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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.17 no.52 Curitiba abr./jun 2017  Epub 02-Mar-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.17.052.ed01 

Apresentação

Editorial

Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau1 

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira1 

1Pontifícia Universidade Católica do Paraná


Comissões de diferentes países (UNESCO, 2009)1 têm reconhecido, em seus relatórios sobre o ensino superior, a importância desse nível de ensino para formar àqueles que serão responsáveis pelas mudanças e melhorias sociais desejadas para um mundo mais justo e igualitário. Complementarmente, outros relatórios (JOHNSON et al., 2016)2 indicam que, para que as universidades possam cumprir seu papel como propulsoras de uma cultura de inovação, necessitam repensar a forma como trabalham, sendo capazes de desenhar e testar oportunidades educacionais inovativas. Entre essas novas oportunidades, encontra-se o uso de estratégias de ensino e aprendizagem que tenham como princípio a aprendizagem ativa, tratadas no contexto nacional como metodologias ativas, cuja discussão trazemos para este número da Revista Diálogo Educacional.

Buscando apresentar aspectos que impactam a adoção de metodologias ativas no ensino superior, agrupamos, nesta edição, artigos que trazem os desafios para a formação do docente, complementados por outros que apresentam alternativas para a adoção das metodologias na prática pedagógica e, para finalizar, as possibilidades do uso de ferramentas tecnológicas para implementar essas práticas.

Iniciando pelos artigos cujas temáticas abordam os desafios para a formação docente, com a preocupação de compreender o que motiva os docentes universitários a utilizar as metodologias ativas, as pesquisadoras Nuria Pons Vilardell Camas e Glaucia da Silva Brito, ambas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), investigaram um processo de formação continuada em sua própria instituição e trazem importantes reflexões acerca da necessidade de repensar os processos formativos que têm sido oferecidos nas instituições.

Na sequência, já trazendo uma proposta de formação que considera vários dos importantes aspectos apresentados no artigo anterior, as autoras Cinthia Bitencourt Spricigo - diretora de Suporte à Graduação e professora do curso de Engenharia de Alimentos - e Elisangela Ferretti Manffra - professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia em Saúde e coordenadora do Centro de Ensino e Aprendizagem (CrEAre) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com Alenoush Saroyan, pesquisadora da McGill University (Montreal, Canadá), trazem em seu artigo o relato de uma experiência de formação realizada na PUCPR, mediante projeto financiado pela Finep - Inovação e Pesquisa, na qual utilizaram a proposta de course design para o planejamento da disciplina. Os resultados de pesquisa dessa proposta de formação demonstram que a reflexão sobre a essência dos conteúdos curriculares e a utilização do alinhamento construtivo, elementos centrais da formação, permitem ao professor identificar e escolher estratégias de ensino e aprendizagem mais adequadas ao resultado de aprendizagem esperado.

Ainda nessa perspectiva de estudo sobre o planejamento da disciplina como instrumento de reflexão e efetivação de mudança da prática pedagógica, a pesquisadora Marilda Aparecida Behrens e a doutoranda Rosane de Melo Nicola, do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCPR, analisam os dados gerados no mesmo curso, à luz da teoria da complexidade, concluindo que a visão integradora da forma de planejamento proposta favorece a “compreensão da unicidade e complexidade do fato educativo”.

Finalizando este primeiro grupo de artigos que tratam da formação de professores para o uso de metodologias de aprendizagem ativa, o estudo dos pesquisadores Aline Cadena von Bahten, professora do curso de Medicina da PUCPR e conselheira pedagógica do CrEAre, e Carlos Alberto Engelhorn, professor do curso de Medicina da PUCPR, intitulado Engajando estudantes por meio da redação de bons casos: formação docente, traz importantes constatações sobre os desafios na formação de professores para a escrita de casos pelo próprio docente, pois é uma das metodologias mais utilizadas no ensino superior.

