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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.17 no.53 Curitiba abr./jun 2017  Epub 28-Feb-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.17.053.ed01 

Apresentação

Formação de professores, complexidade, representações sociais e trabalho docente

Romilda Teodora Ens1 

Marilda Aparecida Behrens1 

1Pontifícia Universidade Católica do Paraná Programa de Pós-Graduação em Educação


Este número da Revista Diálogo do Programa de Pós-Graduação de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Brasil é destinado a destacar às principais discussões realizadas junto aos 23 Grupos de Trabalho que congregam inúmeros grupos de pesquisa do Brasil e do exterior e participaram do EDUCERE, realizado em 2015, que propôs como tema central “Formação de professores, complexidade e trabalho docente”.

A proposta deste dossiê tem sua gênese no objetivo do evento que foi o disseminar o conhecimento resultante das pesquisas e estudos realizados nos cursos de graduação e pós-graduação em Educação, bem como, promover o aprofundamento de pesquisas no âmbito da educação básica e da educação superior. Os propósitos do EDUCERE se ampliam com a possibilidade de criação de fórum de pesquisadores para compartilhar questões investigadas nos grupos de pesquisa da área de Educação, assim, criam condições de possibilitar a integração dos diferentes cursos de pós-graduação que se ocupam da formação de profissionais da educação. Neste processo investigativo intermitente incluem-se as pesquisas que têm como foco a análise das políticas públicas que orientam as teorias e as práticas de formação de profissionais da Educação. A continuidade e expressão do EDUCERE na comunidade nacional e internacional tornou possível a mobilização dos pesquisadores, gestores públicos, educadores e a sociedade em geral, no sentido de envidar esforços na busca de uma educação que tenha como missão acolher pesquisas na formação de professores, em especial, as que promulgam novos paradigmas que possam promover a docência de qualidade, a formação de professores, a justiça social e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, entre outras.

O compromisso dos organizadores do EDUCERE (2015) na disseminação do conhecimento levou a mobilizar os pesquisadores que atuaram nesta versão do evento, para a criação deste dossiê, em edição especial, intitulado “Formação de professores, complexidade, representações sociais e trabalho docente”. Os autores envolvidos nesta publicação tiveram a oportunidade de discutir suas pesquisas em palestras no decorrer do XII EDUCERE (2015) que geraram um processo de aprofundamento que estão sendo apresentados nos artigos presentes na Revista Diálogo Educacional, v.16, n.50, 2016 - Edição especial.

O artigo “Formação de professores, complexidade e trabalho docente”, elaborado por Bernardete A. Gatti, apresenta reflexões sobre as condições societárias, que hoje mostram-se multifacetadas e heterogêneas, e, por isso, mais complexas. Pensar e fazer a formação de professores envolve considerar condições situacionais e conscientizar-se das finalidades dessa formação, considerar os porquês, o para quê e o para quem ela é realizada, assumindo compromissos éticos e sociais. Levando em conta isso, se propõe inicialmente visitar o cenário que se nos apresenta hoje na sociedade em geral e na educação no Brasil como ponto de partida para uma reflexão sobre como se realiza essa formação e seus efeitos fundamentando a necessidade de mudanças radicais nesse processo formativo.

No artigo “Desafios da formação de professores” a pesquisadora Clarilza Prado de Sousa avança na pesquisa entendendo que a formação do professor deve ser analisada também numa perspectiva psicossocial. Neste sentido, procura investigar como a construção da profissionalidade se articula em um cenário de presentismo - foco exagerado no presente - que se observa na sociedade atual. Deixa a autora os questionamentos: Como professores em formação, que escolheram uma profissão que tem por característica formar a geração futura, representam o futuro? Quais os valores que orientam as escolhas desses professores? Os programas de formação subsidiam a construção de projetos de futuro baseados em valores como liberdade, direito, justiça social. A subjetividade do professor/aluno é considerada durante o processo de formação? Considerando que a profissão do professor se define no compromisso com a formação do futuro do aluno, da sociedade, negar a possibilidade de preparar para o futuro é negar sua profissão.

A contribuição do artigo “Escolas e professores no séc. xxi: exigências, desafios, compromissos e respostas”, de Ariana Cosme, apresenta uma reflexão que se constrói a partir da identificação de diversos tipos de discursos que se têm vindo a produzir sobre a ação docente e as possibilidades dos professores encontrarem um sentido para a profissão que abraçaram. Após se caraterizar os diferentes tipos de discursos identificados, reflete-se sobre os pressupostos e as implicações dos mesmos, denunciando-se equívocos e afirmando-se as potencialidades das narrativas que enfatizam a reflexividade docente como condição e suporte de um projeto de afirmação profissional congruente com os desafios e as exigências curriculares e pedagógicas das escolas do século XXI.

