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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.21 no.68 Curitiba ene./mar 2021  Epub 11-Mayo-2021

https://doi.org/10.7213/1981-416x.21.068.ap01 

Apresentação

Docência universitária: desafios teórico-metodológicos no século XXI

Osmar Hélio Alves Araújo1 
http://orcid.org/0000-0003-3396-8205

Ivan Fortunato2 
http://orcid.org/0000-0002-1870-7528

Francisco Mirtiel Frankson Moura Castro3 
http://orcid.org/0000-0002-8685-9857

Daniel Mato4 
http://orcid.org/0000-0003-2939-9177

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira5 
http://orcid.org/0000-0003-3759-0377

1Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: osmarhelio@hotmail.com

2Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Itapetininga, SP, Brasil. Doutor em Geografia e Doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, e-mail: ivanfrt@yahoo.com.br

3Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, CE, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: mirtiel_frankson@yahoo.com.br

4Universidad Nacional de Tres de Febrero - UNTREF, Buenos Aires, Argentina, e-mail: dmato@untref.edu.ar

5Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: alboni@alboni.com


Há duas décadas, celebrávamos o início de um novo século. As esperanças de um mundo globalizado, interconectado, de livre mercado etc. foram logo colocadas em xeque pela ameaça tecnológica do “bug do milênio” e pelos ataques de “11 de setembro”. Enfim, a esperança logo era deixada de lado e, apesar do enorme avanço na tecnologia, na ciência, na medicina, deixando evidente a necessidade de outra humanidade, diferente da que registra guerras mundiais, holocausto, escravidão, xenofobia, racismo, feminicídio. Essa outra humanidade pode contar com outra educação como aliada. Este caminho, contudo é longo e complexo demais.

Nesse contexto, e como forma de ofertar contribuições com essa busca por outra escolaridade, apresentamos este dossiê a respeito de uma especificidade da educação formal: a docência universitária e os desafios que se apresentam. Este dossiê reúne 11 artigos em torno da temática citada.

No primeiro artigo, intitulado: “Re-ligar la docencia universitaria: desafíos decoloniales teóricos-prácticos-transmetodológicos”, a autora Milagros Elena Rodríguez (Universidad de Oriente, Venezuela) discute como “la transcomplejidad promueve en la docencia la investigación el saber complejo y transdisciplinar que conlleva un reto en la formación de docentes de alto valor investigativo de su propia práctica, críticos de su hacer y en perfecta comunión con las necesidades de los discentes y de la tierra-patria”.

No artigo seguinte, “Desarrollo profesional de los formadores de docentes: calificaciones de las relaciones establecidas con estudiantes de pregrado”, Osmar Hélio Araújo (UFPB), Ivan Fortunato (IFSP) e Emerson Augusto de Medeiros (UFERSA) afirmam ser “extremadamente necesario llevar a cabo estudios e investigaciones sobre la formación de docentes para la Educación Superior, particularmente en relación con el trabajo de los formadores de docentes en los cursos de pregrado, especialmente porque todavía hay pocos estudios e investigaciones en esta dirección”.

No artigo “Formación de profesores de matemáticas: los caminos del profesionalismo docente en la historia de la educación brasileña”, Iracema Campos Cusati (UPE) e Antonio Carrillo Avelar (UPN - México) procuram entender os aspectos relacionados à discussão atual sobre a profissionalização da docência no Brasil para compreender os fatores responsáveis pelas vulnerabilidades observadas no ensino e na aprendizagem da matemática que são explicadas pelas descontinuidades na formação (inicial e continuada).

No trabalho “Evaluation of the quality of teaching mediation in a university environment”, o autor: Wagner Bandeira Andriola (UFC) apresenta os resultados de uma pesquisa com um universo de 531 universitários de 12 cursos de graduação, com idade média de 22,5 anos (desvio padrão 3,6 anos), predominância do gênero feminino (n = 309 ou 58,2%) e cursando bacharelados (n = 359 ou 67,6%) que investigou a mediação docente a partir da Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva de Reuven Feuerstein.

