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Linhas Críticas

Print version ISSN 1516-4896On-line version ISSN 1981-0431

Linhas Críticas vol.27  Brasília  2021  Epub July 28, 2021

https://doi.org/10.26512/lc27202136319 

Dossiê: As dimensões educativas da luta: saberes e aprendizados da e na militância política

Jovens de direita no ensino médio: marcadores de um estilo de pensamento

Jóvenes de derecha y extrema derecha: posiciones políticas en la escuela secundaria

Ricardo Gonçalves Severo1 
http://orcid.org/0000-0001-8413-7159

Wivian Weller2 
http://orcid.org/0000-0003-1450-2004

Gabrielle Caseira Araújo3 
http://orcid.org/0000-0002-3249-2607

1Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2014). Professor da Universidade Federal do Rio Grande. Membro do grupo de pesquisa Gerações e Juventude.

2Doutora em Sociologia pela Freie Universität Berlin, Alemanha (2001). Professora Associada IV da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Líder do grupo de pesquisa Gerações e Juventude.

3Mestra em Saúde Pública pela Universidade Federal do Rio Grande (2020).


Resumo

O artigo analisa jovens autoidentificados como direita e extrema direita, tendo como base a teoria das gerações de Karl Mannheim e suas análises sobre o conservadorismo como um estilo de pensamento. Os dados originam-se de pesquisa quantitativa realizada em escolas de ensino médio de três municípios do Rio Grande do Sul, com 2.169 respondentes. O desfecho do estudo parte da resposta à autoidentificação política, na escala de 1 (extrema esquerda) a 10 (extrema direita). Identificou-se como estatisticamente significativos para a identificação como direita ou extrema direita o perfil masculino, branco, presente sobretudo em escolas privadas e que professam a religião católica ou evangélica.

Palavras-chave Juventude; Geração; Ensino médio; Cultura política; Direita

Resumen

El artículo analiza a los jóvenes autoidentificados como de derecha y extrema derecha, basándose en la teoría de las generaciones de Karl Mannheim y su análisis del conservadurismo como estilo de pensamiento. Los datos provienen de una investigación cuantitativa realizada en escuelas secundarias de tres municipios de Rio Grande do Sul, con 2.169 encuestados. El resultado del estudio parte de la respuesta a la autoidentificación política, en una escala de 1 (extrema izquierda) a 10 (extrema derecha). Se identificó como estadísticamente significativo para la identificación de derecha o extrema derecha el perfil masculino, blanco, presente principalmente en colegios privados y que profesan la religión católica o evangélica.

Palabras clave Juventud; Generación; Bachillerato; Cultura política; Derecha

Abstract

The article analyzes young people self-identified as right-wing and far-right, based on Karl Mannheim's theory of generations and his analysis of conservatism as a style of thought. The data originate from a quantitative research conducted with 2,169 respondents from high schools in three municipalities in Rio Grande do Sul/Brazil. The outcome of the study is based on the response of individuals to political self-identification, on a scale of 1 (far-left) to 10 (far-right). It is statistically significant that the identification as right-wing or far-right a male and white profile was significantly observed in private Catholic or Evangelical schools.

Keywords Youth; Generation; High school; Political culture; Right-wing

Introdução

Apesar da história sempre haver registrado a existência de coletivos que se identificam com o pensamento ideológico de direita, a atuação desses grupos recebeu pouca atenção nas pesquisas acadêmicas sobre juventude no Brasil ao longo do século XX e início do século XXI. Segundo Soares (1968, p. 243), o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrocada do nazismo fez com que a extrema direita perdesse “sua conceituação nos círculos acadêmicos”, o que pode ser interpretado como um possível motivo que tenha levado à ausência de pesquisas sobre o tema. No Brasil, observa-se ainda uma lacuna no campo de estudos sobre juventude entre os anos 1970 e 1980 como um todo, que só começa a ser preenchida nos anos 1990 (Sposito, 2018). Nessa nova fase que se inicia no final dos anos 1980 e se estende até a primeira década do século XXI, culturas juvenis associadas à estilos musicais como o punk, o rock e o rap (Groppo, 1996; Herschmann, 2000; Dayrell, 2005) ou ao uso da violência, como as gangues, galeras, carecas e turmas organizadas (Costa, 1992; Diógenes, 1998), despertaram maior atenção da academia do que estudos sobre ideologia e participação política dos jovens. Outro campo que começa a ser estabelecido a partir dos anos 1990, estabelece uma conexão entre a Sociologia da Juventude e a Sociologia da Educação, trazendo como foco as relações entre juventude, escola, trabalho e acesso à educação superior (Sposito, 2018). Também nesse campo, a construção do pensamento de direita entre jovens não chegou a se constituir como um tema de pesquisa.

Na última década, com o avanço das tecnologias de comunicação e da internet móvel, surge um intenso processo de conectividade que modificou as formas de convivência social, principalmente para gerações mais jovens. Por meio do acesso ao ciberespaço vê-se a construção de um novo tipo de interação, onde ideias, opiniões e posicionamentos são compartilhados por um grande número de jovens que utilizam a linguagem das redes sociais (Weller & Bassalo, 2020). Nessa onda, grupos jovens de direita também encontraram espaço para colocar em evidência suas manifestações políticas e ideológicas, criando formas de ação, gestão e participação que não se submetem aos mecanismos das mídias tradicionais e seus critérios de seleção e hierarquização.

O presente artigo soma-se a outros estudos que buscam compreender a emergência desses grupos bem como marcadores sociais de jovens que se identificam com o pensamento de direita (Fuks, 2012; Melo, 2018; Nascimento, 2019; Pinheiro-Machado & Scalco, 2018). Para tanto, os autores apoiam-se na definição conceitual do conservadorismo como um estilo de pensamento (Mannheim, 1981; 1986), o qual se expressa em uma cultura política específica como um movimento intencional e proposital em relação às circunstâncias de uma determinada época, ou seja, como um estilo de pensamento que não é estático, assumindo, dessa forma, novas apropriações e características a cada nova geração (Mannheim, 1993). Nesse sentido, também assumimos a premissa mannheimiana de que as unidades de geração desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas diferentes em relação a um mesmo problema que, por sua vez, se materializam em ações e na adoção ou criação de estilos de vida e de pensamento distintos dentro de uma mesma conexão geracional, mesmo entre indivíduos que pertencem a um mesmo meio social e frequentam, por exemplo, a mesma escola. Nessa perspectiva, jovens de direita podem ser tomados como uma unidade geracional, ou seja, como uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida com seus coetâneos que pertencem a mesma conexão geracional (Weller & Bassalo, 2020).

