SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.43 número3Educación infantil y currículum: una mirada a las miradas de la producción académica índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Compartir


Educação

versión impresa ISSN 0101-465Xversión On-line ISSN 1981-2582

Educação. Porto Alegre vol.43 no.3 Porto Alegre set./dic 2020

https://doi.org/10.15448/1981-2582.2020.3.39663 

Apresentação

PRODUÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL: SÍNTESES, IDENTIFICAÇÃO DE LACUNAS & CONTRADIÇÕES1

CHILD’S EDUCATION PRODUCTION: SUMMARY, GAP IDENTIFICATION & CONTRADICTIONS

PRODUCCIÓN SOBRE EDUCACIÓN INFANTIL: RESUMEN, IDENTIFICACIÓN DE GAP Y CONTRADICCIONES

Vera Maria Ramos de Vasconcellos2 
http://orcid.org/0000-0001-9544-6600

Manuela Ferreira3 
http://orcid.org/0000-0003-4512-1669

Patrícia Maria Uchôa Simões4 
http://orcid.org/0000-0003-1606-7894

2Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

3Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE), Universidade do Porto, Portugal.

4Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), Pernambuco, PE, Brasil.


Apresentação

Repercussões dos direitos das crianças à educação e cultura, bem visíveis no processo da institucionalização da infância nas sociedades ocidentais contemporâneas, fazem-se igualmente sentir na intensificação das pesquisas em Educação e Psicologia da Criança, que ocorrem na transição do século XX para o século XXI. Esses estudos têm sido acompanhados de um deslocamento do olhar analítico que vem recentrando a compreensão sobre o desenvolvimento infantil na rede de relações sociais em que a criança participa e sobre a pedagogia no contexto sociocultural e histórico, em que toma lugar a diversidade de narrativas biosociográficas dos sujeitos e o reconhecimento das culturas infantis e suas potências para reconfigurarem as culturas institucionais e as culturas pedagógicas.

Os estudos sobre Infâncias, Educação e Psicologia de bebês compõem áreas do conhecimento cuja construção se vem alicerçando em saberes, práticas e reflexões próprias, empiricamente sustentada em processos metodológicos qualitativos e, necessariamente, aberta ao diálogo interdisciplinar. Com o fortalecimento da produção científica sobre temáticas relacionadas à Educação Infantil, surge também a necessidade de discutir aspectos epistemológicos, teóricos, conceituais e/ou metodológicos dos estudos realizados em formato de abordagem teórica, artigos em periódicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado e comunicações em anais de eventos científicos. Trata-se de estudos descritivos e analíticos da produção científica sobre determinada temática (a Infância), por vezes por essa ser polêmica ou outras, por ser emergente. Esse tipo de estudo tem grande importância por possibilitar uma visão panorâmica da produção científica e, assim, favorecer os pesquisadores e estudantes a avaliarem essa produção, apontando possíveis lacunas teórico-analíticas, resultados contraditórios, diversidade metodológica, etc.

As pesquisas da produção pericial sobre a Infância, a Educação e a Psicologia Infantil representam um incalculável trabalho de visibilização social de acervos documentais de “literatura cinzenta”, tornando-os disponíveis à indagação, à exposição e desconstrução das estruturas normativas, tornadas convencionais no mundo científico sobre Infância, Crianças, Educação e Psicologia. Acionar a reflexividade científica pode possibilitar aos pesquisadores dedicarem-se a descrever as práticas inerentes ao seu próprio trabalho de pesquisar e retirar da sombra os impasses e limitações metodológicos com que, reiteradamente, se depararam. Tais situações, que são igualmente constitutivas da pesquisa, colocam o pesquisador frente a si mesmo, reenviam-no aos impasses, dúvidas e dilemas não previstos, obrigam-no a tomar decisões e a ponderar eticamente sobre elas e suas consequências. Por conseguinte, atribuir estatuto epistemológico a essas situações, colocando-as no mesmo plano das que são produzidas intencionalmente e decorrem conforme a agenda de pesquisa previamente definida, torna-se uma vertente central e crítica do trabalho de pesquisar e de formas de se avançar no esclarecimento dos resultados das nossas investigações, produzindo conhecimento mais humano.

Dentro do campo da pesquisa educacional, os estudos sobre a Educação e Psicologia Infantil têm se constituído como área de saberes que procura contemplar a diversidade das infâncias e as singularidades das histórias da infância e do desenvolvimento infantil para oferecer conhecimentos que contribuam para novas formas de pensar as práticas docentes, o currículo e a avaliação na/da Educação Infantil.

Com os avanços na legislação, que apontam para o direito à educação formal de bebês e crianças pequenas em instituições especializadas, a ampliação do atendimento em creches e pré-escolas no país, a obrigatoriedade da matrícula nas instituições de Educação Infantil a partir dos 4 anos e a crescente compreensão entre os estudiosos da área de que a infância é uma categoria explicativa e estrutural da sociedade, é urgente a análise do conhecimento que vem sendo produzido sobre políticas públicas, formação e práticas docentes, currículo e avaliação educacional para a Infância, Educação e compreensão do desenvolvimento dos pequenos.

Foi com o intuito de oferecer uma visão de longo alcance dessas pesquisas que este Dossiê foi organizado. Nele, convergem diferentes análises da produção acadêmica sobre temáticas específicas relativas às Infâncias e às crianças, que assim disponibilizam uma análise crítica de estudos para os pesquisadores da área. Elegemos temáticas relevantes às áreas da Educação e da Psicologia da Infância para analisar as tendências presentes nas diversas pesquisas e seus padrões de investigação, os perfis dominantes e seus fundamentos, trabalhos afins e/ou com afinidades analíticas, além de explorar os desafios e oportunidades do campo e orientações merecedoras de futuras análises.

