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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.21 no.71 Curitiba out./dez. 2021  Epub 26-Jan-2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.21.071.ap01 

Apresentação

A formação de professores para a educação profissional e tecnológica

Teacher training for professional and technological education

Sandra Terezinha Urbanetza 
http://orcid.org/0000-0003-0425-8538

Joana Paulin Romanowskib 
http://orcid.org/0000-0001-7043-5534

Maria Clara Viegasc 
http://orcid.org/0000-0002-5769-5291

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieirad 
http://orcid.org/0000-0003-3759-0377

aInstituto Federal do Paraná (IFPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: sandraurbanetz@gmail.com

bCentro Universitário Internacional (Uninter), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: joana.romanowski@gmail.com

cInstituto Politécnico do Porto, Porto, Portugal. Doutora em Ciência e Tecnologia, e-mail: mcm@isep.ipp.pt

dPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: alboni@alboni.com


As pesquisas e discussões em formação de professores assumem importância por se constituírem preocupação constante das políticas públicas, programas, planos de Governo e reformas educacionais. O reconhecimento de que a formação de professores se articula com o desenvolvimento profissional e favorece a melhoria da educação é proclamado por inúmeros pesquisadores, o que exige a permanente reflexão e divulgação das pesquisas realizadas. Esse dossiê ao eleger como tema “A formação de professores para a educação profissional e tecnológica” se soma ao movimento de debates, análises e ponderações e possibilidades da formação docente para essa modalidade educativa.

A proposta desse Dossiê é gerada diante da expansão da oferta de Educação Profissional e Tecnológica - EPT, especialmente a partir da implantação dos Institutos Federais, que ampliaram a oferta de cursos desde a formação inicial até a pós-graduação. Com efeito, a preocupação com a formação dos professores para atuar em EPT é uma questão central no exame de sua configuração pedagógica.

A busca pela compreensão e o acompanhamento dos processos educativos tem levado os estudiosos a aprofundarem suas pesquisas sobre os aspectos da EPT e a preocupação com a docência torna-se objeto de interesse mais agudo, em que a formação dos professores se apresenta devido às características específicas dessa modalidade educativa.

Conscientes de que não existe uma única proposta educativa, mas várias perspectivas para a EPT, e que estas podem ser confluentes e contraditórias, cabe relembrar a importância da formação docente integrada na organização da educação, da cultura e da ciência. Assim, a discussão ora apresentada parte do compromisso com uma proposta de formação inclusiva, que permita aos docentes, a partir do acesso ao conhecimento, definirem e organizarem os rumos da EPT para contribuir com a construção de um projeto de sociedade emancipatória e mais solidária.

Ainda que ocorra a limitação da autonomia docente pela atual lógica da organização capitalista, mais do que nunca a ação docente precisa estar inscrita no contraprojeto capitalista, em que os professores desenvolvam sua autonomia intelectual e ética, respeitando os princípios da ciência contemporânea, as diferentes linguagens, o conhecimento sócio-histórico e suas manifestações tecnológicas, articulando o conhecimento das diferentes áreas, buscando a integração de totalidade na relação teoria e prática.

Nessa perspectiva, os textos que integram esse Dossiê trazem a discussão sobre a formação docente para atuação na EPT, sob vários aspectos, da análise de proposições oficiais, os processos e projetos, a docência nos diversos espaços, a precarização do trabalho docente, tanto em termos de formação quanto em termos de condições concretas para a atuação. Contém a discussão sobre a diversidade, a inclusão, examinando espaços educacionais em estados brasileiros e na região do Rio da Prata e a formação na universidade aberta oferecida na união europeia. Por fim, insere a discussão sobre a formação docente e as novas tecnologias educacionais, que em tempos de pandemia da Covid-19 tornaram-se mais urgentes.

As pesquisas realizadas que deram origem a estes artigos foram realizadas a partir dos métodos das ciências humanas, com fundamentos epistêmicos da EPT, em investigações de abordagem qualitativa, com embasamento em autores da área a partir de levantamentos bibliográficos, documental e de coleta de dados diferenciados, como entrevistas, estudos de caso, rodas de conversa, espaços e entrevistas narrativas etc.