Destacamos ainda, com base nas premissas acima expostas, que a conceituação da direita e da extrema direita é uma tarefa complexa, uma vez que não existe um conceito universal capaz de contemplar as diferentes realidades. Podemos adotar provisoriamente a definição desenvolvida por Bobbio (2011), que aponta como um traço fundamental da direita a naturalização das diferenças. Contudo, também é preciso levar em conta diferenças que podem ser observadas entre grupos políticos de direita e de extrema-direita: o primeiro se caracteriza pela proximidade aos valores neoliberais e aceitação das normas democráticas liberais; já o segundo se identifica com valores autoritários e rejeita normas estabelecidas democraticamente (Severo & Campos, 2020). No Brasil contemporâneo, grupos de extrema direita, especialmente na educação básica, se caracterizam ainda pela rejeição à discussão sobre direitos humanos, diversidade, diferença e sexualidade no âmbito da escola, apresentando, via de regra, motivos religiosos como justificativa. Outra característica desses grupos de extrema direita que operam em situações limite, mas que não são raras, é a perseguição à profissionais da educação (Severo et al. 2019). Essas considerações nos auxiliam a estabelecer uma aproximação teórica com o que é a direita e a extrema-direita e a apresentação do contexto brasileiro na próxima seção do artigo auxilia na compreensão desse fenômeno na atualidade. Ressaltamos, no entanto, que no presente artigo não buscamos definir o que éser de direita ou extrema direita, mas quem são os jovens que se posicionam nesse espectro.

Do ponto de vista empírico, buscamos reconstruir os marcadores sociais relacionados à produção do pensamento de direita e extrema direita dos jovens que participaram da pesquisa, os quais podem ser tomados como possíveis produtores de experiências sociais que, por sua vez, estão relacionadas ao período da vida escolar, mais especificamente ao ensino médio. Adotamos a autoidentificação em escala ideológica (da extrema esquerda à extrema direita) como forma de aproximação com as unidades geracionais no pensamento de Mannheim. Compreendemos que a análise das formas de pensamento destas unidades a partir da autoidentificação na escala ideológica pode auxiliar além da determinação do voto (Fuks & Marques, 2020; Singer, 2000), no entendimento do comportamento político.

Contexto sócio-histórico brasileiro e reorganização conservadora

A análise de uma determinada geração requer a apreensão dos aspectos sócio-históricos que definem quais são os elementos pertinentes para a produção de experiências dos sujeitos que dela participam (Woodman & Wyn, 2013). Torna-se necessário não só identificar os elementos, mas também verificar como estes possibilitam, coíbem ou determinam os caminhos possíveis de produção dessas experiências, que culminarão em estilos de pensamento vinculados a unidades geracionais distintas.

Partindo desse pressuposto, é preciso compreender como dada conjuntura, que se apresenta nos “acontecimentos ou eventos econômicos, sociais, históricos, culturais e demográficos” (Miranda, 2016, p. 133), incide sobre a vida das pessoas e sobre os grupos sociais, especialmente sobre as gerações jovens e seus estilos de pensamento. Assim, a configuração da cultura política, entendida como um “conjunto de orientações subjetivas de um grupo social, que poderia ser uma população nacional ou subgrupo desta, acerca do seu sistema político” (Nishimura, 2009, p. 12) está associada às formas hegemonicamente estabelecidas de tais eventos ou acontecimentos, bem como do modelo estatal e econômico do país em questão.

A construção da sociedade brasileira foi predominantemente autoritária em todos seus períodos históricos (Chauí, 2019). Desde nosso passado escravagista, passando por diversas ditaduras e, mesmo nos períodos democráticos, o país mantém formas de segregação que têm por base o pertencimento étnico-racial, de classe e de gênero (Souza, 2017; 2018). No entanto, essas características não são estáticas e dependem de arranjos conjunturais, que acabam constituindo um “movimento pendular” entre períodos democráticos e contrademocráticos (Avritzer, 2019). Considerando tais características e tendo passado um período de 21 anos de ditadura militar, durante a redemocratização e mesmo no presente, o conservadorismo aparece como um elemento “envergonhado” da cultura política brasileira (Pierucci, 1987), não se assumindo enquanto tal, mas persistindo enquanto prática dominante. Nesse contexto:

A direita tradicional, autoritária, passaria a conviver com a direita contemporânea, mais democrática, ambas veriam a democracia como um compromisso estratégico que poderia assegurar a sobrevivência naquele cenário político […]. Embora no Brasil não tenha se desenvolvido uma Nova Direita em termos daquelas organizações ou partidos políticos existentes nos Estados Unidos e na Europa, foi possível verificar semelhanças nos discursos, nas demandas e nas formas de atuação dos políticos, partidos e governos a partir dos anos noventa (Nishimura, 2009, p. 40)

Assim, ainda em processo incipiente de importação, o neoliberalismo começa a surgir como proposta de gestão estatal, aparecendo como discurso modernizante e que passa a ser implementado já durante o governo Collor (1990 a 1992) e torna-se uma das principais bandeiras do governo Fernando Henrique Cardoso (1994 a 2001), especialmente a partir das privatizações e redução do investimento estatal em serviços públicos. No início da primeira década do século XXI, este ciclo político econômico, somado ao desgaste do segundo mandato de FHC e da mobilização de movimentos populares, chega ao fim e em 2002 é eleito Luís Inácio Lula da Silva (2002 a 2011), iniciando um novo ciclo político que pode ser denominado como social-liberalismo ou reformismo fraco (Singer, 2012).

Tal definição considera que houve, por um lado, a manutenção de acordos econômicos com as elites econômicas, possibilitando a alta rentabilidade do setor financeiro e a manutenção de superávits primários; por outro, a implementação de políticas sociais de atendimento à população de baixa renda, como o “Bolsa-família”, “Minha casa, minha vida”, investimento em infraestrutura, além da criação de novas universidades e institutos federais. Este arranjo foi possível em razão do momento econômico internacional que possibilitou o crescimento econômico nacional e a manutenção do presidencialismo de coalizão (Limongi & Figueiredo, 1998), mantendo partidos de centro e da direita junto à base do governo Lula. Este ciclo permaneceu estável até aproximadamente 2012, conseguindo manter a estabilidade econômica do país em razão da política de transferência de renda, evitando assim a contaminação interna dos mercados locais em razão da crise internacional de 2008.

O governo Dilma Rousseff (2012 a 2016) conseguiu, até certa medida, dar continuidade ao desenho institucional iniciado no governo Lula, herdando, no entanto, o desgaste de dois governos sucessivos do mesmo partido, de uma crise econômica que finalmente chega ao Brasil e de ataques machistas que recebe da oposição, que tem por base a cultura autoritária nacional. Nessa conjuntura, começam a se apresentar as novas contextualizações das disputas ideológicas que são resultantes do ciclo de políticas públicas lulistas.

Em síntese, a ascensão da classe mais pobre, possibilitada pelo crescimento econômico, gerou o aumento da capacidade de consumo desta população, o acesso a serviços públicos e também reduziu a oferta de mão de obra que antes era absorvida pelos serviços domésticos (Singer, 2018; Tomizaki & Daniliauskas, 2018). Isso gerou, por um lado, um ressentimento reacionário das “classes médias” que buscaram se diferenciar por uma distância social das classes populares justamente por uma espécie de apartheid econômico que se expressa pela busca de exclusividade de serviços (Souza, 2018).

