sociomuseología, que se dicta en la Pontificia Universidad Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil, en el marco de la educación permanente. El objetivo es comprender algunas de las habilidades y las capacidades que se les requieren a los profesionales en el campo museístico contemporáneo, con el fin de resaltar la expansión de las funciones y las prácticas museológicas y poner de relieve al museo contemporâneo como lugar de enseñanza, invstigación y extension, que hace posible la apropriación de fenómenos culturales, sociales y políticos. Este debate está permeado por investigaciones que combinan las vivencias del trabajo cotidiano de los museos, sus impactos en la relación com el aprendizaje, el ejercicio de la docência en los diferentes niveles y las practicas museológicas educativas y interdisciplinarias.

Palabras clave: socíomuseologia; currículo; museología; cultura; educación

1 INTRODUÇÃO

La museología que no sirve para la vida, no sirve para nada1

(MINON-ICOM, 2017, p. 1).

Este artigo propõe uma reflexão sobre a perspectiva de museu e de Museologia, a partir da Sociomuseologia, escola de pensamento ibero-americana cujas pesquisas influenciam o currículo do curso de Especialização lato sensu em Museologia, Cultura e Educação, oferecido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no âmbito da Educação Continuada. Essa escola de pensamento, em grande parte desenvolvida e edificada no Departamento de Museologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (ULHT)2, resulta, em particular, de uma vasta interlocução com a realidade museológica brasileira, desde o início dos anos de 1990.

Pensar o currículo do curso de Especialização lato sensu em Museologia, o primeiro na área oferecido pela PUC-SP, convoca interrogações sobre a atuação dos profissionais desse campo, o que torna imperativo refletir sobre a Museologia enquanto área de conhecimento e sobre o papel dos museus na atualidade. Assim sendo, não se trata de um artigo descritivo que apresenta o conteúdo programático do curso, a metodologia e as disciplinas oferecidas3. É, portanto, um artigo que reflete sobre o papel do museu na atualidade bem como sobre as necessidades e expectativas relacionadas à formação profissional do especialista que atuará nesse campo. A reciprocidade necessária entre museu e sociedade pode ser compreendida no âmbito das discussões da Sociomuseologia, em que é possível identificar pesquisas e posturas metodológicas atentas à preservação patrimonial, ao diálogo interdisciplinar e à construção de novos saberes e de bens simbólicos.

O curso de Especialização lato sensu em Museologia, Cultura e Educação reconhece a Sociomuseologia como possibilidade de pesquisa e intervenção que orienta relações de proximidade entre museu e sociedade, o que favorece a relativização de alguns conceitos, tais como memória e patrimônio, e a descentralização nos processos que envolvem a produção das narrativas museológicas, os quais, por sua vez, influem na construção de bens simbólicos e na identidade individual e coletiva.

Dessa forma, o presente artigo objetiva compreender algumas das habilidades e competências requeridas ao profissional da área de museus na contemporaneidade, a fim de evidenciar o alargamento das funções e das práticas museológicas e enfatizar o museu contemporâneo enquanto lócus de ensino, pesquisa e extensão que possibilita a apropriação de fenômenos culturais, sociais e políticos. Pretende-se compartilhar, neste texto, o contributo da Sociomuseologia para a ampliação das perspectivas de atuação nos museus, para o desenvolvimento de pesquisas que articulem teoria e prática e para a criação de processos museológicos que extrapolem cada vez mais os limites físicos e conceituais dos museus e desconstruam a imagem que ainda persiste do museu como uma instituição elitista e conservadora.

Por ora, convém destacar algumas indicações do pensamento sociomuseológico para a reflexão proposta: 1) a Sociomuseologia auxilia na construção de um museu dialógico que atua como fator de intervenção social, na medida em que sujeito e comunidade participam da construção de narrativas museológicas contra-hegemônicas; 2) a cadeia operatória museológica (BRUNO, 2006), pautada nos procedimentos de salvaguarda (preservação e pesquisa) e de comunicação (exposição e ação educativa), amplia a sua potência quando identifica e contempla, na sua atividade, fenômenos e discursos socioculturais; 3) a Sociomuseologia promove constantemente a ressignificação dos patrimônios material e imaterial, possibilitando a criação de novos saberes, bens simbólicos e respeito à diferença; 4) a Sociomuseologia potencializa diálogos interdisciplinares, valoriza e compartilha conhecimentos para além do universo do museu; estes, quando articulados à pesquisa desenvolvida no âmbito da universidade, potencializa o caráter de ensino, pesquisa e extensão ou, de forma mais alargada e socialmente comprometida, de reciprocidade de saberes.

2 SOCIOMUSEOLOGIA, CULTURA E EDUCAÇÃO

A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso que erram profundamente aqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possível contra a nossa desordem. Os mandamentos e as ordenações que elaboram esses eruditos são, em verdade, criações engenhosas do espírito, destacadas do mundo e contrárias a ele

(HOLANDA, 1995, p. 33).

A Museologia contemporânea aparece frequentemente acompanhada por distintos adjetivos, tais como Museologia Social, Crítica, Experimental4, Comunitária, Local, Integral, de Território, entre outros, consoantes aos contextos em que tomam forma. Tais denominações que decorrem, no essencial, da Nova Museologia, esta entendida como um movimento de contestação à Museologia tradicional e de experimentação de novas formas de museus5, carregam em si propostas para que o museu seja um instrumento de intervenção que mobiliza esforços para a resolução de problemas comuns. Assim, esse museu social, crítico, experimental que se propõe integral, possui suas bases no ideal de museu comunitário e fomenta as pesquisas da escola de pensamento da Sociomuseologia.

A Sociomuseologia visa a compreender os processos, as reflexões e as análises que permeiam as práticas da Museologia e dos museus que buscam relações de reciprocidade com a sociedade. Não parece possível pensar a Sociomuseologia desvinculada das diferentes formas que a Museologia Dialógica tem assumido sob diferentes denominações, como, por exemplo, a Museologia Social no Brasil ou a Museologia Local em Portugal. A Sociomuseologia e a Museologia Dialógica, de forma global, são constitutivas de um todo que se retroalimenta. Aliás, pensar a Museologia Social e a Museologia Local, apenas nesses dois países, é extremamente redutor, pois não se pode deixar de ter em consideração todo o trabalho e reflexão centrados no vasto campo da Museologia com responsabilidade social, desenvolvido no espaço ibero-americano. Apontam-se os trabalhos pioneiros de Waldisa Russio, no Brasil, Marta Arjona, em Cuba, ou Mario Vasquez, no México. Tampouco se pode esquecer que, fora do espaço ibero-americano, existem também práticas e pensamentos no campo da Museologia Dialógica, os quais apenas se expressam de outras formas, com outras terminologias, consoantes aos contextos sociais e políticos nos quais tomam vida6.

