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Práxis Educativa

versão impressa ISSN 1809-4031versão On-line ISSN 1809-4309

Práxis Educativa vol.15  Ponta Grossa  2020  Epub 26-Mar-2020

https://doi.org/10.5212/praxeduc.v.15.14674.020 

Artigos

Contação de histórias e desenvolvimento do adulto contador

Storytelling and development of the adult storyteller

Narración de historias y desarrollo del adulto contador

Elizabete Aparecida Bragatto Abate* 
http://orcid.org/0000-0003-2428-1049

Tania Stoltz* * 
http://orcid.org/0000-0002-9132-0514

*Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: <elizabeteabate@gmail.com>.

**Docente e Pesquisadora da UFPR. Doutora em Educação pela UFPR. Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq. E-mail: <tania.stoltz795@gmail.com>.


Resumo:

Este estudo busca compreender como a contação de histórias está relacionada ao desenvolvimento cognitivo e afetivo de adultos contadores de histórias. Trata-se de pesquisa qualitativa exploratória a partir de entrevistas semiestruturadas com 30 contadores de histórias e de grupo focal. Os dados foram analisados considerando a identificação de categorias a partir do método clínico (DELVAL, 2002). A análise permitiu estabelecer as seguintes categorias: gosto pela leitura, por ouvir e contar histórias; comprometimento com a atividade; reconhecimento da alteridade; afetividade no processo; gratidão e transformação pessoal. Há indícios do desenvolvimento de aspectos cognitivos e afetivos do contador de histórias. Os participantes observam um constante desenvolvimento afetivo a partir da prática, atribuindo à contação de histórias as mudanças na forma de agir, de comportar-se e de ver o mundo, aproximando-se mais do “ser” humano e das suas fragilidades.

Palavras-chave: Contação de história; Desenvolvimento; Afetividade; Cognição; Adulto

Abstract:

This study seeks to understand how storytelling relates to the cognitive and affective development of adult storytellers. It is an exploratory qualitative study based on semi-structured interviews with 30 storytellers and a focus group. The data were analyzed considering the identification of categories according to the clinical method (DELVAL, 2002). The analysis allowed to establish the following categories: passion for reading, listening and telling stories; commitment to the activity; recognition of otherness; affectivity in the process; gratitude and personal transformation. There are indications of improvement in the cognitive and affective aspects of the storyteller. The participants observed a constant affective development from the practice, attributing to the storytelling the changes in the way they acted, behaved and saw the world, getting closer to the human “being” and all his/her fragilities.

Keywords: Storytelling; Development; Affectivity; Cognition; Adult

Resumen:

Este estudio busca comprender cómo la narración de historias está relacionada con el desarrollo cognitivo y afectivo de adultos contadores de historias. Se trata de una investigación cualitativa exploratoria a partir de entrevistas semi estructuradas con 30 narradores de historias y un grupo focal. Los datos fueron analizados considerando la identificación de categorías a partir del método clínico (DELVAL, 2002). El análisis permitió establecer las siguientes categorías: gusto por la lectura, por oír y contar historias; compromiso con la actividad; reconocimiento de la alteridad; afectividad en el proceso; gratitud y transformación personal. Hay indicios del desarrollo de aspectos cognitivos y afectivos del contador de historias. Los participantes observan un constante desarrollo afectivo a partir de la práctica, atribuyendo a la narración de historias los cambios en la forma de actuar, de comportarse y de ver el mundo, aproximándose más del “ser” humano y de sus fragilidades.

Palabras clave: Narración de historia; Desarrollo; Afectividad; Conocimiento; Adulto

Introdução

A contação de histórias têm sido objeto de interesse de muitos pesquisadores que trabalham com crianças, entendendo-a como uma prática que contribui para o desenvolvimento do hábito da leitura e na formação humana (CHESINI; CRESTANI; SOUZA, 2013; SCHERER, 2012). Muitos ouvintes são beneficiados por essa prática; entre eles, crianças, adolescentes, adultos e idosos, sendo positivos os resultados no processo de desenvolvimento cognitivo e afetivo, auxiliando em diferentes contextos sociais (COSTA et al., 2016; MONTEZI; SOUZA, 2013; MENEGHEL, 2014; MENEGHEL; INGUEZ, 2007; BRANDÃO et al., 2006).

As crianças muito se interessam pelas narrativas orais, mas a escolha de um repertório de histórias que se aproxima do universo do adulto pode também despertar nelas o gosto e o encanto pela literatura. Esse interesse é desenvolvido gradativamente, pois não basta ter acesso aos livros para despertar essa curiosidade, mas como essa história chega à vida do leitor é que fará a diferença. Nota-se que, quanto mais o ser humano ouve histórias, maior a possibilidade de construir sequências de imagens, fundamentando e aprimorando os sentidos, as trocas afetivas, além de ampliar o vocabulário e construir um vasto repertório para lidar com as questões do mundo.

Os ouvintes também são objetos de estudos. Para esse grupo, há inúmeros benefícios constatados e uma significativa melhora na qualidade de vida (BRITO et al., 2014; CHESINI; CRESTANI; SOUZA, 2013; PASTORELLO; ANGELO; TORRES, 2015; SCHERER, 2012; MENEGHEL; IÑIGUEZ, 2007). Contudo, poucos estudos mostram a preocupação com a formação e o aprimoramento do contador de histórias (RIBEIRO, 2013). Há uma carência maior ainda de pesquisas relacionadas ao desenvolvimento pessoal desse profissional, o que demonstra uma lacuna a ser explorada. Sob esse aspecto, quais as implicações da contação de histórias no desenvolvimento cognitivo e afetivo do contador?

Dessa forma, o estudo teve a intenção de pesquisar, junto aos contadores, experientes ou não, como a contação de histórias contribui para o autodesenvolvimento, especialmente nas áreas cognitivas e afetivas, levando em conta as diversas áreas do conhecimento e os contextos sociais em que esse grupo está inserido.

A leitura em si e a figura do contador de histórias são os pilares na formação de seres humanos com pensamento crítico. Esse é um exemplo que deve servir de inspiração para as futuras gerações. Pressupõe-se que a prática de contação de histórias não só contribui para o processo de autodesenvolvimento do contador, como já mencionado neste artigo, mas oportuniza uma aproximação prazerosa com outros indivíduos, diante da possibilidade de desenvolver a cognição e a afetividade, capazes de promover mudanças nos âmbitos pessoal e coletivo.

