Este artigo é fruto de uma pesquisa na área da Educação, desenvolvida pela primeira autora, sob a orientação da segunda, que abordou a relação cuidado-educação na creche. Seu objetivo é discutir a produção bibliográfica realizada em âmbito nacional, fornecendo um mapeamento de trabalhos do que vem sendo produzido sobre essa temática.
Conforme apontam Vosgerau e Romanowski (2014, p. 167), os estudos de levantamento bibliográfico oferecem um panorama amplo sobre determinado tema, sinalizando o movimento das áreas de conhecimento, assim como as lacunas que podem orientar a realização de novas pesquisas. Para as autoras
(…) esses estudos favorecem examinar as contribuições das pesquisas, na perspectiva da definição da área, do campo e das disciplinas que o constituem, avaliação do acumulado da área, apontando as necessidades de melhoria do estatuto teórico metodológico, e mesmo as tendências de investigação.
Nesse sentido, realizou-se um levantamento das pesquisas que abarcavam a temática do cuidado e da educação em creches, no período entre 2007 e 2018, a partir das fontes científicas de dados, a saber: Anais da Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), especificamente dos trabalhos apresentados no GT 07 – Educação de crianças de zero a seis anos (anos 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2015, 2017 e 2018); Anais do Seminário de Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias (Grupeci), que acontece a cada dois anos (anos 2008, 2010, 2012, 2014, 2016 e 2018); e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), entre os anos de 2007 e 2018.
Os sítios Anped e Grupeci foram escolhidos pela relevância científica que têm no meio acadêmico, visto que congregam estudos do campo da educação infantil que propiciam o adensamento de pesquisas sobre a educação de bebês e de crianças pequenas, além de contribuírem na elaboração de políticas para a infância. O GT 07 foi implantado em 1981, “com a intenção de constituir um fórum de discussões e debates dos problemas e políticas da área” (Rocha, 2008, p. 53), e tem hoje um longo percurso de discussões e questões teórico-metodológicas. O primeiro evento do Grupeci ocorreu em 2008, em consonância com o crescimento dos grupos de pesquisa envolvidos na investigação sobre bebês e crianças e suas infâncias.
Em alguns trabalhos a temática foi evidenciada por meio do título ou do próprio resumo; em outros, se recorreu ao texto completo. Com o intuito de refinar a busca, selecionaram-se os descritores cuidar; cuidado; educar; educação e creche. A primeira busca foi feita nos resumos das publicações e nas palavras-chave apresentadas no próprio texto e, quando necessário, os termos foram procurados no corpo do texto.
Nos últimos anos, o quantitativo de estudos referentes à Educação Infantil apresentou crescimento expressivo, sinalizando o empenho do campo para responder à complexidade dos processos educativos voltados para a infância (Silva, Luz, & Faria Filho, 2010; Rocha & Buss-Simão, 2013). Contudo, poucos estudos têm se dedicado à temática do cuidar-educar na creche, como pode ser observado nas tabelas e gráficos a seguir.
Como é possível observar na Tabela 1, o número de publicações nos Anais da Reunião Nacional da Anped – GT 07 e do Grupeci são elevados. No entanto, no que concerne à temática aqui abordada, são poucos os trabalhos. No total, apenas 14 desses se dedicaram à discussão do tema cuidar-educar na creche. A partir do levantamento quantitativo, apresentam-se a descrição e a análise dos trabalhos encontrados dentro desse universo.
ANO | TOTAL DE TRABALHOS ENCONTRADOS | TRABALHOS SOBRE A TEMÁTICA CUIDAR-EDUCAR NA CRECHE | ||
---|---|---|---|---|
ANPEd GT 07 | GRUPECI | ANPEd GT 07 | GRUPECI | |
2007 | 18 | - | 01 | - |
2008 | 19 | 142 | 01 | 00 |
2009 | 16 | - | 00 | - |
2010 | 17 | 140 | 01 | 01 |
2011 | 15 | - | 01 | - |
2012 | 18 | 181 | 00 | 02 |
2013 | 12 | - | 00 | - |
2014 | - | 187 | - | 03 |
2015 | 27 | - | 01 | - |
2016 | - | 232 | - | 03 |
2017 | 17 | - | 00 | - |
2018 | ND | ND | ND | ND |
TOTAL | 159 | 882 | 05 | 09 |
Fonte: Elaborado pelas autoras.
ND = não disponível
Produções na Anped
Na busca por trabalhos que discutem a questão do cuidar-educar na creche, no site oficial dos Anais da Reunião Anual da Anped, foram encontrados cinco publicações referentes ao período de 2007 a 2018 (30.ᵃ a 39.ᵃ reunião anual), conforme apresentado na Tabela 1, considerando que os anais da 39.ᵃ Reunião Nacional da Anped, de 2018, ainda não se encontram disponíveis. Esse número reflete o percentual de 3,98% do total de trabalhos encontrados nesse intervalo de tempo que se dedicaram ao estudo do cuidado e educação na creche, como é demonstrado no Gráfico 1.
