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Práxis Educativa

versão impressa ISSN 1809-4031versão On-line ISSN 1809-4309

Práxis Educativa vol.17  Ponta Grossa  2022  Epub 10-Mar-2022

https://doi.org/10.5212/praxeduc.v.17.18522.027 

Artigos

Pedagogia da masculinização nos vídeos pornôs: a produção do jovem homem barebacker*

Pedagogy of masculinization in porn videos: the production of the young man barebacker

Pedagogía de la masculinización en los videos porno: la producción del joven barebacker

Danilo Araujo de Oliveira** 
http://orcid.org/0000-0003-3222-3172

Shirlei Rezende Sales*** 
http://orcid.org/0000-0003-4446-9508

**Doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor da Rede Municipal de Ensino de Lagoa Santa. E-mail: <danilotese2020@gmail.com>.

***Professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Educação pela mesma instituição. E-mail: <shirlei.sales@hotmail.com>.


Resumo:

Considerando a dimensão educacional dos filmes pornôs, descrevemos e analisamos, neste texto, a pedagogia da masculinização na perspectiva pós-crítica curricular. Compreendemos que currículo não se restringe às disciplinas escolares, mas se constitui em diferentes espaços e artefatos culturais. A metodologia utilizada na investigação articulou elementos da netnografia e da análise do discurso, de inspiração foucaultiana, de quatro páginas do ciberespaço. Na produção de informações, nomeamos um conjunto heterogêneo de ditos, vídeos e imagens publicados em sites de currículo bareback. Neste artigo, nosso foco de análise é um conjunto de vídeos pornôs. O argumento desenvolvido é o de que há, nos vídeos pornôs, divulgados no currículo bareback, uma pedagogia da masculinização, a qual atua por meio de técnicas específicas, de modo a divulgar, ensinar e prescrever um certo modo de ser jovem homem barebacker, aquele que tem suas condutas prescritas pelas normas de gênero, as quais atuam em articulação com a sexualidade.

Palavras-chave: Gênero; Pedagogia; Pornô

Abstract:

Considering the educational dimension of porn movies, we describe and analyze in this text the pedagogy of masculinization in the post-critical perspective of the curriculum. We understand that the curriculum is not restricted to school subjects, but consists of different spaces and cultural artifacts. The methodology used in the investigation articulated elements of netnography and analysis of the Foucaultianinspired discourse of four pages of the cyberspace. In the production of information, we named a heterogeneous set of sayings, videos and images published on these bareback curriculum sites. In this article our analysis focus is a set of porn videos. The argument developed is that in porn videos disclosed in the bareback curriculum there is a pedagogy of masculinization, which acts through specific techniques, in order to disseminate, teach and prescribe a certain way of being a young bareback man, the one who has his conduct prescribed by gender norms, which act in conjunction with sexuality.

Keywords: Gender; Pedagogy; Porn

Resumen:

Considerando la dimensión educativa de las películas porno, describimos y analizamos en este texto la pedagogía de la masculinización en la perspectiva poscrítica curricular. Comprendemos que currículo no se limita a las asignaturas escolares, sino que se constituye de diferentes espacios y artefactos culturales. La metodología utilizada en la investigación articuló elementos de la netnografía y de análisis del discurso, de inspiración foucaultiana, de cuatro páginas del ciberespacio. En la producción de informaciones, nombramos un conjunto heterogéneo de dichos, vídeos e imágenes publicados en sitios del currículo bareback. En este artículo, nuestro foco de análisis es un conjunto de videos porno. El argumento desarrollado es que en los videos porno divulgados en el currículo bareback hay una pedagogía de masculinización, que actúa por medio de técnicas específicas, de modo a difundir, enseñar y prescribir un cierto modo de ser un joven hombre barebacker, aquél que tiene sus conductas prescritas por las normas de género, que actúan en articulación con la sexualidad.

Palabras clave: Género; Pedagogía; Porno

Introdução

De acordo com Foucault (2017), a pornografia insere-se, em nossa sociedade, como um desenvolvimento estratégico de uma luta na produção dos corpos. Já no século XVIII, emergiam um controle, uma vigilância e uma objetivação da sexualidade que produzia, ao mesmo tempo, “[...] a intensificação dos desejos de cada um pelo próprio corpo” (FOUCAULT, 2017, p. 236). O corpo é objeto de disputa de diversos investimentos que o tomam, porém não é passivo nessa luta. Conforme Foucault (2017, p. 236) argumenta, “[...] a revolta do corpo sexual é o contraefeito dessa ofensiva”, ou seja, dessa ofensiva que toma o corpo como objeto. Desse modo, o poder responde a essa ofensiva “[...] por meio de uma exploração econômica da erotização, desde os produtos para bronzear até os filmes pornográficos” (FOUCAULT, 2017, p. 236). Esse poder é entendido pelo autor, e neste artigo também, como “[...] um modo de ação de alguns sobre alguns outros” (FOUCAULT, 2014b, p. 132). Sendo, pois, muito mais do que uma instância negativa, é uma rede produtiva que “[...] produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso” (FOUCAULT, 2017, p. 45).

Campos de estudos, de teorias, e de ativismos desenvolveram-se nos últimos anos voltados à discussão dos efeitos de poder da/na pornografia. É possível dizer que os campos teóricos e discursivos que buscam problematizá-la são múltiplos, não coerentes, havendo, assim, uma disputa em torno dos significados da pornografia na contemporaneidade. Entre eles, o debate feminista anti-pornô e pró-censura ressalta as características de dominação, de opressão e de regulações de gênero e de violência na pornografia (OLIVEIRA, T. R. M. de, 2013). Nesse território de disputas, outras questões são colocadas para pensá-la, de modo que a pornografia possa ser problematizada como “[...] elemento essencial da produção moderna do corpo e da sexualidade. Mais do que um simples e pervertido desvio da vida sexual, a pornografia é elemento ativo na sua criação, produção e regulação” (OLIVEIRA, T. R. M. de, 2013, p. 240).

Nesse sentido, conforme ressaltam Mowlabocus, Harbottle e Witzel (2013, p. 530, tradução nossa), “[...] a pornografia é mais do que apenas material para masturbação”. Os autores chegaram a essa conclusão a partir de uma longa pesquisa com um grupo focal composto por homens gays, no qual, em relação à pornografia, “[...] o entendimento mais comum era sua dimensão educacional percebida, oferecendo instruções e experiências sobre práticas sexuais masculinas gays” (MOWLABOCUS; HARBOTTLE; WITZEL, 2013, p. 527, tradução nossa). Os primeiros filmes pornôs do começo do século XX, nomeados como stag films ou dirty movies, eram transmitidos em bordéis e casas de prostituição, não somente para estimular os homens, mas para oferecer instruções sobre os corpos e as práticas sexuais (MIKOS, 2017).

A qualidade educativa ou pedagógica dos filmes pornôs pode ser conferida também na atualidade pelas respostas dos seus próprios consumidores. Em pesquisa realizada entre janeiro de 2016 e julho de 2017, pelo Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado, a pedido do canal a cabo Sexy Hot, foi perguntado “por que o público consome pornô”. Entre os principais motivadores listados pela pesquisa está “ver e aprender situações e posições” (MURARO, 2018, n.p.). Desse modo, entende-se que “[...] a pornografia gay serve a uma diversidade de funções (entretenimento, educação, validação, identificação)” (MOWLABOCUS, 2015, p. 55). Entendemos que essa diversidade de funções também é encontrada nos vídeos pornôs aqui analisados. Exatamente por essas características que os vídeos pornôs podem ser analisados do ponto de vista discursivo. Eles estão imbricados a processos de significação, à luta pelo fazer algo tornar verdadeiro, vinculados aos novos jogos de poder.

Esses vídeos têm uma característica em comum: todos eles são vídeos da prática sexual bareback. O bareback é uma prática sexual intencional, própria de homens que têm relações sexuais com outros homens1 (HSH), de não usar preservativos durante o sexo com parceiros ocasionais e/ou anônimos, constituindo-se como uma prática de premeditação e erotização do sexo anal sem camisinha (DEAN, 2009; HAIG, 2006). A prática acabou ganhando novos adeptos e tornando-se uma comunidade e uma cultura (DEAN, 2009). Imbricado com o ciberespaço, passou a contar “com seus próprios sites, pornografia e códigos” provocando “profundas transformações culturais” (DEAN, 2009, p. 2, tradução nossa). A prática bareback pode ser compreendida, também, como uma cultura, se entendermos cultura como “[...] uma rede de representações – textos, imagens, conversas, códigos de conduta e as estruturas narrativas que os organizam – que molda cada aspecto da vida social” (FROW; MORRIS, 1997, p. 345).

Considerando, pois, essas características, e tomando-as como provocações, entendemos que a prática bareback se inscreve no presente como pedagogia cultural que se constitui na perspectiva da pesquisa2, a qual este artigo se vincula, como um currículo que ensina e produz uma variedade de saberes sobre nós mesmos, sobre os outros. Exatamente pelas características discutidas por Dean (2009) e a compreensão de currículo que mobilizamos, o bareback deixa de ser compreendido apenas como uma prática sexual. Há no bareback um modo de vida atrelado a saberes e a demandas por modos de condução da conduta específicos. Nesse sentido, para pesquisar o bareback, mobilizamos uma concepção ampliada de currículo, conforme descrevemos a seguir.