Por outro, as características do desenvolvimentismo brasileiro possibilitaram uma mobilidade social restrita a empregos que eram consideravelmente melhor remunerados do que a situação anterior, mas que não os colocava em uma posição de “nova classe média”, termo que se tornou comum tanto nos meios de comunicação quanto por parte do governo. Logo, este setor que experimentou uma melhoria de condições de vida por aproximadamente uma década, ao perceber a estagnação de sua condição (mesmo que idealmente percebida), passou a sentir as limitações e o declínio desse modelo de ascensão.

Somado a tais elementos, as manifestações de 2013 que se iniciam pela demanda de melhorias no transporte público são hegemonizadas por forças da direita que passam a dominar as pautas e elegem o governo Dilma como alvo. Ainda, a Presidenta Dilma ao buscar estabelecer relações mais republicanas junto ao parlamento (Singer, 2018), na tentativa de abandonar o presidencialismo de coalizão, perde significativa base de apoio na Câmara e Senado. Em termos institucionais, o não reconhecimento da derrota eleitoral por Aécio Neves (PSDB) em 2014 é também um marcador importante para a produção de insegurança e fragilização do segundo mandato da presidenta, gerando novas manifestações públicas em 2015, desta vez totalmente capitaneadas por uma direita já desavergonhada e reorganizada, que resultou no golpe de 2016, na PEC 95 culminou na eleição de Jair Bolsonaro para presidência do país (Avritzer, 2019). Em um movimento ascendente desde 2013, portanto, desenvolvem-se grupos de direita que passam a dominar as mobilizações políticas e a tomar os espaços públicos e virtuais, sendo as mídias sociais uma de suas ferramentas mais potentes para formar a opinião pública. É possível perceber um estilo de pensamento (Mannheim, 1981; 1986) comum a partir de suas demandas e formas de atuação. Ressurge um anticomunismo como forma de determinação de seus antagonistas, sendo identificados como tais, todos indivíduos ou grupos que são favoráveis aos direitos humanos, aos movimentos LGBTs, feministas e etc., podendo em casos extremos a pecha de comunista servir para políticos da centro-direita. É, em síntese, uma definição moral do que seria o comunismo, entendido como sujeitos que põem em risco a “família”. Um dos principais grupos que leva adiante tais bandeiras tanto na sociedade civil quanto no parlamento são os neopentecostais, que contam com uma bancada significativa na Câmara dos Deputados do qual o atual presidente fez parte e tendo como bandeiras centrais as questões morais (Lacerda, 2019).

Os jovens que constituem objeto de análise deste artigo, estudantes do ensino médio no ano de 2019, estão em contato direto ou indireto com manifestações políticas, tendo assumido uma participação mais ativa a partir de 2018 e em decorrência das eleições presidenciais. No entanto, mesmo não tendo participado das mobilizações e debates nos anos 2013, 2015 e 2016, são herdeiros de orientações coletivas que foram delineadas nesse período e que marcaram a transição desses jovens do ensino fundamental para o ensino médio.

O percurso analítico dessa pesquisa[1] considerou as observações de Tomizaki e Daniliauskas (2018, p. 217), de que:

O estudo das relações entre juventude e política exige que se lance luz sobre os efeitos de diferentes processos e instâncias educativas (família, escola, Igreja, redes associativas, trabalho), tendo em vista compreender qual seria seu peso sobre o desenvolvimento das posições e das ações políticas dos jovens.

Nesse sentido, buscou-se identificar e analisar os marcadores sociais daqueles que se identificam com o pensamento de direita que se tornou expressivo na atual conjuntura política, considerando as formas de sociabilidade desses jovens.

Sobre a pesquisa e perfil da amostra

O trabalho de campo foi realizado nos meses de setembro a novembro de 2019[2]. O primeiro momento da pesquisa consistiu em aplicação de survey em formato impresso, com amostra representativa dos estudantes matriculados no ensino médio regular (ensino estadual, federal e privado). O universo da pesquisa considerou as cidades de Pelotas (10.309), Caxias do Sul (14.745) e Porto Alegre (38.979), totalizando 64.033 estudantes, a partir dos dados do censo escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep, 2018). Considerando este universo, utilizando uma amostra com nível de confiança de 95% e com margem de erro de 2 pontos percentuais, o número de questionários projetados para aplicação foi de 2.315. Em razão do cancelamento de visita em duas escolas estaduais, chegou-se ao número de 2.169 questionários aplicados, totalizando 19 escolas visitadas. A distribuição de questionários aplicados entre os municípios foi de 441 em Pelotas, 538 em Caxias do Sul e 1.190 em Porto Alegre, considerando a proporcionalidade do número de matrículas no ensino estadual, federal e privado (1.464, 281 e 423 questionários[3]). A escolha desses municípios deu-se em busca de maior representação na distribuição do Rio Grande do Sul, além da capital, em municípios com população maior do que 200.000 habitantes. A escolha das escolas foi feita de forma aleatória e buscando a proporcionalidade da oferta de vagas nas três redes de ensino, mas aumentando discretamente o número de estudantes da rede federal de forma a proporcionar relevância estatística dentro da amostra.

Aspectos gerais da amostra

Considerando os dados gerais da amostra, a média de idade dos entrevistados foi de 16,7 anos, sendo pouco mais da metade da amostra composta por mulheres (50,8%). Sete em cada dez estudantes declararam ter a cor da pele branca. Dois terços dos jovens (65,4%) declararam somente estudar e não exercer atividade laboral e mais da metade reside com pai e mãe (52,4%). Três em cada dez declararam não ter religião (35,7%), sendo as religiões mais citadas a católica (30,4%) e evangélica (17%). Também declararam ser filhos de pais que são empregados de carteira assinada (35,9% e 38,3% para pai e mãe, respectivamente). O WhatsApp foi a rede social mais utilizada por quase metade dos jovens (48,5%) e os motivos mais frequentemente relatados para o acesso à internet foram conversar no WhatsApp/Messenger ou acessar perfil nas redes sociais (26,2% e 29,1%, respectivamente). Para 34,1% dos jovens os familiares são a fonte de informação mais confiável e as redes sociais foram relatadas como a fonte menos confiável de informação para 69,3% dos entrevistados.

Análise pelo desfecho ideologia: direita e extrema direita

Com base na literatura consultada (Mannheim, 1981; 1986; Singer, 2000) a ideologia é uma característica importante para a compreensão e identificação de comportamentos políticos, os quais têm como base as experiências sociais que, por sua vez, estão relacionados aos espaços sociais dos sujeitos. Esses espaços sociais também são conformados por marcadores sociais como classe, raça, gênero, geração, religião, entre outros. O desfecho deste estudo, voltado para a compreensão da identificação política e inclinação ideológica dos jovens, foi constituído a partir da resposta à pergunta 20 do questionário aplicado aos estudantes: “Como você se identifica politicamente, considerando que na escala abaixo o 1 seria a extrema-esquerda e o 10 a extrema-direita?” Além da escala numérica os respondentes também podiam escolher a alternativa “não me identifico com nenhum” ou “não sei informar”. Para diferenciação com base na questão 20 as respostas foram agrupadas em: extrema esquerda (1 e 2), esquerda (3 e 4), centro (5 e 6), direita (7 e 8) e extrema direita (9 e 10). Dentro desta escala obtivemos 1.567 (72,25%) respondentes e constituem o desfecho deste estudo.

