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Educação

versión impresa ISSN 0101-465Xversión On-line ISSN 1981-2582

Educação. Porto Alegre vol.43 no.2 Porto Alegre mayo/agosto 2020  Epub 01-Feb-2021

https://doi.org/10.15448/1981-2582.2020.2.35788 

Dossiê: Formação em Movimento

Educação e Violência: a Educação contra o Fascismo

Education and Violence: Education against Fascism

Educación y Violencia: la Educación contra el Fascismo

Amarildo Luiz Trevisan1 

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, RS, Brasil; Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição (FAFIMC), e professor dos Cursos de Licenciatura e do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS Brasil; e bolsista de Produtividade em Pesquisa (PQ-1D) do CNPq.


http://orcid.org/0000-0002-3575-4369

1Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.


Resumo:

O texto procura desvelar o fenômeno do fascismo no contexto das redes informacionais, buscando aportes teóricos em diferentes matrizes, especialmente no cruzamento da psicanálise com a biopolítica. Busca desvendar a tendência de eleição de múltiplos fatores nas diversas análises que recusam um arcabouço teórico mais consistente para esse fenômeno de massa. Nesse aspecto se pergunta pelo efeito da linguagem utilizada pelo fascismo, bem como as suas características básicas a partir de autores, tais como Eco (2018), Tiburi (2017), Stanley (2018), Pelbart (2005), Adorno (1943, 1951), Agamben (2013) e Esposito (2011a, 2011b). Enuncia como elemento crítico das suas ideias e práticas a instância formativa e hermenêutica da linguagem. Investiga, nesse sentido, o desprezo aos direitos humanos e um apreço pelo uso da violência, as práticas de racismo, discriminação contra grupos minoritários realizadas nas redes sociais e as suas repercussões nos currículos e na formação de professores.

Palavras-chave fascismo; violência; psicanálise; filosofia; educação

Abstract:

The text seeks to unveil the phenomenon of fascism in the context of information networks, seeking theoretical contributions in different matrices, especially in the intersection of psychoanalysis and biopolitics. It seeks to unravel the trend of election of multiple factors in the various analyzes that refuse a more theoretical framework for this mass phenomenon. In this aspect, we ask about the effect of the language used by fascism, as well as its basic characteristics from authors such as Eco (2018), Tiburi (2017), Stanley (2018), Pelbart (2005), Adorno (1943, 1951), Agamben (2013) and Esposito (2011a, 2011b). It states as a critical element of its ideas and practices the formative and hermeneutic instance of language. It investigates the contempt for human rights and an appreciation for the use of violence, practices of racism, discrimination against minority groups in social networks and their repercussions on curriculum and teacher training.

Keywords fascism; violence; psychoanalysis; philosophy; education

Resumen:

El texto busca desvelar el fenómeno del fascismo en el contexto de las redes informacionales, buscando aportes teóricos en diferentes matrices, especialmente en el cruce del psicoanálisis con la biopolítica. Se busca desentrañar la tendencia de elección de múltiples factores en los diversos análisis que rechazan un marco teórico más consistente para ese fenómeno de masa. En este aspecto se pregunta por el efecto del lenguaje utilizado por el fascismo, así como sus características básicas a partir de autores, tales como Eco (2018), Tiburi (2017), Stanley (2018), Pelbart (2005), Adorno (1943, 1951), Agamben (2013) y Esposito (2011a, 2011b). Enuncia como elemento crítico de sus ideas y prácticas la instancia formativa y hermenéutica del lenguaje. Investiga en consecuencia el desprecio a los derechos humanos y un aprecio por el uso de la violencia, las prácticas de racismo, la discriminación contra grupos minoritarios realizados en las redes sociales y sus repercusiones en los currículos y en la formación de profesores.

Palabras clave fascismo; violencia; psicoanálisis; filosofía; educación

Vivemos atualmente no Brasil e no mundo tempos de abismos em que, como se não bastasse o imperialismo dos humores das bolsas de valores, agora as milícias digitais querem assumir o controle da democracia. As milícias digitais são grupos que atuam na internet governando um exército de eleitores, trolls, bots e pessoas comuns ao espalhar dogmas e certezas em meio à desorientação informacional com a finalidade de produzir “efeitos de verdade”, com vistas a propagar discursos de ódio em relação a tudo o que representa “o inimigo”.

As milícias digitais produzidas nesse contexto da hiperpolarização e da pós-verdade são o avesso da cultura digital celebratória e utópica das primeiras décadas da internet, da inteligência coletiva e de uma democracia em rede gestada por uma multidão direcionada para o bem comum (Bentes, 2018, on-line).

A política do ódio aos pobres e aos grupos diferentes, que Adela Cortina chama de “aporofobia” (2017), e a apologia ao racismo e à discriminação ao outro de forma generalizada expõem a fratura social em que vive hoje boa parte do mundo. Estamos imersos na cultura política do ódio (Gallego, 2018), sem saber exatamente qual o seu significado filosófico, político e social e muito menos como reagir diante de tais descasos de insensibilidade para com a dor do outro. Citamos, como exemplo, referendo que decidiu a saída da Inglaterra da União Europeia (também chamado BREXIT - Britain exit, expressão inglesa que significa o projeto de saída da Inglaterra da União Europeia), a eleição de Trump nos Estados Unidos da América e de Bolsonaro no Brasil, o ressurgimento de uma ultradireita fascista na Itália e na Espanha, entre outros países afetados, o que sinaliza que estamos imersos em um processo de decadência da democracia representativa, impulsionado pelas redes sociais. A crise humanitária na Venezuela e a guerra incentivada na Síria pela Rússia e EUA, a corrida armamentista da Coreia do Norte etc., também denotam uma queda de ideais utópicos da esquerda radical centrados em valores democráticos.

As narrativas de formação acabam sendo diretamente afetadas, pois há um incremento e reafirmação do sujeito em prol da negação da alteridade, recusando assim a possibilidade do diálogo, base do aprendizado mútuo e da convivência democrática. No caso do Brasil, o agravante é que, apesar das múltiplas possibilidades oferecidas pelos meios tecnológicos, há uma combinação de causa e efeito entre a mais avançada tecnologia proporcionada pelas redes informacionais do universo digital e o discurso conservador e autoritário de afirmação do ego e de negação das diferenças. A circulação dessa pauta necrófila e retrógrada encontra nas redes um terreno fértil sem comparativo na história, pois o fenômeno da Internet é recente no mundo. As redes sociais digitais oferecem condições para o aprimoramento da democracia, facultando ouvir a sociedade e ativar discussões coletivas, produzindo assim as práticas de transparência. Mas o “pequeno grande homem fascista”, como diria Adorno (1943, p. 11), se utiliza do autoritarismo cibernético para tomar atitudes de discriminação, práticas de calúnia e difamação.

