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Práxis Educativa

versão impressa ISSN 1809-4031versão On-line ISSN 1809-4309

Práxis Educativa vol.15  Ponta Grossa  2020  Epub 02-Set-2020

https://doi.org/10.5212/praxeduc.v.15.15915.073 

Artigos

A pandemia que amplia as desigualdades: a Covid-19 e o sistema educativo de Quebec/Canadá

The pandemic that widens inequalities: Covid-19 and the education system in Quebec/Canada

La pandemia que amplía las desigualdades: Covid-19 y el sistema educativo de Quebec/Canadá

*Doutora em Educação, Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF-UERJ). E-mail: <kellyrussobr@gmail.com>.

**Doutora em Educação, Professora e pesquisadora da Faculdade em Ciências da Educação, Universidade de Montreal. E-mail: <marie-odile.magnan@umontreal.ca>.

***Doutoranda em Educação na Faculdade em Ciências da Educação - Universidade de Montreal. E-mail: <roberta.osoares@gmail.com>.


Resumo

Este artigo examina os impactos da pandemia da Covid-19 no sistema educativo de Quebec/Canadá. Para isso, analisa-se um conjunto de matérias jornalísticas e artigos de opinião publicados entre 26 de março e 20 de maio de 2020, nos principais jornais da província de Quebec. O artigo procura identificar os diferentes impactos e rearranjos na educação escolar de crianças, entre quatro e 11 anos de idade, durante a crise sanitária, e discutir como as desigualdades educacionais já existentes foram significativamente ampliadas a partir das medidas de contenção da propagação do vírus. Ao final, reflete-se sobre o futuro do sistema escolar e sobre a importância de o direito à saúde caminhar lado a lado ao direito à educação, para reafirmar o lugar da escola pública como possibilidade de erradicação das desigualdades e garantia de sociedades mais justas e equitativas no futuro.

Palavras-chave: Ensino Fundamental; Desigualdades educativas; Pandemia/Covid-19; Quebec/Canadá

Abstract

This paper examines the impacts of the Covid-19 pandemic on the education system in Quebec/Canada. For that end, it analyzes a set of journalistic and opinion articles published between March 26 and May 20, 2020, in the main papers of the Quebec province. The paper seeks to identify the different impacts and rearrangements in the school education of children aged from four to eleven years old during the health crisis and to discuss how the existing educational inequalities have been significantly increased through measures to contain the spread of the virus. Finally, we reflected on the future of the school system and the importance of the right to health to go hand in hand with the right to education, to reaffirm the place of the public school as a possibility of eradicating inequalities and guaranteeing more just and equitable societies in the future.

Keywords: Elementary Education; Educational Inequalities; Pandemic/Covid-19; Quebec/Canada

Resumen

Este artículo examina los impactos de la pandemia de Covid-19 en el sistema educativo de Quebec/Canadá. Para ello, se analiza un conjunto de artículos periodísticos y artículos de opinión publicados entre el 26 de marzo y el 20 de mayo de 2020 en los principales periódicos de la provincia de Quebec. El artículo busca identificar los diferentes impactos y reordenamientos en la educación escolar de niños entre cuatro y once años de edad durante la crisis sanitaria; y discutir cómo las desigualdades educativas ya existentes fueron ampliadas significativamente a partir de las medidas de contención de la propagación del virus. Al final, se reflexiona sobre el futuro del sistema escolar y sobre la importancia de que el derecho a la salud camine lado a lado con el derecho a la educación, para reafirmar el lugar de la escuela pública como una posibilidad de erradicar las desigualdades y garantizar sociedades más justas y equitativas en el futuro.

Palabras clave: Educación Primaria; Desigualdades educativas; Pandemia/Covid-19; Quebec/Canadá

Introdução

“Um dia cheguei da escola e no outro, não tinha mais escola!”. Com essa frase, uma menina de oito anos explica os primeiros impactos da Covid-19 em sua vida. Seu espanto reverbera o nosso: um dia voltamos do trabalho e, no outro, não existia mais o mundo que conhecíamos antes. Papazian-Zohrabian (2020) aponta a potencialidade traumática dos diferentes processos de ruptura que vivemos hoje: a transformação repentina da morte em dados imediatos; a paralisação de tudo que representava “vida” (escolas, colegas, universidade, organização comunitária, centros de esporte e lazer, museus, empresas); a falta de contato humano; a fragilidade socioeconômica, social e psicológica das pessoas; a interdição de visita a hospitais e a impossibilidade de rituais de dolo na perda de entes queridos. Esse contexto de insegurança e medo afeta todos(as). Alguns(mas) mais do que outros(as).

Este artigo procura refletir sobre as seguintes questões: como a pandemia da Covid-19 afeta o direito à educação em países onde existem menos desigualdades sociais, políticas sociais mais consistentes e uma rede de educação pública mais bem equipada do que a do Brasil? Quais foram as medidas educativas tomadas durante a pandemia e, depois, para a reabertura das escolas? Seria possível identificar o acirramento de desigualdades também nessas sociedades e/ou nesses sistemas escolares? Em que medida conhecer experiências vivenciadas nessas circunstâncias podem contribuir para se discutir sobre o futuro da escola pública em nosso contexto local?

No Canadá, durante todo o período de crise pandêmica, o Governo Federal e os governos provinciais atuaram de forma conjunta no desenvolvimento de medidas de proteção social. De um modo geral, o combate mais efetivo que o país apresentou em relação à pandemia da Covid-19 passou pelo planejamento integrado entre os diferentes níveis administrativos, a organização de medidas adequadas e bem estruturadas de isolamento social, tendo como base um sistema de assistência social efetivo. Todos os dias, o representante de cada nível governamental realizava uma conferência de imprensa para anunciar medidas de apoio à população, esclarecer questionamentos e críticas, consolidando, assim, uma imagem de boa governança perante a população . No período, mais de US$250 bilhões foram utilizados para criar programas emergenciais de apoio, além de fortalecer os já existentes: subsídios de complementação salarial, pensão familiar, seguro-desemprego, adiamento ou desconto de impostos, residência temporária para pessoas em situação de rua, entre outros .

Esse contexto de maior proteção social e a nossa experiência desde 2017, no desenvolvimento de projetos em parceria com pesquisadores(as) do Canadá (RUSSO; MAGNAN, 2017; RUSSO; FROZZINI, 2019; BORRI-ANADON; GONÇALVES; RUSSO, 2020), incentivaram a realização das reflexões expostas neste artigo. Outra razão tem relação à educação escolar mais especificamente, pois o Canadá foi indicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (SCHLEICHER, 2019), como um dos países onde as desigualdades sociais e econômicas têm o menor impacto no desempenho escolar de estudantes, outro fator que motivou o desejo de realizar esta pesquisa. Entretanto, é preciso esclarecer que não há um sistema educativo canadense, pois, no país, existem dez diferentes sistemas provinciais de educação separados entre si. Nossa proposta, portanto, é realizar um estudo de caso a partir da experiência da província de Quebec, mais especificamente, do sistema escolar quebequense ao longo do primeiro pico de período epidêmico de Covid-19 (março a maio de 2020).

Para este artigo, analisamos um conjunto de matérias jornalísticas e artigos de opinião publicados entre 26 de março e 20 de maio de 2020, nos principais meios de comunicação da província de Quebec/Canadá. Esse intervalo temporal foi escolhido por compreender diferentes momentos da pandemia: o início do confinamento com o fechamento das escolas; o retorno gradativo das atividades escolares; e as medidas de contenção à propagação do vírus que alteraram significativamente as instituições escolares para a reabertura parcial de suas atividades dois meses depois. O conjunto de textos foi acessado pela internet, publicados em diferentes números da Revista de Imprensa (Revue de Press), organizada pela Federação das Comissões Escolares de Quebec (Fédération des commissions scolaires du Québec ), disponíveis no site dessa organização. No total, fazem parte do corpus do estudo 213 textos que abordam, de forma direta ou indireta, a educação escolar de crianças entre quatro e 11 anos de idade em Quebec no período estudado.

Organizamos o artigo em quatro partes. Na primeira, apresentamos algumas informações gerais e as particularidades do sistema educativo de Quebec, que inclui uma rede privada subvencionada pelo Estado, uma rede pública seletiva e uma rede pública regular. Na segunda, mostramos as diferentes medidas tomadas pelo governo local para o enfrentamento da Covid-19 e os impactos dessas medidas para a população escolar. Na terceira parte do texto, discutimos como a crise sanitária fragilizou a sociedade, de modo a ampliar desigualdades sociais e escolares já existentes, além de criar “novos vulneráveis”. Ao final, apontamos algumas reflexões sobre o futuro do sistema escolar e a importância do papel do Estado para que o direito à saúde caminhe lado a lado ao direito à educação, na construção de sociedades mais justas e equitativas no futuro. Esperamos, com essas reflexões, contribuir para a construção de um quadro mais global sobre os impactos da pandemia nas redes de ensino.

“A pandemia nos obriga a encarar a verdade”: o sistema educativo a “três velocidades”

O sistema escolar de Quebec é dividido em quatro níveis de ensino: 1) o ensino Pré-Escolar e o Ensino Fundamental; 2) o Ensino Médio; 3) o Ensino Geral e Profissional, comumente conhecido por sua sigla CÉGEP (Collège d’enseignement Général et Professionnel), o primeiro nível do Ensino Superior; e 4) o Ensino Universitário. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio, o sistema escolar é composto por dois tipos de estabelecimentos: privado e público, e ambos recebem financiamento público.

Os estabelecimentos privados diferem dos estabelecimentos públicos por duas características principais: 1) eles têm o direito de selecionar seus alunos com base em critérios de desempenho acadêmico e de dispensar aqueles que não mais atendem aos padrões da escola; 2) eles têm o direito de cobrar taxas de matrícula dos pais. Quanto aos estabelecimentos públicos, eles estão sujeitos à obrigação de educar todos(as) os(as) alunos(as) que residem em seu território, mas desde as reformas educativas desenvolvidas na província nos anos 1990, as instituições de ensino públicas podem também desenvolver processos de seleção específicos (PARADIS, 2015).

