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Práxis Educativa

versão impressa ISSN 1809-4031versão On-line ISSN 1809-4309

Práxis Educativa vol.18  Ponta Grossa  2023  Epub 27-Out-2023

https://doi.org/10.5212/praxeduc.v.18.22415.081 

Resenha

SUASNÁBAR, C.; WEBER, M. J.; OLIVEIRA, N. C. de (org.). Os intelectuais em contextos nacionais e internacionais: educação, intervenções e culturas. 1. ed. Porto Alegre: Editora FI, 2022. v. 2. 583 p.

Marieli de Oliveira Ávila* 
http://orcid.org/0009-0007-3196-2770

*Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail: <marihh17@hotmail.com>.

SUASNÁBAR, C; WEBER, M. J; OLIVEIRA, N. C. de. Os intelectuais em contextos nacionais e internacionais: educação, intervenções e culturas. 1. ed., Porto Alegre: Editora FI, 2022. v. 2, 583 pp.


O livro Os intelectuais em contextos nacionais e internacionais: educação, intervenções e culturas - volume 2 foi publicado em 2022 e organizado por Claudio Suasnábar, (Universidad Nacional de La Plata -UNLP/Argentina), Maria Julieta Weber (Universidade Estadual de Ponta Grossa -UEPG/Brasil), Natália Cristina de Oliveira (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS/Brasil). Faz parte dos estudos do Grupo de Pesquisa “História, Intelectuais e Educação no Brasil e no contexto internacional” e constitui-se em resultado de pesquisas de projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Contempla trabalhos de cinco países latino-americanos: Brasil, Argentina, México, Paraguai e Chile. A obra tem 583 páginas, contando com sumário, prefácio, apresentação, 18 capítulos e informações sobre os autores. O livro de Suasnábar, Weber e Oliveira (2022) está organizado em quatro partes: 1) Intelectuais e a América Latina; 2) Intelectuais, fronteiras e produção cultural; 3) Intelectuais e ideias educativas; 4) Intelectuais e Ensino Superior.

A primeira parte do livro, “Intelectuais e a América Latina”, é composta por cinco capítulos. O Capítulo 1, denominado A cien años de un sueño: la Federación de Intelectuales Latinoamericanos 1921, escrito por Elida Lucila Campos Alba, aborda a organização dos estudantes por toda a América Latina em defesa dos ideais democráticos e contra formas de opressão a partir de 1918. Após a criação da Federação dos Intelectuais Latino-americanos, cobrava-se uma participação efetiva dos estudantes na vida política e econômica para que ocupassem cargos públicos, tomando posições de frente e se opondo aos governos antidemocráticos. Nesse sentido, no fim desse capítulo, são deixadas reflexões acerca da situação atual da América Latina e diversas questões sobre o tema, dentre elas, vale destacar: Quem são considerados os intelectuais? O número de pesquisas sobre mulheres intelectuais vem aumentando?

O Capítulo 2, escrito por José Manuel Silvero Arévalos e Cristian David Andino Rojas, denominado Cecilio Báez (1862-1941): pensador paraguaio, traz questões acerca desse expoente do positivismo no Paraguai, que foi Cecilio Báez. De acordo com os autores, o intelectual foi uma importante figura política, exercendo o cargo de presidente da República no período de 1905 a 1906. É destacado que Báez aborda a respeito da falta de instrução do povo paraguaio, que resultou na carência de costumes democráticos, tornando-se figura central no combate ao atraso material da cultura naquele país. Ele professava sobre o positivismo, e suas menções acerca dos guaranis evidenciava sua concepção de progresso, o qual estaria ausente na vida dos guaranis. Há diversas outras referências sobre positivismo nos conceitos de Báez ao se referir aos guaranis. Areválos e Rojas, além de abordarem a respeito do pensador paraguaio Báez, trazem também autores que fazem críticas e apontam as contradições do intelectual.

O Capítulo 3, denominado Orden y progreso: antecedentes histórico-filosóficos de la planificación social, foi escrito por Jorge Alarcón Leiva e Guillermo Ortiz Morán. Inicialmente, os autores abordam a obra de Michael Sandel (2021), um trabalho de grande difusão no Chile, que argumentou sobre o mérito como base das organizações das sociedades. Esse mérito, que favorecia apenas a competência, causava anomalias sociais, tensões entre os indivíduos e não considerava a importância da cooperação social. Os autores abordam ainda a respeito do progresso do conhecimento ao progresso geral da humanidade, adentrando as discussões de Augusto Comte acerca do tema.