Todo dia somos acordados com um novo ataque aos valores mais caros da civilização ocidental. As pautas já consolidadas nos organismos internacionais, como a ONU e a OEA, e em documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, não fazem muitas vezes o menor sentido. A inversão brutal é que elas são acusadas como responsáveis pelo enfraquecimento e derrocada dos valores ocidentais. Em seu lugar, propõe-se a retomada do armamentismo, o orgulho exacerbado da nação e do patriotismo e a visão afeita a uma cultura machista, misógina e homofóbica.

O mais significativo nesse caso é a adesão de uma grande parte da população pelo voto, porquanto submetida aos aparatos das correntes de Facebook, Messenger e WhatsApp, entre outros, o que denota a existência não de um fascismo político, mas social, apoiado por um sistema político e econômico. Estas correntes se comportam como verdadeiras milícias digitais, viralizando fake news de forma indiscriminada e permanente, contribuindo para o que alguns autores chamam de “era da pós-verdade”.2 Aqui cabe lembrar que essa avalanche fascista nas redes sociais não é algo totalmente novo. Um episódio narrado por Susan Sontag, na obra Sob o signo de Saturno, lembra quando um grupo de esquerda organizou, logo após a segunda guerra, uma exposição no campo da pintura e da escultura nazista em Frankfurt. Para espanto dos organizadores, houve uma frequência de público excessivamente elevada conjugada com uma crítica muito baixa em relação aos valores ali propagados de uma arte reacionária e desengajada (1986, p. 74).

Diante disso, cumpre perguntar por que estamos imersos na cultura do ódio na vida pública outra vez, ou qual o significado, mais especificamente do ponto de vista filosófico, desse desprezo generalizado aos grupos diferentes? Será que os fenômenos trágicos e catastróficos da história, como o nazismo e, especialmente o fascismo, podem nos ensinar algo sobre o seu enfrentamento? De que modo as narrativas de formação poderia responder a tais demandas urgentes?

Por isso, o texto a seguir visa a proceder inicialmente a uma hermenêutica do que vem a ser o “fascismo”, termo amplamente utilizado na história e na política, e mostrar como as novas tecnologias e as redes sociais digitais são fundamentais para a propagação desse tipo de linguagem. A proposta é apresentar e esclarecer as características mais marcantes na sua origem e no mundo atual, do ponto de vista de sua estrutura teórica e a forma como esses mecanismos de cooptação atuam hoje pelo universo on-line. A referência é buscada em autores que discutem o tema na perspectiva histórica, filosófica e política, ligada às expressões da arte e da cultura. Procuraremos entender, também historicamente, como regimes com características fascistas manifestam desprezo pelos professores, opondo-se a qualquer tipo de educação que questione os interesses do governo e/ou Estado. Por fim, buscaremos promover um espaço de reflexão e de ações educativas sobre a relação entre violência e educação, tendo como pano de fundo as práticas do fascismo, bem como o que isso demanda ou provoca para pensar os rumos da formação, notadamente os saberes da docência.

Arquétipos do fascismo

Não é comum encontrar definições de fascismo em dicionários de filosofia ou de educação. Mais difícil ainda é conceitualizá-lo no cruzamento de suas pautas históricas com o ideário das redes do universo digital de hoje. Certamente porque não é entendido normalmente como um movimento que apresenta uma conceituação teoricamente bem estruturada e o fenômeno de uso da Internet para propagar suas ideias é recente. Umberto Eco considera inclusive que o mesmo não tem assento numa filosofia bem delineada: “O fascismo não era uma ideologia monolítica, mas antes uma colagem de diversas ideias políticas e filosóficas, um alveário de contradições” (2018, p. 32). E, mais adiante assinala: “O fascismo não tinha bases filosóficas, mas do ponto de vista emocional era firmemente articulado a alguns arquétipos” (2018, p. 39). Aqui percebemos a importância da Psicanálise para desvendar esse universo arquetípico, a sua relação com o inconsciente individual e coletivo, tão bem explorado pelos textos de integrantes da Escola de Frankfurt no período de sua estada nos Estados Unidos, de que falaremos melhor mais adiante. Talvez o desprezo que nutre o fascismo pela cultura, ou seu anti-intelectualismo, tenha colaborado para que esse fenômeno de massa não tenha fomentado um pensamento mais consolidado. Por isso o comentário de Carone vai nessa mesma direção, quando diz que “o fascismo é muito mais uma prática política com características bem definidas do que uma ‘filosofia’” (2002, p. 198). Devido às dificuldades para encontrar uma definição mais sistemática, temos que recorrer a dicionários que o abordam no leque de reflexão mais amplo, como o Dicionário da Filosofia e das Ciências Humanas, que assim denota:

o termo Fascismo é derivado do latim fasces, facho de varas de onde emergia o ferro do machado que os lictores traziam diante dos primeiros magistrados de Roma e que Mussolini escolheu como emblema. No sentido político, significa doutrina e organização políticas introduzidas na Itália por B. Mussolini e seus adeptos em 1922, baseando-se sobre a ditadura de um partido único e um estado todo-poderoso, o totalitarismo, e que exaltava o nacionalismo e o corporativismo; por extensão, ditadura hostil ao socialismo de inspiração marxista, que tomava certas medidas sociais. (Morfaux & Legranc, 2005, pp. 230-231)

O conceito indica que o símbolo fascie ou fascio littorio serviu como emblema de poder e autoridade para o contexto da antiga Roma, especialmente no auge da sua glória imperialista e republicana. Nas paradas militares e nos desfiles romanos, oficiais subordinados carregavam um feixe de varas amarrado a um machado em meio a outros grupos. Desfilavam ostentando-o nas cerimônias, como símbolo da soberania e da união, normalmente após uma grande conquista militar. Para Simone Weil, a escolha de tal simbologia, de volta do arcaico no mundo atual, não era gratuita mesmo para o nazismo, dado que a origem do hitlerismo não era a Alemanha, mas a antiga Roma (Esposito, 2011b, p. 84).