Desse modo, a desigualdade educacional no sistema educacional de Quebec intensificou-se a partir da década de 1990, após a extensão da liberdade de escolha das famílias e, simultaneamente, após uma ampliação da concorrência entre estabelecimentos públicos ou privados. Se as sucessivas reformas desde a década de 1960 sempre colocaram a justiça social no centro das prioridades, o sistema escolar de Quebec foi progressivamente caracterizado por uma hierarquização e por uma estratificação inter e intra estabelecimento (MAROY; KAMANZI, 2017; HURTEAU; DUCLOS, 2017), comprovando a reprodução das desigualdades sociais pelos efeitos de segregação dos públicos escolares (MAGNAN; VIDAL, 2015).

Nesse sentido, o sistema escolar em Quebec é caracterizado por uma educação “à la carte”, em que há uma concorrência acirrada entre estabelecimentos públicos regulares, públicos seletivos e instituições privadas (que também recebem subsídios públicos), representando três velocidades e diferentes projetos pedagógicos. Diversos estudos mostram que, na província, esse mercado escolar cria polos de concentração socioeconômicos homogêneos de públicos escolares: estudantes provenientes de meios privilegiados estão concentrados em escolas particulares e em escolas públicas com projetos especiais; e estudantes provenientes de meios desfavorecidos, em escolas públicas regulares (TONDREAU; ROBERT, 2011). Desse modo, o sistema educativo de Quebec favorece principalmente estudantes de classes socioeconômicas mais altas que obtêm melhores resultados acadêmicos e, portanto, são mais facilmente admitidos nos projetos oferecidos por determinadas escolas públicas e escolas particulares (LESSARD, 2003).

Combinada com uma oferta desigual de ensino, essa segregação escolar tende a manter aprendizados desiguais e a construir futuros escolares e profissionais desiguais. As pesquisas mais recentes mostraram que estudantes que frequentaram um estabelecimento privado ou público com currículos enriquecidos (em matemática, ciências ou idiomas) têm uma probabilidade significativamente maior de acessar o Ensino Superior do que seus(suas) colegas que seguiram o caminho regular de um estabelecimento público (MAROY; KAMANZI, 2017). A liberdade de escolha das famílias e dos estabelecimentos, portanto, contribuem a transformar o mercado escolar em um instrumento de segregação, permitindo que as famílias de classes médias e altas preservem seus privilégios e seu lugar no espectro social. Em um contexto de crise sanitária, com a continuidade parcial de atividades para alguns estabelecimentos e total paralisação para outros, essas desigualdades ficaram ainda mais evidentes, prejudicando ainda mais, grupos que já apresentavam dificuldades no contexto escolar, como veremos a seguir.

“Todas as crianças em ‘hibernação primaveril”: medidas de isolamento social e a reorganização escolar

Na noite do dia 12 de março, familiares de crianças matriculadas na Comissão Escolar de Montreal (Commission scolaire de Montréal- CSDM), a maior rede da província, foram surpreendidos com duas mensagens contraditórias emitidas pela CSDM, com menos de uma hora de intervalo entre elas. O primeiro correio eletrônico, enviado às 21h11, tinha como assunto “COVID-19 - Estado da situação” (CSDM, 2020a, n.p., tradução nossa). A mensagem divulgava “[...] novas diretrizes para contenção do vírus”, mas garantia que “[...] os estabelecimentos de ensino da Comissão escolar de Montreal permanecem abertas até uma nova ordem”, e que o Departamento de Saúde Pública (DSP) da província “[...] não recomenda o fechamento de escolas até o momento” (CSDM, 2020a, n.p., tradução nossa). Cerca de 50 minutos depois, a mesma Comissão escolar enviou um segundo correio eletrônico, agora intitulado “Atualização COVID-19: escolas fechadas na sexta-feira, 13 de março” (CSDM, 2020b, n.p., tradução nossa). Nessa mensagem, a Comissão apresentou as seguintes informações:

Como você sabe, a situação com o COVID-19 está mudando muito rapidamente. Assim, contrariamente às informações enviadas a você há alguns minutos, todos os estabelecimentos, creches e escritórios do CSDM serão fechados para estudantes e funcionários na sexta-feira, 13 de março, a fim de planejar a implementação das medidas solicitadas pelo governo de Quebec. Todos os cursos de formação profissional e de educação de adultos também são cancelados. Somente os gerentes e direções do estabelecimento devem ser colocados em uma situação de teletrabalho. (CSDM, 2020b, n.p., tradução nossa, grifo do autor).

Foi assim que, por volta das dez horas da noite do dia 12 de março, a população, que até então recebia informações cotidianas sobre como a província de Quebec estava preparada para lidar com a Covid-19 (o vírus já se mostrava avassalador na vizinha Nova Iorque ), recebe a informação que, no dia seguinte, todas as comissões escolares teriam suas atividades suspensas por tempo indeterminado. Em seguida, 15 de março, o Governo de Quebec publicou o Ato de Saúde Pública 2020-004 (Arreté numéro 2020-004 de la ministre de la Santé et des Services Sociaux du Quebec), que decretou o fechamento de todos os estabelecimentos escolares e os espaços considerados como não essenciais, com o propósito de frear a propagação da pandemia da Covid-19. Importante destacar que, no mesmo ato de Saúde Pública, o governo de Quebec garantiu a continuidade da rede de assistência à infância (serviços de creche nas escolas e centros infantis) para os(as) filhos(as) de trabalhadores(as) de setores considerados como serviços sociais essenciais, como saúde, polícia, bombeiros(as), agentes penitenciários e trabalhadores(as) de emergência. O Ato acrescentou que a taxa de ocupação dessas instalações teria de ser limitada a 30% e os grupos de crianças reduzidos pela metade, para evitar a propagação do vírus. Todos os custos desses serviços foram absorvidos pelo Governo Provincial (“Serviços de creche de emergência: a reorganização necessária” MARTEL, 2020, n.p., tradução nossa); “Assistência infantil de emergência nas escolas” (BÊDARD, 2020, n.p. tradução nossa).

No conjunto de textos analisado, é possível perceber que, após o fechamento das escolas, foram muitas as hesitações e mudanças no discurso do Governo Provincial sobre a educação escolar durante a crise sanitária. Também identificamos, nas matérias jornalísticas do período, fortes e constantes críticas por parte dos principais sindicatos docentes, de especialistas da área da educação e das famílias quebequenses devido à falta de diretrizes claras e efetivas do Ministro da Educação sobre o papel das instituições escolares durante os dois meses de período de confinamento social. Notícias intituladas como, “Os professores do ensino fundamental tem razão de ter medo?” (TARDIF, 2020, n.p., tradução nossa).; “Prioridade às medidas de emergência, os sindicatos insistem” (DESJARDINS, 2020a, n.p., tradução nossa), ou o suplemento especial “Com a palavra os sindicatos FNEEQ-CSN” (LETARTE, 2020, n.p., tradução nossa), indicam a existência de constantes tensões entre Governo Provincial e os dois principais sindicatos docentes da província.

No contexto da escola primária, por exemplo, a paralisação das atividades escolares foi referida como “férias” pelo Ministro da Educação em um primeiro momento, com reposição prevista no período de verão. Esse discurso enfrentou forte resistência por parte dos representantes sindicais docentes, que estavam de acordo com o confinamento social, mas defendiam que a diminuição de dias letivos teria de ser enquadrada como uma excepcionalidade diante de uma crise sanitária, sem possibilidade de definição de calendário de reposição (“Férias forçadas para estudantes” (ASSOLIN, 2020, n.p., tradução nossa)). Em seguida, o Ministério divulgou a criação da plataforma “Escola aberta” (L’école ouverte) (MORASSE, 2020a, n.p., tradução nossa), que disponibilizou recursos on-line, atividades educativas e vídeos educacionais para diferentes segmentos escolares. No entanto, os sindicatos criticaram a ausência de normativas mais específicas, ou programas de assistência voltados a profissionais de educação ou a estudantes, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento das propostas educativas remotas. Sem respostas concretas, o Governo Provincial insistiu que nenhuma tarefa do “Escola aberta” seria considerada obrigatória e que todas as avaliações escolares do restante do período letivo de 2020 seriam suspensas.

Nesse contexto, encontramos, de um lado, o Ministério da Educação que tornou eletiva a continuidade de atividades pedagógicas durante o período de confinamento; por outro, as escolas privadas anunciaram, alguns dias depois do fechamento das escolas, que reiniciariam cursos on-line e a distância para estudantes matriculados(as) em suas instituições (“Relançamento das escolas particulares” (PION, 2020a, n.p., tradução nossa). Essa desigualdade evidente recebeu fortes críticas.

Todas as atividades da “Escola Aberta” são opcionais, é claro. Ninguém é obrigado a usar qualquer parte do material, muito menos tudo. Não haverá testes até que a escola finalmente seja retomada. Isso difere do sistema privado, onde algumas escolas vão retomar nesta semana, com cursos on-line e trabalhos escolares obrigatórios seguindo o currículo. No sistema público, há o reconhecimento de que nem todo mundo tem a tecnologia, o know-how, o tempo ou a rede wifi adequada para ensinar seus filhos em casa. Tornar a “Escola Aberta” opcional garante que nenhuma criança seja deixada para trás. Infelizmente, o coronavírus provavelmente exacerbará cruelmente as disparidades entre crianças privilegiadas e desfavorecidas. (HANES, 2020, n.p., tradução nossa).

Desde as primeiras semanas da crise, o conjunto de artigos aponta o acirramento das disparidades entre as redes privadas e públicas educativas. A primeira foi apresentada como a mais preparada, por sua rápida resposta (pois a escola “já estava equipada” ou pelo fato de “ter se mobilizado muito rapidamente” para continuar o contato regular com estudantes), e a segunda foi fortemente criticada, por seu longo silêncio (“Crise corre o risco de exacerbar diferenças entre estudantes” (MORASSE, 2020b, n.p., tradução nossa), “Continuar a aprender a distância: um desafio da escola primária à universidade” (LAROSE, 2020, n.p., tradução nossa)).