Dentre o rol de artigos que descrevem práticas e estratégias de metodologias ativas, temos inicialmente a experiência do Summaê, relatada pelos pesquisadores Ricardo Fragelli e Thaís Branquinho Oliveira Fragelli, ambos da Universidade de Brasília (UnB), em Summaê: um espaço criativo para a aprendizagem, no qual analisam o uso dessa prática por 18 professores de diferentes instituições, conseguindo mapear indicadores de sucesso comuns.

Além das estratégias de ensino e aprendizagem, é necessário repensar o processo de avaliação. Essa é a grande contribuição do artigo proposto pela pesquisadora da Université du Québec à Montréal (UQÀM), Carla Barroso da Costa, ao apresentar uma revisão das pesquisas empíricas publicadas em dois periódicos internacionais, Assessment and Evaluation in Higher Education e Active Learning in Higher Education, sobre autoavaliação e avaliação pelos pares, nos últimos sete anos (2010-2016). Em seus resultados, estão presentes os benefícios e desafios a serem transpostos na adoção desses dois tipos de avaliação.

Para encerrar as temáticas propostas nesta edição, trazemos artigos que discutem o uso das tecnologias para dar suporte à implementação de metodologias ativas.

O primeiro, produzido pelos pesquisadores José Armando Valente, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, da PUC-SP, e Alexandra Fogli Serpa Geraldini, também da PUC-SP, apresenta uma pesquisa realizada com estudantes de pós-graduação, na qual puderam desenvolver práticas que explorassem o uso das tecnologias digitais da informação e comunicação e estudar as contribuições e limites que tais práticas oferecem ao desenvolvimento do currículo e à aprendizagem baseada nas metodologias ativas.

Por sua vez, o estudo de Anastassis Kozanitis, pesquisador da UQÀM, intitulado Pedagogias de aprendizagem ativa e uso de TIC na educação superior: uma combinação possível?, traz indicações sobre o uso das tecnologias por professores universitários, além de caracterizar os métodos e tipos de uso das tecnologias da informação e comunicação, com a finalidade de auxiliar os professores na tomada de decisão quanto àquelas que devem ser utilizadas para melhor atender às necessidades de aprendizagem dos alunos.

Para finalizar o dossiê, apresentamos o estudo de Dewey Wollmann, pesquisador e professor do curso de Administração da PUCPR, que desenvolveu e testou, dentro do contexto do Projeto Finep, uma ferramenta tecnológica utilizando o conceito de analytic hierarchy process para auxiliar os professores na avaliação por pares.

Na sequência, a seção Artigos deste número da Revista Diálogo Educacional traz oito produções relacionadas à formação de professores e às práticas inovadoras no exercício da docência.

Em A docência no curso de Pedagogia-licenciatura: o que dizem os professores sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, as autoras Helena Machado de Paula Albuquerque, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Célia Maria Haas, da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), e Regina Magna Bonifácio de Araújo, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), analisam, a partir das categorias que fundamentam a investigação: o significado de ser pedagogo, o projeto pedagógico e o currículo e a nova legislação, o que dizem professores que atuam nos cursos de Pedagogia de três universidades, uma instituição privada, uma municipal e outra federal, localizadas em dois estados da região sudeste do Brasil. De um modo geral, os resultados indicam ter havido concordância nos três grupos pesquisados, no sentido de que houve inovação nos projetos pedagógicos após a aprovação das DCN, destacando-se o esforço na integração teoria e prática e a ampliação do espaço para as metodologias de ensino da Educação Básica.

A pesquisa Reflexões de professores participantes em um Curso de Pedagogia Universitária, realizada por Adriana Kátia Corrêa, Alma Blásida Concepcion Eliazur Benitez Catirse, Edson Garcia Soares, Glaucia Maria da Silva, Maria Conceição Bernardo de Mello e Souza, Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves, Noeli Prestes Padilha Rivas e Yassuko Iamamoto, todos docentes da Universidade de São Paulo (USP), discute as reflexões de professores participantes do I e do II Cursos de Pedagogia Universitária realizados em Ribeirão Preto, em 2008 e 2009, sobre sua prática pedagógica. Dos dados coletados, foi possível inferir que essas reflexões contemplam a revisitação das práticas pedagógicas dos pesquisados, os limites contextuais e administrativos e a gestão do projeto político pedagógico, com possibilidades de mudanças. Alguns pontos de tensão que necessitam ser trabalhados são também mencionados.