O currículo “[...] já há algum tempo vem sendo conceitualizado como uma ‘prática cultural’” (PARAÍSO, 2010a, p. 29). Esse modo de conceituar currículo trouxe implicações não só para as maneiras como entendemos currículo, mas também como pesquisamos sobre currículos. Diversas pesquisas têm sido feitas a partir das compreensões então empreendidas3. Passamos, então, a compreender que currículo não se restringe apenas a disciplinas ou a um conjunto sistematizado de conhecimentos escolares, isso porque outras instâncias culturais mais amplas ensinam saberes, prescrevem condutas, divulgam valores e, portanto, têm um currículo (PARAÍSO, 2010a; SILVA, 2020). Dito de outro modo, Paraíso (2010a, p. 37) afirma que “[...] um currículo tem sua existência não somente nas políticas curriculares, nas escolas, nas faculdades de educação ou nas universidades”, materializando-se, pois, segunda a autora, em diferentes espaços e artefatos como, por exemplo, bibliotecas, museus, mídia, brincadeiras, literatura, cinema, música, internet etc. Currículo é, portanto, “[...] um artefato envolvido em relações de poder de diferentes tipos que apresenta um conjunto de saberes para serem ensinados a alguém que se deseja transformar, modificar, subjetivar, governar” (PARAÍSO, 2010a, p. 50). Assim, passou-se a pesquisar a existência e o funcionamento dos currículos culturais não-escolares em diferentes espaços, atentando-se para o caráter construído, para a dimensão de artefato cultural, para as relações de poder-saber e para o investimento em determinados tipos de sujeitos neles presentes, buscando “[...] colocar em questão o que está sendo ensinado pelos diferentes currículos existentes” (PARAÍSO, 2010a, p. 30).

Ao materializar-se no ciberespaço a cultura bareback acaba por divulgar e produzir significados sobre o abandono do preservativo em termos específicos, mobilizando uma outra narrativa que luta para se constituir como verdade. Essa narrativa entra em disputa com aquilo que é prevalentemente ensinado em outros espaços sobre saúde, prevenção e prazer sexual. Considerando, portanto, esse aspecto e as compreensões supracitadas de currículo, argumentamos que a cultura bareback se constitui como um currículo. Dada a profusão de material encontrado no ciberespaço, fizemos um recorte para a pesquisa que subsidia este artigo. Nomeamos, assim, um conjunto de ditos heterogêneos localizados no ciberespaço, especificamente em um blog e três perfis do Twitter4, como currículo bareback. O blog e os perfis foram selecionados a partir de uma pesquisa exploratória que identificou o blog como o único em português com massiva divulgação da prática. Já os perfis foram selecionados por serem, à época da pesquisa, aqueles com mais seguidores e, portanto, com ampla capacidade de alcance. É, pois, fazendo referência a esse conjunto e às compreensões de currículo aqui explicitadas que mobilizamos, ao longo do artigo, a expressão “currículo bareback”. Apesar de, neste texto, focarmos na questão dos vídeos pornôs para discutir a pedagogia da masculinização, o currículo investigado não é aqui chamado de “currículo do pornô gay”, por exemplo. Isso porque os vídeos pornôs aqui analisados não representam a totalidade daquilo que ensina e demanda o currículo bareback. Eles são apenas uma parte da profusão de sentidos que esse currículo produz, compondo o repertório de significados associados a relações de poder desse currículo. Argumentando de outro modo, os vídeos pornôs aqui analisados compõem o currículo bareback, mas não são exatamente o currículo. Diante dessas compreensões, ao longo do texto, utilizaremos as expressões “nesse currículo” e “no currículo investigado”, referindo-nos ao currículo bareback, pois é esse currículo que estamos analisando, é do seu funcionamento que estamos falando, do qual os vídeos pornôs fazem parte.

O currículo bareback é, pois, um daqueles currículos que “[...] acontece na cultura, no cotidiano e também na mídia” (PARAÍSO, 2010b, p. 11). Assim como outros currículos culturais têm “[...] uma grande capacidade de sedução, de fazer desejar coisas, de mudar percepções e modelar condutas” (PARAÍSO, 2010a, p. 39). Consideramos, portanto, esse currículo uma daquelas pedagogias culturais do presente que “não podem ser desconhecidos pela educação” (PARAÍSO, 2004, p. 60). Tendo em vista que cultura é aqui compreendida como “[...] uma prática discursiva, um repertório de significados, sempre associado a relações de poder de diferentes tipos” (PARAÍSO, 2010b, p. 35), currículo é, pois, entendido como discurso, em outras palavras, como práticas produtivas de poder que se dão sob condições de emergência específicas.

Metodologia: definições iniciais, procedimentos para produção de informações e análise do currículo bareback

Para esta pesquisa, metodologicamente, articulamos elementos e procedimentos da netnografia – metodologia derivada da etnografia para investigar o ciberespaço (SALES, 2010) – e análise do discurso de inspiração foucaultiana – metodologia para produção de informações e de análise das práticas discursivas. A netnografia foi utilizada para análise da cibercultura, para pesquisar como se dá o imbricamento da cultura bareback com a cultura do ciberespaço. Articulada à análise do discurso de inspiração foucaultiana, foi possível selecionar o blog e os perfis que fizeram parte da pesquisa, para, em seguida, produzir as informações e as análises na perspectiva curricular. A partir desses recursos metodológicos, seguimos com procedimentos de pesquisa que descrevemos a seguir.

O primeiro procedimento metodológico adotado advém da netnografia. Buscamos, inicialmente, fazer imersão no ciberespaço. Aqui foi possível obter informações sobre aspectos relativos à compreensão da cibercultura imbricados ao discurso bareback em circulação no ciberespaço. A primeira busca aconteceu de forma ampla, à procura de blogs que tratassem da temática. Foram muitos resultados. Assim, consideramos como critérios para escolha entre esses resultados encontrados: ser em português e tratar exclusivamente da prática sexual bareback. Então, selecionamos inicialmente dois blogs. Contudo, eles não forneciam materiais suficientes para análise, pois não atualizavam suas postagens. Resolvemos, assim, fazer uma outra procura pelo termo bareback no Facebook. Não utilizamos nenhum filtro para busca nessa plataforma. Consideramos, portanto, publicações de todos os tipos, de qualquer pessoa, de qualquer grupo, em qualquer lugar e qualquer data. No Facebook, encontramos a divulgação de um blog com muitas postagens e conteúdos para análise, o qual foi selecionado para a pesquisa.

A partir da definição desse blog como objeto e local de análise, passamos a acessá-lo constantemente entre os meses de agosto de 2019 e março de 2020. Em algumas visitas, priorizamos a observação como forma de conhecer a cultura de funcionamento do blog, bem como a prática bareback ali divulgada. Esse aspecto da imersão no ciberespaço aconteceu na fase inicial da pesquisa. Após leituras do material teórico e seguindo rigorosamente os preceitos metodológicos da netnografia combinada à análise do discurso foucaultiana, começamos a fazer capturas de fragmentos de textos, imagens e ditos variados que pudessem ser posteriormente utilizados. Essa coleta deu-se, sobretudo, a partir de um modo específico de perguntar: O que está sendo ensinado aqui?

Buscamos também alguns perfis do Twitter para compor o corpo discursivo da pesquisa, considerando os mesmos critérios utilizados para a seleção do blog. Após um processo de busca mobilizando ferramentas disponibilizadas na própria rede, como, por exemplo, o tópico “explorar” e hashtag, surgiram as opções: principais, mais recentes, pessoas, fotos e vídeos. Diante do objetivo de acompanhar perfis por um período maior, selecionamos a categoria “pessoas”. Dessas, escolhemos os três perfis com mais seguidores, considerando, assim, a ampla divulgação que esses têm em relação aos demais.

À medida que fomos acessando diariamente o campo de pesquisa, com aprofundamento no estudo dos conceitos teóricos demandados para explicar as informações que encontrávamos e considerando os aspectos metodológicos que aqui se aplicam, nosso olhar para a compreensão do currículo bareback foi se tornando mais apurado. Dessa maneira, pudemos articular os ditos do blog e dos perfis do Twitter de maneira a reorganizar as informações até então obtidas e refazer buscas mais direcionadas aos objetivos da pesquisa. Começamos, então, a mapear, a organizar e a selecionar esses ditos, separando-os por categorias mais gerais, mas mantendo como estratégia basilar de descrição e análise o que estava sendo ali ensinado, quais conhecimentos estavam sendo divulgados e como isso era feito. Por meio desses métodos, pudemos fazer registros do que estava efetivamente sendo dito, escrito e tivemos contato direto com os elementos culturais próprios ao contexto analisado, como, por exemplo, apreensão das linguagens, dos sentidos construídos, das relações de poder existentes, enfim de como funciona o currículo bareback.