No Quadro 1, são apresentadas informações preliminares sobre os cinco trabalhos encontrados nos Anais da Reunião Nacional da Anped que discorrem sobre o cuidar-educar na creche, a saber: título, autoria, instituição e ano.
Título | Autoria | Instituição | Ano de Publicação |
---|---|---|---|
Um tempo vivido, uma prática exercida, uma história construída: o sentido do cuidar e do educar | Leusa de Melo Secchi Ordália Alves Almeida |
UFMS | 2007 |
No contexto da creche, o cuidado como ética e a potência dos bebês | Daniela de Oliveira Guimarães | PUC-Rio | 2008 |
Cuidado ou educação? A prática educativa nas creches comunitárias de Curitiba | Elisabet Ristow Nascimento Ademir Valdir dos Santos |
UTP | 2010 |
O que as crianças pequenas fazem na creche? As famílias respondem | Letícia Veiga Casanova | UNIVALI | 2011 |
Bebês que se relacionam com crianças mais velhas: cuidados e conflitos na educação infantil | Carolina Machado Castelli Ana Cristina Coll Delgado |
UFPel | 2015 |
Fonte: Elaborado pelas autoras.
No artigo “Um tempo vivido, uma prática exercida, uma história construída: o sentido do cuidar e do educar”, Secchi e Almeida (2007) buscaram compreender as funções de cuidar e educar na educação infantil e como as professoras significavam essas funções. A partir do viés histórico-cultural, foi realizada uma investigação de abordagem qualitativa por meio de observações das práticas educativas e conversas com professoras de crianças de cinco e seis anos de idade. As análises dos dados dialogaram com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, 2009), sobretudo no que diz respeito às práticas, brincadeiras, interações e organização do tempo e do espaço. Os resultados revelaram que as práticas pedagógicas estavam orientadas para a alfabetização, com ênfase nos aspectos percepto-motores e contavam com uma organização espaço-temporal que não favorecia as brincadeiras e as interações.
O texto não discutiu a dimensão do cuidado no trabalho pedagógico, embora tenha anunciado essa problematização no título e no objetivo do artigo. Segundo as autoras, a opção de realizar a pesquisa em uma instituição com crianças de cinco e seis anos de idade deveu-se ao fato de que, no município onde o estudo foi desenvolvido, somente as pré-escolas pertenciam à Secretaria de Educação. As creches não estavam sob a responsabilidade dessa Secretaria, contrariando o que está determinado na LDBEN (Brasil, 1996). Diante disso, é possível dizer que a cisão entre cuidado e educação se materializa não só nos sentidos produzidos pelas professoras, mas também, nos órgãos a que as instituições creche e pré-escolas estão vinculadas.
Guimarães (2008) discutiu a qualidade das práticas de cuidado na creche no trabalho “No contexto da creche, o cuidado como ética e a potência dos bebês”. O texto explicitou a tensão entre a herança higienista da instituição e a busca da uma especificidade educacional, problematizando as funções de educar e de cuidar. A partir de pressupostos etnográficos, a produção dos dados se deu em um berçário de uma creche pública, mediante registros escritos e fotográficos, destacando cenas nas quais a disciplina e a instrução atravessam as relações dos adultos com as crianças. A análise dos dados foi pautada nos estudos de Foucault sobre o cuidado de si na cultura greco-romana, em uma perspectiva ética. A autora percebeu que a educação era vista pelas educadoras como instrução e o cuidado como “dar conta” das rotinas.
Guimarães abordou os efeitos da educação para o controle, na qual o adulto comanda as ações e suas formas de acontecer. Advertiu que as atividades mecanizadas não possibilitam ao bebê o desenvolvimento para a autonomia no cuidado com seu corpo. Argumentou que apenas a reflexão crítica sobre a prática possibilitará aos profissionais enxergar a inviabilidade da dicotomia entre o cuidar e o educar para transformar as práticas.
Nascimento e Santos (2010), autores do artigo “Cuidado ou educação? A prática educativa nas creches comunitárias de Curitiba”, investigaram a intencionalidade de educadores para a educação e cuidado de crianças, preconizando as políticas públicas para a infância e os pressupostos dos documentos internacionais que tratam da educação e do cuidado na primeira infância – ECPI (Unesco, 2006; Oecd, 2006).
O estudo esteve circunscrito a 82 Centros de Educação Infantil (CEI) conveniados à rede municipal de Curitiba, Paraná. As instituições eram de natureza filantrópica ou comunitária, privadas, que faziam o atendimento das crianças de zero a cinco anos de idade de forma complementar ao órgão municipal.