Os estudantes que afirmaram não saber responder/não responderam (27,75%) foram excluídos da análise. A distribuição ideológica dos que permaneceram na análise, ou seja, 72,25%, tem a seguinte configuração: 8,8% na extrema-esquerda, 21,4% na esquerda, 21,5% no centro, 15,8% na direita, 5,5% na extrema-direita e, por fim, 27% que não se identificam em nenhum ponto dentro da escala. Para o presente artigo elegemos os grupos de direita e de extrema-direita, considerando o perfil sociodemográfico, as questões referentes ao consumo de informações e, por fim, sobre sociabilidade e cultura política com base no modelo de análise estatístico empregado, conforme detalhado a seguir.

O (a) leitor(a) pode ter mais facilidade em se apropriar das análises e resultados aqui apresentados ao conhecer alguns conceitos básicos O p-valor, representado pela letra “p” que aparece no início de cada célula de análise bruta ou ajustada, se refere à probabilidade do resultado ser dado ao acaso. Convenciona-se que um p<0,05 demonstra que um resultado é estatisticamente significativo, ou seja, que os valores não se deram ao acaso e que o desfecho e a característica analisada estão associados. Quando p>0,05, não é possível afirmar matematicamente que o desfecho está associado à variável. As análises bruta e ajustada se referem ao estudo do desfecho em relação a cada uma das características, também chamadas de variáveis. A análise bruta mostra a relação entre variável e desfecho sem considerar as outras variáveis estudadas; a análise ajustada mostra se a relação entre variável e desfecho permanece quando analisada em conjunto com as outras variáveis. Essas análises são possíveis com o uso de ferramentas estatísticas específicas, neste caso a Regressão de Poisson. Os resultados da Regressão de Poisson apresentam a probabilidade de o desfecho ocorrer em relação ao grupo de comparação e sua medida de efeito é a razão de prevalência. O número 1,00 indica a categoria de comparação, e os valores apresentados na(s) outra(s) demonstram ou não maior ou menor probabilidade de ocorrência do desfecho quando comparados ao grupo de comparação, sendo os números entre parênteses o intervalo de confiança da medida obtida.

Por exemplo, na Tabela 1, tomaremos como exemplo a característica gênero (que será apresentada a seguir). Na última coluna, análise ajustada, a medida de efeito apresentada foi de 3,56 (2,50-4,52) para o gênero masculino, com categoria de referência o gênero feminino e p<0,001. A informação pode ser lida da seguinte maneira: o gênero masculino apresentou uma probabilidade 3,56 vezes maior de identificação política com direita, ou ainda 256% (3,56-1,00) maior probabilidade do desfecho quando comparados às pessoas do gênero feminino.

A associação, expressa pelo valor de p<0,05 e pelo valor do intervalo de confiança que não passa pela unidade, pode existir na análise bruta e desaparecer na análise ajustada. Nesse caso, se entende que o efeito da variável sobre o desfecho estava confundido ou mediado por outra variável, o que ficou expresso com o ajuste. Consideramos como fatores associados ao desfecho aqueles que permanecem com os valores significativos após a análise ajustada e estes são os resultados que discutiremos neste artigo.

A análise inicial consistiu na verificação da frequência de todas as variáveis incluídas no modelo hierárquico de análise. A análise bivariada foi realizada utilizando o teste de qui-quadrado e a análise multivariada bruta e ajustada foi realizada por meio de Regressão de Poisson com ajuste robusto da variância. O modelo hierárquico utilizado foi de três níveis, a fim de controlar eventuais fatores de confusão. No nível distal foram incluídas variáveis sociodemográficas, no nível intermediário questões relativas ao consumo de informações e uso de redes e no nível proximal questões referentes à sociabilidade, cultura e educação dos estudantes. Permaneceram no modelo todas as variáveis que, ajustadas para aquelas do mesmo nível e de níveis anteriores, apresentaram valor p ≤ 0,20. A medida de efeito utilizada foi a razão de prevalências (RP). Todas análises foram realizadas utilizando o software STATA 14.0 (StataCorp, College Station, TX, USA). Apresentaremos em cada uma das seções seguintes, em ordem, as características mais significativas e a análise ajustada, trazendo também os valores absolutos quando for pertinente.

Estudantes de direita

Tabela 1 Análise bruta e ajustada para fatores associados à identificação política entre estudantes secundaristas entrevistados nos municípios de Caxias do Sul, Pelotas e Porto Alegre, RS, 2019. (n=1567) 