Ao visitar o blog e os perfis, percebemos que havia um grande número de vídeos pornôs. Os vídeos tinham tamanhos variados, sendo o menor de seis segundos e o maior de 98 minutos e 26 segundos de duração. Consideramos para análise os vídeos postados até março de 2020 no currículo investigado (trata-se do período regular designado para fazer a netnografia, entre os meses de agosto de 2019 e março/2020). Como se trata de um campo muito dinâmico e que se atualiza constantemente, foi necessário definirmos uma etapa para isso. O contrário disso poderia ser um trabalho interminável. As análises dos vídeos pornôs feitas neste artigo representam um pequeno recorte dessa pesquisa.

Dada a ampla divulgação no currículo bareback dos vídeos pornôs e com base na perspectiva a qual esta pesquisa se vincula, consideramos que a pornografia é mais uma das tecnologias do presente para produção do sujeito, do sexo e da sexualidade. Compreendemos tecnologia como meios “[…] inventados para governar o ser humano, para moldar ou orientar a conduta nas direções desejadas” (ROSE, 2001, p. 37). As tecnologias, de acordo com Rose (2001, p. 31), são “[…] montagens híbridas de saberes, instrumentos, pessoas, sistemas de julgamentos, edifícios e espaços, orientados, no nível programático, por certos pressupostos e objetivos sobre os seres humanos”. Argumentamos, pois, que, compondo essas montagens híbridas, há duas pedagogias específicas (da masculinização e do fetiche5) engendradas pela pornografia que é aqui considerada como tecnologia. Por considerarmos que as tecnologias funcionam a partir da “articulação de certas técnicas” (FOUCAULT, 1993, p. 206), mostramos que, ao funcionar compondo uma tecnologia, essas pedagogias também acionam determinadas técnicas que atuam regulando, organizando e divulgando modos de condução da conduta em relação à prática sexual bareback. Desse modo, as técnicas podem ser compreendidas como “procedimentos de poder” que são “inventados, aperfeiçoados e se desenvolvem sem cessar” (FOUCAULT, 2006, p. 189). Dada essa conjuntura, concordamos com Dean (2015) quando ele afirma que temos, na contemporaneidade “intimidades mediadas”, de maneira que não podemos dizer que existe sexo cru, principalmente hoje “[…] quando imagens eróticas e discursos da sexualidade saturam as culturas contemporâneas […]”, assim “[…] não pode haver experiência sexual que permaneça não mediada pelas concepções sociais do que o sexo é ou deveria ser” (DEAN, 2015, p. 224, tradução nossa).

Ao afirmar que, no currículo bareback, são disparadas duas pedagogias, estamos compreendendo pedagogia a partir da perspectiva cunhada por Guacira Louro (2015) em seu texto, Pedagogias da sexualidade. Assim, tomamos pedagogia como práticas, linguagens, estratégias e táticas que ensinam algo e incidem na produção de verdades e de sujeitos. A partir dessa compreensão, a autora afirma que “múltiplas instâncias sociais” “exercitam uma pedagogia da sexualidade” (LOURO, 2015, p. 25), de maneira que “[…] a sexualidade é ‘aprendida’, ou melhor, é construída, ao longo de toda vida, de muitos modos, por todos os sujeitos” (LOURO, 2015, p. 11). Entre essas múltiplas instâncias, Louro (2015, p. 25) destaca que a “mídia” é umas das “[…] instâncias [que] realizam uma pedagogia”. Inspirado/a também em Louro e analisando a pornografia, Zago e Atolini (2020, p. 93) mostram “[…] as pedagogias da sexualidade presentes na pornocultura, que constituem diferentes corpos, práticas, prazeres e sujeitos desejantes”. O autor e a autora chegam a mostrar que, na pornocultura, “[…] não há barreiras para se discutir, aprender e ensinar sobre os desejos e prazeres que o corpo pode desfrutar” (ZAGO; ATOLINI, 2020, p. 93).

Para as análises aqui empreendidas, os conceitos de gênero, de sexualidade e de masculinidade foram imprescindíveis. No que se refere a gênero, entendemos, a partir de Judith Butler (2014, p. 253), que ele é o “[…] aparato pelo qual a produção e a normalização do masculino e feminino se manifestam junto com as formas intersticiais, hormonais, cromossômicas, físicas e performativas que o gênero assume”. Assim, “[…] as noções de masculino e feminino são produzidas e naturalizadas” (BUTLER, 2014, p. 253) por meio do gênero. Gênero é, pois, uma prática discursiva pela qual se fabrica justamente aquilo que é considerado feminino e masculino. Sexualidade, por sua vez, será tomada a partir da elaboração de Foucault, o qual a entende como um “[…] conjunto dos efeitos produzidos nos corpos, nos comportamentos, nas relações sociais, por um certo dispositivo pertencente a uma tecnologia política complexa” (FOUCAULT, 2014a, p. 139). Dito de outro modo, podemos empreendê-la como “[…] um aparato social de produção de conhecimento e, de fato, de geração de certo tipo de verdade sobre os sujeitos humanos” (DEAN, 2018, p. 142, tradução nossa).

No que se refere à masculinidade, partimos do entendimento de que “[…] não existe uma única masculinidade e que tampouco é possível falar em formas binárias que supõem a divisão entre formas hegemônicas e subordinadas” (MEDRADO; LYRA, 2008, p. 824). Assim, consideramos que há “[…] muitas maneiras pelas quais a masculinidade é definida socialmente e as diferenças de poder que existem entre diferentes experiências masculinas e versões da masculinidade” (THÜLER; MEDRADO, 2020, p. 2). Buscando situar nossa argumentação, e em que perspectiva se baseiam nossas análises para discutir o que chamamos aqui de pedagogia da masculinização, descrevemos, na sequência, quais são as marcas da masculinidade nessa pedagogia.

O argumento desenvolvido aqui é o de que há, nos vídeos pornôs divulgados no currículo bareback, uma pedagogia da masculinização, a qual atua por meio de técnicas específicas, de modo a divulgar, ensinar e prescrever um certo modo de ser “jovem homem barebacker”: aquele que tem suas condutas prescritas pelas normas de gênero, as quais atuam em articulação com a sexualidade.

No que se refere a uma das qualidades conferidas ao barebacker por meio da pedagogia da masculinização, é necessário ainda problematizar o aspecto da juventude aqui imbricado. Esse parece ser um aspecto articulado ao funcionamento da pornografia na cibercultura, marcado pelo consumo proeminentemente do público jovem. Em pesquisa divulgada em 2018, pudemos perceber que, entre os 22 milhões de pessoas que assumem consumir pornografia no Brasil, “a maior parte é jovem (58% têm menos de 35 anos)” (MURARO, 2018, n.p.). Dado similar também pode ser encontrado em pesquisa mais recente sobre a idade demográfica de acesso mundial ao site pornô Pornhub no ano de 2019, a qual mostra que “[...] a geração do milênio entre 18 e 34 anos representa 61% do tráfego do Pornhub” (PORNHUB, 2019, n.p.). Esse pode ser um efeito de uma constatação feita por Sales (2018, p. 86) de que “[…] as culturas juvenis e as práticas de sociabilidade são intensamente marcadas pelo universo cibernético”. Desse modo, as culturas e a sexualidade juvenil estão também conectadas com esse universo, de maneira que a pornografia divulgada no ciberespaço aparece disputando sentidos e significados com a educação sexual em seu sentido mais restrito, desenvolvida por instituições e escolas. Há mais de sete anos, Prioste (2013) já destacava que, entre as ações mais comuns e preferidas por jovens no ciberespaço, estava o acesso a sites pornográficos. Certamente, essa preferência pode ter se tornado mais possível dado os avanços de acesso à Internet.

Nesse contexto, compreendemos que a pedagogia da masculinização como aquilo que é divulgado, ensinado e prescrito por meio dos vídeos pornôs barebackers no currículo aqui investigado incide de forma ampla e marcante na constituição da sexualidade juvenil. A “íntima conexão com as tecnologias digitais” (SALES, 2018, p. 86) dos/as jovens abrange e incorpora sua intimidade sexual. O currículo bareback, ao funcionar no emaranhado das redes está, pois, disputando pela produção dessa intimidade. Argumentamos, portanto, que o funcionamento desse currículo e as pedagogias nele ativadas precisam ser problematizadas como aspecto relevante da constituição de modos de vida juvenis de viver e experimentar a sexualidade e as práticas sexuais.

Técnicas acionadas nos vídeos pornôs para produção da pedagogia da masculinização

As imagens e os modelos de performance acionados nas cenas dos vídeos pornôs apresentadas no currículo bareback são aqueles que já estão presentes dentro de uma discursividade usualmente utilizada a que nos acostumamos a associar a modelos de masculinidade inscritos em normas de gênero. Analisamos esses vídeos pornôs para discutir que tipo de homem é produzido e desejado no currículo aqui investigado, como algumas imagens de homens são acionadas para compor determinada representação masculina, que aqui também se constitui como uma prescrição sobre modos de ser e agir na prática bareback. Nesse sentido, entendemos que há uma pedagogia em atuação nesse currículo, a pedagogia da masculinização.