No artigo “Docencia descolonial con estudiantes indígenas de la Universidad Comunitaria de la Región de Chapecó”, Cláudia Battestin, Leonel Piovezana e Anderson Luiz Tedesco, da Unochapecó, a partir de um estudo qualitativo, de cunho teórico-bibliográfico, ancorado no método dedutivo-analítico, apresentam uma discussão acerca do acesso de estudantes indígenas aos cursos de ensino superior da Unochapecó, aspectos da formação e conclusão do curso do projeto intercultural da Universidade. A partir dos achados da pesquisa, os autores concluem que é fundamental no ensino descolonial construir percursos formativos que desenvolvam problematizações nos cursos interculturais sobre o processo de formação e empoderamento dos graduados, além da comunidade de pertencimento.

No artigo, “Docência universitária e letramento digital: desafios da formação de professores”, as autoras, Maria Paulina de Assis (UFCAT), Elis Regina da Costa (UFCAT), Wender Faleiro (UFCAT), discutem o letramento digital no âmbito da docência universitária em publicações em língua portuguesa. Os dados da pesquisa em questão evidenciam que os desafios enfrentados por professores na aquisição de competências de letramento digital, mostrando alguns resultados com posições mais otimistas e outras mais céticas com relação a ações de capacitação docente.

No que segue, o artigo “A docência universitária e suas interfaces didáticas: movimentos de aprendizagens”, de autoria de Roselane Duarte Ferraz (UESB), Lúcia Gracia Ferreira (UFRB), Carla Carolina Costa da Nova (UFRB), trata dos desafios e perspectivas presentes nas relações didáticas de docentes universitários em um curso de formação em serviço e os saberes construídos e mobilizados na prática pedagógica. A partir da pesquisa empreendida, as autoras afirmam que a docência universitária é analisada e construída nas interfaces entre os saberes e práticas pedagógicas como movimentos de aprendizagens.

A “Aprendizagem experiencial da docência universitária: desenvolvimento profissional de professores tutores no método Problem-Based Learning” é o tema do artigos dos professores: Jefferson da Silva Moreira (UEFS), David Moisés Barreto dos Santos (UEFS) e Fabrício Oliveira da Silva (UEFS). Dentre os achados da pesquisa, os resultados apontam que os processos de aprendizagem da docência dos colaboradores do estudo são marcados por diversos níveis de complexidade. Assim, a ausência de uma formação inicial no campo didático-pedagógico incide para que os tutores desenvolvam um exercício docente intuitivo, sem domínio analítico dos pressupostos filosóficos, epistemológicos e pedagógicos concernentes às suas práticas.

A seguir, no artigo “Mulheres com deficiência na Educação Superior: afirmação de direitos e processos de autonomia”, as autoras, Natali Esteve Torres (UFSC) e Fabiane Adela Tonetto Costas (UFSM), buscaram observar as trajetórias de mulheres com deficiência na Educação Superior com o objetivo de investigar como essa modalidade possibilita processos de autonomia de mulheres com deficiência nos aspectos sociais, culturais e políticos.

O “Trabalho pedagógico e docência universitária nos Cursos de Direito na perspectiva da Resolução CNE/CES 05/2018” é o tema do artigo das professoras Franceli Bianquin Grigoletto Papalia (UFSM) e Liliana Soares Ferreira (UFSM). Nesse artigo as autoras apresentam os resultados de estudo, de base histórica, visando entender como se caracteriza o trabalho pedagógico no Curso de Direito e, neste viés, diferenciando “trabalho pedagógico” e “docência universitária”.

O último artigo, “Diários visuais e/ou textuais como laboratório de criação de si: movimentos transversais na docência universitária” discute a formação na docência universitária a partir da perspectiva das filosofias da diferença, uma formação que “acontece” em meio aos seus processos e encontros imprevistos, sem uma forma a priori a ser alcançada. O artigo problematiza a seguinte questão: Como os diários visuais e/ou textuais podem funcionar como laboratório de criação de si na docência universitária? a partir da escrita de três diários visuais e/ou textuais, os quais foram produzidos pelas autoras deste artigo, Vivien Kelling Cardonetti (UFSM), Francieli Regina Garlet (UFSM) e Marilda Oliveira de Oliveira (UFSM).

Na sequência, seguem outros nove artigos de demanda contínua aprovados para publicação na revista. Os referidos artigos tratam de assuntos diversos do campo da Educação.

