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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.18 no.58 Curitiba jul./set 2018  Epub 06-Fev-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.18.058.ed01 

Apresentação

Educação, Tecnologias e Inclusão Digital

Sara Dias-Trindade1 

Daniel Ribeiro Silva Mill2 

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira3 

1Universidade de Coimbra - Portugal

2Universidade Federal de São Carlos/SP

3Pontifícia Universidade Católica do Paraná


Este dossiê temático, subordinado ao tema “Educação, Tecnologias e Inclusão Digital”, resulta de uma proposta de reunir textos que procurem pensar o papel das tecnologias digitais no processo educacional, com particular atenção à relação inclusão e formação. A quantidade e a diversidade de textos submetidos para o dossiê mostram que este é um tema presente, latente e muito considerado por nossos colegas pesquisadores ― quer no Brasil, quer no estrangeiro. Tantas ideias e tantos artigos possibilitaram-nos reunir, por agora, um conjunto de textos que se dedicam a uma reflexão mais próxima da educação presencial, com discussões teóricas e alguns exemplos práticos de ação em sala de aula, ressaltando a importância da fluência digital para a participação do cidadão na cultura digital, quer dos docentes, quer dos estudantes, numa Educação efetivamente “para todos”.

De fato, vivemos hoje numa sociedade onde a realidade física e a virtual se confundem cada vez mais. As fronteiras entre o corpo e o imaginário ganham novos contornos e definições, afetando aspectos importantes e essenciais, como o poder de participação e emancipação do indivíduo na sociedade em que se insere. Vivemos um tempo em que saber utilizar diferentes ferramentas digitais se torna cada vez mais importante, seja na escola, no trabalho, no cotidiano etc. A noção de inclusão e o sentimento de pertença, na atualidade, articulam-se diretamente com o domínio das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC). Assim, não só na Educação, mas em todos os momentos das nossas vidas, ser fluente digital é sinônimo de pertença ativa na sociedade.

Esse cenário nos apresenta alguns questionamentos e reflexões:

  • De que forma é construída a Educação a partir daquilo que as tecnologias digitais de informação e comunicação têm para oferecer aos seus atores?

  • Como podemos utilizar e rentabilizar os recursos digitais como forma de aumentar as nossas competências e participação social?

  • Que estratégias pedagógicas e tecnológicas podem ser exploradas para amenizar o fosso que tende a surgir, em diferentes campos e perspectivas, fruto da inclusão ou exclusão digital?

  • Como explorar as potencialidades formativas das TDIC em prol da igualdade social, da emancipação, do respeito à diversidade e diferenças e da cidadania?

  • Enfim, que Educação é possível nesta atual conjuntura tecnológica, marcada pela constituição de uma sociedade grafocêntrica digital?

Estas perguntas seriam suficientes para muita discussão sobre a importância da tecnologia no desenvolvimento de uma verdadeira cultura digital, inclusiva e participativa. E é precisamente a questão da cultura digital que abre este dossiê, analisada nas reflexões dos primeiros artigos. No texto Cultura digital na escola: um estudo a partir dos relatórios de políticas públicas no Brasil, Fernando Almeida, Siderly Almeida e Álvaro Fernandes Junior buscam uma reflexão sobre a efetividade da inclusão digital nas escolas brasileiras, considerando a utilização e apropriação das TIC em contexto escolar. Para esta integração das tecnologias em contexto escolar, é muito importante que docentes se sintam confortáveis no seu uso. Mas como avaliar as competências digitais dos docentes? Sara Dias-Trindade e José António Moreira, no trabalho Avaliação das competências e fluência digitais de professores no ensino público médio e fundamental em Portugal, trazem os resultados de um estudo realizado entre docentes portugueses. A investigação avalia as competências e fluência digitais dos educadores, posicionando-os num nível de proficiência específico e apontando possíveis respostas formativas em função disso.

Em seguida o dossiê apresenta dois textos que buscam o desenvolvimento de aprendizagens motivantes através dos jogos. Marcelo Lacerda e Eliane Schlemmer refletem sobre o Letramento Digital na perspectiva emancipatória, digital e cidadã no desenvolvimento de práticas educativas gamificadas e concluem que esse tipo de prática pode fomentar inclusão, formação, empoderamento e emancipação digital e cidadã dos sujeitos, uma vez que eles utilizam e se apropriam efetivamente do poder transformador e emancipatório das tecnologias digitais. Em sintonia com essas ideias, o artigo Jogos digitais na escola e inclusão digital: intervenções para o aprimoramento da atenção e das condições de aprendizagem, de Daniela Ramos, Hiago Melo e João Mattar, apresenta os resultados de um estudo que mostra que o uso de jogos digitais em pequenos grupos, em contexto extraclasse, pode contribuir com o aprimoramento do desempenho da atenção, visando garantir melhores condições de aprendizagem e inclusão digital.