Nível Característica Prevalência de desfecho Análise (Razão de prevalências e IC 95%)
N % Bruta Ajustada
Ia Gênero (n=1566)     p<0,001 p<0,001
Feminino 50 6,8 1 1
Masculino 197 23,8 3,50 (2,61-4,70) 3,56 (2,50-4,52)
Cor da pele (n=1562)     p=0,001 p=0,03
Branco 208 18,2 1 1
Negro 8 5,3 0,29 (0,15-0,58) 0,39 (0,20-0,76)
Pardo 28 11,9 0,65 (0,45-0,94) 0,76 (0,53-1,09)
Indígena 1 5,6 0,30 (0,04-2,06) 0,28 (0,04-1,78)
Amarelo 2 11,8 0,64 (0,17-2,39) 0,89 (0,24-3,32)
Tipo de escola     p<0,001 p<0,001
Estadual 130 13 1 1
Privada 96 28,8 2,22 (1,76-2,81) 1,77 (1,39-2,25)
Federal 21 9,1 0,70 (0,45-1,09) 0,73 (0,48-1,13)
Ano do ensino médio que cursa     p=0,01 p=0,31
Primeiro 124 17,6 1 1
Segundo 83 17,3 0,98 (0,76-1,26) 0,98 (0,77-1,26)
Terceiro 40 10,9 0,61 (0,44-0,86) 0,77 (0,55-1,08)
Quarto 0 0    
Com quem reside (n=1552)     p=0,005 p=0,40
Pai e mãe 156 19,1 1 1
Pais e avós 14 19,2 1,00 (0,61-1,64) 1,15 (0,71-1,85)
Só pai/só mãe 38 10,8 0,57 (0,41-0,79) 0,78 (0,56-1,09)
Mãe e padrasto/pai e madrasta 24 13 0,68 (0,45-1,01) 0,98 (0,65-1,46)
Só avós 2 5 0,26 (0,07-1,02) 0,55 (0,15-2,06)
Só irmãos 3 30 1,57 (0,60-4,09) 2,04 (0,84-4,95)
Outros parentes 5 11,9 0,62 (0,27-1,44) 1,26 (0,56-2,82)
Amigos e colegas 0 0    
Sozinho 1 5 0,26 (0,04-1,78) 0,40 (0,05-3,31)
Cônjuge 0 0    
Religião (n=1545)     p<0,001 p=0,007
Agnóstica/sem religião 78 11,7 1 1
Católica 105 23,1 1,98 (1,52-2,59) 1,57 (1,21-2,05)
Espírita 9 11,5 0,99 (0,52-1,89) 1,32 (0,74-2,36)
Evangélica 37 15,9 1,36 (0,95-1,95) 1,57 (1,10-2,24)
Muçulmana 2 40 3,43 (1,15-10,24) 4,03 (1,42-11,46)
Umbandista 5 6,2 0,54 (0,22-1,28) 0,90 (0,38-2,13)
Luterana 0 0    
Outra religião 5 20,8 1,79 (0,80-4,01) 1,48 (0,69-3,16)
Ocupação     p=0,08 p=0,60
Estuda 182 17,5 1 1
Estuda e faz estágio 23 12 0,68 (0,46-1,03) 1,06 (0,72-1,55)
Estuda e trabalha regularmente 23 13,4 0,76 (0,51-1,14) 0,87 (0,58-1,31)
Estuda e faz bicos 19 11,7 0,67 (0,43-1,04) 0,77 (0,49-1,20)
IIb Rede social mais utilizada (n=1533) p<0,001 p=0,07
Facebook 12 10,7 1 1
Instagram 62 19,4 1,81 (1,01-3,24) 1,53 (0,83-2,83)
Twitter 8 5,1 0,48 (0,20-1,13) 0,51 (0,21-1,26)
WhatsApp 111 15,6 1,46 (0,83-2,55) 1,42 (0,79-2,55)
Youtube 45 22,8 2,13 (1,18-3,86) 1,57 (0,85-2,91)
Outra 2 11,1 1,04 (0,25-4,26) 0,88 (0,22-3,42)
Não utiliza redes 1 5 0,47 (0,06-3,39) 0,53 (0,07-4,18)
Fonte de informação mais confiável (n=1513) p=0,05 p=0,16
Familiares 92 19,5 1 1
Professores 48 11,7 0,60 (0,43-0,82) 0,67 (0,48-0,95)
Amigos/colegas 8 19 0,97 (0,51-1,87) 0,82 (0,44-1,51)
TV/Rádio 27 14,7 0,75 (0,51-1,11) 1,02 (0,70-1,49)
Redes sociais 7 20,6 1,05 (0,53-2,09) 1,06 (0,50-2,25)
Sites de notícias 59 15,9 0,81 (0,60-1,10) 1,03 (0,76-1,39)
Fonte de informação menos confiável (n=1530) p=0,003 p=0,28
Familiares 6 9,1 0,67 (0,28-1,59) 0,68 (0,27-1,74)
Professores 4 36,4 2,67 (1,11-6,45) 1,40 (0,52-3,79)
Amigos/colegas 25 16,8 1,23 (0,72-2,12) 1,17 (0,67-2,06)
TV/Rádio 24 27,9 2,05 (1,21-3,49) 1,58 (0,92-2,70)
Redes sociais 163 15,2 1,12 (0,73-1,72) 1,05 (0,67-1,63)
Sites de notícias 20 13,6 1 1
IIIc Participa de grupo esportivo, musical, de artes cênicas, dança ou CTG p<0,001 p=0,02
Não 112 11,8 1 1
Sim 135 21,7 1,83 (1,46-2,30) 1,34 (1,04-1,73)
Participa de organização política p=0,26 p=0,81
Não 240 16 1 1
Sim 7 10,6 0,66 (0,33-1,35) 1,09 (0,53-2,26)
Conversa sobre política (n=1561) p<0,001 p=0,003
Sempre 222 10,1 1 1
Às vezes 139 19,9 1,97 (1,29-3,00) 1,38 (0,93-2,06)
Raramente 75 16,5 1,62 (1,04-2,54) 1,13 (0,73-1,74)
Nunca 10 5,2 0,51 (0,25-1,06) 0,44 (0,21-0,94)
Local onde conversa sobre política (n=1515) p=0,009 p=0,22
Casa 107 18 2,76 (1,48-5,15) 1,61 (0,69-3,75)
Escola 103 15,5 2,37 (1,27-4,43) 1,39 (0,59-3,27)
Internet 21 20 3,06 (1,50-6,23) 1,98 (0,78-5,00)
Nenhum lugar 10 6,5 1 1
Já participou de manifestação política (n=1559) p=0,01 p=0,07
Não 170 17,5 1 1
Sim 75 12,7 0,72 (0,56-0,93) 0,78 (0,60-1,02)
Família participou/participa de atividades políticas p=0,63 p=0,92
Não 100 15,2 0,94 (0,75-1,19) 1,01 (0,79-1,30)
Sim 147 16,1 1 1
Todos assuntos devem ser discutidos na escola p<0,001 p<0,001
Não 171 21,9 1 1
Sim 76 9,7 0,44 (0,19-0,25) 0,55 (0,42-0,71)
Pretende fazer depois do ens. Médio (n=1540) p=0,001 p=0,20
Ainda não pensou sobre isso 24 19,5 1 1
Trabalhar 19 18,8 0,96 (0,56-1,66) 1,04 (0,61-1,77)
Trabalhar e fazer faculdade 95 12,4 0,63 (0,42-0,95) 0,63 (0,43-0,92)
Curso técnico 6 10,3 0,53 (0,23-1,23) 0,63 (0,29-1,39)
Fazer faculdade 67 18,5 0,95 (0,62-1,44) 0,78 (0,52-1,16)
Concurso público 7 20 1,02 (0,48-2,18) 0,83 (0,37-1,84)
Serviço militar 23 29,5 1,51 (0,92-2,48) 0,91 (0,55-1,51)
Ajudar os pais em casa 2 13,3 0,68 (0,18-2,61) 0,91 (0,28-2,97)
Total 1567 100%

Modeloaajustado para gênero, cor da pele, tipo de escola e religião;

Modelobajustado para o modeloa + rede social mais utilizada e fonte de informação mais confiável;

Modelocajustado para o modeloa + participação em grupo esportivo, musical, de artes cênicas, dança ou CTG, conversar sobre política, participação em manifestação política e todos os assuntos devem ser discutidos na escola.

Fonte: produzido pelos autores

Considerando o universo dos estudantes que declararam alguma identificação política (1.567), 15,8% dos estudantes (247) posicionaram-se na numeração 7 ou 8 na escala da questão 20, o que caracterizamos como direita. Na análise ajustada[4], mostraram-se significativamente associados ao desfecho as variáveis gênero, cor da pele, tipo de escola, religião, participação em grupo esportivo, musical, de artes cênicas, dança ou CTG (Centro de Tradições Gaúchas)[5]. Destaca-se, também, a sinalização de que todos os assuntos devem ser discutidos na escola[6], demonstrando aceitação do debate sobre política no ambiente escolar. Ao mesmo tempo, apontaram a relevância de outros espaços de sociabilidade, além da família e escola, como relevantes para conversar sobre política[7].