Os romanos haviam tomado esse símbolo dos etruscos, um povo que vivia na região da Toscana, na Itália, e que teve grande influência sobre ele. O auge de sua civilização se deu entre os séculos VII e V a.C., tendo sido uma potência no Mediterrâneo. Na reapropriação feita por Mussolini, o fascio littorio passou a ocupar toda a iconografia da nação, ganhando mais espaço do que a águia e a loba romana, tornando-se, em 1926, não apenas o símbolo do partido, mas também o emblema ou a marca do estado italiano. Contribuiu assim para a formação do mito fascista da romanidade (Giardina, 2008).

A definição mais acima alude também ao seu significado político, sendo o fascismo uma reação à direita ao socialismo de cunho marxista, o qual era insurgente na Rússia naquela época. Portanto, é uma reação conservadora em prol dos ideais nacionalistas de um estado forte, como bem define em entrevista Luciano Zani, professor de história da Sapienza Universidade de Roma, especialista do assunto:

O berço no qual nasce o fascismo italiano é certamente a ideologia mais forte e adaptável dos últimos séculos de história: o nacionalismo. Uma forma de nacionalismo exasperado que fixa um elemento forte da identidade cultural no culto da nação e da pátria. O culto da pátria não é algo que por si só é fascista, mas foi direcionado naqueles anos a fins de grandeza e potência da nação e à sua capacidade de se expandir no exterior. (2018)

Dado que o fascismo é uma das ideologias mais fáceis de se adaptar, não é de estranhar que tenha se adequado ao ambiente on line com tanta engenhosidade atualmente. Se fosse possível descrever numa imagem a força desse fenômeno, e a configuração dos múltiplos fatores que influenciam a sua formação, poder-se-ia dizer que ele é semelhante a um ciclone que varre com o seu redemoinho o que encontra pela frente.

A definição da catástrofe humana com o designativo de uma catástrofe natural é inspirada no artigo Ainda há catástrofes naturais?, do filósofo francês Jean-Pierre Dupuy, o qual defende que a separação de um reino da necessidade e um reino da liberdade, segundo a visão kantiana do século XVIII, no espectro das catástrofes mundiais que estamos vivendo, já está superada. Entre os vários exemplos, ele cita ciclones como o Katrina, de Nova Orleães, que recebeu o nome de uma pessoa (Dupuy, 2006, p. 1181). No caso da política fascista implantada na Itália e nas colônias italianas da África, essa metáfora se justifica porque a política extremista comandada pelo ditador Benito Mussolini trouxe a catástrofe, ou seja, fome, destruição e morte de cerca de 900 mil vítimas civis, resultado da participação do país na Segunda Guerra Mundial.

Assim como para a formação desse fenômeno natural é preciso que as águas do oceano tenham um aquecimento de 27.º para cima, o que desencadeia o fascismo, ou pelo menos alguns dos seus aspectos, inclusive no ambiente da Internet, é quando a temperatura política vai muito além de um debate normal. O comentário de Pelbart dá ideia do que ocorre num ambiente social assim conflagrado:

Isso tudo me parece simples como um ovo e, no entanto, a cada dia mais urgente, sobretudo num momento em que divisões binárias redesenham não só a geopolítica planetária, mas também a do pensamento, em que nos vemos impelidos a tomar partido no campo do bem ou do mal, da verdade ou da mentira, da dita democracia ou do dito terrorismo… (Pelbart, 2005, p. 1325)

As divisões binárias aparecem no título de uma obra publicada recentemente sobre o tema intitulada Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles” (2018), de Jason Stanley. Além desse rebaixamento da linguagem a divisões simplificadas e maniqueístas da vida pública e social, existem ainda várias outras questões que contribuem para a formação do ciclone fascista. Umberto Eco, por exemplo, em O fascismo eterno (2018), nomeia como categorias, ou como ele mesmo diz, alguns “arquétipos possíveis” para a sua definição: culto da tradição; recusa da modernidade; irracionalismo; o desacordo é traição; medo da diferença: racismo; apelo às classes médias frustradas; nacionalismo: obsessão da conspiração e xenofobia; os inimigos são fortes demais e fracos demais – os judeus; a vida é uma guerra permanente; o elitismo; culto ao herói; vontade de poder = questões sexuais (invidia pênis permanente); populismo qualitativo (atualmente, de TV ou Internet); o fascismo fala a “novilíngua”.

Por sua vez, Jason Stanley (2018), no livro aludido anteriormente, sintetiza como valores da retórica fascista: o passado mítico; anti-intelectualismo; irrealidade; hierarquia; vitimização; lei e ordem; ansiedade sexual; Sodoma e Gomorra; arbeit macht frei (a ética do trabalho). Enquanto Adorno elege como características do fascista no seu texto A técnica psicológica das palestras radiofônicas de Martin Luther Thomas (1943), os seguintes expedientes: ele se apresenta como um “lobo solitário; utiliza do expediente da “liberação emocional”; do “inocente perseguido”; da “infatigabilidade”; do “mensageiro”; “o pequeno grande homem”; “interesse humano”; “o bom e velho tempo”.

Algumas dessas características são comuns a todas as três análises, como a idealização do passado, invocado como “um passado glorioso” que foi tragicamente destruído “pelo globalismo, pelo cosmopolitismo liberal e pelo respeito por ‘valores universais’, como a igualdade” (Stanley, 2018, p. 20). Por isso, o autor vai inferir o papel da educação em tal cenário, do seguinte modo:

Na ideologia fascista, o objetivo da educação geral nas escolas e universidades é incutir orgulho do passado mítico. A educação fascista exalta disciplinas acadêmicas que reforçam as normas hierárquicas e a tradição nacional. Para os fascistas, as escolas e universidades existem para doutrinar o orgulho nacional ou racial, transmitindo, por exemplo (onde o nacionalismo é racializado), as gloriosas conquistas da raça dominante (2018, pp. 58-59).