Ao ser questionado sobre essa desigualdade, visto que ambas recebem financiamento público governamental, o Ministro da Educação de Quebec, Jean-François Roberge, minimizou as diferenças:

É incorreto dizer que todas as escolas particulares fazem [educação on-line]. Existem escolas particulares que não gostam e não se gabam disso; mas há escolas públicas que fazem e não dizem nada. Algumas escolas particulares usam computadores ou outros dispositivos, outras são muito menos avançadas. É desigual tanto no privado quanto no público. (BARLOW; NADEAU, 2020, n.p., tradução nossa).

Com essa resposta, além de minimizar as desigualdades existentes entre os diferentes sistemas de ensino, o Ministro da Educação apontou outra característica do período de confinamento social: a dificuldade de obterem-se informações sobre o que foi desenvolvido efetivamente pelas escolas durante o contexto epidêmico. Em seguida, na mesma entrevista, ao ser questionado por que Quebec não havia feito o mesmo que a província de Ontário (que rapidamente anunciou pesquisas em sua rede sobre acesso à tecnologia e internet, para distribuição de equipamentos em suas escolas), o Ministro da Educação justifica:

Montamos uma grande operação para recuperar materiais escolares e empréstimos tecnológicos, mas a Saúde Pública de Quebec nos pediu para adiar a operação para evitar que centenas de pessoas estivessem nas escolas. [Os funcionários da saúde pública] decidiram que era a hora errada. Está na nossa lista de tarefas. (BARLOW; NADEAU, 2020, n.p., tradução nossa).

Durante todo o período analisado, de março a maio de 2020, uma quantidade significativa dos textos indica que a crise sanitária tornou mais evidente a fragmentação do sistema educativo da província, baseado na concorrência entre diferentes modelos que recebem financiamento público. Em matéria intitulada “ONU examina a escola de ‘três velocidades’ de Quebec” (PLANTE, 2020, n.p., tradução nossa), vemos como essa desigualdade se torna ainda mais evidente por conta da pandemia, como afirmou Stéphane Vigneault, representante do movimento L’école Ensamble:

[A pandemia] nos obriga a encarar a verdade. [...]. Se as pessoas ainda não entenderam que o sistema escolar é injusto, há algumas crianças que podem continuar aprendendo e há outras a quem dizemos: ‘Virem-se!’. [...]. [O setor privado subsidiado] pode, por exemplo, dizer: ‘Estamos realizando educação a distância’ sem se preocupar com o fato de várias famílias não terem computadores ou acesso à Internet, sendo os estudantes da [escola] particular, mais ricos do que os outros. (PLANTE, 2020, n.p., tradução nossa).

Na matéria, o movimento “Juntos pela escola” - L’école ensemble (MOUVEMENT L’ÉCOLE ENSEMBLE, 2019), que reúne familiares de estudantes da rede pública de Quebec, recebe resposta positiva da ONU para sua demanda (realizada em 2019) de pressionar o governo provincial pelo fim da “segregação escolar”. O grupo organizou um dossiê reunindo diferentes pesquisas que apontam a rede educativa de Quebec como a mais desigual do país. O movimento propõe, então, acabar com o financiamento público para escolas particulares e o fim da seleção de alunos(as) para escolas públicas (MOUVEMENT L’ÉCOLE ENSEMBLE, 2019).

Em outro artigo jornalístico, “Estas escolas públicas falharam com seus alunos” (KAY, 2020, n.p., tradução nossa), vemos críticas a essa desigualdade, considerada como uma “diferença dramática” nas respostas ao fechamento de escolas em Quebec. Kay (2020) questiona o fato de as escolas particulares serem subsidiadas em 50% em Quebec, o que significaria, segundo a autora, que o próprio Estado financia a “segregação escolar”, em “uma educação de alta qualidade” é reservada para alguns, por meio de escolas independentes que servem a uma classe privilegiada, em lugar de proporcionar melhores condições para a maior parte da população, que acede as escolas públicas.

Em suma, o material publicado no período sugere que as medidas de contenção da propagação do vírus não só acirraram as desigualdades já existentes nesse sistema educativo, como também tornou mais evidente essa situação. De fato, vários estudos acadêmicos têm mostrado, ao longo da última década, como a lógica do mercado tem favorecido principalmente alunos(as) de classes socioeconômicas mais altas que obtêm melhores resultados acadêmicos e, portanto, são mais facilmente admitidos(as) nos projetos particulares oferecidos por determinadas escolas públicas e escolas particulares no sistema educativo de Quebec (LESSARD, 2003; PARADIS, 2015; QUEBEC, 2016).

“Não é mais uma cozinha, é uma sala de aula!” : relação família-escola durante a pandemia

Outro tema recorrente no conjunto de matérias analisado é a situação das famílias. Nas notícias, as famílias são apresentadas ora assoberbadas com tarefas domésticas, teletrabalho e tarefas escolares de seus(suas) filhos(as), ora indignadas com a falta de notícias de professores(as) e das escolas de seus(suas) filhos(as).

Duas semanas após o fechamento das escolas, o ministro da Educação de Quebec, Jean-François Roberge, fez um comunicado oficial em que afirmou que é preciso que as instituições escolares mantenham um relacionamento continuado com estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, especialmente com jovens vulneráveis, apesar do fechamento das escolas. Segundo as notícias do período, o Ministério demandou que professores(as) elaborassem e divulgassem, pela Internet, um “plano semanal” para seus(suas) estudantes, com propostas de atividades educativas, além de fazerem acompanhamento on-line ou por telefone com cada aluno(a). Para o ensino primário, esses contatos professores(as)-estudantes deveriam ocorrer três vezes por semana. No Ensino Médio, essas conversas deveriam ocorrer uma vez por semana, no mínimo (“Atividades educacionais oferecidas aos alunos” (FAUCHER, 2020, n.p., tradução nossa); “Professores convidados a aprender sobre o ambiente familiar com os alunos” (LE JOURNAL DE QUÉBEC, 2020, n.p., tradução nossa)).

Essa diretriz foi recebida com inquietação por parte dos(as) representantes docentes e pelas famílias, de acordo com as notícias veiculadas no período. No jornal Le Soleil, por exemplo, essa demanda do Ministério da Educação aparece como uma reação tardia, após críticas de especialistas. A matéria intitulada “Peça aos professores que liguem para seus alunos, sugere pesquisadora” (MORASSE, 2020c, n.p., tradução nossa), diz que o Ministro de Educação faz essa diretriz após ser criticado por pesquisadora Delphine Collin-Vézina, da Escola de Serviço Social da Universidade McGill que, durante uma entrevista, declarou publicamente que os(as) professores(as) não deveriam hesitar em entrar em contato com estudantes e suas famílias durante o período de confinamento . Na matéria, a professora teria exigido “[...] diretrizes claras que permitissem aos professores ver esse papel como essencial e assumido pela pessoa que supervisiona as escolas, ou seja, o Ministro da Educação e do Ensino Superior” (MORASSE, 2020c, n.p., tradução nossa).

Para os sindicatos docentes, a proposta foi considerada mais uma demonstração de desorientação do governo. Na matéria “Os professores não sabem como dançar” (MORASSE; LEDUC, 2020, n.p., tradução nossa), representantes docentes alegam que a orientação do governo não foi clara e “gerou mais caos” do que solução, visto a falta de infraestrutura para que essa nova diretiva fosse concretizada:

Desde o início da crise, os sindicatos têm insistido que os próprios professores são cidadãos que podem adoecer, ser cuidadores ou muitas vezes pais de crianças pequenas. Também existe uma grande preocupação de que algumas crianças sejam ensinadas em casa pelos pais e que outras sejam deixadas a cuidar de si mesmas. Muitos dos professores consultados por La Presse dizem que também estão mal equipados para fazer a escola a distância, por não terem seus materiais escolares com eles. Vários outros professores estão preocupados com seus alunos, sentem-se mal por não fazer mais e estão muito preocupados em serem alvos de colegas que pensam o contrário. Resultado: os alunos de Quebec até agora não receberam um olá de seus professores. Alguns recebem instruções gerais de lição de casa (revisam regras gramaticais e tabuadas), enquanto outros estudantes, do setor público e privado, se beneficiam de uma aula real de ensino a distância. (MORASSE; LEDUC, 2020, n.p., tradução nossa).

Em resposta às críticas recebidas por docentes, sobre a falta de estrutura para darem suporte às famílias, o Ministério da Educação de Quebec afirmou possuir 15.000 tablets para quem necessitasse desse equipamento e indicou que as atividades pedagógicas propostas pelos(as) professores(as) deveriam ser opcionais e, portanto, não se constituiriam em uma obrigação para as famílias. O governo também orientou que cada instituição educativa definisse as alternativas para lidar com o cenário complexo e difícil que a crise sanitária impôs e reafirmou que o final do ano letivo de 2020 não teria avaliações para as escolas (MORASSE, 2020d, n.p.).

Em um artigo de opinião, “A escola de Quebec desorientada pelo vírus” (ROBITAILLE, 2020, n.p. tradução nossa), outra crítica sobre o modo “desorganizado” com que o sistema escolar público quebequense respondeu às medidas de confinamento social é criticado, principalmente quando comparada a outra província canadense, Ontario:

No sábado passado, eu me perguntava se a escola pública de Quebec não estava de férias infinitas desde o fechamento de 12 de março. Comparada a Ontário, somos tentados a responder que sim. Aqui, todo o ensino é “opcional”. Na província vizinha, os professores “corrigem o trabalho a distância” e “até se preparam para fazer boletins”. [...]. Sem obrigação, a situação em Quebec varia enormemente de uma escola para outra, mesmo de uma turma para outra. [...]. Um pai de um aluno da 2ª série em Laval diz que não teve sinais de vida de seu professor por 30 dias! (ROBITAILLE, 2020, n.p., tradução nossa).