No nível distal, a análise multivariada mostrou que os estudantes do gênero masculino possuíram probabilidade 3,56 vezes maior de identificação política com direita do que os estudantes do gênero feminino[8]. Os estudantes de cor da pele negra apresentaram 61% menor probabilidade de se identificar politicamente com direita quando comparados aos estudantes de cor da pele branca[9]. Estudantes de escola privada, quando comparados a estudantes de escola estadual,[10] apresentaram probabilidade 77% maior do desfecho e estudantes que afirmaram ser católicos e evangélicos[11] apresentaram maior probabilidade de identificação com posições de direita quando comparados àqueles agnósticos ou sem religião (57% em ambos os casos).

A prevalência dessa identificação no espectro da direita foi maior entre os jovens que afirmaram ser a mídia social mais utilizada o Youtube, Instagram e WhatsApp (22,8%, 19,4% e 15,6%, respectivamente), porém a análise ajustada não apresentou diferença estatisticamente significativa para a ocorrência do desfecho.

Em relação à cultura política, os estudantes que afirmaram nunca conversar sobre política apresentaram probabilidade 56% menor de identificação com direita quando comparados àqueles que afirmaram sempre conversar sobre política.

Na questão sobre participação em organização política, considerando os valores absolutos, 240 declaram não participar e 7 participar. Na questão sobre participação em manifestações, 170 declararam não ter participado e 75 já ter participado. Em relação à participação da família em atividades políticas, 100 declararam que não participaram e 147 que participaram.

Questionados sobre o que pretendem fazer após o ensino médio, na análise ajustada não foi possível perceber diferenças significativas sobre seus projetos de vida, sendo a maior incidência em valores absolutos as opções trabalhar e fazer faculdade (N=95) e fazer faculdade (N=67).

Estudantes de extrema direita

Tabela 2 Análise bruta e ajustada para fatores associados à identificação política com extrema direita entre estudantes secundaristas entrevistados nos municípios de Caxias do Sul, Pelotas e Porto Alegre, RS, 2019. (n=1567) 

Nível Característica Prevalência de desfecho Análise (Razão de prevalências e IC 95%)
N % Bruta Ajustada
Ia Gênero (n=1566) p<0,001 p<0,001
Feminino 16 2,2 1 1
Masculino 71 8,6 3,94 (2,31-6,72) 3,73 (2,19-6,37)
Cor da pele (n=1562) p=0,20 p=0,22
Branco 73 6,4 1 1
Negro 1 0,7 0,10 (0,01-0,74) 0,11 (0,02-0,82)
Pardo 11 4,7 0,73 (0,39-1,36) 0,70 (0,39-1,29)
Indígena 1 5,6 0,87 (0,13-5,91) 1,03 (0,16-6,68)
Amarelo 1 5,9 0,92 (0,13-6,24) 1,08 (0,19-6,05)
Tipo de escola p<0,001 p=0,01
Estadual 52 5,2 1 1
Privada 31 9,3 1,79 (1,17-2,75) 1,62 (1,05-2,50)
Federal 4 1,7 0,33 (0,12-0,91) 0,41 (0,15-1,10)
Ano do ensino médio que cursa p=0,02 p=0,15
Primeiro 50 7,1 1 1
Segundo 26 5,4 0,76 (0,48-1,20) 0,79 (0,51-1,23)
Terceiro 11 3 0,42 (0,22-0,80) 0,52 (0,26-1,03)
Quarto 0 0    
Com quem reside (n=1552) p=0,40 p=0,27
Pai e mãe 54 6,6 1 1
Pais e avós 1 1,4 0,21 (0,03-1,48) 0,21 (0,03-1,54)
Só pai/só mãe 16 4,6 0,69 (0,40-1,19) 0,95 (0,56-1,63)
Mãe e padrasto/pai e madrasta 6 3,2 0,49 (0,21-1,12) 0,72 (0,32-1,62)
Só avós 2 5 0,76 (0,19-2,99) 1,98 (0,44-8,97)
Só irmãos 1 10 1,51 (0,23-9,89) 2,53 (0,37-17,39)
Outros parentes 1 2,4 0,36 (0,05-2,54) 0,85 (0,11-6,29)
Amigos e colegas 1 10 1,51 (0,23-9,89) 2,36 (0,37-14,90)
Sozinho 2 10 1,51 (0,40-5,78) 3,08 (1,00-9,43)
Cônjuge 0 0    
Religião (n=1545) p<0,001 p<0,001
Agnóstica/sem religião 20 3 1 1
Católica 37 8,1 2,72 (1,60-4,63) 2,27 (1,32-3,91)
Espírita 5 6,4 2,14 (0,83-5,55) 2,83 (1,11-7,23)
Evangélica 22 9,4 3,16 (1,75-5,68) 3,62 (2,03-6,46)
Muçulmana 0 0
Umbandista 2 2,5 0,84 (0,20-3,51) 1,07 (0,25-4,59)
Luterana 0 0
Outra religião 1 4,2 1,39 (0,19-9,97) 1,23 (0,18-8,45)
Ocupação p=0,17 p=0,16
Estuda 57 5,5 1 1
Estuda e faz estágio 6 3,1 0,57 (0,25-1,30) 0,92 (0,40-2,15)
Estuda e trabalha regularmente 10 5,8 1,06 (0,55-2,04) 1,00 (0,52-1,92)
Estuda e faz bicos 14 8,6 1,58 (0,90-2,76) 1,84 (1,05-3,21)
IIb Rede social mais utilizada (n=1533) p=0,13 p=0,17
Facebook 6 5,4 1 1
Instagram 20 6,3 1,17 (0,48-2,84) 1,28 (0,49-2,37)
Twitter 2 1,3 0,24 (0,05-1,16) 0,47 (0,09-2,29)
WhatsApp 38 5,3 1,00 (0,43-2,31) 1,23 (0,52-2,92)
Youtube 18 9,1 1,70 (0,70-4,17) 2,05 (0,82-5,11)
Outra 2 11,1 2,07 (0,45-9,50) 3,61 (0,86-15,16)
Não utiliza redes 1 5 0,93 (0,12-7,35) 1,70 (0,24-11,93)
Fonte de informação mais confiável (n=1513) p<0,001 p=0,01
Familiares 47 10 1 1
Professores 12 2,9 0,29 (0,16-0,54) 0,38 (0,21-0,70)
Amigos/colegas 4 9,5 0,95 (0,36-2,52) 0,88 (0,34-2,24)
TV/Rádio 6 3,3 0,33 (0,14-0,75) 0,39 (0,16-0,96)
Redes sociais 2 5,9 0,59 (0,15-2,32) 0,45 (0,15-1,34)
Sites de notícias 14 3,8 0,38 (0,21-0,68) 0,51 (0,27-0,97)
Fonte de informação menos confiável (n=1530) p<0,001 p<0,001
Familiares 3 4,5 1,11 (0,29-4,32) 2,20 (0,54-8,92)
Professores 1 9,1 2,23 (0,29-16,90) 2,83 (0,52-15,37)
Amigos/colegas 13 8,7 2,14 (0,83-5,47) 3,01 (0,14-7,31)
TV/Rádio 18 20,9 5,13 (2,12-12,42) 5,28 (2,37-11,78)
Redes sociais 43 4 0,98 (0,42-2,27) 1,32 (0,61-2,86)
Sites de notícias 6 4,1 1 1
IIIc Participa de grupo esportivo, musical, de artes cênicas, dança ou CTG p=0,58 p=0,11
Não 50 5,3 1 1
Sim 37 5,9 1,12 (0,74-1,70) 0,70 (0,45-1,08)
Conversa sobre política (n=1561) p=0,40 p=0,04
Sempre 15 6,9 1 1
Às vezes 40 5,7 0,83 (0,47-1,47) 0,70 (0,41-1,22)
Raramente 19 4,2 0,60 (0,31-1,16) 0,42 (0,22-0,81)
Nunca 13 6,8 0,98 (0,48-2,01) 1,04 (0,46-2,32)
Local onde conversa sobre política (n=1515) p=0,37 p=0,14
Casa 36 6,1 1,16 (0,55-2,45) 1,60 (0,66-3,86)
Escola 31 4,7 0,89 (0,42-1,90) 1,26 (0,51-3,11)
Internet 9 8,6 1,64 (0,65-4,11) 2,52 (0,91-6,99)
Nenhum lugar 8 5,2 1 1
Já participou de manifestação política (n=1559) p=0,04 p=0,75
Não 63 6,5 1 1
Sim 24 4,1 0,62 (0,39-0,99) 0,92 (0,56-1,51)
Família participou/participa de atividades políticas p=0,09 p=0,34
Não 43 4,7 1,42 (0,95-2,14) 1,24 (0,79-1,94)
Sim 44 6,7 1 1
Todos assuntos devem ser discutidos na escola p=0,006 p=0,72
Não 56 7,2 1 1
Sim 31 3,9 0,55 (0,36-0,84) 0,92 (0,59-1,44)
Pretende fazer depois do ens. Médio (n=1540) p=0,01 p=0,60
Ainda não pensou sobre isso 7 5,7 1 1
Trabalhar 3 3 0,52 (0,14-1,97) 0,48 (0,13-1,80)
Trabalhar e fazer faculdade 41 5,3 0,94 (0,43-2,04) 0,97 (0,47-2,01)
Curso técnico 3 5,2 0,91 (0,24-3,39) 1,07 (0,33-3,45)
Fazer faculdade 17 4,7 0,82 (0,35-1,94) 0,81 (0,36-1,84)
Concurso público 1 2,9 0,50 (0,06-3,95) 0,67 (0,11-4,03)
Serviço militar 12 15,4 2,70 (1,11-6,57) 1,83 (0,74-4,56)
Ajudar os pais em casa 2 13,3 2,34 (0,53-10,27) 1,15 (0,31-4,25)
Total 1567 100%