A prática de contação de histórias na literatura

A contação de histórias é muito indicada ao público infantil para o entretenimento e, também, para o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social das crianças (CHESINI; CRESTANI; SOUZA, 2013; SCHERER, 2012). Nas escolas, principalmente na Educação Infantil, a leitura e a contação de histórias ajudam a despertar futuros leitores, trabalham diferentes conceitos e conteúdos necessários para essa fase da vida. Por meio das histórias, ganham uma abordagem leve, educativa e terapêutica (PASTORELO; ANGELO; TORRES, 2015; QUEIROZ; MACIEL, 2014; MISSE, 2014).

Nesse contexto, é preciso destacar a importância do trabalho em grupo, em que o mediador profere as palavras escritas nos livros, introduzindo emoções, gestos, pausas... É assim que a narrativa ganha vida, encanto! Para o ouvinte, uma viagem pelo tempo e espaço, em que a imaginação não encontra limites. É a literatura levando uma nova “[...] visão do mundo, que se formulam hipóteses, formam-se o senso crítico e constroem-se conhecimentos” (PASTORELO; ANGELO; TORRES, 2015, p. 8). Assim, podemos observar:

As experiências de leitura ganham força com textos literários, uma vez que elas orientam tanto para a aprendizagem da língua escrita quanto para o desenvolvimento do prazer de ler [...] quando a criança ouve histórias lidas por outro, ela também está lendo, e essa leitura é importante para o seu desenvolvimento como pessoa. (QUEIROZ; MACIEL, 2014, p. 26).

A arte de contar e ouvir histórias propaga a sabedoria humana, resgatando pensamentos e ensinamentos de diferentes povos e culturas, fruto da ancestralidade. A contação de histórias contribui para uma maior aproximação e percepção entre contador e ouvinte, pois ambos vivenciam o momento da narrativa, fazendo dela uma experiência única. As aventuras do conto podem ser reacessadas na memória pela criação de imagens individuais, considerando as vivências internas e externas de cada um.

A participação dos pais no processo de ouvir e contar histórias também pode ajudar na transformação dos filhos em futuros leitores.

Ouvir histórias possibilita à criança desenvolver suas habilidades linguísticas importantes para a fala/linguagem, leitura e escrita. Além disso, permite que os laços afetivos se fortaleçam e que os momentos em família tornem-se sadios e prazerosos. Para os pais, a contação de histórias pode ser um momento ímpar de participação no desenvolvimento dos filhos e uma oportunidade de interação e diálogo. (SCHERER, 2012, p. 325).

Os resultados da contação de histórias na infância são muito significativos, mas será que os adultos também se beneficiam de forma semelhante das narrativas?

É comum observarmos os adultos desdenhando da contação de histórias, expressando ideias de que historinhas são para crianças. Contudo, nota-se que os contos, fábulas, mitos, entre outros, quando conservadas as suas origens, trabalham conteúdos relevantes para todos os públicos, ampliando a compreensão sobre temas variados. Dessa forma, a literatura que atende às necessidades do público infantil traz, em seu bojo, conceitos de extrema importância para o desenvolvimento humano, independentemente da idade, do sexo, da etnia, da condição socioeconômica, da saúde e da cultura.

Observa-se que o ato de contar histórias para adultos é uma prática pouco estudada, sendo restrito o material encontrado na literatura. Alguns estudos nos relatam os efeitos positivos das narrativas em ambientes hospitalares, asilos, casas de passagem, grupo de mulheres, entre outros públicos, que, de alguma forma, estão à margem da sociedade (COSTA et al., 2016; ABATE, 2014; MENEGHEL, 2010; MENEGHEL; IÑIGUEZ, 2007; BRANDÃO et al., 2006). Essas rodas de contação de histórias têm o objetivo de promover autoconhecimento e a ampliação de recursos internos para auxiliar no tratamento da saúde ou na trajetória de vida dos ouvintes, possibilitando pensar a própria essência nas diferentes ópticas. De acordo com Meneghel (2010, p. 2), “[...] a arte de contar histórias pode ser usada nas práticas de saúde coletiva já que as narrativas são poderosos dispositivos de remodelação do passado segundo a ótica do presente, permitindo ressignificar experiências vividas, inclusive as de aflição e de adoecimento”. É oportuno, nesse caso, que o contador de histórias amplie seu universo literário, não só direcionando o discurso a um público específico, mas também considerando literaturas de seu próprio interesse, de maneira que amplie a compreensão sobre sua própria vida e o mundo.

Para um envelhecimento ativo, a contação de histórias pode ser uma ferramenta de cuidado inovadora, um recurso eficaz à educação em saúde (COSTA et al., 2016). A capacitação de idosas como contadoras de histórias, de forma a valorizar a cultura do imaginário da população do Amazonas, resultou em uma prática positiva, com mudança na qualidade de vida na melhor idade. Costa et al. (2016, p. 1136) relatam que “[...] exercitar a própria mente ou memória constitui-se em importante aprendizado, ocorre o aprender a aprender, e isso é essencial, pois, com ele, é possível que as pessoas adquiram competências para se desenvolverem em suas vidas”.

O estudo das narrativas intergeracionais descreve a importância das histórias no desenvolvimento infantil, situa o idoso como interlocutor e defende o narrar histórias como uma atividade fundamental nessa etapa da vida. Enfatiza a relevância de programas que promovem e valorizam a capacidade de idosos em contar histórias para crianças, abordando tanto o desenvolvimento humano quanto a psicolinguística nessas duas fases da vida. Brandão et al. (2006, p. 100) afirmam que “[...] o campo da Gerontologia Narrativa é uma área emergente nos estudos sobre envelhecimento [...] um de seus temas é o de que o envelhecimento é um processo biográfico, envolvendo o contar e o recontarem contínuos da experiência vivida”.

Destaca-se a ideia de que “[...] formar leitores autônomos e críticos exige o desenvolvimento de diferentes habilidades ao longo dos anos” (QUEIROZ; MACIEL, 2014, p. 26). Trata-se de um processo gradativo e contínuo. A busca por novas histórias pode ajudar o leitor a conhecer novas possibilidades de lidar com questões emocionais, trazendo à tona tabus, mágoas, ressentimentos. Uma experiência enriquecedora sobre autoconhecimento e sensibilidade para lidar com o outro. A contação de histórias pode abrir caminhos e despertar o prazer no adulto em ouvir e contar histórias, podendo ser um processo de aproximação da literatura e do coletivo (ABATE, 2014).

O trabalho de contação de histórias com grupo de mulheres utiliza as narrativas como forma de enfrentar mecanismos de exploração e/ou dominação, relacionados ao gênero, à raça e à classe social, sob o olhar da psicologia social. É uma possibilidade de intervenção em saúde coletiva na medida em que “[...] o contador de histórias é como o interlocutor que ajuda o narrador a reconstruir sua história, retomando experiências das quais foi espoliado, construindo uma identidade e uma memória coletiva” (MENEGHEL; IÑIGUEZ, 2007, p. 1816).