Dessa forma, a Museologia Dialógica que, no Brasil, se reconhece como Museologia Social, não deixa de ser “local”, assim como a Museologia Local (denominação corrente em Portugal) deixa de ser iminentemente “social”. Ambas as realidades, em ambos os países, sustentam-se, questionam-se e, cada vez mais, aprofundam a sua racionalidade como meio de melhorar o seu desempenho, melhor compreender os processos, visando à superação das “necessidades não atendidas das pessoas”, no dizer de Alma Wittlin (1970, p. 204), as quais, em última instância, são a razão de ser dessa mesma Museologia Dialógica.

Imaginar uma Sociomuseologia distinta das diferentes formas da Museologia com responsabilidade social ou imaginar distinções decorrentes de uma leitura geográfica apressada parece ser um embuste que cria separação onde ela não existe. Em um mundo marcado por novas formas de colonialidade, escancaradas e subtis, a separação entre teoria e prática, na qual a Sociomuseologia teria o estatuto do pensamento e a Museologia Dialógica o estatuto do “trabalho braçal”, também não tem sustentação, pois teoria e prática são os dois lados de uma mesma folha de papel. O que une organicamente ou dialeticamente o “fazer e o pensar” da Museologia Dialógica é a capacidade de pensar criticamente a Museologia e o lugar que cada um ocupa na releitura do mundo, na compreensão dos desafios locais e globais e da sua superação. Nesse sentido:

A Sociomuseologia traduz uma parte considerável do esforço de adequação das estruturas museológicas aos condicionalismos da sociedade contemporânea. A abertura do museu ao meio e a sua relação orgânica com o contexto social que lhe dá vida, tem provocado a necessidade de elaborar e esclarecer relações, noções e conceitos que podem dar conta deste processo.

[...].

A abordagem multidisciplinar da Sociomuseologia visa consolidar o reconhecimento da museologia como recurso para o desenvolvimento sustentável da humanidade, assente na igualdade de oportunidades e na inclusão social e económica.

A Sociomuseologia assenta a sua intervenção social no património cultural e natural, tangível e intangível da humanidade (MOUTINHO, 2007, p. 1).

A Sociomuseologia, comprometida e promotora dos processos sociais nos campos das memórias, das identidades e dos patrimônios, atua por meio de processos educativos, inclusivos, continuados, equitativos, de qualidade e abertos às diversidades étnicas, regionais e de gênero, atuantes no espaço físico e no ambiente digital7. A inclusão social e os projetos para uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, atentos à problemática secular da profunda desigualdade, características de países como o Brasil, construídos a partir do escravismo e de outras formas de atualização das desigualdades, não se restringem apenas às práticas sociais, educacionais e econômicas, mas também às práticas simbólicas. Dessa maneira, a memória e o patrimônio material e imaterial contribuem com os processos de reconhecimento e de construção identitária, de protagonismo na construção de narrativas, de empoderamento social e de legitimação da democracia e da cidadania. Para tanto, considera-se fundamental que as noções de memória e de patrimônio sejam revistas e consideradas como processos decorrentes da participação da comunidade, o que, de acordo com a Sociomuseologia, acontecem por meio de práticas museológicas cujas propostas e definições relativas à memória e ao patrimônio sejam contextualizadas e fundamentadas na realidade.

A noção hegemônica de patrimônio carrega um sentido colonial e patriarcal que não agrega os múltiplos significados envolvidos e produzidos pelos diferentes grupos sociais e pelas diferentes culturas (SCHNEIDER, 2019). Nas palavras de Primo e Moutinho (2021, p. 29):

A colonialidade não se extinguiu com o fim do colonialismo e das independências nacionais, ao contrário, seguimos convivendo com o modelo: pela existência de uma matriz de poder interna que reproduz colonialismo; alimentando uma comunidade de saberes que continua gerar conhecimento eurocentrados e dominadores; onde ambos - poder e saber- orientam e promovem à hierarquização dos seres (grifos dos autores).

Essa colonialidade, que alimenta e mantém as estruturas de poder, pode ser rompida pela Sociomuseologia, por meio do incentivo à participação das comunidades, da promoção de ações que descentralizam o poder nos processos de criação das narrativas e da criação de espaços, exposições, pesquisas e ações educativas que fomentem relações sociais de complementaridade, autenticidade, solidariedade e enfrentamento de qualquer tipo de discriminação, racismo e intolerância. Nesse viés, o museu dialógico é o museu contemporâneo, no qual se expressam não só contradições como a complexidade dos múltiplos fazeres.

Dificilmente encontramos museus que consigam existir à margem desta polissemia. Cada vez mais é difícil imaginar um museu imperial sem programas de inclusão social, ou museus de favela sem coleções de objetos herdados, ou redes sociais sem novas museografias. E todos os conceitos que lhes estão subjacentes aparecem agora como novas formas de heterotopias marcadas pelos seus próprios espaços formais e relacionais onde não é mais a diferença que singulariza, mas antes pelo contrário é na justaposição que encontram a sua essência (MOUTINHO, 2014, p. 9).

Compreende-se, assim, que o museu dotado de princípios dialógicos no seu trabalho de preservação, pesquisa, exposição e ação educativa não impõe discursos sobre o patrimônio, mas incentiva a reflexão e a percepção das múltiplas identidades, apropriando-se do seu papel social, educativo e crítico, auxiliando a tomada de consciência por parte do público e, sobretudo, das pessoas envolvidas nesses processos: “[...] se aprendermos a ler palavras, é preciso exercitar o ato de ler objetos, de observar a história que há na materialidade das coisas” (RAMOS, 2008, p. 21). Essa abertura do museu às propostas de interação com a sociedade colabora com o surgimento de novas formas de representação e de conceituação, relacionando-se aos pressupostos sociomuseológicos de contestação, de acolhimento e de aprendizagem interdisciplinar. Nesse sentido, a educação é prática imanente à Sociomuseologia e às diferentes formas de Museologia Dialógica atenta aos desafios globais e locais do mundo contemporâneo.