Essa ideia está muito presente no Brasil atual –pelas mãos do movimento Escola sem Partido, e da própria ótica de altos escalões do Ministério da Educação, que acusa os educadores de doutrinação política (Frigotto, 2017).. Ela se alia à valorização do arcaísmo rural, do saudosismo do campo como um lugar de regeneração espiritual, de limpeza e assepsia contra o ambiente da cidade, compreendido como um antro de miscigenação, de corrupção da raça e dos costumes. Essa busca por algo puro, ainda intocado é característico de um pensamento biopolítico, de um biopoder que toma as rédeas da história. Os preceitos da biopolítica remetem a sua origem, em Michel Foucault, especialmente em seu livro “História da sexualidade I: A vontade de saber” (1999), capítulo V - Direito de morte e poder sobre a vida. Nesse texto, Foucault propõe reflexões a respeito da gênese dessa categoria no conceito de biopoder. O sueco Rudolf Kjellén havia introduzido o conceito de “biopolítica” no início do século XX; a ele se deve também a criação da expressão “geopolítica”, elaborada a seguir por Friedrich Ratzel e por Karl Haushofer. Anos mais tarde, embora sem menção aos trabalhos pioneiros desses autores, Michel Foucault se utilizou do termo biopolítica para redimensionar os fundamentos da política moderna, através da noção do governo biológico da vida das populações (Esposito, 2011a, p. 27). A biopolítica é, portanto, a prática política que aposta na dimensão corpórea da subjetividade e na conservação da vida, o que explica o preconceito da raça pura do fascismo e do nazismo e as medidas de imunização e medicamentalização no campo da saúde, através da introdução das técnicas estatísticas de controle dos corpos.

E isso demanda saber distinguir o significado “de uma inocente fantasia de uma uniformidade pregressa inexistente, que sobrevive nas tradições das pequenas cidades e dos campos”, como nos alerta Stanley, p. 20), perceber se isso é indício de uma postura ecológica, ou se é algo afinado com os valores fascistas, ou ainda outro sentimento em relação ao campo e à natureza. Afinal, não podemos esquecer o alerta de Umberto Eco nesse contexto, de que “O Ur-Fascismo pode voltar sob as vestes mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e apontar o dedo para cada uma de suas novas formas – a cada dia, em cada lugar do mundo” (2018, p. 61). Outra característica do fascismo é a vitimização ou sentir-se um inocente perseguido, ou ainda pela obsessão da conspiração, que vem a dar no mesmo.

Zani chama ainda a atenção para mais elementos que o distingue, e que se encontra de certa forma disperso em diversos apontamentos realizados acima:

Uma característica da nova política fascista é o uso da violência, como se os veteranos da Primeira Guerra nunca tivessem terminado de combater. Continuam a utilizar a violência, os símbolos, os ritos, os sacrifícios próprios da guerra no pós-guerra, mas contra um novo inimigo: o velho mundo liberal e a nascente ordem social-comunista (2018).

O autor vai complementar em sua entrevista que outra propriedade sua é a combinação da violência com a legalidade e a exaltação da força, o que significa também exaltação das armas como justificativa da ação pela ação. Tal combinação de elementos explosivos leva o fascismo a conspirar permanentemente contra a democracia, advogando um poder executivo forte e autoritário, baseado na figura do líder como porta-voz e encarnação dos valores das massas. O culto à virilidade do homem guerreiro vem acompanhado de um desprezo da figura feminina, por isso a mulher é colocada à margem da sociedade fascista, dado que se defendem os valores da sociedade patriarcal. Dada a proximidade dos ideais do nazismo com o fascismo italiano, não é de estranhar que, no artigo intitulado Fascinante Fascismo, contido em seu livro Sob o signo de Saturno, Susan Sontag vai dizer a respeito da estética do fascismo presente em alguns monumentos norte-americanos:

A mesma estética responsável pelo colossi de Arno Breker – o escultor favorito de Hitler (e, por um breve período, de Cocteau) – e de Josef Thorak também produziu o Atlas musculosamente rijo na frente do Centro Rockefeller de Manhattan e o monumento debilmente lascivo aos soldados mortos na Primeira Guerra Mundial na estação rodoviária da Rua Trinta, na Filadélfia (1986, p. 75).

Não podemos, nos limites deste artigo, comentar todos os arquétipos ou dispositivos psíquicos que são alimentados pelo fascismo. Mais do que isso, o que nos interessa é desvelar um dispositivo que esteja para além da multiplicidade de aspectos puramente políticos, sociais e históricos do problema. Nenhum fator descrito até o momento ainda toca a fundo no problema, porque falta um eixo filosófico aglutinador da reflexão, que venha a dar sentido a todos os outros elementos.

Um episódio infantil vivido por Umberto Eco, e narrado no seu livro Fascismo eterno pode ajudar a esclarecer melhor esta questão. O fato transcorreu em abril de 1945, quando a Resistência havia tomado a cidade de Milão do domínio dos fascistas e Umberto Eco ainda era um garoto. Nesse ambiente, fora testemunho da cena em que Mimo, chefe da Resistência ao fascismo na região, apareceu no púlpito da Prefeitura para saudar a população. Apesar da multidão gritar e saudar os partigiani, Mimo, pálido, apoiado em muletas e com voz rouca, ao contrário de Mussolini e de seus discursos grandiloquentes, apenas murmurou: “Cidadãos amigos. Depois de tantos sacrifícios dolorosos… aqui estamos. Glória aos que caíram pela liberdade” (2018, p. 11). O comentário de Eco não deixa a menor dúvida: “eu tinha aprendido que liberdade de palavra significa libertar-se da retórica” (2018, p. 11). Mussolini era um exímio orador e sabia, portanto, fazer uso da retórica inflada para seduzir a sua plateia, unindo em si os papéis de ator e tenor (Giardina, 2008, p. 69). Como a retórica é a arte da persuasão e diz respeito ao ato de convencer fazendo uso de instrumentos linguísticos, não deixa de chamar a atenção à sua relação com um tema caro à filosofia: a questão da linguagem.

O comentário de Márcia Tiburi na abertura do seu livro, Como conversar com um fascista – reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro, reafirma, de outro modo, essa mesma questão levantada por Eco:

O pressuposto que estrutura essas reflexões é que a política se define como experiência de linguagem e que a qualidade dessa experiência nos une ou nos separa, tornando-nos seres políticos ou antipolíticos. Se nosso ser político se forma em atos de linguagem, precisamos pensar nessa formação quando o empobrecimento desses atos se torna tão evidente (Tiburi, 2017, p. 23).