Conforme mostram os estudos, contar e ouvir histórias transcorre na possibilidade de expressar atenção, afeto e abordagem sobre temas difíceis de serem discutidos no dia a dia com diferentes grupos. Para muitos, o princípio de diálogos essenciais na formação da personalidade e do desenvolvimento humano.

Método: tipo de estudo, cenário da pesquisa, sujeitos e coleta dos dados

Trata-se de um estudo qualitativo com o objetivo de compreender como a contação de histórias se relaciona ao desenvolvimento de adultos, especialmente em relação aos aspectos cognitivo e afetivo do contador.

A estratégia de investigação é o estudo de caso por ter a intenção de explorar a atividade de contação de histórias desenvolvida pelos voluntários, observando o processo individual e grupal, considerando a proposta de Creswell (2010, p. 38). A pesquisa foi realizada na cidade de Curitiba, tendo como participantes do estudo 30 integrantes de um grupo de contadores de histórias voluntários que atuam em diferentes instituições e públicos distintos. Os contadores de histórias têm idade entre 25 e 70 anos, com formações diversas, tais como: assistente social, pedagoga, psicóloga, auditor fiscal, militar, empresária, bancária, chef de cozinha, publicitária, analista de informática, contadora, marceneiro. Contudo, há predominância de educadores. Entre os participantes, há quem já se aposentou e outros estão na ativa. O principal objetivo de realizarem o trabalho voluntário é auxiliar no desenvolvimento de indivíduos a partir da prática da narrativa oral. Buscam, por meio disso, contribuir com suas habilidades pessoais, com interesse no próprio crescimento humano.

A experiência dos contadores varia de um a 14 anos, dedicados à prática da contação de histórias. São atendidas crianças na faixa etária entre 2 e 5 anos; crianças e adolescentes com problemas neurológicos; adolescentes infratores; menores aprendizes; adultos HIV-Positivo; pacientes psiquiátricos e idosos. As histórias vão desde contos de fadas a contos modernos, fábulas, mitos, histórias de terror, entre outros.

A escolha pelos contadores de histórias deu-se em função de todos realizarem o trabalho voluntariamente, sem nenhum tipo de vínculo empregatício com a instituição em que contam histórias e por apresentarem um grande comprometimento com a narrativa oral. A coleta de dados foi realizada por meio de instrumentos e de procedimentos de estudo empírico: entrevista semiestruturada individual, grupo focal com contadores de histórias voluntários e diário de campo.

Com o objetivo de manter a ética em pesquisa envolvendo os seres humanos, os participantes foram informados sobre o objetivo da pesquisa e suas identidades foram preservadas, tendo sido utilizados nomes fictícios na descrição dos relatos. Todos foram convidados e aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Considerando Lüdke e André (1986, p. 37), o entrevistado deve estar ciente de que as informações fornecidas serão materiais exclusivos da pesquisa, observando o sigilo da identidade dos informantes. A concordância em responder às questões deve partir da seriedade e da confiança transmitida pelo pesquisador, sabendo da importância do registro das informações.

De acordo com a proposta de Lüdke e André (1986), foi realizada entrevista qualitativa e exploratória com a intenção de obter uma maior familiaridade entre o pesquisador e o tema pesquisado, por se tratar de um assunto ainda pouco investigado. Foi elaborado um roteiro de perguntas para orientar o diálogo, considerando o interesse pela narrativa oral, o desenvolvimento de adultos a partir da modalidade contação de histórias e como os participantes observam essa prática no próprio desenvolvimento cognitivo e afetivo. A vantagem desse método, defendem Lüdke e André (1986, p. 33-34), é que “[...] a entrevista permite correções, esclarecimentos e adaptações”, visto que se organiza e toma corpo a partir do diálogo em que “[...] o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que detém”, contribuindo para o processo de desenvolvimento da pesquisa.

As entrevistas foram conduzidas com base no Método Clínico, “[...] que consiste em uma forma de obter dados em interação direta com o sujeito” (DELVAL, 2002, p. 35), tendo como característica “[...] um núcleo inicial de problema que vai se abrindo e ampliando para seguir o curso das condutas ou explicações [...]” (DELVAL, 2002, p. 50). Isso “[...] gera uma quantidade de informações relevantes e permite aprofundar em aspectos desconhecidos do pensamento do sujeito” (DELVAL, 2002, p. 50). As entrevistas tiveram duração aproximada de 30 minutos e foram realizadas em local previamente agendado, com o propósito de conservar a qualidade e a confidencialidade das informações. Posteriormente, realizaram-se dois grupos focais com 10 participantes cada, formados de acordo com a disponibilidade de horário dos contadores, desencadeados a partir do tema: “A contação de histórias na minha vida”.

Os dados das entrevistas e dos grupos focais foram coletados por meio de diário de campo e gravações em áudio com a autorização dos participantes. A ideia era obter um diálogo espontâneo para que as respostas fossem transcritas em sua totalidade, a fim de que não se perdesse conteúdo significativo para a pesquisa. Após a transcrição e a análise dos resultados, o material foi descartado.

Considerando Delval (2002), as categorias de análise das entrevistas e do grupo focal surgiram a partir dos aspectos e dos temas recorrentes no material coletado, respeitando sua frequência, regularidade e similaridade. A discussão das categorias fundamentou-se no aporte teórico da revisão de literatura. Os nomes utilizados para identificar os participantes são fictícios.

Contando histórias: relatos da prática

Os entrevistados responderam com entusiasmo e comprometimento todas as questões. Esclareceram de que maneira a contação de histórias surgiu em suas vidas. Pelos relatos, nota-se que, para eles, é uma prática apaixonada e que promove mudança de vida, de história e de alma. Os depoimentos confirmam: “Aprendi a olhar o outro e a mim mesma com mais tolerância e compreensão... que não é tudo perfeito como eu gostaria que fosse” (Angelita, 61 anos); “É uma atividade que alimenta a alma de quem ouve e de quem conta” (Tati, 58 anos); “Ficou mais leve, quando acontece alguma coisa que me deixa triste, lembro-me de uma história e eu consigo me ver no lugar do herói, então digo: tá bom, isso é uma tarefa que eu preciso cumprir, vamos lá” (Camila, 46 anos).

Comecei a ser contadora de histórias num momento da minha vida em que estava em crise comigo mesma. Este trabalho me transformou, pois com ele percebi que posso ser útil a alguém e muito mais que isso, pude aprender muito com os ouvintes. Saber que não sou a única a ter problemas, perceber que estas situações difíceis sempre vão existir em nossa vida, a diferença é o como vamos enxergá-los. (Ana, 47 anos).