No marco jurídico, a Educação aparece na Constituição Federal Brasileira, de 1988, como um direito social e é definida de forma mais detalhada no Capítulo III, Da Educação, Da Cultura e Do Desporto, Seção I, Da Educação, no Art. 205, que declara: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2018, p. 160). Já da Seção II, Da Cultura, destaca-se os Art. 215 e 216 pelo fato de anunciarem a necessidade da aproximação e da apropriação cultural por parte dos sujeitos. Segundo o Art. 215: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” (BRASIL, 2018, p. 163).

Dessa forma, reitera-se que a criação de práticas museológicas, que articulem cultura e educação, está em consonância com as expectativas brasileiras. Entretanto, reconhece-se que esse contexto está distante da realidade. Os museus e as instituições culturais e de memória são instituições atingidas diretamente pelas oscilações econômicas, políticas, culturais e educacionais e, atualmente8, apresentam ainda mais dificuldades relacionadas à sustentabilidade financeira e à implementação de novas práticas referentes às tarefas de preservação, pesquisa, exposição e ação educativa. Ainda assim, para a reflexão partilhada neste artigo, considera-se a configuração desse cenário uma possibilidade para práticas de resistência e enfrentamento e não como motivo para desânimo. Assim sendo, essa é uma postura sociomuseológica.

As preocupações tratadas no âmbito da Sociomuseologia são descritas em diversos documentos elaborados dentro e fora da Museologia, como na Declaração de Santiago do Chile, de 1972 (PRIMO, 1999a), na Declaração de Quebec, de 1984 (PRIMO, 1999b) e, mais recentemente, na Recomendação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco (2015), sobre a proteção e a promoção de museus e coleções, de sua diversidade e função na sociedade, em particular nos pontos 16 e 17:

16. Os Estados Membros são encorajados a apoiar a função social dos museus que foi enfatizada na Declaração de Santiago do Chile de 1972. Em todos os países é crescente a percepção de que os museus desempenham uma função chave na sociedade, e constituem um fator de integração e coesão social. Nesse sentido, eles podem ajudar as comunidades a enfrentar as profundas mudanças na sociedade, inclusive as que levam a um aumento da desigualdade e à dissolução de laços sociais.

17. Os museus são espaços públicos vitais que deveriam dedicar-se a toda a sociedade e podem, portanto, desempenhar uma função importante no desenvolvimento de laços sociais e coesão, na construção da cidadania, e na reflexão sobre as identidades coletivas. Os museus deveriam ser lugares abertos a todos e comprometidos com a acessibilidade física e cultural para todos, inclusive grupos desfavorecidos. Eles podem constituir-se como espaços para a reflexão e o debate sobre temas históricos, sociais, culturais e científicos. Os museus devem também promover o respeito aos direitos humanos e à igualdade de gênero. Os Estados Membros devem encorajar os museus a desempenhar todas essas funções (UNESCO, 2015, n.p.)9.

Esses documentos10, que indicam claramente a ampliação das funções dos museus e o papel que devem exercer perante os problemas da sociedade, anunciam, ainda, a descentralização de poder dos discursos museológicos, o que inclui novos processos de proteção e de difusão da memória, das narrativas curatoriais e das ações educativas e de estratégias de gestão que envolvam relações com a comunidade. Destaca-se, ainda, a obra do educador brasileiro Paulo Freire (2018), cujo trabalho referenciado pela Sociomuseologia é também destaque na Declaração de Córdoba, originada na XVIII Conferência Internacional do Movimento Internacional para uma Nova Museologia (Minon) e do Conselho Internacional de Museus (Icom), no ano de 2017 (Minon-Icom, 2017), que cita o educador como inspirador das práticas museológicas sociais em todo o mundo, conforme anunciado por Primo (1999c, p. 20):

Por entender que a maior potencialidade dos museus é a sua ação educativa e a educação verdadeira é aquela que serve à libertação, questionamento e reflexão, é que as novas correntes da museologia, [...], se aportou do método pedagógico defendido por Paulo Freire, que entende a educação como prática da liberdade e constrói a teoria da Educação Dialógica e Problematizadora [...].

A Sociomuseologia dialoga com as concepções freireanas (FREIRE, 2018), sobretudo ao considerar que “[...] o ser que desvela o mundo é aquele que aprende e atua criticamente” (PRIMO; MOUTINHO, 2021, p. 33). O sujeito, que ocupa o espaço do museu, orientado pelos pressupostos sociomuseológicos, atua reflexiva e dialogicamente ao estabelecer relações de complementariedade entre o seu saber e os objetos do museu. Essa postura ativa e crítica, normalmente incentivada por propostas e ações educativas (PASQUALUCCI, 2014), subverte alguns dos posicionamentos da Museologia normativa, que concebia (e concebe) o museu como reduto positivista de valores cristalizados a serem transmitidos por meio da propagação de informação e conteúdos (SCHNEIDER, 2019). Há de reiterar-se, também, que a postura ativa e crítica do sujeito, no espaço do museu, relaciona-se às experiências que este é capaz de vivenciar nesse espaço. O museu contemporâneo, ao contrário do museu tradicional, é aquele que se preocupa em promover experiências aos sujeitos. A noção de experiência no museu relaciona-se não somente ao sensorial, mas também ao simbólico e ao intelectual.

Os museus de Ciência foram os primeiros, desde o século XIX, a expografar por meio da experiência, propondo que os seus visitantes e utilizadores compreendessem os fenômenos científicos por meio de objetos criados. Esse caráter propositivo do museu, relacionado às experiências, é também recorrente em grande parte nos museus de Arte, em especial de arte contemporânea, onde o transbordamento das linguagens artísticas (hibridismo dos suportes convencionais da arte) e a desmaterialização do objeto (deslocamento da materialidade da obra para o conceito) já inauguram, em especial a partir dos anos de 1960, no Brasil, a noção de participação e experiência.