Outro conjunto, que engloba cinco textos, apresenta diferentes hipóteses de trabalho com tecnologias em ambientes presenciais. Abre este grupo o texto de Marcos Antonio Alves Filho, Joana Peixoto e Adda Echalar, O uso do laptop em contexto escolar: um inventário das produções acadêmicas relacionadas ao PROUCA, fazendo uma reflexão muito interessante sobre o tema. A partir da análise de teses, os autores agrupam três conjuntos de finalidades de uso dos laptops no contexto escolar e questionam a desconsideração dos contextos sociais no Brasil.

André Trevisan, Maycon Fonseca e Sonia Palha trazem-nos uma Proposição de tarefas com TDIC em aulas de Cálculo, demonstrando a necessidade de uma efetiva integração das TDIC por meio de exploração efetiva das teorias matemáticas por meio de atividades práticas. Por seu turno, o texto A fluência digital como possibilitadora de inclusão digital de crianças, mediante ações em oficinas, de Edjane de Azevêdo e Deise Francisco, descreve a pesquisa realizada a partir do desenvolvimento de oficinas de linguagem de programação Scratch e robótica educacional junto a crianças do ensino fundamental, cujos resultados permitem concluir que estas atividades contribuem para o desenvolvimento de diferentes competências, além de ter proporcionado propostas que levaram os participantes a condições efetivas de se tornarem fluentes digitais.

Adriane de Castro e Daniel Mill, no quarto artigo do bloco, Ensino híbrido e design instrucional: estudo de caso no Ensino Superior Tecnológico, mostram a importância de um cuidadoso planejamento, desenvolvimento e elaboração do design instrucional com ênfase em propostas de educação híbrida, envolvendo estratégias pedagógicas enriquecidas pelas possibilidades das tecnologias atuais, como forma de revitalizar o ensino presencial. E, fechando esse conjunto de artigos, Liziany Medeiros e seus coautores transportam-nos para aulas de Geografia, com o texto Potencialidade do Google Maps nas aulas de Geografia em uma escola do campo. Explicam como essa aplicação informática pode ser usada, em ambiente escolar, para proporcionar aprendizagens mais dinâmicas e interativas, levando os alunos a relacionar os conhecimentos adquiridos com o seu cotidiano e tornando mais fácil o entendimento de conceitos mais específicos, contribuindo também para democratizar o processo educativo.

Por último, o dossiê comporta três textos que articulam inclusão e educação por meio das tecnologias digitais, dando atenção à vulnerabilidade social, autismo e surdez. Stela Rosa, Roseli Cerny e Marina Espíndola apresentam, no texto Inclusão digital para mulheres em situação de vulnerabilidade social: a percepção dos formadores, um olhar sobre o programa Mulheres Mil. As autoras lembram a importância da inclusão digital de mulheres em situação de vulnerabilidade social, mostrando que a inclusão digital não pode ser considerada apenas a capacidade de aceder a artefatos digitais, mas sim efetivamente em usar esses mesmos equipamentos para melhorar a situação da pessoa, de emancipação e participação social.

Jaciara Carvalho e Rita Brito exploram a questão da inclusão digital da pessoa surda. No trabalho Da “janelinha” para o “janelão”: a relevância de conteúdos qualificados para a educação permanente pelos surdos e sua inclusão transformadora, as autoras apresentam uma pesquisa sobre a TV INES, primeira WebTV no Brasil protagonizada por surdos com programação bilíngue (linguagem Libras e Português), e defendem a necessidade de ampliação de conteúdos produzidos por surdos e para surdos como insumo para o desenvolvimento da sua criticidade.

Fechando este dossiê e o grupo final de artigos, Flávia Cândido e Amaralina Souza contribuem com o texto intitulado Tecnologias assistivas e inclusão escolar: o uso do software GRID 2 no atendimento educacional especializado a estudante com autismo em uma escola pública do Distrito Federal. Segundo as autoras, pelo uso da aplicação computacional analisada, pode haver maior articulação e colaboração entre os profissionais envolvidos no atendimento ao aluno com autismo. Argumentam que pode haver melhoria na comunicação, com perspectiva de inclusão escolar através da tecnologia assistiva. Apontaram, também, para a necessidade de se investir na formação de professores de salas de aula regulares e de sala de recursos multifuncionais para o uso dessas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem.