A pesquisa empírica foi realizada mediante a aplicação de um questionário a 1027 educadores de todas as unidades. Entretanto, somente 383 foram respondidos e validados. As questões abordavam o perfil dos educadores (sexo, idade, religião, escolaridade), dados sobre a formação inicial e frequência a atividades de formação em serviço oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação, além de tempo de atuação no mesmo CEI e o tempo em que trabalha com crianças de zero a seis anos. Frente aos objetivos do estudo, havia uma questão sobre a prática educativa, a saber: “O que você mais gosta de fazer quando está com as crianças no CEI?”.
As respostas envolviam: brincar; contar histórias; cantar; cuidar; atividades pedagógicas; conversar; dançar. Através da Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (1977); para os pesquisadores, as respostas “cuidar” e “atividades pedagógicas” relacionam-se, respectivamente, à dimensão de carinho, alimentação e higiene, e a segunda, à escolarização. Assim, concluíram que existe a convivência indissociável entre cuidado e educação.
Casanova (2011), no trabalho “O que as crianças pequenas fazem na creche? As famílias respondem”, pesquisou os sentidos produzidos pelas famílias acerca da função da creche. Foram realizadas 11 entrevistas com mães e irmãs mais velhas de bebês e crianças. Os dados foram produzidos nas residências, permitindo à pesquisadora conhecer um pouco melhor a realidade doméstica.
A análise das falas indicou que para as famílias a creche é um espaço onde os filhos permanecem enquanto elas trabalham e as atividades estão relacionadas à distração de seus filhos. A brincadeira foi vista como um “ato rotineiro e sem função educativa” (Casanova, 2011, p. 8). A alimentação e o sono foram significados como rituais, e não como estratégias de desenvolvimento para bebês e crianças. A pesquisadora ressaltou que a relação entre os profissionais de creche e familiares ocorria estritamente para comunicar horários de banho, alimentação, sono etc., reforçando a ideia de creche como “lugar de ficar”. Na conclusão, sinaliza que, para os familiares e, muitas vezes, para os (as) professores (as), a creche é um espaço que recebe filhos de mães trabalhadoras ou bebês e crianças em situação de vulnerabilidade. O reconhecimento da creche pelas famílias como direito de bebês e crianças bem pequenas raramente apareceu.
Se os trabalhos até aqui discutidos focalizaram os sentidos e/ou as práticas de cuidado e educação dos adultos (professoras) com bebês e crianças, o artigo “Bebês que se relacionam com crianças mais velhas: cuidados e conflitos na educação infantil”, de Carolina Machado Castelli e Ana Cristina Coll Delgado (2015), abordou questões referentes à relação entre bebês e crianças mais velhas, tangenciando a discussão sobre o cuidado desempenhado pelo adulto na creche. Contudo, o trabalho de Gonzaga e Arruda (1998), que investigou os significados e as fontes do cuidar e do não cuidar no contexto hospitalar, foi citado pelas autoras. Aquele estudo identificou três significados sobre o cuidado que se encontram conectados: o cuidar profissional, o cuidar materno-paterno e o cuidar amigo. Com base naquela pesquisa, as autoras definiram o cuidado profissional no âmbito educacional como aquele:
(…) proporcionado pelos profissionais da escola; inclui ações como prover alimento, dar banho, trocar fraldas, organizar o espaço, limpar a instituição, contar histórias, oferecer brinquedos e materiais, possibilitar ampliação de saberes, relações, experiências e autonomia das crianças. (Castelli & Delgado, 2015, p. 8)
Nota-se que a definição do cuidar profissional é caracterizado por ações que contemplam tanto a dimensão da assistência quanto a da educação.
É importante destacar que, apesar de existirem poucas publicações nos Anais da Reunião Nacional da Anped – GT 07 sobre a temática do cuidar-educar na creche, o trabalho de Guimarães (2008) parece ser um marco na discussão sobre os processos de cuidado e de educação especificamente com bebês, invisibilizados nas pesquisas no campo da educação infantil.
Produções do Grupeci
Do total de 882 artigos publicados nas cinco edições do Seminário Grupeci (2008-2018), foram localizados nove trabalhos que discutiram a temática do cuidar-educar na creche, ou seja, apenas 1,02% dos artigos conforme demonstra o Gráfico 2.
No entanto, diferentemente do que foi encontrado no levantamento dos Anais da Reunião Nacional da Anped, é possível perceber um discreto movimento de ascensão no número de pesquisas que abordam a temática, como pode ser visto no Quadro 2.