Os contadores relataram o próprio desenvolvimento, principalmente emocional, atribuindo à contação de histórias as mudanças na forma de agir, de se comportar e de ver o mundo, aproximando-se mais das pessoas, do “ser” humano e das suas fragilidades. De acordo com Mainardes (2008, p. 3), contar e ouvir histórias é a mais antiga das artes, contém “[...] inúmeros significados, estando interligado ao desenvolvimento da imaginação, à capacidade de ouvir o outro e de se expressar, à construção de identidade e aos cuidados afetivos”.

Ouvir e contar histórias faz parte do ser humano em todas as culturas e todos os tempos da sua existência (ABATE, 2014). É uma prática transmitida de geração para geração, um ato milenar que revela maravilhosos tesouros da sabedoria humana. Na pesquisa, ficou evidente que a prática atravessa gerações - transmitida pelos ancestrais. Avós, pais, mães, tias! Gente comprometida com a educação de seus filhos, tendo a narrativa como instrumento de prazer que gera resultados positivos ao longo da vida, como declara uma entrevistada: “Depois de algum tempo, fui clareando a ideia de que minha avó foi uma grande contadora de histórias. Eu não sabia disso. Eu a tinha como avó... talvez viesse dela essa motivação, que me fez ter essa ânsia pela palavra e pelas histórias” (Sara, 32 anos).

As avós das participantes, também contadoras de histórias, foram lembradas com ternura por suas netas. Ao contarem suas experiências, puderam reviver as memórias de infância. Elas demonstram respeito e admiração, atribuindo, às avós, o interesse pela leitura e pela contação de histórias. “Quando criança escutei muitas histórias da minha avó, sempre interpretei e recebi isso como um ato de amor.” (Mileni, 32 anos).

Minha avó era uma grande contadora de histórias, quando faltava luz em Curitiba, ela acendia uma vela e fazia bichinhos com o miolinho de pão e ficava contando historinhas pra gente (risos). Eu sempre vivi um pouco nesse mundo das histórias, do imaginário, eu criava as minhas histórias. (Lúcia, 59 anos).

Os genitores - pais e mães - também deixaram marcas carinhosas na infância dos contadores entrevistados. Lembranças repletas de encanto e amor. “Meu pai contava muitas histórias para mim” (Gina, 70 anos); “Lembranças da infância, quando meu pai contava histórias em volta da fornalha à lenha” (Geraldo, 46 anos); “Desde criança aprendi a gostar de poemas e histórias diversas, meus pais contavam para mim. Fiz declamação quando pequena. Era a artista da escola” (Lorena, 66 anos).

Foram depoimentos emocionados, cercados de magia e de lembranças saudosas da infância vivida e ouvida.

A memória torna as experiências inteligíveis, conferindo-lhes significados. Ao trazer o passado até o presente, recria o passado, ao mesmo tempo em que o projeta no futuro; graças a essa capacidade da memória de transitar livremente entre os diversos tempos, é que o passado se torna verdadeiramente passado, e o futuro, futuro. (AMADO, 1995, p. 132).

É possível constatar que essa relação entre os familiares que teve as histórias como pano de fundo é uma rica experiência que se leva para a vida. Para muitos dos participantes da pesquisa, isso permaneceu entre as melhores recordações da infância, conforme a descrição: “ouvir histórias, lembranças de infância, uma das minhas memórias mais agradáveis” (Liza, 52 anos). As histórias, segundo Scherer (2012, p. 325), permitem que “[...] os laços afetivos se fortaleçam e que os momentos em família se tornem sadios e prazerosos. Para os pais, a contação de histórias pode ser um momento ímpar de participação no desenvolvimento dos filhos e uma oportunidade de interação e diálogo”.

É imensurável a importância das histórias durante a infância, mesmo em lares modestos onde os pais têm menor escolaridade, conforme este relato:

Nunca tivemos livros em casa, quando criança, meus pais liam e escreviam com muita dificuldade. Sempre adorei ouvir histórias, desde criança quando ouvia um programa de rádio, chamado “As histórias da tia Chiquinha”, passei a ler muito por causa das histórias que ouvi naquela época. (Clarice, 65 anos).

A motivação também pode surgir a partir dos filhos, dos netos, das experiências de vida e dos interesses que se constroem com o tempo, como neste caso: “Desde que minhas filhas nasceram, tomei gosto por contar histórias a elas. Repeti com as netas e agora com o neto, fui gostando tanto que fiz uma Pós-Graduação sobre o assunto” (Liz, 70 anos).

Apesar das mudanças ao longo dos tempos, Mainardes (2008, p. 7) considera “[...] o fascínio que as histórias exercem sobre o homem não mudou, pois quando se conta uma história lança-se um fio invisível que vai enredando o narrador ao ouvinte, pelas tênues tramas da narração”. Assim, observamos nas entrevistas que há uma egrégora que se forma em torno da roda, criando uma relação de comprometimento, respeito e amor envolvendo contadores e ouvintes. Nasce ali a possibilidade de desenvolvimento por meio da relação afetiva que se estabelece, sendo a história a geradora dessa harmonia.

A partir da análise dos dados obtidos nas entrevistas e nos relatos dos contadores de histórias, foram encontradas as seguintes categorias: gosto pela leitura, por ouvir e contar histórias; comprometimento com a atividade; reconhecimento da alteridade; afetividade no processo; gratidão e transformação pessoal.

Gosto pela leitura, por ouvir e contar histórias

O gosto pela leitura, por ouvir e contar histórias é uma das categorias que surge motivada pela biografia. Os contadores de histórias buscam a formação com a intenção de agregar conhecimento e de aproveitar o interesse pela literatura, transformando o que possuem de melhor em algo que pode ser oferecido ao social. “Eu sempre gostei de ouvir histórias e ouvindo histórias me encantei” (Bela, 61 anos); “Sempre gostei de histórias, quando criança eu lia muita história e já contava para os meus irmãozinhos mais novos, são os que mais gostam de ler” (Tati, 58 anos); “Sempre gostei de histórias e contar para outras pessoas. É gratificante” (Cecília, 54 anos).

A literatura é a ponte entre o real e o imaginário. As histórias auxiliam as crianças na compreensão de seus sentimentos, já que as emoções afloradas por meio das narrativas preparam-nas para vivenciarem essas emoções no mundo real, de forma mais racional e equilibrada. De acordo com Mainardes (2008, p. 3), “[...] a literatura suscita o imaginário, encanta e deleita o espírito”.

