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Linhas Críticas

Print version ISSN 1516-4896On-line version ISSN 1981-0431

Linhas Críticas vol.27  Brasília  2021  Epub Aug 03, 2021

https://doi.org/10.26512/lc27202138902 

Dosier: Participaciones y resistencias de las infancias y juventudes de América Latina: Agencia, protagonismo y movilización colectiva

Apresentação

Reflexões em torno das noções de participação, resistência e ação coletiva a partir de crianças e jovens

Maria Lidia Bueno Fernandes1 
http://orcid.org/0000-0003-4878-3115

Angélica Rico Montoya2 
http://orcid.org/0000-0002-4743-2615

Kathia Núñez Patiño3 
http://orcid.org/0000-0002-0321-9572

Gialuanna Enkra Ayora Vázquez4 
http://orcid.org/0000-0002-8487-3268

1Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo (2009), Professora Associada da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Líder do Grupo de Pesquisa Sujeitos, Territórios e a Construção do conhecimento. Membro da Rede Latino-americana de Pesquisa e Reflexão com meninas, meninos e jovens (REIR).

2Doutora em Pesquisa Educacional pela Universidade Veracruzana (2018). Professora pesquisadora do Instituto de Estudos Superiores Rosario Castellanos. Membro fundador da Rede Latino-americana de Pesquisa e Reflexão com meninas, meninos e jovens (REIR).

3Doutorado em Pesquisa Educacional pelo Instituto de Pesquisa em Educação, Universidade Veracruzana (2018). Professora pesquisadora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Autônoma de Chiapas (UNACH). Membro do Corpo Acadêmico “Infância e juventude em contextos de diversidade”. Membro fundador da Rede Latino-americana de Pesquisa e Reflexão com meninas, meninos e jovens (REIR).

4Doutora em Pesquisa Educacional pela Universidade Veracruzana (2018). Membro fundadora da Rede Latino-americana de Pesquisa e Reflexão com meninas, meninos e jovens (REIR) e da Rede Local pelos direitos de meninas, meninos e adolescentes em Veracruz (REDNNAVER). Professora da Faculdade de Sociologia da Universidade Veracruzana.


Com muito entusiasmo, apresentamos o dossiê[1] “Participações e resistências das infâncias e juventudes da América Latina: agência, protagonismo e mobilização coletiva”, concebido a partir das discussões geradas no âmbito da Rede latino-americana de pesquisa e reflexão com crianças e jovens (REIR). Trabalhando em uma perspectiva de articulação de pesquisadores no âmbito da América-Latina e contando com pesquisadores/as de língua espanhola e portuguesa, a REIR tem, como objetivo central, tornar visíveis as agências, os protagonismos e os co-protagonismos com as crianças e com os/as jovens, na perspectiva da transdisciplinaridade. Assim, este dossiê, que abre o diálogo para o debate, representa, ainda, espaço acadêmico para construção de vínculos e de alianças para visibilizar essa temática em favor de crianças e jovens.

A temática do dossiê não poderia ser mais oportuna, já que foi concebido em um momento de emergência sanitária, com isolamento social, momento em que se vivenciam grandes incertezas e uma desconfortável anormalidade que parece querer persistir como regra. Além disso, trata-se de um momento em que jovens, de diversas localidades da América Latina, resistem a governos autoritários, a múltiplas violências, como expulsões de seus territórios, às milícias e aos paramilitares, ao narcotráfico, ao racismo, entre outros, e se levantam em favor da democracia, da justiça social, da equidade e contra as medidas neoliberais que sufocam a região.

Assim, a temática deste dossiê: infância e juventude, na perspectiva da participação, resistência, protagonismo e ação coletiva, impõem-se, considerando que, em momentos mais explícitos de crise, de um modo geral, esses sujeitos estão presentes no debate e em ações concretas, sofrendo, porém, com processos que vão da invisibilidade, ao silenciamento ou mesmo à violenta repressão. Portanto, esse dossiê procura ser um espaço que acolhe, escuta, visibiliza e ecoa a grande diversidade de maneiras pelas quais crianças e jovens agem no mundo e contribuem para definir histórica, social e culturalmente as maneiras pelas quais expressam agência, protagonismo e constroem mobilização coletiva. Consideramos que eles/as são capazes de organizar, atender, propor e gerar processos relevantes para resolver suas necessidades e problemas sociais junto aos adultos, embora saibamos que, muitas vezes, façam isso sozinhos/as. Dessa forma expressam-se não apenas como atores e agentes sociais, mas como agentes políticos; não apenas como indivíduos, mas como coletivos.