A pedagogia da masculinização diz dos processos, em atuação no currículo bareback, para produção do bareback como uma prática masculina, o que incide na constituição de um tipo específico de jovem homem barebacker. Homem aqui no sentido normativo que lhe podemos atribuir. Os corpos são musculosos, os movimentos e os gestos das mãos, dos braços e do andar conformam aquilo que é prescrito para um corpo masculino. Há um certo investimento para se adaptar e se ajustar ao discurso normativo de gênero, buscando estabilizar os corpos no território masculino, ampliando as possibilidades para que isso seja mostrado. O discurso de masculinidade é aqui acionado expulsando qualquer referência a traços afeminados ou delicados, evidenciando, por meio dos corpos em cena, os atributos físicos de macho viril. A regularidade com que essas características são divulgadas em diversos vídeos pornôs no currículo bareback evidencia uma série de requisitos que precisam ser atendidos para ser considerado um homem barebacker. A pedagogia da masculinização adota o que Miskolci (2015, p. 69) chamou de “tecnologias generificadas, ou, mais claramente, masculinizantes”, disponibilizando, por meio da pornografia, “[…] modelos regulatórios sobre como ser, a quem desejar e o que fazer”. Trata-se, assim, de uma prática discursiva que engendra um tipo específico de jovem homem barebacker.

Apesar de, na maioria dos vídeos pornôs divulgados no currículo bareback, não haver diálogos, é possível localizar pelo menos cinco técnicas constituindo essa pedagogia e adensando os múltiplos exercícios que regulam, organizam e divulgam formas possíveis de ser um jovem homem barebacker. Essas técnicas que podem ser localizados nos vídeos pornôs que passamos agora a analisar são: (1) técnica da definição dos lugares onde as cenas são filmadas em conjunto com os objetos dispostos nesses espaços; (2) técnica da caracterização dos homens em cena; (3) técnica da exibição de corpos magros e “sarados”; (4) técnica da expressão da voz masculina dos personagens; e (5) técnica da redução das expressões de carinho e sentimentos de afeto. Pretendemos mostrar, neste artigo, que essas técnicas estão articuladas, imbricadas e, por vezes, amalgamadas. Entendemos que essas técnicas são mobilizadas discursivamente para que o espectador conheça formas adequadas de ser jovem homem barebacker, modos corretos de ter relações sexuais no âmbito da prática do bareback, e práticas que precisam exercitar, maneiras de conduzir-se. Assim, um conjunto de condutas é apresentado como apropriado e pertinente ao jovem homem barebacker.

No que se refere à primeira técnica, a saber, a técnica da definição dos lugares onde as cenas são filmadas em conjunto com os objetos dispostos nesses espaços, pudemos perceber que as cenas pornôs barebackers ocorrem em diversos espaços, de forma mais notável no quarto. No entanto, há um certo investimento em recorrer a alguns espaços que, de alguma forma, estão relacionados à masculinidade. Quando isso não ocorre, alguns objetos que também remetem à masculinidade são dispostos e apresentados em cena, compondo a pedagogia em análise neste artigo. A seguir, apresentamos alguns trechos de vídeos pornôs barebackers os quais evidenciam esses aspectos:

O vídeo começa mostrando quatro homens “sarados” e brancos em uma academia sendo apalpados por um homem que parece mais velho, branco e careca. Esse último está sentado em um aparelho chamado de voador, utilizado para malhar peitoral. Alguns dos homens estão com uma tolha pequena no ombro. Eles começam, um a um, a tirar os próprios shorts e em seguida o mais velho faz sexo oral sem preservativos em cada um deles. (B1, 00 segundo, 13 minutos e 5 segundos).

[…] todos pelados, assistindo à luta de boxe na televisão, aparentemente comentando a luta, mas também excitados e de pênis eretos. (B3, 12 minutos e 13 segundos).

[…] mostram-se roupas espalhadas pelo chão, uma prancha de surf e um skate próximo à televisão. A câmera alterna a filmagem entre os dois casais que estão envolvidos em penetração sem preservativo. (D3, 4 minutos e 8 segundos).

Esse vídeo começa em uma festa eletrônica, mostra um sujeito de costas dançando e, em seguida, corta para um ambiente onde alguns homens jovens jogam sinuca. (E1, 00 segundo a 5 min e 31 segundos).

O que conecta essas diferentes cenas de vídeos pornôs, além de em todas elas os participantes estarem envolvidos em sexo bareback, é a referência à prática de atividade física e/ou de esporte. Encontrada, pois, por meio da exibição de lugares específicos, como uma academia, e disposição de alguns objetos como a televisão exibindo uma luta de boxe, prancha de surf, skate e mesa de sinuca. Diante dessa referência que ocorre em vários vídeos pornôs divulgados no currículo aqui investigado, problematizamos, na sequência, como a prática sexual bareback se produz amalgamada com os signos da masculinidade inscritos em determinadas práticas esportivas. Ativa-se, assim, a pedagogia da masculinização nesse currículo. A técnica da definição dos lugares onde as cenas são filmadas em conjunto aos objetos dispostos nesses espaços funciona em articulação com uma outra técnica: a técnica da exibição de corpos magros e “sarados”, pois há uma associação desses corpos às academias de ginástica, como também a outros esportes. Buscamos analisar os vídeos descrevendo também outros trechos, para mostrar a articulação dessas duas técnicas.

A filmagem no espaço de uma academia de ginástica, que aparece no trecho destacado do filme B1, compõe com os corpos que são visibilizados em outros vídeos pornôs bareback: corpos magros e “sarados”. Conforme é possível ver em alguns trechos de alguns filmes descritos a seguir:

A câmera inicia a filmagem acompanhando um homem de corpo branco, magro e tatuado, de costas, que segue por um corredor até chegar ao quarto onde dois outros homens estão numa cena de penetração sem preservativo. Esses também são magros e brancos, um deles um pouco mais “sarado”. (A1, 00 a 5 min e 6 segundos).

São muitos homens, quase todos brancos, magros ou “sarados”, há apenas dois negros. (C1, 00 segundo a 24 minutos e 04 segundo).

[…] seis homens, dois negros e os demais brancos. Todos eles são magros ou “sarados”, musculosos. (D1, 00 segundo a 25 minutos e 45 segundos).

Outros trechos similares a esses poderiam ser aqui justapostos tamanha a recorrência da exibição desse tipo de corpos nas cenas de sexo bareback nos vídeos pornôs aqui analisados. Eles ocupariam muitas páginas deste artigo, pois são abundantes nas descrições que fizemos dessas cenas. De todo modo, com isso, o que podemos perceber é que os corpos que são demandados no currículo bareback são de maneira mais proeminente corpos fortes e “sarados”. Junto a isso, há outros desdobramentos importantes com a presença desses corpos nos vídeos pornôs bareback. Quando é colocado em uma cena, como a do trecho B1, um aparelho como o voador, utilizado nas práticas de atividades físicas de musculação, alguns homens “sarados” sem camisa e com toalha nos ombros, como se tivessem acabado de malhar, há um certo investimento que diz, não somente, quais corpos são demandados na prática sexual bareback, mas também como a produção desses corpos está atrelada à constituição de uma masculinidade específica. É como se esse espaço da academia acionado no vídeo engendrasse a masculinidade que é prescrita no currículo aqui investigado para o jovem homem barebacker. As atividades de musculação nas academias de ginásticas estão, de algum modo, imbricadas com a busca de certa masculinização como um conjunto de virilidade a ser construído, perseguido e demonstrado (CHAVES, 2010; SILVA; FERREIRA, 2016).

O espaço da musculação parece ser associado à presença de corpos fortes e viris, como os que aparecem no vídeo pornô a que se refere a primeira descrição em destaque. Silva e Ferreira (2016, p. 93) apontam, em sua pesquisa, como alguns alunos de academia de ginástica “[…] pareciam cultuar ou almejar um tipo ideal androcêntrico no espaço da musculação na medida em que eram ‘fortes’ e ‘viris’ de forma a suportar a dor aguda ou crônica”. O autor e a autora ainda afirmam que as concepções de saúde e estética dos homens que buscam atividades de musculação nas academias de ginástica “[…] vêm atreladas aos atributos corporais ou às atitudes ligadas classicamente à masculinidade, como força, honra e bem-estar físico” (SILVA; FERREIRA, 2016, p. 90).