Título | Autoria | Instituição | Ano de Publicação |
---|---|---|---|
Assistência social, família e educação: significado de práticas educativas no âmbito da assistência social no trabalho com famílias | Ana Paula da Silva Pereira | UERJ | 20103 |
Trabalho docente na educação infantil: entre o educar e o cuidar | Ana Maria Cunha Aguiar e Maria do Rosário de Fátima Carvalho | UFRN | 20124 |
Educação e cuidado da criança negra no Brasil: as relações entre escravização, escolarização e socialização | Ana Cristina Juvenal da Cruz Fabiana de Oliveira Maria Walburga dos Santos Tatiane Consentino Rodrigues |
UFSCar | 2012 |
A formação docente na creche: o cuidar e o educar. | Thaís Oliveira de Souza Adelaide Alves Dias |
UFPE | 20145 |
O trabalho pedagógico com bebês na educação infantil: contribuições da psicologia histórico-cultural. | Janaina Cassiano Silva | UFG | 2014 |
A creche como espaço de educação e cuidado: o trabalho pedagógico no município de Corumbá-MS | Ana Maria Santana da Silva; Silvia Adriana Rodrigues; Fernanda Ribeiro da Silva; Maria de Fátima Ribeiro; Lilyane da Silva Pedreira; Micheline Medeiros dos Santos Santanna; Dayane Laura Estigarribia |
UFMS | 2014 |
Levantamento bibliográfico: uma primeira leitura sobre o tema do cuidar e ser cuidado no campo da educação | Gabriela Barreto da Silva Scramingnon; Maria Leonor Pio Borges de Toledo; Marina Pereira de Castro e Souza |
PUC-Rio | 20166 |
Práticas de cuidados/educação na creche: o que dizem as crianças sobre a atuação de suas educadoras? | Jeane Costa Amaral; Tacyana Karla Gomes Ramos |
UFS | 2016 |
Percepções de familiares de crianças de creches quanto ao trabalho desenvolvido na educação infantil | Karla Cabral Barroca; Patrícia Maria Uchôa Simões |
UFRPE | 2016 |
Fonte: Elaborado pelas autoras.
O Quadro 2 demonstra que as pesquisas advêm de diversas universidades, de diferentes regiões do País, por meio dos núcleos e grupos de pesquisa.
A primeira edição do Seminário de Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias – Grupeci, realizada em 2008, contou com 142 trabalhos e nenhum abordou a temática do cuidar-educar. Já na edição de 2010, nos Anais do II Grupeci, que teve 140 trabalhos, foi encontrado o artigo “Assistência social, família e educação: significado de práticas educativas no âmbito da assistência social no trabalho com famílias”, de autoria de Ana Paula da Silva Pereira que, embora não apresentasse os termos cuidar e educar no título, resumo ou corpo do texto, as palavras educação e assistência apareciam com frequência no artigo, aproximando o sentido dessa última do termo cuidado.
Pereira (2010), assistente social e pedagoga, por atuar na assistência social, no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), em Maricá (RJ), abordou a educação para além da esfera escolar, focando a educação familiar. Para ela, o cuidado com a alimentação e a higiene, pautado na autonomia, educa para o conhecimento do corpo e das relações com o outro, além de promover a inserção da criança nos costumes culturais. Tal discussão tem como premissa a indissociabilidade entre cuidar e educar no processo de humanização da criança.
Em 2012, dos 181 trabalhos publicados nos Anais do III Grupeci, dois artigos apresentavam os termos cuidar e educar em seus títulos, considerando suas variações. O primeiro, intitulado “Trabalho docente na educação infantil: entre o educar e o cuidar”, de autoria de Ana Maria Cunha Aguiar e Maria do Rosário de Fátima de Carvalho, discutiu o início de uma pesquisa que teve como objetivo identificar e analisar representações sociais sobre o trabalho docente de professores cursistas do Programa de Formação Inicial para professores em Exercício na Educação Infantil (Proinfantil).7
A fim de conhecer melhor quem eram os profissionais que participavam do curso foi realizado o levantamento e a análise das características socioculturais deles. A maior parte dos profissionais era do sexo feminino, situados na faixa etária entre 26 a 45 anos e todos possuíam muito tempo de docência, porém sem a formação adequada conforme a legislação.
As pesquisadoras trabalharam com as palavras dar aula, professor, aluno, educação infantil e educação à distância, sendo acrescentados, ainda, os termos “trabalho docente” e “educação infantil”. Das 25 palavras que surgiram nas falas das professoras, na ordem de incidência, trabalho docente apareceu em último lugar e crianças em primeira. Cuidar apareceu em segundo, seguido da palavra educar. Para as autoras, essa classificação sugeriu que o termo cuidar-educar resume a ação pedagógica quando se fala de atuação docente na educação infantil.
As autoras questionaram o porquê de os termos estudo, planejar, aprender, ler e profissão estarem distantes no campo semântico de Educação Infantil, enquanto amor, crianças, cuidar e educar serem sempre próximos. Concluíram que a resposta estava relacionada à função maternal das professoras que trabalhavam com bebês e crianças pequenas tão presente no imaginário social.
O segundo trabalho, “Educação e cuidado da criança negra no Brasil: as relações entre escravização”, de autoria de Ana Cristina Juvenal da Cruz, Fabiana de Oliveira, Maria Walburga dos Santos e Tatiane Cosentino Rodrigues, discutiu as relações étnico-raciais, abordando também a relação cuidado-educação.