Na matéria intitulada “Fechamento da escola: pais tranquilizados, mas irritados” (AUBIN, 2020, n.p., tradução nossa), são apresentados o desconforto e a insegurança das famílias e de professores(as) sobre a descontinuidade das atividades na rede pública. Entre os depoimentos, a representante do Comitê de Pais da Comissão Escolar do município de Chenes, Stéphanie Lacoste, apontou as desigualdades que serão reforçadas em relação aos estudantes com dificuldades de aprendizagem: “Para crianças que estão um pouco mais longe do sucesso, o impacto pode ser grande. Nós pensamos sobretudo neles” (AUBIN, 2020, n.p., tradução nossa). Matérias sobre a ausência de políticas especialmente voltadas às crianças “vulneráveis” ou com “dificuldades de aprendizagens” são também frequentes no período (“Pais de crianças com necessidades especiais desconfiam da nova preocupação da província” ; “Proteger os mais vulneráveis, realmente” (LANCTÔT, 2020, n.p., tradução nossa; entre outras).

No contexto escolar de Quebec, além das desigualdades socioeconômicas das famílias, é preciso levar em conta a grande diversidade étnica e cultural de seus estudantes. A região metropolitana de Quebec, por exemplo, recebe mais de 80% do total de estudantes imigrantes que chegam à província. Uma grande proporção desses estudantes não tem como língua materna as línguas oficiais do país; desse modo, 52% das crianças matriculados/as na rede pública não possuem nem o francês nem o inglês como primeira língua (QUEBEC, 2014). Sem o domínio do francês ou do inglês, como filhos(as) de imigrantes vão ter acesso a mesma formação, via plataforma? E em relação às crianças que necessitam de acompanhamento especializado? São questões que ficaram em aberto no período de fechamento das escolas, assim como no plano de reabertura gradual das instituições escolares.

No texto “O alívio de um, o desejo dos outros” (MORASSE, 2020d, n.p., tradução nossa), o presidente do comitê de pais da Comissão escolar de Montreal, Marc-Étienne Deslauriers (2020), fala sobre a grande insatisfação das famílias, que, segundo ele,

[...] estão inquietas e desanimadas ao constatarem as desigualdades do acompanhamento oferecido pelas escolas, pois estamos na mesma rede. Não é o privado e o público, não existe essa comparação. Estamos no mesmo sistema público, então o que poderia explicar essa desigualdade, já que nossos filhos deveriam ser tratados iguais? . (MORASSE, 2020d, n.p., tradução nossa).

Desse modo, portanto, nas matérias jornalísticas e nos artigos de opinião do período, são recorrentes, por um lado, depoimentos de famílias que reclamam da dificuldade em conciliar novas rotinas de teletrabalho com a escassa autonomia das crianças no modelo de educação remota. Por outro lado, pais e mães de escolas públicas lamentam o sentimento de abandono devido à ausência de contato das crianças com seus(suas) professores(as) desde o início do confinamento. No editorial publicado no final de maio, com título “Falha na operação na escola” , a jornalista Marie-Andrée Chouinard (2020) fala da “quebra de confiança” das famílias sobre o sistema escolar de Quebec:

Quebec tem pouco mais de um milhão de alunos do jardim de infância ao ensino médio. São quase tantas famílias para as quais a travessia da pandemia selou ou questionou o vínculo de confiança com a escola quanto a administração da educação a distância provou ser um enorme fiasco. Desde meados de março, os pais passam por todo o leque de relações com a escola: total ausência de contato ou instruções, emaranhado de trabalho enviado em massa por e-mail, contatos e aulas esporádicas a distância. Para alguns, a única porta de entrada para a escola se resumia a ter que recolher os pertences de seus filhos em um saco de lixo. Como um símbolo de partir o coração, dificilmente se pode fazer melhor. (CHOUINARD, 2020, n.p., tradução nossa).

O conjunto de matérias analisado sugere que, ao classificar a educação como “opcional”, e ao delegar que cada instituição educativa defina como pôr em prática algum plano de contato com as famílias, o Ministério da Educação terminou por abrir mão de seu papel na garantia de maior equidade no sistema educativo, assim como fragilizou o direito à educação de parte dos estudantes matriculados(as) na rede pública. Se as desigualdades já eram existentes, a falta de diálogo com diferentes atores educativos e a ausência de diretrizes claras sobre o papel da educação escolar em meio à crise sanitária mostraram-se como fatores que favoreceram o crescimento de disparidades educacionais não só entre rede pública e privada, como também dentro da mesma rede pública.

“É preciso desprogramar os quebequenses”: o processo de reabertura das escolas

Depois de quase dois meses divulgando a importância do isolamento social e os perigos do contágio do Covid-19, no final de abril, o governo provincial muda o discurso para propor a reabertura da economia e das escolas. No artigo “Objetivo: desprogramar os quebequenses” , o colunista Francis Vailles (2020), do La Presse, ironiza a repentina mudança de discurso governamental:

O governo fechou bares, restaurantes e negócios. Ele proibiu agrupamentos, exigindo que a polícia se envolvesse e distribuísse multas muito altas. Fechou regiões inteiras. ‘O COVID-19 é terrível’, ele disse. ‘Fique em casa. Temos que salvar vidas’. A paranóia coletiva levou muitos a denunciar seus vizinhos, às vezes por ninharias. Uma família pequena que visita os avós, a uma boa distância? Nós chamamos a polícia. ‘Eu te assustei, eu estava certo’, disse o governo. ‘Você tem medo, tanto melhor.’ Essa poderosa mensagem, embora necessária, tem consequências hoje, como um bumerangue voltando com força. Para desconfigurar, o governo não deve apenas levantar proibições, também deve convencer a população de que o retornar à vida normal é essencial. E que se infectar com o vírus é ... uma coisa boa. (VAILLES, 2020, n.p., tradução nossa).

De fato, muitas notícias mostraram a inquietude das famílias em reenviarem seus(suas) filhos(as) novamente às escolas, como: “Minha filha não retornara à escola” (COSSETTE, 2020, n.p. tradução nossa); “A roleta russa para as crianças” (LEMAY; BLAIS, 2020, n.p., tradução nossa); “Levar ou não levar seu(sua) filho(a) à escola: esta é a questão” (BOISVERT, 2020, n.p., tradução nossa), “Os comitês de pais querem um ‘guia’ para a reaberturas das escolas” (LARIN, 2020, n.p., tradução nossa). Também ficaram evidentes as resistências por parte dos(as) profissionais da educação: “Comissão escolar grita: nada de retorno às aulas antes de setembro” (TVA NOUVELLES, 2020, n.p., tradução nossa); “Quebec corre um risco terrível ao reabrir as escolas” (DIMANNO, 2020, n.p., tradução nossa); “Questão de vida ou de morte: o grito de uma professora sobre o retorno às aulas” (BELLEHUMEUR, 2020, n.p., tradução nossa). Era, portanto, preciso “[...] desprogramar os quebequenses”, com propostas concretas para convencer as famílias e professores(as) sobre as vantagens de as crianças retornarem à escola.

A partir da coletiva de imprensa do final de abril, quando o Primeiro Ministro François Legault anunciou a intenção de reabertura, também surgiram, nos principais veículos de comunicação, opiniões que reforçaram o posicionamento do governo. Algumas matérias analisaram os prejuízos do confinamento para a saúde mental, sobretudo para as crianças e os adolescentes, ou colocaram ênfase sobre a importância do retorno à rotina escolar para o desenvolvimento infantil. Alguns exemplos: a matéria “Preocupações com nossos jovens” (GAGNON, 2020, n.p., tradução nossa), que apresenta a opinião de psicólogos e assistentes sociais favoráveis à reabertura das escolas, o texto “Pediatras em Quebec a favor do fim progressivo do confinamento das crianças” (MARIN, 2020a, n.p., tradução nossa) ou o artigo intitulado “O confinamento pode afetar psicologicamente as crianças” (MARTIN, 2020, n.p., tradução nossa). Também surgiram análises sobre a teoria da “imunidade natural”, que passou a ser defendida pelo Ministério da Saúde, contrastando com os debates anteriores que exaltavam o isolamento social como a medida mais eficiente de controle epidemiológico. Alguns exemplos: “Legault aposta na ‘imunidade natural’ dos quebequenses” (CRÊTE, 2020, n.p., tradução nossa), “Um verão para se imunizar” (BÉLAND, 2020, n.p., tradução nossa) ou “Imunidade natural: o choque de ciência e política” (CASTONGUAY, 2020, n.p., tradução nossa).

Sobre a reabertura das escolas, dois meses após o início do confinamento, o Ministério da Educação divulga o “Guia de normas de saúde no local de trabalho e para o ambiente escolar: COVID-19” (QUEBEC, 2020a), o qual apresenta alguns critérios e indica procedimentos para a reabertura das escolas em Quebec (“O retorno às aulas é ‘necessário’, segundo o ministro da Educação” (GIRARD, 2020, n.p., tradução nossa); “Quebec desvela protocolos para a reabertura das escolas” (PRESSE CANADIENNE, 2020, n.p., tradução nossa)). Prioriza cidades com menores índices de pessoas infectadas pelo Covid-19 (Montreal fica excluída do processo de reabertura) e reabre apenas os níveis pré-escolares e a escola primária (“Salas de aulas desertas até o fim de agosto” (FORTIER; LEPAGE, 2020, n.p., tradução nossa)).

No documento, o Ministério da Educação indica que as escolas secundarias só deveriam retornar, de maneira remota, em setembro de 2020, decisão que recebeu fortes críticas por confirmar as suspeitas de que a reabertura das escolas respondiam mais aos interesses econômicos (crianças nas escolas para seus familiares voltarem ao trabalho), do que preocupações sobre os efeitos do confinamento e o bem-estar das crianças (“Uma atenção deveria ser dada aos adolescentes, diz a Associação de pediatras” (PION, 2020b, n.p., tradução nossa); “Retorno à sala de aula: professores se exprimem” (TURCOTTE, 2020, n.p., tradução nossa)).

Como, no Hemisfério Norte, junho é o final do período letivo, as atividades presenciais nas escolas foi considerado facultativo: cada família deveria informar a escola, por meio de uma pesquisa online ou por telefone, a intenção de enviar ou não seus(suas) filhos(as) para que a equipe educativa pudesse se preparar. Para aqueles(as) que continuassem em casa, professores(as) deveriam encaminhar atividades e fazer acompanhamento a distância, mas o documento não esclarece de que forma professores(as) deveriam ser recompensados(as) ao desempenhar essa dupla tarefa, desenvolvendo aulas presenciais, para alguns(mas) estudantes, e a distância, para outros(as), de uma mesma turma (“O sindicato de professores em guarda” (NOËL, 2020, n.p., tradução nossa)).