A proposição do artigo “O ensino universitário como espaço de formação: contributo para uma reflexão sobre os desafios curriculares como desafios epistemológicos”, de autoria de Rui Trindade, permite refletir sobre a dimensão curricular dos projetos de formação no Ensino Universitário a partir dos desafios epistemológicos com que estes nos confrontam. O autor parte da análise da Psicologia da Educação, como disciplina que integra os planos de estudos dos cursos de formação de professores, de mediadores socioeducativos, de educadores sociais, de animadores socioculturais ou, entre outros, de pedagogos sociais, para discutir se tais planos de estudos poderão continuar a ser organizados em função de disciplinas estanques entre si, ou seja, estes deveriam ser configurados em função de problemáticas estruturantes que, mobilizando os saberes de áreas científicas distintas, permitem abordar tais problemáticas como entidades complexas.

A contribuição do artigo “Ética e complexidade na formação de professores”, de Ana Paula Caetano, centra-se na reflexão sobre ética em geral e sobre ética na educação, tendo implícita a mobilização de uma visão complexa. A partir da análise de pesquisas efetuadas no domínio do pensamento ético e da formação ética de professores, realizadas no âmbito do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, propõe uma articulação com as perspectivas da complexidade, nomeadamente na análise das mudanças identificadas pelos e nos professores e que estes associam à formação. A autora apresenta uma reflexão final na qual se questionam e se desconstroem algumas opções teóricas e metodológicas e para tanto, tecem algumas linhas que desenham uma modelização da formação ética de professores, entendendo, no entanto que este exercício é apenas uma aproximação a possíveis formas de trabalhar com os professores e educadores, nomeadamente em contextos de formação contínua.

O artigo “Mestrado profissional e mestrado acadêmico: aproximações e diferenças”, de Marli André, apresenta para discussão uma proposta de formação de profissionais da educação básica. Ao tomar como pano de fundo alguns desafios enfrentados na formação dos mestrandos que buscam o Programa de Mestrado Profissional em Educação: Formação de Formadores, da PUCSP. A autora constata que a diferenças fundamental entre mestrado profissional e acadêmico está no objeto de estudo, um tem como referência a prática profissional, o outro, o avanço do conhecimento. O ponto de aproximação entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa da prática é o rigor teórico-metodológico: ambas exigem planejamento, controle e sistematização do conhecimento.

O artigo “Educação escolar e currículo: uma abordagem cultural”, de Geyso D. Germinari e Daniela Pedroso, contribui para refletir acerca da relação entre seleção de conteúdos de ensino e currículo compreendido como artefato social e cultural. Para o desenvolvimento de tal estudo, contou-se com um arcabouço teórico que introduz os três conceitos que fundamentam a presente análise: cultura, educação e currículo. A contribuição deste trabalho pode ser apontada particularmente quanto à possibilidade que se concretizou de compreender teoricamente a especificidade dos conteúdos de ensino escolar selecionados pelos dispositivos curriculares e sua relação com a cultura, entidade na perspectiva social e histórica.

No artigo “Os desafios do conceito de experiência para pensar a profissionalização docente”, a autora Lúcia Villas Bôas discute que há muito no campo conceitual educacional, as atuais discussões sobre os processos de formação e de profissionalização docentes têm, cada vez mais, colocado em evidência o conceito de experiência. Em que pese novas combinações de seu uso, tais como “saberes experienciais”, “saberes da experiência”, “formação experiencial”, “experiência formadora”, “experiência de vida” etc., as vias de construção da experiência, bem como a explicitação de seus significados, são ainda pouco analisadas. O objetivo desse texto é de explicitar as dificuldades em se trabalhar com esse conceito haja vista sua polissemia e diversidade de entendimento.

O artigo “Promover a convivialidade escolar: o focus group como meio de formação”, elaborado pelos autores Marcelo Melim, Beatriz Pereira e Amália Rebolo, alerta os educadores que um clima escolar desfavorável constitui uma fonte de vulnerabilidades à integração e segurança da comunidade educativa. Os autores apresentam os resultados do Projeto Carta da Convivialidade Escolar, um projeto de intervenção/investigação tutelado pela Secretaria Regional de Educação e Recursos Humanos da Região Autónoma da Madeira, Portugal e supervisionado pelo Centro de Investigação em Estudos da Criança da Universidade do Minho. Constatam que não existem políticas e estratégias num formato único para resolver os conflitos e a violência em todas as escolas. Destacam a necessidade de identificar e testar medidas mais adequadas à cultura (etos), ao envolvimento sociocultural e ao modelo de gestão.