Buscar relações de aproximação entre a Sociomuseologia com os museus de Arte e de Ciência é um exercício importante para a compreensão da expografia na experiência comunitária. Propõe-se, então, pensar sobre intervenção urbana e museu comunitário. A intervenção surge da indagação se a arte/expografia deve estar restrita ao espaço institucionalizado do museu. Apropriando-se da cidade como suporte, a intervenção urbana convive com pessoas muito mais do que se estivesse dentro dos espaços reservados a ela. O lugar escolhido para a intervenção não é ao acaso e o trabalho de arte é potencializado pelas condições do lugar (PASQUALUCCI, 2014). Cita-se, como exemplo, a intervenção urbana Mercado, do artista plástico paulistano Eduardo Srur. Os temas desperdício, conscientização do consumo e mobilidade urbana estão presentes no trabalho (Figura 1), que é materializado por esculturas de metal em formato de carrinho de supermercado e espalhadas pelas ruas da cidade.

Figura 1 Intervenção urbana Mercado 

A intervenção urbana ultrapassa os limites da própria arte ao projetá-la na vida cotidiana e para além do espaço institucional. Ao propagar a ideia de que a arte deve fazer parte da vida (conceito preconizado pelas vanguardas artísticas do século XX, cujo aprofundamento não se faz necessário neste artigo), utilizar a cidade e os equipamentos públicos como suporte do trabalho e interagir no contexto social, cultural e político e dialogar com repertórios individual e coletivo, a intervenção urbana revela características que a aproximam da intencionalidade do museu comunitário, que busca estratégias de apropriação cultural pela comunidade, reflexão sobre o meio e criação de ações permeadas por questões da cidadania. Essa tendência de ocupação de espaços públicos e abertos, presente na intervenção urbana, problematiza os modelos impostos à arte pelo sistema da tradição museológica, assim como a musealização das tradições e das memórias comunitárias redimensiona o papel dos museus.

O museu comunitário, por sua vez, propõe a musealização de contextos relacionados ao cotidiano de determinada comunidade, incentivando-a na apropriação de suas memórias, na legitimação dos próprios valores e na busca por soluções dos problemas diários. Em muitos casos, a existência de um museu comunitário legitima-se a partir de sua atividade e postura, in loco. Como exemplo, pode-se referir o Museu das Remoções, localizado na Vila Autódromo, comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro. O museu, que é administrado por um coletivo de moradores da Vila Autódromo, nasce como parte da resistência contra a política de remoção adotada pela Prefeitura na preparação das Olimpíadas Rio 2016. As esculturas que integram o acervo do museu (Figura 2) foram criadas com participação de alunos do curso de Graduação em Arquitetura de uma faculdade particular da cidade de São Paulo.

Figura 2 Escultura “Doce infância” no Museu das Remoções  

Essa proposta de museu, que elabora simbologias em torno dos objetos cotidianos e promove a construção de saberes por meio de experiências, subverte a concepção de museu tradicional que apresenta significados solidificados e se insere na concepção contemporânea de museu, em grande parte pautada na experiência do sujeito. Nas palavras de Jorge Larrosa Bondía (2002),

[...] o saber da experiência tem a ver com a elaboração do sentido ou do sem-sentido do que nos acontece, trata-se de um saber finito, ligado à existência de um indivíduo ou de uma comunidade humana particular; ou, de um modo ainda mais explícito, trata-se de um saber que revela ao homem concreto e singular, entendido individual ou coletivamente, o sentido ou o sem-sentido de sua própria existência, de sua própria finitude. Por isso, o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo, contingente, pessoal. (LARROSA BONDÍA, 2002, p. 27).

As relações de proximidade entre Sociomuseologia, arte contemporânea e museus comunitários auxiliam na compreensão da intencionalidade do currículo do curso de Especialização lato sensu em Museologia, Cultura e Educação. Estão presentes, no curso e na Sociomuseologia, processos de democratização cultural, exercícios de incentivo à criticidade, descentralização do poder na construção de narrativas e modelos de educação cidadã. Nas palavras de Moutinho (2014, p. 8): “Para todos estes modelos de museus, constroem-se competências profissionais que sustentam novas áreas de formação”.

Para a construção de competências profissionais que sustentem novas áreas de atuação, torna-se imperativo pensar o especialista em Museologia, Cultura e Educação como um profissional criativo e capaz de subverter a concepção normativa de museu, como o lugar das narrativas oficiais de memória, para a concepção contemporânea de museu, como o espaço para a desconstrução das narrativas oficiais de memória. Com o intuito de ampliar a discussão sobre o museu contemporâneo, como espaço potente para a construção de novos discursos, novos saberes e bens simbólicos, compartilha-se, a seguir, exemplos recentes de fenômenos sociais que influem diretamente uma revisão crítica em relação à área do patrimônio, da memória e das narrativas museológicas.

3 MEMÓRIA, INSTITUIÇÕES DE MEMÓRIA E A SOCIOMUSEOLOGIA

O Museu como fenômeno histórico e a Museologia como fenômeno epistemológico, despertam interesses comuns e as respectivas reflexões possibilitam um cruzamento de análises que converge para os estudos sobre a função social do pertencimento, a singularidade da ressignificação museológica dos bens culturais e a necessidade da educação da memória

(BRUNO, 2006, p. 10-11).

As instituições de memória, como os museus e os monumentos, são fundamentais nos processos de formação de uma consciência histórica. A eleição de lugares de memória, segundo expressão consagrada pelo historiador francês Pierre Nora, faz parte desse processo: “São lugares com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente em graus diversos” (NORA, 1993, p. 21).

Ao ativar-se o conceito de memória, deve-se atentar para o fato de que a memória não é apenas uma atividade biológica, neutra e imparcial, mas um conjunto de lembranças socialmente produzidas, própria de uma cultura específica, dos jogos de poder a ela atribuídas (LE GOFF, 2013). Em outras palavras, a memória não é um produto meramente individual, mas coletivo, pois as pessoas recebem influência não apenas da escola e das mídias, mas também das instituições de memória, como os museus.