As autoras iniciaram o artigo enfatizando a invisibilidade de bebês e crianças de até três anos de idade em nossa sociedade, sobretudo quando são negras. A pesquisa discutiu o processo de escolarização e socialização de bebês e crianças bem negras pequenas, partindo do período escravocrata até os dias atuais, problematizando os processos de cuidado-educação. O estudo adotou um viés histórico e abarcou os primórdios da creche no século XIX, destacando a população pobre como alvo.
Ao fazerem um levantamento de pesquisas recentes, as autoras encontraram dados estatísticos que demonstravam o número reduzido de bebês e crianças bem pequenas matriculadas na creche. Desse quantitativo, bebês e crianças brancas eram a maioria.
O IV Grupeci ocorreu em 2014, e recebeu 187 trabalhos. Desses, três se dedicaram à temática cuidar-educar.
No texto “A formação docente na creche: o cuidar e o educar”, escrito por Thaís Oliveira de Souza e Adelaide Alves Dias, o objetivo foi discutir a formação docente de 51 professoras e auxiliares de creches (educadoras), em cinco instituições. Analisaram, ainda, os dados sobre a qualidade da relação entre educadoras, bebês e crianças. Posteriormente, foi apresentado um histórico dos documentos legais demonstrando o avanço na Educação Infantil. As autoras discorreram sobre a importância de uma formação de qualidade para atuar nesse segmento. Ao analisarem as ações pedagógicas de cuidado-educação, advertiram ser impossível separar uma função da outra visto que nas ações consideradas exclusivamente de “cuidado” existe também a dimensão “educação”, seja para a autonomia ou para a dependência.
A pesquisa apresentou ainda dados sobre a formação das educadoras, ressaltando que, das 37 auxiliares, apenas quatro seriam condizentes com a legislação brasileira para atuar na função docente (Brasil, 1996). As autoras ressaltam que essas profissionais eram as responsáveis pelas ações de alimentação e higiene, enquanto as professoras realizavam as ações didáticas por meio dos “trabalhinhos”.
A relação dicotômica se justifica na formação desigual, pois os profissionais de menor instrução ficam responsáveis pelas ações de cuidado, como se não existisse uma educação implícita nas ações de cuidado; e, os de escolaridade mais elevada ficam responsáveis pelas ações de ensino, que também demandam o cuidado com o outro.
As entrevistas com as profissionais e as observações do cotidiano revelaram práticas pautadas no assistencialismo, com viés materno, inclusive ao incentivo à nomenclatura “mãe” dos bebês e de crianças bem pequenas relacionada às educadoras. As pesquisadoras levantaram a questão sobre como lutar pela valorização profissional se as concepções assistencialistas estão presentes inclusive nos profissionais do sistema educacional.
Por fim, as autoras indicaram que para romper com os dados relatados na pesquisa e para se ter acesso a uma formação profissional de qualidade, é necessária uma reflexão crítica.
O artigo “O trabalho pedagógico com bebês na educação infantil: contribuições da psicologia histórico-cultural”, de Janaina Cassiano Silva, teve como objetivo demonstrar que o trabalho com bebês vai além do “cuidado”, tendo como eixo central da discussão o ensino. A autora discorreu sobre o desenvolvimento psíquico do bebê e apresentou vários autores que embasaram a teoria de que o desenvolvimento infantil não é natural ou inato, mas sim mediado pelo adulto que tem papel decisivo nesse processo. Apresentou sugestões sobre o trabalho que poderia ser desenvolvido com bebês. Para ela, o professor deveria incentivar o bebê nas suas aprendizagens articulando cuidado e educação. Um dos exemplos de ações pedagógicas apresentados foi o banho, que, para a autora, não deveria acontecer de forma mecânica, mas sim por meio de diálogos com o bebê sobre as áreas que estão sendo limpas, bem como sobre o uso consciente da água e do sabonete. Silva (2012) concluiu que, apesar de as professoras nem sempre terem consciência de que não é possível dissociar o cuidar do educar, as práticas de cuidado ocorrem de forma integrada à educação em algumas creches.
“A creche como espaço de educação e cuidado: o trabalho pedagógico no município de Corumbá – MS”,8 pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Infância(s) e Educação Infantil (Gepiei), investigou a concepção das profissionais das creches sobre os bebês. Embora o estudo não estivesse voltado prioritariamente para a temática do cuidado e da educação, as discussões sobre a organização espacial da creche abordam a relação entre o espaço e o cuidar-educar.