A análise da autora aproxima a definição da política como sendo essencialmente uma experiência de linguagem. Ou seja, tanto a formação do ciclone fascista quanto o seu combate passam pelo uso correto ou não da linguagem. Se a qualidade dessa experiência nos une ou separa, como afirma Tiburi, vai depender justamente de pensar a formação ou o efeito da linguagem no ambiente do seu empobrecimento. Mas o que dizer sobre a experiência que acontece no universo da Internet, em que muitas vezes o indivíduo se sente escondido no anonimato e passa a agredir o outro pelo discurso, pois não é visto por ele? Portanto, aí não se pode avaliar a violência do rosto, de que falava Levinas (2014). Pelas redes digitais, eu consigo me despir do eu profissional e posso assumir mais facilmente o arquetípico freudiano, o meu eu pessoal profundo. Mas, como o fascismo opera com uma redução da linguagem, o que Umberto Eco chama ironicamente de “novilíngua” (que na distopia de Georg Orwel significa uma língua abreviada e empobrecida), o resultado são práticas também empobrecidas e danificadas, traduzidas na exacerbação da violência e ódio. Tiburi chama a atenção para mais alguns elementos que auxiliam essa combinação ciclônica:

O autoritarismo é o sistema desse empobrecimento. Ele é o empobrecimento dos atos políticos pela interrupção do diálogo. Interrupção que se dá, por sua vez, pelo empobrecimento das condições nas quais o diálogo pode acontecer. Essas condições são materiais e concretas. Elas referem-se a mecanismos, na forma de dispositivos criadores de hábitos, que impedem as práticas de diálogo. Esses dispositivos são criados por racionalidades que operam na linguagem. A linguagem está como que fora e dentro das pessoas, forjando-as e sendo forjada por elas. O diálogo é uma atividade que nos forma e que é formada por nós. É um ato linguístico complexo capaz de promover ações de transformação em diversos níveis. Poderíamos nos perguntar o que acontece conosco quando entramos em um diálogo e o que acontece caso isso não seja possível. O diálogo é uma prática de não violência. A violência surge quando o diálogo não entra em cena (Tiburi, 2017, p. 23).

Quando o indivíduo já tem verdades absolutas, fruto de uma linguagem que divide o mundo em binarismos de bem contra o mal, certo e errado, não fez a terapia da sobrecarga metafísica da linguagem, tornando-se propício a ser autoritário e encetar ações de violência. Como os discursos de ódio nas redes on line se reduziram, por vezes, a batalhas semióticas de fake news (guerra de imagens distorcidas), são retiradas daí as condições ou os elementos para viabilizar as práticas de não violência.

A linguagem do fascismo

Como vimos até aqui, se o movimento fascista se constitui como um ciclone que se propaga através da linguagem e o seu enfrentamento se dá pelo diálogo, então qual é a retórica fascista? A experiência intelectual da Escola de Frankfurt é atravessada pelo confronto com o totalitarismo. Tendo fugido da perseguição nazista na Alemanha, os seus integrantes vieram aportar na América, onde desenvolveram estudos do fascismo que foram apresentados na obra coletiva A Personalidade Autoritária (1950). Os resultados dessas investigações também se fizeram presentes em alguns textos menores, como a pesquisa que fez Adorno sobre os discursos do pastor Martin Luther Thomas (1943), analisados no período de 1934-35, o qual era considerado como um dos exemplos de “agitadores da direita”. E ainda, no artigo “A teoria freudiana e o modelo fascista de propaganda” (1951), escrito em parceria com Horkheimer, que dá continuidade de certa forma às discussões iniciadas no texto anterior. Nesses dois escritos constam mais algumas pistas para entender a retórica fascista.

A crítica de Adorno e dos seus colegas da Escola foi predominantemente de origem psicanalítica, mas apresenta uma proximidade dos preceitos da biopolítica, senão vejamos a versão de Carone:

As metáforas animais, além da terminologia psiquiátrica para representar o inimigo, eram amplamente utilizadas: ratos roedores, répteis, insetos e germes. Os inimigos da América eram chamados, em geral, de formigas brancas que devoraram os pilares da vida econômica, social, religiosa e política da América. A ideia em germe era também muito usada para mostrar não só a contaminação, mas a necessidade de extermínio do inimigo (2002, pp. 212-213, grifo do autor).

A obra de Sigmund Freud mais referida por Adorno é Psicologia de massas e a análise do eu, que não foi pensada exatamente para este contexto, mas dele teria se antecipado. Nessa obra, Freud defende que o comportamento do indivíduo, quando mergulhado no grupo ou na massa pelos mecanismos de sugestão, acaba assumindo a personalidade do coletivo, o que facilita adotar comportamentos discriminatórios, de ódio ou indiferença, ou então pode ter ou adquirir padrões de moral elevados pelo grupo. Adorno considerou as técnicas utilizadas pelos agitadores de direita de “psicanálise às avessas”, por que usavam o poder da sugestão para hipnotizar as massas e assim mais facilmente torná-las objeto de manipulação (Carone, 2002).

Assim como a Psicanálise surge para dar conta das relações humanas perturbadas, a biopolítica auxilia a compreender a redução da linguagem operada pelo fascismo; redução essa à linguagem pobre em que o ser humano é compreendido muito próximo do reino animal, no sentido pejorativo. A biopolítica defende o modelo das técnicas de governo inspirado na forma de tratamento da medicina, como as estratégias de descontaminação e o uso de vacinas extraídas do próprio veneno. O organismo aprende assim a combater o mal que o aflige melhorando o seu sistema imunológico. Do mesmo modo, o transporte de tal “medicina” para o campo social e político gerou o biopoder e a biopolítica, trazendo efeitos positivos para a saúde da população, mas também consequências devastadoras. E isso demarca, segundo Agamben, a volta à animalidade das políticas em pleno período moderno, dado que “o ingresso da zoé na esfera da polis, a politização da vida nua como tal, constitui o evento decisivo da modernidade, que assinala uma transformação radical das categorias político-filosóficas do pensamento clássico” (2013, p. 13).