Sobre a organização das escolas, o Guia de normas de saúde (QUEBEC, 2020a) estabeleceu que deveria ser mantido o distanciamento social de dois metros tanto na escola quanto no ônibus escolar, que deveria reorganizar as turmas para um máximo de 15 alunos(as) por sala e 12 no ônibus escolar. As salas de aula foram reorganizadas para garantir o distanciamento social de dois metros. Na sala de aula, cada aluno deve permanecer na carteira que lhe foi atribuída e pedir permissão para circular, quando necessário. Os professores também não podem se aproximar das carteiras dos(as) alunos(as) para garantir o distanciamento social de dois metros. Além disso, material de proteção foi oferecido às escolas, embora o uso de máscaras não tenha sido obrigatório (“Uma nova era espera as crianças do primário” (DOUCET, 2020, n.p., tradução nossa)).

O documento também estabelece algumas rotinas que deveriam ser incluídas no cotidiano das escolas: disponibilização de desinfetante para as mãos na entrada da escola, indicação de lavagem de mãos frequente, chão marcado com adesivos indicando a distância de dois metros e setas indicando a direção para a circulação nos corredores. As áreas compartilhadas da escola, como a biblioteca e o ginásio, ficaram fechadas ou foram utilizadas como salas de aula e o recreio é realizado em pequenos grupos (“Lavagem de mãos na escola: um desacordo entre sindicato e comissões escolares” (LEBLANC, 2020a, n.p., tradução nossa); “Após dois meses, a escola retoma de forma diferente” (POIRIER, 2020, n.p., tradução nossa)).

Em várias matérias publicadas no período, fica nítido o desafio da falta de espaço nas escolas: considerando a limitação de áreas livres de cada estabelecimento, a regra do distanciamento social consegue ser mantida porque nem todos os alunos do primário retornaram à escola (“53% dos alunos da CSOB retornam às salas de aula” (CHAMBERLAND, 2020, n.p., tradução nossa); “As escolas na conquista do espaço!” (TRAHAN, 2020a, n.p., tradução nossa); “Um retorno suave à escola” (JACQUES, 2020, n.p., tradução nossa)). Também bastante controversas medidas que visavam solucionar a falta de profissionais de educação: professores(as) do Ensino Médio deveriam ser convocados(as) para ajudarem na educação primária e até mesmo, substituírem professores(as) titulares dos primeiros níveis de ensino que não poderiam retornar ao trabalho (“Professores do secundários logo chamados em reforço à CSPO?” (LEBLANC, 2020b, n.p., tradução nossa)).

Outra mudança no quotidiano escolar diz respeito à refeição. As famílias deveriam enviar a refeição ao(à) filho(a), pois a alimentação deixaria de ser oferecida pela escola, nem é permitido uso do micro-ondas pelos(as) professores(as) ou funcionários(as). Além disso, cada aluno(a) deve ter sua própria garrafa de água, pois os bebedouros foram fechados. Também é indicado que cada aluno(a) tenha consigo álcool gel ou lenços desinfetantes, além da prática frequente de lavagem de mãos (“Retorno progressivo nas escolas primarias desde segunda-feira” (BÉDARD, 2020, n.p., tradução nossa); “Depois de dois meses: A escola retoma diferentemente” (POIRIER, 2020, n.p., tradução nossa)).

Quanto aos conteúdos disciplinares após a reabertura, as escolas concentraram-se nas matérias consideradas “básicas” pelo Ministério da Educação, a saber: Francês, Matemática, História e Ciências. Já a avaliação da aprendizagem seria realizada apenas ao final do ano letivo, como sempre acontece, porém haverá apenas uma menção de aprovação ou reprovação sem notas específicas (“Retorno à escola: ausência de educação física denunciada” (CLAVEL, 2020, n.p. tradução nossa); “Retorno às aulas depois de dois meses de pausa” (LEBEL, 2020, n.p., tradução nossa)).

Quanto à possibilidade de sintomas do vírus, as famílias foram orientadas a não enviarem crianças que estejam com sintomas ou caso eles(as) estejam em contato com alguém com sintomas ou que esteja aguardando o resultado do teste. Nesses casos, é necessário fazer um isolamento de 14 dias. Orientação semelhante para professores(as) e funcionários(as): não podem retornar ao trabalho, quem possui mais de 60 anos de idade, ou com condições médicas específicas, como no caso de gravidez. Os(as) professores(as) que se encontram nessas categorias devem acompanhar a distância os(as) alunos(as) que continuam em casa (“COVID-19: um aluno de Cantley retirado da escola porque um de seus parentes é portador do vírus” (LEBLANC; MERCIER, 2020, n.p., tradução nossa)). Posteriormente, devido à falta de professores(as) nas instituições escolares, o governo de Quebec retificou a regra com relação à idade, permitindo que professores(as) de até 69 anos de idade voltassem ao trabalho (“COVID-19: inquietudes para os professores com mais de 60 anos de idade” (TRAHAN, 2020b, n.p., tradução nossa)).

As crianças consideradas como “vulneráveis” não puderam retornar às aulas, de acordo com uma diretiva do Primeiro Ministro de Quebec. O acompanhamento desses(as) alunos(as) deveria ser feito a distância, em casa, com o auxílio de ortopedagogos (“Retorno à escola: devemos garantir o serviço aos alunos vulneráveis” (TREMBLAY, 2020, n.p., tradução nossa); “Retorno à sala de aula bem organizado e tranquilizador” (GENDRON, 2020, n.p., tradução nossa)). Iremos retomar esse tema, de modo mais específico, na próxima seção deste artigo. De qualquer forma, é preciso ressaltarmos que todas as medidas anteriormente mencionadas foram desenvolvidas entre maio e junho de 2020, na maior parte das cidades de Quebec, possibilitando a reabertura das escolas primárias para a finalização do ano letivo, antes das férias de verão.

Até o momento de finalização deste artigo, primeiros dias do mês de junho, não foi possível verificar os impactos dessa nova reorganização escolar na vida de quem protagonizou esse processo: profissionais da educação, estudantes e seus familiares. Tampouco somos capazes de prever se essas medidas serão mantidas na reabertura do próximo ano letivo, em setembro de 2020. O que podemos indicar, neste momento inicial de análises sobre os impactos da pandemia no sistema escolar, é uma forte tendência ao acirramento das desigualdades, mesmo em sociedades mais bem estruturadas e equipadas como é o caso de Quebec. Desigualdades que tendem a ser fortalecidas tanto dentro do sistema escolar, quanto na sociedade em geral, como discutiremos a seguir.

“O destino incerto dos alunos em dificuldade”: a pandemia e os(as) novos(as) vulneráveis

Durante o período estudado, foi possível identificar diferentes matérias jornalísticas que apontavam uma preocupação - tanto de parte das famílias, quanto de profissionais das escolas - com relação a estudantes considerados(as) “vulneráveis”. Nos textos analisados, o termo “vulnerável” foi utilizado igualmente para definir crianças que já eram consideradas com dificuldades de aprendizado antes da pandemia; para alunos(as) classificados(as) com necessidades especiais; e agora, no contexto pós-pandêmico, o termo passa a ser usado também àqueles(as) estudantes que tiveram dificuldade de acesso ao ensino à distância durante o confinamento (“[...] alívio e decepção” (COLPRON; MORASSE, 2020, n.p. tradução nossa); “[...] o destino incerto dos alunos em dificuldade” (FORTIER, 2020, n.p., tradução nossa); “O dilema de volta às aulas para crianças com doenças crônicas” (MARIN, 2020b, n.p., tradução nossa)).

Para Égide Royer (CUCCHI, 2020), professor da Faculdade de Educação da Universidade Laval, e também de acordo com a Federação de Comitê de Pais de Quebec e a Federação autônoma de ensino, sobretudo os(as) alunos(as) com dificuldade podem abandonar a escola se eles(as) não receberem o apoio necessário durante o período de ensino à distância e se as aulas não retornarem presencialmente em setembro de 2020 (“Adiamento do retorno às aulas, entre preocupação e reorganização” (CUCCHI, 2020, n.p., tradução nossa)).

Em outra matéria intitulada “Crise corre o risco de exacerbar diferenças entre estudantes” , a colunista Marie-Eve Morasse, do jornal Le Presse, entrevistou um especialista em educação em contextos de crise, Olivier Arvisais (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO). O pesquisador afirmou a importância da instituição escolar como um protetor essencial no contexto de crises e destacou a importância da atuação de profissionais da educação para minimizar esses efeitos no retorno das escolas, desde que contem com condições para isso. Segundo Olivier Arvisais:

Sabemos, por exemplo, que intervalos prolongados na escola representam um problema para certos alunos que possuem dificuldades de aprendizagem ou contam com menos recursos. A gente constata a diminuição de resultados escolares, da motivação e do interesse dos alunos. Isso já foi bem pesquisado. Também vemos que isso afeta a continuidade escolar, há mais evasão escolar e faltas entre alunos em risco. [...]. Mas se terminarmos o ano letivo dessa maneira e voltarmos à escola em setembro, haverá impactos e teremos que trabalhar mais, empregar mais recursos em escolas que já estão subfinanciadas. Se perdemos alguns meses, como o cenário parece anunciar, isso terá um impacto significativo. Os professores precisarão de recursos para ajudar os alunos. (MORASSE, 2020e, n.p.).

As medidas de isolamento social tomadas para mitigar a disseminação do COVID-19 criaram altas taxas de desemprego no Canadá, consequentemente em Quebec (QUEBEC, 2020b). Diferentes formas de angústia surgiram e foram aumentando no contexto do confinamento social: a falta de contato humano, a ansiedade, assim como a violência contra mulheres e crianças. Nesse contexto, a educação escolar também terá de considerar mudanças estruturais, não só relacionadas à contenção do vírus: a pandemia, além de reforçar desigualdades existentes, também cria novas vulnerabilidades e estigmas.