Assim sendo, esse Dossiê inicia com o texto de Oliveira e Guimarães, tratando do FORPROFEP - Formação de Professores para a Educação Profissional, abordando tanto os aspectos de natureza teleológico-conceitual e contextual até aspectos de ordem didático-pedagógica. Os autores discutem questões que podem orientar o trabalho teórico-prático sobre a FORPROFEP e apresentam uma meta e a condição do diálogo como horizonte para a efetivação de projetos de formação de professores na busca de uma formação de excelência socialmente referenciada.

Em seguida Barreiro e Campos apresentam uma pesquisa detalhada sobre os Editais de seleção de professores para os Institutos Federais, introduzindo uma análise de artigos produzidos sobre o tema da formação de professores para Educação Profissional e Tecnológica, bem como o marco normativo que regula (ou não) a profissionalização desses docentes. A pesquisa relatada no artigo analisou 141 editais de seleção docente dos 38 Institutos Federais e aponta que a habilitação docente não é requisito obrigatório, colocando em pauta essa discussão. As autoras enfatizam que, mesmo percebendo um movimento de valorização da formação docente, permanece ainda no âmbito do professor das disciplinas de conteúdos técnicos específicos o desafio de reconhecer os conhecimentos e saberes oriundos da educação como indispensáveis ao ofício do professor.

Silva e Constantino abordam a discussão sobre a formação dos coordenadores que atuam na educação profissional nas Escolas Técnicas Estaduais de São Paulo, enfatizando aspectos relacionados à trajetória histórica, inserção e a formação inicial e continuada destes profissionais no âmbito de um sistema público de educação profissional. Bastante coerente com as demandas apresentadas em vários estudos sobre a formação docente, os autores apontam a necessidade de articulação da formação inicial e continuada à gestão, à legislação e a informação, bem como aspectos pedagógicos das unidades escolares.

Lima e Mercês trazem para a discussão o percurso histórico das principais regulamentações da formação de professores para a Educação Profissional e Tecnológica de Nível Médio (EPTNM) no Brasil, desde as reformas educacionais da década de 1990 até o momento atual, onde se faz um questionamento dos retrocessos explicitados na atual reforma do ensino médio brasileiro, bem como seus desdobramentos a partir da Resolução CNE/CP nº 1, de 05 de janeiro de 2021. Esse é o quadro em que os autores analisam as especificidades do trabalho docente nessa modalidade de ensino.

Ferreira e Cruz proporcionam o debate sobre a docência dos não licenciados analisando o significado e os sentidos dessa docência focalizando as ações e as práticas de professores que atuam no Ensino Médio Integrado do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ). Os autores demonstram que as principais fontes de saberes destes docentes vinculam-se a experiências vividas em diferentes momentos, e que eles apresentam preocupação com o conhecimento dos conteúdos; com a formação para a cidadania; e com o estabelecimento de vínculo afetivo com os estudantes como um fator necessário ao bom desenvolvimento do trabalho pedagógico. Apontam também, coerentes com outros estudos, a importância e o valor que a prática docente tem no processo de aperfeiçoamento constante.

Nesse mesmo sentido, Vieira, Araújo e Vieira expõem em seu artigo uma investigação sobre como os professores da educação profissional efetivam a sua docência enfocando os conhecimentos considerados mais relevantes e os saberes necessários para o exercício da docência de modo semelhante aos demais níveis e etapas da educação, porém, com o enfoque a partir das especificidades da educação profissional. Os autores afirmam que, de modo geral, os professores precisam construir saberes que envolvem a docência de modo universal, porém com as características específicas da educação profissional.

Machado e Vieira discutem a trajetória de vida dos docentes que atuam em um curso de educação profissional, a partir das narrativas destes docentes. Investigam por meio da história de vida, analisando as subjetividades presentes nesse processo. A partir do relacionamento com os conceitos da pesquisa narrativa as autoras apontam, ao olhar para a história de vida dos professores, que eles enfrentam fracassos e rupturas e, concomitantemente, tomam consciência da necessidade de novas atitudes.

Ao discutir sobre o silenciamento dos sujeitos da diversidade, Menezes provoca uma reflexão sobre a inexistência de políticas de integração com a comunidade. A autora indica a necessidade de se compreender a diversidade enquanto um campo de disputa e de luta por direitos. Esse debate impacta o cenário educacional, exigindo dos docentes da educação profissional uma atuação diferenciada posto que a pesquisa revela como o processo educativo, ao considerar a diversidade, proporciona aos docentes a escuta e a compreensão sobre como seus estudantes vivem e enfrentam situações de discriminação e preconceito. Com isso, a autora aponta para uma melhoria das relações escolares quando se tornam mais horizontais.