A vida animal (zoé) não era admitida na categoria do cidadão no mundo grego, especialmente para Aristóteles, enquanto a bíos, a vida digna ou vida qualificada dos homens da polis, recebia a consideração de puro movimento político, ou seja, ela possuía o privilégio de ser exercida exclusivamente pelos seres humanos. Porém na modernidade a política visa apenas à sobrevivência dos corpos, ou seja, temos a volta da zoé na bíos fazendo com que, segundo Agamben, a biopolítica se transforme em tanatopolítica. O exemplo por excelência dessa prática são os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, em que os prisioneiros foram tratados como simples animais ou cobaias pelas práticas de racismo. No artigo “O mito fascista da romanidade”, Giardina (2008) explica como a aproximação de Mussolini e Hitler, com a finalidade de Alemanha e Itália lutarem juntas na Segunda Guerra, contribuiu para que o fascismo, “de uma total recusa do racismo biológico” (p. 66) passasse a incorporá-lo às suas pautas de luta e de guerra. Desse modo a biopolítica surge como uma forma de compreender não só os aspectos excludentes do nazismo, mas também as manifestações fascistas de racismo. Logo, a participação da ação humana na práxis política, lugar do diálogo e da busca de consensos públicos, tema esse muito caro para Hannah Arendt (1995), é retirado do horizonte moderno e substituído por medidas que visam apenas à manutenção da vida nua. Nesse contexto, o amor, por exemplo, é encarado apenas como sexo, ou seja, como simples reprodução da vida, e todas as técnicas políticas no campo profilático, sanitário ou da saúde têm em mira apenas a preocupação de garantir a reprodução da mera vida. Como assevera Roberto Esposito em seu livro Bios, Biopolítica y filosofia: “O que se queria evitar a todo custo era que os seres inferiores contagiassem a seres superiores” (2011a, p. 185). E, para isso, é fundamental uma operação na linguagem que garanta essa transformação

Por aí se explicam vários elementos que aparecem nas análises sobre esse totalitarismo, porque a sua mensagem, como diz Adorno, “se dirige a uma audiência que tem de ser imaginada como sendo formada, em sua maioria, pelas pessoas da classe média baixa desapontada, em geral as mais velhas e solitárias, as mulheres em particular” (1943, p. 14). Umberto Eco também já havia definido como um dos arquétipos do fascismo o “apelo às classes médias frustradas”. Essa patologia atinge mais facilmente assim as classes menos favorecidas pelo desenvolvimento econômico e intelectual. E quando o campo da linguagem é restrito, o indivíduo fica mais sujeito à captura pelo fascínio da oralidade.

Outro elemento que pode ser associado a esse caso, é o que também denota Umberto Eco quando percebe que o Ur-fascismo fala a “novilíngua”, língua esta inventada por Georg Orwel no romance 1984:

Todos os textos escolares nazistas ou fascistas se baseavam em um léxico pobre e em uma sintaxe elementar, com o fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico. Devemos, porém, estar prontos a identificar outras formas de novilíngua, mesmo quando tomam a forma inocente de um talk show popular (Eco, 2018, pp. 58-59).

Talvez seja por isso que, no caso do Brasil, há uma tendência do MEC em reformular os livros didáticos, adaptando-os à essa linguagem de compreensão pobre dos fatos históricos e políticos do passado. Do mesmo modo como os agitadores fascistas tratavam seus inimigos, utilizando-se da mais avançada tecnologia de que dispunha a época para propagar seus discursos de ódio, podemos colocar ainda na conta dessa redução da linguagem as fake news e toda a parafernália de termos, imagens e sons que os cercam nas redes sociais da Internet atualmente. Embora as diferentes análises efetuadas sobre o fenômeno do fascismo, voltam sempre alguns elementos como, além do apelo à linguagem pobre e a captura da baixa classe média, o anti-intelectualismo e, ainda, o fundamentalismo na religião. O papel da religião é basilar para entender as manifestações desse movimento nos EUA, pois, quando falta o diálogo, sobra a necessidade de que a linguagem deva ter um fundamento transcendente, posto que não precisa haver discussão; tudo já está revelado de antemão. Nada mais contrário à mensagem cristã, pois nela a localização da responsabilidade é imputada ao comportamento do indivíduo em situação. Por isso as técnicas de confissão e de perdão da culpa são expedientes utilizados de devolução da dívida coletiva para o plano individual. Um exemplo clássico nesse sentido é a passagem bíblica da mulher flagrada em adultério (Jo. 8, 1-11). Diante da multidão que a ameaçava com apedrejamento, Jesus sugere: “Quem não tem pecado, que atire a primeira pedra”. Ou seja, ele aconselha um retorno ao indivíduo para possibilitar a saída do “efeito multidão”. A busca desse ponto de vista exterior à linguagem é que justamente empobrece o sentido da comunicação, daí podemos entender o sentido de certas perguntas formuladas por Carone, a partir das pesquisas de Adorno:

Uma das questões mais intrigantes, nessa comunicação entre o agitador e os destinatários, foi a do seu invólucro religioso: como é que o cristianismo, enquanto doutrina igualitarista do amor universal, esteve a serviço da “religião do ódio” da prática fascista? Não haveria aí uma contradição difícil de ser engolida? (2002, p. 198).

Compreender-se na linguagem é não aceitar um ponto de partida totalmente fixo, já que a linguagem é fluída; é um vir-a-ser constante. Mas a pobreza que encontra em si faz com que o fascista a projete na ação dos educadores e na prática das escolas e universidades. É por isso que ele tem como alvo preferencial de seus ataques as instituições formativas, que são locais cujo meio de existência se definem essencialmente no aprendizado do ouvir e falar, próprio do diálogo e do uso da linguagem de maneira compreensiva:

Sempre que o fascismo ameaça, seus representantes denunciam as universidades e escolas como fontes de ‘doutrinação marxista’, o bicho-papão clássico da política fascista. Usada normalmente sem qualquer conexão com Marx ou com o marxismo, a expressão é empregada na política fascista como uma maneira de difamar a igualdade (Stanley, 2018, p. 54).

O enriquecimento proporcionado pela linguagem se deve ao desenvolvimento da capacidade de, em pé de igualdade, aprender com o outro, o que exige a humildade da participação no diálogo (Hermann, 2002). É aquele momento especial em que, como assinala Palmer, “a vida compreende a vida” (2006, p. 120). Não é isso que se observa no comportamento fascista, pois ele já tem as respostas dadas antes das perguntas, o que dificulta colocar-se em dúvida, abrir-se ao questionamento e ao aprendizado com o outro na interação. É por isso que afirma Tiburi a respeito da personalidade fascista:

O fascista não consegue relacionar-se com outras dimensões que ultrapassem as verdades absolutas nas quais ele firmou seu modo de ser. Sua falta de abertura, fácil de reconhecer no dia a dia, corresponde à sua visão de mundo preestabelecida. A outra pessoa é o que o fascista não pode reconhecer como outro. O outro é reduzido a uma função dentro do círculo no qual o fascista o enreda (2017, p. 23-24).