No ano de 2016, o V Grupeci recebeu o total de 232 trabalhos, dos quais três tratavam do tema cuidar-educar, sendo um deles um estudo de revisão de literatura. No artigo, “Levantamento bibliográfico: uma primeira leitura sobre o tema do cuidar e ser cuidado no campo da educação”, de Gabriela Barreto da Silva Scramingnon, Maria Leonor Pio Borges de Toledo e Marina Pereira de Castro e Souza, as autoras buscaram identificar as marcas de cuidar e ser cuidado em creches, pré-escolas e escolas em pesquisas no intervalo de 2011-2015. Os sítios de busca foram: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e artigos no Scielo; GT 07 da Anped; Congresso de Práticas (Auto)biográficas (Cipa); e IV Seminário de Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias (Grupeci), tendo como descritores as palavras história de vida; crianças e adultos; cuidar e ser cuidado; narrativa; educação infantil e ensino fundamental; professores e famílias. As áreas de conhecimento pesquisadas foram Educação, Serviço social e Saúde. O resultado da revisão bibliográfica foi disposto em uma tabela, tendo sido realizados, ainda, três seminários para estudo e discussão dos textos encontrados. Foi evidenciado que o tema do cuidado no âmbito da Educação Infantil é ação que complementa o educar, mas sem maiores discussões sobre a perspectiva do cuidar e ser cuidado como amalgamado nas relações cotidianas que ocorrem em ambientes de educação coletiva entre crianças, entre elas e os adultos (professores e familiares) e entre os adultos (professores e familiares).
O texto “Práticas de cuidados/educação na creche: o que dizem as crianças sobre a atuação de suas educadoras?”, de Jeane Costa Amaral e Tacyana Karla Gomes Ramos, apresentou de forma diferenciada a temática cuidar-educar, trazendo a impressão de crianças de três e quatro anos acerca das ações de cuidado-educação realizadas por seus professores e professoras.
A pesquisa teve como referencial teórico a Sociologia da Infância, com métodos de produção dos dados com sessões de conversas, jogos com fotografias, histórias e desenhos. A análise dos dados revelou que as práticas de cuidado-educação se apresentam como formas de disciplinamento ou castigos, ou seja, práticas de cuidado-educação voltadas à submissão. Como já dito a Educação tem uma intencionalidade e na creche essa intenção é pelo desenvolvimento da autonomia ou submissão.
A última publicação referente ao Grupeci, “Percepções de familiares de crianças de creches quanto ao trabalho desenvolvido na educação infantil”, de Karla Cabral Barroca e Patrícia Maria Uchôa Simões, não apresentou no título os descritores escolhidos para esse levantamento bibliográfico. No entanto, no corpo do texto, o tema cuidado-educação teve centralidade nas discussões.
A técnica de grupos focais foi utilizada na pesquisa, tendo sido realizados dois encontros com profissionais de creches, e outros dois, com familiares de bebês e crianças das instituições. Foram feitas gravações em áudios, transcritos posteriormente. A pesquisa apresentou um dado importante para o avanço das discussões sobre o tema, ou seja, as autoras afirmaram que os familiares reconhecem a educação para formação integral e as ações realizadas de cuidado-educação acontecem de forma integrada. Para elas, as famílias demonstraram perceber a creche como espaço destinado ao desenvolvimento de conhecimentos e habilidades voltadas à escolaridade futura. Embora não se concorde com a ideia de a creche ser um ambiente preparatório à escolarização, é preciso destacar o reconhecimento dos familiares sobre as ações de cuidado e de educação como ações inseparáveis.
Os artigos ora abordados permitem dizer que o tema cuidado-educação aparece timidamente nos eventos científicos mais são expressivos no campo da Educação Infantil. Parece haver uma tendência de aumento do quantitativo de trabalhos, porém ainda bastante lento.
Assim como as pesquisas apresentadas no GT 07 da Reunião Nacional da Anped “passaram de uma perspectiva que procurava incluir marginalmente os bebês, para uma perspectiva que passa a privilegiar ou priorizar os bebês” (Gonçalves, Buss-Simões, & Rocha, 2014, p. 12), pode-se dizer que esses trabalhos também têm se preocupado em discutir o cuidar-educar os bebês na creche.
Em relação à abordagem metodológica, prevalecem os estudos de natureza qualitativa, com o uso de diferentes instrumentos e métodos para a produção dos dados.
Por fim, esses estudos apontam para a fragilidade da formação docente voltada ao cuidar e ao educar na creche. Trata-se de um aspecto que precisa ser urgentemente enfrentado, visto que são professores e professoras sem formação específica para trabalhar com bebês e crianças bem pequenas, que, na maioria das vezes, adaptam práticas pedagógicas voltadas às crianças maiores.
Produções da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
Foi realizado um levantamento de teses e dissertações na página da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) referente ao intervalo temporal 2007 e 2018.
A BDTD é coordenada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), e integra um portal de buscas às pesquisas completas de teses e dissertações defendidas nas instituições brasileiras de ensino e pesquisa. Esse sítio contribui na publicação de investigações por meio da rede social, proporcionando maior visibilidade da produção científica nacional.
O Quadro 3 apresenta as teses e as dissertações encontradas que versam sobre o cuidar e o educar.