Durante a reabertura das escolas, identificamos o caso de um aluno que foi retirado da escola, mesmo não apresentando sintomas, pois um de seus parentes foi informado ser portador do vírus. A partir do momento que a escola recebeu essa informação da família, o aluno foi isolado em um local “especialmente identificado”, embora não seja mencionado detalhes sobre qual seja esse local e o que significa “especialmente identificado”. Depois que o aluno em questão partiu, a equipe prosseguiu com a desinfecção da escola. No entanto, no dia seguinte, alguns pais decidiram não enviar seus filhos à escola (“COVID-19: Estudante de Cantley se retira da escola porque um de seus entes queridos está carregando o vírus” (LEBLANC; MERCIER, 2020, n.p., tradução nossa).

Segundo a matéria, existe um protocolo definido pelo ministério, a ser seguido nesses casos. Em cada escola, deve existir um local específico, com material de proteção suplementar, se necessário. Assim, o aluno é isolado de contatos com outros(as) alunos(as) e com a equipe-escola, com exceção de um(a) funcionário(a) que o(a) acompanha até que um membro da família venha buscá-lo(a). Ainda de acordo com esse protocolo, o(a) aluno(a) deve permanecer em casa por 14 dias. Em resposta ao acontecido, o Ministério da Educação afirma que as medidas tomadas na escola com relação à higiene e à ausência de contatos prolongados do aluno com outras pessoas na escola são capazes de minimizar os riscos de propagação do vírus (“Aluno enviado para casa: ‘a comunicação precisa ser melhorada’, diz sindicato” (LEBLANC, 2020c, n.p., tradução nossa)).

Certamente, protocolos médicos devem estar voltados a minimizar os riscos de propagação do vírus; contudo, é preciso considerar igualmente os efeitos estigmatizantes que esse tipo de situação pode criar para o(a) estudante, sua família e profissionais da educação. Há também notícias sobre medidas preventivas sendo tomadas. Por exemplo, nessa mesma escola, uma professora foi afastada preventivamente porque uma pessoa com a qual a professora mantém contato está aguardando resultado do exame (“COVID-19: retirada ‘preventiva’ de uma professora da escola Orée-des-Bois de Cantley” (MERCIER, 2020, n.p., tradução nossa)).

Os desafios da iniquidade e do sucesso escolar se multiplicaram e déficits maciços sinalizam a necessidade de mudança de paradigma para toda a organização social. Como apontou a pesquisadora Estelle Carde (2020):

O vírus talvez tenha sua última vitória sobre as falhas de nossa sociedade: amplia as desigualdades futuras de saúde entre indivíduos que ainda são crianças, ou seja, a população considerada a mais naturalmente resistente a ele. A educação é um dos principais determinantes da saúde, em curto, mas também em longo prazo: as desigualdades educacionais entre as crianças de hoje são o terreno fértil para as desigualdades de saúde entre os adultos de amanhã. (CARDE, 2020, n.p., tradução nossa).

A pandemia do COVID-19 acirra desigualdades e torna evidente que vivenciamos, além da grave crise sanitária, um momento de crise pedagógica global extremamente desafiador para gestores(as), professores(as) e famílias sobre a continuidade da educação escolar. O contexto atual aponta a fragilidade de nossas análises, por estarmos em meio a um momento tão inesperado e dramático, mas sinaliza algumas tendências que precisam ser discutidas para o debate sobre o mundo pós-pandemia.

Reflexões finais: as incertezas e os rearranjos no futuro da escola

Globalmente, a pandemia do Covid-19 evidenciou como o vírus atinge de modo muito mais significativo aqueles grupos ou aquelas pessoas que a sociedade tornou vulnerável historicamente. Cada sociedade possui seus próprios desequilíbrios sociais, e a combinação de injustiças para certos indivíduos torna-os mais vulneráveis do que outros. No caso de Quebec, a pandemia revelou a grande vulnerabilidade dos(as) idosos(as) que viviam em estabelecimentos coletivos , mas também evidenciou a situação de maior fragilidade vivenciada por imigrantes, em especial mulheres. No sistema escolar, essas desigualdades ficaram ainda mais expostas a partir da impossibilidade de qualquer continuidade para, justamente, grupos em situação de maior vulnerabilidade.

Na matéria intitulada “O vírus é implacável com os mais vulneráveis da sociedade ” (BAILLARGEON, 2020, n.p., tradução nossa), por exemplo, a pesquisadora e professora da Universidade Laval, Auclair, defende o uso da perspectiva interseccional para compreender os efeitos do Covid-19 no contexto de Quebec. Ela mostra como a articulação entre classe, gênero e raça com outras variáveis, como idade ou status migratório, vai permitir uma melhor análise sobre a situação de vulnerabilidade social de cada contexto local. Segundo ela: “A crise levantou o véu em algumas coisas muito essenciais. [...]. A pandemia fortaleceu as estruturas sociais da discriminação” (BAILLARGEON, 2020, n.p., tradução nossa) também em Quebec.

Na mesma matéria, outro pesquisador, Nicolas Zorn, Diretor do Observatório de Desigualdades de Quebec (OQI) , reconhece as desigualdades existentes e reafirma o papel fundamental do Estado para minimizar essas disparidades. Ele destaca o modo articulado com que a província e o Governo Federal desenvolveram políticas públicas para minimizar os impactos da pandemia, que poderiam ter sido muito maiores:

Quando o seu seguro de saúde depende do seu trabalho, quando você atinge picos de desemprego sem igual desde a Grande Depressão, as repercussões são muito mais fortes. Aqui, a saúde pública e o conhecimento científico são trazidos à tona e informam as decisões políticas. Os governos também estão tentando não escapar às categorias da população em suas medidas de emergência. É motivo de alegria. (BAILLARGEON, 2020, n.p., tradução nossa).

Nessa passagem, o pesquisador constata como o direito à saúde foi priorizado pela gestão pública em Quebec: o combate mais efetivo à pandemia na província, assim como no Canadá, comparado ao Brasil, passou pelo planejamento articulado e centralizado do Estado para a organização de medidas adequadas e bem estruturadas de isolamento social e por um sistema de saúde público, que passou a oferecer acesso universal, durante o pico pandêmico. Essa experiência demonstra que o isolamento social é política pública planejada, que envolve medidas de ampla proteção social, oferecendo condições concretas para que as famílias possam ficar em suas casas. Envolve a realização de testes, controle de deslocamento de pessoas, desde que salvaguardando necessidades mínimas fundamentais para a garantia da vida. Não é possível participar de isolamento social sem a ação enérgica do Estado na garantia de direitos básicos à população, como muito bem afirmam Melo e Tresohlavy (2020, n.p.).

Contudo, em relação ao direito à educação e ao futuro do sistema escolar na província de Quebec, os textos analisados mostraram que ainda não é possível afirmar articulação e consistência semelhantes no desenvolvimento das políticas públicas educativas para assegurar esse direito no contexto pandêmico. Parte das desigualdades já apontadas por diferentes estudos acadêmicos na província parece ter sido ainda mais aprofundada durante o período de isolamento social. A própria estruturação do sistema educativo - baseado em um princípio de quase mercado - e os cortes no orçamento educativo, realizados nos últimos anos, ameaçam de modo ainda mais significativo o direito à educação depois da pandemia.

Não existe uma solução que se aplique a todos(as) e em todos os níveis educativos - o que pode funcionar no Ensino Fundamental não se aplica necessariamente ao Ensino Médio, ou à universidade. Também, em relação às alternativas indicadas por documentos elaborados por organismos globais nesse período, é preocupante perceber o fortalecimento de um uso imediatista e apressurado da modalidade de ensino a distância, minimizando os múltiplos impactos que essa orientação pode acarretar contextos já existentes de desigualdades sociais, culturais e econômicas nas sociedades. Como bem apontam Estelles e Fischman (2020), ainda que o desejo de voltar à “normalidade” seja compreensível, pode não ser desejável para a grande maioria das escolas.

Se o estado de emergência sanitária tem duração incerta e existe grande tendência a voltar a ocorrer, como manter distanciamento social em instituições com espaços cada vez mais reduzidos; manter as atividades pedagógicas ou o vínculo com as famílias sem equipamentos ou formação adequada de professores(as); assegurar o bem-estar das crianças sem recursos materiais e humanos suficientes para oferecer assistência às questões emocionais e específicas das crianças e de famílias colocadas em situação de maior vulnerabilidade durante e depois da pandemia. O papel do Estado é central na tarefa de garantia ao direito à educação, e organismos multilaterais precisam considerar contextos locais e o imenso desequilíbrio que criam as vulnerabilidades nas sociedades, antes de indicar soluções massivas e homogeneizantes para todos os contextos (UNESCO, 2020a, 2020b).

Pensar no futuro da escola é afirmar o papel dessa instituição educativa e suas possibilidades para gerar alternativas de transformação em cada sociedade. Contudo, não é possível que ela faça isso de forma isolada. O Covid-19 gerou um período excepcional: interrompeu um fluxo contínuo de pessoas no mundo, fechou fronteiras e impactou de maneira profunda os rearranjos sociais, tornando ainda mais vulneráveis grupos já fragilizados pelas desigualdades sociais existentes. Também criou e ainda vai criar novos(as) grupos e indivíduos que serão classificados(as) como “vulneráveis”. Mais do que nunca, é preciso reafirmar a indivisibilidade, a interdependência e a interrelacionaridade dos direitos humanos fundamentais: saúde, educação, moradia, trabalho são interdependentes na concepção de uma vida digna e saudável. Envolver diferentes atores no debate sobre as novas configurações da sociedade, rediscutir as desigualdades e encontrar soluções coletivas para a construção de sociedades mais justas e equitativas no futuro são parte de uma utopia que precisa (re)existir.

1 Clara Serale, estudante do segundo ano da escola primária da rede pública de educação de Montreal, Quebec em comunicação pessoal, 2020.

2 Segundo o instituto de pesquisa Johns Hopkins (2020), desde o início da pandemia até o dia 11 de junho de 2020, foram contabilizados cerca de 8 mil mortos no Canadá, contra 115 mil vítimas nos EUA e 40 mil no Brasil. Em relação ao número de testes realizados, o Canadá apresenta 50 mil testes por milhão de habitantes, enquanto o Brasil registra apenas seis mil testes por milhão de habitantes até o momento de publicação deste artigo.