Assim sendo, considera-se que os locais e as instituições que guardam e reproduzem a memória pública são objetos de reconhecimento, nos quais as imagens e as narrativas apresentadas são lembradas e incorporadas como parte da memória social. Entretanto, não podemos esquecer que há escolhas em relação ao que é preservado e ao que é destruído e há critérios nos processos de gerar ou não visibilidade a algo (objeto, patrimônio, monumento, obra de arte, documento). A seleção desses objetos de lembrança é sempre intencional e carregada de sentido, cujos processos seletivos são, de um modo ou de outro, politizados e sobre os quais há divergências e disputas que vão além de mero jogo de oposição entre “memória” ou “esquecimento” e “exibição” ou “silenciamento” (CANCLINI, 1994).

Tradicionalmente, as memórias apagadas e esquecidas tendem a ser aquelas diretamente ligadas aos grupos subjugados e oprimidos. Um exemplo disso é o apagamento das heranças negras da cidade de São Paulo, uma cidade que recebeu e valorizou os imigrantes europeus (ROLNIK, 2013). No final do século XIX, as elites dirigentes e os intelectuais haviam assumido novas perspectivas de modernidade ocidental, o que conduziu a valorização das heranças europeias e a desvalorização das heranças negras, indígenas ou mesmo caipiras e caiçaras presentes no estado de São Paulo. Essas comunidades, no entanto, preservaram elementos de suas memórias, da sua cultura e do seu modo de vida por meio da música, da religião e do próprio convívio social, sendo objeto da Nova Museologia. Os lugares de memória e a própria memória são espaços em disputa: “[...] a memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos” (POLLAK, 1992, p. 5).

A Sociomuseologia objetiva visibilidade para esses grupos historicamente subalternizados, não apenas na vida social, mas também nas instituições de memórias, nos museus comunitários, nos museus de Arte, de Ciências, de História, entre outros. Não importa a tipologia nem o espaço físico do museu, mas, sim, a intencionalidade que respalda a sua relação com a sociedade. “Esta Sociomuseologia expressa uma prática museológica multifacetada, onde coexistem conceitos que expressam desafios e objetivos que ganharam forma em tempos diferentes, e deram voz a diferentes estratos sociais e diferentes projetos societais” (MOUTINHO, 2014, p. 7-8). A memória pública, incorporada aos museus por meio dos acervos e das coleções, apresentada ao público mediante exposições provenientes de seleções curatoriais e dialogada por intermédio de estratégias educativas, é objeto de disputa política, cultural e estética. Nesse sentido, como assinala Rudolf Arnheim:

Longe de ser um registro mecânico de elementos sensórios, a visão prova ser uma apreensão verdadeiramente criadora da realidade - imaginativa, inventiva, perspicaz e bela... Toda a percepção é também pensamento, todo o raciocínio é também intuição, toda a observação é também invenção. A forma de um objeto que vemos, contudo, não depende apenas de sua projeção retiniana num dado momento.

Estritamente falando, imagem é determinada pela totalidade das experiências visuais que tivemos com aquele objeto ou com aquele tipo de objeto durante toda a nossa vida (ARNHEIM, 1994, p. 40).

No entanto, no ano de 2020, a disputa pelas representações do passado nos monumentos foi palco de ampla discussão. O assassinato, nos Estados Unidos, de George Floyd - um norte-americano negro, de 46 anos, por um policial branco, em Minneapolis, no dia 25 de maio daquele ano -, levou à eclosão de diversas manifestações de ruas. Entre os manifestantes (negros, imigrantes, latinos, jovens, inclusive brancos) propagou-se a ideia de derrubar monumentos históricos relacionados ao racismo e à exploração das populações negras e indígenas. Em Bristol, Inglaterra, manifestantes derrubaram a estátua do traficante de escravizados Edward Colston, durante manifestação associada ao movimento Black Lives Matter (Figura 3). Episódios como esse reacenderam um importante debate no campo da Museologia acerca da questão da preservação, da ressignificação ou da remoção de monumentos que retratam e homenageiam personagens históricos associados à escravidão ou a massacres de populações indígenas, africanas e afrodescendentes.

Figura 3 Manifestantes derrubam estátua do traficante de escravos Edward Colston 

O evento anuncia, principalmente aos pesquisadores e aos profissionais da área da Museologia (educadores, curadores, gestores, ativistas) e demais profissionais das Ciências Humanas, a necessidade de compreender a politização dos monumentos, já que revelam uma intensa disputa pelo passado e pelo poder sobre as narrativas (consideradas) oficiais. A disputa pelo passado é uma disputa pelo presente. Em função disso, é imperativo pensar sobre monumentos, museus, coleções e narrativas que homenageiam sujeitos que não representam a maioria das pessoas. Para grande parcela dos historiadores e dos museólogos, a derrubada desses monumentos é compreensível. Essa ação, porém, não restitui os mortos e não serve necessariamente para compreender e agir sobre fenômenos históricos. Os monumentos devem ser desafiados, questionados e podem ser um interessante ponto de partida para problematizar o passado. Sobre isso, o historiador Paulo Garcez Marins, chefe da Divisão de Acervo e Curadoria do Museu Paulista, afirma que:

Mais importante que abolir imagens, é nos capacitarmos para discutir essas imagens e outras. Não há possibilidade de nós lidarmos com imagens, sejam elas esculpidas, pintadas, fotográficas, sem que tenhamos em conta o quanto essas imagens são parciais. Ou seja, mais que derrubar um monumento, é importante entender por que ele foi construído, problematizar essa escolha, problematizar o ato de celebrar alguém no passado que hoje é intolerável e, sobretudo, trazer a discussão sobre a construção de memória para o público. Porque se nós tiramos uma estátua e substituímos por outra, daqui a 30, 40 anos, será essa estátua também objeto de uma crítica - e a solução será derrubar essas estátuas? (DESTRUIR..., 2020, n.p.).

Entretanto, há de considerar-se outros posicionamentos. Algumas vozes advogam que a remoção de monumentos em praças públicas, que ofendem a memória de certos grupos, são legítimas e até necessárias. No entanto, para o professor de história da PUC-SP, Luiz Antonio Dias, esses monumentos não devem ser destruídos, mas também não podem ser deixados na cidade para serem celebrados. O estudioso defende que deve ser feito um amplo debate acerca do tema e que, no lugar das estátuas retiradas, sejam fixados memoriais que expliquem quem era aquela figura histórica.