Amorim, Nascimento e Pires refletem sobre uma pesquisa histórica dos espaços educacionais em estados brasileiros e na região do Rio da Prata, no ano de 1923. Segundo os autores, o dirigente educacional norte-rio-grandense Nestor dos Santos Lima proporcionou um registro detalhado sobre a docência nas instituições de educação, contendo dados e impressões a respeito dos espaços visitados. Essa investigação proporcionou o levantamento do panorama a respeito das relações entre os saberes e práticas que orientavam a docência desenvolvida no Brasil e na Argentina na época.

O caminho para a profissionalidade do professor técnico, para Barreto e Anecleto, passa pela formação crítico-reflexiva. A partir dessa perspectiva, as autoras discutem o processo de formação continuada pelo viés de uma racionalidade comunicativa. A investigação aponta que para haver a possibilidade de esse técnico adquirir maior identificação com a docência, faz-se necessário que os processos formativos aconteçam no espaço escolar, a partir das próprias realidades educativas locais, e de forma dialógica, para que possam contribuir na ressignificação do trabalho do professor, possibilitando um novo fazer educacional.

As narrativas docentes que apresentam a compreensão dos processos de construção dos saberes docentes e que são mobilizados na prática pelos professores de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) são o objeto de discussão do texto dos autores Santos, Lima e Santos. A investigação foi realizada com docentes bacharéis e tecnólogos, indicando que os saberes docentes são construídos durante o desenvolvimento destes profissionais e partem da concepção prévia sobre o que é ser professor. Na sequência, os autores expressam que os docentes indicam o aprendizado realizado a partir da prática com a interação entre e com professores mais experientes e do contato com os alunos.

Oliveira, Yaegashi e Ruiz apresentam uma discussão necessária sobre a educação especializada para os estudantes com deficiência, Transtorno do Espectro Autista (TEA), com altas habilidades e superdotação, matriculados nas diferentes etapas e níveis de ensino, em especial nos cursos profissionalizantes, a legislação pertinente e as discussões teóricas a respeito do tema. Trazem à tona a dificuldade de implantação deste atendimento aos alunos, nessa condição, ainda que a oferta de educação especial esteja legalmente bem amparada em nosso país.

A discussão sobre a “escolarização aberta” existente já há alguns anos na União Europeia é o tema proposto por Okada e Matta. As autoras traçaram como objetivo do artigo compreender as necessidades e as estratégias dos docentes na busca por inovação de suas práticas com tecnologias emergentes que propiciam a escolarização aberta posto que o foco principal é a denominada coaprendizagem formal, não formal e informal por meio da cooperação e construção coletiva entre estudantes, cientistas e comunidades. Essa proposta pretende apresentar respostas aos problemas globais visando uma educação profissional sociocientífica.

Fechando o Dossiê temos Gonçalves, Ferreira e Graciano Neto, que discutem as dificuldades que os professores de informática enfrentam na implementação das aulas invertidas. Os autores discutem as percepções que os professores têm sobre os métodos de ensino colaborativos e de resolução de problemas a partir de estratégias regulatórias que têm como objetivo a motivação dos estudantes. O estudo expressa que os professores enfrentam dificuldades significativas na compreensão do uso das metodologias ativas, bem como na compreensão do perfil dos alunos aprendizes e como eles podem preparar, planejar, implementar e favorecer a aprendizagem.

As discussões apresentadas nesse Dossiê abordam então as discussões a respeito da formação e atuação docente na educação profissional dentro do reordenamento social a partir da lógica de produção e acumulação flexível, o professor não mais educa apenas para os fazeres simplistas possibilitados através das habilidades psicofísicas, de memorização e repetição, características das relações sociais e produtivas da rigidez e pela estabilidade. Cabe aos docentes o desafio de conduzir os processos educativos que auxiliem o desenvolvimento da capacidade de pensar, de estudar, de criar, articulando método e conteúdo, ação e pensamento, processos articulados e contextualizados na direção de uma nova sociedade mais humana, justa e inclusiva.