Título e autor | Área de conhecimento | Instituição e ano | Aspectos metodológicos | Natureza |
---|---|---|---|---|
Representações sociais de educadoras de creche a respeito do cuidado em saúde de crianças até cinco anos de idade Maria Elizabeth Siqueira Lemos |
Medicina | UFMG 2010 |
Estudo 1: Abordagem etnográfica, pesquisa-ação, relatos escritos, entrevistas semiestruturadas e oficinas de trabalho. Estudo 2: Abordagem estrutural e questionário |
Tese |
Ações em educação nutricional: cuidado em saúde com crianças pré-escolares em Creche Universitária Elizabeth Azevedo de Azeredo |
Enfermagem | UFF 2012 |
Abordagem qualitativa, Grupo Focal e entrevista semiestruturada | Dissertação |
Creche: desafios e possibilidades. Uma proposta curricular para além do Educar e Cuidar Rita de Cássia Marinho de Oliveira André |
Educação | PUC – SP 2016 |
Abordagem qualitativa, pesquisa bibliográfica e análise documental | Dissertação |
Cuidado, educação e vínculo na perspectiva de educadores de creches e instituições de acolhimento. Pedro Paulo Bezerra de Lira |
Psicologia | UFPE 2017 |
Abordagem qualitativa, entrevista | Tese |
Os sentidos da relação cuidar-educar nos berçários de uma creche do município de Juiz de Fora/ MG Letícia de Souza Duque |
Educação | 2018 UFJF Juiz de Fora/MG |
Abordagem qualitativa, questionário e PCCol – Pesquisa Crítica de Colaboração. | Dissertação |
A qualidade das práticas educativas em uma creche do município de Santo André/SP José Carlos da Silva |
Educação | UNINOVE 2018 |
Abordagem qualitativa, Pesquisa-intervenção com observação | Dissertação |
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Baseado no Quadro 3, é possível perceber que dentre os seis trabalhos encontrados, dois pertencem à área da saúde (medicina, enfermagem) e quatro, à área das ciências humanas e sociais (psicologia e educação/educação infantil). O verbete “cuidar” transita entre as áreas, sugerindo que é necessário abordar a educação de bebês e crianças bem pequenas na creche junto ao cuidado.
Com o intuito de compreender o viés das pesquisas encontradas na BDTD, apresentamos a seguir um resumo de cada estudo que abordou a relação cuidar-educar.
A pesquisa intitulada “Representações sociais de educadoras de creche a respeito do cuidado em saúde de crianças até cinco anos de idade”, de Maria Elizabeth Siqueira Lemos, teve o objetivo de conhecer a concepção de 16 professoras e 240 estudantes de pedagogia com relação a saúde na Educação Infantil. Os resultados apontaram para a ênfase no que é denominado “cuidados básicos de sobrevivência” (Lemos, 2010, p. 6), referindo-se à alimentação e à higiene, ou seja, ações de cuidado-educação que defendemos como aquelas que guiam o desenvolvimento de bebês e de crianças bem pequenas.
O estudo “Ações em educação nutricional: cuidado em saúde com crianças pré-escolares em Creche Universitária”, de Elizabeth Azevedo de Azeredo, também é oriundo da área da saúde e teve como objetivo analisar as ações educativas nutricionais implementadas na creche, identificando a aceitação ou não da alimentação saudável, a partir da visão dos responsáveis e professores/professoras. Os resultados foram favoráveis à melhoria na oferta de opções alimentares. Evidenciaram-se mudanças significativas tanto na ingestão de alimentos novos, como na aceitação de novas preparações tanto para bebês e crianças bem pequenas, quanto para seus familiares e professores/professoras da creche pesquisada.
O aprimoramento de uma prática alimentar saudável de bebês e de crianças bem pequenas está relacionado ao cuidado-educação de sua refeição se desenvolvido a partir da sua colaboração, com vistas, sobretudo, ao desenvolvimento da autonomia nas práticas culturais de alimentação.
O trabalho “Creche: desafios e possibilidades. Uma proposta curricular para além do Educar e Cuidar”, de Rita de Cássia Marinho de Oliveira André, buscou compreender os desafios e as dificuldades encontrados por professores ao transpor o currículo para a realidade da creche, concebendo os bebês e as crianças bem pequenas como sujeitos ativos e capazes de estabelecer relação com o outro. A autora discutiu a concepção de criança considerando diferentes teóricos. Ressaltou que a creche faz parte da Educação Básica e alertou para a necessidade de formação continuada para os(as) professores(as), visto que a formação inicial não é suficiente. Defendeu, ainda, a necessidade de um currículo que contemple os saberes de bebês e de crianças bem pequenas, baseado na escuta, na observação e na transformação do espaço em ambientes para que as crianças se sintam confortáveis e parte daquele lugar.
Com relação ao cuidar-educar, André (2016), baseada nas teorias de Vigotski, Wallon e Piaget, asseverou que o binômio deve ser considerado em uma perspectiva mais ampla e não como uma ação dos adultos sobre os bebês e as crianças bem pequenas. A partir dessas perspectivas, a autora argumentou que os sujeitos agem no mundo por meio da relação com o outro através da linguagem. Ao final, ressaltou a necessidade da construção de um currículo que envolva bebês e crianças bem pequenas considerando suas múltiplas linguagens.