Quando você some com documentos ou imagens é como se você fizesse um apagamento. Se você tira essas imagens, daqui vinte ou trinta anos elas somem da história e não houve um debate. É importante que você substitua e coloque um marco, como uma peça de bronze, explicando que a estátua foi retirada em determinado momento por conta de um movimento da sociedade civil com pressões para alterá-lo. Isso é um processo histórico que faz parte desta memória (GALZO, 2020, n.p.).

De qualquer maneira, defende-se, portanto, a necessária inclusão dos movimentos sociais e de seus discursos na agenda do museu contemporâneo. Consequentemente, torna-se imperativa a inclusão da auscultação das pautas dos movimentos sociais nos currículos da formação dos profissionais de museus. De acordo com Moutinho (2014, p. 5): “A abertura do museu ao meio e a sua relação orgânica com o contexto social que lhe dá vida tem provocado a necessidade de elaborar e esclarecer relações, noções e conceitos que podem dar conta deste processo”.

Os monumentos, assim como os museu, são apropriados ou combatidos, pois estão a serviço da legitimação de determinadas leituras e construções identitárias. No estado de São Paulo, por exemplo, os diversos monumentos de bandeirantes e as narrativas difundidas em torno destes têm sido tema de debates (Figura 4).

Figura 4 Intervenção realizada no Monumento às Bandeira em São Paulo 

A chamada “epopeia bandeirante” (WALDMAN, 2018), na historiografia e nas artes, é uma longa e complexa criação historiográfica, memorialistas e patrimonial. É importante que frequentadores dos locais e das instituições de memória, em particular o Museu Paulista (BREFE, 2005), tenham conhecimento que não foram os bandeirantes, homens rudes que viveram no período colonial, que produziram pinturas, momentos e livros sobre sua atuação, mas, sim, instituições, governos e setores da própria sociedade que os criaram, já no século XX, em particular entre as décadas de 1920 e 1950 (SCHNEIDER, 2019). Em São Paulo, como diversas partes do mundo, esses acervos são questionados. Cabe aos estudantes e aos profissionais da área de museus, professores, pesquisadores, historiadores, antropólogos, sociólogos, profissionais da cultura e outros enfrentarem esses debates.

A Sociomuseologia, enquanto escola de pensamento que “[...] traduz uma parte considerável do esforço de adequação das estruturas museológicas aos condicionalismos da sociedade contemporânea” (MOUTINHO, 2007, p. 1), pode contribuir decisivamente em relação às reflexões e às práticas museológicas que contemplam temas emergentes11. Esse alargamento de temas aponta para a necessária inclusão de novas práticas, conteúdos e metodologias no processo de formação do profissional de museus. Trata-se de uma postura crítica em relação ao currículo, considerando-se que “[...] o alargamento da noção de Patrimônio, associado a um conjunto crescente de novas funções que as instituições museológicas têm vindo a assumir, tem dado lugar a novas estruturas museais que assumem novas formas de funcionamento” (MOUTINHO, 2007, p. 6-7).

Assim sendo, compreende-se que os pressupostos da Sociomuseologia relacionados à concepção de museu, na qualidade de espaço dialógico, plural, inclusivo e interdisciplinar, configuram-se na interdependência entre prática e pesquisa, arte e ciência, educação e experiência, patrimônio e narrativa social atual, cultura e comunidade, gestão institucional e gestão compartilhada. Nessa perspectiva, pensar sobre Museologia, museu, contemporâneo e formação do profissional que atuará nesse campo é considerar a Sociomuseologia em seu caráter imanente.

Sobre os pressupostos da Sociomuseologia, faz-se necessário reiterar que muitos encontram-se descritos em documentos produzidos ao longo das últimas décadas, tais como a Declaração de Santiago do Chile de 1972 e a Declaração de Quebec de 1984 (PRIMO, 1999a, 1999b), que indicam claramente o alargamento das funções tradicionais da Museologia e as funções que o museu deve assumir na sociedade contemporânea. Entretanto, recorre-se à Declaração da Comissão Internacional de Formação de Pessoal em Museus (International Committee for the Training of Personnel - ICTOP/Universidade Lusófona), que anunciava, no ano de 1994, um novo processo de revisão da formação dos profissionais de museus, sobre a qual se falará a seguir, com a intenção de refletir sobre as competências e as habilidades necessárias ao profissional de museus na contemporaneidade.

4 CURRÍCULO, SOCIOMUSEOLOGIA E MUSEU CONTEMPORÂNEO: PERSPECTIVAS CRÍTICA, PLURAL E DIALÓGICA

De acordo com a reflexão apresentada neste artigo, o cumprimento da função formativa dos museus (CASALI; PASQUALUCCI, 2020) e a eficiência do diálogo estabelecido com os públicos estão relacionados à criação de políticas públicas voltadas à área de cultura, educação e políticas institucionais bem como à formação dos profissionais que atuarão nesse processo: educadores, gestores, pesquisadores, arquivistas, museólogos e especialistas em Museologia, além de profissionais de diversas áreas que também atuam em museus.

É importante atentar-se ao curso de Especialização em Museologia, Cultura e Educação. A depender da intencionalidade do currículo, o potencial dessa função formativa pode ser maximizado ou minimizado. Dessa maneira, torna-se necessário aprofundar a compreensão de currículo como instrumento crítico que pode ampliar oportunidades de uma educação inclusiva, equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos12. Essa perspectiva crítica de currículo, orientada para a democratização do acesso à educação e do aumento de oportunidades relacionadas à vida, à formação cultural e à responsabilidade cidadã e que inclui reflexões e novas práticas para a criação de propostas educacionais para o ensino formal e não formal, para a Educação Básica e para o Ensino Superior, relacionam-se às pesquisas que fundamentam parte do trabalho dos docentes do curso de Especialização em Museologia, Cultura e Educação da PUC-SP e das intenções de pesquisas apontadas pelos alunos13.