Modeloaajustado para gênero, tipo de escola, ano que cursa, religião e ocupação;

Modelobajustado para o Modeloa + rede social mais utilizada, fonte de informação mais confiável e fonte de informação menos confiável;

Modelocajustado para o Modeloa + participação em grupo, conversa sobre política e local onde conversa sobre política.

Fonte: produzido pelos autores

Neste segmento, considerando os estudantes que responderam se identificar nas numerações 9 e 10 (extrema direita), encontram-se 5,5% da amostra (87 estudantes). Na análise ajustada, mostraram-se significativamente associados ao desfecho as variáveis gênero, tipo de escola, religião, fonte de informação mais confiável, fonte de informação menos confiável e conversar sobre política.

No nível distal de análise, estudantes do gênero masculino apresentaram probabilidade 3,73 vezes maior de identificação política com extrema direita quando comparados a estudantes do gênero feminino. Estudar em escola privada foi associado ao desfecho, com esses estudantes apresentando 1,62 vezes maior probabilidade para o desfecho quando comparados a estudar em escola estadual. Ainda no primeiro nível de análise, estudantes que afirmaram ser católicos, espíritas ou evangélicos apresentaram maior probabilidade de identificação com extrema direita quando comparados àqueles agnósticos ou sem religião (127%, 183% e 262% maior, respectivamente).

No nível intermediário de análise, a rede social mais utilizada pelos estudantes não se mostrou associada à identificação com extrema direita. Os respondentes que afirmaram serem os professores, os amigos ou colegas ou sites de notícias a fonte mais confiável de informação apresentaram menores razões de prevalência de identificação política com extrema direita quando comparados aos que consideram os familiares a fonte de informação mais confiável. Quando perguntados sobre a fonte de informação menos confiável, estudantes que afirmaram serem TV ou rádio a fonte menos confiável, apresentaram maior probabilidade de identificação com extrema direita quando comparados aos que afirmaram serem os sites de notícias a fonte menos confiável de notícias (RP=5,28 IC95%=2,37-11,78).

Difere discretamente, no entanto, o hábito sobre a conversa sobre política em relação aos estudantes de direita. Enquanto entre os jovens identificados como direita a maioria conversa sempre sobre política, entre os de extrema direita o hábito é conversar às vezes (N=40), seguido por raramente (N=19) e sempre (N=19).

Na questão sobre participação em manifestações, em valores absolutos, 63 declararam não ter participado e 24 já ter participado. Em relação aos familiares já terem participado de alguma atividade política, em números absolutos, 43 declararam que não e 44 que sim.

Na questão sobre o que pretendem fazer após o ensino médio, considerando valores absolutos, a maior incidência é dos que pretendem estudar e fazer faculdade (N=41). Chama ainda a atenção, na análise ajustada, aqueles que pretendem prestar serviço militar (83%).

Discussão

Com base nos dados apresentados, observa-se que entre estudantes de direita (7 e 8) e os de extrema direita (9 e 10) há maior probabilidade que sejam homens, brancos e estudantes de escola privada. A religião é elemento significativo para esta identificação, em especial a católica e a evangélica. Estas características se acentuam quanto mais à direita estão localizados na escala. Nesse sentido, é possível afirmar que o recorte ideológico e a caracterização dessa unidade geracional enquanto direita e extrema direita, compreende predominantemente jovens brancos e de elite (se considerarmos o tipo de escola), do gênero masculino e, em sua maioria, evangélicos. Este último dado corrobora com as análises sobre o papel do neopentecostalismo na atual fase conservadora que vivemos (Avritzer, 2019; Lacerda, 2019). Sobre a predominância masculina dos grupos conservadores contemporâneos, Pinheiro-Machado e Scalco (2018), em pesquisa etnográfica realizada na periferia de Porto Alegre, apontam um tipo de masculinidade dominante para a difusão do bolsonarismo. Considerando as diferenças de recorte metodológico e de espaço social da análise entra a pesquisa das autoras e o presente estudo, esse tipo de masculinidade guarda semelhança com o perfil identificado como de direita e extrema direita. Nossos resultados se aproximam ainda da pesquisa realizada por Klüppel (2020), que também observou o predomínio masculino na autoidentificação como direita e extrema-direita[12].