A pesquisa intitulada “Cuidado, educação e vínculo na perspectiva de educadores de creches e instituições de acolhimento”, de autoria de Pedro Paulo Bezerra de Lira, foi realizada em creches e instituições de acolhimento com o objetivo de analisar os significados de cuidado, educação e vínculo para os profissionais que atuam com crianças entre zero e três anos. Foram realizadas entrevistas com profissionais da educação e do acolhimento. Após a análise qualitativa dos dados foi possível perceber o reconhecimento da instituição de acolhimento pelos sujeitos como espaço de cuidado e de proteção e, a creche, como espaço de desenvolvimento integral e de acolhimento.
O estudo “Os sentidos da relação cuidar-educar nos berçários de uma creche do município de Juiz de Fora/ MG”, realizado por Letícia de Souza Duque, foi de natureza interventiva com foco na formação em serviço. A pesquisa foi desenvolvida em uma creche com o objetivo de investigar e de refletir com professoras sobre suas práticas de cuidado-educação. Foi realizada a análise qualitativa dos dados produzidos a partir de questionário, observação e sessões reflexivas. Foi evidenciado que ora as professoras separavam as duas ações, ora não. Os resultados apontaram algumas mudanças nas falas e nas ações das professoras produzidas pelas reflexões no contexto da pesquisa-formação.
A investigação de José Carlos da Silva, intitulada “A qualidade das práticas educativas em uma creche do município de Santo André/SP”, foi realizada em um berçário e teve por objetivo analisar a prática dos profissionais a partir dos seguintes aspectos: parceria com a família, educação continuada de professores e a organização dos espaços e tempos da creche. A partir das análises dos dados, Silva (2018) concluiu que esses aspectos precisavam ser melhorados e apontou a necessidade da formação continuada para os profissionais da creche.
Os trabalhos encontrados na BDTD dão visibilidade à tensão que existe entre os campos da educação e da assistência. Considera-se reduzido o número de trabalhos encontrados referentes ao cuidar-educar.
Percebem-se nos trabalhos práticas de separar o cuidar do educar de forma hierarquizada muito presentes na Educação Infantil. Professores/as com mais escolaridade ficam responsáveis pela “educação”, enquanto o “cuidado” é destinado aos/às professores/as ou outros profissionais com nível mais baixo de escolarização. Por conseguinte, os que recebem menor remuneração, geralmente, são aqueles que ocupam as funções de apoio (cozinha e limpeza). As atividades circunscritas exclusivamente ao “cuidado” têm sido desvalorizadas ao serem comparadas com aquelas relativas exclusivamente à “educação” e ao ensino. No interior dessas funções estão presentes relações de poder que passam pelas questões de gênero e da matriz sócio-histórica. O cuidado está circunscrito às questões culturais, dependendo do contexto e dos costumes. É construído histórico e socialmente. Em razão de fatores socioculturais específicos de nossa sociedade, essa dicotomia alimenta práticas distintas entre profissionais que atuam lado a lado nas escolas de Educação Infantil, especialmente nas creches: as auxiliares cuidam e as professoras realizam atividades pedagógicas (Tiriba, 2005, p. 1).
Há necessidade de os/as professores/professoras compreenderem que a Educação Infantil abrange a dimensão cuidar-educar, como aspectos indissociáveis da prática docente, e não o somatório de duas funções, em que uma acontece em um determinado tempo/espaço e a outra noutro.
No campo teórico e na legislação, a segmentação entre o cuidado-educação parece estar superada. No entanto, as pesquisas apresentadas aqui demonstram que na prática ainda existe uma separação hierárquica entre as duas funções. Se na lei conseguiu-se superar a dicotomia entre o cuidar e o educar, na prática, as duas dimensões parecem caminhar dissociadas e, geralmente, privilegia-se um determinado tipo de cuidado-educação: aquele voltado para a submissão ou dependência (Kuhlmann Jr., 2000).
Considerações finais
Diante das análises realizadas frente ao levantamento dos trabalhos nos três sítios investigados, é possível perceber o baixo número de publicações que se dedicam ao tema cuidar-educar na creche. No entanto, é importante ressaltar que, desses poucos, as publicações foram inéditas, ou seja, cada pesquisa apareceu apenas em uma das fontes de dados.
O número reduzido aponta para a necessidade de os/as pesquisadores/as se debruçarem mais sobre a compreensão das práticas de cuidado-educação no fazer pedagógico na Educação Infantil fornecendo subsídios teórico-metodológicos que potencializem as discussões na formação de professores/as de bebês e de crianças.
Igualmente, o artigo chama atenção para a diversidade de metodologias adotadas no estudo da temática do cuidar-educar na creche, sobretudo considerando bebês e crianças como participantes ativos na produção de dados.