A literatura é, portanto, a maneira de iluminar o passado, trazendo, para o presente, experiências ímpares que os contadores tiveram na infância. O carinho, ao recordarem-se do passado de histórias, confirma a importância das relações familiares e reverbera o efeito dessas vivências por toda a vida. Smith e Sperb (2007, p. 558) consideram que “[...] escutando e contando histórias vamos construindo um sentido de mundo e de nós mesmos, estabelecendo uma continuidade entre os eventos, numa perspectiva simultânea da ação e da intencionalidade de pessoas situadas num cenário físico e social”.

Comprometimento com a atividade

Nesta categoria, ficou demonstrado que os contadores de histórias se dedicam à prática articulando o afetivo ao cognitivo. Relatam ganhos pessoais e benefícios entre os grupos ouvintes. A dedicação à prática e esse comprometimento com a causa são percebidos na forma como o contador de histórias preocupa-se com o que oferecer ao grupo. Um leque de histórias que atenda às necessidades de quem ouve. Para tanto, o constante estudo e aprimoramento da arte da narrativa são as condições que julgam necessárias para levar, ao público, o melhor. Assim, denotamos no relato que segue:

Eu acho que a gente vai evoluindo à medida que vai tendo experiência. É uma coisa que eu tive que reaprender. A escolha das histórias pra mim foi o maior desafio. Encontrar uma história de qualidade. Mas, aos poucos fui encontrando os meios. Eu quero fazer um curso de aperfeiçoamento. Acho que quando se está motivado e se acredita numa coisa você busca melhorar. Eu vou com certeza procurar me aperfeiçoar mais. (Tati, 58 anos).

O interesse pela leitura cresce ainda mais, à medida que a motivação e o gosto por esse trabalho encontram ressonância com os anseios pessoais de se sentir desafiado em uma nova fase da vida. “Sempre que eu tenho oportunidade de participar de algum curso de formação eu vou. Porque a gente sempre está aprendendo técnicas, recebe bibliografias e isso vai agregando. Ler muito! Não só as histórias, mas também livros técnicos sobre a contação” (Lúcia, 59 anos).

Saber que nunca se está pronto é o desafio que os contadores consideram na busca de novos aprendizados. E essa é uma postura comum entre eles:

O meu desenvolvimento ainda continua. Não acabou! Acho que vai continuar por muito tempo, ainda tem muita coisa para aprender. Percebo que é um aprendizado contínuo, precisa de um tempo de dedicação. Acho que é como a aprendizagem que a gente tem na vida. Você vai aprender até morrer porque sempre vai aparecer uma coisa nova. Você sempre vai descobrir uma história nova, um jeito novo de contar. (Bela, 61 anos).

É um processo contínuo, não dá para dizer que fazendo um curso de contação de histórias, o contador está pronto. Eu fiz o curso de contação, fiz a pós e agora o aprofundamento está me ajudando a preparar melhor, a colocação da voz, a ênfase em algumas palavras. Para que o efeito seja maior, que possa ser absorvido de uma maneira mais positiva pelos ouvintes. É buscar a história das histórias. (Inês, 68 anos).

É um processo interminável. Não tem ponto final. Uma história é seguida de outra história e eu acho que é isso o que me acende. Exatamente isso...no sentido de que nunca está pronto. Hoje você faz uma coisa, amanhã faz outra e aí você faz uma formação aqui e tudo o que você lê pode trazer uma contribuição positiva. (Sara, 32 anos).

O processo de conhecimento constrói-se gradativamente a partir do que é significativo: vivências, cursos de aperfeiçoamento, diálogos. É surpreendente o que as histórias nos revelam, como exposto: “Me considero uma eterna aprendiz! Sempre aprendendo!” (Lorena, 66 anos); “Ser voluntária contadora de histórias é uma forma de gratidão, quando chegava aos 60 anos” (Clarice, 65 anos). A preparação do contador é um “tecer” que se compõe com afetividade, entremeando as imagens das histórias lidas, as contadas, as ouvidas e as vividas. Ana (47 anos) define: “Compreendo que a cada dia tenho mais informações...subsídios para planejar as histórias que serão contadas. Contudo, percebo que existe a necessidade de me aprofundar muito para desempenhar melhor o meu trabalho de contadora de histórias”. E é nesse entrelaçar do conhecimento que concordamos com Costa, Tassoni e Azevedo (2019) quando relatam que:

Para que a história se concretize como um potencializador no desenvolvimento da imaginação, não basta apenas abrir o primeiro livro que encontrarmos e começarmos a lê-lo. A leitura de uma história, ou mesmo uma contação oral de uma história, necessita de um preparo do contador [...] para o mundo mágico que está prestes a adentrar. (COSTA; TASSONI; AZEVEDO, 2019, p. 687).

Outro relato acrescenta:

Aprender uma história para contar é como construir um filme... com o tempo fui aprendendo a usar o corpo, gestos, entonação de voz para cada personagem. O sussurro, as pausas, o silêncio...para dar mais realismo à história. É um exercício e tanto! Ainda tem muito a melhorar. (Susi, 40 anos).

A relação de compromisso com a literatura e o desenvolvimento da narrativa oral são aspectos que motivam o contador a continuar seus estudos, teórico e técnico - garimpando histórias de diferentes culturas a fim de transmitir por meio da oralidade a poesia, as vozes e a herança cultural.

Nas sociedades primitivas essa atividade tinha um caráter funcional decisivo, os contadores eram os que conservavam e difundiam a história e o conhecimento acumulado pelas gerações. Durante séculos, essa cultura se manteve sem a escrita, mas na memória viva. Transmitidos de geração em geração, os contos de tradição oral viajaram do Oriente para o Ocidente. (MAINARDES, 2008, p. 3).

Aprender já era a ânsia dos diferentes povos na antiguidade. Compartilhavam a sabedoria acumulada e buscavam adquirir novos saberes por meio das grandes viagens e do contato com outras culturas. Hoje, temos grande facilidade em adquirir conhecimento. Não obstante, a contação de histórias é, segundo nossos entrevistados, a arte que compartilha com amor, o que se tem de mais especial: a herança que carregamos conosco. Sisto (2001, p. 40) acrescenta que “[...] contar histórias nunca é uma opção ingênua. É uma maneira de olhar o mundo”. E esse olhar é compartilhado pelos contadores com sabedoria, a fim de desenvolver novas possibilidades de ler o mundo.