A pedagogia da masculinização, por meio da articulação das técnicas da definição dos lugares onde as cenas são filmadas, em conjunto aos objetos dispostos nesses espaços e a técnica da exibição de corpos magros e “sarados” mobilizadas na divulgação do sexo entre homens feita nos vídeos pornôs bareback, não incide somente na produção de corpos masculinizados. A presença dos corpos “sarados” que parecem demonstrar ter força física mostra outros efeitos de poder do currículo bareback. Com o advento da Aids e sua vinculação à homossexualidade, afastar-se da homossexualidade era um modo de distanciar-se de um estereótipo que reiterava o homossexual como uma figura patológica. Nesse sentido, a expressão “fora do meio gay” emerge para caracterizar aquelas pessoas que, mesmo que vivenciassem práticas homoeróticas, não se aproximavam dessa discursividade que então constituía a homossexualidade (MISKOLCI, 2014). Assim, o homem malhado e macho performava que se tratava de um corpo saudável. De acordo com Miskolci (2014), os corpos “sarados” continuam sendo um modo de afastar-se da homossexualidade, de maneira que “[…] músculos são vistos como sinônimo de saúde e/ou aparência heterossexual” (MISKOLCI, 2014, p. 71). O modelo de masculinidade que a prática do bareback demanda, por meio dos vídeos pornôs, está, de algum modo, nas sutilezas de operação do poder e produção de verdade sobre essa prática, inscrevendo-a como uma prática de pessoas saudáveis, ainda que o discurso da prevenção diga o contrário. Para compreender essa afirmação, é necessário mostrarmos como outros discursos funcionam no presente.

A partir de pesquisas realizadas sobre a construção do corpo no Brasil, Chaves (2010) observa que há uma crescente valorização da aparência corporal, pois, por intermédio do corpo, deve-se exprimir saúde, erotismo e sensualidade. O autor ainda ressalta que “[…] essa valorização do corpo se propaga como sinônimo de juventude, força e beleza […]” (CHAVES, 2010, p. 14). Assim, uma série de procedimentos e exercícios são disponibilizados para que as pessoas tornem seus corpos de acordo com os padrões de beleza demandados, seja pelo consumo de produtos farmacêuticos-nutricionais e/ou pela frequência às academias. Dessa forma, “[…] a postura da boa saúde, está diretamente relacionada com a aparência física, a não fragilidade do corpo, isto é, a visibilidade do corpo em forma […]” (CHAVES, 2010, p. 97), de modo que “[…] manter a saúde passou na contemporaneidade [a ser associado] a manter a boa forma física” (CHAVES, 2010, p. 98). No que se refere mais especificamente às práticas de musculação, o autor sugere que, além de estarem ligadas a uma ideia de saúde, elas também aparecem vinculadas à masculinidade. Assim, além dos praticantes de musculação se sentirem “[…] protegidos de doenças a partir do momento que encaram essa prática como um elemento crucial na sua qualidade de vida” (CHAVES, 2010, p. 98), entre eles parece “[…] existir uma ideia de que a verdadeira masculinidade está diretamente ligada à imagem corporal, que se traduz nos músculos, gestos e postura, contrapondo as características tidas típicas do feminino, como fraqueza e suavidade, que, como consequência ameaçam a sua masculinidade” (CHAVES, 2010, p. 125). Dessa maneira, “[…] um corpo musculoso, além de ícone desta masculinidade, pode servir como defesa […]” dela (SABINO, 2000, p. 94).

Nesse sentido, compreendemos que há uma técnica discursiva curricular colocada em funcionamento quando se articula a ênfase da presença de corpos “sarados” e cenas em academia, como visto no trecho do vídeo B1. Trata-se da produção de um tipo específico de sujeito inscrita nos corpos que aparecem nesses vídeos pornôs: masculino, saudável. Junto a essas características, no currículo bareback parece haver, de modo proeminente, uma associação dessas características com a juventude já que os corpos que mais aparecem nos vídeos pornôs divulgados são corpos de jovens. Uma conexão que, quando emerge em práticas sexuais sem preservativo, parece concorrer, de algum modo, com o discurso da prevenção, no qual a saúde está proeminentemente ligada ao sexo “mais seguro”, ao sexo com preservativo. Assim, nesse currículo, inventam-se e empregam-se técnicas particulares para suscitar interesses e escolhas no jovem homem barebacker. Os corpos visibilizados e as cenas produzidas fazem parte de uma série de processos envolvidos na produção de uma subjetividade barebacker constituída por corpos masculinos, saudáveis e, eminentemente, juvenis.

Se a presença dos corpos “sarados” nos vídeos pornôs bareback está ligada às práticas de atividade física de musculação para produção de uma masculinidade e, por isso, elas também são acionadas nos filmes, outros elementos que remetem à construção dessa masculinidade imbricados em outras atividades físicas e esportes também aparecem nos filmes para adensar essa correlação. Seguiremos mostrando, por conseguinte, na sequência deste artigo, como isso acontece. Ao utilizar a técnica da definição dos lugares onde as cenas são filmadas, em conjunto aos objetos dispostos nesses espaços, essa prática sexual também vai sendo produzida amalgamada com os signos de masculinidade então divulgados.

A construção minuciosa de como, onde e quais elementos compõem o vídeo pornô bareback pode tornar visível as sensações e os desejos que eles querem provocar. Junto a isso, pode mostrar, no âmbito do sexo entre homens, qual homem e qual masculinidade são produzidos e demandados. Nesse sentido, a vinculação do sexo entre homens, os corpos “sarados” e as referências esportivas, que aparecem representados nos vídeos pornôs conferem a esses homens uma masculinidade prescrita em normas de gênero. Conforme destacam Gastaldo e Braga (2011, p. 884), “[…] as diferentes práticas esportivas fornecem em nossa sociedade lugar e oportunidade para colocar em ação o desejo de competitividade de um indivíduo”. A competitividade, por sua vez, nessa sociedade, “[…] é exacerbada e por vezes exigida socialmente, a aceitação de desafios sendo frequentemente uma das medidas da masculinidade” (GASTALDO; BRAGA, 2011, p. 882).

Nesse sentido, o autor e a autora ressaltam ainda que “[…] a valorização do caráter agonístico nos esportes está relacionada com a reprodução de valores considerados masculinos” (GASTALDO; BRAGA, 2011, p. 886). Disputas, competições e demonstrações de força física constituem os esportes e conferem inteligibilidade para a construção de uma masculinidade valorizada, demandada e prescrita aos corpos de homens. Nesse âmbito, entende-se “[…] a noção de força física como uma das medidas da masculinidade” (GASTALDO; BRAGA, 2011, p. 885), de maneira que “[…] força física e coragem física tornam-se identificadas com força moral e coragem moral [...]” (GAGNON, 1981, p. 142, tradução nossa), sendo associadas a “[...] um emblema da masculinidade” (GAGNON, 1981, p. 143, tradução nossa). Algo valorizado a partir de atos performativos direcionados aos corpos de meninos desde crianças quando se incentiva, por exemplo, o engajamento desses corpos em diversas práticas esportivas e competitivas.

A articulação, feita nos vídeos pornôs disponibilizados no currículo bareback, entre os elementos corpos “sarados”, esportes e sexo bareback entre homens, aplicada à pedagogia da masculinização valoriza e legitima normas de gênero. Trata-se aqui de uma utilização estratégica e produtiva que se constitui como uma prática social generificada que diz quais corpos de homens são desejados.

Seguindo na análise da pedagogia da masculinização, percebemos que outra técnica também é utilizada nas cenas dos vídeos pornôs para conferir certa masculinidade aos corpos e constituir a montagem das práticas heterogêneas dessa pedagogia vinculada à prática bareback. Trata-se da caracterização dos homens em cena, representada pela escolha específica de roupas, cortes de cabelo e acessórios utilizados pelos homens:

O homem que está de pé usa cabelo curto bem raspado, tem várias tatuagens no corpo, um relógio no braço esquerdo e veste uma camiseta regata preta segurando-a até o peito. O homem que está de joelhos também usa uma camiseta preta e um boné virado para trás. (A3, 00 a 29 segundos).

Exibe-se um quarto com poucos objetos, um quadro na parede, uma cadeira e uma mesa. Mostra também mais dois homens, esses ainda vestidos. Um branco e um negro. O branco usa camisa estilo polo listrada e calça jeans. O negro está de boné, usa uma regata larga, branca e está com uma mochila preta nas costas. (A3, 00 a 29 segundos).

Os outros dois estão conversando em inglês (devido aos gemidos daqueles que estão transando sem preservativo é difícil identificar o que eles falam). Dos homens que estão conversando, há um sentado, vestindo uma calça jeans clara, uma camiseta tipo jogador de basquete e segurando uma lata de cerveja. O outro, como a câmera o filma de costas, é apenas identificável que ele está sem camisa, com um short de tecido leve e um pouco caído de modo que é possível ver sua cueca preta. (B3, 00 a 55 segundos).

Assim como no trecho destacado do filme A3, é recorrente nos vídeos pornôs divulgados no currículo bareback que os homens tenham cabelos curtos. O cabelo curto parece ser um elemento estilístico vinculado à pedagogia da masculinização à medida que reforça os estereótipos de homem viril. A historiadora Michelle Perrot (2006) mostra como o cabelo raspado, por um longo período, significou um sinal de virilidade. No polo oposto, “[…] o cabelo comprido é um atributo de efeminação, inclusive, tendo ideais pautados na Bíblia, onde o apóstolo Paulo condenava os longos fios para os homens” (SASSO, 2018, p. 112). Assim, “[…] em muitos momentos da história, a ausência de cabelos significou virilidade, como na Roma antiga e para os Nazistas” (SASSO, 2018, p. 112).