Iniciamos com o trabalho das pesquisadoras Lia Machado Fiuza Fialho (UECE) e Francisca Genifer Andrade de Sousa (UECE), intitulado “Irmã Elisabeth Silveira e a educação feminina no Colégio da Imaculada Conceição, Fortaleza-CE”, que trata da educação de mulheres em meados do século XX, em especial daquelas provenientes da elite cearense. O ponto de partida é a biografia da Irmã Elisabeth Silveira, que se destacou na formação feminina no período de 1943 a 1968. Adotando como metodologia a história oral, a pesquisa mostrou que as práticas educativas da biografada eram pautadas na religiosidade, no ensino tradicional e na valorização do disciplinamento. Essas práticas visavam educar moças de poder aquisitivo diferenciado, para que se tornassem comportadas, obedientes, religiosas, caridosas, reatadas e prendadas o suficiente para conseguirem casamentos com homens provenientes de famílias bem-sucedidas financeiramente e algum prestígio social.

Em “Estado funcional e as políticas de ajuste estrutural na Educação Básica brasileira”, Renata Valério Silva (UEM), Jani Alves da Silva Moreira (UEM) e Maria Eunice França Volsi (UEM) analisam a concepção de estado funcional e as políticas de ajuste estrutural para a educação básica, no contexto de intensificação do neoliberalismo no Brasil. A pesquisa, de caráter bibliográfico e documental, está lastreada em pressupostos históricos e políticos pertinentes, concluindo que as políticas de ajuste estrutural resultam dos atos governamentais que, por sua vez, caminham na contramão do que é condizente para os serviços públicos. Foi possível identificar uma ótica de lógica mercadológica no sistema educacional, apresentada como solução para os problemas enfrentados pela educação pública, que resulta na desvalorização do setor público.

O terceiro artigo apresentado, “Uma análise das concepções sobre as práticas investigativas na Educação Básica”, de Daniela Bonzanini de Lima (UFRGS), Rosane Nunes Garcia (UFRGS) e Lígia Beatriz Goulart (UFRGS), busca caracterizar e diferenciar, a partir de alguns referenciais teóricos, as concepções que sustentam diferentes denominações utilizadas para designar as atividades investigativas na Educação Básica. Os resultados da pesquisa indicam que há diferenças entre as concepções que estão associadas às práticas investigativas nas escolas, sendo necessário compreender as diferentes nomenclaturas utilizadas, a fim de que não sejam empregados termos similares para práticas distintas.

Na sequência, a pesquisadora Maria Jucilene Lima Ferreira (UNEB) traz o artigo “Ensino, pesquisa e práxis na formação docente”, que traz um estudo sobre as relações entre ensino, pesquisa e práxis estabelecidas no processo de formação inicial de docentes em serviço e no processo de produção do conhecimento desses profissionais. Com apoio no materialismo histórico dialético, adota a tendência pesquisa/participante/ação e se utiliza da revisão de literatura e da pesquisa documental, no processo de investigação. Os resultados apontam aspectos das relações entre ensino, pesquisa e práxis e ainda contribuições que esses aspectos trazem para a docência.

Adiante, os docentes Ana Sara Castaman (IFET-RS) e Ricardo Antonio Rodrigues (IFET-Farroupilha) apresentam o artigo “Práticas pedagógicas: experiências inovadoras na Educação Profissional e Tecnológica”, que, no contexto das mudanças no mundo da vida, tratam de conceitos e concepções sobre prática pedagógica, em especial das práticas pedagógicas inovadoras aplicadas na educação profissional e tecnológica (EPT). Ressaltam que as práticas pedagógicas inovadoras na EPT se constituem em condição de humanidade e que inovação implica em escolha cotidiana para conduzir práticas vivas. Complementam mencionando que os educadores devem adotar estratégias de ensinagem que, além de inovadoras, corroborem para novos olhares à realidade social dos educandos, rumo a uma educação emancipatória.

“Negar a leitura literária hoje pra conter a organização política amanhã: formação estética pra quem?” é o artigo trazido por Priscila Monteiro Chaves (UFES) e Andressa Dias Koehler (UFES), no qual discutem pressupostos psicológicos e filosóficos para a formação estética da criança na experiência com a leitura de literatura. Problematizam políticas de acesso à leitura promovidas pelo Ministério da Educação; tratam da imaginação e da criatividade na perspectiva vygotskyana; e dos conceitos de imagem dialética e de mimesis, na perspectiva de Walter Benjamin. Concluem pela necessidade de se formar a criança como um sujeito do conhecimento histórico, de modo mais pleno possível, desde a infância.