Os contadores relataram experiências que permitiram a evolução pessoal; desse modo, tornaram-se seres humanos melhores. Aprenderam a empatia, a paciência e a coragem, por meio da contação de histórias. Segundo os participantes, as histórias contadas trabalham as questões íntimas e, por isso, são transformadoras para ouvinte e contador. Como argumenta Campos-Brustelo, Bravo e Santos (2010, p. 6): “Ao atribuir sentido àquilo que o afeta, o indivíduo pode restaurar o sentido da vida, momentaneamente abalado, ou até mesmo perdido, frente aos grandes desafios existenciais”. A disponibilidade e o interesse pelo desenvolvimento do outro marcam com leveza e sabedoria a prática da contação. Oportunizar cultura, desencadear alegria, tristeza, esperança, entre outras experiências, é uma forma de propiciar vivências afetivas a fim de criar forças para lidar com as situações da vida. É uma prática poética que busca harmonizar o afetivo e o cognitivo. Assim, viver na imaginação diversas experiências faz do contador de histórias um ser humano que aprende a respeitar o outro nos momentos de maior fragilidade.

A utilização de histórias orais é uma prática comum às sociedades de todas as épocas e lugares, de forma ritualizada ou no cotidiano, e atende a múltiplas funções essenciais à vida numa cultura: a comunicação, a explicação de motivações para comportamentos e de causas para as coisas, a persuasão, a criação de versões para acontecimentos, o entretenimento, a construção de mundos e situações possíveis. (SMITH; SPERB, 2007, p. 556).

Reconhecimento da alteridade

Outra categoria expressiva é o reconhecimento da alteridade. Ser sensível na percepção do outro, às suas necessidades e individualidades. Colocar-se no lugar desse outro a fim de entender o que ele precisa para melhor enfrentar as questões da vida. Por meio da atenção do ouvinte, os contadores pesquisam histórias que possam, de alguma forma, amenizar a dor do outro; mostrar diferentes maneiras de se encontrar um novo caminho, ou, ainda, ter a oportunidade de reelaborar questões vividas.

Ajudar o outro é possível de muitas maneiras. Proporcionar momentos de prazer é uma delas, como propõe as entrevistadas. “Levar um momento de alegria, de descontração, levar mensagens, levar algum ensinamento que faça bem às pessoas” (Tati, 58 anos); “Dar a chance para quem ouve se deliciar, se encontrar e se identificar com os personagens das histórias” (Sofia, 65 anos).

Outra intenção é provocar momentos de reflexão: “Ajudar as pessoas a refletirem sobre a sua situação interior; refletir e encontrar respostas para os seus conflitos internos” (Inês, 68 anos); “Fazer diferença na vida dos ouvintes” (Mira, 60 anos); “Oferecer um caminho para que os ouvintes encontrem ferramentas de crescimento, conforto, consolo e aprendizado” (Milene, 32 anos); “Auxiliar as pessoas para que elas mesmas se encontrem [...], percebo que elas estão conseguindo ser mais comunicativas e podem lembrar a vida que tiveram antes de estarem ali” (Ana, 47 anos).

É também compartilhar os sentimentos, desnudar as emoções. Propor caminhos já percorridos nos quais se encontrou aconchego... respostas. Aquele trajeto que julga possível ser feito, transformando a caminhada em algo produtivo e significativo, conforme mostram os relatos a seguir:

A minha intenção é fazer com que as pessoas sintam o mesmo que eu sinto quando ouço uma história [...], sinto que a gente pode transformar e mexer com as emoções, despertar as coisas que estão escondidas lá no cantinho da mente, no cantinho da alma. (Bela, 61 anos).

Permitir que as pessoas acreditassem em algo que não é esse mundo palpável, esse mundo que a gente fica ouvindo o tempo todo sobre as crises, os problemas, existe outro mundo, trazer a esperança, a possibilidade de sonho, resgatar isso nas pessoas. (Camila, 46 anos).

Acho que eu comecei a olhar o outro pelo olhar dele e não mais pelo meu olhar. Porque quando você olha com o teu olhar, você está pré-julgando, e eu acho que fazer esse trabalho com as histórias com as pessoas nas instituições em risco social, ele abre pra você enxergar o outro nas condições dele como ele é, sem julgar, e isso eu chamo de ouvir o outro com o coração. (Lúcia, 59 anos).

A intenção é levar ao outro a possibilidade do lúdico, de experienciar a imaginação, viver em mundos jamais sonhados. Proporcionar o belo, o encanto, a fantasia... Os depoimentos revelam isso: “Aprender a vivenciar o poder do lúdico com as pessoas, em especial com as crianças” (Celina, 48 anos); “As meninas ‘privadas de liberdade’ com todas aquelas dificuldades, elas param e se deixam encantar pela história. Isso é mágico! É algo além...” (Anne, 44 anos); “Quando se entra na essência da história, se vive cada palavra dita. Tenho intenção de levar o ouvinte a entrar junto na área da imaginação e sentir o momento da magia. O efeito que ela produz pode ser muito curativo e de reflexão” (Lorena, 66 anos).

Percebemos que as histórias possibilitam a relação de entrega, a conversa de olhares, de gestos, em que ambos saem fortalecidos: contador e ouvinte. É querer o bem do outro, mas também ser beneficiado por esse gesto de amor, conforme as entrevistas revelam: “Eu vejo que a história faz tão bem para aquele público que eu me sinto feliz em estar prestando esse serviço” (Raissa, 38 anos); “Eu gosto de conversar com esse público, eu acho que é uma troca, você leva uma mensagem e recebe outra, sempre é uma troca” (Lúcia 59 anos); “Nos ajuda a aprender a se colocar no lugar do outro” (Angelita, 61 anos); “Percebemos nos olhares que alguma coisa despertou no íntimo do ouvinte” (Liza, 52 anos). Também foram observados relatos negativos, mas sempre seguidos de algo positivo, como os exemplos a seguir:

É bom, mas dá trabalho! Porque todo mundo acha que é só chegar lá e contar. Você tem que escolher uma história para o público que você vai contar, tem que preparar essa história e pensar muito bem no que você vai dizer, se aquilo vai cair para a plateia que você está falando. Mas é uma coisa muito boa, eu gosto muito. (Bela, 61 anos).

Me desgasta um pouquinho porque é uma atividade que tira um pouco do meu esforço para fazer, porque, na realidade, sou uma pessoa bem tímida e tenho dificuldade em falar em público. Coloquei isso como um desafio pra mim. Tem esses dois lados: um trabalho voluntário bem bonito e a minha habilidade para falar em público que eu preciso desenvolver. Mas, mesmo assim, eu acho que esse trabalho me serve como missão cumprida nos dias que eu faço. (Lana, 25 anos).

Verificamos que a contação de histórias nos possibilita viver, em outro momento, situações semelhantes às que vivemos em nossas vidas, nos fortalecendo e nos dando a oportunidade de um novo desfecho.