Desse modo, ele impede a fusão de horizontes entre um eu que interpreta e um outro interpretado, condição essa indispensável para a ampliação da compreensão pelo diálogo. Exerce papel singular nesse contexto a necessidade de interpretar o texto (o outro discurso) como resposta a uma pergunta, o que abre a possibilidade da eclosão do sentido. Mas o fascista teme a pergunta, na medida em que já tem a resposta previamente, ele se dogmatiza e se fecha na sua concha isolada dos outros e do mundo. Para esconder a irracionalidade do seu discurso, o fascista apela à supercompensação emocional da linguagem:

Os chefes fascistas são em geral tipos orais, com uma compulsão a falar sem parar e a ludibriar os outros. O famoso fascínio que eles exercem sobre seus os seguidores depende em muito de sua oralidade. Destarte a linguagem mesma, desprovida de seu significado racional, funciona de uma maneira mágica, favorecendo as regressões arcaicas que reduzem os indivíduos a membros da multidão. Como essa desinibição oratória é sobretudo associativa, pressupõe um relaxamento temporário dos controles do ego, o que pode indicar mais fraqueza do que força (Adorno, 1951).

Não há aí um parceiro reflexivo numa interação comunicativa, mas, sim, um destinatário que precisa ser coagido a uma verdade, já que agente e intérprete não são considerados em situação dialógico-interpretativa. Esse modelo de operação da linguagem se reduz à comunicação estratégica, em que o indivíduo tem dificuldade de se reconhecer fora do uso restrito da língua. No caso do Brasil, isso é bem evidente, quando o argumento por mais investimentos sociais virou sinônimo da defesa da corrupção ou de pautas “comunistas”. O desvio do uso da linguagem é causa, inclusive, de distorção econômica, posto que, ao deixar de investir em políticas sociais, está se deixando também, não apenas de impulsionar o desenvolvimento humano da população, posto que isso é fundamental, mas também o desenvolvimento econômico, pois haverá menos dinheiro circulando no mercado.

O fascismo atual

O ressurgimento de práticas totalitárias no contemporâneo é um fenômeno presente atualmente no Brasil e no mundo, aliado ao fato de a democracia estar fragilizada, ao surgimento da nova direita e o problema da escola pública. Essa última se debate, além dos problemas normais de falta de verbas e de infraestrutura, com acusações de doutrinação ideológica, como prega o projeto Escola sem Partido (Frigotto, 2017). Mas se, como pensa Heidegger, “A linguagem é a casa do ser” (2005, p. 8), que tipo de casa abrigaria a linguagem do fascismo? A identificação entre ser e linguagem é fundamental para entender a biopolítica do fascismo, pois significa que, se a sua linguagem é limitada, também a sua morada, construída no universo da linguagem, será modesta e sujeita a ser varrida mais facilmente pelo seu ciclone. Nada mais distante disso do que a definição de linguagem, no sentido hermenêutico, dada por Stein: “Existe, portanto, uma experiência da linguagem, de que a linguagem é mais do que nós mesmos, na medida em que a linguagem é parte daquilo em que estamos enraizados, e é parte de nossa facticidade” (1996, p. 73). Talvez esse abalo psicológico é o que busca o fascista pelo trabalho de sedução pela linguagem, desenraizando-a do seu universo contextual e remetendo à oralidade estereotipada. É um investimento que não se coaduna com os preceitos do uso da linguagem em situação ideal de fala, como buscava Habermas para a hermenêutica (Bleicher, 1982), mas no desvio e na patologia. Porém, tal situação também pode acometer os intelectuais, como bem observa Pelbart em seu artigo “Solidão, fascismo e literalidade”. (2005, p. 1325)

Mas também entre nós, intelectuais de sensibilidade alternativa, cresce a tentação de reafirmar palavras de ordem, e sub-repticiamente deslizamos nos cacoetes que Roland Barthes denunciava como sendo os dois maiores perigos intrínsecos à linguagem, a assertividade e a gregariedade. A linguagem, lembra ele, não é reacionária nem progressista, ela é simplesmente fascista: ela nos obriga a dizer certas coisas, a ocupar certos lugares, posições – homem-mulher, mestre-aluno, branco-negro, direita-esquerda etc.” (grifo do autor).

Se a linguagem tem a virtude gregária de criar comunidade, é preciso ficar atento ao seu efeito ou uso unilateral, que não promove a pergunta, mas busca alimentar o preconceito e as opiniões prévias. Nesse caso a linguagem se reduz a arte de convencimento, de querer ganhar adeptos, discípulos e não parceiros em interação. O verdadeiro diálogo pressupõe sempre abertura e não respostas óbvias e evidentes a tudo, pressupõe estranhamento e capacidade de se expor ao novo e ao diferente (Hermann, 2002). Aqui a hermenêutica faz a sua morada, que não é dirigida especificamente para debater o tema do fascismo, mas é uma casa universal, posto que no contemporâneo a hermenêutica deixou de ser metodologia para se tornar uma filosofia. Nesse aspecto, ela vai muito além da retórica fascista, dado que “a hermenêutica contém sempre um elemento que excede a mera retórica: inclui um encontro com as opiniões do outro que se verbaliza a sua vez” (Gadamer, 1994, p. 117). Por isso, é importante ter presente a crítica da biopolítica do fascismo como um uso desviante da linguagem, como incapacidade de comunicação, ou como forma de coação discursiva. E é interessante apreciar por esse prisma os questionamentos de Pelbart (2005, p. 1325), ao comentar a filosofia de Roland Barthes:

Como driblar os sentidos impostos, os lugares prévios, como introduzir a hesitação, a indecisão, os estados de suspensão? Como sustentar um discurso, pergunta ele, sem impô-lo? Como fazer do próprio ensino um exercício de desaprendizagem? Em sua aula inaugural no Collège de France, publicado posteriormente sob o título de “Aula”, Barthes escreve: “Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que atravessamos” (Barthes, 1999, grifo do autor).

