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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.18 no.59 Curitiba oct./dic 2018  Epub 05-Feb-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.18.059.ed01 

Apresentação

O conceito de paradoxo na educação, na intervenção social e na formação de professores

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira1 

Bertrand Bergier2 

Maria Elisabeth Blanck Miguel3 

Peri Mesquida4 

1Pontifícia Universidade Católica do Paraná

2Université Catholique d’Angers

3Pontifícia Universidade Católica do Paraná

4Pontifícia Universidade Católica do Paraná


Este número da Revista Diálogo Educacional disponibiliza aos leitores o dossiê “O conceito de paradoxo na educação, na intervenção social e na formação de professores” e, ainda outros artigos de demanda contínua, com questões importantes para a educação.

Enquanto produção conjunta entre a Universidade de Angers (França) e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado e Doutorado), compõe-se de artigos que abordam os paradoxos presentes na educação na França, no Brasil, e em outros países, fato que nos mostra ser a complexidade da Educação algo inerente, talvez, à sua própria natureza, ou então à conjugação de fatores sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais.

Acreditamos que a leitura dos artigos, escritos por educadores/pesquisadores que se preocupam com as ações e com os resultados da educação, seja ela escolar, na intervenção social ou na formação de professores, possibilite novas ações em nosso campo profissional.

Os artigos mostram um traço que lhes dá relevância: a discussão dos paradoxos e de outras questões educacionais, tais como a gestão da escola, o paradoxo que enfrentam os (as) assistentes sociais quando abrigam pacientes que sofrem violência na sociedade, e correm o risco de serem alvos de violência no interior das instituições que deveriam lhes proporcionar um ambiente de paz e tranquilidade. A escola, que é sempre considerada enquanto inserida no contexto social, ao modo como tal contexto possibilita ou limita a prática educacional.

Assim, temos a satisfação de apresentar aos leitores artigos que tratam da questão do paradoxo nos campos da educação, da intervenção social e da formação de professores, bem como os demais artigos aqui publicados, frutos de pesquisas e reflexões.

Juliano Peroza, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná, em seu artigo intitulado Antecipação e formação: o pensamento utópico e o paradoxo da formação humana, apresenta uma reflexão sobre o que ele chama de tensões paradoxais entre o pensamento utópico e a formação do homem, passando pela histórica discussão entre utopia e educação, desde Thomas Morus a Ernst Bloch e Pierre Furter, no âmbito do paradoxo do “já” e do “ainda-não-consciente”.

Já Adauto Lopes da Silva e Fátima Maria Nobre Lopes, da Universidade Federal do Ceará - UFC, levantam o debate no artigo O paradoxo da educação brasileira: uma relação antagônica entre o princípio de realidade e o princípio de desempenho sobre o paradoxo da educação brasileira, a partir das ideias de Herbert Marcuse, mostrando que ela reflete o próprio paradoxo da sociedade capitalista na medida em que esta possibilita o desenvolvimento da razão humana e humanitária, mas, paradoxalmente, fazendo dela uma razão instrumental a serviço do poder e da opressão.

Jean-Yves Gélinier, da Faculté d’Education - Université Catholique de l’Ouest, Angers, no artigo Proteger desprotegendo, o paradoxo em que se encontram os assistentes sociais nos estabelecimentos sociomedicais franceses conta que, ao protegerem os pacientes de agressões externas, acabam por expô-los, muitas vezes, à violência no interior dos próprios estabelecimentos destinados a protegê-los.

Valdir Borges e Roberto Renner, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), no seu relatório de pesquisa nomeado O conceito de paradoxo nos campos da educação, da intervenção social e da formação de professores, especialmente no Brasil, dão ênfase ao que chamam de “diferentes paradoxos da educação brasileira”, tendo como autores de referência Ivan Ilich e Paulo Freire; enquanto Ilich questiona a escola na sociedade capitalista, Freire cria os círculos de cultura para serem espaços de desenvolvimento de uma educação libertadora e conscientizadora, aberta ao inédito viável.

Abdeljalil Akkari, da Université de Genève, Suíça, e Peri Mesquida, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), no artigo O logos freireano: os paradoxos da palavra que quebra o silêncio e liberta procuram refletir sobre o paradoxo da palavra que silencia e da palavra que quebra o silêncio, à luz do pensamento e da prática pedagógica de Paulo Freire. Este, por meio do conceito de educação bancária, mostra como a palavra pode ser um instrumento do silêncio, mas que pode ser rompido pela educação como prática da liberdade, transformando a palavra em força anunciadora da libertação.