O processo em que foi pensado o currículo de formação do Especialista em Museologia, Cultura e Educação acompanha o contexto atual de criação ou reorganização de museus em que coabitam diferentes projetos, o que enfatiza a necessidade da construção de competências profissionais que sustentem novas áreas de formação (MOUTINHO, 2014, p. 8). Nota-se que, recentemente, a criação de novos museus ou a ressignificação dos já existentes ultrapassa uma Museologia constituída por coleções de objetos para uma Museologia composta por questões polissêmicas e, por vezes, um tanto complexas. Trata-se de museus que flertam com a indústria cultural, sobrepondo, muitas vezes, as soluções tecnológicas aos conteúdos; museus que se apropriam do ambiente digital e exploram práticas de musealização de objetos em rede; museus que não possuem espaço físico e acervo material e se definem como espaços propositivos; museus comunitários que exploram novos modelos de organização; entre outros. A questão que está posta é em relação à formação de profissionais de museus. O desafio da profissão, na atualidade, refere-se, inclusive, aos processos de legitimação da instituição museológica. A institucionalização do museu é decorrente dos processos de operacionalização relativos à salvaguarda e à comunicação do patrimônio material e imaterial ou se justifica, sobretudo, pelo diálogo que o museu estabelece com a sociedade por meio de suas formas de intervenção cultural, artística, educacional, política e poética? Essa pluralidade de modelos e o alargamento das funções e dos temas que podem ser tratados no museu contemporâneo sugerem a apropriação dos conceitos da Sociomuseologia como referencial teórico e possibilidade prática.

A Resolução da ICTOP/Universidade Lusófona, da Declaração de Lisboa (ICOM, 1992), anunciava, no ano de 1994, um novo processo de revisão da formação dos profissionais de museus. A Resolução afirma a necessidade de os museus assumirem um papel de liderança na comunidade internacional e incentivarem os programas de formação museológica a considerarem novos processos de incorporação de materiais, tanto tangíveis como intelectuais, nas suas atividades. Além disso, oferecem oportunidades de formação que objetivem o preenchimento das necessidades da comunidade museológica. A Declaração de ICTOP, redigida há quase 30 anos, foi tomada em defesa da pluralidade cultural de todo e qualquer povo, diversidade que precisa ser preservada em benefício e esclarecimento das gerações presente e futuras. A Declaração afirma ainda que os valores e a formação de conhecimentos museológicos devem reconhecer e contemplar a diversidade e a singularidade inerentes às necessidades específicas de cada região, estado ou nação (PRIMO, 1999a). Reconhece-se, então, a necessidade de intervir não apenas na concepção dos museus e de outras instituições de memória, mas, sobretudo, na formação acadêmica, cultural e pessoal dos profissionais das diferentes áreas que atuam nos museus.

O sistema de educação tem entre suas finalidades contribuir para o conhecimento de fenômenos do passado e do presente e desenvolver a capacidade de análise e de pensamento crítico. Entretanto, esse sistema educacional, subordinado às políticas educativas que influenciam a construção da sociedade (TORRES SANTOMÉ, 2013), é, por vezes, pautado em narrativas apresentadas como oficiais. Desse modo, a pergunta que está posta é: De que forma é possível subverter a institucionalidade das narrativas oficiais que permeiam os conteúdos curriculares e as narrativas (consideradas) oficiais que são difundidas pelo museu, de acordo com a reflexão proposta neste artigo? De acordo com Casali e Pasqualucci (2020, p. 18):

Museus que sigam restringindo sua prática à exclusiva função de guardar, preservar e ocasionalmente exibir objetos fetichizados ao modo da mercadoria convertem-se eles próprios em instituições reificadas, objetos de mercado, casas de espetáculo e entretenimento mais do que de formação. Museus que proporcionam a apropriação da cultura como fenômeno do mundo, em sua face local e simultaneamente universal, como produtos complexos do trabalho humano, efetivamente ensinam (in-signum - em sua radicalidade etimológica: imprimem um sinal) e cumprem função de formação cultural. Tal experiência formativa é a única que permite que o sujeito se aproprie subjetivamente da cultura enquanto dialoga com diferentes fontes estéticas.

Pensar criticamente o museu enquanto estrutura que rompe esse padrão de reprodução dos sentidos oficiais, que influenciam e determinam identidades individuais e coletivas, implica passar pela Sociomuseologia. Como já pontuado, a cultura preservada e comunicada em muitos museus é resultado de processos dialógicos e de experiências sociais e não de representações herdadas do passado. Reitera-se, assim, que o currículo formativo do especialista, que atuará nesse campo (ou do museólogo que pretende aprofundar o seu entendimento sobre a essência do seu fazer museal, eventualmente com anos de atuação), deverá acompanhar essas propostas de ruptura de padrões e de narrativas oficiais. Essa coerência metodológica aponta para uma formação profissional que trabalha inclusão, diversidade, afirmação democrática e pluralista. Os museus normativos, herdeiros de uma visão nacional, nacionalistas (e, nesse caso, provincianos), como, por exemplo, o Museu Paulista (BREFE, 2005), promotor do elogio aos colonizadores paulistas e aos bandeirantes, não apontam para diversidade ou pluralidade, a não ser pela criação de estratégias que, de acordo com as pontuações neste artigo, sejam influenciadas pelos pressupostos sociomuseológicos. A crítica dessa concepção de museu, de história e de memória passa pelo agenciamento do currículo, capaz de criticar velhas perspectivas e de introduzir outras. À vista disso, o currículo do curso de Especialização em Museologia, Cultura e Educação, pautado pelos desafios do museu contemporâneo, anuncia como possibilidade o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas que apresentem novos quadros epistemológicos e novas propostas de ação, de modo que a hierarquia constituída a partir da rede (memória, patrimônio, narrativa considerada oficial, identidade), seja revista.