Outro aspecto relevante e comum aos perfis de direita e extrema direita, diz respeito ao fato de as famílias serem consideradas a fonte de informação mais confiável. Pesquisas com jovens ressaltam a importância das agências de socialização nos processos de politização da juventude, como a família e escola (Fuks, 2011; 2012; Setton & Bozzetto, 2020). Aqui os dados apontam que há uma correlação positiva entre família e ideologia de direita, sendo mais acentuado entre aqueles que se identificaram como sendo de extrema direita.

Como fonte menos confiável aparecem as mídias sociais, sendo necessária a ressalva que para os estudantes de extrema direita, na análise ajustada, a internet é o meio preferencial para conversar sobre política. Tal dado é relevante se considerarmos que as mídias sociais foram uma ferramenta central para a publicização e organização de mobilizações sociais no período de 2013 a 2018. Também é possível observar a mudança de plataforma preferencial, sendo que o Youtube passou a ser mais relevante, em especial para a extrema direita. Tendência semelhante também foi observada em pesquisa sobre a popularidade de canais de direita (Córdova, 2019; Silva, 2018).

O baixíssimo engajamento em organizações políticas, assim como a participação em atividades políticas em ambos os segmentos também foi constatado. A diferença entre os dois grupos pode ser observada no hábito de conversar sobre política, o que podemos relacionar também com o artigo de Klüppel (2020) sobre o baixo interesse em política. Enquanto os estudantes de direita declaram majoritariamente conversar sempre, sendo pouco relevante os que nunca conversam, entre os de extrema direita a norma é conversar às vezes ou raramente.

Em relação aos projetos de futuro, em ambos os segmentos o desejo de ingressar em um curso de nível superior ou fazer faculdade e trabalhar são as opções mais citadas. No segmento da extrema direita o desejo de ingressar no serviço militar ganha destaque, o que pode estar relacionado tanto à predominância masculina nesse estrato quanto à atual conjuntura política de valorização da carreira militar e vinculação da mesma à ideologia de direita ou extrema direita.

Considerações finais

Como apontado no artigo, buscamos analisar os marcadores sociais relacionados ao pensamento de direita e extrema direita de jovens que se encontram em escolas de ensino médio em três municípios do Rio Grande do Sul. Com base em Karl Mannheim partimos do entendimento de que esse estilo de pensamento, identificado na presente pesquisa como direita e extrema direita, é representativo de uma unidade geracional que na última década alcançou maior visibilidade se comparado às gerações anteriores, que ainda não usufruíam das novas tecnologias de comunicação e da internet móvel. Nesse sentido, é possível afirmar que tanto o ciberespaço quanto a conjuntura política, propiciaram a esses grupos a possibilidade de construção de uma adesão mais concreta que passou a competir com outros estilos de pensamento defendidos por jovens da mesma geração e, no caso de nossa pesquisa, por colegas que frequentam a mesma escola.

A pesquisa revelou que a identificação como de direita ou extrema direita não representa um pensamento majoritário entre os jovens que se encontram no ensino médio. Na escala de distribuição das posições ideológicas, perfazem 21,3%, sendo o maior percentual definido como direita (15,8%) e, em menor expressão, como extrema direita (5,5%). Essa constatação não exclui, no entanto, a necessidade de dedicarmos maior atenção a esses grupos, tanto em função da conjuntura política atual, quanto pela necessidade de compreendermos os espaços de experiência nos quais esses jovens desenvolvem seus posicionamentos e suas práticas políticas, com repercussões para além da esfera desses grupos.

Outro aspecto importante a ser aprofundado, e que pode auxiliar na compreensão da gênese deste estilo de pensamento, está relacionado ao papel atribuído à família como sendo a fonte de informação mais confiável para o debate sobre política e também como espaço social onde os jovens de direita mais conversam sobre política. Nesse sentido, a pesquisa revelou a necessidade de incorporação das relações intergeracionais, especialmente no âmbito da família. Outros marcadores que se mostraram significativos na formação ideológica desses jovens, como, por exemplo, o pertencimento a uma comunidade religiosa, demandam maior atenção e adoção de outros instrumentos de pesquisa que possam abarcar especificidades dessas importantes instituições sociais.

Por último, as formas de comunicação dos jovens em relação à política, também requerem maior atenção, especialmente no que diz respeito ao uso das mídias sociais. Constatamos, tanto entre jovens de direita como de extrema-direita, uma preferência pelas mídias não tradicionais como o Canal YouTube, que oferecem uma relação mais direta e menos hierárquica entre produtor e consumidor. Existe uma influência direta dessas mídias sociais na construção do estilo de pensamento desses jovens? Como essas mesmas mídias sociais influenciam na construção de diferentes estilos de pensamento e visões de mundo distintas? Essas são algumas indagações que remetem a necessidade de novos estudos sobre a constituição dos posicionamentos políticos desses jovens e suas formas de participação.

Referências

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[1]O presente artigo está vinculado ao projeto de pesquisa Análise das experiências de socialização e construção de valores da juventude do Rio Grande do Sul e obteve financiamento do CNPq (Processo No. 429036/2018-3).

[2]Somos gratos a Charlene Origuela Gaspar de Pinho, Cristiane Mortágua Oliveira, Fernanda Alves Rocha, Giovanna Lazzeri Franqui, Marília Zuchoski Neves, Naiara de Cássia Cardoso de Paiva, Sarys Amanda Avila Petito e Thaiane das Silva Davia, equipe de campo que realizou a aplicação dos questionários, sem as quais este trabalho não poderia ser realizado.

[3]Optamos por aumentar discretamente o número de questionários aplicados junto às escolas privadas e federais de forma a tornar a comparação estatisticamente relevante.

[4]Escolhemos utilizar análise multivariada pela possibilidade de avaliar o efeito direto de cada uma das variáveis sobre o desfecho, eliminando o efeito indireto das demais variáveis analisadas com relação ao desfecho do estudo.

[5]Referente ao bloco sobre sociabilidade apresentado da seguinte forma: “Você faz parte de algum grupo dentro ou fora de sua escola (marque até duas opções)?”

[6]Referente ao bloco sobre educação apresentado da seguinte forma: “Quais assuntos você acha que devem ser discutidos na escola (escolha até duas opções)?”

[7]Referente ao bloco de questões sobre política apresentado da seguinte forma: “Com que frequência costuma conversar sobre política?”

[8]Em números absolutos, 197 jovens do gênero masculino e 50 do gênero feminino identificam-se com a direita.

[9]Os valores absolutos desse público são: masculino (79,7%) e branco (84,2%).

[10]Considerando-se que o número de respondentes das escolas estaduais perfaz 67,5% da amostra, enquanto das escolas privadas perfaz 19,5%. Em valores absolutos foram 130 de escolas estaduais e 96 de escolas privadas.

[11]Muçulmanos apareceram na análise ajustada com maior probabilidade de identificarem-se com a direita, mas em números absolutos representam somente dois entrevistados.

[12]No artigo a autora emprega a diferenciação de direita democrática e direita autoritária.

Recebido: 02 de Fevereiro de 2021; Aceito: 27 de Maio de 2021

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