Laurent Sauterau, da Université Catholique de l’Ouest, Angers, no artigo Paradoxe et travail social, coloca diante do leitor situações paradoxais presentes em contextos da existência humana, e como estas situações podem, por meio de estratégias também paradoxais, ser superadas de maneira a eliminar os paradoxos inerentes à vida do ser humano.

Maria de Fátima Rodrigues Pereira, Márcia Adriane Falat Tortato, ambas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), e Patrícia Correia de Paula Marcoccia, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), se propõem, em seu artigo intitulado Paradoxo das políticas de formação continuada de professores da escola básica pública brasileira, a demonstrar que apesar da legislação e as políticas de formação de professores afirmarem no seu eixo que as mesmas visam atender às necessidades da escola básica pública, os objetivos da formação continuada, têm pouco a ver com os interesses da escola pública brasileira.

No seu artigo Lycée nouveau départ: conduite et dispositif paradoxaux: une approche socio-linguistique du discours d’un responsable, François Gouraud e Bertrand Bergier, da Université Catholique de l’Ouest, Angers, refletem sobre práticas de uma instituição escolar francesa denominada de Liceu para o Recomeço (Lycée nouveau départ) que, forjando as normas legais francesas, de forma atípica, oferece aos alunos que não concluíram os estudos a possibilidade de, paradoxalmente, se prepararem para um exame que pode lhes conceder um certificado de conclusão de curso.

Matheus Bernardo da Silva, da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, apresenta um relatório de pesquisa, intitulado O paradoxo da educação física: uma reflexão crítica das perspectivas contraditórias na esfera escolar, que constatou o fato de que a educação física escolar se encontra em um paradoxo do que ele chama de “colonialismo epistemológico”, na medida em que precisa dar conta de perspectivas díspares originadas das ciências naturais, de um lado, e das ciências humanas, de outro.

O artigo de Eric Mutabazi, da Faculté d’Education - Université Catholique de l’Ouest, Angers, no artigo Les paradoxes de l’enseignement de l’histoire au sein d’une nation multiethnique, conduz o(a) leitor (a) a refletir sobre o paradoxo do ensino da história em nações multiculturais, constituídas por grupos étnicos diferentes que têm cultura, valores e história distintos, submetidos a uma disciplina que faz tabula rasa das diferenças e procura formar um espírito nacional e desenvolver uma consciência política comum.

Jorge Alejandro Santos, da Universidad de Buenos Aires (UBA), Cláudia Battestin e Leonel Piovezana, da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), discutem em seu artigo Paradojas interculturales en la formación de profesores indígenas del pueblo Kaingang a formação de professores indígenas, refletindo sobre a situação paradoxal em que eles podem se encontrar diante de uma formação que tanto pode prepará-los para uma prática pedagógica libertadora, quanto para o exercício de uma ação docente disciplinadora, de obediência e passividade.

Benoît Raveleau, da Faculté d’Education - Université Catholique de l’Ouest, Angers, quer compreender como desenvolver nos jovens a capacidade de criação, de mudança, da cultura do risco, se desvencilhando dos paradoxos das armadilhas de uma pedagogia empresarial que pretende, por exemplo, desenvolver também, a criatividade e o espírito de iniciativa do outro, em uma sociedade concorrencial, através de seu artigo Quelle formation pour enseigner les paradoxes d’une action.

O artigo de Silvia Cristina Nogueira, Pedro Rodolfo Fernandes da Silva e Thayná Gundin Gadelha, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), procura apresentar o paradoxo da não inovação no Programa Ensino Médio Inovador, problematizando tanto a política educacional que lhe dá suporte quanto a própria efetivação do Programa.

Finalmente, o dossiê traz o artigo de Laurence Villers-Bouthéon, da Université Catholique de l’Ouest, Angers, intitulado Les directeurs d’école primaire face aux situations qu’ils jugent complexes: une approche compréhensive des stratégies doubles que foca o comportamento de diretores de escolas quando colocados diante de situações complexas. Quando um gestor se defronta com uma situação que o autor chama de “forçada”, na qual alguém se opõe à violência exercida pela autoridade do diretor (no caso, uma diretora), até onde podem ir as atribuições institucionais desta autoridade, para se constituírem em relações de fusão ou, paradoxalmente, de separação.