Claudio Suasnábar é o autor do Capítulo 4, intitulado Intelectuales y expertos de la educación: debates teóricos y aportes para pensar este campo de estúdios en la historia de la educación en América Latina. No decorrer do texto, Suasnábar discute sobre o papel dos intelectuais nas sociedades da América Latina, assim como a emergência da institucionalização da educação como campo disciplinar. Aborda, também, as diferentes definições de disciplina e conceitua o que chamou de elite cultural. O autor discute as redes intelectuais, os periódicos acadêmicos e a imprensa educacional, sua circulação, recepção e apropriação de ideias, seus conceitos e modelos. Por fim, ele aborda os intelectuais da educação e as escalas de análise entre o nacional-local, regional e global-transnacional.

O Capítulo 5, denominado El intelectual como acontecimiento: los aportes de Mauricio Amílcar López alcristianismo y al cambio social latino-americano, escrito por Sonia Elizabeth Riveros, faz parte de uma investigação de Pós-doutorado realizada na Universidade Pedagógica Nacional, da Colômbia, com a orientação do Dr. Alberto Martínez Boom. Esse capítulo analisa a rede de enunciados do contexto social e político dos anos de 1960 e 1970 em que atuou o referido filósofo, argentino e professor. Este, segundo a autora, foi um intelectual de grande influência como militante do movimento ecumênico latino-americano. Nesse sentido, Mauricio López foi uma figura intelectual importante na formação política com um viés comprometido com a sua realidade social argentina e latino-americana.

A segunda parte do livro, “Intelectuais, fronteiras e produção cultural”, é composta por cinco capítulos, começando com o Capítulo 6, intitulado A força pós-colonial dos intelectuais africanos: de Cheikh Anta Diop a Achille Mbembe, de Luís Fernando Lopes Pereira. Nesse capítulo, o autor apresenta um panorama do pensamento africano em duas fases: Pan-africanismo e Pós-colonial. É destacada a função que os intelectuais africanos tiveram na construção de um conhecimento próprio para o continente, superando o eurocentrismo. Os autores apresentam ainda a civilização e a colonização como antagônicas, destacando que o processo de conquista de território é algo que violenta o colonizado. Dessa forma, a colonização vinculada à expansão capitalista desciviliza.

O Capítulo 7, denominado Produção intelectual de um Paraná loiro e europeu: o Brasil que nunca foi diferente, de Maria Julieta Weber, aborda a “mancha loira” e os supostos “fenômenos de aculturação no Paraná” na historiografia regional do estado, um dos que compõem a região Sul do Brasil. Ao apresentar o embate entre Cecília Maria Westphalen e Wilson Martins, a autora ilustra os estudos e as fontes utilizadas por Westphalen sobre a escravidão no Paraná, contrapondo a ideia de um estado branco e europeu, trazendo exemplos de tais produções pela historiografia regional. Em seguida, Weber aponta que Wilson Martins defendia a ideia de que o Paraná seria um Brasil diferente, com um tipo físico branco semelhante aos europeus, porém sem considerar a existência de portugueses, negros e indígenas. Por fim, a autora traz a importância da existência de outros debates acerca da história regional do Paraná, para que não se consubstancie por uma visão idealizada e geradora de preconceitos a partir da própria escrita da história.

Erivan Cassiano Karvat escreveu o Capítulo 8, intitulado Intelectuais regionais: reflexões sobre uma categoria problemática, no qual aponta a questão em torno dessa temática dos intelectuais regionais. O tema emergiu de um trabalho empírico baseado em fontes documentais acerca de um grupo de intelectuais, organizado em um círculo cultural na cidade de Ponta Grossa, Paraná, entre 1947 e 1948, o Centro Cultural Euclides da Cunha (CCEC). Faris Antônio Salomão Michaele (1911-1977) foi o fundador-presidente do CCEC e manteve correspondência com outras instituições nacionais e algumas estrangeiras. Partindo disso, o autor traz aspectos conceituais a respeito do intelectual regional e história intelectual em perspectiva crítica.

Dando continuidade ao tema dos intelectuais, o Capítulo 9, denominado Por uma filosofia teológica da história em movimento: Frei Constantino Koser, traços de um intelectual brasileiro na década de 1960, escrito por Patrícia Carla de Melo Martins, traz categorias conceituais acerca do que se pode entender por intelectual. Em seguida, a autora aborda a produção intelectual de Frei Constantino Koser na década de 1945 a 1965, sendo dez artigos e um livro autoral. Após a análise dos documentos, constatou-se que o Frei Constantino Koser fazia parte do movimento intelectual que invocava a emergência de uma crise histórica estabelecida na identidade humana a qual a Igreja Católica estava envolvida.