3 Segundo pesquisa realizada pela Association for Canadian Studies, desde o início da crise da COVID-19, os quebequenses expressaram grande confiança na administração de François Legault, Primeiro Ministro da província de Quebec: uma taxa de satisfação variando de 91% a 95% foi registrada entre os meses de março e abril de 2020. O Primeiro Ministro do Canadá, Justin Trudeau, também atingiu um alto índice de satisfação durante o mesmo período, variando entre 76% e 80% dos quebequenses (DIB, 2020).

4 Para saber mais sobre os programas de urgência desenvolvidos pelo Governo Federal do Canadá durante a pandemia, ver: Canada’s COVID-19 Economic Response Plan, disponível no endereço https://www.canada.ca/en/department-finance/economic-response-plan.html. Acesso em: 28 maio 2020.

5 Segundo o site da federação, a FCSQ representa 72 comissões escolares de Quebec, incluindo 60 comissões francófonas e nove anglófonas. As comissões escolares reúnem 2.362 escolas públicas da região, 193 centros de educação de adultos e 195 centros de formação profissional. Atendem cerca de 1.200.000 estudantes e contam com cerca de 120 mil empregados. O site da Federação de Comissões Escolares de Quebec disponibiliza todo o material analisado, disponível em: https://fcsq.qc.ca/revue-de-presse. Acesso em: 28 maio 2020.

6 No texto original: “COVID-19 – État de la situation” (CSDM, 2020a, n.p.).

7 No texto original: “Les établissements de la Commission scolaire de Montréal (CSDM) demeurent ouverts jusqu’à nouvel ordre. Cette décision relève de la Direction de santé publique (DSP) et cette dernière ne recommande pas de fermer les écoles à l’heure actuelle” (CSDM, 2020a, n.p.).

8 No texto original: “Mise à jour COVID-19: fermeture des écoles le vendredi 13 mars” (CSDM, 2020b, n.p.).

9 No texto original: “Comme vous le savez, la situation liée à la COVID-19 évolue très rapidement. Ainsi, contrairement aux informations qui vous ont été envoyées il y a quelques minutes, tous les établissements, les services de garde et les bureaux de la CSDM, seront fermés pour les élèves et le personnel le vendredi 13 mars afin de prévoir la mise en œuvre des mesures demandées par le gouvernement du Québec. Tous les cours en formation professionnelle et à l’éducation des adultes sont aussi annulés. Seuls les gestionnaires et directions d’établissement doivent se placer en situation de télétravail” (CSDM, 2020b, n.p., grifo do autor).

10 No dia 7 de março de 2020, o governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, declarou situação de emergência e proibiu qualquer atividade ou evento com mais de 500 participantes. Naquele momento, os EUA contabilizavam mais de 900 casos de novo coronavírus e 29 mortes. (LE JOURNAL DE MONTRÉAL, 2020).

11 No texto original: “Services de garde d’urgence: La nécessaire réorganisation” (MARTEL, 2020, n.p.).

12 No texto original: “Des services de garde d'urgence dans des écoles” (BÊDARD, 2020, n.p.).

13 No texto original: “Les enseignantes du primaire ont-elles raison d’être craintives? ” (TARDIF, 2020, n.p.).

14 No texto original: “Priorité aux mesures d'urgence, insistent des syndicats” (DESJARDINS, 2020a, n.p.).

15 No texto original: “La parole aux syndicats FNEEQ-CSN” (LETARTE, 2020, n.p.).

16 No texto original: “Vacances forcées pour les élèves” (ASSOLIN, 2020, n.p.).

17 No texto original: “Québec lance sa plateforme en ligne pour aider les parents” (MORASSE, 2020a, n.p.).

18 No texto original: “Le privé relance les cours” (PION, 2020a, n.p.).

19 No texto original: “All Open School activities are optional, of course. No one is required to cover any of the material, let alone all of it. There won’t be any tests whenever school finally does resume. This differs from the private system where some schools are going live this week with online courses and mandatory schoolwork following the curriculum. In the public system, there is recognition that not everyone has the technology, know-how, time or bandwidth to home school their kids. Making Open School optional ensures no child is left behind. Sadly, the coronavirus is likely to cruelly exacerbate disparities between privileged and disadvantaged kids anyhow.” (HANES, 2020, n.p.).

20 No texto original: “La crise risque d’exacerber les différences entre les élèves”. (MORASSE, 2020b, n.p.).

21 No texto original: “Continuer à apprendre à distance: un défi du primaire à l'université” (LAROSE, 2020, n.p.).

22 No texto original: “C’est inexact de dire que toutes les écoles privées font &91;de l’enseignement en ligne&93;. Il y a des écoles privées qui ne le font pas et ne s’en vantent pas ; mais il y a des écoles publiques qui le font et ne le disent pas. Certaines écoles privées utilisent les ordis ou d’autres appareils, d’autres sont beaucoup moins avancées. C’est inégal autant dans le privé que dans le public” (BARLOW; NADEAU, 2020, n.p.).

23 No texto original: “Nous avions monté une grande opération de récupération de matériel scolaire et de prêt technologique, mais la Santé publique du Québec nous a demandé de surseoir à l’opération pour éviter que des centaines de personnes soient dans les écoles. [Les autorités de la Santé publique] ont jugé que c’était le mauvais moment. C’est sur notre liste de choses à faire”(BARLOW; NADEAU, 2020, n.p.).

24 No texto original: “L’ONU examine l’école québécoise a trois vitesses après avoir été alertée” (PLANTE, 2020).

25 No texto original: “Ça nous force à regarder la vérité en face &91;...&93;. Si les gens n’avaient pas encore compris que le système scolaire est injuste, il y a certains enfants qui peuvent continuer à apprendre et d’autres à qui on dit: « Occupez-vous finalement. &91;...&93;. (Le privé subventionné) peut par exemple dire: ‘Nous, on s’en va en télé-enseignement’ sans se soucier du fait que plusieurs familles n’ont pas d’ordinateurs ni d’accès internet, les élèves du privé étant plus riches que les autres” (PLANTE, 2020, n.p.).

26 No texto original: “These public schools failed their students” (KAY, 2020, n.p.).

27 No texto original: “Ce n'est plus une cuisine, c'est une salle de classe!”. Amélie Léveillée, mãe de três crianças em depoimento citado na matéria jornalística intitulada “École à distance et suivis à géométrie variable” (ROBILLARD, 2020, n.p.).

28 No texto original: “Activités pédagogiques offertes aux élèves” (FAUCHER, 2020, n.p.).

29 No texto original: “Les profs invités à se renseigner sur le milieu familial auprès des élèves” (LE JOURNAL DE QUÉBEC, 2020, n.p.).

30 No texto original: “Il faut demander aux profs d'appeler leurs élèves, suggère une chercheure” (MORASSE, 2020c, n.p.).

31 No texto original: “Ça prendrait des directives claires qui permettent que les enseignants voient ce rôle comme étant primordial, et qu'il soit endossé par la personne qui chapeaute les écoles, c'est-à-dire le ministre de l'Éducation et de l'Enseignement supérieur”. (MORASSE, 2020c, n.p.).

32 No texto original: “Les profs ne savent pas sur quel pied danser” (MORASSE; LEDUC, 2020, n.p.).

33 No texto original: “Depuis le début de la crise, les syndicats insistent sur le fait que les enseignants sont eux-mêmes des citoyens qui peuvent tomber malades, être aidants naturels ou qui sont souvent parents de jeunes enfants. On s'inquiète beaucoup aussi que certains enfants se fassent faire l'école à la maison par leurs parents et que d'autres soient laissés à eux-mêmes. Des enseignants consultés par La Presse sont nombreux à se dire aussi mal équipés pour faire l'école à distance, à ne pas avoir leur matériel scolaire avec eux. Plusieurs autres enseignants s'inquiètent au contraire pour leurs élèves, se sentent mal de ne pas en faire davantage et se montrent très inquiets d'être visés par des collègues qui pensent autrement. Résultat: des élèves du Québec n'ont jusqu'ici eu qu'un petit coucou de leur prof. Certains autres ont eu des consignes générales de devoirs (réviser ses règles de grammaire et ses tables de multiplication) tandis que d'autres élèves, des secteurs privé et public, bénéficient d'une vraie classe à distance.” (MORASSE; LEDUC, 2020, n.p.).

34 No texto original: “L’école québécoise déboussolée parle virus” (ROBITAILLE, 2020, n.p.).

35 No texto original: “Samedi dernier, je me demandais si l'école publique québécoise n'était pas en relâche infinie depuis la fermeture du 12 mars. Par rapport à l'Ontario, on est tenté de répondre oui. Ici, tout enseignement est ‘optionnel’. Dans la province voisine, des profs ‘corrigent des travaux à distance’, se ‘préparent même à faire des bulletins’. (...) Sans obligation, la situation, au Québec, varie énormément d'une école à l'autre, voire d'une classe à l'autre. (...). Un père d'un élève de 2e année, à Laval, dit n'avoir eu aucun signe de vie de son enseignante pendant 30 jours! ” (ROBITAILLE, 2020, n.p.).

36 No texto original: “Fermeture des écoles: des parents rassurés, mais embêtés” (AUBIN, 2020, n.p.).

37 No texto original: “Pour les enfants qui sont un peu plus loin de la réussite, l'impact peut être majeur. On pense surtout à eux” (AUBIN, 2020, n.p.).

38 No texto original: “Parents of special-needs kids wary of province's new concern” (LAPIERRE, 2020, n.p.).

39 No texto original: “Protéger les plus vulnérables, vraiment” (LANCTÔT, 2020, n.p.).

40 No texto original: “Le soulagement des uns, le désespoir des autres”(MORASSE, 2020d, n.p.).

41 No texto original: “Ils sont agités et découragés quand ils voient les inégalités dans le suivi offert par les écoles, comme nous sommes dans le même réseau. Ce n'est pas le privé et le public, il n'y a pas une telle comparaison. Nous sommes dans le même système public, alors qu'est-ce qui pourrait expliquer cette inégalité, puisque nos enfants devraient être traités de manière égale?” (MORASSE, 2020d, n.p.).