As histórias nos mostram como é que processamos os conflitos da infância, da adolescência, os grandes problemas da existência, e como a sabedoria popular resolve seus conflitos [...]. É como um quadro que você descobre, olha, contempla e que pouco a pouco vai se impondo, vai enfeitiçando, por assim dizer. Há como um encantamento que vem de sua linguagem mágica. (BONAVENTURE, 1992, p. 12).

Considerando os relatos dos contadores, a prática da contação de histórias é a arte que ajuda a desenvolver a afetividade e a maneira de expressar o amor pelo outro, de chegar ao cerne do outro com sutileza e a buscar nele a sua essência. É nessa relação que se constrói o conhecimento: cognitivo e afetivo.

Melhor explica Morin, ao considerar a importância da dimensão emocional para nossa evolução intelectual, o desenvolvimento da inteligência está associado à afetividade, mas com equilíbrio, para agir dentro da racionalidade. Sonhos, desejos e fantasias são necessários ao nosso mundo psíquico. Porém, devemos sempre refletir sobre nossos pensamentos, buscando sempre os que estão mais próximos da realidade. O homem é dotado da razão, mas também da emoção, um ser complexo. (COSTA et al., 2016, p. 1138).

Afetividade no processo

Surge aqui mais uma categoria: a afetividade. Despertada no processo, por meio da contação de histórias, o contador reconhece e externa esse sentimento, é como um diamante bruto que, ao ser lapidado, embeleza e encanta. Um contador de histórias disse: “é preciso estar encantado para encantar” (Grandão, 63 anos). Suas palavras falam dessa afetividade, do encanto pelas histórias e pela relação que se estabelece com o outro para, assim, poder encantá-lo e fazer acordar a afetividade muitas vezes adormecida. Nos depoimentos a seguir, podemos perceber o quanto a afetividade integra o processo da contação de histórias: “Contar histórias para mim é vida. É algo que me mantém conectada com muita coisa boa... as histórias agindo e levando coisas boas, ajudando pessoas” (Amanda, 60 anos); “Pretendo trazer mais prazer e alegria às pessoas e a mim mesma. Sinto como se recebesse um presente mágico, valioso, que preciso cuidar e passar pra frente” (Clarice, 65 nos); “Alcançar lugares no interior de cada pessoa que são difíceis de serem encontrados, onde cada indivíduo possa resgatar as suas próprias lembranças” (Ana, 47 anos); “Levar calor e alegria aos corações das pessoas” (Liza, 52 anos).

É possível notar que as histórias também possibilitam apreender novos conceitos da vida. Para Costa et al. (2016, p. 1138), “[...] a vida não é aprendida apenas por meio das ciências formais, mas também por meio da literatura”. Deve-se considerar os sonhos, “[...] pois a vida deve ser pautada também pela paixão e pelo entusiasmo”. É nesse contexto que se percebe: os contadores levam a afetividade aos ouvintes e compartilham com eles momentos de alegria, dor, tristeza, superação, desespero, aprendizado, entre outros, semeando histórias para refletirem sobre a vida afetiva e cognitiva. Os depoimentos demonstraram essa possibilidade:

Contando histórias, eu pretendo mudar um pouquinho a energia da pessoa, seja na forma dela pensar, plantar alguma sementinha, algum questionamento ou indagação. Levar um pouco de carinho, sabedoria, um pouco de alegria e amor. Percebo que é uma doação que faço de coração [...], é uma relação mais de carinho e amor [...]. A gente percebe que as ouvintes ficam bem mais alegres, tranquilas, positivas, elas saem daquela zona de passividade para interagir com as contadoras. (Lana, 25 anos).

Oferecer um caminho para que os ouvintes encontrem ferramentas de crescimento, conforto, consolo e aprendizado. Com o passar do tempo, compreendi que as histórias permitem a eles o acesso às memórias afetivas de suas histórias de vida. [...] sinto-me responsável por poder ser essa ferramenta, que permite que as pessoas acessem memórias afetivas e redescubram fatos importantes de suas vidas. (Milene, 32 anos).

Pelo conteúdo das entrevistas, constatamos que há uma troca afetiva, entremeada pelas histórias contadas e pelas histórias vividas, na qual o contador se beneficia, cuidando também de si mesmo, como podemos observar: “É uma atividade de troca de experiência, muito aprendizado e amor [...], forma lúdica e amorosa, empatia com os ouvintes” (Manu, 62 anos); “Para mim é um trabalho delicioso que me dá momentos de prazer e que levo prazer aos ouvintes” (Sofia, 65 anos); “É mais uma coisa assim de coração mesmo, eu conto histórias porque eu gosto e gosto de ver as pessoas viajando nas histórias” (Camila, 46 anos).

O afeto compartilhado por meio das histórias pode auxiliar na dor física e psíquica do outro, mas também trazem conforto ao contador com relação à sua própria existência, aspectos que ficam implícitos na fala dos contadores: “Quando algumas crianças estão com muita dor, contamos histórias de príncipes e princesas e aparece sempre, o sorriso nos lábios delas” (Gina, 70 anos); “Uma criança normalmente apática, de repente escutando uma história, abre um sorriso ou outra manifestação, percebo que as histórias estão de alguma forma entrando nela” (Angelita, 61 anos); “Foi através das histórias que ele (ouvinte) aprendeu a superar parte de seus medos” (Lorena, 66 anos); “O que mais me chamava à atenção era que algumas crianças chegavam desconfiadas e desinteressadas às rodas e, no final, estavam totalmente integradas” (Celina, 48 anos).

Considerando os relatos, podemos inferir que a contação de histórias, por ser uma relação de troca, olhando por esse aspecto afetivo, é mais enriquecedora do que a leitura solitária, pois acontece uma conexão entre contador e ouvinte, suscitando vida para a história. Para Smith e Sperb (2007, p. 558), “[...] escutando e contando histórias vamos construindo um sentido de mundo e de nós mesmos, estabelecendo uma continuidade entre os eventos, numa perspectiva simultânea da ação e da intencionalidade”. Alguns relatos fundamentam essa ideia: “É uma atividade que alimenta a alma de quem ouve e de quem conta” (Tati, 58 anos).

A experiência narrativa é muito mais rica do que a experiência da leitura porque envolve dois seres humanos no encontro do olhar. Gosto de contar para adulto, ele é tão carente dessas histórias, desse enredo, ele está tão ali no ritmo desesperado dele que quando para, é um oásis, um momento de paz, de amorosidade. (Raissa, 38 anos).

Notamos que, quando se estabelece uma relação harmoniosa durante a contação de histórias, essa propicia ao contador e ao ouvinte momentos de imersão e de elaboração de imagens que viabilizam a entrada no mundo da fantasia, em que cada um aproveita o momento de forma muito particular, considerando suas vivências pessoais, afetivas e cognitivas.