A interrogação abre o espaço do diálogo para o não dito e o interdito. Ela é a condição para abertura do diálogo e a capacidade de nos expor, de nos aventurar no desconhecido. A tendência natural muitas vezes é acomodar o desconhecido ao já conhecido, o que demanda pouco esforço de adaptação. Mas isso é uma ilusão da situação de conforto, pois é justamente o questionamento que provoca a arte de desconcertar, de ir além e de fugir dos estereótipos. Quando ficamos no já sabido, corremos o risco de permanecer prisioneiros de nossas crenças e de trivialidades, mas quando nos lançamos na dúvida e no questionamento podemos de alguma maneira “quebrar” o preconceito do uso estratégico do discurso que visa somente o enfraquecimento do outro.

Considerações finais

O texto visou identificar os discursos sobre o fascismo a partir da compreensão que expõe a busca pelo seu significado para além dos múltiplos fatores que lhe são determinantes. Apesar da negação por alguns autores de que haja um pensamento estruturado por trás desse fenômeno, entendemos que há um tipo de filosofia que perpassa a experiência da linguagem por ele utilizada. Para isso, procuramos indagar o passado para desvelar, na medida do possível, como está se dando esse fenômeno de massa no universo on line e na era de crise da democracia representativa. Cumpre agora nos perguntar sobre como se posiciona a formação nesse contexto, especialmente os saberes da docência?

As tecnologias de manipulação das massas ainda estão agindo à solta no contemporâneo, criando uma falsa visão coletiva da realidade. Existem boas iniciativas de combate às fake news e o discurso de ódio pelo Facebook e Whatsapp, bem como há avanços na legislação para conter os crimes da Internet. No caso do Brasil, compete ao Marco Civil da Internet (MCI), criado em 2014, o tratamento da liberdade de expressão no universo digital:

A lei tem por intuito preservar a livre expressão e evitar a censura na rede, garantindo que qualquer pessoa possa se expressar livremente online, a fim de promover equilíbrio entre as garantias constitucionais de proteção da liberdade de expressão e da intimidade, da honra e da imagem das pessoas (Silva, Botelho-Francisco, Oliveira, & Pontes, 2019, p. 474).

Em geral, porém, as ações educativas encontram dificuldades para se contrapor ao status vigente, quando não se rendem a tais discursos de ameaça, posto que não há conexão com os conhecimentos do currículo escolar. Entre outras iniciativas, alguns países estão oferecendo a educação para a mídia a seus estudantes. Mas como sabemos, isso por si só não basta, é preciso no mínimo, além de reconhecer e abordar a leitura de fake news nas escolas, ou mesmo contribuir para a identificação de discursos de ódio, compreender como esses mecanismos de cooptação funcionam.

Nas redes sociais digitais impera o mesmo “efeito multidão” no contexto das fake news, no qual o indivíduo é levado a se comportar como rebanho, de acordo com o que vimos nas experiências do fascismo italiano e do nazismo alemão, ou mesmo em democracias como a norte-americana, conforme descreve Adorno. A diferença são os meios utilizados, que se deslocam da esfera de influência do rádio, cinema ou televisão, para o campo da internet, dos computadores e dos aparelhos celulares. Mas como aí são trabalhados elementos inconscientes, os quais não observam tempo e lugar, os arquétipos afloram, provocando a mesma gama de hipnose ou surto psicótico coletivo. No ambiente das fake news, a tendência é se comportar do mesmo modo, isto é, como coletivos que não refletem sobre seu conteúdo, somente repassando adiante, sem uma leitura mais atenta do seu conteúdo ou do tal “efeito multidão”.

Nesse sentido há uma demanda para a formação de professores na busca de um maior aprofundamento sobre a biopolítica, na correlação com a psicanálise, para pensar as narrativas de formação nesse contexto. A experiência hermenêutica do diálogo pode servir como antídoto ao uso biopolítico da linguagem pelo fascismo, pois não trabalha com o fechamento do horizonte do intérprete (Gadamer, 1994). Porém, diferente da resposta de Adorno e da psicanálise, ou mesmo do cristianismo - de devolução do problema ao plano individual –, apostamos no diálogo e no poder da linguagem em interação comunicativa, que provoca a fusão do questionamento com a compreensão, abrindo assim novas possibilidades de sentido (Hermann, 2002). É preciso nesse aspecto rever os “saberes da docência” (Tardif & Raymond, 2000), atentando para dispositivos e pautas inspirados no exercício do “saber interpretar” e “saber dialogar”. Os interlocutores podem desse modo sair de sua posição original e produzir novos acordos, arejando a (con)vivência da cidadania democrática.

Como afirma Hermann, “A educação é, por excelência, o lugar do diálogo” (2002, p. 95), portanto não é lócus de doutrinação ou de uso ideológico da linguagem, mas é aí que reside a própria possibilidade do educar. E se a linguagem do fascismo é reduzida aos preceitos da biopolítica, e o seu assédio é “eterno”, como bem alerta Umberto Eco, um educador comprometido com os ideais da esfera pública democrática e da cidadania cibernética não pode passar ao largo dessas questões. É preciso minimamente refletir até que ponto a sua prática e da escola/universidade estão contaminadas ou não por estereótipos ou preconceitos de subalternidade de raça, cor, gênero ou classe social. E trabalhar para que a sociedade possa fazer dessa nova morada (a Internet) um lugar de humanização, de evolução científica, tecnológica e moral.

2O dicionário de Oxford elegeu em 2016 a “pós-verdade” como a palavra do ano. Para Dunker (2017), a era da pós-verdade seria uma segunda onda do pós-modernismo com traços maiores de subjetividade, uma oposição a ela, mas sem contradição, pois assim como o pós-modernismo tematizou a modernidade e o sujeito moderno, a pós-verdade põe em questão a ideia de verdade e a sua autoridade suposta. Do ponto de vista do discurso, a característica maior da pós-verdade reside na negação do outro, na dificuldade de assumir a sua perspectiva ou de entender o seu ponto de vista. Em outras palavras “ela requer uma recusa do outro ou ao menos uma cultura da indiferença que, quando se vê ameaçada, reage com ódio ou violência. (…) Isso se aplica tanto ao espaço público, com suas novas e inesperadas conformações digitais, quanto ao espaço privado das relações amorosas ou amistosas, passando pelas relações laborais e institucionalizadas” (p. 28).

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Recebido: 25 de Setembro de 2019; Aceito: 08 de Junho de 2020; Publicado: 02 de Dezembro de 2020

Endereço para correspondência Amarildo Luiz Trevisan, Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, Bairro Camobi 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. trevisanamarildo@gmail.com

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