Na segunda parte do número 59 da Revista Diálogo Educacional, apresentamos os artigos de demanda contínua, tratando de temas relevantes na esfera educacional.

Roberto Sidnei Macedo, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em seu artigo Escolas como espaços-tempos de políticas singulares de currículo e formação, discute como escolas e seus atores instituem políticas e ações curriculares implicadas a plurais processos formativos em seu cotidiano. A partir de uma concepção propositiva, apresenta os princípios estruturantes do Observatório de Currículo e Processos Formativos (OCPF), analisando-o como possibilidade de tornar-se fonte generativa de políticas e de experiências singulares e singularizantes de currículo e formação.

Em seguida, Gildo Volpato, da Universidade do Extremo Sul Caratinense (UDESC) Ione Ribeiro Valle e Lucídio Bianchetti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em seu artigo Profissionais liberais na pós-graduação: motivações e interfaces entre campo profissional e acadêmico, procuram compreender as motivações de profissionais liberais vinculados a Programas de Pós-Graduação (PGs) de se manterem nos dois campos de atuação, explorando as possíveis interfaces entre eles. As respostas dos dezoito profissionais liberais pesquisados revelaram um conjunto de motivações e interfaces que justificam a permanência na dupla jornada de trabalho.

Anita Helena Schlesener, da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) traz o artigo Observações acerca da origem da filosofia: a educação a partir da leitura histórica, cujo objetivo é analisar a origem da filosofia e seu elo indissolúvel com a educação.

Os autores Thiago Delaide da Silva, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Rodrigo Marques Leistner, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) em Tensionamentos entre estrutura e ação na sociologia da educação contemporânea, fazem uma reflexão teórica, colocando em relevo uma leitura comparativa entre as abordagens de Pierre Bourdieu e François Dubet. Buscam compreender não apenas o modo como os tensionamentos entre sociedade e indivíduo, agência e sistema, estrutura e ação, se resolveram em suas elaborações teóricas, mas também sua contribuição para a constituição de distintos esquemas de percepção das relações sociais que envolvem os processos educacionais.

Rodrigo Ávila Colla, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) em Autonomia e autoridade científicas na educação: um campo dialógico e compreensivo, propõe uma atualização da teoria dos campos de Pierre Bourdieu para repensar os parâmetros usados para aferir o grau de autonomia e autoridade científicas da educação. O estudo sugere o diálogo compreensivo interdisciplinar e entre agentes internos e externos do campo, como alternativa para obtenção de reconhecimento (autoridade científica) e autonomia, levando em conta as particularidades do campo da Educação.

Silvana Cássia Hoeller e Maria Elisabeth Blanck Miguel, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), apresentam o estudo O movimento de transição da Educação Rural para Educação do Campo: contradições e tensionamentos, por meio do estado da arte acerca das pesquisas sobre as políticas públicas para a Educação do Campo publicadas entre os anos de 1996 e 2017, na área de conhecimento da Educação. Os resultados permitiram identificar que as demandas apresentadas pelos movimentos sociais foram consideradas em pesquisas acadêmicas, como também fortaleceram a Educação do Campo.

Na sequência, o artigo de Mirian Southwell e de Jorgelina Mendez, da Universidad Nacional del Centro de la Província de Buenos Aires - CONICET, intitulado Uma política de formação de professores durante a recuperação democrática: o Instituto Nacional de Aperfeiçoamento e Atualização de Professores. Argentina 1987-1989, descreve uma experiência de formação de professores na Argentina, desenvolvida durante o primeiro governo de transição democrática.

Para o encerramento desta edição, apresentamos A formação continuada dos professores da educação básica no contexto de um projeto político-pedagógico de matriz transdisciplinar, de autoria dos pesquisadores Cláudia Furtado de Miranda, Pura Lúcia Oliver Martins, Ivana Suski Vicentin e Carlos Henrique Martins Torra, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR.

A todas e a todos, desejamos que este número da Revista Diálogo Educacional propicie excelente leitura, com instigantes reflexões sobre os temas apresentados.

Editores

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