O Capítulo 10, denominado La formación de una voluntad política ilustrada: los años juveniles de Juan Carlos Portantiero (1952-1963), escrito por José María Casco, inicia ressaltando sobre a importância do meio em que estão inseridos os intelectuais. O autor afirma a importância dos espaços para o cultivo de ideias para aqueles que desejam iniciar a vida intelectual. Partindo disso, o capítulo busca analisar o processo de formação do intelectual argentino Juan Carlos, especialmente seus anos no Partido Comunista de seu país, dando ênfase aos espaços de sociabilidade e instituições que fizeram parte de sua formação. Por conseguinte, o autor aborda os meios de tornar a revolução possível, afirmando que Portantiero foi um dos intelectuais que entraram em ação nessa conjuntura.

A terceira parte do livro, “Intelectuais e ideias educativas”, possui quatro capítulos e tem início com o Capítulo 11 - Os leitores vão ser crianças. Teu estilo estava muito “gente grande”: a infância em Monteiro Lobato (1920-1940) - escrito por Maria Cristina Gomes Machado e Laís Pacifico Martineli. A frase “Os leitores vão ser crianças, teu estilo estava muito gente grande” foi escrita por Monteiro Lobato (1882-1948) em correspondência com seu amigo Godofredo Rangel (1884-1951), em agosto de 1924. As autoras trazem a discussão acerca da percepção de infância partindo da maneira de escrever para as crianças. Abordam também o diálogo de Lobato com os escolanovistas e os pressupostos educacionais incorporados por ele. Problematizam, ainda, sobre as experiências literárias que Monteiro Lobato dialogou para a elaboração de uma obra literária infantil diferente de todas as produzidas até então. Para Lobato, a linguagem utilizada em seus textos infantis deveria ser simples e clara para o seu público. Por fim, as autoras argumentam que Lobato captou questões educacionais de seu tempo, colocando a infância como central no processo educativo.

Na sequência, o Capítulo 12, denominado Educação das crianças na legislação educativa do Mato Grosso: os centros educacionais (1971), escrito por Magda Sarat e Elizabeth Figueiredo Sá, é resultado da parceria das pesquisadoras de dois estados do Brasil: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O capítulo traz a reflexão da educação institucional das crianças pequenas desses lugares, mencionando as semelhanças e as diferenças, porém tendo as mesmas origens geográficas, considerando que, até 1977, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul formavam um só estado. As autoras apresentam aspectos relacionados à história da educação da criança, pautadas em suas pesquisas empíricas realizadas nos dois estados do Centro-Oeste brasileiro. Dessa forma, o capítulo apresenta as propostas legislativas que integravam as mensagens de governadores enviadas à Assembleia Legislativa de Mato Grosso e quais as propostas para a educação das crianças estão expressas nos documentos.

O Capítulo 13, intitulado Circulación de ideas en torno a la formación docente: una lectura de la reforma educativa Argentina de 1968 en clave regional, escrito por Claudia Marcela Aberbuj, versa sobre a reforma orgânica do sistema de educação da Argentina no ano de 1968. Para tanto, a autora menciona o contexto político que antecedeu esse período, que foi o golpe militar ocorrido em 28 de junho de 1966. Em seguida, contempla a questão da reforma educacional argentina em um contexto regional, enfatizando que as propostas de reformas educacionais abrangentes ocorriam em diversos países concomitantemente. Na América Latina, esse impulso reformista ocorreu na década de 1965 a 1975. Outro aspecto discutido no decorrer do texto é a questão da entrada do tema na agenda das políticas públicas e na formação de professores como parte do problema educacional.

Juliana Bellafronte é a autora do Capítulo 14 - Para além da medicina: trajetória intelectual de Candido de Mello Neto. A autora traz as discussões presentes na sua pesquisa de Mestrado em História, que abordou a trajetória intelectual de Candido de Mello Neto, o primeiro psiquiatra de Ponta Grossa, Paraná. A autora abordou as relações interpessoais do médico e usou como fonte de pesquisa documentos pessoais como fotos, certidões, certificados, diplomas, recortes de jornais, boletins escolares, convites de formatura, passaportes e cartas. Utilizou, também, as entrevistas realizadas com a família em 2018. A autora evidencia que o estudo crítico do intelectual estudado propicia compreender a apropriação de ideias e de práticas médicas e sociais a partir dos grandes centros, problematizando a questão para a esfera local.