Na segunda parte deste número da Revista Diálogo Educacional, apresentamos os artigos de demanda continua, os quais versam sobre temas relevantes e atuais na área educacional.

O primeiro desses artigos, de Ivan Collinson, Adérito Barbosa e Albertina Ribáuè, no contexto do uso de avaliações, testes e exames, discute o exame de admissão ao ensino superior, especificamente na Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique. Para tanto, os autores se valeram da literatura disponível a respeito e dos resultados de um inquérito realizado com uma amostra de estudantes do ensino superior da Universidade estudada. Os resultados indicaram que há uma relação entre o exame de admissão ao ensino superior e a percepção da qualidade que se tem em relação ao ensino superior. Concluem que a validade do instrumento, proveniente da concepção correta dos exames, é um indicador de qualidade do egresso.

Danilo Araujo de Oliveira e Anderson Ferrari estudam as relações entre currículo e subjetividades, tomando como provocação a narrativa-experiência de uma professora universitária no encontro com o imprevisível da sala de aula. Dividiram o texto em três partes - a expectativa, o encontro e a mudança, os quais dizem e dão forma à narrativa-experiência da professora junto às alunas e aos alunos e seus questionamentos em torno do currículo e de si mesma como resultado desse currículo. Como perspectiva teórico-metodológica, os autores se baseiam na análise pós-crítica de currículo e nos estudos de Michel Foucault, para pensar o território curricular. Os resultados demonstram que o currículo demanda um tipo específico de professora e professor, que devem se munir de ferramentas para garantir a realização de um plano e conduzir sua conduta de certo modo, sem desconsiderar, no entanto, o encontro com o imprevisível do currículo, o que possibilitará a constituição de novos currículos e sujeitos outros.

Maria Lídia Sica Szymanski e Sandra Mara Maciel Vieira discutem o atendimento educacional especializado (AEE) para estudantes com altas habilidades/superdotação (AH/SD), do ponto de vista das respectivas políticas e práticas. Destacam que esse atendimento em sala de aula regular é direito garantido por leis federais e estaduais aos sujeitos que apresentam indicativos de AH/SD, indagando quais as condições enfrentadas na realidade por profissionais e alunos frente às políticas públicas vigentes. Para isso, foram entrevistados diretores, professores, pais e alunos que fizeram ou fazem parte do AEE para AH/SD no Núcleo Regional de Educação de Cascavel. Foram constatadas dificuldades em aspectos como a precariedade na formação e contratação de profissionais preparados, impedindo uma continuidade no trabalho, e a falta de investimento estatal nas Salas de Recursos Multifuncionais. As autoras concluem pela importância de que a Universidade amplie o trabalho conjunto com a Educação Básica e ocupe seu papel no desenvolvimento de pesquisa e extensão junto à comunidade, também na área de AH/SD, entendendo que a escola tem o compromisso de possibilitar a todos seus alunos o máximo desenvolvimento.

Raphaelle Nascimento Silva e Edvaldo Souza Couto apresentam resultados de uma pesquisa que teve como objetivo analisar a produção de microcontos no Twitter, os quais se inscrevem em uma prática social de escrita de maior espectro - a twitteratura. O argumento central é que a twitteratura é uma pedagogia da escrita em rede que se constrói, principalmente, por meio da experiência compartilhada e da mobilização online de aprendizagem. A pesquisa teve abordagem qualitativa, de cunho analítico e interpretativo. Para a análise dos dados foram usados a técnica de Análise Textual Discursiva - ATD e princípios da Análise de Redes Sociais - ARS. Os resultados apontaram que uma das formas de produção das culturas contemporâneas é a escrita literária em rede, a qual contribui para a circulação de modos de ser e de formas de compartilhar conteúdos estéticos.

Na sequência, Manuela Azevêdo Queiroz e Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha trazem resultados de pesquisa desenvolvida sob a perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, com o objetivo de examinar o uso de um tablet para (re)significações e (re)interpretações de crianças sobre suas experiências no contexto escolar. O estudo foi realizado por meio de observações, produção de fotografias e entrevista, envolvendo 19 crianças de quatro a cinco anos de idade de uma escola pública, às quais as pesquisadoras solicitaram que fotografassem, com um tablet, aquilo de que mais gostavam na escola. Após, em sessões de entrevista, as crianças selecionaram as fotos de que mais gostavam. Foram realizadas 11 sessões para fotografar e sete para escolha das fotos, todas videofilmadas. Foi possível constatar a potência da atividade desenvolvida com o tablet para as (re)elaborações e (re)significações dos participantes no contexto escolar.