O imaginário remete-nos para a natureza simbólica, espaço onde a imagem é posta em ação. Aliás, ao observarmos o mundo que nos rodeia, memorizamos a realidade e produzimos, no nosso imaginário, as imagens do mundo. O imaginário é o espaço onde a imagem é criada para ser projetada nos sonhos, na fantasia, nos devaneios e nos atos criativos. É um intemporal onde podemos regressar vezes sem fim. (AZEVEDO, 2010, p. 31).

Verificamos que tanto o contador quanto o ouvinte se beneficiam dessa experiência, sendo a história o fio condutor dessa relação, viabilizando a transformação pessoal de cada membro. Eles sentem que são beneficiados com o trabalho que desenvolvem, pois são os primeiros a conhecer a história, trabalhando as imagens em suas memórias para depois trazê-las em forma de narrativa.

Gratidão e transformação pessoal

A categoria gratidão e transformação pessoal está relacionada aos ganhos pessoais, aprendizado de vida e a gratidão pela oportunidade de ser contador. A paciência e o saber ouvir têm destaque nessa categoria: “Sou mais sensível, observador, consigo perceber e me colocar mais na situação do outro, aprendi a ser contador, mas também aprendi a ser ouvinte e descobri que isso é muito importante” (Geraldo, 46 anos); “Mudou à minha maneira de lidar com algumas situações, me tornou mais paciente e tenho procurado ouvir mais e falar menos, ser menos impulsivo, pensar, respirar e talvez falar. Percebo que me comporto melhor em situações de conflito” (Ryan, 53 anos); “Tornei-me mais compreensiva, mais amorosa e mais respeitadora das dinâmicas da vida e do universo [...]. ser contadora me permitiu reconectar com meu lado lúdico que é fundamental para termos uma vida emocional saudável” (Milene, 32 anos).

Tem histórias muito fortes que realmente mexem comigo, eu sinto isso cada vez que conto. É importante ver atuando nas pessoas, mas também é muito importante observar que está atuando em nós contadores, às vezes eu acho que nós saímos até melhor (risos) do que quem está ali ouvindo, faz um bem enorme. É uma carícia na alma que você faz. (Amanda, 60 anos).

Os depoimentos trouxeram a experiência de mudança de vida, de transformação pessoal e profissional, ressignificam a forma de viver, como relatado: “Transformou a minha vida, eu considero assim como uma oportunidade de crescimento pessoal, emocional e espiritual, de uma totalidade, integração” (Inês, 68 anos); “A atividade de contar histórias foi tão importante que trouxe um novo sentido pra minha vida” (Tati, 58 anos); “O jeito de observar o mundo, o outro, uma compreensão maior do perdão e da empatia, e isso se reflete no meu dia a dia. Minha reorientação profissional de certo modo adveio do trabalho com as histórias” (Amanda, 60 anos). Outro relato nos diz: “Faz com que eu me sinta mais viva e mais participativa [...]. hoje eu estudo muito, influencio pessoas a fazer cursos e a contar histórias, convivo com pessoas que têm o mesmo amor pelas histórias. Posso dizer que é graças às histórias, que estou vivendo meu melhor momento da vida” (Gina, 70 anos).

O “ser” humano foi uma palavra muito destacada pelos contadores, a empatia, fazer a diferença e tornar-se diferente, como relataram: “A gente fica mais humana, vai mudando o jeito de ver o mundo, de se relacionar com a outra pessoa, empatia é a palavra-chave quando a gente trabalha com as histórias” (Anne, 44 anos); “Para mim fez muita diferença, acho que me sinto mais útil neste mundo, deixando uma pequena pegada” (Ana, 47 anos); “Um processo de autoconhecimento, amadurecimento e aprendizado para estar aberta ao outro - não somente ao que você admira no outro, mas nas fraquezas e bloqueios” (Milene, 32 anos). Podemos, ainda, observar o quanto é recompensador ser contador de histórias. “É extremamente gratificante ver o efeito causado nas pessoas” (Mário, 51 anos); “Faz diferença na minha vida, recebo abraços e sorrisos das crianças e isso é muito gratificante, elas ficam encantadas com as histórias e eu também” (Susi, 40 anos); “Me ajudou a ser grata com a vida, mais generosa e empática com o próximo [...], sinto-me mais humana depois que comecei a contar histórias, interagir com as outras pessoas é muito gratificante e nos ajuda a aprender a se colocar no lugar do outro” (Angelita, 61 anos).

O contador de histórias comprometido com o seu trabalho social vai além do ler, ouvir e contar histórias. Realiza uma atividade que tem como proposta olhar para si e aprender a “ser”: “Demanda uma imersão e dedicação, mas é muito recompensadora e fonte de incentivos para enfrentar os desafios da vida com mais coragem” (Milene, 32 anos). “Sempre gostei muito de ler. Sou muito curiosa, gosto de fazer pesquisa, acho importante entender as histórias, as mensagens que elas vão te trazendo, que fazem você pensar e refletir sobre a vida. As histórias servem de espelho. Elas trazem situações onde você se enxerga” (Lúcia, 59 anos).

Assim, é fato que o interesse pela literatura é uma construção gradativa, cuja motivação pode ter início em qualquer fase da vida e a contação de histórias pode ser uma prática muito positiva nessa aproximação do universo literário, unindo conhecimento, prazer e desenvolvimento.

Considerações finais

Este estudo possibilitou compreender como a contação de histórias se relaciona ao desenvolvimento de adultos, especialmente em se tratando dos aspectos cognitivo e afetivo do contador de histórias. A partir da análise dos dados coletados, encontramos as categorias: o gosto pela leitura, por ouvir e contar histórias; comprometimento com a atividade; reconhecimento da alteridade; afetividade no processo; gratidão e transformação pessoal. Conforme os relatos, os contadores percebem um constante autodesenvolvimento, principalmente emocional, atribuindo à contação de histórias as mudanças na forma de agir, de se comportar e de ver o mundo, aproximando-se mais do “ser” humano e das suas fragilidades.

Há indícios do desenvolvimento de aspectos cognitivos e afetivos do contador de histórias, mas, principalmente, de questões relacionadas à afetividade, que contribuíram para modificar a maneira de pensar e atuar na vida. Tais aspectos nos remetem a pensar o quanto a contação de histórias está diretamente relacionada à afetividade e à transformação daqueles que a vivenciam. Contudo, essas reflexões representam ainda um ensaio para futuros estudos por corte transversal ou estudos longitudinais com sujeitos contadores de histórias que atuam em diferentes contextos.

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Recebido: 29 de Março de 2019; Revisado: 29 de Novembro de 2019; Aceito: 01 de Dezembro de 2019; Publicado: 18 de Dezembro de 2019

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