Propondo a reflexão sobre os conceitos de participação, resistência, agência, protagonismo e mobilização coletiva, buscamos decantar reflexões coletivas sobre o alcance e as limitações desses conceitos e apresentar várias maneiras pelas quais a infância e a juventude se expressam contra a estrutura das relações sociais construídas historicamente, procurando, ainda, abordar perspectivas que possibilitem desvelar os mecanismos que contribuem para a naturalização da desigualdade.

Cumpre destacar que o conceito de ação tem sido usado como sinônimo de agência, muitas vezes sem problematizar ou reconhecer as múltiplas formas de ação de crianças e jovens contra a estrutura nos processos de reprodução, produção, apropriação, resistência e transformação. No entanto, esse debate encontra caminhos do pensamento latino-americano e de movimentos sociais que atendem à dimensão da subjetividade e da alteridade, ou seja, o poder da "experiência" e do "encontro", dos contextos coletivos que constroem o comum e não apenas o social. Essas contribuições apoiam-se em experiências de pesquisa com crianças e jovens para gerar dispositivos metodológicos que explicitam as relações de poder e possibilitam condições para a participação real de crianças e jovens nos processos de produção de conhecimento que permitem uma compreensão mais ampla e reflexiva de suas experiências diárias e, dessa forma, a compreensão da organização política, econômica, cultural, entre outros, que marcam suas experiências no mundo.

O conceito de resistência acionado neste dossiê refere-se à ação consciente à intencionalidade, colocando a motivação política no centro do debate, de forma a compreender a resistência como indignação política e não como desamparo aprendido. Assim, o resiliente não é quem renuncia à luta, mas quem se propõe a mudar sua sociedade e suas condições de existência, o sujeito político da resistência, ou o coletivo dele derivado, mudando e impactando o grupo imediato.

Sabemos que crianças e jovens estão expostos/as a múltiplas dimensões da violência (estrutural, simbólica, física ou psicológica) manifestadas na violência política estatal ou intrafamiliar, que naturaliza comportamentos sociais como punição, agressão ou abuso, enquanto constrói sujeitos de invisibilidade e anonimato, muitas vezes submetidos a condições de interseccionalidade que os/as (re)vitimizam e excluem.

Nessa perspectiva, este dossiê procura ecoar as vozes de crianças e jovens, dialogar com eles/as, conhecer e dar a conhecer suas múltiplas realidades. Assim, os artigos: “Espacios lúdicos y territorios para niños y niñas: ludotecas en zonas vulnerables[2]; “Bibliotecas comunitárias: dialogismo y colaboracióncon las niñeces para descolonizarnos[3]; “Del efecto phármakon a la reinvención de subjetividades infantiles en la cibercultura[4] e “Vivências infantis nos territórios do Paranoá e Itapoã no Distrito Federal” [5] apresentam processos coletivos, realidades e contextos que facilitam a construção de novos conhecimentos, articulam a perspectiva da educação e dos direitos a partir das vozes dos próprios atores e de suas formas de ver e entender o mundo. Os artigos “Infâncias e agência política em ações coletivas e movimentos sociais latino-americanos[6] e “Ser zapatista a los 4 años. Socialización y subjetivación de niños tseltales[7] analisam as agências e resistências, crianças na defesa de autonomias e territórios, bem como a participação infantil no âmbito dos movimentos sociais. Cabe destacar que essas participações estão ancoradas na avaliação positiva da identidade pessoal e coletiva, bem como na atuação de crianças, homens e mulheres para a construção de sua autonomia territorial, da defesa de seu território e dos recursos naturais. Trazemos também metodologias colaborativas, horizontais e reflexivas com crianças e jovens que permitem construir espaços nos quais se estabelecem múltiplos lugares de enunciação dialógica, que compreendem resistência e transformação social, ao mesmo tempo em que apresentam as dificuldades que enfrentam, abordagem expressa no artigo: “Por que rimos das crianças?[8].