A quarta e última parte do livro, “Intelectuais e Ensino Superior”, formada por outros quatro capítulos, dá início com o Capítulo 15, intitulado Los/as estudiantes universitarios argentinos/as, en la década del sesenta, como intelectuales en tránsito: del reformismo y el humanismo a la comprensión del peronismo, tem como autor Martín Aveiro e é dedicado à memória de Alcira Argumedo e Horacio González. O trabalho trata de uma pesquisa de Pós-doutorado pela UNLP, Argentina. No decorrer do texto, o autor contempla a questão de que universitários exerceram o papel de intelectuais no período de formação estudantil e analisa a década de 1960, dividindo-a em duas partes: a primeira de 1960 a 1964 e a segunda parte de 1965 a 1969. Nesse sentido, o capítulo mostra o movimento de intelectuais em formação que se iniciaram no reformismo ou no humanismo da confissão católica (com sua variante integralista) e migraram para a compreensão do movimento peronista.

Luciana Carreño traz as discussões de sua pesquisa de Pós-doutorado no Capítulo 16, intitulado Modalidades de intervención intelectual en torno a la extensión universitaria en la Universidad de Buenos Aires. A autora aborda a Reforma Universitária com as demandas de renovação educacional e pedagógica e suas consequências na condição de intelectuais por parte da juventude. Nesse sentido, o objeto desse capítulo são as diversas modalidades de intervenção cultural por meio do desenvolvimento da extensão na Universidade de Buenos Aires (UBA). O texto contempla as discussões sobre as práticas de extensão universitária e intervenção intelectual antes e depois do reformismo.

O Capítulo 17, intitulado Educación Superior y prensa en la provincia de Río Negro. Los primeros años de la formación de docentes para el nivel primario (1968-1973), foi escrito por Glenda Miralles e Emmanuel Stefanelli. As autoras apontam a imprensa escrita da província de Rio Negro como um importante recurso de análise, pois demonstram as concepções, os interesses e as visões sobre um determinado momento e problemas da educação regional. Nesse viés, as pesquisadoras afirmam que, ao considerarem a imprensa como o objeto de estudo, compreendem-na como um ator político e social que faz a mediação entre o Estado e a sociedade. O texto apresenta a análise da formação de professores da educação primária em Instituições de Ensino Superior em Rio Negro nos anos de 1968 a 1973. Para tanto, utilizam como fonte de pesquisa e fazem a análise de dois jornais provinciais: o Diário Río Negro (DRN), publicado na cidade de General Roca, e La Nueva Era (LNE), publicado na cidade de Viedma-Carmen de Patagones.

O Capítulo 18, o último da obra, denominado El pensamiento educativo de Pascual Pezzano y la Universidad Obrera Nacional durante el primer peronismo, foi escrito por Álvaro Sebastián Koc Muñoz e faz a reconstrução da trajetória acadêmica do engenheiro Pascual Pezzano. O autor explana sobre as principais ideias educacionais de Pezzano e como foram colocadas em prática por meio da organização acadêmica da Universidade Nacional dos Trabalhadores (UON) no decorrer do primeiro governo peronista. O autor faz uma revisão biográfica e expõe a relação de Pezzano com o campo disciplinar da Engenharia. Faz apontamentos ainda sobre a Faculdade de Engenharia da Universidade de Buenos Aires, engenheiros “especialistas” e a posição de Pezzano.

Por fim, é imprescindível destacar que esta síntese traz apenas a ideia central de cada capítulo e, embora cada um tenha suas singularidades, o que é central no livro é o debate sobre os intelectuais e/ou a história intelectual, em contextos nacionais e internacionais. Por meio da obra, é possível compreender a atuação de intelectuais em diferentes esferas, de modos específicos e amplos. É nesse sentido que se destaca a importância da leitura da coletânea, pois ela traz a possibilidade de ampliar os conhecimentos sobre os diferentes contextos históricos da América Latina.

Referências

SANDEL, M. La Tiranía del Mérito: ¿Qué ha sido del bien común? Madrid: Penguin Ramdon House, 2021. [ Links ]

SUASNÁBAR, C.; WEBER, M. J.; OLIVEIRA, N. C. de. (org.). Os intelectuais em contextos nacionais e internacionais: educação, intervenções e culturas. 1. ed. Porto Alegre: Editora FI, 2022. v. 2. [ Links ]

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