Se pensarmos que “[…] modelos de masculinidade podem ser reforçados pela forma como os homens se vestem” (DUTRA, 2007, p. 359), as roupas usadas pelos protagonistas dos vídeos pornôs bareback também são importantes de serem observadas. De acordo com Dutra (2007), enquanto a moda é associada às mulheres e aos homossexuais, dos homens heteros espera-se que eles sigam o padrão clássico de vestimenta, como, por exemplo, calça e camisa, de modo que, quando saem desse padrão, é comum ouvir a pergunta “onde você comprou esta roupa tem para homem?” (DUTRA, 2007, p. 368). Essa pergunta traz para a cena mais uma vez a articulação entre gênero e sexualidade. Isso porque ela é direcionada ao homem heterossexual, aquele que segue a linearidade sexo – gênero – sexualidade. A pergunta tem duplo efeito e incidindo, assim, na produção do gênero de quem a escolheu pois é questionado se havia roupa para o homem, o macho. Junto a isso, diz também da sexualidade, porque podem existir roupas que homens vestem que podem ser mais próximas das roupas caracterizadas como femininas. Ao não corresponder aos pressupostos de gênero, os homens que vestem essas roupas podem ser questionados sobre seu gênero. Ao serem questionados sobre seu gênero, são percebidos como gays. Estão usando uma roupa que não é adequada para homens heterossexuais. Pode ser adequada para gays, mas gays aqui não são percebidos como homens. A partir de uma reflexão similar feita por Ferrari, Gomes e Gomes (2019, p. 21), podemos inferir, desse modo, que “[…] o homossexual parece ser expulso do gênero masculino”. Assim, o que é alçado aos signos da inteligibilidade como homem é o homem heterossexual. Excluindo outras possibilidades de construção do masculino. Talvez seja por isso que os homens que estão fazendo sexo bareback nas cenas dos vídeos pornôs usem “camiseta regata preta”, “regata larga”; “camisa estilo polo listrada e calça jeans”; “uma calça jeans clara, uma camiseta tipo jogador de basquete”, artigos que podem ser vistos como próprios do vestuário clássico masculino. Além disso, as camisetas utilizadas parecem estrategicamente como um artigo desse vestiário, que deixa à mostra os músculos delineados, tão importantes para a imagem de homem, conforme discutimos anteriormente.

De acordo com Soares e Sardenberg (2014, p. 2613), entre outros elementos do vestuário para homens, estão “o boné” e “adereços masculinos, como relógios”. Além de serem acessórios comumente associados à masculinidade, podem aparecer também como vinculados a um estilo jovial, como mostram Simões, França e Macedo (2010) ao discutirem os jeitos de corpos, cor/raça, gênero, sexualidade e sociabilidade juvenil no centro de São Paulo. Desse modo, o “boné para trás” parece conferir a esses homens um certo ar despojado, a “mochila preta nas costas” parece remeter a um aspecto estudantil, a bagunça na sala pode estar associada à construção de que homens jovens são desorganizados. São aspectos que constituem a verdade do que é ser homem, masculino e jovem nos vídeos pornôs do currículo bareback. Algo que se dá pela reiteração das referências normativas generificadas. Algo que é também acentuado nos sons dos filmes, com a técnica da expressão da voz masculina dos personagens percebida por meio da fala e gemidos dos rapazes em cena, como também pela técnica da redução de expressões de afeto e carinho, conforme passamos a mostrar na sequência.

Conforme indica Galvão (2017), o plano sonoro é algo importante nos vídeos pornôs. Esses vídeos se apresentam como “iconotextos” que “[…] associam intimamente imagens, vídeos, sons e textos” (GALVÃO, 2017, p. 39). Assim, como nos filmes pornôs observados por Galvão (2017), os sons dos filmes disponibilizados no currículo bareback se constituem, predominantemente, de gemidos, interjeições e palavras de incentivo. No entanto, os sons aqui são também mobilizados para realçar a ativação de uma pedagogia da masculinização nos vídeos pornôs do currículo aqui investigado. Assim, as vozes e os gemidos ouvidos nesses filmes são vozes graves e grossas, como é possível ver nos trechos de vídeos pornôs destacados a seguir:

Ouvem-se muitos gemidos, como “ah!”, prolongados e com voz masculina bem grave. (Vídeo A1).

O homem que está de pé pede para que o parceiro faça sexo oral nele (em inglês “suck that, come on, suck it!”), o homem que recebe as ordens geme de modo grave, demonstrando prazer através dos gemidos (algo como “hum”) longos e bem sonoros e do modo como chupa insaciavelmente o pênis do parceiro, que está sem preservativo. (A3, 00 a 29 segundos).

São vários gemidos agora (“ah!” combinado com “yeah!”, repetidamente). Um dos componentes anuncia que vai gozar dentro do parceiro sem preservativo e começa a gemer de forma forte e grave. (A3, 6 minutos e 12 segundos).

A voz é um demarcador de gênero, com características distintivas, visto que se atribui a uma voz valores masculinos ou femininos. Inscritas nas normas de gênero, uma voz mais suave e fina é entendida como uma voz feminina, já uma voz mais grave e grossa, uma voz masculina. Em outras palavras, é possível afirmar que as vozes “[…] são organizadas a partir das matrizes gendradas […]”, utilizadas, assim, para caracterizar “[…] o que seria a voz de mulher e a voz de homem” (CAMOZZATO, 2020 p. 253). Dessa forma, além dos usos das roupas, dos acessórios, da exibição de corpos musculosos, mobilizados pelas técnicas da caracterização dos homens em cena e da exibição de corpos magros e “sarados”, o tom de voz é algo que também constitui a masculinidade. Ao analisar práticas homoeróticas masculinas entre usuários em ambientes virtuais, Braga (2015, p. 236) mostra que há, nesse espaço, “[…] um esforço de concentração da masculinidade nos componentes simbólicos de ‘jeito’, ‘atitude’, ‘voz’, ‘postura’”, os quais são vistos como uma “[…] atualização de certos valores masculinistas clássicos”. Consideramos, assim, as vozes e os gemidos graves e grossos como elementos discursivos sonoros6 em operação nos vídeos pornôs que colaboram na atuação da pedagogia da masculização no currículo bareback, constituindo, pois, a técnica da expressão da voz masculina dos personagens.

Ainda no que se refere à atuação dessa pedagogia, destacamos nos vídeos pornôs aqui analisados, a técnica da redução das expressões de carinho e sentimentos de afeto de qualquer ordem na maioria dos filmes analisados. São raros os momentos em que isso acontece, mesmo assim quando ocorre é de forma rápida e pontual.

Em seguida os demais também começam a gozar na bunda do passivo que está deitado no chão com a bunda empinada. Não há nenhuma troca de carinho ou afeto nessas cenas, é apenas o sexo pelo sexo. Na hora de penetrar sem preservativo eles apenas seguram na cintura ou puxam a cabeça do parceiro para se apoiar. Em outros momentos sequer se tocam. Na primeira cena de sexo oral, por exemplo, o rapaz que está recebendo sexo oral fica apenas encostado na parede vendo todo o ato. (A3, 6 minutos e 12 segundos).

Esse terceiro cospe na bunda do passivo e começa a penetrar sem preservativo apenas com a lubrificação da saliva. Não há nenhum contato com troca de carinho quando um sai e outro entra, eles chegam apenas para penetrar o parceiro enfiando os pênis com força e sem preservativo, segurando na cintura para ter apoio para realizar esta ação. (B3, 4 minutos e 59 segundos).

Aqui também não há nenhuma demonstração de carinho, enquanto um sai e outro volta para a posição de receber o sexo oral, apenas segura com força a cabeça do que está fazendo o sexo oral. (B3, 7 minutos e 11 segundos).

O primeiro rapaz que já recebia sexo oral continua se apoiando na parede, sem tocar o parceiro e tampouco o terceiro que chega à cena, o qual apenas se masturba enquanto vê o primeiro recebendo o sexo oral. Eles ficam um ao lado do outro sem se tocarem. (C3, 00 segundo a 3 minutos e 31 segundos).

Esses trechos dos vídeos pornôs destacados podem demonstrar como a relação sexual bareback entre homens é construída nesses filmes. Há um investimento para que os toques e os contatos físicos sejam localizados e estratégicos, de modo a garantir uma atuação que reforce a masculinidade dos corpos em cena. Assim, esses corpos são posicionados para que a penetração ou o sexo oral ocorra demonstrando certa habilidade, mas também que demonstre força, sem afeto ou carinho. A força está não somente no ativo, mas também no passivo, o qual suporta não somente uma sequência de homens penetrando-o, mas também a potência, robustez e ação de quem o penetra.