Este dossiê apresenta uma miríade de realidades e contextos sociais, econômicos e culturais. Nele evidencia-se a agência de crianças e jovens em estratégias de resistência e sobrevivência - concreta e simbólica. Tal enredo social e político pode ser vislumbrado nos artigos: “Juventudes étnicas universitarias, procesos organizativos y espacios de incidencia en Monterrey, México[9] e “Jóvenes indígenas y resignificaciones identitarias en la educación superior intercultural en México[10], nos quais o protagonismo étnico toma relevância em processos de troca, resistência e ressignificação no ensino superior. Já nos artigos “Subjetividades juveniles de la cultura callejera: participación y exclusión en Xalapa” e “Niñez indígena trabajadora migrante en contextos urbanos: participación, poder y resistencia[12] abordam a infância e o trabalho nos grandes centros, tendo as crianças como partícipes do cotidiano numa postura de resistência. A vivência da violência em suas múltiplas dimensões está expressa no artigo: “Habitando la escuela en contexto de violencia armada: negociaciones con su presencia[13].

Assim, trazemos ao público estas reflexões, cientes dos desafios e das potencialidades que a temática enseja. Desejamos boa leitura a todos/as.

Referências

[6] Accardo F., Colares, E., & Gouvea, C. (2021). Infâncias e agência política em ações coletivas e movimentos sociais latino-americanos. Linhas Críticas, 27, e35057. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35057/29613Links ]

[9] Alvarez, L. F. (2021). Juventudes étnicas universitarias, procesos organizativos y espacios de incidencia en Monterrey, México. Linhas Críticas, 27, e35178. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35178/29131Links ]

[8] Barenco Corrêa de Mello, M., Moreira Lopes, J. J., & Carneiro Lima, M. F. (2021). Por que rimos das crianças? Linhas Críticas, 27, e35191. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35191/30424Links ]

[5] Corrêa, M. de S., & Fernandes, M. L. B. (2021). Vivências infantis nos territórios do Paranoá e Itapoã no Distrito Federal. Linhas Críticas, 27, e35202. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35202/29577Links ]

[2] González, M. P., Corvalán, F., & Iglesias, J. L. (2021). Espacios lúdicos y territorios para niños y niñas: ludotecas en zonas vulnerables. Linhas Críticas, 27, e35311. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35311/28774Links ]

[12] Mejía Pérez, R. F. (2021). Niñez indígena trabajadora migrante en contextos urbanos: participación, poder y resistencia. Linhas Críticas, 27, e35051. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35051/29012Links ]

[10] Mira Tapia, A. (2021). Jóvenes indígenas y resignificaciones identitarias en la educación superior intercultural en México. Linhas Críticas, 27, e35328. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35328/29691Links ]

[11] Narváez Aguilera, A. (2021). Subjetividades juveniles de la cultura callejera: participación y exclusión en Xalapa. Linhas Críticas, 27, e35205. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35205/29694Links ]

[13] Niño Vega, N. C. (2021). Habitando la escuela en contexto de violencia armada: negociaciones con su presencia. Linhas Críticas, 27, e35059. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35059/29566Links ]

[3] Nuñez, K., Ayora, G., & Torres, E. (2021). Bibliotecas comunitarias: dialogismo y colaboración con las niñeces para descolonizarnos. Linhas Críticas, 27, e35237. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35237/30327Links ]

[4] Ramírez-Cabanzo, A. B. (2021). Del efecto phármakon a la reinvención de subjetividades infantiles en la cibercultura. Linhas Críticas, 27, e35058. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/35058/29208Links ]

[7] Rico Montoya, A. (2021). Ser zapatista a los 4 años. Socialización y subjetivación de niños tseltales. Linhas Críticas, 27, e36961. https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/36961/30549Links ]

[1]A fotografia da capa do dossiê é de Erik Alí Castillo Cerecedo, pai da criança Salvador Alí Castillo Hernández, que aparece na imagem. As organizadoras agradecem a gentil permissão de uso da fotografia. A imagem está licenciada sob uma licença CC BY-NC-ND 4.0.

Recebido: 04 de Julho de 2021; Aceito: 23 de Julho de 2021

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