Maria de Fátima Cardoso Gomes, Vanessa Ferraz Almeida Neves e Luciana Prazeres Silva discutem diferentes trajetórias escolares por meio de estudos de caso de três estudantes de uma turma de Psicologia da Educação do curso de Pedagogia e seus familiares. As estudantes e seus familiares relataram vivências (perezhivania) tensas e dolorosas nessas trajetórias, possibilitando às pesquisadoras indagar sobre a cognição como uma atividade humana criadora nessas vivências. O diálogo entre teoria e empiria permitiu a compreensão da indissociabilidade entre afeto, cognição, culturas e linguagens e, ao final, a proposição de uma síntese: a unidade de análise [afeto/cognição social situada/culturas/linguagens em uso] - ACCL - com base na Psicologia Histórico-cultural, que defende a unidade afeto/cognição, e na Etnografia em Educação, que argumenta que culturas e linguagens em uso são inseparáveis e permitem um olhar humanizado para as trajetórias escolares das pessoas.

Em seu artigo, Alexandre Shigunov Neto, Márcio Giusti Trevisol e Maria de Lourdes Pinto de Almeida apresentam os resultados de estudo sobre a pós-graduação no Brasil, desde sua institucionalização até o Plano Nacional de Pós-Graduação (2011-2020), abrangendo as recomendações subsequentes nos relatórios 2016, 2018 e 2020. Trata-se de pesquisa exploratória de cunho analítico e com coleta de dados documental, trabalhados com o emprego da metodologia histórico-crítica. Os autores concluem que os PNPG estão interligados com o contexto em que foram gestados e revelam o projeto de nação preterido pelo governo, além de estipular como meta a consolidação da pesquisa nos mesmos níveis de competividade global, com ênfase em investigações de alto impacto para o mercado capitalista.

Aline Fonseca Gomes buscou compreender como os princípios de um modelo de ensino de excelência, baseados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA, podem ser utilizados pelo sistema educacional brasileiro, ao se desenvolver um plano de ação para o ensino híbrido. Para isso, escolheu o sistema de ensino de Singapura devido à sua representatividade ao longo dos anos do PISA e aos rankings alcançados nos últimos PISA. A metodologia da pesquisa foi exploratória e bibliográfica, com análise dos dados de natureza qualitativa. Os resultados apontaram que, por meio do plano de ação para implementação o ensino híbrido e a partir das variáveis da profissão docente, é possível desenvolver uma prática reflexiva, construir conexões e permitir que os docentes reflitam, compartilhem e planejem seus próprios objetivos de aprendizagem. Indicaram, também, que há falta de programas de formação continuada para os educadores brasileiros, valorizando-os de forma efetiva e promovendo o seu desenvolvimento profissional.

Como último artigo da demanda contínua, Rodrigo Marques Leistner e Mabielle Pedra Fanti tratam das complexidades que envolvem a inserção de temáticas como “povos ciganos” e “cultura cigana” no campo educacional, partindo do histórico de ações e das caracterizações preconceituosas acerca desses povos na sociedade envolvente. Para tanto, foi analisado um conjunto de atividades pedagógicas dedicadas às questões étnico-raciais e à temática cigana empreendidas em uma Escola Municipal de Ensino Fundamental da rede pública da cidade de Rio Grande, região sul do Rio Grande do Sul. O estudo apontou que se por um lado se evidencia a persistência de representações negativas acerca dos sujeitos e da cultura cigana em certas comunidades escolares, por outro se avalia que determinados projetos educacionais potencializam o papel integrador da escola a partir de processos de reconhecimento dos diferentes saberes e da diversidade cultural e étnica da sociedade brasileira.

Manifestamos nossa gratidão aos autores e autoras pelo envio de artigos que permitiram a composição do dossiê e da demanda contínua do presente número e aos pareceristas que contribuíram na análise e avaliação dos artigos submetidos.

Boa leitura!

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