As autoras Gabriela Maria Prebill (USP) e Adriana Katia Corrêa (USP), em sua pesquisa “O trabalhador estudante em um curso de bacharelado e licenciatura em enfermagem: trajetórias e desafios”, analisam o processo de expansão do ensino superior no Brasil, em especial no que se refere à expansão de vagas em cursos expansão do ensino superior no Brasil, em especial no que se refere ao aumento de vagas em cursos noturnos em instituições de ensino superior privadas. Para tanto, realizaram um estudo qualitativo, descritivo-exploratório, que utilizou entrevista semiestruturada como técnica de coleta de dados e análise temática de conteúdo para sua análise, envolvendo trabalhadores estudantes egressos que ingressaram no curso entre 2006 e 2013, com a intenção de conciliar trabalho e estudo durante o curso. Os resultados obtidos demonstraram que os participantes valorizaram a trajetória individualizada, em consonância com a lógica neoliberal. Além disso, podem subsidiar reflexões nos espaços de formação docente e de tomada de decisões institucionais.

Em “Aspectos do estágio docente de Letras em Sala de Apoio à Aprendizagem em Língua Portuguesa”, Cristiane Malinoski Pianaro Angelo (UNOESTE) e Renilson José Menegassi (UEM) tratam de aspetos do ensino de leitura e escrita relacionados ao estágio docente de Letras, junto a alunos com dificuldades de aprendizagem. A análise foi subsidiada pelas vivências de uma aluna estagiária de licenciatura em Letras-Português, que realizou práticas de ensino em uma Sala de Apoio à Aprendizagem de Língua Portuguesa - SAALP, com foco nas habilidades de leitura e escrita. Com fundamentação nos pressupostos histórico-culturais advindos de Vygotsky e nas pesquisas sobre leitura e escrita desenvolvidas pela Linguística aplicada no Brasil, a partir do escopo interacionista, foi possível perceber que, por meio das experiências em SAALP, mediadas pelo professor, a estagiária apreendeu as principais dificuldades de leitura e de escrita dos alunos, como também as estratégias e abordagens para trabalhá-las.

Encerrando a apresentação dos artigos deste número, trazemos o trabalho de Patrícia Franzoni (FURG) e de Marli Teresinha Quartieri (UNIVATES), “Investigação matemática e educação financeira: manifestações de aprendizagem em um curso de licenciatura”, que teve como objetivo investigar a aprendizagem e as principais dificuldades dos licenciandos em matemática, em relação a tarefas investigativas de educação financeira. Para tanto, foi utilizado um questionário metacognitivo, do qual, a partir de uma análise textual discursiva, resultaram duas categorias: a) manifestações de aprendizagem; e b) análise das dificuldades durante a realização da tarefa. As principais dificuldades encontradas disseram respeito à falta de conhecimento de economia; insegurança na formulação de conjecturas e generalizações decorrente da dependência da utilização de formulários; e ausência de prática na resolução de problemas de caráter aberto.

Antes de finalizar, gostaríamos de registrar que a Revista Diálogo Educacional, criada no ano de 2000, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, completou vinte anos de atividade ininterrupta, com o número de dezembro de 2020. Nesse período, à luz do seu foco e escopo, publicou centenas de pesquisas e estudos sobre a formação de professores e o pensamento educacional brasileiro, estimulando análises e reflexões sobre temas da área. Para comemorar essa realização, solicitamos à Editora PUCPRESS e à sua equipe que fossem atualizados a capa da revista e o cabeçalho do site. Nossa intenção era manter os elementos originais, para não descaracterizar o projeto anterior, mas modernizar alguns outros, como a bússola e a rede. Em sintonia com esse pedido, resultou a nova capa, a qual esperamos que seja apreciada por todos. Integra a nova capa, o selo comemorativo aos 20 anos, que a Diálogo Educacional recebeu da nossa Universidade.

Agradecemos aos colegas de universidades brasileiras e estrangeiras que participaram conosco da construção deste e de outros números da Revista Diálogo Educacional, e aos avaliadores e avaliadoras “ad hoc” - incansáveis na melhoria da qualidade dos trabalhos publicados, no intuito de propiciar reflexões e discussões sobre a educação em nosso país.

A todos e a todas, desejamos uma excelente leitura!

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