As narrativas criadas no museu e difundidas fora dele são, de certo modo, resultado de um processo de seleção baseado em apreciações particulares e epistemológicas. Entretanto, na relação entre o sujeito e a cultura no museu, quem decide sobre os sentidos que devem ser preservados e os novos sentidos que serão adotados? (PASQUALUCCI, 2020). Essa questão apresenta pertinência tanto para o currículo quanto para as práticas museológicas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresenta a Sociomuseologia como uma escola de pensamento crítica, dialógica e produtora de narrativas contra-hegemônicas. Por meio da exposição apresentada, apontou-se que o museu dotado de pressupostos sociomuseológicos é, por sua vez, o museu contemporâneo cuja função educativa é latente. As relações entre Sociomuseologia, cultura e arte relativizam o papel dos museus e anunciam que a sua existência se torna ainda mais legítima, a partir das relações que estabelecem com o seu entorno. O museu, na qualidade de espaço de educação, reconhecimento, formação e apropriação cultural, depende tanto da criação de estratégias emancipatórias quanto das políticas institucionais de preservação, pesquisa, exposição e ação educativa. Esses são os fundamentos e os contextos nos quais o currículo do curso de Especialização em Museologia, Cultura e Educação da PUC-SP está ancorado. A intencionalidade do curso é pautada na formação de especialistas que, diante da realidade dos museus e das dificuldades administrativas-econômicas encontradas por estes, podem colaborar para a criação de novos modelos de gestão, preservação, exposição, pesquisa, ações educativas e relações com a sociedade. Como verificado anteriormente, importa reconhecer a existência de museus que conjugam a sua atividade no quadro de conceitos inovadores tanto quanto normativos assim como obriga que qualquer formação no campo da Museologia e do patrimônio tenha em consideração esta nova complexidade da Museologia contemporânea.

O desafio da Sociomuseologia é certamente o de contribuir também para a compreensão desta nova realidade museológica, assente na existência de museus que se afirmam pela utilização simultânea de diferentes conceitos, tornando-se assim numa nova categoria que poderíamos denominar de Museus Complexos. Complexos não pela complexidade do funcionamento das instituições museológicas, mas complexos pela complexidade dos conceitos que sustentam as suas diversas atividades (MOUTINHO, 2014, p. 9).

O deslocamento das estruturas de poder que controlam as narrativas patrimoniais e museológicas, para os museus dialógicos e para as comunidades, como as instauradas recentemente pelos movimentos sociais, pelos grupos minoritários e pelas participações individuais e coletivas, possibilitam e obrigam a inserção de temas de pesquisa ainda mais diversos no universo da Museologia.

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NOTAS:

11 “A museologia que não serve para a vida, não serve para nada” (MINON-ICOM, 2017, p. 1, tradução nossa).

22 Conforme Bilésimo (2020, p. 27): “Registra-se a partir de 1991 as primeiras iniciativas na solidificação da Sociomuseologia, que possibilitariam a criação do que é hoje o Departamento de Museologia da ULHT, passando pelo primeiro programa de pós-graduação em Museologia Social na Universidade Autônoma de Lisboa e posteriormente no Instituto Superior de Matemática e Gestão - ISMAG. Esta última instituição, viria a dar origem à Universidade Lusófona em 1998 na qual foram leccionados vários cursos de pós-graduação em Museologia social e posteriormente criado em 2005 o Mestrado em Museologia, chegando ao Doutoramento em 2007, tendo sempre à frente um grupo de professores, em sua maioria brasileiros e portugueses, capitaneados pelos professores Mário Moutinho e Judite Primo. Transparece, em todas estas iniciativas, a forte preocupação com a função social dos museus, traço fundante da trajetória da Sociomuseologia, conforme se depreende da análise das propostas curriculares destas iniciativas”.

44 A ideia de museologia “experimental” remete, no entanto, para uma museologia que se limitaria a um estágio experimental e ainda não consumado, fato que contraria a potência contemporânea da museologia de base comunitária.

55 Segundo Primo (1999a), a Nova Museologia está ancorada na Mesa Redonda de Santiago do Chile, a qual se dedicou ao tema “O desenvolvimento e o papel dos Museus no mundo contemporâneo”, organizada pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), em 1972. Na ocasião, o conceito de museu foi apresentado de maneira a considerar o espaço museológico como um espaço essencial para a vida em sociedade, flexibilizando o conceito tradicional. A Nova Museologia enfatiza que o museu não é apenas um espaço de coleções do passado, mas que possui relações com a atualidade.

66 A título de exemplo, pode-se citar, entre muitos museólogos, autores e/ou ativistas cuja obra será sempre referência basilar: Bedekar H. Vasant - Índia; George H. Riviere e Hugues de Varine - França; John Kinard - Estados Unidos da América; Per Uno Agreen - Suécia; Pierre Mayrand - Canadá; Omar Konaré - Mali; Peter Davis e Richard Sandell - Reino Unido; e Zbynek Stránský - Checoslováquia.

77 Há de considerarem-se os conteúdos que, de certo modo, ocupam espaço na construção do conhecimento, especialmente dos jovens, tais como os disponíveis e compartilhados nas redes sociais YouTube, Twitter, Instagram, Facebook, WeChat, TikTok, WhatsApp, QZone, Reddit, Sina Weibo, Snapchat, entre outras.

88 Especialmente nos tempos atuais, em que a pandemia do Coronavírus afeta seriamente as instituições culturais em todo o mundo. Vide relatório Museums, museum, profissionals and COVID-19: follow-up survey, desenvolvido pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), em setembro de 2020 (o último publicado até a data da escrita deste artigo). Disponível em: https://icom.museum/wp-content/uploads/2020/11/FINAL-EN_Follow-up-survey.pdf. Acesso em: 3 jun. 2021.

99 Recomendação sobre a proteção e a promoção dos museus e coleções, de sua diversidade e de sua função na sociedade (UNESCO, 2015).

1010 Documentos de referência disponíveis em: http://catedraunesco.ulusofona.pt/docs-referencia/. Acesso em: 20 abr. 2021.

1111 Os temas emergentes são: Racismo, xenofobia, feminismo, sexismo, igualdade de gênero, crise sanitária, temática LGBTQIA+, narrativas contra-hegemônicas, mobilidade urbana, conscientização do consumo e pautas levantadas por movimentos sociais como, por exemplo, o BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam), difundido pela mídia social por meio da #BlackLivesMatter.

1212 Conforme abordado pela Unesco (2016a), na Agenda 2030, em especial com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4: “Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (UNESCO, 2016b, n.p.).

1313 Observa-se, nas últimas décadas, uma produção teórica intensa na área da Museologia. Entretanto, o presente texto atenta-se às intenções de pesquisa do referido curso de Especialização em Museologia, Cultura e Educação da PUC-SP.

Recebido: 20 de Junho de 2021; Aceito: 20 de Agosto de 2021

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