42 No texto original: “Opération ratée à l'école” (CHOUINARD, 2020, n.p.).

43 No texto original: “Le Québec compte un peu plus d'un million d'élèves de la prématernelle à la cinquième secondaire. C'est presque autant de familles pour qui la traversée de la pandémie a plombé ou remis en question le lien de confiance avec l'école, tant la gestion de l'enseignement à distance s'est avérée un immense fiasco. Depuis la mi-mars, les parents ont traversé toute la palette des relations avec l'école: absence totale de contact ou de directive, fouillis de travaux balancés en vrac par courriel, échanges et classes à distance sporadiques. Pour certains, la seule passerelle avec l'école s'est résumée à devoir aller chercher les effets de leurs enfants dans un sac-poubelle. Comme symbole navrant, on peut difficilement faire mieux” (CHOUINARD, 2020, n.p.).

44 No texto original: “Objectif: déprogrammer les québécois” (VAILLES, 2020, n.p.).

45 No texto original: “Le gouvernement a fermé les bars, les restaurants et les entreprises. Il a interdit les regroupements, exigeant que les policiers s'en mêlent et qu'ils distribuent des amendes très élevées. Il a fermé des régions entières. La COVID-19 est épouvantable, a-t-il dit. Restez chez vous. Il faut sauver des vies. La paranoïa collective en a poussé beaucoup à dénoncer leurs voisins, parfois pour des vétilles. Une petite famille qui rend visite aux grands-parents, à bonne distance ? On appelle la police. Je vous ai fait peur, j'avais raison, a dit le gouvernement. Vous avez peur, tant mieux. Ce message puissant, bien que nécessaire, a des conséquences aujourd'hui, tel un boomerang qui revient avec force. Pour déconfiner, le gouvernement doit non seulement lever les interdits, il doit aussi convaincre la population que le retour à une vie normale est essentiel. Que contracter le virus est... une bonne chose” (VAILLES, 2020, n.p.).

46 No texto original: “Ma fille ne retournera pas à l’école” (COSSETTE, 2020, n.p.).

47 No texto original: “La roulette russe pour nos enfants” (LEMAY; BLAIS, 2020, n.p.).

48 No texto original: “Retourner ou ne pas retourner son enfant à l’école: là est la question” (BOISVERT, 2020, n.p.).

49 No texto original: “Les comités de parents veulent un ‘guide’ pour la réouverture des écoles” (LARIN, 2020, n.p.).

50 No texto original: “Commission scolaire crie: pas de retour en classe avant septembre” (TVA NOUVELLES, 2020, n.p.).

51 No texto original: “Quebec takes terrible risk reopening schools” (DIMANNO, 2020, n.p.).

52 No texto original: “‘Question de vie ou de mort’: le cri du cœur d'une enseignante sur le retour en classe” (BELLEHUMEUR, 2020, n.p.).

53 No texto original: “Des inquiétudes pour nos jeunes” (GAGNON, 2020, n.p.).

54 No texto original: “Les pédiatres du Québec en faveur d'un déconfinement progressif des enfants” (MARIN, 2020a, n.p.).

55 No texto original: “Le confinement peut affecter psychologiquement les Enfants” (MARTIN, 2020, n.p.).

56 No texto original: “Legault mise sur l’« immunité naturelle» des Québécois” (CRÊTE, 2020, n.p.).

57 No texto original: “Un été pour s’immuniser” (BÉLAND, 2020, n.p.).

58 No texto original: “Immunité naturelle: le choc de la science et de la politique” (CASTONGUAY, 2020, n.p.).

59 No texto original: “Le retour en classe est ‘nécessaire’, selon le ministre de l’Éducation” (GIRARD, 2020, n.p.).

60 No texto original: “Quebec unveils protocols for reopened schools” (PRESSE CANADIENNE, 2020, n.p.).

61 No texto original: “Des classes désertes jusqu’à la fin d’août” (FORTIER; LEPAGE, 2020, n.p.).

62 No texto original: “Une attention devrait être donnée aux ados, dit l’Association des pédiatres” (PION, 2020b, n.p.).

63 No texto original: “Retour en classe: des enseignants s'expriment” (TURCOTTE, 2020, n.p.).

64 No texto original: “Le syndicat des enseignants sur ses gardes” (NOËL, 2020, n.p.).

65 No texto original: “Une ère nouvelle attend les enfants du primaire” (DOUCET, 2020, n.p.).

66 No texto original: “Lavage des mains à l’école: une mésentente entre syndicat et commissions scolaires”. (LEBLANC, 2020a, n.p.).

67 No texto original: “Après deux mois, l’école reprend différemment” (POIRIER, 2020, n.p.).

68 No texto original: “53% des élèves de la CSOB de retour en classe” (CHAMBERLAND, 2020, n.p.).

69 No texto original: “Les écoles à la conquête de l'espace! ” (TRAHAN, 2020a, n.p.).

70 No texto original: “Un retour à l’école tout en douceur” (JACQUES, 2020, n.p.).

71 No texto original: “Des enseignants du secondaire bientôt appelés en renfort à la CSPO?” (LEBLANC, 2020b, n.p.).

72 No texto original: “Rentrée progressive dans les écoles primaires dès lundi” (BÉDARD, 2020, n.p.).

73 No texto original: “Après deux mois: L’école reprend différemment” (POIRIER, 2020, n.p.).

74 No texto original: “Retour à l’école: l’absence d’éducation physique Dénoncée” (CLAVEL, 2020, n.p.).

75 No texto original: “Retour en classe après deux mois de pause” (LEBEL, 2020, n.p.).

76 No texto original: “COVID-19: un élève de Cantley retiré de l’école car l’un de ses proches est porteur du virus” (LEBLANC; MERCIER, 2020, n.p.).

77 No texto original: “COVID-19: inquiétudes pour les enseignants de plus de 60 ans” (TRAHAN, 2020b, n.p.).

78 No texto original: “Retour à l’école: On doit assurer le service aux enfants vulnérables” (TREMBLAY, 2020, n.p.).

79 No texto original: “Retour en classe bien organisé et rassurant” (GENDRON, 2020, n.p.).

80 No texto original: “Soulagement et déception” (COLPRON; MORASSE, 2020, n.p.).

81 No texto original: “(...) le sort incertain des élèves en difficulté” (FORTIER, 2020, n.p.) .

82 No texto original: “Le dilemme du retour à l'école pour les enfants souffrant de maladies chroniques” (MARIN, 2020b, n.p.).

83 No texto original: “Report du retour en classe, entre inquiétude et réorganisation” (CUCCHI, 2020, n.p.).

84 No texto original: “La crise risque d’exacerber les différences entre les élèves” (MORASSE, 2020e, n.p.).

85 No texto original: “On sait, par exemple, que les arrêts prolongés dans le parcours scolaire représentent un problème pour certains élèves qui sont en difficulté d'apprentissage ou bénéficient de moins grandes ressources. On constate ces baisses dans les résultats scolaires, dans la motivation et l'intérêt des élèves. Ç'a été bien mesuré. On constate aussi que ça affecte la persévérance scolaire, il y a davantage d'absentéisme et de décrochage pour les élèves à risque. (...). Mais si on devait terminer l'année scolaire de cette façon et rentrer à l'école en septembre, il y aura des impacts et il faudra travailler plus fort, déployer davantage de ressources dans des écoles qui sont déjà sous-financées. Si on a manqué quelques mois comme le scénario semble l'annoncer, ça aura un impact significatif. Les enseignants vont avoir besoin de ressources pour aider les élèves” (MORASSE, 2020e, n.p.).

86 No texto original: “COVID-19: un élève de Cantley retire de l'école car l'un de ses proches est porteur du virus” (LEBLANC; MERCIER, 2020, n.p.).

87 No texto original: “Élève renvoyé à la maison: ‘il y a lieu d'améliorer la communication’, dit un syndicat” (LEBLANC, 2020c, n .p.).

88 No texto original: “COVID-19: retrait ‘préventif’ d’une enseignante de l’école l’Orée-des-Bois de Cantley” (MERCIER, 2020, n.p.).

89 No texto original: “Le virus tient peut-être là son ultime victoire sur les failles de notre société: il creuse de futures inégalités de santé entre des individus qui sont encore des enfants, c’est-à-dire la population réputée lui être la plus naturellement résistante. Or l’éducation est un déterminant majeur de la santé, à court, mais aussi à long terme: les inégalités scolaires entre les enfants d’aujourd’hui sont le terreau des inégalités de santé entre les adultes de demain” (CARDE, 2020, n.p.).

90 Segundo dados do Ministério da Saúde de Quebec, esse grupo representou cerca de 90% das vítimas do Covid-19, o que fez a região ter o maior índice de mortalidade da América do Norte.

91 No texto original: “Le virus est implacable avec les plus vulnérables de la société” (BAILLARGEON, 2020, n.p.).

92 No texto original: “La crise lève le voile sur certaines choses bien essentielles. (...). La pandémie renforce les structures sociales de discrimination” (BAILLARGEON, 2020, n.p.).

93 O OQI publicou, em parceria com a Association pour la santé publique du Québec, uma análise intitulada “Desiguald em face ao coronavírus” (Inégaux face le coronavirus). Disponível em: https://www.observatoiredesinegalites.com/fr/inegaux-coronavirus. Acesso em: 5 jun. 2020.

94 No texto original: “Quand votre assurance maladie dépend de votre travail, quand on atteint des pics de chômage inégalé depuis la Grande Dépression, les répercussions sont autrement plus fortes. Ici, la santé publique et les connaissances scientifiques sont mises au-devant de la scène et éclairent les décisions politiques. Les gouvernements essaient aussi de ne pas échapper de catégories de population dans ses mesures d’urgence. C’est matière à réjouissance”(BAILLARGEON, 2020, n.p.).

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Recebido: 10 de Junho de 2020; Revisado: 22 de Junho de 2020; Aceito: 23 de Junho de 2020; Publicado: 30 de Junho de 2020

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