No artigo “Análise de dados qualitativos nas pesquisas sobre formação de professores”, de Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau, Patrícia Meyer e Ricardo Contreras, os autores relatam o processo de apropriação do software ATLAS.ti por estudantes de pós-graduação na condução do processo de análise de dados de suas pesquisas, apontando os desafios transpostos por eles, por meio da retomada das pesquisas qualitativas empreendidas. Os autores apresentam suas experiências reais, contextualizadas com os principais recursos disponibilizados pelo software e orientam sobre a necessidade de capacitar os pesquisadores qualitativos para a realização de um consistente plano de análise de dados. Destacam que a não definição de um plano influi na desistência de uso do software com muito mais frequência que possíveis barreiras tecnológicas.

O artigo “A agenda internacional para educação 2030: consenso ‘frágil’ ou instrumento de mobilização dos atores da educação no século XXI?”, de Abdeljalil Akkari, contribui para analisar as questões da agenda internacional para a educação em 2030. O autor destaca que essa agenda internacional de educação assinala a influência do global e internacional nas políticas nacionais de educação e que o conceito de educação para a cidadania global surge como uma orientação inovadora. Neste sentido, busca analisar de que maneira esta agenda pode ser traduzida no contexto educacional brasileiro. Alerta que a agenda pode acelerar a criação de um sistema educativo em várias velocidades (plusieures vitesses) com base em testes padronizados. Pode também, caso ocorra uma mobilização dos educadores progressistas e as reformas estruturais sejam realizadas, representar a possibilidade de uma educação de base libertadora e de qualidade para todos. Evidentemente, o papel dos professores será uma das chaves de leitura das implicações da Agenda 2030 no Brasil e ao redor do mundo.

A contribuição do artigo “Da epistemologia clássica da educação à inclusão escolar: desafios e perspectivas”, de Rita Vieira de Figueiredo, Lindomar Wessler Boneti e Jean-Robert Poulin, centra-se na análise das especificidades da educação inclusiva e da implementação institucional à prática da sua ação. Argumentam os autores que a educação inclusiva se apresenta frente a um desafio o qual se constitui no descompasso entre a epistemologia clássica da educação e a da educação inclusiva. Pois, se a institucionalidade da escola - suas regras, normas e valores - continua assentada no pressuposto da epistemologia clássica da educação, o mundo social e acadêmico age de forma a criar caminhos que viabilizam a educação inclusiva, como é o caso da conquista da legislação e a pressão feita sobre a escola no sentido de acolher as diferenças e as singularidades sociais.

O artigo “Gestão da educação na perspectiva dos direitos humanos: garantias de possibilidades”, de Naura Syria Carapeto Ferreira, permite examinar a relação, responsabilidades, garantias e possibilidades da gestão da educação na perspectiva dos Direitos Humanos. Estes passam a ser tratados na sua totalidade, sob o enfoque da especificidade da educação, pela ideia de mediação da origem do homem e de sua constituição humana e histórica com direito a todas as possibilidades que lhes confere dignidade humana. Se a educação é mediação, responsável pela formação humana. Necessário se faz compreender que direitos têm essa pessoa humana e como a gestão da educação responsabiliza-se concomitantemente com os Direitos Humanos por essa formação e garantia de seus direitos.

O artigo “Convergências teóricas em representações sociais e seu aporte para o estudo de políticas docente”, de Adelina Novaes, Maria de Lourdes Ornellas e Romilda Teodora Ens, visa proporcionar uma análise acerca das potencialidades que a teoria das representações sociais (TRS) oferece às pesquisas em políticas docentes. Por meio da consideração de duas das abordagens teórico-metodológicas que compõem o domínio dos estudos em representações sociais, buscou-se identificar convergências teóricas que instrumentalizassem as pesquisas em políticas públicas. Os estudos das abordagens processuais contribuem para a identificação da TRS enquanto uma vertente do conhecimento científico que fomenta a análise das políticas docentes, por oferecer constructos para o estudo das simbolizações expressas nos documentos, bem como daquelas circulantes nos diferentes grupos por meio das conversações e das práticas.

O artigo “Reflexiones sobre la enseñanza de la política educativa y la formación de investigadores en el campo”, de César Tello, apresenta algumas reflexões sobre o ensino de política de educação e formação de pesquisadores no campo. Analisa o papel dos professores no espaço curricular da política educacional e formadores de investigadores. Argumenta ser um desafio e um compromisso epistemológico mostrar aos professores e formadores, que há necessidade de desenvolver e explicar as muitas maneiras de abordar a política educacional a partir de várias matrizes históricas, teóricas e epistemológicas.

Os editores do dossiê “Formação de professores, complexidade e trabalho docente” agradecem as valiosas e significativas contribuições dos renomados autores nacionais e internacionais que contribuíram para avançar na área de educação, em especial, na formação de professores. Assim, convidam a comunidade acadêmica a ler e compartilhar os achados destas pesquisas no sentido de subsidiar e aprofundar os avanços na formação de professores, nas políticas públicas e nas representações sociais que envolvem o trabalho docente.

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