Temos como questões centrais nos artigos: de que modo as pesquisas vêm utilizando os dispositivos metodológicos existentes? Quais as temáticas predominantes e quais as suas potencialidades e limites? Quais são as interrogações de fundo que balizam hoje o processo de construção dos conhecimentos relativos aos estudos da Infância em Educação e Psicologia? Cada artigo apresenta modalidades próprias de análise, produzindo categorias e dimensões que serviram de orientação às leituras efetuadas e à forma de apresentação dos dados. A maioria organizou os dados por: área de conhecimento, perspectiva teórica, participantes, objetivos, metodologia adotada para produção, análise dos dados e resultados. Foram utilizados dados quantitativos e qualitativos, na tentativa de apreender o processo de construção do conhecimento presentes nas produções analisadas. Com isso, foi possível perceber o mapeamento das tendências e dos padrões das pesquisas construídas ao longo do jovem século XXI e a construção de “sínteses de evidências” de temas caros aos estudos do campo da Educação e da Psicologia da Infância, percebendo sensibilidades teóricas, metodológicas e empíricas que se entrecruzam nas produções acadêmicas.

No primeiro artigo, as autoras reportam-se às pesquisas documentais em fontes escritas sobre a Infância e sua Educação em Portugal, com o objetivo de identificar o “estado da arte” dos estudos dessas temáticas e, partindo de um quadro socio-histórico mais amplo, regressam a trabalhos produzidos por elas para uma análise. Em suas conclusões, refletem sobre a capacidade de referenciar, perspectivas e reinterpretar a análise dos dados nas pesquisas de estado do tipo “estado da arte” ou “estado do conhecimento” de modo a gerar novos conhecimentos.

O segundo artigo discute teoricamente o que são as revisões críticas reconhecidas como “Estado da Arte” e “Estado do Conhecimento”, na busca por refletir sobre congruências e divergências das concepções sobre os diferentes tipos de investigação. Para além das especificidades, as autoras ressaltam a importância das revisões bibliográficas como instrumentos que possibilitam a demarcação de temas pouco estudados que favorecem o debate entre os diferentes campos do saber.

O terceiro apresenta um levantamento de teses, dissertações e trabalhos publicados nos Anais das Reuniões da Associação Nacional de Pós - Graduação e Pesquisa em Educação - ANPEd e dos Seminários de Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias - GRUPECI, no período de 2007 e 2018. Os resultados revelam a segmentação entre as ações de cuidado e educação na percepção dos professores de creche. O estudo aponta a necessidade da discussão sobre essas temáticas na formação docente inicial e continuada de profissionais que atuam na Educação da Infância.

No quarto artigo, os autores apresentam uma revisão da literatura dos estudos que discutem a expansão de vagas para a Educação Infantil no contexto do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos de Rede Escolar Pública de Educação Infantil (PROINFÂNCIA), publicados entre os anos de 2008 a 2018. A análise revela a contribuição do Proinfância como programa que introduz a Educação Infantil enquanto prioridade na política educacional no âmbito dos governos federal e municipais.

O quinto artigo analisa a produção acadêmica nacional relativa à temática do currículo na Educação Infantil. A questão do currículo, reconhecida como controversa desde sua emergência na área, nas últimas décadas passou a ser central à consolidação da Educação Infantil para a construção de propostas e práticas institucionais de qualidade que respeitem as especificidades infantis. Essa centralidade materializa-se em documentos oficiais como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB Nº 5, de 17/12/2009) e a Base Nacional Comum Curricular - Educação Infantil (BRASIL, 2017)

No sexto artigo, as produções acadêmicas sobre os bebês nas creches são analisadas em periódicos publicados entre os anos de 2007 e 2018, na base de dados da Scielo. Essa análise aponta o crescimento da produção nos últimos anos e destaca o desenvolvimento infantil entre as temáticas mais abordadas nos estudos. Nas conclusões, ressalta a necessidade de a partir dos bebês e das creches, enquanto categorias de análise, discutir os resultados e as implicações que essa forma de abordagem tem para as políticas e práticas na Educação Infantil.

Propomo-nos, então, a retomar neste Dossiê as virtudes, mas sobretudo, dedicar particular atenção à exploração da opacidade de alguns dos impasses e limitações experimentados em pesquisas sobre a produção acadêmica relativa à Infância, à Educação e à Psicologia da criança pequena.

1A elaboração deste Dossiê contou com auxílio financeiro da FAPERJ (E-26.203.093/2016), que possibilitou a realização de Visitas Técnicas da terceira autora e de pós-doutorado da segunda, junto ao Grupo de Pesquisa coordenado pela primeira autora de abril de 2018 a maio de 2019.

Recebido: 06 de Junho de 2020; Aceito: 27 de Outubro de 2020; Publicado: 08 de Março de 2021

Vera Maria Ramos de Vasconcellos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro R. São Francisco Xavier, 524 – Bloco C Maracanã, 20943-000 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. vasconcellos.vera@gmail.com

Manuela Ferreira, Universidade do Porto R. Alfredo Allen, 4200, 135 Porto, Portugal. manuela@fpce.up.pt

Patrícia Maria Uchôa Simões, Fundação Joaquim Nabuco Av. Dezessete de Agosto, 2187 Casa Forte, 52061-540 Recife, PE, Brasil. pusimoes@gmail.com

Creative Commons License This is an article published in open access under a Creative Commons license