De acordo com Passamani (2013, p. 203), desde os primeiros anos, os meninos, de forma mais proeminente, “[…] são incentivados a perder a sensibilidade e a capacidade de emocionar-se diante das situações mais triviais e acercar-se da técnica mais dura, porque ela representa o ideal de homem a ser perseguido”. Ao analisar a interface do currículo escolar e da rede social Orkut, Sales (2010) também demonstrou como o discurso de masculinidade age sobre os comportamentos dos jovens prescrevendo algumas condutas como “[…] não sentir dor, não chorar, não demonstrar sentimentos, ser corajoso, viril” (SALES, 2010, p. 129). Dessa forma, assim como nessa interface curricular na qual o discurso de masculinidade agia sobre os comportamentos de jovens, “[…] de modo a conduzir suas ações em concordância com os preceitos descritos na cultura, sobre o correto comportamento masculino” (SALES, 2010, p. 129), e como nos filmes e novela descritos, os vídeos pornôs do currículo bareback, ao exibirem corpos masculinos em cenas sexuais sem demonstração de carinho ou afeto, também operam de modo a ensinar uma forma considerada correta de masculinidade. Como efeito disso, ao exibir cenas de sexo bareback acabam por associar essa prática a um modelo de masculinidade em que o carinho é interditado. Como a prática bareback pode dar-se em contextos casuais e anônimos, a troca de carinho parece ser mais facilmente dispensada e possível. Afinal, talvez não haja tempo de uma construção afetuosa entre os envolvidos, apenas o desejo sexual.

Na análise proposta por Takara e Teruya (2016, p. 144), entende-se que a “[…] masculinidade viril é erigida por processos de adestramento e docilização do corpo do macho que incitam uma prática de rigidez de movimentos, silenciamento das práticas afetivas, toque, cuidado e afeto, que podem ser disparados por qualquer homem em qualquer homem”. Nesse sentido, compreendemos que as cenas dos vídeos pornôs do currículo bareback são cuidadosamente produzidas para evidenciar como os corpos dos barebackers nessas cenas se adequam às normas generificadas, e, com isso, nesse currículo, são ensinados modos considerados adequados do que é ser homem. Podemos perceber, portanto, que o vídeo pornô bareback não é uma sequência de cenas sendo exibidas apenas para fazer alguém ter prazer, mas que essas cenas são atravessadas por discursos generificados que também incidem na produção, não somente do prazer, mas de corpos e subjetividades específicas.

Ainda de acordo com o autor e a autora, “[…] o medo de não corresponder às exigências do machismo produz a bicha” (TAKARA; TERUYA, 2016, p. 144). Por isso, argumentamos, a partir dos vídeos analisados, que a bicha é expulsa do bareback. Contudo, não somente nos vídeos existe um regime de visibilidade dessa prática sexual que intenta prover-se da masculinidade em seu sentido normativo, buscando vincular essa prática a uma imagem de homem másculo, viril e disciplinado, pois, até mesmo a maneira com a qual se constitui o termo bareback, evoca, de certo modo, um imaginário insuflado de masculinidade, se pensarmos que “[…] o termo deriva de atividades equestres: andar a cavalo sem sela, como faria um cowboy robusto” (DEAN, 2008, p. 80, tradução nossa). O fato da prática ser nomeada, aqui no currículo investigado como também nos estudos de outros autores/as e na mídia de maneira geral, como uma prática sexual de homens que fazem sexo com homens não é aleatório, mas compõe essa discursividade que organiza o bareback, afastando-o de algum modo da feminilidade e das homossexualidades também.

As homossexualidades7, nas complexas relações de poder que as constituem, incluem ou, de algum modo, permitem a existência e a performance de homens afeminados. Junto a isso, perceber-se como homossexual implica assumir uma identidade vinculada a um pertencimento grupal que luta por visibilidade, afirmação e direitos (FERRARI, 2005; TREVISAN, 2018). O problema aqui, portanto, não estaria no desejo homossexual, mas na homossexualidade. Tanto essa agenda política de identidade vinculada a um pertencimento grupal quanto modos afeminados não parecem ser demandas do currículo bareback. Nesse sentido, mesmo que a prática bareback esteja inscrita como uma prática gay (HALPERIN, 2007), existem disputas discursivas que procuram distanciá-la de uma agenda dessa comunidade, questionando, por exemplo, a monogamia e o casamento, como mostra Dean (2009, p. IX, tradução nossa) ao discutir que o bareback é uma organização da sexualidade “que se afasta das normas gays”. Isso evidencia as complexas experiências do sexo entre homens, conforme destacado por Foucault (2014a):

A relação entre dois indivíduos do mesmo sexo é uma coisa. Mas gostar do mesmo sexo que o seu, ter um prazer com ele é outra coisa, é outra experiência, com seus objetos e valores, com a maneira de ser do sujeito e a consciência que ele tem de si mesmo. Essa experiência é complexa, é diversa, muda de formas. Deveria fazer-se toda uma história do ‘outro do mesmo sexo’ como objeto de prazer. (FOUCAULT, 2014a, p. 153).

No que se referem às formas que essa experiência acontece no sexo bareback, Dean (2009) já havia notado modos de funcionamento do que aqui chamamos de pedagogia da masculinização ao mostrar que a prática bareback está atrelada à masculinidade. O autor afirma que, nessa prática, se preza “[…] um ethos de hipermasculinidade e transgressão erótica que tende a ser imaginada em termos de sexualidade da classe trabalhadora”, assim “com sua parafernália militar, cortes de cabelo skinhead, tatuagens e físicos musculares projetados para sugerir uma vida de trabalho manual” (DEAN, 2009, p. 38-39, tradução nossa). No currículo bareback, a masculinidade também se constitui recorrendo a algumas características mencionadas por Dean, conforme podemos ver nas análises dos vídeos pornôs.

A produção da masculinidade normativa parece ser algo recorrente no sexo entre homens. Especificamente no que se refere à pornografia gay, Marcelo Reges (2004) mostra como o padrão de masculinidade presente nos filmes pornográficos une elementos como corporalidade, masculinidade e homoerotismo. Victor Barreto (2017), por sua vez, ao fazer uma etnografia de festas de orgias para homens, ressaltou a preocupação com o afastamento do feminino em determinadas práticas sexuais. Tal afastamento não se reduz apenas às performances gestuais e voz, mas está atrelado às corporalidades e seus usos nas próprias práticas sexuais. Para o autor, a masculinidade é sinônimo de força excepcional conferida somente aos homens com pênis que performam corporalmente aquilo que é esperado de seu sexo. Espera-se encontrar nesses homens ainda coragem para demonstrar disposição durante as longas interações sexuais nessas festas, o tempo de duração das festas que costuma ser longo, a ininterrupção do sexo, o cheiro forte de sexo que o ambiente exala, a força do ritmo das penetrações etc. Demanda-se, ainda, bom desempenho para resistir ser passivo nas relações, pois o pênis do parceiro pode ser grande e ele ainda pode querer penetrar durante muito tempo. Então o passivo deve resistir nessa relação sem demonstrar dor, mas, sim, disposição, algo que podemos observar, por exemplo, no diálogo do primeiro vídeo descrito neste tópico. Signos e gestos corporais são demonstrados e ensina-se como ser homem nesses espaços. Argumentamos que, no pornô bareback, a pedagogia da masculinização atua também com roteiros já estabelecidos de virilidade e divulga em suas cenas o straight acting, quer dizer, mesmo que estejam em cena homens que fazem sexo com homens, eles não representam traços afeminados, mas são “palpavelmente masculinos” (AMICO, 2001). Richard Miskolci (2017, p. 264), por sua vez, afirma que a pornografia gay “disseminou modelos corporais” e “ensinou formas de se relacionar intimamente”, sendo responsável por sublinhar “a masculinidade ao nível da hipérbole”.

Não é somente por meio da materialidade dos corpos, suas ornamentações, seus adornos e toda performance que o pornô bareback é mobilizado para constituir a pedagogia da masculinização. O pornô bareback com suas técnicas específicas se alia à tecnologia do sexo para produção da masculinidade acionando o discurso normalizador que constitui o homem disposto ao risco. Conforme discutem Gastaldo e Braga (2011, p. 884), “[…] uma das formas de ‘mostrar-se homem’ em nossa sociedade é correr riscos, aceitar desafios, em suma: ‘entrar no jogo’”. Isso de alguma forma aparece em suas análises como associado à vinculação entre masculinidade e esportes, mais especificamente aos esportes de luta nos quais “a conduta masculinizante de um lutador” é “[…] ‘encarar qualquer um’ e correr todos os riscos que isso implica” (GASTALDO; BRAGA, 2011, p. 890). Uma associação que pode ser feita com a pedagogia da masculinização do currículo bareback quando neste também é acionada, por meio dos vídeos pornôs, a vinculação entre masculinidades e esportes, dentre eles o boxe, como mostrado anteriormente.