Esperamos que a leitura dos textos deste dossiê temático proporcione não só novas perspectivas sobre a forma como educação e tecnologias podem se articular como fomento à verdadeira inclusão digital, mas também que sirvam de ponto de partida para tantas outras pesquisas e reflexões, com enfoque na democratização da educação por meio da (e no contexto da) cultura digital, motivando novas maneiras de pensar a Educação e, sobretudo, de a praticar.

A Revista Diálogo Educacional, além do dossiê temático que compõe cada número, traz artigos de caráter generalista, submetidos por autores de diversas instituições do país. Destaque-se que todos os artigos publicados na revista, sejam os que integram o dossiê ou os de demanda contínua, cumprem as normas de peer review e blind review, essenciais para a qualidade científica do periódico.

Nesta segunda parte do número 58, trazemos inicialmente dois artigos, que se inserem na área da História da Educação, na perspectiva da história cultural. No primeiro deles, Os livros didáticos e a formação da identidade de gênero nas escolas étnicas polonesas do Paraná nos anos de 1930, Valquíria Elita Renk discute o papel da escola e do livro didático na formação, construção e conformação de uma identidade de gênero, com apoio na análise documental do livro didático Elementarz - Dla dzieci polskich w Brasylji (Primeiro livro - Para as crianças polonesas no Brasil), de autoria de Konstanty Lech, datado de 1936. A autora constata que, nessas escolas, o ensino em língua polonesa era uma forma de manter a identidade étnica, orientando a educação das moças e dos rapazes, consoante os valores sociais, atitudes e condutas adotados pela comunidade à época. O segundo texto, de Cleber Schaefer Barbaresco e David Antonio da Costa, intitulado Os saberes para ensinar e saberes a ensinar aritmética na Escola de Aprendizes Artífices de Santa Catharina, traz os resultados de investigação realizada sobre saberes relacionados aos afazeres pedagógicos do ensino de aritmética do curso primário dessa importante instituição de ensino profissional. Para isso, foram analisados os relatórios do Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico da década de 1920 e do livro Arithmetica Elementar Illustrada, 92ª edição, de 1922, de Antônio Bandeira Trajano. Como resultado, os autores concluíram que os saberes para ensinar e saberes a ensinar aritmética foram instituídos a partir da expertise de João Luderitz, coordenador do Serviço de Remodelação, e sua equipe.

Fernando Xavier Silva e Marcia Aparecida Jacomini apresentam, no artigo intitulado Relação público-privado na educação: produção acadêmica sobre o Instituto Ayrton Senna (2002-2015), suas conclusões a partir de revisão bibliográfica sistemática de produções acadêmicas sobre a atuação do Instituto Ayrton Senna (IAS), na educação pública, com base na análise de 64 trabalhos (24 dissertações, 6 teses e 34 artigos) publicados no período 2002-2015. Essa análise indicou que a maioria dos trabalhos considerou que as parcerias realizadas inseriram valores mercadológicos na escola pública, transformando o diretor em gerente-gestor.

Na sequência, Sheila de Fátima Mangoli Rocha, Gomercindo Ghiggi, Priscila Monteiro Chaves e Dirlei de Azambuja Pereira, em Contribuições dos quefazeres de Paulo Freire para a educação do campo hoje, problematizam os quefazeres da teoria freireana no que diz respeito à busca por uma educação que possa contribuir para a construção de uma sociedade justa e igualitária, considerando a realidade do campo como ponto de partida. O estudo, de caráter teórico-bibliográfico, envolveu três categorias de análise: formação humana, tema gerador e conjugação entre saberes científicos e populares.

Por último, Laís Bandeira e Graziela Sapienza, em Funcionamento adaptativo, problemas de comportamento e queixas escolares: percepção de professores, apresentam as principais queixas para o encaminhamento de escolares à avaliação psicológica, relacionando-as a aspectos do funcionamento adaptativo e de comportamento em sala de aula, de acordo com a percepção dos professores. Para isso, foram analisados cinquenta prontuários de estudantes encaminhados para um serviço municipal de psicologia, cujos resultados, espera-se, possam contribuir para a escolha de métodos mais adequados no processo de ensino e aprendizagem, bem como garantir o encaminhamento dos alunos para um serviço adequado.

Desejamos que este número da Revista Diálogo Educacional estimule os debates concernentes ao campo da Educação, propiciando reflexões múltiplas.

Boa leitura!

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