Jan Raphael Reuter Braun, Francisco Antonio Pereira Fialho e Luiz Salomão Ribas Gomez, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), investigam, em Aplicações da criatividade na educação brasileira, as relações entre o ensino brasileiro e a criatividade, apresentando quatro práticas que podem estimular a criatividade e contribuir para o aprendizado escolar.

O artigo Competências docentes para o ensino por competências na educação profissional: a percepção de docentes do Senac-PR frente ao Modelo Pedagógico Senac (MPS), de autoria de Antonio Carlos Aroca, Diretor do Centro de Educação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac de Maringá, e de Cláudia Herrero Martins Menegassi, do Centro Universitário Cesumar, visa identificar as competências percebidas pelos docentes do Senac-PR para o ensino na educação profissional, relativamente à adequação de suas atividades aos objetivos do MPS, no processo de alinhamento das atividades docentes às diretrizes estabelecidas pelo novo modelo institucional adotado.

Uma discussão a respeito da docência em cursos de formação de professores EaD é apresentada por Sandra Regina Gardacho Pietrobon, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Antonio Carlos Frasson e Luis Mauricio Martins de Resende, professores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus Ponta Grossa, no texto A docência em cursos EaD e suas implicações à educação básica. O estudo, do tipo estado da arte, possibilitou inferir que a docência em cursos de formação de professores EaD requer uma formação específica e contínua, partindo da premissa de que a qualidade da educação, seja na formação acadêmica em cursos de licenciatura ou na educação básica, pode ser garantida à medida que os docentes sejam inseridos em processos formativos.

Em Práticas de iniciação à docência: o diário de campo como instrumento para pensar a formação de professores, as professoras Sandra de Oliveira e Elí Henn Fabris, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), buscam dar visibilidade a alguns elementos que compõem as práticas de iniciação à docência, a partir do uso do diário de campo por um grupo de licenciadas em Pedagogia vinculadas ao Programa Brasileiro de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Enfatizam que os exercícios de análise e reflexão propiciados por essa prática levam o sujeito a constituir-se, tornando-se professor/a, no interior de certos princípios e regras de conduta, bem como a manter um estado de reflexão permanente sobre o ser docente e o tornar-se professor/a.

O artigo Parceria universidade e escola no estágio curricular: um processo em constituição, escrito por Marina Cyrino e Samuel de Souza Neto, ambos da Universidade Estadual Paulista (UNESP) - câmpus de Rio Claro, por meio de um estudo qualitativo longitudinal dividido em duas etapas (Mestrado e Doutorado), objetiva identificar o compromisso da escola na formação inicial de professores e demonstrar as possibilidades de um processo de construção da parceria universidade e escola.

Como oitavo e último artigo, Emiliana Maria Diniz Marques, Rita de Cássia de Souza e Vanessa Maciel Zico, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), apresentam Cinema, teatro, criatividade: metodologias ativas na formação discente do PIBID Pedagogia - UFV, resultado das reflexões suscitadas a partir de um curso sobre cinema, teatro e criatividade oferecido para estudantes bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).

Agradecemos a todos pesquisadores que contribuíram para a edição deste número da Revista Diálogo Educacional e acreditamos que suas ricas contribuições permitirão auxiliar nossos colegas, professores e pesquisadores a investir em novas práticas pedagógicas e sentirem-se motivados para publicar e compartilhar suas experiências.

1 JOHNSON, L. et al. NMC horizon report: 2016 - higher education edition. Austin: The New Media Consortium, 2016. Disponível em: <http://cdn.nmc.org/media/2016-nmc-horizon-report-he-EN.pdf>. Acesso em: jun. 2017.

2 UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO). World Conference on Higher Education: the new dynamics of higher education and research for societal change and development. Paris, 2009. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001832/183277e.pdf>. Acesso em: jun. 2017.

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