A valorização da masculinidade é algo que se reitera e se atualiza nas práticas homoeróticas, sendo, na prática bareback, essa valorização visível e atuante. Funciona, pois, como uma pedagogia que incide nos processos de subjetivação e, de algum modo, se corporaliza. Além de Reges (2004) e Barreto (2017), Mowlabocus (2015, p. 72) mostra como há uma “masculinidade específica” que continua a ser cultivada dentro da cultura gay e no ciberespaço onde essa cultura se constitui e se difunde. Como a prática bareback está associada à cultura gay, por ser uma prática homoerótica, podemos perceber como a masculinidade específica incide em sua construção. Além desses autores, Miskolci (2015) evidencia que, nas formas sutis de sujeição que envolvem a adesão dos próprios sujeitos, no ciberespaço na busca por parceiros on-line, os usuários acreditam que o sucesso dessa busca dependerá da “criação de um corpo que exige técnicas masculinizantes” (MISKOLCI, 2015, p. 70). Dado esse contexto, Dean (2009, p. 11, tradução nossa) elabora o argumento de que “[…] enquanto a masculinidade continuar sendo uma fonte de fascínio e desejo para os homens gays, a iconografia bareback constituirá um poderoso objeto de fantasia”.

Considerações finais

Com as análises aqui empreendidas, podemos perceber que os vídeos pornôs exibidos no currículo bareback atuam por meio de técnicas específicas, de forma a divulgar, ensinar e prescrever um certo modo de ser jovem homem barebacker: aquele que tem suas conduções da conduta prescritas pelas normas de gênero, as quais atuam em articulação com a sexualidade. Os locais em que as cenas são filmadas, em conjunto aos objetos dispostos nesses espaços, as roupas e os acessórios utilizados pelos homens, os corpos e as vozes dos personagens e a ausência da expressão de carinho e sentimentos de afeto, ao serem mobilizados como técnicas nas cenas dos vídeos pornôs, contribuem para ativação e desempenho da pedagogia da masculinização no currículo bareback.

No âmbito da prática sexual bareback, o acionamento dessa pedagogia incide também na construção discursiva dessa prática. Outro fator destacado também neste artigo foi que a presença dos corpos “sarados” e jovens nas cenas, como vinculados a corpos saudáveis se constitui como um efeito de poder que procura fabricar a prática bareback como algo de/para pessoas saudáveis. Dadas essas características, os vídeos pornôs divulgados no currículo bareback estão, de algum modo, vinculados a uma “[…] regulação heteronormativa de práticas sexuais, sentimentos, amores, corpos, processos identitários, parte significativa de todo um processo de normalização da sexualidade na cama da vida” (OLIVEIRA, T. R. M. de, 2013, p. 236).

No que se refere à relação entre currículo bareback e pedagogia da masculinização, essa última compõe o primeiro. Pedagogia que ganha, pois, no âmbito desse currículo, contornos específicos, pois deixa de ser apenas mais uma forma de reiteração das normas de gênero, para se alinhar a propósitos específicos, qual seja: constituir a prática bareback como distante das características dos homens afeminados e aproximá-la do sentido normativo de homem másculo. O que parece também contribuir com outro propósito que é fabricar essa prática como saudável, isso dado os reiterados discursos que associam corpos sarados com saúde e, ainda, os associam à juventude, conforme discussão realizada.

Assim, ainda que outras pesquisas, como já mostramos aqui (BARRETO, 2017; REGES, 2004), evidenciem que há uma masculinidade normativa espraiada na cultura gay e na pornografia, esta pesquisa mostra que, de algum modo, essa masculinidade continua tendo espaço para atuação, funcionando como uma prática de poder que incide na produção dos corpos e das subjetividades. Nesse sentido, os vídeos pornôs como uma tecnologia que nos é contemporânea se articulam aos ditos que compõem a cultura bareback, tornando-se mais uma forma de ensinar aos indivíduos como eles devem conduzir suas condutas. Mesmo que, em sua grande maioria, os vídeos não sejam constituídos de diálogos, é possível perceber que as formas de organização, de condução e de montagem conduzem a formas de enunciação que, no conjunto àquilo que é divulgado no currículo investigado, produzem a masculinidade e a prática bareback de uma certa forma.

Os vídeos pornôs bareback divulgam práticas específicas que rompem com convenções predominantemente difundidas de aceitabilidade e de normalidade no que diz respeito ao uso do preservativo nas práticas sexuais. Nessa perspectiva, podemos compreender que “[…] se parte do apelo do sexo gay consiste em sua transgressão”; então, “[…] o bareback pode ser considerado uma estratégia para reinscrever o erotismo na esfera da transgressão” (DEAN, 2008, p. 82, tradução minha). Nesse sentido, ao mobilizar um certo modo de exibição, os vídeos pornôs bareback emergem contestando o regime normativo da prevenção com o uso compulsório da camisinha, incitando a transgressão a essas normas. Assim, se, por um lado, o currículo bareback opera, incitando o HSH a uma experiência transgressiva, há também, por outro lado, formas de reiteração de normas. Podemos afirmar, portanto, que, nesse currículo, “[…] as hierarquias, as normas e proibições formam o repertório para o erotismo, a partir de todo um esforço de transgressão” (GREGORI, 2014, p. 50).

Ainda que as normas de gênero divulgadas nesse currículo já sejam tensionadas há algum tempo, aqui elas parecem ganhar força sem alguma inibição. Isso nos leva a questionar: Estaria em curso uma transformação da produção da masculinidade nos vídeos pornôs com a amplo espraiamento da cultura bareback no ciberespaço? Uma transformação que implica, ao mesmo tempo, reiterar conhecidos discursos da masculinidade diante da desestabilização e dos deslocamentos introduzidos pelos movimentos sociais e pelas pesquisas acadêmicas? São nuances que ganham aqui contornos pedagógicos e curriculares específicos que não podem ser desconhecidos por nós. Isso porque, conforme discutimos aqui e defendido por Richard Miskolci (2017, p. 264), “a pornografia gay” tem “um efeito muito além do puramente sexual”.

Mudanças, permanências e negociações continuam acontecendo no âmbito das práticas eróticas, ganhando contornos específicos a partir da cibercultura. Algo ainda pouco explorado, conforme defende Miskolci (2017). Há assim, segundo o autor, uma “[…] carência de um vocabulário conceitual e teórico mais afeito à análise das transformações culturais e políticas recentes envolvendo as diferenças, especialmente as de sexualidade e de gênero” (MISKOLCI, 2017, p. 265). As discussões aqui empreendidas são feitas para contribuir com o preenchimento dessa lacuna e tensionar essas temáticas desde o campo da educação e do currículo.

Pesquisar essas pedagogias e divulgar as respectivas possibilidades analíticas consistem em importantes estratégias que podem contribuir também para a compreensão das juventudes contemporâneas. São desafios para o campo educacional que desejamos ver enfrentados, a fim de ampliarmos nosso alcance no entendimento dos mais diferentes sujeitos e de suas múltiplas formas de vida. O barabeck é uma delas.

*O primeiro autor deste texto recebeu bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para realização de pesquisa de Doutorado intitulada “Cavalgar sem sela”: ensinamentos, demandas e incitações do currículo bareback em oposição às normas do uso do preservativo, da qual este texto é um recorte.

1Esse termo será utilizado aqui uma vez que “[…] alguns homens casados [com mulheres] e outros homens ostensivamente heterossexuais participam regularmente de atividades eróticas casuais com pessoas do mesmo sexo sem se considerarem gays” (DEAN, 2009, p. 11, tradução nossa), assim como ocorre com a prática bareback.

2Ver trabalho completo em Oliveira (2021).

3Para mais detalhes sobre os assuntos específicos, ver: Currículo da nudez (SILVA, 2018); Currículo dos Blogs (MEIRELES, 2017); Currículo do Facebook (EVANGELISTA, 2016); Currículo dos livros de literatura infantil (FREITAS, 2008); Currículo do forró eletrônico (CUNHA, 2011); Currículo do Orkut (SALES, 2010); Currículo dos filmes (SILVA, 2010); Currículo da mídia (RIBEIRO, 2010).

4Apesar dos blogs e dos perfis utilizados para esta pesquisa estarem públicos, por questões éticas, optamos por não divulgar especificamente quais são, pois podem identificar os indivíduos responsáveis pelas publicações, considerando que são informações que, de algum modo, podem trazer efeitos para estes se utilizadas em pesquisas (FRANZKE et al., 2019).

5Neste texto, analisamos apenas a pedagogia da masculinização.

6Sobre sons no pornô, ler Mitarca (2015) e Zeischegg (2015).

7Conforme destacado por Ferrari (2014), cada sujeito se aproxima e se distancia de uma forma de viver a homossexualidade, nos impossibilitando de afirmá-la no singular. Entre essas formas, estão os modos afeminados e daqueles que não aderem ao discurso normativo de gênero. Para mais detalhes, ver ainda Megg Oliveira (2017), Thiago Ranniery (2016) e João Silvério Trevisan (2018). É preciso dizermos que, nas produções discursivas das homossexualidades, a norma também disputa espaço e significados instaurando, assim, a homonormatividade, que se trata de “[…] uma modalidade particular da heteronormatividade, através da qual se mostra como a população gay e lésbica se torna aceitável aos olhos da heterossexualidade hegemônica através de uma progressiva conformidade à heteronormatividade” (OLIVEIRA, J. M. de, 2013, p. 69).

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Recebido: 26 de Julho de 2021; Revisado: 01 de Fevereiro de 2022; Aceito: 04 de Fevereiro de 2022; Publicado: 16 de Fevereiro de 2022

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